DOSSIÊ
Recepção: 10 Junho 2023
Aprovação: 23 Dezembro 2023
DOI: https://doi.org/10.20336/rbs.958
RESUMO: O presente artigo visa discutir as percepções e perspectivas de jovens que realizam o trabalho de entregas por aplicativo sobre esta atividade. A partir da observação de situações de trabalho e entrevistas realizadas na cidade de São Paulo (SP), sobretudo com cicloentregadores – trabalhadores que utilizam a bicicleta para o trabalho de delivery – nossa proposta é verificar que sentidos atribuem ao trabalho e quais elementos levam esses jovens a aderirem a essa atividade, conferindo-lhe, de algum modo, um sentido positivo. A discussão será desenvolvida a partir de três eixos: (1) as dinâmicas de trabalho, (2) as percepções sobre o trabalho regulado e (3) as perspectivas de trabalho e as estratégias mobilizadas pelos trabalhadores. Buscaremos analisar como a proposta do trabalho plataformizado se concretiza e é interpretada por jovens – em geral, das classes populares, moradores de periferias e sem elevada qualificação – que já foram socializados em um contexto em que o trabalho formal e protegido não mais se apresenta como horizonte concreto e no qual os discursos dominantes buscam reforçar constantemente a associação entre juventude e trabalho flexível, sobretudo na chave do empreendedorismo.
Palavras-chave: Trabalho plataformizado, juventude, entregadores, aplicativos, sentidos do trabalho.
ABSTRACT: This article aims to discuss the perceptions and perspectives of young app-based delivery workers about this activity. From the observation of work situations and interviews carried out in the city of São Paulo, SP, especially with bikers/bikeboys – workers who use bicycle for delivery work – our proposal is to verify what meanings they attribute to work and what elements lead these young people to engage in this activity, ascribing a positive meaning to it. The discussion will be developed based on three axes: (1) work dynamics, (2) perceptions about regulated work and (3) work perspectives and strategies mobilized by workers. We will seek to analyze how the proposal of platform work is implemented and interpreted by young people who, generally, come from lower social classes, are residents of the impoverished city outskirts, lack further qualifications and have already been socialized in a context in which formal employment is not a plausible possibility and in which the dominant discourses seek to constantly reinforce the association between youth and flexible work, especially related to entrepreneurship.
Keywords: Platform work, youth, delivery workers, apps, senses of work.
RESUMEN: Este artículo tiene como objetivo discutir las percepciones y perspectivas de los jóvenes que realizan trabajo bajo plataformas de reparto sobre esta actividad. A partir de la observación de situaciones de trabajo y de entrevistas realizadas en la ciudad de São Paulo, SP, especialmente con riders – trabajadores que utilizan bicicletas para el trabajo de reparto –, nuestra propuesta es verificar qué significados atribuyen al trabajo y qué elementos llevan a esos jóvenes a ingresar en esta actividad, dándole, de alguna manera, un significado positivo. La discusión se desarrollará a partir de tres ejes: (1) dinámicas de trabajo, (2) percepciones sobre el trabajo regulado y (3) perspectivas y estrategias laborales movilizadas por los trabajadores. Buscaremos analizar cómo la propuesta de trabajo plataforma es materializada e interpretada por jóvenes – en general, de clases populares, residentes en zonas periféricas y sin alta calificación – que ya han sido socializados en un contexto en el que el trabajo formal y protegido ya no se presenta como un horizonte concreto y en el que los discursos dominantes buscan reforzar constantemente la asociación entre juventud y trabajo flexible, especialmente en el contexto de emprendimiento.
Palabras clave: Trabajo en plataformas, juventud, repartidores, aplicaciones, significados del trabajo.
Introdução: juventude e trabalho plataformizado
Rua Augusta, quase esquina com a Avenida Paulista. Aos pés do suntuoso prédio do Conjunto Nacional, observamos, atentos, as primeiras movimentações da manhã em uma das bases do iFood Pedal, uma das estações implementadas pelo iFood como ponto de apoio e locação de bicicletas para entregadores vinculados à plataforma, que fica do outro lado da rua. Por volta das 10h, entregadores entram a pé, com suas bags coloridas, no espaço improvisado em um estacionamento e saem montados nas bikes elétricas para iniciar mais um dia de entregas. Uma cena, em particular, chama a atenção: um menino, certamente menor de idade, aguarda do lado de fora da base, sentado em um degrau do imóvel vizinho, come um lanche quando chega um homem adulto com uma bag, o cumprimenta e entra na estação. O adolescente se levanta e aguarda, já colocando seu capacete. Poucos minutos depois, o homem sai com a bicicleta, ambos caminham alguns metros em direção à Paulista e o homem passa a bag e a bicicleta para o menino, que segue seu caminho
(diário de campo).Menores de idade não podem se cadastrar como entregadores nas plataformas. O empréstimo ou aluguel de contas alheias é uma das estratégias informais mobilizadas para que esses jovens trabalhem nas entregas. Tal artifício também é utilizado em outras situações, como bloqueios das contas dos entregadores pelas plataformas, esquema que nos foi muitas vezes narrado em campo. Porém, o que salta aos olhos nesta cena é a pouca idade do entregador em questão, embora a juventude não seja uma característica estranha a este universo das entregas por aplicativos, sobretudo quando nos referimos aos entregadores que utilizam a bicicleta como meio de transporte para a realização do trabalho – os cicloentregadores.1
Há poucos dados disponíveis sobre o perfil dos entregadores por aplicativo, os quais são ainda mais escassos quando nos referimos ao grupo específico dos cicloentregadores. Segundo pesquisa da Aliança Bike, realizada na cidade de São Paulo, o perfil dos entregadores ciclistas é jovem, negro e morador de periferia. Entre os entrevistados no estudo, a idade média era de 24 anos, com 75% da amostra com até 27 anos de idade (Aliança Bike, 2019).2
Assim, é importante salientar que o jovem em foco nesta pesquisa é parte de uma juventude muito específica – em seus recortes de classe, gênero, raça, local de moradia etc. Partimos de uma perspectiva que refuta a noção de juventude a partir do critério meramente etário/biológico, considerando a existência de múltiplas culturas juvenis e a diversidade de clivagens em um mesmo universo geracional (Pais et al., 2005; Guimarães, 2005). Nessa ótica, a juventude representa os segmentos sociais que se definem por suas práticas e experimentações múltiplas e móveis (Diógenes, 2009; Reguillo, 2003). No entanto, isso não significa desconsiderar que, no momento atual, existe um modelo hegemônico de juventude que é atravessado por uma lógica de flexibilidade e empreendedorismo, com valores pautados no individualismo, na meritocracia e na autonomia. Esse modelo, embora não acessível a todos, é colocado como referência (Pires; Motta, 2021), permeando as experiências e perspectivas das juventudes e estabelecendo padrões de comportamento mesmo para aqueles que, por sua faixa etária, não seriam mais classificados como jovens (Peralva, 1997).
No contexto da flexibilidade, o jovem representa o “modelo ideal” de trabalhador, pois, segundo a representação social hegemônica da juventude, seria mais afeito aos riscos e desafios, aberto às mudanças e inovações tecnológicas, hábil para novos aprendizados, disponível para trabalhar em diferentes condições espaciais e temporais e, principalmente, em atividades que propiciem liberdade e autonomia (Canclini, 2012; Sennett, 2009; Pires, 2018). Nesse sentido, algumas plataformas de trabalho têm atraído, de modo especial, jovens trabalhadores em busca de inserção no mercado de trabalho e de condições de trabalho supostamente menos hierárquicas e mais flexíveis.
