Dossiê Patryter
Métodos, conceitos e noções aplicadas aos estudos da América Latina –uma década do Gecipa / UnB
Métodos, conceptos y nociones aplicadas a los estudios latinoamericanos – una década de Gecipa /UnB
Methods, concepts and notions applied to Latin American studies – a decade of Gecipa / UnB
Métodos, conceitos e noções aplicadas aos estudos da América Latina –uma década do Gecipa / UnB
PatryTer, vol. 3, núm. 6, pp. 135-149, 2020
Universidade de Brasília

Recepção: 02 Junho 2019
Publicado: 01 Setembro 2019
Resumo: Este ensaio tem o objetivo de analisar, pela evolução da noção dialética e existencialista construção-destrutiva, a convergência dos trabalhos realizados no escopo do Grupo de Pesquisa CNPq Cidades e Patrimonialização na América Latina (Gecipa/UnB). A hipótese é a de que as pesquisas do grupo têm sido balizadas por tal noção, justamente por seu caráter totalizante e voltada para a síntese da natureza capitalista. Noção promissora à Geografia, pois assentada numa totalidade filosófica. Metodologicamente, o ensaio realiza: uma exposição introdutória do Gecipa, apresentando tese e dissertações concluídas, indicando a dimensão do método pela dita noção; apresentação da lógica da construção-destrutiva pelo minerar, que possui uma natureza espacial e ontológica, sintetizada pela Espacialidade Mineratória, enquanto abstração totalizante do ser minerador; no terceiro momento, é feito o diálogo com a noção situação espacial duradoura, que contribui à compreensão da condição espacial criada pela lógica da construção-destrutiva; por fim, são assinaladas as pesquisas convergentes na direção de uma necessária utopia de realização socioespacial aplicada à América Latina, seguindo uma outra lógica: de construção comunitária, horizontal, significativa.
Palavras-chave: geografia, construção-destrutiva, espacialidade mineratória, situação espacial duradoura, Gecipa.
Resumen: Este ensayo tiene como objetivo analizar, a través de la evolución de la noción dialéctica y existencialista construcción-destructiva, la convergencia de los trabajos realizados en el ámbito del Group CNPq Ciudad and Patrimonialización en América Latina (Gecipa / UnB). La hipótesis es que la investigación del grupo se ha guiado por esta noción, precisamente por su carácter totalizador y centrada en la síntesis de la naturaleza capitalista. Noción prometedora de Geografía, ya que se basa en una totalidad filosófica. Metodológicamente, el ensayo lleva a cabo: una exposición introductoria de Gecipa, presentando tesis y disertaciones concluidas, indicando la dimensión del método por dicha noción; presentación de la lógica construcción-destructiva de la minería, que tiene una naturaleza espacial y ontológica, sintetizada por la Espacialidad Minera, como una abstracción totalizadora de ser un minero; en el tercer momento, se hace un diálogo con la noción de situación espacial duradera, que contribuye a la comprensión de la condición espacial creada por la lógica construcción-destructiva; finalmente, la investigación convergente se señala en la dirección de una utopía necesaria de realización socioespacial aplicada a América Latina, siguiendo otra lógica: de construcción comunitaria, horizontal, significativa.
Palabras clave: geografía, construcción-destructiva, espacialidad minera, situación espacial duradera, Gecipa.
Abstract: This essay aims to analyze, through the evolution of the construction-destructive dialectic and existentialist notion, the convergence of the works carried out within the scope of the Group CNPq Cities and Heritagisation in Latin America (Gecipa/UnB). The hypothesis is that the group's research has been guided by this notion, precisely because of its totalizing character and focused on the synthesis of the capitalist nature. Promising notion of Geography, since it is based on a philosophical totality. Methodologically, the essay carries out: an introductory exposition of Gecipa, presenting thesis and dissertations concluded, indicating the dimension of the method by the said notion; presentation of the construction-destructive logic of mining, which has a spatial and ontological nature, synthesized by the Mining Spaciality, as a totalizing abstraction of being a miner; in the third moment, a dialogue is made with the notion of long-lasting spatial situation, which contributes to the understanding of the spatial condition created by the construction-destructive logic; finally, convergent research is pointed out in the direction of a necessary utopia of socio-spatial realization applied to Latin America, following a different logic: of community construction, horizontal, meaningful.
Keywords: geography, construction-destructive, mining spatiality, long-lasting spatial situation, Gecipa.
Métodos, conceitos e noções aplicadas aos estudos da América Latina – uma década do Gecipa / UnB
Rúbia Rúbio-Schrage[1]
Resumo: Este ensaio tem o objetivo de analisar, pela evolução da noção dialética e existencialista construção-destrutiva, a convergência dos trabalhos realizados no escopo do Grupo de Pesquisa CNPq Cidades e Patrimonialização na América Latina (Gecipa/UnB). A hipótese é a de que as pesquisas do grupo têm sido balizadas por tal noção, justamente por seu caráter totalizante e voltada para a síntese da natureza capitalista. Noção promissora à Geografia, pois assentada numa totalidade filosófica. Metodologicamente, o ensaio realiza: uma exposição introdutória do Gecipa, apresentando tese e dissertações concluídas, indicando a dimensão do método pela dita noção; apresentação da lógica da construção-destrutiva pelo minerar, que possui uma natureza espacial e ontológica, sintetizada pela Espacialidade Mineratória, enquanto abstração totalizante do ser minerador; no terceiro momento, é feito o diálogo com a noção situação espacial duradoura, que contribui à compreensão da condição espacial criada pela lógica da construção-destrutiva; por fim, são assinaladas as pesquisas convergentes na direção de uma necessária utopia de realização socioespacial aplicada à América Latina, seguindo uma outra lógica: de construção comunitária, horizontal, significativa.
Palavras-chave: geografia; construção-destrutiva; espacialidade mineratória; situação espacial duradoura; Gecipa.
