Resumo: (Condomínios Rurais: revisão sistemática da literatura internacional). A agricultura sofre com intensas mudanças econômicas, sociais, políticas e tecnológicas, as quais influenciam organizações rurais. Nesse sentido, os Condomínios Rurais ganham destaque. O objetivo deste artigo é analisar quais foram os trabalhos já publicados internacionalmente sobre o tema Condomínios Rurais. Para tanto, foi realizada uma revisão sistemática de literatura internacional, com base no protocolo de Cronin, Ryan e Coughlan (2008) no período de 30 anos. Os resultados apontam que a literatura internacional sobre Condomínios Rurais é restrita e escassa, o que demonstra lacunas de pesquisa. Dentre os subtemas identificados na literatura internacional, os Condomínios Rurais evidenciam diversidade entre as atividades agropecuárias, caráter sustentável, economia com custos, produção em maior escala, barganha de preços e otimização do trabalho, como também avanço para outras atividades rurais e estudos sobre redes e governança. Além disso, existe uma maior concentração de Condomínios Rurais no Paraná/Brasil, e a conjuntura político-econômica de cada região pode auxiliar com o desenvolvimento de novos Condomínios, os quais são pertinentes para o crescimento e competitividade no Agronegócio. Este trabalho contribui com a literatura, que é escassa, e mostra horizontes para o desenvolvimento de novas pesquisas sobre Condomínios Rurais.
Palavras-chave:Condomínios RuraisCondomínios Rurais,revisão sistemática de literatura internacionalrevisão sistemática de literatura internacional,agronegócioagronegócio.
Abstract: (Rural Condominiums: systematic review of international literature). Agriculture suffers from economic, social, political and technological changes, such as those that influence Rural Organizations. In this sense, Rural Condominiums are gaining prominence. The objective of this paper is to analyze the international publication record on Rural Condominiums. For this purpose, a systematic literature review of the international literature was carried out, based on the protocol of Cronin, Ryan and Coughlan (2008) over a period of 30 years. The results indicate that the international literature on Rural Condominiums is restricted and scarce, which evidences research gaps. Among the sub-themes identified in the international literature, the Rural Condominiums show diversity among agricultural activities, sustainable character, cost-saving, large-scale production, price bargaining and work optimization, as well as progress towards other rural activities and studies on networks and governance. In addition, there is a greater concentration of Rural Condominiums in Paraná, Brazil, and that the political-economic conjuncture of each region can help with the development of new Condominiums, which are relevant for growth and competitiveness in Agribusiness. This work contributes to a scarce literature and suggests perspectives for the development of new research on Rural Condominiums.
Keywords: Rural Condominiuns, systematic review of international literature, agribusiness.
Articles
Condomínios Rurais: revisão sistemática da literatura internacional
Rural Condominiums: systematic review of international literature

Recepção: 01/05/2019
Aprovação: 01/08/2019
Publicado: 01/10/2019
A agricultura sofre com intensas mudanças a cada dia, provenientes da esfera econômica, social, política e tecnológica. As organizações rurais necessitam então se transformar para atender a um cenário dinâmico e um mercado cada vez mais exigente e competitivo (BUAINAIN; GARCIA, 2015; BUAINAIN; GARCIA; VIEIRA FILHO, 2018; SAES; SILVEIRA, 2014).
É nesse sentido que os Condomínios Rurais ganham destaque. Os Condomínios Rurais são organizações de produtores rurais vizinhos e/ou próximos, que visam desenvolver atividades agrícolas e/ou pecuárias em conjunto, geralmente com o auxílio tecnológico, e proporcionam obter melhores ganhos e benefícios, superar dificuldades no campo e aumentam a competitividade no Agronegócio (FILIPPI, 2017).