A novas dinâmicas propiciadas pela plataformização do trabalho, que vêm sendo discutidas em diversas pesquisas (Machado; Zanoni, 2022; Abílio et al., 2021; Grohmann, 2020; Van Doorn, 2017; Casilli; Posada, 2019; Graham; Woodcock, 2018), conferem novos arranjos às relações de controle e subordinação do trabalho, como no caso dos entregadores por aplicativos. A estrutura tecnológica do controle, agora efetivado pelos algoritmos difusos e incógnitos, e os sistemas de avaliações, recompensas e bloqueios permitem uma gestão extremamente flexível e arbitrária da força de trabalho (Abdelnour; Méda, 2019). A perda da estabilidade e clareza das regras que regem o cotidiano de trabalho, a ausência de prescrições formais e acordadas sobre questões como jornada e precificação do trabalho se tornaram fundamentais para o exercício desse controle dinâmico (Abílio et al., 2021).
Consideradas como plataformas location-based,3 a emergência e difusão dos aplicativos iFood, Rappi e UberEats mudaram a oferta de trabalho e o perfil dos entregadores. Estabelecimentos que não trabalhavam com delivery – mercados, restaurantes, sorveterias – passaram a fazê-lo a partir das empresas de aplicativo. Sem nenhum tipo de regulação sobre o trabalho, essas empresas reconfiguram as formas de contratação, a identidade profissional e as formas de interação entre os próprios trabalhadores. Esse fenômeno tem radicalizado processos históricos presentes na sociedade brasileira, dada a consolidação e rotinização do trabalho inseguro, sedimentado por uma larga informalidade historicamente existente no país, que se fortalece como sinônimo de empreendedorismo (Abílio et al., 2021).
Ao realizar uma revisão de 32 artigos baseados em pesquisas sobre entrega de comida mediada por plataformas (platform-mediated food delivery work), Kusk e Nouwens (2022), defendem que essa atividade, ainda que esteja entre os “trabalhos de plataforma”, tem especificidades e merece ser estudada à parte. Identificam como principais características da prática de trabalho de entrega o gerenciamento algorítmico, o agendamento flexível, o pagamento por entrega e a “solidão em rede” – o trabalho é concebido para ser desenvolvido isoladamente, mas alguns estudos também evidenciam a organização através de redes formais e informais de entregadores. Além disso, os estudos apontam para a dimensão da juventude, com predominância de entregadores de 18 a 30 anos, embora, de forma geral, não discutam essa questão para além da caracterização geral desse grupo. Um estudo que se destaca nesse sentido é de Chesta, Zamponi e Caciagli (2019) que aponta como a figura do entregador como jovem adulto é mobilizada favoravelmente pelas plataformas, enaltecendo os atributos juvenis e uma imagem associada à saúde e beleza.
O presente artigo tem como proposta analisar as percepções de jovens entregadores por aplicativo sobre sua atividade e suas perspectivas de inserção no mundo do trabalho. Para além de constatar a precariedade e os riscos inerentes à atividade e o alcance da gestão algorítmica da vida e do trabalho, questões já evidenciadas em estudos anteriores (Abílio et al, 2021; Machado, 2019; Filgueiras & Antunes, 2020), buscaremos colocar em primeiro plano as percepções dos sujeitos e as estratégias que estes colocam em marcha em sua busca cotidiana pela sobrevivência. Essa discussão também se soma a esforços anteriores de pesquisa (Pires, 2017; Pires; Motta, 2021) voltados a compreender os sentidos que os jovens atribuem ao trabalho no momento contemporâneo, considerando uma geração que já foi socializada em um contexto marcado pela flexibilidade e pelo ideal do empreendedorismo.
Desde nossas incursões exploratórias a campo, notamos que os jovens entregadores apresentavam uma avaliação positiva sobre sua atividade, sobretudo devido à remuneração alcançada e à flexibilidade em relação aos horários de trabalho, dimensões que ganhavam relevância principalmente quando comparadas às suas experiências laborais anteriores. Nesse sentido, o objetivo deste artigo é analisar alguns elementos essenciais da experiência no trabalho de entregas por aplicativo com vistas a melhor compreender as razões que levam esses jovens a aderirem a uma atividade plataformizada e, em alguma medida, conferirem sentidos positivos a ela. Para isso, orientamo-nos através de três eixos, que guiarão as três seções que compõem o corpo do artigo: (1) as dinâmicas de trabalho, (2) as percepções sobre o trabalho regulado e (3) as perspectivas em relação à continuidade na atividade e as estratégias cotidianas mobilizadas pelos trabalhadores. Vale destacar que a produção que intersecciona juventude e trabalho plataformizado ainda é exígua, e este artigo configura um esforço inicial de trazer alguma luz a esse tema, abordando temáticas que consideramos fundamentais para um avanço nessa discussão.
Na próxima seção, iremos caracterizar o grupo dos cicloentregadores, apresentando o perfil desse trabalhador encontrado em campo, seu cotidiano de trabalho (incluindo a questão da remuneração) e as dinâmicas a que estão submetidos por parte das plataformas, constantemente em transformação. Na terceira parte do texto, aproximaremos o olhar, discutindo as percepções dos entregadores em relação ao trabalho que realizam, com destaque para o tema da regulamentação de seu trabalho e as experiências e interpretações que permeiam uma avaliação positiva da atividade. Na seção seguinte, o foco será nas perspectivas desses jovens trabalhadores em relação ao futuro, bem como algumas formas de agência e resistência, individuais e coletivas, que mobilizam cotidianamente como estratégia de sobrevivência.
As análises são baseadas em uma pesquisa conduzida junto a jovens entregadores de plataformas na cidade de São Paulo, em especial os cicloentregadores.4 A partir de diversas incursões a campo entre os anos de 2022 e 2023, realizamos observações de situações de trabalho e entrevistas com esses trabalhadores. A pesquisa foi realizada em diversos pontos da cidade de São Paulo, nas centralidades5 privilegiadas para as entregas (Fioravanti et al., 2023) e que concentram esses trabalhadores – Pinheiros, Jardim Paulista, Moema e o centro próximo à Praça da República. Com o grupo que se concentra no centro, foi ainda possível realizar uma pesquisa mais extensa, de cunho etnográfico.6 Este artigo se baseia em dados obtidos por meio de cerca de 50 entrevistas semiestruturadas, além da análise dos registros em diário de campo.
