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Turismo religioso e devoção nas caravanas do Santuário Metropolitano Sertanejo de Canindé, Brasi
Revista Latinoamericana e Caribenha de Geografia e Humanidades, vol. 3, núm. 5, pp. 84-97, 2020
Universidade de Brasília

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Informamos que a Revista Patryter está licenciada com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional (CC BY-NC-ND 4.0) https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/deed.pt_BR Autores que publicam na Revista PatryTer concordam com os seguintes termos: - Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, sendo o trabalho simultaneamente licenciado sob a Creative Commons Attribution License o que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria do trabalho e publicação inicial nesta revista. - A contribuição é original e inédita, não está sendo avaliada para publicação por outra revista. Quando da submissão do artigo, os(as) autores(as) devem anexar como documento suplementar uma Carta dirigida ao Editor da PatryTer, indicando os méritos acadêmicos do trabalho submetido [relevância, originalidade e origem do artigo, ou seja, oriundo de que tipo de investigação]. Essa carta deve ser assinada por todos(as) os(as) autores(as). - Autores cedem os direitos de autor do trabalho que ora apresentam à apreciação do Conselho Editorial da Revista PatryTer, que poderá veicular o artigo na Revista PatryTer e em bases de dados públicas e privadas, no Brasil e no exterior. - Autores declaram que são integralmente responsáveis pela totalidade do conteúdo da contribuição que ora submetem ao Conselho Editorial da Revista PatryTer. - Autores declaram que não há conflito de interesse que possa interferir na imparcialidade dos trabalhos científico apresentados ao Conselho Editorial da Revista PatryTer. - Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não- exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista. Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado

Recepción: 18 Junio 2019

Aprobación: 22 Agosto 2019

Publicación: 01 Marzo 2020

DOI: https://doi.org/10.26512/patryter.v3i5.25193

Resumo: O presente artigo tem por objetivo ultrapassar a dicotomia entre a modernidade do turismo religioso e a tradição da peregrinação penitente, dando uma atenção especial às estruturas temporais de ereção e organização das caravanas. De fato, tanto o turismo quanto a peregrinação compartilham a experiência central que reside nos transportes e circulações. Com efeito, a coleta de dados sustentada com o uso de entrevistas informais, observações simples e participantes, pesquisa documental e bibliográfica. O lugar escolhido é o Santuário de São Francisco das Chagas de Canindé, no Estado do Ceará. Prontamente, somos tomados pela dimensão histórica do território sertanejo e a construção simbólica do lugar de milagres e prodígios; pela subjetividade e misticismo do ato de fazer peregrinação; pelo debate de uma nova racionalidade técnica dos transportes e fretamentos turísticos, e por conseguinte novas maneira de absorção de espaços e equipamentos religiosos no turismo no Ceará. A imaginação volta à tona, porque as viagens em peregrinação abrangem à existência de uma realidade transcendente, uma predileção pelos centros de irradiação e convergência dos fenômenos religiosos enraizados em antigas tradições, narrativas e representações.

Palavras-chave: turismo, religião, espaço simbólico, caravana, Santuário Sertanejo do Canindé.

Resumen: sEste artículo tiene como objetivo superar la dicotomía entre la modernidad del turismo religioso y la tradición de la peregrinación penitente, prestando especial atención a las estructuras temporales de erección y organización de caravanas. De hecho, tanto el turismo como la peregrinación comparten la experiencia central que reside en el transporte y la circulación. En efecto, la recolección de datos se mantuvo mediante entrevistas informales, observaciones simples y participantes, investigación documental y bibliográfica. El lugar elegido es el Santuario de São Francisco das Chagas de Canindé, en el estado de Ceará. De inmediato, nos lleva la dimensión histórica del campo y la construcción simbólica del lugar de los milagros y maravillas; por la subjetividad y el misticismo del acto de peregrinar; para el debate sobre una nueva racionalidad técnica del transporte y las cartas turísticas, y por lo tanto, nuevas formas de absorber espacios y equipos religiosos en el turismo en Ceará. La imaginación se destaca, porque los viajes de peregrinación abarcan la existencia de una realidad trascendente, una predilección por los centros de irradiación y convergencia de fenómenos religiosos enraizados en antiguas tradiciones, narrativas y representaciones

Palabras clave: turismo, religión, espacio simbólico, caravana, Santuario Sertanejo do Canindé.

Abstract: This article aims to overcome the dichotomy between the modernity of religious tourism and the tradition of penitent pilgrimage, paying special attention to the temporal structures of erection and organization of caravans. In fact, both tourism and pilgrimage share the central experience that lies in transport and circulation. In effect, the data collection sustained using informal interviews, simple observations and participants, documentary and bibliographic research. The chosen place is the Sanctuary of São Francisco das Chagas de Canindé, in the State of Ceará. Promptly, we are taken by the historical dimension of the countryside and the symbolic construction of the place of miracles and wonders; for the subjectivity and mysticism of the act of making a pilgrimage; for the debate on a new technical rationality of transport and tourist charters, and therefore new ways of absorbing religious spaces and equipment in tourism in Ceará. The imagination returns to the surface, because the pilgrimage trips encompass the existence of a transcendent reality, a predilection for the centers of irradiation and convergence of religious phenomena rooted in ancient traditions, narratives and representations.

Keywords: tourism, religion, symbolic space, caravan, Sanctuary Sertanejo do Canindé.

Turismo religioso e devoção nas caravanas do Santuário Metropolitano Sertanejo de Canindé, Brasil

Ivo Luis Oliveira Silva[1]

Christian Dennys Monteiro de Oliveira[2]

Resumo: O presente artigo tem por objetivo ultrapassar a dicotomia entre a modernidade do turismo religioso e a tradição da peregrinação penitente, dando uma atenção especial às estruturas temporais de ereção e organização das caravanas. De fato, tanto o turismo quanto a peregrinação compartilham a experiência central que reside nos transportes e circulações. Com efeito, a coleta de dados sustentada com o uso de entrevistas informais, observações simples e participantes, pesquisa documental e bibliográfica. O lugar escolhido é o Santuário de São Francisco das Chagas de Canindé, no Estado do Ceará. Prontamente, somos tomados pela dimensão histórica do território sertanejo e a construção simbólica do lugar de milagres e prodígios; pela subjetividade e misticismo do ato de fazer peregrinação; pelo debate de uma nova racionalidade técnica dos transportes e fretamentos turísticos, e por conseguinte novas maneira de absorção de espaços e equipamentos religiosos no turismo no Ceará. A imaginação volta à tona, porque as viagens em peregrinação abrangem à existência de uma realidade transcendente, uma predileção pelos centros de irradiação e convergência dos fenômenos religiosos enraizados em antigas tradições, narrativas e representações.

Palavras-chave: turismo; religião; espaço simbólico; caravana; Santuário Sertanejo do Canindé.