O tema é relativamente recente, com pouca literatura acadêmica acerca do assunto e pertinente para o Agronegócio. E também exibe pluralidade e peculiaridades entre os diferentes segmentos que apresentam nas atividades agropecuárias. Dessa forma, exemplificam-se pesquisas realizadas com Condomínios Leiteiros (OLIVO, 2000; OLIVO; POSSAMAI, 2000; GULLO, 2001; TESCHE, 2007; KIYOTA; PERONDI; VIEIRA, 2012); Condomínios Suínos (MOYANO-ESTRADA; ANJOS, 2001; GULLO, 2001); Condomínios de Cafeicultores (ORTEGA; JESUS, 2012); história dos Condomínios Rurais em Santa Catarina, com foco na agricultura familiar e cooperação econômica (ANJOS; MOYANO-ESTRADA; CALDAS, 2011); mais recentemente, os Condomínios de Armazéns Rurais (FILIPPI, 2017; FILIPPI et al., 2018); e Condomínios de Agroenergia (PAULA et al., 2011; BARICHELLO, 2015; ALMEIDA et al., 2017).
Evidencia-se assim, importância e diversidade para o desenvolvimento de novas pesquisas com a temática dos Condomínios Rurais, sendo que se torna necessário conhecer os trabalhos já realizados até o momento e até que ponto a literatura internacional aborda a questão. O objetivo deste artigo é analisar quais os trabalhos que já foram publicados internacionalmente sobre os Condomínios Rurais, através de uma revisão sistemática internacional de literatura.
Para atingir este objetivo, foi realizada uma pesquisa aplicada, descritiva, exploratória e qualitativa, cujo procedimento técnico foi a revisão sistemática da literatura, que seguiu o protocolo de Cronin, Ryan e Coughlan (2008). As bases consideradas foram a Science Direct, Sociological Abstracts, ResearchGate, Web of Science, Emerald Insight . Scopus, no período de 30 anos (janeiro de 1988 a janeiro 2018). A análise de dados ocorreu por meio da técnica de análise de conteúdo, proposta por Bardin (1977).
Os principais resultados indicam que a literatura internacional sobre Condomínios Rurais é restrita e escassa, o que evidencia lacunas de pesquisa. Dentre os subtemas e características identificados na literatura internacional, os Condomínios Rurais evidenciam diversidade entre as atividades agropecuárias, caráter sustentável, economia com custos, produção em maior escala, barganha de preços e otimização do trabalho, como também avanço para outras atividades rurais e estudos sobre redes e governança. Além disso, existe uma maior concentração de Condomínios Rurais no estado do Paraná (Brasil), e a conjuntura político-econômica de cada região pode auxiliar com o desenvolvimento de novos Condomínios, os quais são pertinentes para o crescimento e competitividade no Agronegócio.
Ademais, este trabalho contribui com o levantamento do estado da arte internacional sobre os Condomínios Rurais e evidencia perspectivas de pesquisas futuras sobre a temática, como também sua importância no contexto do Agronegócio brasileiro.
O presente artigo está organizado da seguinte forma: a seção 1 apresenta a contextualização do tema, problema pesquisado e objetivo. A seção 2 mostra a revisão de literatura tradicional sobre as transformações no Agronegócio brasileiro com foco nos Condomínios Rurais. A seção 3 trata dos materiais e técnicas da pesquisa utilizada e detalha as etapas da revisão sistemática de literatura internacional. A seção 4 apresenta e discute os resultados da pesquisa, e a seção 5 se destina às considerações finais.
A agricultura sofre a cada dia com transformações que se baseiam em constantes mudanças econômicas, sociais e tecnológicas. Muitas delas vêm para solucionar problemas no campo, aumentar a lucratividade do sistema e sua competitividade, bem como a busca constante pela redução dos custos (BUAINAIN; GARCIA, 2015; BUAINAIN; GARCIA; VIEIRA FILHO, 2018; SAES; SILVEIRA, 2014).
Araújo (2003) chama a atenção para o fato de que a agricultura alcançou tal nível de desenvolvimento e complexidade que deve ser considerada não apenas como setor primário, mas juntamente às atividades de serviços, máquinas e insumos, assim como processos depois da produção, como transporte, armazéns, agroindústrias, mercados atacadista e varejo e exportação.
É nesse sentido que a agricultura passa a ser percebida numa visão sistêmica junto ao negócio agrícola, a qual é compreendida através de relações entrelaçadas num sistema complexo de atividades e participantes, denominada Agronegócio (DAVIS; GOLDBERG, 1957; ZYLBERSZTAJN, 2010).
