Ensaios Visuais
Do batente da porta pra fora: trabalho e sociabilidade de mulheres artesãs em Brejinho no sertão de Pernambuco
Brejinho é uma cidade do sertão do Pajeú, território composto por 17 municípios pernambucanos, marcado pelo semiárido e pela caatinga – um bioma que se modifica ante os períodos de estiagem e chuvas, sendo a agricultura familiar e a agropecuária as principais ocupações da população rural do município. Antes de iniciarem a experiência de organização do grupo Art’s Barro, as mulheres que o compõem trabalharam na agricultura, na casa de farinha, e em casas de família, e passaram a se organizar como grupo depois da realização de um curso pela Secretaria de Ação Social do município sobre produção de panelas de barro, em 2007. Após o curso, elas consolidaram-se como um grupo de trabalho informal e autogestionado de artesãs que produzem as mais diversas peças de barro, sendo formado apenas por mulheres, desde seu surgimento.
Este ensaio é uma sistematização do processo de investigação realizado junto ao referido grupo no desenvolvimento do mestrado em Sociologia na linha de Gênero e Sexualidade da UFPB[1]. A metodologia de pesquisa incluiu oficinas com as mulheres do grupo, observação participante e registro fotográfico como parte dos dados analisados na dissertação. O registro das imagens, feito com uma câmera semiprofissional[2], fez parte dos dados e sínteses produzidas no processo da oficina.
O grupo é composto por seis artesãs, quatro delas têm relações de parentesco, o que é muito presente nos grupos de mulheres no Pajeú. Segundo essas mulheres, atravessar o batente da porta – moldura que envolve as portas com funções estéticas e práticas – para realizar esse trabalho como artesãs fortaleceu suas relações familiares, permitiu-lhes acessar outros espaços e conhecimentos. O batente da porta sempre simboliza a saída da casa e o acesso à rua, ao espaço público, mas esse acesso à rua e ao espaço público toma outro sentido quando deixa de ser mediado por demandas da casa e da família e passa a ser mediado pela experiência de trabalho das mulheres. As fotos que compõem este ensaio buscam apresentar o cotidiano da vida e do trabalho das mulheres do Grupo Art’s Barro e os significados presentes no espaço por elas construído para trabalhar. Assim, a escolha das fotos foi orientada por uma narrativa visual que propõe compartilhar suas vivências, cotidiano e trabalho.
Foto 1 – Vista do município de Brejinho, de cima da Pedra Grande. O município de Brejinho faz a divisa ao sul com a Paraíba, e nele nasce o Rio Pajeú, que atravessa todo o território do Pajeú. Tem uma população de 7.307 habitantes, com 3.386 pessoas na zona urbana e 3.921 pessoas na zona rural, segundo o IBGE. A pedra grande é uma formação rochosa considerada um ponto turístico do município.
Crédito das imagens: Mônica Vilaça da Silva
Foto 2 – Cajueiro. Após uma estiagem de seis anos, em maio de 2018, voltou a chover no sertão do Pajeú, recuperando os rios, açudes e cisternas, e modificando a paisagem. O sertão está verde e florido, mas ainda podemos ver árvores brancas na paisagem que evocam a expressão tupi-guarani “mata branca” para a caatinga, permitindo às sertanejas e aos sertanejos retomarem plantios e a criação de animais.
Crédito das imagens: Mônica Vilaça da Silva
Foto 3 – Tanque de pedra. O abastecimento de água das casas é uma tarefa atribuída às mulheres e crianças. Assim, tornam-se de extrema importância todas as iniciativas e tecnologias para reservar água, como os açudes, tanques e cisternas. As famílias em Brejinho aproveitam as formações rochosas próximas às casas para reservar água. Alguns tanques não precisam de nenhuma intervenção; em outros casos, como podemos observar na foto, as famílias fazem barreiras de cimento para poderem reservar a água.
Crédito das imagens: Mônica Vilaça da Silva
Foto 4 – Entrada da sede do grupo Art’s Barro. A sede de produção do grupo é uma casa das mulheres do grupo, no sítio Tamboril, que anteriormente era alugada. A casa já passou por uma ampliação que permite hoje ao grupo ter na entrada uma área para venda, e no segundo cômodo um salão para a produção das peças. Além de espaço de trabalho, a casa de barro, como é nomeada por elas, é lugar de diálogos e aprendizados.
Crédito das imagens: Mônica Vilaça da Silva
Foto 5 – Primeiro pilão à esquerda, e forno à direita da foto. Para trabalhar com o barro, era necessário macerá-lo em um pilão, atividade extremamente penosa. O forno também era pequeno e dificultava a queima das peças. Com a ampliação do espaço e a conquista de novos equipamentos, elas resolveram manter tanto o pilão quanto o forno como memória dos passos já dados. À esquerda, na parte superior, pode-se ver a cisterna de água utilizada para produção.