Turismo religioso y devoción de caravanas del Santuario Metropolitano Sertanejo de Canindé, Brasil

Resumen: Este artículo tiene como objetivo superar la dicotomía entre la modernidad del turismo religioso y la tradición de la peregrinación penitente, prestando especial atención a las estructuras temporales de erección y organización de caravanas. De hecho, tanto el turismo como la peregrinación comparten la experiencia central que reside en el transporte y la circulación. En efecto, la recolección de datos se mantuvo mediante entrevistas informales, observaciones simples y participantes, investigación documental y bibliográfica. El lugar elegido es el Santuario de São Francisco das Chagas de Canindé, en el estado de Ceará. De inmediato, nos lleva la dimensión histórica del campo y la construcción simbólica del lugar de los milagros y maravillas; por la subjetividad y el misticismo del acto de peregrinar; para el debate sobre una nueva racionalidad técnica del transporte y las cartas turísticas, y por lo tanto, nuevas formas de absorber espacios y equipos religiosos en el turismo en Ceará. La imaginación se destaca, porque los viajes de peregrinación abarcan la existencia de una realidad trascendente, una predilección por los centros de irradiación y convergencia de fenómenos religiosos enraizados en antiguas tradiciones, narrativas y representaciones

Palabras clave: turismo; religión; espacio simbólico; caravana; Santuario Sertanejo do Canindé.

Religious tourism and devotion of caravans of the Sertanejo Metropolitan Sanctuary of Canindé, Brazil

Abstract: This article aims to overcome the dichotomy between the modernity of religious tourism and the tradition of penitent pilgrimage, paying special attention to the temporal structures of erection and organization of caravans. In fact, both tourism and pilgrimage share the central experience that lies in transport and circulation. In effect, the data collection sustained using informal interviews, simple observations and participants, documentary and bibliographic research. The chosen place is the Sanctuary of São Francisco das Chagas de Canindé, in the State of Ceará. Promptly, we are taken by the historical dimension of the countryside and the symbolic construction of the place of miracles and wonders; for the subjectivity and mysticism of the act of making a pilgrimage; for the debate on a new technical rationality of transport and tourist charters, and therefore new ways of absorbing religious spaces and equipment in tourism in Ceará. The imagination returns to the surface, because the pilgrimage trips encompass the existence of a transcendent reality, a predilection for the centers of irradiation and convergence of religious phenomena rooted in ancient traditions, narratives and representations.

Keywords: tourism; religion; symbolic space; caravan; Sanctuary Sertanejo do Canindé.

DOI: https://doi.org/10.26512/patryter.v3i5.25193

Como citar este artigo: Silva, I. L. O.; Oliveira, C. D. M. (2020). Turismo religioso e devoção nas caravanas do Santuário Metropolitano Sertanejo de Canindé, Brasil. PatryTer – Revista Latinoamericana e Caribenha de Geografia e Humanidades, 3 (5), pp. 83-96. DOI: https://doi.org/10.26512/patryter.v3i5.25193

1. Introdução

Por meio deste artigo, visamos expressar ideias e pensamentos sobre o fazer geográfico, especialmente em relação às representações sociais no espaço acolchoado de tradições e costumes do culto, com atenção na atração exercida pelo santuário católico, lugar-sagrado e cidade-santuário. Locais privilegiados para a experiência do sagrado e encharcados de simbolismo religioso. Interrogamos em nossas veleidades a afirmação de que existe uma forte ligação entre o conhecimento do mundo entendido como realidade e o transcendental, por meio da reconsideração desses lugares simbólicos-estruturantes. As peregrinações compartilham experiências e várias dimensões tanto no que diz respeito à riqueza simbólica quanto material. Reencontramos em Canindé, no Santuário São Francisco das Chagas de Canindé, o maior e mais movimentado Santuário Franciscano das Américas, depois de Assis na Itália.

Canindé é um município da unidade República Federativa do Brasil dentro da Região Nordeste. Pertencente ao Estado do Ceará, tendo como demarcações o Oceano Atlântico a norte e nordeste, os Estados do Rio Grande do Norte e da Paraíba a leste, do Pernambuco a sul e do Piauí a oeste. Assim como outros recantos da Região Nordeste, está demarcada com o solo árido, o sol persistente e a vegetação retorcida pelo Bioma Caatinga. A cidade-santuário de Canindé está localizado em pleno Sertão Central do Ceará, a 110km da Capital do Estado, Fortaleza, na região Nordeste do Brasil. A seguir, a figura 1 com a devida localização.

Certa vez, Dardel (2011) descreveu que a relação do sujeito com o seu lugar é dinâmica. Isso quer dizer que o espaço geográfico é uno e múltiplo. Resultado da construção e transformação em diferentes escalas e formas. De maneira idêntica, Meneses (2004, p. 31) assegura que “aquilo que é importante para o indivíduo é algo que é digno de memória e de co-memorar”. De fato, a peregrinação cristã é um ato de fazer memória da aliança entre o homem e Deus. A dinâmica da festa, o tempo, a fé do devoto e os lugares de festividades projetam no imaginário um lugar de nobreza e provisão. De qualquer forma, é necessário que o observador mantenha o distanciamento necessário e seguro para evitar a supervalorização do lugar-sagrado, enquanto, ambiente de espiritualidade radiante-fixa em detrimento do lugar-sagrado como um recinto dispersor de multidões com ares da modernidade.

Tomando como referência as peregrinações penitentes a pé e os fretamentos turísticos religiosos para a cidade de Canindé, notabilizamos que a expansão e a dispersão urbana, juntamente com a ampliação dos serviços turísticos e o uso do transporte individual, alteraram a dinâmica religiosa e móvel da cidade-santuário. Nas alamedas, a “conversão” frenética de diversas romarias, fretamentos turísticos e peregrinos a pé, de moto, de ônibus ou de pau de arara. Notadamente, os sistemas de transportes possibilitaram viagens mais confortáveis, seguras e céleres. Decididamente, o automóvel se tornaria um símbolo da modernidade e assinalado como algo imprescindível para a economia de qualquer região.

Em tempos de pós-modernidade, Bauman (1998) descreve sobre a ascensão de uma sociedade adepta à modernidade líquida, ou seja, estabelecida com pilares frágeis da insegurança e do consumo. Segundo Lyon (1998), as modificações socioculturais da sociedade industrial já davam sinais claros no final do século XX. Para Lipovetsky (2004), toda essa transformação respinga no fim da heterogeneidade tradicional e no nascimento de uma cultura-mundo. Para esse autor, os indivíduos têm se relacionado mais aceleradamente com um alcance significativo devido às redes sociais e às novas tecnologias. Na pós-modernidade, a modernidade é elevada à potência máxima do liberalismo-globalizado e da mercantilização de todas as coisas. Inclusive com um fundamentalismo religioso e uma mercantilização do sagrado.