Os jovens entregadores e as dinâmicas de trabalho
O Largo da Batata, na região de Pinheiros, é outro ponto de concentração de entregadores em São Paulo. Quando fizemos a primeira incursão a campo, em junho de 2022, havia ali um ponto de apoio do iFood, mas, poucos meses depois, ele já não existia mais. Como tudo o que se refere ao universo das entregas por aplicativos, tudo muda o tempo todo. Em um determinado ponto da praça, há uma concentração de cicloentregadores, que conversam, brincam e jogam enquanto aguardam por mais um chamado. Conversamos com um grupo de quatro entregadores quando mais um se aproxima e chama a atenção, destoa do restante do grupo. Ele é mais velho que seus colegas, cabelos grisalhos, pouco menos de 50 anos, talvez. Está vestido como os demais (calça larga e confortável, tênis, camiseta de time e capacete) e já chega compartilhando as desventuras da última entrega realizada
(diário de campo).Como mencionamos, os jovens são majoritários no trabalho de delivery, sobretudo quando nos referimos aos cicloentregadores. Entre as características das atividades plataformizadas, está a ausência de exigência de experiência prévia de trabalho, de formação específica e de processos seletivos, bastando a realização de um cadastro no aplicativo para começar a trabalhar (Abílio, 2020), o que facilita a entrada de jovens, sobretudo das camadas populares, no mercado de trabalho. Além disso, as entregas de bicicleta demandam, relativamente, pouco investimento inicial. Por fim, a rotina diária de pedalar 50, 60 ou 80 quilômetros requer energia e disposição, atributos sempre associados à juventude. Para aqueles que não são mais considerados jovens do ponto de vista dos marcadores etários,7 é preciso apresentar-se jovem, isto é, assumir os atributos físicos e simbólicos associados à juventude. Nosso personagem do início desta seção, apesar de não ser considerado jovem, carrega todos os signos da juventude – no vestuário, na forma de falar e interagir e na disposição para o trabalho. Nesse contexto, juventude pouco tem a ver com idade, mas se relaciona com modos de ser que melhor condizem às exigências de flexibilidade, disposição ao risco e a necessidade de “se virar”, em um contexto de ausência de garantias.
Entre os nossos interlocutores, a faixa etária predominante se concentra entre os 18 e os 28 anos de idade, o que corrobora os poucos dados existentes sobre os cicloentregadores em São Paulo. Além disso, são, na quase totalidade, do sexo masculino,8 moradores de periferias da região metropolitana ou do centro mais empobrecido de São Paulo, muitos com filhos. Em termos de escolarização, possuem, em sua maioria, ensino médio completo.
Em quase todos os casos, os bikers estabelecem sua jornada de trabalho a partir de uma meta de remuneração diária, em torno de 100 a 120 reais, isto é, só param de trabalhar quando esse valor é alcançado na soma das entregas realizadas no dia. O valor mínimo atual de cada entrega é de seis reais, que pode ser acrescido de bonificações.9 Os aplicativos de entregas de refeições operam e os próprios entregadores se organizam a partir de uma lógica de turnos (informais)10 baseados nos picos de demanda, isto é, café da manhã, almoço e jantar. Desse modo, os horários de trabalho variam ligeiramente: alguns entregadores iniciam a jornada logo cedo, aproveitando-se dos pedidos de café da manhã e finalizando as entregas após os primeiros pedidos da noite, outros optam por iniciar as atividades um pouco mais tarde, trabalhando até cerca de 23h. Em geral, trabalham de 10 a 12 horas por dia, e a maioria tira um dia de folga por semana. Entre as entregas, costumam ficar “na rua”, isto é, nos espaços da cidade, sempre nas regiões de maior demanda. Em alguns pontos, é possível observar a concentração de bikers que desenvolvem algum nível de sociabilidade e camaradagem.
Embora o discurso propagado pelas plataformas digitais seja o de que promovem um trabalho “sem patrão”, para “trabalhar onde e quando quiser”, valorizando a “liberdade total” de seus “parceiros”, na prática, a lógica do crowdwork11 precisa ser constantemente gerenciada. Um dos mecanismos de controle desenvolvidos pelo iFood12 é a criação de OLs (operadores logísticos), empresas intermediadoras (terceiras) que recrutam, principalmente através de redes sociais, entregadores que são cadastrados – sem qualquer vínculo formal – à OL e prestam serviço à plataforma. Esses entregadores são vinculados a uma “praça”13 e a um “turno” específico de atuação, dinâmica que visa assegurar a existência de uma oferta mínima de entregadores para a cobertura de áreas específicas (de grande demanda) nos horários de pico. Segundo os entregadores, a principal “vantagem” é que, para o OL – os entregadores assim se identificam quando vinculados aos operadores logísticos – “o aplicativo toca mais”, ou seja, são acionados em mais entregas, em comparação ao nuvem, entregador que está cadastrado apenas na base do aplicativo. Outro benefício para os OL seria a possibilidade de pagamento diário (mediante taxa), enquanto pagamento dos nuvem é sempre semanal.
Todos os custos do trabalho recaem sobre o trabalhador, característica das atividades plataformizadas. No caso dos bikers, para se iniciarem na atividade, são necessárias, fundamentalmente, uma bicicleta e uma bag.14 Equipamentos de segurança não são fornecidos pelas empresas, e sua utilização varia entre os entregadores. A bicicleta pode ser própria ou alugada. Para aqueles que são cadastrados no iFood, há a possibilidade de aderir a um plano semanal de aluguel de bicicletas mecânicas – de cor laranja, em parceria com o Itaú, espalhadas em estações na cidade de São Paulo – e elétricas – de cor vermelha, em parceria com a empresa Tembici, retiradas nas estações do iFood Pedal. Muitos afirmam que a vinculação ao plano garante um maior número de chamadas para entregas, além de livrar o entregador de custos de manutenção e de possíveis prejuízos por roubo/furto da bicicleta.
A dinâmica das plataformas, que buscam “definir as regras do jogo sem fixá-las” (Abílio et al., 2021, p. 39), evidencia outras camadas na experiência de nossos interlocutores. Para além de um controle algorítmico, que invisibiliza e modifica, a todo instante, as formas de distribuição das entregas, o cálculo da remuneração, o sistema de bonificações e a lógica do cadastramento/desligamento dos trabalhadores, há muitas outras formas de modificar constantemente “as regras do jogo”, submetendo os trabalhadores às experimentações das empresas. Para exemplificar, podemos citar a rápida criação e dissolução das bases de apoio,15 reconfigurações constantes nas dinâmicas de aluguel de bicicletas e a lógica de funcionamento das OLs.16
A despeito de todos os riscos, precariedades e inseguranças que as pesquisas têm apontado no trabalho por aplicativos, os relatos dos entregadores revelam um sentimento positivo em relação ao seu trabalho, tendo como referência a trajetória ocupacional pregressa e as oportunidades de trabalho que se apresentam para jovens de sua idade e nível de qualificação. Identificamos, na grande maioria das entrevistas, uma forte rejeição à proposta de regulamentação de seu trabalho e a justificativa passa, sobretudo, por uma percepção de que atividade possibilita autonomia e liberdade, como iremos discutir adiante. Questionados sobre os pontos negativos da atividade, apontam, principalmente, o valor de partida das entregas, os bloqueios e desligamentos não justificados pela plataforma e a ausência de algum amparo (seguro) por parte da empresa, principalmente em caso de acidente.17
É preciso destacar que os riscos a que estão submetidos cotidianamente ao transitarem pelas ruas movimentadas da cidade não passa despercebido por eles. No entanto, são admitidos como parte de uma atividade que se desenvolve na “liberdade da rua”. Do ponto de vista do funcionamento do capitalismo flexível, essas ameaças e inseguranças também são revestidas de um sentido positivo na medida em que há uma “cultura do risco”, dentro da lógica individualizante de que arriscar-se e estar aberto aos desafios e imprevisibilidades é o fundamento da receita que levará ao sucesso. Embora a questão do “risco”, em termos materiais e práticos, seja muito distinta para os jovens que estão na outra ponta dessa cadeia, isto é, como programadores nas startups e empresas de tecnologia que desenvolvem essas plataformas, alimentados por uma cultura do risco oriunda do Vale do Silício, é possível dizer que essa lógica atravessa a experiência contemporânea dos trabalhadores, especialmente os mais jovens, representados como destemidos e inovadores (Pires, 2021).