Métodos, conceptos y nociones aplicadas a los estudios latinoamericanos – una década de Gecipa /UnB
Resumen: Este ensayo tiene como objetivo analizar, a través de la evolución de la noción dialéctica y existencialista construcción-destructiva, la convergencia de los trabajos realizados en el ámbito del Group CNPq Ciudad and Patrimonialización en América Latina (Gecipa / UnB). La hipótesis es que la investigación del grupo se ha guiado por esta noción, precisamente por su carácter totalizador y centrada en la síntesis de la naturaleza capitalista. Noción prometedora de Geografía, ya que se basa en una totalidad filosófica. Metodológicamente, el ensayo lleva a cabo: una exposición introductoria de Gecipa, presentando tesis y disertaciones concluidas, indicando la dimensión del método por dicha noción; presentación de la lógica construcción-destructiva de la minería, que tiene una naturaleza espacial y ontológica, sintetizada por la Espacialidad Minera, como una abstracción totalizadora de ser un minero; en el tercer momento, se hace un diálogo con la noción de situación espacial duradera, que contribuye a la comprensión de la condición espacial creada por la lógica construcción-destructiva; finalmente, la investigación convergente se señala en la dirección de una utopía necesaria de realización socioespacial aplicada a América Latina, siguiendo otra lógica: de construcción comunitaria, horizontal, significativa.
Palabras clave: geografía; construcción-destructiva; espacialidad minera; situación espacial duradera; Gecipa
Methods, concepts and notions applied to Latin American studies – a decade of Gecipa / UnB
Abstract: This essay aims to analyze, through the evolution of the construction-destructive dialectic and existentialist notion, the convergence of the works carried out within the scope of the Group CNPq Cities and Heritagisation in Latin America (Gecipa/UnB). The hypothesis is that the group's research has been guided by this notion, precisely because of its totalizing character and focused on the synthesis of the capitalist nature. Promising notion of Geography, since it is based on a philosophical totality. Methodologically, the essay carries out: an introductory exposition of Gecipa, presenting thesis and dissertations concluded, indicating the dimension of the method by the said notion; presentation of the construction-destructive logic of mining, which has a spatial and ontological nature, synthesized by the Mining Spaciality, as a totalizing abstraction of being a miner; in the third moment, a dialogue is made with the notion of long-lasting spatial situation, which contributes to the understanding of the spatial condition created by the construction-destructive logic; finally, convergent research is pointed out in the direction of a necessary utopia of socio-spatial realization applied to Latin America, following a different logic: of community construction, horizontal, meaningful.
Keywords: geography; construction-destructive; mining spatiality; long-lasting spatial situation; Gecipa.
DOI: https://doi.org/10.26512/patryter.v3i6.32428
Como citar este artigo: Rúbio-Schrage, R. (2020). Métodos, conceitos e noções dedicadas à América Latina na primeira década do Gecipa / UnB: resistência à construção-destrutiva. PatryTer – Revista Latinoamericana e Caribenha de Geografia e Humanidades, 3 (6), 135-149. DOI: https://doi.org/10.26512/patryter.v3i6.32428
1. Introdução
A proposta desse ensaio é (co)memorativa: o processo de lembrar com diálogo. Nossa intenção também é constituir uma espécie de memória acessível em outro espaço-tempo de construção conjunta do Grupo de Pesquisa que compomos, a saber o Gecipa[i]. Tal qual o registro de atividades iniciais do grupo a partir da publicação de um artigo (Costa et al, 2013) por aqueles que integravam a sua fase inicial, estudo feito entre 2011 e 2012 e apresentado à revista Espaço e Geografia do Departamento de Geografia da Universidade de Brasília. Portanto, faz-se esse registro enquanto verticalização da narrativa que irá se construir neste ensaio: analítica, de base memorialista, e que celebra a trajetória percorrida.
Este ensaio que compõe o Dossiê também caminha nessa direção: de dialogar sobre o panorama de discussões atuais do Grupo de Pesquisa, e apresentar a tese da autora (Rúbio-Schrage, 2019c), defendida no final daquele ano, orientando-se pela mesma ferramenta teórico-conceitual que será discutida ao longo do ensaio e apresentada ainda nesta introdução.
Além disso, o celebrar configura-se no esforço de contribuir para o Gecipa enquanto lugar de memória, no sentido de Nora (1993). Este Dossiê pode ser entendido como uma vigilância comemorativa da natureza do fazer científico que se realiza no escopo do grupo, pautado na solidariedade de projetos e de sujeitos. Para Nora (1993, p. 13), “se o que eles defendem não estivesse ameaçado, não se teria, tampouco, a necessidade de construí-los” e de registrar, na história, este esforço coletivo; mediante o panorama de desconstrução e desvalidação científicas que ora presenciamos, além da pressão utilitarista, produtivista e imediatista que ainda tenta se impor à realização científica.
Por esse motivo, o leitor perceberá um caráter de apresentação dos trabalhos, sem a realização de uma profunda exposição ancorada na empiria. Essa explicação deve ser feita, para justificar que os estudos de caso que nutriram cada pesquisa, sobretudo as concreções que somente citamos aqui como subsídio da análise e conceitualização realizada, poderão ser consultados através dos próprios trabalhos de tese e dissertação, que ora referenciamos.
Assim, fizemos uma sistematização que se configura no esforço central deste ensaio: o de tentar perceber uma convergência de posturas e de propostas, que pode ser entendida como caminho teórico-metodológico adotado pelo grupo. A noção construção-destrutiva (Costa, 2009 e 2011) é trazida como balizadora das pesquisas, justamente por seu caráter totalizante, dialético e existencial referente à síntese da natureza capitalista. Apresentada pelos trabalhos de dissertação e tese do autor, e amadurecida em trabalhos recentes (Costa, 2015; 2016; 2017; 2018), ao favorecimento de apropriação e desdobramentos. Esta é uma noção promissora à Geografia, assentada numa totalidade filosófica, e que se configura como pressuposto inicial apresentado, apropriado e desdobrado nas pesquisas desenvolvidas no escopo do grupo.