O Agronegócio, inicialmente apresentado por Davis e Goldberg na década de 1950 (1957), trouxe inúmeras discussões sobre a agricultura no negócio agrícola. Tal como ele é definido e estudado há décadas, se transforma diante de novos desafios e situações que o moldam. Um conceito que já chega aos seus sessenta anos traz ainda intensos debates e significados que variam conforme diferentes visões e interpretações acerca da produção e distribuição de alimentos, operações na produção e na armazenagem, processamento e distribuição dos produtos agrícolas (DAVIS; GOLDBERG, 1957).
De forma semelhante Moreira, Kureski e Veiga (2016) relatam o forte vínculo do Agronegócio entre a agricultura, pecuária, indústria e serviços. Para os autores, o Agronegócio brasileiro mostra sua importância em diversos setores da economia, com participação expressiva nos preços básicos e preços de mercado em torno de 38,22% no PIB brasileiro, além de contribuir com a geração de empregos e produtos essenciais, como alimentos (MOREIRA; KURESKI; VEIGA, 2016).
Aliado à importância do Agronegócio, o setor traz consigo diversas fontes de incerteza, dificuldades e peculiaridades, as quais se apresentam nas cadeias de suprimentos e de distribuição ligados à sazonalidade, à perecibilidade, ao prazo de entrega dos produtos agropecuários (BEHZADI et al., 2017), à difícil previsibilidade dos preços agrícolas (PUCHALSKY et al., 2018), à necessidade de aumento da participação de capital nacional para o negócio e da agricultura familiar (MEDINA; SANTOS, 2017) e a gargalos logísticos (LOPES et al., 2017). Tais fatores fazem com que exista a necessidade de estratégias eficazes e eficientes (BEHZADI et al., 2017).
É nesse contexto que o Agronegócio, além de representar as operações agrícolas e as atividades ligadas a ela, transforma-se para enfrentar dificuldades do meio rural, como os gargalos causados pela logística de distribuição e problemas de infraestrutura internos do país (LOPES et al., 2017; LIMA et al., 2018; REIS; LEAL, 2015), como na armazenagem de grãos, os quais são déficit de espaço, estruturas obsoletas e precárias e distanciamento das unidades produtivas (CONAB, 2018; LIMA et al., 2018; OLIVEIRA, 2011).
Esses problemas causam a perda de competitividade e de mercado externo para o Agronegócio brasileiro, como também geram custos desnecessários para o produtor e para o negócio (CARDOSO; THOMÉ, 2018; GUERINO; VIEIRA; CASALI, 2017; SIMÕES; CAIXETA-FILHO, 2018). Surge, portanto, uma nova transformação no meio rural para superar tais dificuldades, como também para obter melhores ganhos e vantagens com a atividade: os Condomínios Rurais.
Os Condomínios Rurais são organizações rurais empreendedoras, formadas por agricultores vizinhos que visam obter ganhos e vantagens com a atividade agrícola e/ou pecuária, enfrentar dificuldades do campo e proporcionar aumento de competitividade no Agronegócio (FILIPPI, 2017; FILIPPI et al., 2018; FILIPPI; GUARNIERI, 2018). Além disso, os Condomínios Rurais contemplam características do associativismo como aumento na produção e produtividade, resolução de problemas, viabilidade social dos produtores, superação de dificuldades sociais, fortalecimento da atividade e melhor integração (FILIPPI; GUARNIERI; DINIZ, 2018).
O tema é relativamente novo, com pouca literatura sobre o assunto e pertinente para o Agronegócio. Dentre os trabalhos já desenvolvidos, existem pesquisas realizadas com Condomínios Leiteiros (OLIVO, 2000; OLIVO; POSSAMAI, 2000; GULLO, 2001; TESCHE, 2007; KIYOTA; PERONDI; VIEIRA, 2012); Condomínios Suínos (MOYANO-ESTRADA; ANJOS, 2001; GULLO, 2001); Condomínios de Cafeicultores (ORTEGA; JESUS, 2012); história dos Condomínios Rurais em Santa Catarina, com foco na agricultura familiar e cooperação econômica (ANJOS; MOYANO-ESTRADA; CALDAS, 2011); e, mais recentemente, os Condomínios de Armazéns Rurais (FILIPPI, 2017) e os Condomínios de Agroenergia (PAULA et al., 2011; BARICHELLO, 2015; ALMEIDA et al., 2017) (Figura 1).