Nas próximas seções, buscaremos avançar em análises sobre os sentidos que os sujeitos atribuem a seu trabalho e experiências de vida. Para além da dimensão da precarização, da condição social indigna e da exploração, direcionemos o olhar para um universo de estratégias de vida e sobrevivência mobilizadas por esses sujeitos.
Percepções sobre o trabalho e a adesão à atividade de entregas por aplicativo
Faltavam apenas dois dias para o segundo turno da eleição presidencial de 2022. Naquela sexta-feira, as ruas do centro de São Paulo exalavam os confrontos e rivalidades daquele momento crucial para o país. Essa atmosfera política afetava também a “zona de pouso”18 formada por bikers que se aglomeravam em torno de uma árvore em frente ao Mc Donald’s próximo à Praça da República. Bem em frente, estava sendo erguida uma tenda para um comício em prol de Lula, realizado pelo Sindicato dos Servidores e Trabalhadores Públicos em Saúde, Previdência e Assistência no Estado São Paulo
(SINSPREV/SP).
Por volta de 13h, os sindicalistas começaram a pronunciar palavras de ordem através do microfone. Em certo momento, um discurso envolveu a temática da Reforma Trabalhista e as condições de trabalho e direitos dos entregadores. Os entregadores, que, em sua maioria, pareciam incomodados desde cedo com aquele comício, se agitavam, até que Flávio, um deles, disse: “bem na nossa cara ficar gritando nesse megafone, é uma afronta”. Mais agitados, passaram a bater boca com os participantes do evento. Houve certa tensão, com bastantes ataques verbais proferidos pelos entregadores ao PT, a Lula e ao sindicato. Alisson, que está sempre no ponto com sua bicicleta motorizada, entregando os pedidos e ziguezagueando por entre os pedestres e veículos, confidenciou que votaria em Bolsonaro. Sobre o comício, completou: “isso é uma patifaria, bem na nossa cara, é pra empurrar goela abaixo”. Alisson estava incomodado com o fato de os sindicalistas e políticos quererem empurrar-lhe goela abaixo uma carteira assinada que ele não havia sequer pedido
(diário de campo).A Reforma Trabalhista de 2017 tem como marca principal a flexibilização das relações de trabalho. O trabalho por conta própria, autônomo e as formas uberizadas de relação econômica ganharam força, uma vez que o assalariamento é profundamente flexibilizado (Krein, 2018). Essas mudanças têm um grande impacto sobre os mais jovens, pois são eles que irão traçar suas trajetórias laborais em um mercado de trabalho com reduzida proteção social e relações contratuais instáveis.
Durante a campanha eleitoral de 2022, em meio às disputas de narrativas sobre o tema do trabalho e emprego, o candidato Lula, posteriormente eleito, tinha como promessas de campanha buscar a regulamentação do trabalho de motoristas e entregadores de aplicativo, o combate ao desemprego e ao trabalho informal. Em comício na Zona Sul, disse aos apoiadores: “O povo quer e precisa de trabalho decente. Não quer fazer bico ou biscate, entregar comida sem ter direito a descanso semanal remunerado, férias e recesso no Natal e Ano Novo”.19 Esse argumento era reiterado pelos sindicalistas do comício que, diante da reação dos entregadores, subiam o tom sobre a falta de direitos, as más condições de trabalho e os riscos da atividade. Naquele dia, Miguel (29 anos), cicloentregador mais experiente e mecânico do grupo, esbravejava sobre como direitos trabalhistas “seguravam o ser humano” e “impediam-no de crescer”.
Ao final do evento, a discussão prosseguiu no grupo dos entregadores. Em meio à discussão, a frase “eles querem privatizar o iFood” foi repetida. A princípio, pareceu uma expressão sem sentido algum: como uma empresa já privada poderia ser privatizada? Denis (21 anos) esclareceu que “privatizar o iFood” carrega o sentido de que a regulação do trabalho e a imposição da carteira assinada os privaria de realizarem outros tipos de trabalhos paralelos às entregas, como “puxadinhos”, “bicos”, e que fixaria valor da remuneração mensal. Para completar, acrescentou que o salário mínimo “acomoda as pessoas” em sua situação de vida atual, acarretando “a perda de inúmeras possibilidades de se ter uma rentabilidade maior”.
Ouvindo a conversa, Alisson (35 anos) acrescentou que, para a maioria dos trabalhadores, a liberdade oferecida pelas plataformas é um dos principais atrativos: pode-se trabalhar nas horas e dias que desejarem e com a possibilidade de realizarem outras tarefas durante o trabalho, de acordo com suas necessidades pessoais e financeiras, situação dificilmente aceita em um emprego de carteira assinada:
Que emprego me daria essa oportunidade hoje de chegar 12h30 no trabalho? Se eu quiser ir embora 16h, eu vou embora, eu desligo meu aplicativo e vou embora. Que outra empresa me daria essa oportunidade? Não. Eu tenho que bater horário, tem que fazer, tem que bater metas, entendeu? É isso.
Wesley, 28 anos, “criado no fundão da zona leste”, como costuma dizer, segue a mesma linha de raciocínio. Cuidado pela avó após a separação dos pais, desde os seus 12 anos de idade “tem trabalhado duro para ganhar a vida”. Já trabalhou em diversas áreas, como pedreiro, pintor, ajudante geral, auxiliar de manutenção, entre outros, antes de conhecer o iFood. Também interessado pela conversa, comenta que, dois anos antes, decidiu deixar o Mc Donald’s, onde trabalhava, por considerar que “o salário é muito horrível, trabalha demais e meio que não dá uma valorização, sabe? Para você crescer, a oportunidade é muito pouca”. Prossegue:
Aí eu fui atrás da minha melhora, que é no delivery, que é mais liberdade também. Você trabalha para si mesmo, me joguei nessa empreitada aí. Eu venho o dia que eu quero, trabalho quanto eu quero, faço as horas que eu quero, tudo depende de mim. Se eu quiser fazer dinheiro, eu vou esticar. Eu faço o meu dinheiro, eu faço meu tempo, minha hora. Quem manda é nóis no trampo, né?
Na maioria dos casos, a realização de entregas por aplicativo não é a primeira experiência de trabalho desses jovens. Muitos já apresentam uma extensa lista de empregos/trabalhos, com a marca da alternância entre atividades formais e informais, configurando um conjunto de agenciamentos e ocupações que compõem a chamada “viração” (Telles, 2011; Rizek, 2006; Abílio, 2021; Guimarães et al., 2009). Aqui, fica evidente que se trata de uma juventude específica, composta por jovens das classes populares, moradores de periferias, com baixo nível de escolaridade, que tiveram que conciliar trabalho e estudo. Suas trajetórias se desenrolam a partir de um pinga-pinga entre “trabalhos ruins”. Entre as atividades já realizadas por eles, destacam-se: trabalho em supermercados, construção civil, carga/descarga de mercadorias, telemarketing, office-boy, entre outras. Em geral, são atividades manuais e/ou rotinizadas, que não requerem elevados níveis de qualificação, caracterizadas por baixas remunerações e nenhum tipo de realização pessoal ou satisfação através do trabalho. Pelo contrário, os jovens costumam descrever essas experiências como marcadas pela sobrecarga de trabalho, falta de liberdade, desempenho de uma diversidade de tarefas não acordadas, permeadas por humilhações e autoritarismos por parte dos empregadores. A fala de Lucas (26 anos) é ilustrativa:
Estava trabalhando de office boy. Ah, era muito ruim. O salário era baixo e subir de cargo lá era muito difícil. Fiquei 8 meses, mas não me registraram, tá ligado? Era pra ser registrado com 3 meses de experiência, aí com 8 meses eu falei: ow, eu quero sair fora, mano, cansei dessa merda. Patrão era folgado demais, toda vez eu xingava. [...] Eu falava: se tu quiser me demitir, pode me demitir dessa merda aí, eu não preciso dessa merda aí não.