Deste modo, esses “pós” tendem a dissolver as fronteiras territoriais, a proliferar os signos e a expandir os centros de consumo. Nessa pesquisa, o lócus é a cidade-santuário de Canindé, na microrregião de Canindé e mesorregião do Norte Cearense. Historicamente, em Canindé, os primeiros indícios da presença dos frades franciscanos data de 1758 com as Santas Missões. Em seguida, a construção da igreja primitiva é concluída em 1796 e posteriormente demolida. Em 1915, durante a grande seca no sertão, o novo (atual) Santuário de São Francisco das Chagas é entregue aos devotos

Na fabricação das monumentalidades, a cidade cearense passa a se projetar como a maior estátua sacra franciscana do país, o segundo maior santuário franciscano do mundo, depois de Assis na Itália, o maior santuário franciscano das Américas, a Cidade da Fé Franciscana, a Meca Nordestina e, por fim, a Assis Brasileira. Conforme IBGE/cidades (2018, on.line), o município conta com 78.049 mil habitantes em uma área de 3.218 km², com densidade de 23,14 hab./km². Em termos toponímicos, conforme Feitosa (2009b, 2010), existem três explicações para o significado da palavra Canindé: teu seio, tua cama e teu manto. A palavra Canindé também quer dizer: da palavra Canindé: teu seio, tua cama e teu manto. A palavra


Figura 1
Localização da cidade de Canindé no Estado do Ceará
Coordenação Geral de Monitoramento e Avaliação, Sistema de Desenvolvimento Territorial, Ministério do Desenvolvimento Agrário (CGMA, SDT, MDA, maio de 2015).

Canindé também quer dizer: a) tribo de índios missionados que primitivamente habitavam as margens dos rios Banabuiú e Quixeramobim e b) Arara Azul, uma espécie de arara que vivia na região central do estado do Ceará entre os sertões de Quixadá, Canindé e Alto Banabuiú.

Segundo a tradição transmitida oralmente de geração para outra, os primeiros milagres foram atribuídos ao Santo, ainda, na construção dos primeiros metros de parede do templo primitivo. Em razão da salvaguarda de dois operários. A mística e a mítica se espalhou por toda a região. O lugar se tornou a sede da cidade, da capela e, posteriormente, do Santuário. Todos os anos, milhares de peregrinos e visitantes se deslocam em grandes comboios, pequenos agrupamentos, em família ou mesmo isoladamente para se encontrar com o Santo que habita no Santuário, vejamos a figura 2

Neste debate, a teorização sobre as peregrinações religiosas se assenta em Dardel (2011) e o entendimento do movimento do “ser-no-mundo” e, não do “ser-no-espaço”; em Durand (2002) a ilustração do lugar-sagrado como o entre-lugar e o lugar de passagem; em Debray (2004) a evolução do Deus-Verbo (palavra) para o Deus-Escrita, posteriormente, Deus-Roda e Deus-Midiático numa clara referência as religiões-de-circulações. É exatamente o universo simbólico da religiosidade popular do catolicismo que as carava-

nas turísticas têm encontrado a face humana nas coloreada de entretons comerciais, políticos, institucionais em grande medida em razão do êxito da viabilidade econômica da viagem. Algumas vezes, as gradações não tão perceptíveis devido a força do sagrado. Embasada nesse contexto de apropriação do Santo, São Francisco de Assis é regionalizado como o Santo das Chagas de Canindé. Sendo lhe atribuído de valor regional e excepcional.

A cidade apresenta uma peculiaridade a viagem é saudada com sacrifícios e os fluxos das pessoas são aparelhadas em forma de caravanas. Nesse sentido, a promessa é individual, mas a preservação, aplicação e a transmissão são um compromisso coletivo. O sacrífico é algo apaziguador da violência cotidiana e elemento complementário do Santuário. Na outra margem, a cobiçada disposição turística “tropeça” na ausência de uma estrutura de apoio à visitação (turismo religioso), na inexistência do desenvolvimento sustentável do turismo e na impropriedade do ordenamento e planejamento do espaço urbano.

Ao longo do caminho, encontramos as narrativas dos peregrinos mais antigos. Tomando como ponto de partida a memória e a decodificação de significados das primeiras peregrinações a pé em direção ao Santuário de Canindé. Relatam “os caminhos eram de ida e de volta a pé contornando os leitos de rios”, outra narrativa “as viagens duravam dias e até semanas”. E outro momento “para os nossos pais não havia muitas escolhas. Ou peregrinavam de pau de arara ou em carroças”. Certamente, a mobilidade religiosa ganhou ares de modernidade associado, a liberdade, comodidade, velocidade, acesso e escolha.


Figura 2
O encerramento da festa de São Francisco e a renovação para o ano vindouro.
Silva, I. & Oliveira, C. (2019).

Figura 2 – O encerramento da festa de São Francisco e a renovação para o ano vindouro.

No século XX, estrearam os caminhões, cognominados de pau de arara, uma condução improvisada em massa de visitantes e peregrinos nas carrocerias dos caminhões; somados a eles, alguns raros veículos de particulares. Na contemporaneidade, deparamo-nos com a ampliação e a recuperação da capacidade da malha rodoviária, implantação ou ampliação de empreendimentos turísticos, agenciamento do fretamento turístico e eventual, a adesão do transporte rodoviário regular e alternativos. Partimos da premissa de que a atividade turística tanto elimina quando determina a criação simbólica de desejos materiais e sociais.

Em uma perspectiva geográfica, refletimos sobre a temporalidade da festividade na construção da experiência do sujeito, conjecturamos sobre a transitoriedade das caravanas religiosas e a espacialidade do templo como o agente conectivo e irradiador. Nesse escopo, há inspiração teórica em Debray (1995, 2004), o qual assegura que religião é um laço social, responsável pela coesão e pelo dinamismo do grupo humano. Para ele, há intencionalidade religiosa nas práticas, nos gestos, nos rituais e nas liturgias, tanto que, sobre a natureza da interpretação, há uma utilidade social da religião. Dessa forma, Debray (2004, p. 38) sustenta um discurso sobre os elementos veiculadores das imagens e das multidões em movimento: “o invisível transcendente não se esculpe, nem se desenha, e é a migração em caravana quem confere a um Santo o nome portátil, pleno valor de uso”. Sem dúvida, as espacialidades dos templos ultrapassaram o tempo e a fronteira física. Nesta ocasião, os santuários cumprem a função de agente criador dos espaços contemplativos e simbólicos. E as caravanas de peregrinos, aprovadas ou não pelos agentes do sagrado, seguem com a espetacularização, atribuição e rememoração.

2. Por uma leitura da geografia dos espaços simbólicos

Não há como negar a existência das fronteiras simbólicas entre o "olhar" turístico e o religioso das peregrinações. Propomos a compreensão do lugar-sagrado como o ente provocador dos fluxos humanos, pois as peregrinações abarcam diferentes modos de assumir o espaço.

Contemporaneamente, as peregrinações religiosas ganharam o apoio das memórias eletrônicas promovidas pelas redes sociais, novos deslocamentos e volumes com movimentos estaduais, interestaduais e inter-regionais de peregrinos e visitantes.

Numa breve reflexão, reconhecemos que o primeiro passo para o desenvolvimento da leitura geográfica dos espaços simbólicos é a definição do quadro teórico.conceitual. Advertimos que qualquer quadro teórico é relativo e não absoluto. Portanto, na busca da compreensão do imaginário, Durand (2002) amplia o conceito do arquétipo de Jung (2002) para o universo da representação e do símbolo. Para o autor, o imaginário é uma experiência consciente, assim como o imaginário coletivo é o lugar da constituição de todas as formas e figuras causadoras de vários outros tipos de imaginários.