Considerando a diversidade e as peculiaridades entre os diferentes tipos de Condomínios Rurais, todas as formações proporcionam ganhos para a atividade agrícola, para o produtor rural e para o Agronegócio brasileiro.
Wenningkamp e Schmidt (2016) relatam que estudos sobre ações coletivas no Agronegócio ainda são escassos e que essa temática é pertinente para o crescimento e desenvolvimento do setor no país. Zylbersztajn (2017) recentemente elencou algumas perspectivas de pesquisas futuras relativas ao tema, sendo que uma delas é sobre estudos de ações coletivas de agricultores. Portanto, evidencia-se relevância e importância dos Condomínios Rurais para o Agronegócio.
A próxima seção trata sobre os métodos e técnicas da pesquisa.
Essa pesquisa é classificada como aplicada, descritiva, exploratória e qualitativa (SILVA; MENEZES, 2001), cujo procedimento técnico é a revisão sistemática de literatura, de acordo com o protocolo de Cronin, Ryan e Coughlan (2008), o qual apresenta cinco etapas: (i) formulação da questão de pesquisa; (ii) estabelecimento de critérios de inclusão e exclusão; (iii) seleção e acesso à literatura; (iv) avaliação da qualidade da literatura incluída na revisão; e (v) análise, síntese e disseminação dos resultados.
Diferentemente de uma revisão de literatura tradicional ou narrativa, as revisões sistemáticas de literatura apresentam uma abordagem com buscas mais rigorosas e bem definidas (CRONIN; RYAN; COUGHLAN, 2008; ROUTROY; BEHERA, 2017). Segundo Filippi, Guarnieri e Farias (2017), a revisão sistemática gera resultados com materiais críticos e de qualidade, como também ganha importância atual em trabalhos científicos de diferentes áreas pesquisadas (FILIPPI; GUARNIERI; FARIAS, 2017; ROUTROY; BEHERA, 2017; PILBEAM; ALVAREZ; WILSON, 2012; GUARNIERI, 2015; GUARNIERI et al., 2015; NOROOZI; WIKNER, 2017).
O Quadro 1 apresenta a descrição do desenvolvimento das etapas do protocolo da revisão sistemática de literatura deste artigo.

Por fim, a Figura 2 exibe o número de documentos que foram encontrados e excluídos, conforme eram aplicados os critérios e procedimentos da revisão sistemática de literatura, com o objetivo de responder à pergunta de pesquisa e identificar trabalhos que tratassem da temática Condomínios Rurais, publicados em bases internacionais.
Figura 2 – Número de documentos excluídos com o procedimento de filtragem na revisão sistemática de literatura

De toda literatura buscada internacionalmente, apenas sete artigos tinham aderência ao tema e à intenção de pesquisa, assim, estes foram selecionados para apresentação nos resultados e na discussão neste artigo. Os resultados são tratados na próxima sessão, por meio da análise de conteúdo (BARDIN, 1977).
Os resultados dos artigos identificados na revisão sistemática de literatura são apresentados no Quadro 2. A sistematização adotada para mostrar os sete artigos relacionados ao tema desta pesquisa foi definida a partir da base científica na qual se identificou o trabalho; título, autor e ano; periódico que publicou o documento; assunto do documento; e tipo de Condomínio Rural.

Os trabalhos selecionados evidenciam que a literatura internacional é restrita e escassa em relação à temática dos Condomínios Rurais, sendo que após as buscas apenas sete trabalhos foram identificados em seis bases internacionais de dados. A Figura 3 exemplifica a evolução deles, com o comparativo dos trabalhos levantados na revisão de literatura desse trabalho, sendo que na parte inferior estão os trabalhos identificados na revisão sistemática de literatura.

Desses trabalhos, o período de publicação concentra-se entre 2009 e 2017 para os trabalhos identificados na revisão sistemática de literatura, e cinco deles tratam de Condomínios Rurais no Brasil (ALMEIDA et al., 2017; WILKINSON; CERDAN; DORIGON, 2017; RIBEIRO; RAIHER, 2013; ANJOS; MOYANO-ESTRADA; CALDAS, 2011; KIYOTA; PERONDI; VIEIRA, 2012). Já para os trabalhos publicados na revisão de literatura tradicional, os trabalhos concentram-se entre 2011 e 2018. Isso evidencia a atualidade do tema e mostra uma particularidade dessa formação e do desenvolvimento deles no país, sendo que nos último dois anos (2017 e 2018) as publicações com Condomínios focaram em agroenergia (ALMEIDA et al., 2017), suinícola (WILKINSON; CERDAN; DORIGON, 2017) e logística/armazenagem (FILIPPI et al., 2017; FILIPPI; GUARNIERI, 2018).