A noção geográfica ou de base espacial construção-destrutiva não é imediata nos trabalhos orientados no Gecipa, mas mediata. A contribuição deste ensaio é o esforço de constatação de que essa noção está no cerne do arcabouço teórico e metodológico das pesquisas. Vale enfatizar que fora germinada por Costa (2009 e 2011) no debate dialógico entre a dialética materialista histórica e o existencialismo fenomenológico (fundado, notadamente, em Sartre); métodos estudados[ii] que nos orientam e subsidiam[iii].
Portanto, tem-se como premissa que a construção-destrutiva possui dupla vinculação a este ensaio: sintetizar posturas e propostas adotadas pelo Gecipa, e situar essa noção criada por Costa (2009 e 2011) na matriz do pensamento geográfico brasileiro, que no Brasil ganha relevo com a obra de Milton Santos. Assim, as pesquisas possuem convergência teórico-metodológica pautada na denúncia da lógica capitalista construção-destrutiva, que se opera nas diferentes investigações, nas cidades-campo latino-americanos, contextualizados pela expansão da modernidade-colonialidade. No que concerne à reprodução da lógica pelo minerar (tese da autora), denuncia-se através da Espacialidade Mineratória, capaz de sintetizar e totalizar a natureza espacial e ontológica da mineração na América Latina.
Começaremos esse ensaio com uma breve exposição do Gecipa, apresentando os trabalhos de tese e dissertação concluídos, e dialogando com alguns desses no que concerne à construção-destrutiva. Posteriormente, iremos apresentar essa lógica na conformação da natureza do minerar, enquanto abstração totalizante do ser minerador. A investigação dessa lógica requer este esforço de abstração, por meio da Espacialidade Mineratória, capaz de revelar a natureza deste movimento dialético, conforme será discutido na segunda parte deste ensaio.
Já na terceira parte, iremos dialogar com a noção situação espacial duradoura (Costa, 2016), que contribui à compreensão da condição espacial criada pela lógica da construção-destrutiva. Cabe dizer que a segunda noção é desdobramento da primeira. Na última parte, evidenciaremos as pesquisas que se convergem na direção de uma necessária utopia de realização socioespacial aplicada à América Latina, seguindo uma outra lógica: de construção comunitária, horizontal, significativa.
2. O Gecipa e a denúncia da construção-destrutiva do espaço latinoamericano
O Grupo de Pesquisa CNPq Cidades e Patrimonialização na América Latina e Caribe – Gecipa[iv] (figura 1) vem na construção de suas pesquisações, desde o início da segunda década do século XXI, no âmbito da chegada de seu coordenador ao Departamento de Geografia da Universidade de Brasília, no ano de 2011. Um grupo ainda jovem, pequeno, porém coeso, que vai completar seus primeiros dez anos. A iniciativa da construção deste Dossiê é considerada um mecanismo de síntese do amplo trabalho até aqui realizado, como pode ser percebido através deste e dos ensaios dos meus colegas. Mas, também, há a proposta de verificação pelo empírico das análises realizadas nos últimos anos, que buscam desnudar e denunciar dinâmicas atreladas à construção-destrutiva (Costa, 2009 e 2011) do espaço latino-americano.

Esta é uma noção que consideramos central e passível de diálogo entre todos os trabalhos até então realizados, no escopo do Gecipa. Fora inicialmente apresentada no mestrado e desenvolvida na tese de doutorado[v] defendida em 2011 na Universidade de São Paulo, pelo professor Everaldo Costa, líder do referenciado grupo de pesquisa e criador e editor da PatryTer – Revista Latinoamericana e Caribenha de Geografia e Humanidades[vi]. A noção foi revisada através de livro publicado em 2015[vii], além de demais publicações do autor, que parece ter no movimento dialético e existencial da construção-destrutiva uma dimensão do método.
Considera-se que a construção-destrutiva (Costa, 2015) seja uma noção capaz de totalizar o amplo processo em curso, atrelado aos mecanismos de perpetuação simultânea da expansividade capitalista e a seletividade do capital, nas cidades-campo na América Latina. O processo em curso relaciona-se ao que Mignolo (2005; 2017) denomina como modernidade-colonialidade[viii], capaz de descrever a natureza violenta da inserção forçada do espaço latino-americano no seio do que se considera como moderno: e, por isso, modernidade e colonialidade unidas por hífen serve de mecanismo de periodização histórica[ix].
Considera-se também que a construção-destrutiva seja uma lógica dialética capaz de totalizar as dinâmicas e processos que para ela e que dela convergem, amplamente fundamentada num olhar
dialético materialista histórico, que conspira ao necessário nível de abstração de uma análise totalizante, ou seja, que busca uma compreensão tendo em vista a simultaneidade histórica. Assim como, associa-se à essencial sensibilização e percepção do/no empírico e dos sujeitos e sujeitas no/do espaço, condicionados pela construção-destrutiva, como ponto de partida e verificação contínua das teorias. É, pois, uma síntese de um olhar dialógico assumido entre a dialética materialista histórica e o existencialismo fenomenológico.
Consoante a isso, é constatado a necessidade de um olhar comprometido com a compreensão do caráter duradouro da expansão capitalista e suas possíveis formas alternativas de realização espacial. Também por esse motivo, fora assumida a América Latina[x] como base empírica de análise e, como utopia necessária, de reação concreta à construção-destrutiva. E por esse motivo, as pesquisas carregam este esforço e compromisso em dialogar com especificidades dialeticamente consubstanciais, ao considerar uma totalidade geohistórica continental.
Esforço centrado, a partir de 2015, no projeto de pós-doutorado desenvolvido junto ao Prolam-USP e Unam-Mexico, com a consequente saída de campo do prof. Everaldo Costa por diferentes países e cidades latino-americanas, o que angariou não somente a busca por essa localidade regional empírica, como também diversas parcerias acadêmicas e que seguem consolidando as atividades do grupo orientadas por uma Geografia decolonial que Costa (2016; 2017; 2018) propõe ao grupo[xi]; movimento que endossa, inclusive, a Revista PatryTer.
