Editorial

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Revista Brasileira de Sociologia, vol. 9, núm. 21, pp. 7-9, 2021

Sociedade Brasileira de Sociologia

Com a publicação de seu volume 9, número 1, a Revista Brasileira de Sociologia implementa um plano de desenvolvimento editorial ambicionando se projetar e singularizar como o periódico de excelência da Sociedade Brasileira de Sociologia. Desse modo, a RBS pretende alçar-se ao mesmo prestígio da associação que ela representa, no circuito de veiculação da produção científica de ponta da sociologia no Brasil e no mundo. As ações em curso têm por objetivos consolidar uma gestão editorial profissionalizada, promover uma efetiva internacionalização, bem como aumentar a circulação e o impacto do periódico por meio da indexação em bases conceituadas – o recente ingresso na Redalyc constitui já importante passo nessa direção.

Consignando nosso reconhecimento ao esforço imprescindível iniciado por Adelia Miglievich e Soraya Côrtes à frente da RBS, na esteira do trabalho empreendido, anteriormente, por Renan Springer de Freitas e Rogério Proença Leite, a renovação implementada parte de uma reflexão coletiva da equipe editorial da revista e da diretoria da SBS sobre as condições do processo – desigual, mas combinado – de produção do conhecimento sociológico no Brasil em suas diferentes etapas – da captação de artigos, passando por sua avaliação e revisão, até a publicação, divulgação e citação/impacto. Mas também sobre os desafios constantes do trabalho propriamente intelectual envolvido na atividade editorial e o protagonismo que os periódicos podem e devem desempenhar não apenas na difusão e comunicação pública de resultados de pesquisa, mas na sua própria concepção, recepção e na indução de sua produção – isto é, em toda a cadeia produtiva do conhecimento científico, sempre atravessada por assimetrias na geopolítica acadêmica global.

Assim, neste volume, a revista estabelece duas novas seções. “Sociologiesin dialogue” recebe o mesmo nome do periódico em inglês publicado até 2019 pela SBS, agora incorporado como uma seção da RBS que visa estimular diálogos transnacionais e disseminar estudos que contenham análises empíricas e teóricas inovadoras pertinentes para o debate acadêmico internacional. Inaugura a seção o quase-manifesto por um “Re-esclarecimento” de Gudmund Hernes, sociólogo e intelectual público norueguês que atua com igual êxito nos mundos acadêmico e da política pública. O texto inédito – que conta com breve apresentação da professora Elisa Reis (UFRJ) – conclama a um diálogo integrativo entre as ciências sociais e naturais e foi escrito justamente durante a reunião conjunta do International Council for Science (ICSU) e do International Social Science Council (ISSC) em Taipei, em 25 e 26 de outubro de 2017, onde se decidiu fundi-los no International Science Council em 2018.

Já a nova seção “Futuros Passados” se propõe a apresentar contribuições clássicas, contemporâneas e sobre temas emergentes, que ensejem um amplo entendimento da história, tendências e futuros da Sociologia. Evoca, assim, via Koselleck, o tempo não como dado natural, mas como construção cultural que, em cada momento histórico, implica um modo específico de relacionamento entre o já conhecido e experimentado como passado e as possibilidades que se lançam ao futuro como horizonte de expectativas. A seção é inaugurada neste número com dois textos: “As aventuras do conhecimento: notas sobre o desencantamento do mundo nas ciências sociais”, escrito em 1981 como apontamentos de aula por Antônio Luiz Paixão, então professor do Departamento de Sociologia e Antropologia da UFMG, e aqui apresentado por Luciana Teixeira de Andrade (PUC-MG).

Soma-se a esse precioso documento a publicação do discurso presidencial de Florestan Fernandes, “A sociologia como afirmação”, proferido por ocasião da abertura do II Congresso Brasileiro de Sociologia, em 12 de março de 1962, na Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade de Minas Gerais, e que conta com apresentação do atual presidente da SBS Jacob Carlos Lima (UFSCar). O título e o texto ganham nova força simbólica no contexto presente de negacionismo científico em que nos encontramos. E as palavras de Florestan soam triste e poderosamente atuais, se não urgentes, neste momento político de restrição ao trabalho de nossa comunidade acadêmica e de ataques diretos e sistemáticos contra a ciência e o desenvolvimento tecnológico: “[o sociólogo] terá de compreender que a sociologia não pode medrar onde a ciência é repelida, como forma de explicação das coisas, do homem e da vida; e que a ciência só pode expandir-se, efetivamente, entre os povos cuja civilização liberte a inteligência e a consciência do jugo do obscurantismo. Com isso, o que passa a ser essencial, numa certa fase de suas obrigações perante a ciência e a sociedade, vem a ser a conquista e a defesa de condições materiais e morais do trabalho científico. O combate ao atraso cultural inscreve-se entre seus papéis intelectuais, como e enquanto cientista (e não simplesmente como e enquanto cidadão”.

Além dos artigos de fluxo contínuo, o número traz ainda uma seção especial editada por José Miguel Rasia (UFPR) com quatro artigos sobre a pandemia de Covid-19 que discutem a escala da doença, os impasses da política científica e tecnológica, o uso da cloroquina e suas injunções políticas, as condições exigidas para o final de uma pandemia que ocorre num tempo acelerado e o significado das medidas de isolamento e distância social num mundo também acelerado. Discussões, portanto, presentes na ordem do dia, e para as quais a Sociologia, ao cumprir sua missão de refletir sobre as questões cruciais de sua época, acrescenta ao debate público a partir de seu fazer acadêmico.

Desejamos a todas e todos ótima leitura!

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