Dos dois artigos que não tratam de Condomínios Rurais no Brasil, o de Irimie e Essmann (2009) analisa a relação de reciprocidade entre a evolução dos direitos de propriedade florestal e a condução de agentes políticos e econômicos. Nesse caso, o objeto Condomínio Rural não é foco do trabalho, apenas um exemplo foi citado pelos autores, sendo a atividade florestal estudada. Assim, os autores exemplificam a formação de Condomínios Florestais no século XX, e apontam que estes podem sofrer com graves problemas de ordem sociopolítica.
Esse resultado também foi identificado por Filippi, Guarnieri, Diniz (2018) em uma revisão sistemática sobre as principais motivações e características para a estruturação de Condomínios Rurais no setor de armazenagem; por Filippi (2017), numa caracterização e análise de viabilidade econômico-financeira de Condomínios de Armazéns Rurais; e, por Gullo (2001), na análise dos Condomínios Suínos e Leiteiros sob a ótica do crédito rural e inadimplência. Cabe ressaltar que todos os trabalhos foram desenvolvidos com aplicações no Brasil.
Tal fato mostra que a conjuntura sociopolítica de cada época pode influenciar no desenvolvimento dos Condomínios Rurais, de forma negativa ou positiva. No caso do trabalho desenvolvimento por Irimie e Essmann (2009), o tipo de governo da época, regido pelo comunismo na Romênia, trouxe a desintegração de muitos Condomínios Florestais, com influência da reforma agrária local e extrativismo de madeira. Tais fatos influenciaram negativamente o desenvolvimento desses Condomínios, principalmente com o extrativismo da madeira e a geração de dinheiro das florestas, como também fatores como falhas no gerenciamento, pouco conhecimento das pessoas locais e falta de confiança foram decisivos para isso.
Contudo, se o tipo de governo estabelecido incentivar essa formação, através de programas agrários, crédito rural, políticas públicas, e a própria conjuntura político-econômica for favorável ao desenvolvimento e crescimento, os Condomínios podem ser beneficiados.
Posteriormente, o outro trabalho que não trata de Condomínios Rurais no Brasil é o de Avsec e Štromajer (2015). Especificamente, os autores abordam o desenvolvimento e o ambiente socioeconômico de Cooperativas Rurais na Eslovênia. Entretanto, citam um caso particular como exemplo de Condomínios Comerciais (Condomínios de Habitações), mas não no ambiente rural. A inclusão desse trabalho na revisão sistemática se deve à aproximação do modelo de Cooperativas na Eslovênia ao de Condomínios, como em um Condomínio Rural.
Dos outros cinco trabalhos que são desenvolvidos no Brasil, os Condomínios Rurais tratam das seguintes atividades: (i) Condomínio Rural de Agroenergia (ALMEIDA et al., 2017; RIBEIRO; RAIHER, 2013); (ii) citação exemplificada de um Condomínio Rural Suíno (WILKINSON; CERDAN; DORIGON, 2017); (iii) Condomínios Suínos e histórico dos Condomínios no estado brasileiro de Santa Catarina (ANJOS; MOYANO-ESTRADA; CALDAS, 2011); e (iv) Condomínio Rural Leiteiro (KIYOTA; PERONDI; VIEIRA, 2012).
Percebe-se que, de acordo com a literatura internacional, majoritariamente, a formação do tipo Condomínios Rurais prevalece no Brasil, sendo que avança no desenvolvimento de diferentes atividades agropecuárias, como suinícola e leiteira, e, mais recentemente, na produção de agroenergia e logística (atividade de armazenagem).
Nesse sentido, Moyano-Estrada e Anjos (2011), ao analisarem as formas de cooperação na agricultura familiar de Santa Catarina, identificaram que existe expansão dos Condomínios Rurais para outras esferas da Agroindústria brasileira. Da mesma forma, Filippi (2017) também relatou a expansão dos Condomínios Rurais, principalmente para o setor de armazenagem brasileiro.