Assim, alguns trabalhos defendidos no Gecipa, com essa perspectiva foram: Alves (2019), Rúbio-Schrage (2019c), Mesquita (2019), Hostensky (2018), Maluly (2017), Lima (2017), Oliveira (2016). O leitor poderá encontrar, portanto, nos trabalhos indicados diversos temas abordados, mas que possuem essa congruência de método e também de proposta. É necessário esse debate inicial, para elucidar que as pesquisas desenvolvidas pelos integrantes do grupo caminham em um sentido teórico-metodológico comum: de denunciar o processo da construção-destrutiva do espaço latino-americano e de revelar resistências em operação, com base na dialética materialista histórica e no existencialismo fenomenológico.
De alguma forma, as pesquisas irão perpassar esse eixo central, ancoradas em noções que auxiliam no desnudar da dinâmica de cada fenômeno analisado. Há aquelas fundamentadas no tangenciamento da Geografia com o Turismo; há outras que se assentam sobre os processos de patrimonialização; há as que analisam os processos de ativação popular do patrimônio, o que Costa (2016) propõe como patrimônio-territorial; e outras que se enveredam por processos de urbanização do território, seja pelo minerar, pela especulação imobiliária, pela metropolização, pela relação cidade-campo, pelas manifestações culturais, etc.
Assim, trazemos brevemente alguns trabalhos do grupo que contribuem para denunciar a lógica da construção-destrutiva do espaço latino-americano em suas diversas temáticas e análises, ainda que não referenciem diretamente esta lógica como ponto de partida. O esforço em perceber esse eixo de convergência é também resultado desta proposta ensaística.
Como dito, as pesquisas do Gecipa iniciam-se com a chegada do professor Dr. Everaldo Costa na Universidade de Brasília-UnB em 2011, e a posterior formação de reuniões de discussão e fundação do grupo. Tendo como ponto de partida o ano de 2011, vislumbram-se os primeiros trabalhos defendidos no ano 2014 (listados na tabela 1), resultantes deste movimento inicial. Naquele momento, já é percebida a centralidade da Geografia da UnB em estudos realizados no Distrito Federal e âmbito nacional. Por isso, o grupo sempre se empenhou em analisar problemas espaciais para além do quadrado da capital federal, algo ainda mais evidenciado nos anos posteriores mesmo no âmbito departamental.
A partir de 2015, inicia-se um processo mais profundo de traçar paralelos com realidades dialeticamente tangentes na consideração da totalidade geohistórica da América Latina. O que se respalda nos estudos de casos que serviram de base para as análises realizadas, bem como na oportunização das co-orientações, com importantes pesquisadores atuantes em universidades públicas da América Latina. Foram justamente durante os trabalhos de campo realizados pelos membros do Gecipa, que se pôde construir iniciativas tentando buscar uma totalidade dialética, sob orientação do prof. Everaldo.
Várias outras iniciativas encontram-se em andamento e também estão dispostas na tabela 1. Estão em andamento, mas adianta-se que pretendem abarcar dinâmicas no Chile, em Cuba, Panamá, México e Brasil. Além disso, não foram incluídas aquelas importantes realizadas à nível de monografia e iniciação científica, por conta do volume que ampliaria consideravelmente a tabela.
A lógica da construção-destrutiva permeia a realização socioespacial latino-americana, pois se assenta sobre a reprodução da modernidade-colonialidade (em sentido amplo) e da expansividade-seletividade do capital, conforme sentido dado por Harvey (2005) e Moraes (2005). Em “Mercado e moderna incorporação imobiliária no Oeste Paulista”, Bolcariol (2017) percebe o franco avanço do capital sobre cidades médias, como aquelas do oeste paulista brasileiro, e sua
| Tabela 1 – Pesquisas de Mestrado e Doutorado concluídas no âmbito do Gecipa |
Fonte: organizado pela autora (2020).
dinamização para atender aos preceitos do mercado financeiro mundial, via incorporação imobiliária. O que também é percebido por Mesquita (2019), em “Patrimonio-territorial ante a patrimonializaçao global em Assunção, Paraguai”, mediante avanço dos planos de modernização, profundamente germinados dessa noção moderna-colonial que aqui já destacamos.
Lima (2017) verifica os efeitos da dita modernização em cidades não patrimonializadas, no interior do estado de Goiás (Brasil), o que revela uma espécie de esquecimento institucional e político, resultante da falta de políticas de amparo e preservação. Como também, conclui a existência de uma patrimonialidade, gestada na relação singular e ruralizada que se estabelece em cada cidade, através da relação patrimônio-memória-lugar. Essa resistência simbólica é identificada por Mesquita (2019) nos mercados populares e nos próprios mecanismos de manutenção da lingua guarani. Já a ruralidade é percebida por Rúbio (2015) no que concerne à relação com a terra, que ultrapassa o sentido agrícola, e atinge a relação com a rocha torneada há gerações na fabricação de panelas. O saber-fazer panela torna-se legitimação de pertencimento no processo de luta pelo acesso a terra, conforme Rúbio-Schrage (2019a) analisa em artigo publicado nesta Revista.

O saber-fazer também estaria ligado à resistência espacial negra, identificada por Alves (2019) no que concerne às rodas de samba no Distrito Federal. Pertinência ímpar já que se configura num território que simbolicamente foi fundado na negação da sua história pretérita, e forja de uma nova, substitutiva e inaugural moderna perpetuação da modernidade-colonialidade. Isso converge com a pesquisa desenvolvida por Oliveira (2016) acerca do aldeamento jesuítico nas periferias da maior mancha metropolitana do país, em Carapicuíba-SP. O que se configura, segundo o autor, numa rugosidade patrimonial, justamente por permear tanto uma ênfase material das formas, quanto o de suas funções históricas e contemporâneas. Objeto de investigação de Maluly (2017), no que concerne ao descortinar de cartografias que revelam conexões não oficiais de fixos urbanos catalisados pela mineração, originados na expansão da modernidade-colonialidade.
Estes são alguns exemplos das pesquisas que possuem convergência teórico-metodológica pautada na denúncia da lógica da construção-destrutiva que se opera nos diferentes setores e recortes investigados, nas cidades-campo latino-americanos, no longo processo em curso de expansão da modernidade-colonialidade.