Segundo Bachelard (1974, 1996), a imaginação é o modo de a consciência se oferecer ao mundo, portanto é uma experiência que evidencia o homem em uma relação de intimidade entre esse e o mundo que o cerca. Conforme Maffesoli (1987, 2001), a religião é uma forma de divino social, que prontamente constrói e sustenta todas as instituições humanas. O autor, ainda, completa para a necessidade de estar junto, sem que necessariamente tenhamos estabelecidas as relações contratuais formais ou legais. Assim, na concepção dele, somos induzidos a viver em tribos mantidas em redes existenciais pelo espírito religioso e pela proximidade geográfica dos lugares-sagrados.

Para efeitos de análise, Bourdieu (2001) narra sobre o habitus como o conjunto produtor e reprodutor das novas práticas sociais. Aprovisiona dois princípios, o de “sociação” e o de “individuação”. Já para Weber (2007) as religiões respondem às inquirições humanas reminiscentes aos problemas do sofrimento e do destino. Segundo o autor, o homem vive em contato com o mundo de inseguranças, experiências, consternações e adversidades, cujas possíveis resoluções demandam desse homem uma transcendência da história cotidiana.

O Santuário de Canindé extrapola os limites físicos e territoriais do município em vista do deslocamento massivo de peregrinos e de visitantes que se deslocam, todos os anos, em diferentes meses, para encontrar com o Santo de Canindé.

Em campo, a compreensão que São Francisco fez emergir primeiramente o Santuário e posteriormente a cidade de Canindé. E que o Santuário se restabelece, reformula e reelabora a partir da mensagem-itinerante das caravanas. São os devotos residentes e os peregrinos visitantes que cunham as vinculações simbólica-emocional com o lugar de referência, fé e glória. Em sua grande maioria, o prevalecimento das caravanas dos estados circunvizinhos como o Rio Grande do Norte, Piauí e Maranhão, além do Ceará.

Por excelência, Maffesoli (1987, 2001) assegura que cada indivíduo é um bálsamo de trajetórias, conteúdos e localizações, coexistindo em uma rede existencial por um espírito coletivo e com uma proximidade geográfica. As narrativas com os peregrinos dão conta do caráter sagrado e intrínseco ao lugar, todavia é a viagem que tem o poder reeditá-lo.

Para Oliveira (2014, p.165) há uma necessidade humana de estar na terra prometida em “fluxos sacro profanos de experiências coletivas, aparentemente, não religiosas”. Dardel (2011) questiona questões fundamentais da geografia e apresenta alternativas epistemológicas para o desvelamento da geografia cultural. O autor narra sobre o caminho da pesquisa geográfica como sendo o regresso às coisas em si mesmo. Assim, a cientificidade descortinaria para uma leitura, segundo Dardel (2011, p.5), da “Geografia Interior”. Adornada de assimilações, percepções e representações, como se assim fosse possível construir a partir de Dardel (2011, p.13) uma “Geografia da Circulação”, sob as inferências de uma “Geografia Afetiva” (Dardel, 2011, p.3).

Em Canindé, encontramos três dimensões essenciais das festividades públicas franciscanas, a primeira é dimensão simbólica referente a mística franciscana, a religiosidade popular e o espaço mítico, estabelecida a partir das relações criadas entre os homens e o Santo. A segunda é a dimensão cidadã qualificada pelo aspecto cultural da festa como um direito básico de todos. Assim é preciso garantir que a coletividade tenha acesso ao serviço público gratuito, integral e de qualidade. Por fim, não menos importante, a dimensão político-econômica indicada pelo espaço detentor de uma relação direta com a sociedade, comércio, representações políticas, produção e organização. Neste escopo, examinamos os discursos da hospitalidade bíblica retratada na representação direta das ideias de amar o próximo, do trabalho voluntário, prática do bem e servir a Deus. Como caminho de conhecimento, a hospitalidade turística dos empreendimentos que conferem serviços turísticos em Canindé é, em sua grande maioria, de pequeno porte e de gestão familiar. Estabelecimentos desprovidos de uma cultura da hospitalidade, onde o bem receber pode ser um diferencial, que atraia mais visitantes para a cidade, tornando-a competitiva no mercado de turismo local e regional. Adiante, a hospitalidade comercial responsável pelo aumento do consumo, fidelização, qualidade, satisfação e o preço justo.

Acerca dos vetores, Oliveira (2013) ajuíza sobre a existência de três forças vetoriais moduladoras do campo simbólico geográfico nos Santuários. Uma articulação entre o mítico-religioso; político-turístico e o midiático-ecossistêmico. Como parte da investigação, selecionamos os dois últimos. Na miríade das organizações dos santuários de matriz cristã católica, Oliveira (2011) elabora uma categorização disposta em santuário metropolitano; santuário natural; santuário festivo/ritual e santuário tradicional/rural. Contudo, determinada por evidências contemporâneas categorizamos o Santuário de Canindé como o Santuário Metropolitano Sertanejo. A partir dessa premissa, é possível reinterpretar em Banducci Jr e Barretto (2001, p. 19) a identidade do lugar-sagrado como “algo móvel, sempre em construção, que vai sendo moldado no contato com o outro e na releitura do universo circundante”.

Em palavras mais diretas, a geografia do espaço simbólico é uma expressão que abriga em si diversas narrativas, alegorias e funções. Por isso, ao estudar uma cidade-santuário, é importante destacar que a viagem da caravana não se abrevia ao fenômeno do turismo ou, tão somente, à peregrinação religiosa em si. A viagem está associada, ainda, à imagem contumaz do lazer, do desejo de partir, do voltar restaurado, do partir novamente, do autoconhecimento, do escapismo, dentre tantas outras tramas de intencionalidades sociais no espaço. Notadamente, o lugar simbólico é, paradoxalmente, concomitantemente, o lugar (in)comum. O peregrino, o visitante, o turista ou o devoto convergem impregnados de intenção, necessidade, memória e experiência. Complementamos dizendo que cada homem ou mulher é um mundo em si compartilhado.

3. A digressão da roda-votiva das caravanas de Canindé

Conjeturamos, para efeito de discussão, que a digressão da roda-votiva das caravanas é a chave essencial de revelação de uma espacialidade simbólica. Tratamos desse estudo como uma interpretação das formas, organizações, territorialidades, representações, historicidades e trajetórias personificadas das peregrinações.

Nos passos experimentais de verificação sobre os lugares simbólicos, a peregrinação reaparece como elemento de sociabilização, lazer, entretenimento, excursionismo, bem como de conversão, veleidade de intimidade e súplica confiante pelas necessidades humanas e espirituais. Em múltiplos aspectos, a peregrinação é dádiva e remissão.

Nessa reflexão, cada indivíduo e coletividade assumem, para si, representações do imaginário social, valores simbólicos transitórios e conteúdos sociais. Esboçamos a proposta de uma cartografia simbólica das caravanas locais, intermunicipais e interestaduais. O movimento de peregrinos e de visitantes auferiu a força motora dos veículos; logo, tudo converge a ser mais acomodado pelos princípios da rapidez e da eficiência econômica. Notadamente, o agenciamento turístico e a organização das caravanas transcenderam o tempo e o espaço, e ascenderam as mudanças espaciais (físicas e simbólicas) do lugar-sarado.