Posteriormente, quanto aos Condomínios Suínos, o trabalho de Anjos, Moyano-Estrada e Caldas (2011) analisa e discute os Condomínios Rurais sob a ótica da Cooperação Econômica, modernização da agricultura, campesinato, teoria de Chayanov, e como ocorreu o surgimento dos Condomínios Suínos, especificamente no estado de Santa Catarina. Já o trabalho de Wilkinson, Cerdan e Dorigon (2017) apresenta o caso dos Condomínios Suínos em Santa Catarina como uma associação de pequenos produtores familiares. Contudo, o foco principal desse estudo são os fatores institucionais e organizacionais que influenciaram o desenvolvimento de políticas e mobilizações em torno de produtos agrícolas “originários” no Brasil, com ênfase no papel das redes.
Por sua vez, na atividade leiteira, os Condomínios Rurais são abordados em um estudo sobre estratégias de sucessão geracional na agricultura familiar em Saudades do Iguaçu, estado do Paraná, Brasil — Condomínio Rural Pizzolatto (KIYOTA; PERONDI; VIEIRA, 2012). O estudo aborda aspectos da Reprodução Social e Sucessão na Agricultura Familiar e, mais especificamente, apresenta a história, o funcionamento e as características do Condomínio Leiteiro.
Dentre os aspectos que mais chamam a atenção nessa pesquisa, Kiyota, Perondi e Vieira (2012) afirmam que o objetivo da constituição de um Condomínio era melhorar a qualidade de vida dos agricultores. Todavia, o modelo proporcionou mais que isso, como a viabilidade e economia nos custos dos investimentos com a instalação, equipamentos, máquinas e implementos, produção em maior escala para os agricultores, barganha nos preços e quantidades compradas de produtos por família e otimização da força de trabalho (menor penosidade e mais satisfação) (KIYOTA; PERONDI; VIEIRA, 2012).
Além disso, a constituição do Condomínio Leiteiro teve o apoio do Projeto Redes de Referências na Agricultura Familiar. Esse projeto governamental do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) e da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Paraná (Emater/PR) tem o objetivo de apoiar a agricultura familiar paranaense no desenvolvimento de sistemas de produção sustentáveis, com base na experiência do Institut de l’Elevage da França, que conta com um método de quatro etapas no projeto: caracterização regional, tipificação, escolhas dos sistemas e seleção das propriedades (IAPAR, 2018). Dessa forma, outra especificidade dos Condomínios Rurais é seu caráter sustentável nas atividades agropecuárias.
Essa mesma característica sustentável também é notada nos Condomínios de Agroenergia. Formação mais atual encontrada na literatura internacional dentre os tipos de Condomínios, os Condomínios de Agroenergia objetivam gerar bioenergia a partir da união de propriedades rurais vizinhas, que usam o acúmulo do biogás de suínos ou gado (ALMEIDA et al., 2017; RIBEIRO; RAIHER, 2013). Ambos os trabalhos foram estudos desenvolvidos no estado do Paraná, Brasil.
Adicionalmente, é identificada a origem das instituições de pesquisa desses artigos publicados sobre Condomínios Rurais. Do trabalho de Almeida et al. (2017), os pesquisadores são do Programa de Pós-Graduação em Energia na Agricultura da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), Programa de Pós-Graduação em Tecnologias Ambientais da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e do Centro Internacional de Energias Renováveis de Itaipu (Cibiogás). No caso do trabalho de Ribeiro e Raiher (2013), os pesquisadores são do Iapar e da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). E quanto ao trabalho de Kiyota, Perondi e Vieira (2012), os pesquisadores são do Iapar, UTFPR e Emater/PR. Percebe-se que todos os pesquisadores são do estado do Paraná, Brasil.