No que concerne à reprodução dessa lógica pelo minerar, denuncia-se através do revelar da Espacialidade Mineratória capaz de sintetizar e totalizar a natureza espacial e ontológica da mineração na América Latina. Assim, posteriormente, iremos apresentar a lógica da construção-destrutiva pelo minerar, que possui uma natureza espacial e ontológica, sintetizada pela Espacialidade Mineratória, enquanto abstração totalizante do ser minerador. Para então dialogar com a noção situação espacial duradoura (Costa, 2015), que contribui à compreensão da condição espacial criada pela lógica da construção-destrutiva.
3. Espacialidade Mineratória na América Latina como revelar da construtiva-destrutiva pelo minerar.
A inserção violenta da América Latina na modernidade se executa com preceitos da empresa colonial, representativa da expansão do sistema-mundo capitalista[xii] (Wallerstein, 1974). Processo ainda em curso, chamado aqui de modernidade-colonialidade, mecanismo de periodização do espaço-tempo longo de investigação geohistórica. Rúbio-Schrage (2019c) partiu do pressuposto de que a mineração se perpetua sob os preceitos dessa empresa, com os devidos rearranjos à reprodução da expansividade capitalista e da seletividade do capital. E, por isso, a realização espacial e ontológica do minerar continuaria a executar-se sob a lógica da construção-destrutiva.
A investigação dessa lógica que também rege o minerar latino-americano requer um esforço de construção de uma abstração totalizante capaz de revelar a natureza deste movimento dialético e, por esse motivo, defende-se como possibilidade analítica singular a Espacialidade Mineratória. Esta se configura em: i. ponto de partida para a investigação da natureza do minerar na América Latina; ii. síntese da própria natureza espacial e ontológica do minerar no espaço latino-americano; iii. revelar da lógica que se assentam os mecanismos de reprodução de seu movimento; iv. denúncia dos elementos que representam o rearranjo contemporâneo de reprodução dessa Espacialidade específica; v. possibilidade singular de compreensão da natureza do minerar na América Latina com caráter duradouro, processual, impositivo e que converte territórios à sua lógica e violenta o sujeito situado; vi. artifício de ressonância de outra lógica do minerar no continente.
Neste sentindo, há uma dupla vinculação entre o que motivou a realização de uma tese de doutorado acerca da natureza do minerar na América Latina e a interpretação do porquê o evento[xiii] ocorreu. Como marianense[xiv], o rompimento da barragem de Mariana (Minas Gerais, Brasil), em novembro de 2015, serviu de paralisia momentânea, por conta de toda imbricação ontológica desse minerar (imediatamente no Eu, para então destituir toda a imediatez por meio da ciência geográfica). As explicações amplamente difundidas esvaziam o sentido histórico e dialético do evento, e recobrem-o pelo manto do acidente, do acaso e de se tratar de algo a ser superado, na linear modernidade. As negligências operacionais que emergem como causa principal para o rompimento (na defesa de seu aspecto técnico ahistórico), convivem com as estruturações para transformar esse momento como desastre[xv] a ser transposto.
Neste momento, constatou-se que haveria elementos materiais de composição da natureza do minerar, associado a elementos imateriais e simbólicos que contribuem à catalisação e retotalização dessa natureza. Este panorama se configura na inquietação de pesquisa que advém do empírico, e seria ele mesmo [o empírico] o responsável por subsidiar concretamente a abstração necessária para se investigar, analisar e entender o que conceitualizamos como Espacialidade Mineratória. Por esse motivo, ela nos serve como (i.) ponto de partida para a investigação da natureza do minerar no espaço-latino americano, bem como (ii.) verificação pelo empírico de seus elementos constituintes. Trata-se, portanto, de um processo simultâneo e dialético de investigação e conceitualização, subsidiado pela indagação de momentos deste longo processo histórico que contribui para a apreensão de suas complexas manifestações.
Neste sentido, adotou-se o princípio de entender o rompimento da barragem de Mariana como uma tragédia do minerar[xvi], que se configura na demonstração vultuosa da violência do minerar latino-americano, que se realiza sob os preceitos da construção-destrutiva. Por esse motivo, o rompimento da barragem funcionaria como espécie de evento. Entende-se com Santos (2006, p. 93-96) que “os eventos criam o tempo, como portadores da ação presente (...) os eventos são, simultaneamente, a matriz do tempo e do espaço”. Convertem-se, pois, em síntese da própria Espacialidade Mineratória.
Mas, as tragédias do minerar vão além dos eventos, e se inscrevem na realização [cotidiana] socioespacial e ontológica do minerar na América Latina, o que Rúbio-Schrage (2019c) sistematiza e justifica na escolha de Mariana (Brasil) e Potosí (Bolívia) como concreções analíticas[xvii]. Ambas as concreções configuram-se enquanto fixos do capital minerador que avança sobre o continente desde os século XV, convivem ainda hoje, (resguardadas as suas escalas tecnocientíficas) com a atividade minerária compondo as suas principais matrizes econômicas, e foram assumidos como recortes à apreensão de elementos narrativos valiosos à compreensão dessa imaterialidade, convertida em metanarrativa espacial de consecução dessa Espacialidade específica.
Assim, através do (iii) revelar da lógica dos mecanismos de reprodução da Espacialidade Mineratória, fundamentalmente assentada na construção-destrutiva do continente, é possível associar as matrizes de perpetuação à própria análise do trabalho na expansão capitalista (Marx, 1858; 1867), e na consequente cisão do ser social (Lukács, 1984; 1986).
