Editorial
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Em sua edição de número 24, a RBS traz uma coletânea diversificada de artigos cobrindo diferentes áreas de conhecimento e abordagens metodológicas.
Ao convidar à leitura dessa produção, que inclui pesquisas empíricas e reflexões teóricas, a equipe editorial incentiva, também, potenciais colaboradores e colaboradoras à leitura atenta de nossa política editorial e diretrizes para submissão. Como o periódico da Sociedade Brasileira de Sociologia, a RBS está comprometida com a difusão de trabalhos de ponta nesse campo de conhecimento e em suas interfaces, buscando contribuir para o avanço da Sociologia brasileira. Nesse sentido, rigor teórico e metodológico, abordagens inovadoras, revisões bibliográficas produzidas em diálogo com a literatura selecionada são aspectos fundamentais para a aceitação de manuscritos. Enfatizamos esses aspectos aqui, tendo em vista o grande número de rejeições que tem resultado do processo de avaliação das submissões e que, possivelmente, decorre das pressões crescentes por publicação e de desatenção às políticas da revista e diretrizes para submissão.
A RBS é ciosa de seus critérios de excelência acadêmica que refletem o compromisso da SBS com o fortalecimento qualitativo e institucional da Sociologia no Brasil e a difusão e divulgação do conhecimento científico produzido nesse campo.
Este número da revista abre com o trabalho de Rodrigo Cantu (UFPEL), Kaline Honorio (Unicamp) e Benjamin Cuevas (Unila), “Crises, ciclos de acumulação e fortalecimento fiscal dos estados na América do Sul (1914-1950)”, examinam o crescimento da arrecadação fiscal nos países da América Latina, com foco em Argentina, Brasil, Chile e Colômbia, explicando esse crescimento com base na pressão fiscal resultante da adversidade no comércio internacional, em um contexto de rarefação da força dos parâmetros de organização política e econômica do ciclo de acumulação sob hegemonia britânica.
Karim Helayel traz o estudo “Noturno do Brasil: Fernando Henrique Cardoso entre a sociologia política e a ciência política”, em que reflete sobre a inserção de FHC no campo da Ciência Política, argumento que sua passagem da sociologia para essa disciplina se deu sem, contudo, abandonar a perspectiva da sociologia política, particularmente, a de orientação histórica e comparativa.
Em “Yo sé, yo puedo, yo temo: la subjetivación política de médicos y médicas en ejercicio durante la pandemia en Mendoza-Argentina”, Patricia Collado reflete sobre a ausência de ações coletivas e de recusa às condições de trabalho impostas às equipes médicas na cidade de Mendoza, Argentina, no contexto da pandemia da Covid-19, por meio de uma dupla abordagem – por um lado, uma reflexão teórica sobre a dimensão política da questão laboral, focada nas categorias de gestão da força de trabalho e de subjetivação política; por outro, uma abordagem empírica, focada na percepção de médicas e médicos sobre os riscos inerentes ao trabalho em situação de pandemia e os recursos disponíveis para o enfrentamento da Covid-19. Os achados de pesquisa sugerem um grau elevado de autorresponsibilização individual, escassa noção de coletividade e externalidade do risco em relação ao âmbito do trabalho.
Luiz Antonio de Castro Santos revisita a história da formação da profissão de enfermagem no Brasil sob uma perspectiva da Sociologia. Em “Nursing in Brazil: a sociological perspective on a successful journey (1920-1950)”, o autor retraça o histórico de institucionalização da profissão no âmbito mundial para, então, analisar seu desenvolvimento no Brasil.
O artigo “Examinando a relação entre proximidade espacial e integração socioeconômica a partir das articulações entre a população de dois bairros populares e os condomínios fechados de elite em Salvador, Brasil”, de Stephan Treuke, investiga o efeito-território na vida de populações de baixa renda vivendo no entorno de condomínios fechados de classe alta, a partir de dois casos, um em um bairro central e outro em um bairro periférico da cidade de Salvador, Bahia. Treuke identifica uma série de fatores, para além da proximidade espacial, que afetam a relação entre proximidade e integração socioeconômica, como a existência de espaços públicos, a autonomia funcional do bairro e o impacto do crime.
Fechando este número, Maria Chaves Jardim e Luana Di Pires apresentam “O Instagram como dispositivo de construção de mercado nas redes sociais: a intimidade distinta como variável central junto aos influenciadores de fitness”. No artigo, as autoras buscam identificar novas formas de mercado que vêm sendo criadas dentro das redes sociais, focando o papel de influencers no Instagram, particularmente no mercado associado à noção de fitness – boa forma e vida saudável. Entre as variáveis que operam para a criação desse mercado, as autoras identificam a intimidade, representada na exibição do cotidiano de vida das pessoas tidas como influencers, desempenha um papel importante.
As contribuições que compõem esta edição trazem reflexões originais e relevantes para aprofundar o conhecimento sociológico, sob perspectivas teórica e empírica, no âmbito da América Latina. Esperamos que nossas leitoras e leitores apreciem a leitura e considerem dialogar com essas visões, fomentando um debate criativo.
Boa leitura!
A equipe editorial