Dos trabalhos desenvolvidos em parceria com instituições internacionais, destaca-se o de Wilkinson, Cerdan e Dorigon (2017), em que os pesquisadores são da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Cirad UMR Innovation (Montpellier/França) e Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri). Quanto ao artigo de Irimie e Essmann (2009), os pesquisadores são do Instituto de Política Florestal e Ambiental, Universidade de Freiburg “Albert-Ludwigs”, Alemanha. Com relação ao trabalho de Anjos, Moyano-Estrada e Caldas (2011), os pesquisadores são da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL/Rio Grande do Sul) e Instituto de Estudos Avançados (Iesa) de Córdoba (Espanha). E, por fim, quanto ao trabalho de Avsec e Štromajer (2015), os pesquisadores são da União Cooperativa da Eslovênia e Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Ljubljana (Eslovênia).
Observa-se que a maior parte do desenvolvimento das pesquisas publicadas internacionalmente se concentra no estado do Paraná, Brasil. Contudo, é importante notar que não se esgota o tema apenas nesses centros de pesquisas, pois essa revisão sistemática de literatura teve foco internacional, o que excluiu publicações nacionais, em língua portuguesa, como as de Filippi, Guarnieri e Diniz (2018), Filippi (2017), Olivo (2000), Olivo e Possamai (2000), Gullo (2001), Tesche (2007), Paula et al. (2011) e Barichello (2015), os quais pertencem a instituições de pesquisas públicas e em diferentes estados, como na Universidade de Brasília (UnB), Universidade Federal de Goiás (UFG), Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) e Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Por fim, é notória uma maior concentração de pesquisas provenientes do estado do Paraná. Tal fato pode evidenciar uma relação entre a maior existência de Condomínios Rurais presentes na região e centros de pesquisas próximos a esses Condomínios, que trabalham com Agronegócio e Desenvolvimento Rural, E, ainda, características culturais agrárias na região, o perfil dos agricultores e traços marcantes do Associativismo, os quais são também encontrados na formação dos Condomínios.
Araújo (2003) ressalta que a prática dos Condomínios Rurais é mais comum na região Sul do Brasil, e que os Condomínios assumiram importância também em outros países. No entanto, nesse levantado de literatura internacional sobre o assunto, não houve indícios a respeito dessa formação em diversos países. Apenas identificou-se uma maior concentração de estudos sobre o tema no Brasil, e foi citado um caso de Condomínios Florestais por Irimie e Essmann (2009) na Alemanha/Romênia. Apesar de ter sido realizada uma busca exaustiva na literatura, considerando os critérios de inclusão e exclusão, estes achados não pressupõem que inexistam Condomínios Rurais em outros países. A pesquisa limitou-se às bases e aos critérios descritos na seção 3, portanto, outros critérios podem resultar em outros artigos.
Todavia, instiga-se conhecer as razões da maior concentração de Condomínios Rurais na região. Quais características e fatores promovem essa formação na região? Existem Condomínios Rurais se desenvolvendo em outras regiões do país? Qual a concentração deles em outros estados? É possível estender o modelo condominial para outras atividades agropecuárias, florestais ou hortifrutis? Existe viabilidade econômico-financeira para essas outras atividades? Por que a literatura internacional é escassa em relação aos Condomínios Rurais? Qual a relação entre o Projeto Redes de Referência na Agricultura Familiar do Iapar e Emater no Paraná e os Condomínios Rurais?
Esses pressupostos ainda demandam respostas e abrem horizontes para o desenvolvimento de novos trabalhos e pesquisas.
Este artigo realizou uma revisão sistemática internacional sobre os Condomínios Rurais. Com base na literatura analisada, verificou-se a relevância do que já foi publicado e pesquisado internacionalmente na área e a evidência de que a temática dos Condomínios Rurais é restrita e escassa, o que denota lacunas de pesquisa, que podem ser desenvolvidas em futuros trabalhos.
Dentre os subtemas presentes na literatura internacional de Condomínios Rurais, há diversidade entre as atividades agropecuárias, como em Agroenergia, Suínos, Gado, Leite e Florestal. Os quais também são complementados por outras atividades que já foram identificadas no Brasil, como no caso da logística, com os Condomínios de Armazéns Rurais (FILIPPI, 2017), bem como os identificados na literatura internacional (ALMEIDA et al., 2017; ANJOS; MOYANO-ESTRADA; CALDAS, 2011; AVSEC; ŠTROMAJER, 2015; IRIMIE; ESSMANN, 2009; KIYOTA; PERONDI; VIEIRA, 2012; RIBEIRO; RAIHER, 2013; WILKINSON; CERDAN; DORIGON, 2017). Tal fato evidencia um avanço no estudo e na formação dos Condomínios Rurais para diferentes atividades rurais e discussões no âmbito do desenvolvimento rural, como estudos de redes e governança.