A análise do trabalho revela a condição imposta pela modernidade-colonialidade, no que concerne aos mecanismos (violentos, de opressão e controle) de ajustamento ao capitalismo universalizante. Tal condição denuncia a sua dialética, através da subversão das necessidades atreladas à sobrevivência e àquelas que seriam relacionadas à existência do ser social: tais necessidades se fundem e grafa o ser na modernidade-colonialidade, que se converte em uma metanarrativa espacial fundamental à retotalização da Espacialidade Mineratória. (Rúbio-Schrage, 2019c, p. 95)
Em suma, além de servir de síntese da natureza (espacial e ontológica) do minerar na América Latina, a busca contínua por seus elementos e por sua caracterização se dá através da indagação permanente por seus conteúdos e elementos, desde o empírico. Parte dessas indagações emergem justamente através da análise de seu movimento longo e duradouro no continente e, neste sentido, Rúbio-Schrage (2019c) irá propor a consideração das metanarrativas espaciais da mineração, que fornecem o revelar das estruturas de reprodução e manutenção da Espacialidade Mineratória, sob a lógica da perpetuação da construção-destrutiva. Para a autora,
Em síntese, a construção de modernidade baliza a execução central do papel das metanarrativas espaciais à operacionalização da construção-destrutiva, nesta mesma lógica, irá se perceber como as noções de desenvolvimento e progresso retotalizam o ideal que orienta a perpetuação da modernidade-colonialidade. [...] Neste sentido, as metanarrativas espaciais da mineração dão movimento dialético à Espacialidade Mineratória, e sintetizam as narrativas que favorecem que esta espacialidade se realize nas construções espaciais contemporâneas, com o signo civilizacional de exploração minerária forjado na América Latina na ascensão capitalista moderna, e que ainda violentam os sujeitos situados. Além de contribuírem à apreensão da totalidade, que é a própria Espacialidade Mineratória, a análise de seu movimento dialético demonstra que estas atuam como catalisadoras e se retotalizam na própria Espacialidade, de forma a garantir a sua reprodução. (Rúbio-Schrage, 2019c, pp. 23-24)
Em outras palavras, as metanarrativas espaciais da mineração irão conceder a concreticidade necessária ao elucidar da gênese da Espacialidade Mineratória e de seus elementos constituintes no espaço latino-americano contemporâneo. Portanto, o ser minerador latino-americano (na consideração de ser como aquele ontológico, e não como sujeito) é forjado com estruturações, regulações e formas de controle com vistas à manutenção da lógica da construção-destrutiva, que garante a reprodução de seu percurso expansivo-seletivo (Harvey, 2005; Moraes, 2005).
Há, portanto, uma ontologia (Lukács, 1984; 1986) do minerar, que pode ser apreendida através da dialética do trabalho (Marx, 1867; Lukács, 1984; 1986), enquanto categoria primaz da práxis e da existência, o que Rúbio-Schrage (2019c) executa por meio da análise das ideias de raça, gênero, formas de controle do trabalho e divisão territorial do trabalho – maneiras de assujeitar o ser social à catalisação do processo. Como também, esta vinculação à expansão capitalista lhe atribui a violência originária, a perversidade de se apropriar da cisão do homem (cindido entre trabalho vivo e trabalho morto, entre existência e sobrevivência, cisão do ser social). Tais elementos integram-se enquanto (iv) formas contemporâneas de rearranjo de reprodução da construção-destrutiva enquanto lógica da Espacialidade Mineratória.
É nesse sentido que há a denúncia de metanarrativas espaciais da mineração que se articulam contemporaneamente na subversão do espaço latino-americano e na construção de formas engenhosas de o capitalismo prosseguir com o seu percurso por meio do autocontrole do trabalho. Assim, a noção situação espacial duradoura (Costa, 2016) converte-se central na investigação desse processo de (v) conversão de territórios à lógica da construção-destrutiva, assim como de submissão do sujeito situado, para que (vi) outros minerares[xviii] possíveis possam ser evidenciados. Tais itens (v) e (vi) serão discutidos nas seções a seguir.
4. Situação espacial duradoura ao revelar de violências territoriais e inibidoras de reação.
A tese trouxe uma dimensão socioclínica de análise denominada injunção paradoxal (Gaulejac, 2014), para analisar, na escala do sujeito, de que forma a expansão da modernidade-colonialidade se estrutura contemporaneamente, na forja de um capitalismo paradoxante (Gaulejac, 2015). O processo analítico (realizado a partir de entrevistas com moradores nas duas concreções – Mariana e Potosí) norteou-se sobre dois eixos centrais: a interpretação da forma como a vida se vincula à mineração; e a compreensão dos significados em torno de uma dimensão socioambiental - onde pode-se compreender uma extensão defendida por Souza (2009) como metáfora do capitalismo.
O primeiro eixo converge representações acerca da centralidade da atividade minerária que ultrapassa a dimensão econômica, e invade como lógica única de desenvolvimento e progresso[xix] dessas cidades. Ao adicionar uma camada de análise à entrevista, indagando-se sobre as tragédias da mineração (no caso de Mariana, o evento emblemático recente do rompimento da barragem, já em Potosí as tragédias advêm das inúmeras perdas cotidianas de vidas); percebe-se diversos mecanismos amenizadores de tais tragédias, com esvaziamento do drama (da perda da vida) à superação.
As metanarrativas espaciais (destacam-se desenvolvimento e progresso) atuam no sentido de mobilização e comoção imediata, onde a solidariedade e o luto se fazem presentes, seguido imediatamente da necessidade de se virar a página, na construção desse momento (como espaço-tempo do processo histórico) como algo superável.
O esquecimento torna-se metanarrativa espacial, e é operado com instrumentos de cunho burocrático, institucional e verticalizado, ao considerar toda a estruturação político-econômica que garante a centralidade da atividade minerária no bojo da expansão capitalista, sobretudo a megamineração - a partir de Oliveira (2013) e Gudynas (2016) constata-se se reproduzir também na lógica dos garimpos brasileiros. Como também, opera-se no sujeito situado através de dispositivos de condicionamento espacial e do autocontrole do trabalho, apreendido através da dialética do trabalho (Marx, 1867; Lukács, 1984; 1986) que revela a essência do ser social na modernidade-colonialidade.