Por essa razão, Andrade (1994) alega que os transportes correspondem a uma atividade intermediária essencial da sociedade humana. Nas palavras de Wolkowitsch (1973), a evolução dos transportes possibilitou uma máxima integração internacional e um desenvolvimento econômico nacional. A despeito das interferências negativas dos transportes, Vasconcellos (1996) conta com distribuição irregular de acessibilidade, elevados índices de acidentes de trânsito, condições insatisfatórias de trafegabilidade, impactos ambientais, dentre tantas outras problemáticas decorrentes.

Nesse viés, contemplamos a Geografia do Transporte como a ciência que observa o deslocamento, a circulação, a mobilidade, a logística, a tecnologia, a engenharia, o planejamento e as regulamentações do setor de transportes. De acordo com Tomasini (2012, p. 11), o transporte é um “instrumento de indução e de revalorização das ocupações urbanas, além de ser um meio de circulação de mercadorias e pessoas”. À medida que expandimos o entendimento das práticas e das experiências da fé, advindas da mobilidade dos peregrinos e dos visitantes, em um determinado santuário católico, somos levados a pensar e, dessa maneira, aumentamos nossa capacidade de entendimento dos múltiplos significados simbólicos que compõem a forma de fazer a peregrinação. Além disso, há algumas dimensões que precisam ser consideradas nas peregrinações, por exemplo, as marcas devocionais da cultura contemporânea. Tanto que Debray (2004, p. 389) diz que o mundo está em rede e o “começo está por toda parte; e o fim em lugar nenhum fato que se harmoniza com os grandes ciclos cósmicos (de regeneração/destruição)”.

Na poética do caminho e do envolvimento, a peregrinação turística e/ou religiosa traz consigo uma linguagem retórica da penitência como parte inerente do juramento. Coligidos no tecido social transformável ao longo do tempo, as práticas das peregrinações e dos sacríficos se alteraram coletivamente e individualmente. Hoje em dia, é preciso adicionar os fatores econômicos, políticos, logísticos, técnicos e legais para ir em peregrinação; na digressão da roda-votiva das caravanas de peregrinos e de visitantes, a visibilidade da antecedência do planejamento, elaboração, organização, divulgação, fretamento, medidas legais como autorizações, capitalização, ações de proteção e segurança.

Com relação ao papel do simbólico e do imaginário na digressão das caravanas religiosas, a atenção volta-se para as singularidades das crenças, práticas e discursos. Segundo Durand (2002) a teoria do imaginário é associada ao fundo complexo de imagens, símbolos, mitos e arquétipos. Em outras palavras, o imaginário é um terreno de areias movediças. Conforme Oliveira (2011, p. 97), o automóvel adotou um papel de “monumento alegórico. Com base no sentido do movimento e da comunicação, o carro assumiu um simbolismo de multiuso e poder”. De forma semelhante, Debray (2004, p. 37) narra sobre as histórias dos meios de transportes que “quase coincidem com a história das comunicações”.

Para marcar a historicidade da cidade-santuário, Feitosa (1998, 2002a, 2002b, 2008) conta que o Santuário de Canindé desponta do evangelismo missionário dos frades franciscanos na segunda metade do século XVIII, mais precisamente nos pés dos religiosos que cruzaram o extenso território do Nordeste brasileiro, oferecendo assistência religiosa às populações desfavorecidas. Visto isso, os frades franciscanos faziam uso da prerrogativa da Desobriga do Sertão, periodicamente, percorriam regiões afastadas, desassistidas por uma paróquia, para ministrar a confissão e a comunhão. Era também compromisso dos missionários o uso do Altar Portátil, uma espécie de autonomia especial para que os religiosos celebrizassem a missa em fazendas e residências.

A digressão da roda-votiva das caravanas arrasta-nos para uma capilaridade do Santuário que ultrapassa os limites municipal e estadual, amplificado pelas circulações dos discursos dos espaços simbólicos, pelas relações interpessoais e gestos de pertencimento com o lugar-sagrado. Essas condições nos induzem a acreditar na existência de um patrimônio vivo, incorpóreo, dinâmico, plural e operado em rede. Diante do exposto, reconhecemos a existência de um patrimônio cultural composto por tudo o que existe de instável e de permanente.

De maneira especial, os peregrinos e os visitantes são produtores e receptores de uma fé itinerante mantida pela mensagem do lugar da providência. Cada caravana de peregrinos tem suas especificidades, territorialidades, estratégias de comunicação e mobilização social. Debray (2004, p. 371) reacende a discussão sobre o “vai-e-vem ordinário: reanimado pelas tradições producentes e rupturas”.


Figura 3
O vai-e-vem das caravanas no Santuário Franciscano de Canindé
Silva, I. & Oliveira, C. (2019).

Canindé é um centro irradiador de peregrinos e de visitantes; nesse lugar, homens e mulheres seguiam e ainda seguem sob a condução de bicicletas, motocicletas, automóveis particulares, vans, micro-ônibus, caminhões (pau de arara), caminhonetes, ônibus, táxis e motos na tentativa de encontrar o divino no Santo das Chagas. Percorramos a figura 3.

Na atualidade, não podemos mais conceber a supervalorização dos lugares-sagrados, tão somente, como locais-fixos reservados em si, delimitados e sistematizados, contudo, apreciamo-los como lugares-dispersores de conteúdos que, por sua vez, são difundidos e resinificados de geração em geração, a partir da condição ser-peregrino.

Certamente, a contribuição desse artigo para a geografia dos espaços simbólicos é expandi-la, denotando aos movimentos humanos ligações simbólicas em torno do imaginário que pode se manifestar na cidade-sagrada, bem como na preparação da viagem, na estrada ou no retorno para casa. O mérito aqui não é priorizar o espaço-fixo do templo, mas o espaço-fluxo das caravanas religiosas à luz dos movimentos humanos tão plurais e tão orgânicos.

4. O santuário e a leitura vetorial do espaço simbólico

O sertão pintado em Queiroz (1965) tem as colorações históricas do coronelismo, messianismo, seca, estrutura social desigual conformada pelo latifúndio improdutivo, paternalismo e o apadrinhamento político. Em Albuquerque Jr. (2006) os dramas da região são retratados pela avocada literatura social. A região semi-árida nordestina caracterizada pelas irregularidades das chuvas encontrou a fecundidade da religiosidade popular.

Autores como Coleman e Eade (2004) dedicaram-se ao estudo dos movimentos e das circulações humanas. Para eles, os movimentos são articulados e nutridos por imagens e metáforas. Notadamente, no corpo das metáforas aparecem os agentes edificadores dos lugares. Dessa forma, a mobilidade e o movimento são categorias radicadas na pessoa inicialmente e posteriormente na estrutura e na sociedade. Para eles, nem turistas nem peregrinos são identidades fixas ou unidimensionais e, sim, fluidas e pluridimensionais.

Adiante, olhando para as estradas, caravanas e culturas, encontramos em Bhabha (1998) o entendimento do entre-lugar como sendo a fronteira das diferenças culturais e religiosas. Logo, é no entre-lugar que ocorrem as fendas das movimentações culturais. A fronteira consente em conjecturar as sobreposições das contestações culturais e das subjetividades dos conflitos, uma vez que amontoam as discrepâncias nas relações humanas. Consideramos que nos entre-lugares das estradas, caravanas e fretamentos turísticos ocorrem as negociações, eliminações e readmissões. A disputa dos lugares pela instalação do poder. Diante da roda-gigante a interdependência, coabitação e ligações dos santuários e das vetorizações simbólicas dos espaços.