Crédito das imagens: Mônica Vilaça da Silva
Foto 6 – Maria de Barro. Esta é a casa de um passarinho mantida na sala de entrada da sede do grupo. Segundo a história local, é construída pela Maria e pelo João de Barro, e enquanto ela choca os ovos, ele traz alimento. Quando o João de Barro sente ciúmes da Maria, ele a tranca dentro da casa, matando-a sufocada. Elas guardam a casa como expressão do machismo que elas combatem a partir de seu trabalho.
Crédito das imagens: Mônica Vilaça da Silva
Foto 7 – Basta de violência contra a mulher. O grupo de mulheres do Art’s Barro articula-se com outros grupos no Sertão do Pajeú através da Rede de Mulheres Produtoras do Pajeú. Um dos princípios de organização e mobilização dessa rede é o feminismo, através do qual elas vêm mobilizando ações de enfrentamento e combate à violência contra as mulheres rurais.
Crédito das imagens: Mônica Vilaça da Silva
Foto 8 – Moldando as peças. O processo de fabricação das peças de barro envolve várias etapas, e algumas mulheres se identificam mais com algumas dessas etapas e menos com outras, e dessa forma elas dividem o trabalho. A modelagem das peças é manual e é o momento da produção que elas mais identificam com habilidade e criatividade.
Crédito das imagens: Mônica Vilaça da Silva
Foto 9 – Lixando a peça e aplicando água. Nesta etapa, elas lixam, aplicam água e alisam a peça com pequenas pedras conhecidas como seixos para observar e corrigir possíveis imperfeições. Esta é a fase mais demorada e que algumas mulheres não gostam de realizar em razão do esforço despendido.
Crédito das imagens: Mônica Vilaça da Silva
Foto 10 – Aplicando brilho. Antes de levar as peças ao forno para queimá-las, elas aplicam óleo vegetal e novamente alisam a peça com pedras. Esse momento de acabamento, chamado por elas de “dar brilho” é responsável pelo aspecto final que a peça obtém.
Crédito das imagens: Mônica Vilaça da Silva
Foto 11 – Peça finalizada. Cada peça produzida leva um tempo mínimo de 22 dias para ser finalizada. Esse longo tempo é uma das maiores dificuldades enfrentadas pelo grupo quanto a produção, armazenamento e venda.
Crédito das imagens: Mônica Vilaça da Silva
Foto 12 – Mulheres do Art’s Barro e o novo forno. O forno foi conquistado através de um projeto da Rede de Mulheres Produtoras do Pajeú e utiliza lenha. Elas usam plantas exóticas não ameaçadas de extinção, como a melancia de cavalo, o nim, a algaroba, a gliricídia, a jurema preta e de embira, e a catingueira. São espécies ameaçadas da caatinga a baraúna, a quixabeira, o umbuzeiro, o angico, a umburana de cheiro, a aroeira, o ipê e o cedro.
Crédito das imagens: Mônica Vilaça da Silva
Foto 13 – Aniversário e festejos. As mulheres do grupo mantêm um quadro com as datas de aniversário de todas as participantes. Nesse dia, ao final do trabalho, elas retornam à noite para a casa de barro a fim de comemorar com a aniversariante. Além delas, outros membros de suas famílias participam, e cada uma delas prepara algum mimo para a aniversariante. Todas as fotos são da autoria de Mônica Vilaça.
Crédito das imagens: Mônica Vilaça da SilvaFoto 1 – Vista do município de Brejinho, de cima da Pedra Grande. O município de Brejinho faz a divisa ao sul com a Paraíba, e nele nasce o Rio Pajeú, que atravessa todo o território do Pajeú. Tem uma população de 7.307 habitantes, com 3.386 pessoas na zona urbana e 3.921 pessoas na zona rural, segundo o IBGE. A pedra grande é uma formação rochosa considerada um ponto turístico do município.
Crédito das imagens: Mônica Vilaça da SilvaFoto 2 – Cajueiro. Após uma estiagem de seis anos, em maio de 2018, voltou a chover no sertão do Pajeú, recuperando os rios, açudes e cisternas, e modificando a paisagem. O sertão está verde e florido, mas ainda podemos ver árvores brancas na paisagem que evocam a expressão tupi-guarani “mata branca” para a caatinga, permitindo às sertanejas e aos sertanejos retomarem plantios e a criação de animais.
