Editorial
Homenagem ao Prof.Antônio Tolrino de Rezende Veras(UFRR),amigo geógrafo,vítima do COVID-19no Brasil.
Homenagem ao Prof.Antônio Tolrino de Rezende Veras(UFRR),amigo geógrafo,vítima do COVID-19no Brasil.
PatryTer, vol. 3, núm. 6, 2020
Universidade de Brasília

Homenagem ao Prof. Antônio Tolrino de Rezende Veras (UFRR), amigo geógrafo, vítima do COVID-19 no Brasil.
Homenagem ao Prof. Antônio Tolrino de Rezende Veras (UFRR),
O professor Antonio Tolrino de Rezende Veras, “Verinhas” como eu o tratava, carinhosamente, foi meu contemporâneo de pós-graduação na Universidade de São Paulo-USP; ele finalizava e eu iniciava o doutorado em Geografia Humana, entre 2008 e 2009, quando nos conhecemos, ambos sob orientação do prof. Francisco Capuano Scarlato. Dali por diante, construímos nossa amizade. No dia 29 de junho de 2020, segunda-feira, acompanhamos, tristemente, o desencarne de nosso companheiro de luta e amigo, vítima do COVID-19, no Brasil.
Veras nasceu em 12 de janeiro de 1965, no município de Crateús, Ceará. Filho de Raimunda Rezende Lima e Joao de Araújo Veras, era o mais novo de oito irmãos. Com 11 anos de idade, saiu dos sertões de Crateús com os pais, para viver na capital do estado, Fortaleza. Ele se formou em Geografia pela Universidade Estadual do Ceará (UECE), em 1989 (com 24 anos); em 1993 (aos 28 anos) ingressou como jovem professor no Departamento de Geografia da Universidade Federal de Roraima (UFRR), atuando, desde o início da carreira, no ensino, na pesquisa e na extensão.
Em 2000, Veras regressou à UECE, para realizar seu mestrado com o prof. Luiz Cruz Lima. Motivado em fazer o doutorado, em 2005, foi aprovado na seleção do Programa de Pós-graduação em Geografia Humana da USP, apresentando o trabalho final em 2009, sob orientação do prof. Scarlato, cuja tese defendia que “o processo de produção do espaço urbano de Boa Vista é resultado de ações e intenções de caráter estratégico e geopolítico, num espaço territorial em situação de conflito entre forças políticas e étnico-culturais sobre a apropriação da terra, com o objetivo de ocupar, proteger e desenvolver as fronteiras da Amazônia Setentrional em relação aos países vizinhos, Venezuela e Guiana” (Veras, 2009, p. 21). Em diálogo com sua filha Laura Patrícia Pinheiro Veras e sua irmã Francisca Rezende Veras Lacerda, intermediado por nosso amigo em comum Paulo Rogério de Freitas Silva, que também foi professor da UFRR (1996-2013) e hoje encontra-se na Universidade Federal de Alagoas - UFAL, ambas destacaram que Veras foi o primeiro, e até o momento, o único da família a concluir o doutorado.
Quero ressaltar a importância da tese de Veras, inédita ao contextualizar o surgimento e o desenvolvimento urbano da capital do estado, Boa Vista, com a geopolítica de terras e controle de territórios na Amazônia. E é inegável a contribuição de Veras ao estado de Roraima, por meio do conhecimento geográfico. Interessado pela geografia urbana e a geografia cultural, nosso amigo trabalhou incansavelmente, deixando um importante legado de saberes e afetos para a UFRR, para Boa Vista e para a Amazônia, mesmo com sua partida prematura. Além de sua contribuição acadêmico-investigativa, Veras atuou como diretor do Instituto de Geociências, coordenador do Programa de Pós-graduação em Geografia e Chefe do Departamento de Geografia da UFRR.
Ainda sobre sua contribuição à Geografia de Roraima à Amazônia Setentrional e ao Brasil, vale dizer que Veras formou ou foi orientador de 30 mestres e mestras (algumas estavam em andamento), e mais de 50 geógrafos e geógrafas (em monografias e iniciação científica), junto à Geografia da UFRR.