Como premissa da metáfora, encontramos a roda-gigante como uma forma de representar o movimento vetorial dos espaços simbólicos. Na figura 4, o complexo campo das tecnologias da informação e comunicação sobretudo à televisão e internet, como uma forma de linguagem própria da pós-modernidade. As premissas fundamentais dos vetores simbólicos político-turístico e midiático-ecossistêmico.


Figura 4
A roda-gigante dos santuários e dos vetores simbólico.
Silva, I. & Oliveira, C. (2019).

Em outro dado momento, a categorização dos santuários católicos e a seleção do santuário metropolitano-sertanejo. A justificativa para a ela-

boração da metáfora está associada a ideia da rotatividade, do movimento cíclico-festivo e fluidez das caravanas no lugar. O Santo manifestado na palavra é ampliado nos transportes e nas comunicações. Segundo Debray (2004), é um devaneio acreditar na possibilidade da existência de “mundo-sem-religião”. Se assim fosse possível, estaríamos vivendo em um mundo congestionado de sentidos sem precedentes e de apelos ao novo/eterno encantamento do “mundo-cão”. Noi outro mote, Krippendorf (2009, p. 11) assegura que o homem viaja para se evadir do cotidiano e “para viver e para sobreviver”, tanto que, duramente, permanecemos estáveis “onde nada acontece e, por isso, partimos” (Krippendorf, 2009 p. 38).

Na corporatura teórica-conceitual, Debray (2004) conta sobre a projeção história do monoteísmo judaico-cristão na construção de um deus monoteísta que se torna o “Eterno-Palpável” pelos filhos-criadores; predispostos ao exame de uma condição pós-moderna, aquele que era inalcançável se tornou acessível. Chamamos a atenção para o conceito que se depreende com o moderno, constantemente, renovado pela pós-modernidade, por meio do deus-midiático. um Deus é desterritorializado, performático, dissolvido, visível e construído por narrativas midiáticas.

Da mesma forma, Silveira (2004, p. 2) narra as “experiências mais lúdicas, ligadas ao divertimento, à leveza, ao olhar, ao exterior e ao ver”. Para ele, a metáfora da natureza humana é per-

permanecer andando. Conforme Swinglehurst (2002, p. 103), “as viagens da nossa civilização têm de novo é o volume e a rapidez dos deslocamentos humanos e o conteúdo de prazer que essas envolvem”. De acordo com Serrano (2000, p. 38), “as viagens reais e as imaginadas envolvem, em suas jornadas, a superação ou a negação de limites psicológicos e a travessia de fronteiras políticas, a construção e a reconstrução de territórios existenciais”. Reproduzindo as teorias de Bourdieu (2001), há diversas motivações atrás das ideologias, das classes de dirigentes, dos grupos apropriadores do poder simbólico, dos funcionários do sagrado e dos deslocamentos humanos.

Aqui, a imagem em torno do sertão (ser tão) está projetado como o lugar ferido, discrepante, atrasado, desigual, supersticioso e religioso. Repensando as contradições desse sertão, contemplamos, igualmente, um sertão aberto à agricultura irrigada, à ciência, ao turismo, à integração de meios de comunicação e à tecnologia. Não nos esqueçamos de que, dentro deste contexto, há uma cidade-santuário que se beneficiou da rede viária, da expansão do transporte regular e das tentativas de valorização da regionalização do turismo.

A metáfora da roda-gigante nos transporta para o movimento de vida e de morte, do alto e do baixo, de perto e de longe, do céu e da terra, o que os torna cruciais para os processos psicológicos, emocionais, afetivos, religiosos, sociais e culturais desenvolvidos pelos santuários. Conforme a roda vai se movendo, novas paisagens e experiências vão surgindo ao longo do horizonte, acima das nossas cabeças ou debaixo dos nossos pés. Interseccionada às categorizações, alertamos para os perigos do “imaginário-congelante”. Assim, não há hegemonias ou categorias pré-estabelecidas, mas, sim, a disposição e a combinação dos espaços com possibilidades operacionais, estéticas, simbólicas e poéticas.

5. Resultados adquiridos

A leitura das rodas-votivas nos faz entender como os transportes influenciaram e, ainda, influenciam a produção, a distribuição, o consumo, o volume, a velocidade e o tempo de viagem, além de corroborar com a disponibilidade e a interligação de produtos, serviços e informações.

Deste modo, temos em tela a projeção das viagens como mobilidades humanas conectora, dispostas as lógicas comerciais, turísticas e institucionais. Ao longo da escrita o zelo na aproximação e no distanciamento com o campo

Embora a memória seja essencialmente um processo interno, a sua projeção não se concretiza em um vazio, pois ela necessita de “espaço para ser ativada e estimulada. Neste sentido, lugares concretos, onde se realizam eventos, acontecimentos históricos ou práticas cotidianas, e representações visuais e não visuais podem servir como possíveis referenciais espaciais para a memória” (Seemann, 2003, p. 44).

Nas viagens os fiéis buscam redimir seus pecados ou agradecer uma graça por meio de um esforço físico e espiritual. Para Fernandes (1982) o sacrífico é um elemento apaziguador da violência habitual e, portanto, parte complementar do santuário. Notemos a figura 5. Nesse ato, o ciclo-romeiro percorreu aproximadamente 416,9 km no trajeto de ida, solitariamente, em direção ao Santuário de Canindé para agradecer um milagre atribuído ao Santo das Chagas.


Figura 5
Ciclo-romeiro natural da cidade de Picos (PI)
Silva, I. & Oliveira, C. (2014).

Para Sanchis (1983) aa romaria é a face humana colorida com nuanças sociais, culturais, políticas e econômica, algumas vezes, não perceptíveis. Para o autor, o basilar da peregrinação é o encontro dos opostos entre o humano e o divino, antagônicos inteiramente influentes entre si, não existindo, dessa forma, uma decisão aleatória de ir em peregrinação, mas, sim, uma decisão que incide por instâncias, instituições e organismos religiosos e não religiosos reguladores. Tendo por base a imagem acima referida, Grinover (2007, p. 125) descreve que

viajante, o turista ou o imigrante, quando chega em uma cidade e percorre os espaços que constroem essa forma urbana, é submetido a um sem-número de percepções, de situações e de processos importantes. Estes lhe são impostos por elementos tangíveis, que o envolvem e o induzem a comportamentos hospitaleiros, ou não, caracterizados num espaço, perante o status de “estrangeiro”.

Assim posto, cumpre destacarmos em todo o caso, as pessoas aspiram à presença presumível de um Deus que se une ao sacrifício. Fazendo uso das metáforas, a viagem é uma clara exemplificação do eterno-encontro sob as etapas da partida, chegada, encontro e retorno.