Além disso, “bicos”, “corres” e diversas estratégias de sobrevivência mobilizadas em paralelo marcam o cotidiano dos jovens encontrados em campo. Há uma constante construção de múltiplas estratégias para viver do trabalho, aliadas a um engajamento para alterar sua realidade presente e futura. Desse modo, é válido o argumento de que a uberização por meio das plataformas digitais se apropria dos modos de vida periféricos (Abílio, 2021). No caso dos cicloentregadores, essas novas formas de controle, gerenciamento e organização do trabalho se combinam de maneira perversa com a representação da juventude como inerentemente flexível e sempre adaptável às constantes transformações do trabalho, sobretudo quando nos referimos a atividades baseadas em ou mediadas por tecnologias digitais.
Como podemos notar, há dissonância entre, por um lado, os discursos de Lula e dos sindicalistas durante a campanha e, por outro, as percepções e anseios dos entregadores frente ao debate sobre a regulação de sua atividade. Através das entrevistas realizadas, além da observação de diversas situações como a acima relatada, é possível afirmar que esses jovens trabalhadores têm rejeitado ou questionado, em grande parte, relações de trabalho cujo cenário normativo é o assalariamento formal e vinculado a direitos. Buscam estratégias que propiciem maior empregabilidade, maior rendimento financeiro e a realização de uma fuga do regime salarial que, em seus termos, os “impede de crescer”. Busca-se atingir uma mobilidade social em paralelo aos trabalhos formais que estão disponíveis para eles e que pouco lhes oferecem em termos de perspectiva de ascensão social. O salário é visto como um valor rígido, algo que “acomoda as pessoas”, principalmente considerando que os empregos formais que acessam não ultrapassam, em geral, a remuneração de um salário mínimo. Isso ilustra a predominância de um universo simbólico que reforça uma ideologia voltada ao mérito e ao desempenho individual, na qual os indivíduos depositam toda a sua capacidade de ação e através da qual modelam suas vidas.
Em consonância com diversos estudos acerca das estratégias de vida nas periferias urbanas (Machado da Silva, 2018; Telles, 2006; Rizek, 2012; Feltran, 2014), percebemos que as formas clássicas de emprego formal que mobilizaram gerações de trabalhadores em busca de acesso à cidadania, dignidade através do trabalho, previdência e mobilidade, não fazem mais parte do imaginário de grande parcela desses jovens periféricos. Essas novas gerações se constituem como sujeitos em um mundo do trabalho cujo horizonte normativo do assalariamento já se desfez, de modo que as condições atuais não significam perda de uma situação anterior mais promissora (Telles, 2006).
Vai se conformando um cenário no qual novas práticas e justificativas se revestem de uma expectativa em torno da liberdade e da autonomia no trabalho. O fato de a atividade de entregas por aplicativo não possuir características rígidas, próprias dos empregos mais tradicionais – formais ou informais – presentes na trajetória laboral desses jovens, lhes possibilita estabelecer horários de trabalho, ou mesmo de determinar sua jornada diária, o que se revelou como um ganho positivo para nossos interlocutores. Assim, compreendem que a atividade possibilita “autonomia” no sentido de que lhes permite realizarem outras atividades em paralelo ou resolverem questões cotidianas de outra ordem, como problemas pessoais, realizar exames médicos ou mesmo voltar para casa e ficar um pouco mais na companhia da família. Dessa maneira, o trabalho por aplicativo é atrativo, mesmo em situações extremamente precárias, que eles não deixam de reconhecer – constantes punições dos aplicativos, trabalho desprotegido, remuneração variável, controle algorítmico, bloqueios arbitrários e jornadas extenuantes, que envolvem uma série de riscos.
Há uma margem de liberdade que, a partir de um olhar pragmático, possibilita a oportunidade de escapar de empregos com horários rígidos, sem perspectiva de mobilidade – muitas vezes qualificados pelos entregadores como “trabalho escravo” – e nos quais há rígidas e, por vezes, violentas formas de controle. Assim, a liberdade de “trabalhar na rua” e de realizar atividades que provocariam reprimendas – ou “encheção de saco”, em suas palavras – por parte de seus patrões ou superiores é muito estimada. A “trairagem” – entendida como relações conflituosas e desleais entre colegas de trabalho – também foi um tipo de situação apontada por alguns interlocutores como ausente no trabalho por aplicativos.
Acreditamos que as experiências e percepções dos trabalhadores são essenciais para uma maior compreensão sobre esse universo e, principalmente, as razões pelas quais enxergam a atividade como positiva e a consideram preferível a outros tipos de trabalho disponíveis. Passaremos agora a tratar das projeções de futuro e das estratégias e formas cotidianas de resistência mobilizadas pelos entregadores.
Notas sobre perspectivas, estratégias e resistências cotidianas
Naquela manhã de sexta-feira, Denis foi o segundo a chegar ao ponto do Centro. Pedalava uma bicicleta branca e arrastava outra bicicleta menor, de cor laranja, com adesivos do Itaú. Cada mão segurava um guidão diferente. Curiosos, nos aproximamos e perguntamos qual bicicleta ele usaria para trabalhar e por que estava com as duas. Ele respondeu que usaria a bicicleta branca “de aro 29” (própria), apontando para ela enquanto a colocava no chão. Quanto à bicicleta do Itaú, antes de dizer qualquer coisa, Douglas começou a prendê-la em um suporte de cano. Em seguida, comentou: “Nuvem não vive sem a laranjinha, né? Com ela, faço menos quilômetros”
(diário de campo).Em um contexto saturado da ideia de que cada um é individualmente responsável por seu sucesso ou fracasso e no qual aspectos subjetivos e habilidades adquiridas fora da escolarização formal passam a ser mais valorizados (Boltanski; Chiapello, 2009; Sennett, 2009) – ser adaptável, capaz de identificar oportunidades, comunicar-se bem, aprender continuamente, ser criativo – as fórmulas anteriormente entendidas como capazes de levar a um futuro profissional bem-sucedido, pautadas, sobretudo, na qualificação formal, também são fortemente questionadas. Os relatos de nossos interlocutores revelam pouca ou nenhuma valorização do diploma, de modo que uma fatia muito minoritária planeja retomar os estudos e acessar o ensino superior. Há uma descrença generalizada de que investir em uma maior qualificação irá se reverter, necessariamente, em níveis que consideram satisfatórios de remuneração ou em uma vida mais confortável. Como ouvimos em campo, “a mão de obra está desvalorizada, quem tem faculdade ganha uma miséria”, “quem tem diploma também tá ganhando mal”.