A dialética do trabalho [revela] a essência do ser social na modernidade-colonialidade. As classificações sociais, destacadamente a categoria mental raça e a subjugação sexual sustentam o avanço do desenvolvimento desigual forjado pela construtiva-destrutiva capitalista. As formas de controle do trabalho garantem, pela coerção, que o trabalho vivo seja sobreposto por sua transformação em mercadoria. Coerção atrelada à precariedade do mundo do trabalho, onde a competição se traduz em lógica, e a luta de classes é a expressão da contraditoriedade do sistema, mas também utopia de revolução deste. (Rúbio-Schrage, 2019c, p. 117)
A condição espacial refere-se ao aprisionamento do sujeito situado, nas esferas eonômico-produtivas (da sobrevivência), mas também morais, de classe, na cisão e desumanização do ser social (em sua existência). A perversidade é naturalizada, a desumanidade integra a produção, ocorre o esvaziamento do drama nas tragédias ulteriores (e essenciais?) ao próprio capitalismo. Para Costa (2016, p. 21), “na dimensão da modernidade e da colonialidade, a América Latina obscureceu-se enquanto totalidade concreta, dada a concepção eurocêntrico-parcial de totalidade e universalidade [o que se operou por meio da negação política, do apagamento simbólico e da reclusão econômico-territorial de indígenas e negros]”.
E é neste sentido que a situação espacial duradoura (Costa, 2016, p. 2) denota a lógica espacial e ontológica do continente, “ainda marcado pela colonialidade do poder e do saber, pela modernidade e modernização seletivas no território”. Assim, “através dessa noção, é possível analisar socioespacialmente a situação do sujeito situado, com sua capacidade de reação ultrajada pela construção-destrutiva que produz as injunções paradoxais como procedimento metanarrativo à reprodução da modernidade-colonialidade” (Rúbio-Schrage, 2019c, p. 133).
A situação espacial duradoura (Costa, 2016) possui potência de denúncia da reprodução da construção-destrutiva do espaço latino-americano. Sintetiza a natureza das formas e conteúdos que avançam sobre o continente. Sinaliza, desde dentro, as violências que acometem, silenciam e subjulgam povos e territórios à lógica capitalística, sobretudo os povos indígenas, negros, mulheres, crianças, idosos, e os redutos de preservação ambiental. No que concerne ao minerar, a situação espacial duradoura revela como compartimentamos o homem-natureza em esferas de constituição diferentes e distantes, com a conversão colonial-exploratória da natureza.
Além disso, a imediatez concernente à construção-destrutiva irracionaliza a dimensão de recurso mineral estratégico, e o converte, tão somente, em commoditie à exportação volumosa. Em suma, o trabalho condensa diversos elementos que demonstram a permanência da centralidade da mineração à execução do avanço da empresa colonial na América Latina, decorridos mais de cinco séculos de exploração minerária do continente.
Além disso, a situação espacial duradoura também serve de base para as autorreflexões, no resgaste de sua humanidade e da compreensão da natureza como parte integrante de composição do ser social. Definida por Costa (2016), em diálogo com Hassan Zaoual, Jean Paul Sartre, Milton Santos e outros, “revela a condicionante socioespacial do continente”, assim como “converte-se simultaneamente em mecanismo de esclarecimento acerca dessa situação, à forja utópica de práticas territoriais alternativas a este movimento” (Rúbio-Schrage, 2019c, p. 136).
Assim, a noção situação espacial duradoura compõe a triangulação de pensamento necessária à apreensão da construção-destrutiva do espaço pelo minerar. A totalidade dialética que expressa e sintetiza a natureza violenta da mineração na América Latina se dá por meio da Espacialidade Mineratória. Esta Espacialidade específica, como já dialogado, possui mecanismos (materiais e simbólicos) de estruturação à garantia de sua reprodução, por meio das metanarrativas espaciais de consecução de sua lógica. A situação espacial duradoura emerge como base empírica de compreensão da realização socioespacial do longo processo em curso, da modernidade-colonialidade, da expansão-seletiva do capitalismo. Assim,
Desta forma, a noção situação espacial duradoura (Costa, 2016) possui dupla vinculação [...]: compor a triangulação que denuncia a condicionante capitalística situação espacial pelo minerar que acomete e assujeita o ser social; bem como, auxiliar a leitura da base concreta e empírica que, utopicamente, serve de suporte às reações criativas e significativas que respondem ao próprio movimento. (Rúbio-Schrage, 2019c. p. x)
Portanto, trata-se de uma tríade – entre a Espacialidade Mineratória, as metanarrativas espaciais, e a situação espacial duradoura - à possibilidade singular de apreender o ser minerador latino-americano. A respeito da utopia de reação a esse movimento, evidenciaremos na próxima seção as pesquisas convergentes na direção de uma necessária utopia de realização socioespacial aplicada à América Latina, na busca de uma construção comunitária, horizontal e significativa do ponto de vista do sujeito.
5. Pela utopia necessária dos fazeres significativos como resistência à construção-destrutiva.
O pensamento dialético totalizante que busca apreender o processo regido pela lógica capitalista (da construção-destrutiva) é fundamental para o desvelar de mundo, por meio da reflexão e análise geográficas. Ele caminha para entender dinâmicas e manifestações que compõem uma totalidade concreta analisada à luz da correspondência entre fenômenos, enquanto parte de uma totalidade filosófica a ser percorrida. Serve, portanto, à ampliação do entendimento - movente e a ser ampliado, sempre advindo e verificado pela empiria – conforme ensina Costa e Scarlato (2019), quando defendem que o empírico possui caráter de validação da compreensão da relação sociedade-natureza, da crítica racionalizada do espaço e na revisitação e verificação de teorias e conceitualizações.
A expansão do processo à escala global gera um sentimento paradoxal de sentir o peso de toda essa engrenagem em curso. É violento, é amplo, é voraz. Invade os contextos, usurpa a vida, ultrapassa a economia e opera na política, na moral, na religião, na cultura, na educação, nas relações. Impõe-se à vida, mutila existências e beneficia agentes e financeiras. A engrenagem coopta territórios, e silencia sujeitos. Mutila as capacidades de reações. Contudo, não aniquila, justo por isso recupera-se a noção de situação espacial duradoura (Costa, 2016; Rubio-Schrage, 2019b; 2019c).
Esse mesmo pensamento dialético totalizante torna possível a ressonância de ações que caminham numa lógica diferenciada, e se convertem em resistência à própria construção-destrutiva. Rúbio-Schrage (2019c, p. 196) destaca algumas delas pelo minerar.