Nesse concernente, cumpre reiteramos, ainda, a categorização das territorialidades das caravanas religiosas através das Caravanas das Capitais, provenientes em grande maioria das cidades de Teresina (PI), Fortaleza (CE), Natal (RN) e São Luís (MA) e, em menor contagem, Recife (PE) e João Pessoa (PB). Como dito alhures, há existência das Caravanas das Regiões Metropolitanascomo Caucaia (CE), Parnamirim e São Gonçalo (RN) ou Demerval Lobão e José de Freitas (PI).

Observamos ainda as Caravanas das Paroquias e Santuários a exemplo do Santuário São Francisco das Chagas, Juazeiro do Norte (CE) ou Paróquia Santuário São Francisco de Assis, Teresina (PI). A partir destes marcos, inúmeras outras caravanas surgem como as Caravanas dos Bairros e das Caravanas das Cidades. Logo, a mística do Santo das Chagas assume um lugar de destaque fazendo com que o fenômeno das caravanas se popularizasse e crescesse no âmbito estadual e regional.

Ainda, sobre o crescimento das peregrinações religiosas, as Caravanas das Profissões, a exemplo da Romaria do Vaqueiro com a participação de 1.500 vaqueiros de vários municípios do Ceará. Ou a Táxi-Romaria promovida por uma cooperativa na cidade de Fortaleza. Adiante, as Caravanas dos Automóveis no molde da Romaria do Fusca. A Caravana dos Animais, no espelho da Romaria do Jegue. Ou as Caravanas das Comunidades Católicas, a exemplo da Comunidade Véu de Maria para Jesus com os Dez Mandamentos, da Comunidade Católica Obreiros da Tardinha e dos Arautos do Evangelho todas seciadas em Fortaleza (CE).

No mesmo contexto, valemos dos conhecimentos trazidos pelas Caravanas das Famílias como a Romaria Dom Joaquim e a Caravana Maria Salgado de Fortaleza (CE). Primeira com seis e a segunda oito décadas de existência. As Caravanas Nominais como a do Deputado Nerinho do Piauí ou a do Empresário Chiquinho do Codó (MA). Portanto, a partir de toda a dimensão apresentada há, ainda, as Hiper-Romarias ou Hiper-Caravanas. Em Canindé, cada grupo de peregrinos e de visitantes tentam encontrar uma forma-roteiro para chegar ao santuário. Uma trajetória, ao seu modo, de apropriação e reprodução desse espaço simbólico.

Nestes termos, Ianni (1995) assegura que esses homens e essas mulheres fazem viagens horizontais de deslocamentos geográficos e viagens verticais para dentro de si mesmo. O sentimento da “busca” é parte imprescindível nos estudos das peregrinações.

Quanto à estrada a Canindé, há um itinerário geográfico e espiritual a ser seguido. De posse de tais premissas, a estrada é dotada de conteúdos simbólicos. Quanto à participação dos peregrinos a pé, a estrada é a representação do “corredor que leva à Basílica de Canindé”, a “parte indispensável da promessa” e o “lugar de adesão com o Santo”. Por um lado, as estradas provocaram uma interiorização do território nacional, antigamente limitado ao litoral brasileiro, por outro transformaram no vetor de desenvolvimento econômico local. Sintetizando as estradas são territórios de ocupações e disputas de romeiros, caminhoneiros, fretantes, ciclistas, motociclistas, pedintes, passageiros, motoristas, passando pela população vizinha à estrada ou os transeuntes eventuais.

Em campo, acessando os documentos internos da Assessoria de Romarias e a Pastoral do Acolhimento, do Santuário de São Francisco das Chagas de Canindé a contabilização até dez/2019 de 1.776 caravanas cadastradas. Esse setor desempenha dentro do Santuário um trabalho de acolhimento e de orientação junto as romarias, com a prestação de informações das celebrações religiosas, dos atrativos turísticos, dos abrigos, bebedouros e sanitários públicos.

Em outro dado momento, usamos como fonte de informação a análise dos conteúdos dos discursos. Em primeiro lugar, a Assessoria de Romarias do Santuário de Canindé adota como recomendações para os coordenadores das caravanas: i) trafegabilidade a pé ou de bicicleta, impreterivelmente, ocorre pelo acostamento da rodovia. Observando o espaço destinado à parada ou ao estacionamento dos veículos, em caso de emergência, e à circulação devida quando não houver local apropriado para esse fim; e ii) indispensabilidade do uso obrigatório individual dos coletes refletores ou de sinalizadores presos ao corpo do peregrino.

Por conseguinte, a Policia Rodoviária Federal – PRF/CE perfilha como recomendações: i) atenção redobrada ao viajar à noite, mantendo a vigilância com os animais soltos na pista, as carcaças dos animais e a vegetação crescida; ii) controlar e reduzir a velocidade, mantendo distanciamento seguro nas ultrapassagens e nos veículos à frente; iii) não estacionar no acostamento, exceto em casos de emergências; iv) e, por fim, na travessia a pé ao Santuário a determinação para a composição de pequenos grupos a fim de evitar grandes aglomerações que ultrapassem a segurança do acostamento e o distanciamento descomedido do restante do grupo. Adiante as recomendações dos organizadores das caravanas para o uso de roupas leves, claras e coloridas, assim como a hidratação, a proteção solar e a utilização de tênis amortecido.

A despeito da diversidade de sujeitos deparamos com peregrino que pode estar na condição de passageiro, moto-romeiro, ciclo-romeiro, guia de turismo, coordenador de caravana, equipe de apoio, motorista ou motorista-fretante. Destarte, vivenciando no interior das peregrinações, descobrimos as promessas individuais, familiares, matrimoniais, herdadas, transmitidas e perpétuas. Nesse mosaico das representações sociais encontramos, ainda, as viagens para rever amigos e parentes, de compras, turismo e lazer, sociabilização de grupos e práticas desportivas. Todo este processo tem como resultante a carga advinda do tamanho das caravanas: Microcaravanas familiares ou Macrocaravana que excedem com facilidade 1.000 peregrinos em travessia.

Também incluímos nessa seara, as etapas da peregrinação representadas na: i) a pré-viagem oriunda da pesquisa antecipada, do planejamento e reuniões de preparação passando pela montagem dos orçamentos, autorizações e cadastramento dos participantes; ii) a viagem em si e toda a operacionalidade e logística condizente ao deslocamento; iii) a pós-viagem com o retorno seguro para casa e a preparação da viagem no ano seguinte. Numa tentativa de observar a demarcação das programações de peregrinar deparamos as viagens programadas, as não-programadas e as suprimidas.


Figura 6
A maior moto-romaria do Estado do Ceará.
Silva, I. & Oliveira, C. (2019).

Notadamente, nos últimos vinte anos, a cidade de Canindé tem presenciado transformações ocorridas pelos mecanismos de promoção, de divulgação, de organização e controle da festa e respectivamente das peregrinações. Na figura 6, o sensacional e o espetacular em forma de procissão. São quase 30 mil pessoas vão em procissão, sob duas rodas, saindo de Fortaleza (CE) em direção ao Santuário de Canindé. O evento é avaliado pelos agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF/CE) como uma das maiores moto-romarias do Brasil.