Provocados em relação às perspectivas de trabalho, muitos interlocutores demonstram que pretendem seguir na atividade. Em geral, desejam acumular recursos para um negócio próprio – em especial no ramo da alimentação ou do vestuário (lojas online) – ou “investir na bolsa”, instigados por influencers digitais de canais especializados em finanças. Os entregadores valorizam o “trabalhar para si mesmo” e a liberdade de trabalhar “sem patrão” como veículo de conquista de uma independência em relação ao assalariamento marcado pela subordinação e pela reduzida perspectiva de ascensão social. Apesar de não se considerarem empreendedores enquanto realizam a atividade de entregas, enxergam essa atividade como um momento intermediário entre um “emprego ruim” (referindo-se às experiências anteriores de trabalho) e um futuro negócio próprio. O trabalho nas entregas, segundo eles, diferentemente de um trabalho formal, permite a realização de outras atividades simultâneas ou paralelas para obter renda, incluindo, em alguns casos, trânsitos entre o legal e o ilegal.
Wesley, cicloentregador já mencionado, deseja
fazer uma grana sempre, ajuntando e diversificando meu dinheiro. Até chegar na liberdade financeira, investimento, imobiliária...pode ter vários caminhos, ou o fato só de ajuntar que a gente também tem, entendeu? Aí futuramente empreitar, porque já montei uma hamburgueria, mas não deu certo. Quem sabe tento outro, entendeu? Mas nóis tá no corre. O iFood não vou largar, enquanto eu tiver precisando de renda, certo? Essa é a minha renda principal, mas vou focar em outras rendas futuramente.
Tendo no iFood sua principal fonte de renda, ele planeja se “levantar nas entregas” e alcançar seus objetivos financeiros. Ele se diz feliz com a remuneração que consegue obter através das entregas, que é de 700 a 800 reais por semana: “tiro um dinheirinho bom por semana e não preciso reclamar, né? O negócio dá um dinheirinho bom”. Com dedicação e perseverança no seu “corre” diário, espera abrir seu próprio negócio. Compara sua situação atual com sua experiência anterior como funcionário no Mc Donald’s, afirmando que bastam duas semanas realizando entregas para se obter o valor superior a um mês de salário na rede de fast food. Vislumbrou no delivery um “escape” que lhe possibilitará atingir objetivos financeiros. Para Wesley, o trabalho no aplicativo, aliado ao seu espírito empreendedor (Boltanski; Chiapello, 2009; Lima, 2010), que mobiliza uma multiplicidade de caminhos que lhe possam garantir outras formas de remuneração, passa a figurar como uma das principais saídas para a superação de sua condição de pobreza.
É importante destacar, contudo, que a adesão à atividade de entregas não significa submissão e consentimento plenos às regras e dinâmicas impostas pelas plataformas. Percebemos que os entregadores desenvolvem uma série de pequenas resistências e estratégias cotidianas para potencializar seus ganhos, evitar entregas pouco rentáveis ou punições por parte dos aplicativos. O estudo sobre a resistência dos trabalhadores plataformizados traz para o debate sobre o controle do trabalho a discussão sobre formas de agência frente ao fenômeno da plataformização (Englert et al., 2020). Embora não seja possível avançar, no escopo deste artigo, sobre a pluralidade e a versatilidade dessas estratégias, é fundamental pontuar algumas delas observadas em campo.
As formas de enfrentamento podem assumir maneiras explícitas e públicas de contestação, com desdobramentos em formas organizativas (Grohmann, 2022), o que podemos ilustrar com as paralisações nacionais20 organizadas pelos entregadores, especialmente motociclistas, denominadas de “Breque dos Apps”, mobilizados por movimentos e coletivos de resistência às plataformas reivindicando melhores condições de trabalho. Outro exemplo seriam as cooperativas ou grupos auto-organizados que buscam desenvolver aplicativos ou esquemas próprios para oferecer o serviço de entregas, criando outros modos de trabalho “por fora” das plataformas digitais, concorrendo com elas ou se apropriando de nichos ou territórios ainda pouco explorados por essas empresas.
Ainda no plano coletivo, observamos que os agrupamentos de cicloentregadores que se formam em determinados pontos de cidade à espera dos pedidos, embora não sejam organizados ou articulados em função de pautas específicas, propiciam trocas de informações importantes entre eles, sobretudo no que se refere às pequenas estratégias cotidianas de como realizar o trabalho com menos contratempos, e, em alguns casos, possibilitam dinâmicas de sociabilidade, como jogos, conversas, música e uso recreativo de cannabis. Essas dimensões “coletivas” do trabalho produzem algum tipo de vínculo entre os entregadores e trazem um outro sentido ao conjunto de esforços físicos e subjetivos que ocorrem antes, durante e depois das entregas.
Em termos mais individuais, também foi possível mapear algumas estratégias. Conforme mencionamos, há uma parceria entre iFood e Itaú nos planos de aluguel de bicicletas disponíveis para os entregadores. Segundo o conhecimento tácito dos entregadores, as chamadas iFood que chegam para aqueles que estão fazendo uso da bicicleta do Itaú (mecânicas, de cor laranja) são para entregas com menores distâncias. Assim, muitos entregadores têm feito a retirada dessas bicicletas em algum dos diversos pontos existentes na cidade de São Paulo – o sistema de retirada é reconhecido pelo aplicativo – mas preferem deixá-las acorrentadas a postes, corrimãos e árvores, fazendo uso de bicicleta própria, como aparece na cena que inicia esta seção. O controle algorítmico é “enganado” ao identificar que o entregador está fazendo uso da bicicleta laranja, enviando-lhe corridas mais curtas. Como afirma um interlocutor: “Não vivo sem a laranjinha, com ela é corrida de 3 km para baixo, sem ela é 3 km pra cima, só bica21”.
Outra estratégia é comumente conhecida como “dar o golpe”. A prática se dá quando o funcionário do restaurante que prepara o pedido não pergunta o nome do entregador que realizará a entrega, então acaba não registrando no sistema do aplicativo que o pedido já foi coletado pelo entregador responsável. O entregador, então, pega o pedido para si e “desloca-o”. O ato de deslocar significa redirecionar o pedido para outro entregador e receber uma pequena “taxa de deslocamento” até o local, sem precisar realizar a entrega, fazendo com que a mesma seja direcionada a outro entregador, constando que o pedido ainda não foi retirado. O estabelecimento em questão precisa preparar um novo pedido, e o entregador que “deu o golpe” consome o pedido ou o vende “no fluxo da rua” com valor reduzido.
Outras práticas também foram identificadas no cotidiano das entregas: colocar o celular em modo avião para evitar rastreamentos georreferenciais, utilizar contas de terceiros (como mencionamos no início do texto) e outras estratégias para “evitar bloqueios por rejeite”. Nesse caso, para não ser penalizado por recusar entregas – e aqui fica explícito que a liberdade para “trabalhar quando quiser” é reprimida – o entregador rejeita (até) três corridas seguidas e aceita a quarta, provocando um reboot na taxa de recusas e evitando punições, que consistem em bloqueio de 30 minutos a 48 horas.
Ainda que incapazes de fazer frente às tendências arrasadoras da plataformização do trabalho, essas artimanhas cotidianamente reinventadas revelam limites que tensionam o suposto “despotismo algorítmico” (Griesbach et al., 2019). Essas estratégias englobam todo um conjunto de micro resistências cotidianas, sem qualquer organização formal, que buscam minar os efeitos da dominação no trabalho. Essas pequenas estratégias e resistências construídas, muitas vezes individualmente, são importantes tanto para a compreensão das experiências de trabalho dos entregadores quanto para identificar os limites do próprio controle algorítmico.