Nas nossas últimas conversas, ao longo do primeiro semestre de 2020, Veras me relatou que estava trabalhando junto ao Estado de Roraima, coordenando os Planos Municipais de Saneamento Básico Estaduais, atividade que o consumia grandemente, além de dirigir um PROCAD entre UFRR-UFG-UNIR (Programa Nacional de Cooperação Acadêmica da CAPES), quando desejou justificar o breve atraso no envio de seu último artigo (publicado neste novo número da PatryTer)[2]. Ainda, nesses diálogos de despedida, Veras retomou comigo um tema que, nos últimos três anos, estava em nossa pauta: uma visita minha à sua casa e à UFRR, para conhecer sua cidade com ele e ofertar um curso de pós-graduação concentrado; além da vinda dele a Brasília. Infelizmente, nossas agendas não coincidiram para o encontro, em nenhuma das tentativas, pois a ideia era retomada sempre aos finais de ano, quando nossa vida acadêmica é sobremaneira atropelada e atormentada. Ficou o aprendizado, para mim, de priorizar o encontro dos corpos, no esforço de atropelar o trabalho que nos distancia e não permitir ser atropelado por ele e o inesperado na vida.
Dentre meus últimos e vários diálogos com Veras nos passados quatro meses, ele teve um prenúncio, ao falar da vida, mencionar a pandemia com seus “problemas políticos”, comentar que estava “mais enrolado que namoro de cobra” e prometer enviar logo seu texto à PatryTer (que já estava aprovado pelo Comitê Científico e tinha autoria com dois outros colegas da UFRR), além de me cobrar, uma vez mais, “não esquecer de enviar a proposta para a disciplina tópicos especiais”. Veras ainda me comentava sobre a situação própria diante da pandemia: “também sou do grupo de risco. Hipertenso e ...”. Os três pontos carregam seu lado sempre bem-humorado, divertido e otimista com os amigos mais próximos, tratando com leveza sobre a enfermidade que, três meses depois dessa nossa conversa por telefone, o levaria à passagem.
Veras não está mais entre nós, fisicamente; deixou três filhos, a esposa, um neto, irmãos e muitos amigos e amigas que o respeitavam, o admiravam e se divertiam com ele, dentro e fora da universidade. Porém, estou seguro de que o querido amigo se encontra muito bem, guiado por toda luz que sua existência atraiu e segue se despejando sobre ele.
Esteja em Paz, companheiro, até um dia!
“O código da amizade e da gentileza sempre merece especial tributo” – Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier. Iluminuras.

Referências
Veras, A.T.R. (2009). A produção do espaço urbano de Boa Vista (RR). Tese de doutorado em Geografia Humana. São Paulo, USP. https://teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8136/tde-19022010-163714/pt-br.php
Veras, A.T.R. (2011). A criação do Estado de Roraima e sua importância na dinâmica da cidade de Boa Vista. In: Costa, E. B.; Oliveira, R. S. (Orgs.). As cidades entre o “real” e o imaginário: estudos no Brasil. São Paulo: Expressão Popular e;
Veras, A.T.R. (2012). Rugosidades e tendências atuais na dinâmica de produção do espaço urbano de Boa Vista. In: Magalhães, M. G. S. D.; Souza, C. M. (Orgs.). Roraima/Boa Vista: temas sobre o regional e o local. Boa Vista: EdUFRR.
Veras, A.T.R.; Veras, L.P.L; Anjos, J. (2019). O papel das Tics no contexto da migração Venezuelana para Roraima. In: Artur Rosa Filho e Stélio Soares Tavares junior. (Org.). Roraima 30 anos: Professor Rafael da Silva Oliveira, ideário e pluralidade geográfica da Amazônia Setentrional. 1ed.Boa Vista: EDUFRR, 2019, v. 3, p. 93-118.
Veras, A.T.R.; Galdino, L. K. A; Seabra, G. F. (org.). Educação ambiental, sustentabilidade e território tradicional (Tomo I). 01. Ed. Boa Vista: Editora UFRR, 2020. V. 01. 481p.
Veras, A.T.R; Galdino, L. K. A; Seabra, G. F. (org.). Agroecologia, políticas públicas e desenvolvimento sustentável (tomo II). 1. Ed. Boa Vista: Editora UFRR, 2020. V. 1. 339p.
Veras, A.T.R; Galdino, L. K. A; Seabra, G. F. (org.). Planejamento ambiental, recursos hídricos e patrimônio cultural (tomo III). 1. Ed. Boa Vista: Editora UFRR, 2020. V. 1. 366p.
Veras, A.T.R; Sander, C. (org.). Alto alegre: um olhar geográfico. 1. Ed. Boa Vista: Editora da UFRR, 2016. v5. 231p.
Santos, E. R.; Leal, R. S.; Veras, A.T.R. (2020). Geograficidade e vulnerabilidades na Amazônia ribeirinha: comunidade Xixuaú, Roraima, Brasil. PatryTer – Revista Latinoamericana e Caribenha de Geografia e Humanidades, 3 (6), 109-120. DOI: https://doi.org/10.26512/patryter.v3i6.28919.
Notas