Como vimos, há uma multiplicação das possibilidades de ir em romaria. Na figura 7, a ritualística da peregrinação penitente ganha adereços da pós-modernidade. Na ciclo-romaria os ciclistas não estão unidos a um credo único, a mediação institucional fica por conta dos grupos de ciclistas, o cultivo da subjetividade da peregrinação com a existência do intercâmbio, turismo, prática esportiva e eventos de caráter social. No cortejo das bicicletas vão 120 ciclistas, percorrendo 125 km entre o Fortaleza e Canindé, em 9 horas de pedal, 4 paradas para descanso, 750 litros de água mineral e 450 lanches distribuídos entre os participantes.


Figura 7
A chegada dos ciclo-peregrinos no Santuário de Canindé
Silva, I. & Oliveira, C. (2019).

Fonte: Silva, I. & Oliveira, C. (2019).

Enquanto isso, a figura 8 exibe o embarque de peregrinos na tradicional Romaria do Codó (MA) ou Romaria das Carretas. Até 2013 a devoção era realizada com o auxílio de 13 caminhões pau de arara e o translado de 2.500 romeiros. Hoje em dia, com a suspensão do transporte interestadual de passageiros em regime de pau de arara. A devoção se adequou ao fretamento rodoviário eventual, interestadual de passageiros com 21 ônibus e 1.100 participantes. Historicamente são quase 4 décadas de devoção, 25.500 km percorridos e 35 mil romeiros transportados gratuitamente.

Ao longo do tempo, as peregrinações religiosas passaram por acréscimos e supressões, hibridizações econômicas, culturais, sociais e políticas. Na digressão das transformações vividas pelas caravanas estão a adoção de plano de segurança, plano de controle de fluxo, contratação de agências de viagens, apólices de seguros, reuniões técnicas de preparação, incorporação de novos sujeitos como os moto-socorristas, moto-batedores, enfermeiros, mecânicos, seguranças particulares, guias de turismo, entre outros. Notamos a ocorrência da aceleração do tempo da viagem, o encurtamento das permanências e a velocidade das experiências. Os transportes e as comunicações criaram novos experimentos com o lugar-sagrado.


Figura 8
O embarque dos romeiros na tradicional Romaria do Codó (MA)
Silva, I. & Oliveira, C. (2019)

Fonte: Silva, I. & Oliveira, C. (2019).

Compreendemos a partir dessas premissas que existem uma produção material, estrutural e superestrutural das regulações e operações nas caravanas. Mediante a tudo isso, descobrirmos a existência de instrumentos norteadores dentro das caravanas, a exemplo dos Mandamentos do Romeiro, Estatuto das caravanas, as Normas das Inconveniências ao Evento, além das cartilhas de Consciência Ecológica na Peregrinação . Termo de Livre Adesão.

Nas observações mais aguçadas, a revelação de novos sujeitos para além do romeiro como os fretantes de excursões, motoristas, motorista-fretante, coordenadores de caravanas e guias de turismo. Para além do moto-romeiro aparecem o moto-socorrista, moto-batedor, moto-varredor, mecânico, pelotão de elite, moto-taxista, motoboys, motofrete e entregador-delivery, entre tantos outros sujeitos. Para além do ciclo-romeiro a contemplação do ciclista-varredor, ciclista-batedor, ciclista de elite, equipe de apoio, atleta, ciclista principiante e monarkeiros proprietários da bicicleta Monark Barra Circular.

Desta forma, toda a gama simbólica pertencente ao Santuário de Canindé, ainda encontramos as Caravanas dos Santuários-Interligados, expedições que viajam, concomitantemente, para o Santuário de Canindé e para outros Santuários Cearenses, na grande maioria, para Basílica-Santuário Nossa Senhora das Dores no Centro, Juazeiro do Norte/Ceará.

De uma maneira geral, podemos compreender que a experiência da viagem é tocada pelo vínculo do movimento, do distanciamento do cotidiano e da aproximação com o sagrado. Certamente, as informações se dão em um contexto fluente de relações. Sendo preciso ultrapassarmos as aparências e vislumbramos as peregrinações esportivas (como as ultramaratonas e as ciclo-romarias), as peregrinações turísticas (fretamento rodoviário), as peregrinações religiosas (caravanas familiares) e as peregrinações com envolvimento institucional (moto-clubes).

O fenômeno religioso mune o homem do sentimento de completude existencial. Durante a elaboração desse artigo pautamos pelo reconhecimento do espaço onde cultura é vivida, especialmente, em decorrência dos fluxos das peregrinações dos fiéis e turistas. O universo simbólico é definitivamente um tema diverso e rico de significações profundas.

6. Considerações Finais

Conforme o entendimento cristão, à “fé move montanhas”, na verdade, movimenta inicialmente os indivíduos antes mesmo das suas situações. Etimologicamente a fé apreende inúmeras significações, dentre delas a “convicção antecipada”. Para os diferentes estudiosos, à fé emula da razão, ou seja, nasce da consciência do ser e não a descarta. Portanto, à fé é fiel companheira da racionalidade e do racionalismo.

Nesse artigo, mergulhamos em direção a cidade de Canindé. Aproximamos das ciclo-romarias, moto-romarias, romarias a pé, caravanas rodoviárias intermunicipais e interestaduais. Notadamente, no Santuário de Canindé as peregrinações também ocorrem fora do tempo festivo.

Dessa forma, à fé é um estado confiante que arrasta multidões mundo afora. O Santuário Franciscano de Canindé nasceu devido a necessidade da cobertura da assistência social e religiosa naquela região.

Fundamentalmente, o vínculo religioso não está mais concentrado nas instituições ou nos lugares. O divino agora está alocado em todo o lugar possível de existir. O divino é sustentado por novas formas de organizações existenciais. Nesses mais de dois séculos de devoção ao Santuário de Canindé, as locomoções humanas mudaram, democratizaram a viagem e transformaram a devoção. Os peregrinos e visitantes passaram a introduzir novos aparatos facilitadores da locomoção, a mobilidade humana acelerou o tempo de viagem e, de certa medida, as permanências no lugar e as experiências com o cotidiano.

Na cidade-santuário, os registros das novas formas de chegar ao lugar-sagrado, associadas à racionalidade técnica dos agentes produtores. Contemplamos a movimentação da estrada, a transmissibilidade da tradição, às famílias pluriconfessionais, a competição entre lazer e peregrinação e a atuação dos agentes reguladores. Reconhecidamente, os meios de transportes e as comunicações influenciaram o volume de passageiros, a velocidade da viagem, a interligação dos destinos e o encurtamento das distâncias.

Para tanto, é indispensável assentar o ser humano no centro dessa transformação, já que é ele quem se move pelas cidades, aproveita os meios de transporte, necessita da segurança e da qualidade no ir e vir. Por conseguinte, não é incomum observamos as viagens imaginativas impetrados pela imaginação e memória. Bem como, as viagens virtuais intensificadas pelas novas tecnologias. Para nós, sempre há um lugar para além do sagrado, há um lugar de envio, trânsito e experiência.

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Wolkowitsch, M. (1973). Géographie des Transports. Paris: Armand Colin.

Notas

[1] Professor de Geografia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7905-206X. E-mail: ivoluisos@gmail.com.
[2] Professor de Geografia da Universidade Federal do Ceará UFC/Brasil. ORCID: http://orcid.org/0000-0001-8025-2045. E-mail: cdmo49@gmail.com.


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