Considerações finais
Buscamos discutir alguns aspectos do cotidiano de trabalhadores que realizam a atividade de entregas por aplicativos, especialmente os cicloentregadores, que perfazem um segmento particularmente jovem no crescente e cada vez mais abrangente universo do trabalho plataformizado. Nossa intenção foi colocar em primeiro plano as percepções dos próprios sujeitos, de modo a contribuir para a compreensão sobre os motivos que levam à adesão e, em alguma medida, a atribuição de sentidos positivos a esse tipo de atividade, lançando alguma luz sobre práticas e cálculos mobilizados na condução da vida. Além disso, entendemos que é de fundamental importância olharmos para práticas e figuras emergentes no mundo do trabalho, especialmente em uma atividade que atrai tantos jovens, para que possamos melhor compreender o que é possível esperar do futuro do trabalho e construirmos estratégias e ações que sejam mais verossímeis e aceitáveis para os sujeitos, principalmente para aqueles que estão adentrando o mercado de trabalho e que serão mais impactados a longo prazo.
Como destacamos no início, tais questões foram abordadas através dos três eixos que orientam as seções do artigo. Em relação às dinâmicas de trabalho, reforçamos que os jovens cicloentregadores têm na atividade, em geral, sua principal fonte de renda – realizando ainda outros trabalhos paralelos – adaptando-se constantemente às mudanças promovidas pelas plataformas. Trabalham cerca de seis dias por semana e até 12 horas por dia, atuando com base em metas diárias de remuneração que estabelecem para si, em torno de 100 a 120 reais por dia. Apesar desse cotidiano árduo, seus relatos reiteram constantemente que a possibilidade de escolha de horários de trabalho, bem como de poderem “desligar o aplicativo” para resolverem questões pessoais, é vista como uma vantagem significativa, além de compreenderem que estão trabalhando de acordo com suas necessidades e podendo auferir valores maiores do que aqueles que costumam acessar nos empregos disponíveis. Por isso, em sua grande maioria, veem com desconfiança os discursos sobre a regulação da atividade, bem como a possibilidade de retorno a um trabalho formal. A adesão às entregas por plataforma também não é realizada sem resistências, de modo que mobilizam diversas estratégias cotidianas para obterem maiores ganhos ou vantagens, “driblando” a gestão algorítmica, além de valorizarem as atividades de sociabilidade e descontração que desenvolvem junto a outros colegas entregadores.
Percebemos que os entregadores são plenamente conscientes de que a atividade não assegura direitos fundamentais e que há muitas dificuldades e riscos em seu cotidiano de trabalho. Eles não foram “seduzidos” e alienados pelo canto da sereia do empreendedorismo, isto é, não idealizam ou romantizam o trabalho nas entregas, ou mesmo demonstram enxergá-la como alternativa na chave do empreendedorismo. No entanto é uma atividade que, acreditam, pode possibilitar, juntamente com outros “corres” paralelos, um acúmulo de recursos mínimos para iniciarem o próprio negócio, entendido como alternativa mais plausível e rentável que a perspectiva em um emprego formal e bem remunerado. Enquanto isso, preferem seguir nas entregas, no que consideram haver maior autodeterminação, diante de outras possibilidades de trabalho que se apresentam.
É importante ter em conta que, apesar de não haver uma adesão completa e acrítica à lógica empreendedora, esses jovens são, cada vez mais, formados dentro desse quadro de referências. Um exemplo disso são as mudanças recentes no currículo escolar que, através do eixo “projeto de vida” fortalece uma formação voltada para o empreendedorismo, enfatizando a responsabilidade individual e o desenvolvimento de competências relevantes ao mercado e à dinâmica neoliberal (Estormovski, 2021). Assim, não consideramos fortuito um recente programa lançado pelo iFood intitulado “Meu Diploma de Ensino Médio”, voltado a distribuir, entre os entregadores, bolsas de estudos para o curso preparatório do Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja). Da mesma forma, a profusão dos coaches e influenciadores digitais, muitas vezes jovens como eles, que prometem enriquecimento rápido sem a necessidade de qualificação formal, também são referências muito marcantes para esses sujeitos que ficam “plugados” nas redes durante todo o dia e acreditam que podem seguir fórmulas prontas e atingir sucesso imediato com um negócio online ou se tornar o novo “Primo Rico”.22
Como buscamos destacar, eles identificam na atividade vantagens que estão relacionadas ao valor da remuneração, à flexibilidade de horários, à liberdade “da rua”, à inexistência da autoridade de um patrão e a ausência de sujeição a trabalhos considerados mais degradantes, que descumprem os acordos firmados e sem possibilidade de satisfação ou ascensão. Nesse sentido, não se trata de afirmar que rejeitam de forma cabal a formalização do trabalho ou os direitos sociais, mas sim um tipo de trabalho formal e/ou subordinado que marcou suas trajetórias ocupacionais e que possui tais características. Portanto, a adesão dos jovens trabalhadores ao trabalho por aplicativos diz mais sobre o atual mundo do trabalho, as condições e oportunidades que estão acessíveis para eles no mercado de trabalho do que sobre as atividades exercidas por meio de plataformas.
Referências
Abdelnour, Sarah, & Méda, Dominique. (2019). Les Nouveaux travailleurs des applis. PUF.
Abílio, Ludmila. (2021) Empreendedorismo, autogerenciamento subordinado ou viração? Uberização e o trabalhador just-in-time na periferia. Contemporânea, 11 (3), 30-45. https://doi.org/10.4322/2316-1329.2021023
Abílio, Ludmila. (2020). Uberização e juventude periférica. Desigualdades, autogerenciamento e novas formas de controle do trabalho. Novos Estudos CEBRAP, 39, 579-597. https://doi.org/10.25091/s01013300202000030008
Abílio, Ludmila, Amorim, Henrique, & Grohmann, Rafael. (2021). Uberização e plataformização do trabalho no Brasil: conceitos, processos e formas. Sociologias, 23 (57), 26-56. https://doi.org/10.1590/15174522-116484
Aliança Bike. (17 jul. 2019) Pesquisa de perfil dos entregadores ciclistas de aplicativo. https://aliancabike.org.br/pesquisa-de-perfil-dos-entregadores-ciclistas-de-aplicativo/
Boltanski, Luc, & Chiapello, Ève (2009). O novo espírito do capitalismo. WMF Martins Fontes.
Canclini, Néstor García. (2012) Introducción: de la cultura postindustrial a las estrategías de los jóvenes. Em:Néstor García Canclini et al. (org.). Jóvenes, culturas urbanas y redes digitales (pp. 3-24). Editorial Ariel.
Casilli, Antonio, & Posada, Julian. (2019).The platformization of labor and society. Em: Mark Graham & William Dutton. (org.). Society and the Internet(p. 293-306). OUP.
Chesta, Riccardo E., Zamponi, Lorenzo, & Caciagli, Carlotta. (2019) Labour activism and social movement unionism in the gig economy: food delivery workers’ struggles in Italy. PArtecipazione e COnflitto, 12 (3), 819-844. https://doi.org/10.1285/i20356609v12i3p819
De Stefano, Valerio (2016). The rise of the “just-in time workforce": on demand work, crowdwork, and labor protection in the “gig economy". ILO.
Diógenes, Glória. (2009). Juventude, exclusão e a construção de políticas públicas: estratégias e táticas. Em: Manoel Mendonça Filho & Maria Teresa Nobre (org.). Política e afetividade: narrativas e trajetórias de pesquisa. EdUFBA.