Crédito das imagens: Mônica Vilaça da SilvaFoto 3 – Tanque de pedra. O abastecimento de água das casas é uma tarefa atribuída às mulheres e crianças. Assim, tornam-se de extrema importância todas as iniciativas e tecnologias para reservar água, como os açudes, tanques e cisternas. As famílias em Brejinho aproveitam as formações rochosas próximas às casas para reservar água. Alguns tanques não precisam de nenhuma intervenção; em outros casos, como podemos observar na foto, as famílias fazem barreiras de cimento para poderem reservar a água.
Crédito das imagens: Mônica Vilaça da SilvaFoto 4 – Entrada da sede do grupo Art’s Barro. A sede de produção do grupo é uma casa das mulheres do grupo, no sítio Tamboril, que anteriormente era alugada. A casa já passou por uma ampliação que permite hoje ao grupo ter na entrada uma área para venda, e no segundo cômodo um salão para a produção das peças. Além de espaço de trabalho, a casa de barro, como é nomeada por elas, é lugar de diálogos e aprendizados.
Crédito das imagens: Mônica Vilaça da SilvaFoto 5 – Primeiro pilão à esquerda, e forno à direita da foto. Para trabalhar com o barro, era necessário macerá-lo em um pilão, atividade extremamente penosa. O forno também era pequeno e dificultava a queima das peças. Com a ampliação do espaço e a conquista de novos equipamentos, elas resolveram manter tanto o pilão quanto o forno como memória dos passos já dados. À esquerda, na parte superior, pode-se ver a cisterna de água utilizada para produção.
Crédito das imagens: Mônica Vilaça da SilvaFoto 6 – Maria de Barro. Esta é a casa de um passarinho mantida na sala de entrada da sede do grupo. Segundo a história local, é construída pela Maria e pelo João de Barro, e enquanto ela choca os ovos, ele traz alimento. Quando o João de Barro sente ciúmes da Maria, ele a tranca dentro da casa, matando-a sufocada. Elas guardam a casa como expressão do machismo que elas combatem a partir de seu trabalho.
Crédito das imagens: Mônica Vilaça da SilvaFoto 7 – Basta de violência contra a mulher. O grupo de mulheres do Art’s Barro articula-se com outros grupos no Sertão do Pajeú através da Rede de Mulheres Produtoras do Pajeú. Um dos princípios de organização e mobilização dessa rede é o feminismo, através do qual elas vêm mobilizando ações de enfrentamento e combate à violência contra as mulheres rurais.
Crédito das imagens: Mônica Vilaça da SilvaFoto 8 – Moldando as peças. O processo de fabricação das peças de barro envolve várias etapas, e algumas mulheres se identificam mais com algumas dessas etapas e menos com outras, e dessa forma elas dividem o trabalho. A modelagem das peças é manual e é o momento da produção que elas mais identificam com habilidade e criatividade.
Crédito das imagens: Mônica Vilaça da SilvaFoto 9 – Lixando a peça e aplicando água. Nesta etapa, elas lixam, aplicam água e alisam a peça com pequenas pedras conhecidas como seixos para observar e corrigir possíveis imperfeições. Esta é a fase mais demorada e que algumas mulheres não gostam de realizar em razão do esforço despendido.
Crédito das imagens: Mônica Vilaça da SilvaFoto 10 – Aplicando brilho. Antes de levar as peças ao forno para queimá-las, elas aplicam óleo vegetal e novamente alisam a peça com pedras. Esse momento de acabamento, chamado por elas de “dar brilho” é responsável pelo aspecto final que a peça obtém.
Crédito das imagens: Mônica Vilaça da SilvaFoto 11 – Peça finalizada. Cada peça produzida leva um tempo mínimo de 22 dias para ser finalizada. Esse longo tempo é uma das maiores dificuldades enfrentadas pelo grupo quanto a produção, armazenamento e venda.
Crédito das imagens: Mônica Vilaça da SilvaFoto 12 – Mulheres do Art’s Barro e o novo forno. O forno foi conquistado através de um projeto da Rede de Mulheres Produtoras do Pajeú e utiliza lenha. Elas usam plantas exóticas não ameaçadas de extinção, como a melancia de cavalo, o nim, a algaroba, a gliricídia, a jurema preta e de embira, e a catingueira. São espécies ameaçadas da caatinga a baraúna, a quixabeira, o umbuzeiro, o angico, a umburana de cheiro, a aroeira, o ipê e o cedro.
Crédito das imagens: Mônica Vilaça da SilvaFoto 13 – Aniversário e festejos. As mulheres do grupo mantêm um quadro com as datas de aniversário de todas as participantes. Nesse dia, ao final do trabalho, elas retornam à noite para a casa de barro a fim de comemorar com a aniversariante. Além delas, outros membros de suas famílias participam, e cada uma delas prepara algum mimo para a aniversariante. Todas as fotos são da autoria de Mônica Vilaça.
Crédito das imagens: Mônica Vilaça da Silva