Constatou-se que a conjuntura político-econômica de cada região ou país pode influenciar a formação dos Condomínios Rurais, como também o gerenciamento deles, o conhecimento das pessoas locais e a confiança para a atividade. Exemplifica-se o Projeto Redes de Referências na Agricultura Familiar do Iapar e Emater/PR, que apoiou um Condomínio Leiteiro em Saudades do Iguaçu (PR).
Foram identificadas também neste artigo, algumas características particulares dos Condomínios Rurais, como seu caráter sustentável, nos Condomínios de Agroenergia (ALMEIDA et al., 2017; RIBEIRO; RAIHER, 2013), e economia com custos nos investimentos, produção em maior escala, barganha de preços e otimização do trabalho, como exemplo dos Condomínios Leiteiros (KIYOTA; PERONDI; VIEIRA, 2012).
Adicionalmente, foram descritas as origens desses trabalhos levantados na revisão sistemática internacional. A maior parte das pesquisas desenvolvidas é originária do estado do Paraná (PR/Brasil). Contudo, alguns trabalhos foram realizados com parcerias internacionais, como na Alemanha, Eslovênia, França e Espanha, e nacionais, de outros estados brasileiros, como Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. É importante ressaltar, que os Condomínios Rurais também são pesquisados em outros centros de pesquisas brasileiros, cujos trabalhos foram publicados em periódicos ou eventos nacionais, não contemplados nesta pesquisa, tendo em vista a língua de publicação não ser a inglesa, que foi um dos critérios de filtragem dos artigos.
Esta pesquisa limita-se à análise dos artigos aderentes aos critérios de inclusão e exclusão e ao protocolo da revisão sistemática. Outros protocolos e, consequentemente, outros critérios podem gerar resultados diferentes. Este trabalho também se limita à análise de conteúdo dos artigos, não apresentando dados empíricos ou análise documental, com base em relatórios, diagnósticos, matérias públicas em jornais ou revistas técnicas. Ademais, se verifica a necessidade de ampliar as buscas nacionalmente sobre os Condomínios Rurais, com o intuito de identificar novos trabalhos com o tema, já que muitos podem ser identificados com a realização de uma nova revisão de literatura nacional, ou a ampliação dos critérios para a inclusão de artigos publicados na língua portuguesa ou espanhola.
Sugere-se que estudos futuros utilizem outros protocolos de revisão sistemática da literatura, com base em critérios para seleção de artigos diferentes, incluindo outras bases internacionais e nacionais e outros idiomas. Ademais, sugere-se que estudos futuros analisem se parcerias com atividades de assistência técnica e pesquisa podem fomentar a criação de Condomínios Rurais em outras regiões. Sugerem-se também estudos que analisem os principais fatores motivadores ou facilitadores do surgimento de Condomínios Rurais na região com maior ocorrência, que foi o estado do Paraná, Brasil. Estudos que identifiquem o surgimento de Condomínios Rurais em outras regiões são relevantes, bem como estudos que analisem documentos como diagnósticos, materiais técnicos e relatórios podem trazer luz a alguns elementos relacionados ao tema.
Por fim, este trabalho contribui com a literatura, que é escassa sobre o tema, e abre horizontes para o desenvolvimento de novos trabalhos e pesquisas sobre Condomínios Rurais, os quais mostram importância para o crescimento, desenvolvimento e competitividade no Agronegócio brasileiro.
Como citar: FILIPPI, Amanda Cristina Gaban; GUARNIERI, Patricia; CUNHA, Cleyzer Adrian. Condomínios Rurais: revisão sistemática da literatura internacional. Estudos Sociedade e Agricultura, v. 27, n. 3, p. 525-546, out. 2019.
https://revistaesa.com/ojs/index.php/esa/article/view/ESA27-3_04_condominios_rurais/687 (pdf)
https://revistaesa.com/ojs/index.php/esa/article/view/ESA27-3_04_condominios_rurais/688 (html)
Os autores agradecem à Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal/FAP-DF.