Englert, Sai, Woodcock, Jamie, & Cant, Callum. (2020). Digital Workerism: Technology, platforms, and the circulation of workers’ struggles. TripleC: Communication, Capitalism & Critique, 18 (1), 132–145. https://doi.org/10.31269/triplec.v18i1.1133
Estormovski, Renata C. (2021). O currículo escolar como formador do sujeito empreendedor para o capital. Linhas Críticas, 27, e36828. https://doi.org/10.26512/lc.v27.2021.36828
Feltran, Gabriel. (2014). Valor dos pobres: a aposta no dinheiro como mediação para o conflito social contemporâneo. Caderno CRH, 27, 495-512. https://doi.org/10.1590/S0103-49792014000300004
Fioravanti, Lívia M. (2023). Espaço urbano e plataformas digitais: deslocamentos e condições de trabalho dos entregadores de bicicleta da metrópole de São Paulo. GEOUSP, 27 (2), e-201427. https://doi.org/10.11606/issn.2179-0892.geousp.2023.201427
Fioravanti, Lívia, Rangel, Felipe, & Rizek, Cibele. (2023). Plataformas digitais e fluxos urbanos: dispersão e controle do trabalho precário. Cadernos da Metrópole, 26 (59), 69-96. https://doi.org/10.1590/2236-9996.2024-5904
Filgueiras, Vitor, & Antunes, Ricardo. (2020). Plataformas digitais, uberização do trabalho e regulação no capitalismo contemporâneo. Revista Contracampo, 39 (1), 27-43. https://doi.org/10.22409/contracampo.v39i1.38901
Graham, Mark, & Woodcock, Jamie. (2018). Towards a Fairer Platform Economy: Introducing the Fairwork Foundation. Alternate Routes, 29, 242-253.
Griesbach, Kathleen, Reich, Adam, Elliott-Negri, Luke, & Milkman, Ruth. (2019). Algorithmic Control in Platform Food Delivery Work. Socius, 5. https://doi.org/10.1177/2378023119870041
Grohmann, Rafael. (2022). Plataformas de propriedade de trabalhadores: cooperativas e coletivos de entregadores. Matrizes, 16, 209-233. https://doi.org/10.11606/issn.1982-8160.v15i2p209-233
Grohmann, Rafael. (2020). Plataformização do trabalho: entre dataficação, financeirização e racionalidade neoliberal. Eptic On-Line, 22, 106-122. https://periodicos.ufs.br/eptic/article/view/12188
Guimarães, Nadya A. (2005). Trabalho: uma categoria-chave no imaginário juvenil. Em: Helena Abramo & Pedro Branco (org.). Retratos da juventude brasileira: análises de uma pesquisa nacional (pp. 149-174). Instituto Cidadania/Fundação Perseu Abramo.
Guimarães, Nadya A., Hirata, Helena, & Sugita, Kurumi. (2009). Trabalho flexível, empregos precários? Reflexões à guisa de introdução. Em: Trabalho flexível, empregos precários? Uma comparação Brasil, França, Japão (pp. 9-24). Edusp.
Kalil, Renan B. (2022). Plataformas de trabalho crowdwork. Ciências do Trabalho, 21.
Krein, José Dari. (2018). O desmonte dos direitos, as novas configurações do trabalho e o esvaziamento da ação coletiva: consequências da reforma trabalhista. Tempo Social, 30, 77-104. https://doi.org/10.11606/0103-2070.ts.2018.138082
Kusk, Kalle, & Nouwens, Midas. (2022). Platform-mediated food delivery work: a review for CSCW. Proceedings of the ACM on Human-Computer Interaction, 6 (CSCW2), Article no. 532. https://doi.org/10.1145/3555645
Lima, Jacob Carlos. (2010). Participação, empreendedorismo e autogestão: uma nova cultura do trabalho? Sociologias, 12 (25), 158-198. https://doi.org/10.1590/S1517-45222010000300007
Lima, Jacob C. & Pires, Aline S. (2017). Youth and the new culture of work: Considerations drawn from digital work. Sociologia e Antropologia, 7, 773-797. https://doi.org/10.1590/2238-38752017v735
Machado, Leandro. (22 maio 2019). Dormir na rua e pedalar 12 horas por dia: a rotina dos entregadores de aplicativos. BBC News Brasil. https://www.bbc.com/portuguese/brasil-48304340
Machado da Silva, Luiz A. (2018). O mundo popular: trabalho e condições de vida. Papéis Selvagens.
Machado, Sidnei, & Zanoni, Alexandre P. (2022). Introdução. Em: Sidnei Machado & Alexandre P. Zanoni. O trabalho controlado por plataformas digitais no Brasil: dimensões, perfis e direitos (pp. 23-29). Editora UFPR.
Manzano, Marcelo, & Krein, André. (2022). Dimensões do trabalho por plataformas digitais no Brasil. Em: Sidnei Machado & Alexandre P. Zanoni. O trabalho controlado por plataformas digitais no Brasil: dimensões, perfis e direitos (pp. 31-126). Editora UFPR.
Pais, José M., Cairns, David, & Pappámikail, Lia. (2005). Jovens europeus: retrato da diversidade. Tempo Social, 17 (2), 109-140. https://doi.org/10.1590/S0103-20702005000200006
Peralva, Angelina. (1997). O jovem como modelo cultural. Revista Brasileira de Educação, 5 (6), 15-24.
Pires, Aline S. (2021). As novas configurações espaciais do empreendedorismo tecnológico e as experiências de trabalho no polo de tecnologia de São Carlos-SP. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 36 (106), e3610605. https://doi.org/10.1590/3610605/2021
Pires, Aline S. (2018). Juventude(s) e o trabalho na área de TI: uma discussão sobre o discurso da flexibilidade geracional. Em: Maria A. Bridi & Jacob C. Lima (org.). Flexíveis, virtuais e precários? Os trabalhadores em tecnologias de informação (pp. 32-45). Editora UFPR.
Pires, Aline S., & Motta, Luana D. (2021). Sobre millennials e jovens vulneráveis: racionalidade neoliberal e experiência juvenil contemporânea. Em: 20º Congresso Brasileiro de Sociologia, Belém-PA.
Reguillo, Rosana. (2003). Las culturas juveniles: un campo de estudio; breve agenda para la discusión. Revista Brasileira de Educação, 23, 103-118. https://doi.org/10.1590/S1413-24782003000200008
Rizek, Cibele. (2006). Viração e trabalho: algumas reflexões sobre dados de pesquisa. Estudos de Sociologia, 11 (21), 49-58. https://periodicos.fclar.unesp.br/estudos/article/view/89
Rizek, Cibele. (2012). Trabalho, moradia em cidade. Zonas de indiferenciação? Revista Brasileira de Ciências Sociais, 27 (78), 41-49. https://doi.org/10.1590/S0102-69092012000100003
Sennett, Richard. (2009). A corrosão do caráter. Consequências pessoais do trabalho no novo capitalismo. Record.
Telles, Vera S. (2006). Mutações do trabalho e experiência urbana. Tempo Social, 18 (1), 173-195.
Telles, Vera. S. (2011). A cidade nas fronteiras do legal e ilegal. Argvmentvm.
Van Doorn, Niels. (2017). Platform Labor: on the gendered and racialized exploitation of low-income service work in the ‘on-demand’ economy. Information, Communication & Society, 20(6), 898-914. https://doi.org/10.1080/1369118X.2017.1294194
Notas