Assim, é urgente a construção significativa e resistente de se executar a atividade minerária de forma alternativa a própria dimensão de desenvolvimento e progresso e, por isso, na reação à Espacialidade Mineratória. Tal como, as resistências coletivas atreladas à articulação indígena (Toledo e Gutiérrez, 2016), à memória da relação com o recurso (García, 2016), à mobilização coletiva (Lorena e Álvarez, 2016), aos movimentos sociais (Castro et al, 2016), ao patrimônio-territorial (Costa, 2016) e este associado ao saber-local (Rúbio-Schrage, 2019); resistências empreendidas desde a cidade-campo na América Latina.
É percebido como o caminho, pelo minerar, se dá na apropriação comunitária dos recursos e na forja de um outro espaço-tempo da mineração, não orientada plenamente pela voracidade da construção-destrutiva. Constituem-se, portanto, como utopia necessária para se construir
outros minerares.
Neste sentido, Costa (2016, p. 2) centraliza o papel da utopia como espécie de rompimento “com a realidade presente e [projeção] do futuro”, de um outro futuro alternativo à perpetuação da modernidade-colonialidade. Por esse motivo, o autor prefere a dimensão de utopismo como “o ideal do processo social inovado e já em andamento; proposição no devir fundada em ações de potencialidades e de fragilidades situadas e em situação duradoura”. Assim, ele teoriza sobre os utopismos patrimoniais como uma forma de potencializar a realização de práticas territoriais alternativas que servem de resistência à expansão capitalista, no que concerne à valoração “endógena e rendas alternativas, através de roteiros patrimoniais utópicos urbanos-rurais, nas periferias da América Latina”. Percebe-se um giro de pensamento do autor: o trânsito de uma dimensão rigidamente dialética sobre a construtiva-destrutiva com base no espaço que, gradativamente, incorpora a duração dos sujeitos com base em elementos da cultura, da memória e do próprio patrimônio-territorial vinculado como símbolo da história do território, consubstanciando uma mais ampla dialética da existência de caráter latinoamericano.
Lima (2017) também identifica que a ação de resistência se dá pela memória e pelo lugar, no que concerne ao patrimônio goiano e seus processos de esquecimento pertencente à construção-destrutiva. Hostensky (2018) e Mesquita (2019) são subsidiárias dessa noção, ao perceberem os processos de ativação do patrimônio-territorial na comunidade quilombola Portão do Gelo (Nação Xambá, Olinda, Brasil) e em bairro popular em Assunção (Paraguai), ante os processos de expansão da mancha urbana e da patrimonialização global.
Alves (2019) também apreende o patrimônio-territorial no Distrito Federal (Brasil) por meio das rodas de samba enquanto expressão da resistência espacial negra latinoamericana. O que converge com o olhar de Rúbio (2015), que percebe justamente essa resistência negra convertida nos processos de construção do saber-local e pelo saber-fazer panela torneada de pedra.
Oliveira (2016, p. 329-330) potencializa o conceito miltoniano de rugosidade demarcando a importância de se assumir a rugosidade patrimonial, como possibilidade singular de apreender os sentidos da Aldeia desde as comunidades, e de “revelar o drama dos povos primitivos, numa consciência crítica dos preceitos da formação social, econômica e cultural do Brasil”.
Assim, é salutar e urgente que as pesquisas se direcionem não só à compreensão totalizante e dialética do processo em curso, em suas diversas manifestações temáticas (econômicas, produtivas, culturais, urbanas, patrimoniais), assim como promovam a ressonância daquelas ações que se convertem em resistência, e que alimentam a utopia de uma outra lógica alternativa à construção-destrutiva; esforço empreendido pelo grupo.
Tais resistências germinam da tão bem e sempre lembrada por Milton Santos, solidariedade, no sentido de recuperação das relações comunitárias no/do lugar, com a força das horizontalidades. Essa perspectiva (de postura metodológica e proposta regional) se configura, portanto, na tentativa de contribuição do Gecipa para uma inicial mas promissora e urgente Geografia decolonial.
6. Considerações finais
Este ensaio possui a proposta de celebrar o Gecipa como lugar de memória (Nora, 1993), assumindo a denúncia do processo de construção-destrutiva como intenção mediata desta coletividade de pesquisadores latino-americanos, em busca da utopia necessária de realização socioespacial sob uma outra lógica – comunitária, horizontal, humana, socialmente mais justa. Analisa-se verticalmente a origem da noção construção-destrutiva, que passa a orientar as pesquisas realizadas pelos integrantes do grupo, além de demais atividades acadêmicas, como as duas edições do Colóquio Latinoamericano Urbanização e Patrimonialização (Cidade do México, 2017; Brasília, 2019; Guadalajara-México, 2021) e fundação desta Revista PatryTer (processo entre 2017 e 2018).
A natureza da orientação e realização científica do Gecipa gira não somente em torno do seu coordenador (prof. Everaldo Costa), como também da ferramenta teórico-conceitual construção-destrutiva que aqui trouxemos, que se converte numa perspectiva totalizante central para as pesquisas e os recortes de realidade e desdobra-
mentos na América Latina. Assim, a noção construção-destrutiva torna-se um conceito perspicaz à compreensão do processo histórico longo e duradouro de expansão do capital e do capitalismo, na expressão de sua natureza expansiva-seletiva. Ao colocar em ressonância esta noção através deste ensaio, foi possível não só dialogar com a dimensão de modernidade-colonialidade que se opera no espaço latino-americano, mas também foi possível a construção de uma narrativa dialética memorialista do próprio Gecipa – na investigação de sua trajetória, constrói-se a si mesmo no processo. Além disso, revelou-se, para além da construção-destrutiva e da denúncia de expansão da modernidade-colonialidade, o desdobramento teórico-metodológico totalizante capaz de abarcar os sujeitos, as culturas, as memórias e a história dos territórios, no diálogo assumido pelo grupo entre os métodos ora assinalados.
Realizamos, no ensaio, o diálogo com a construção-destrutiva do minerar, que se mantém como centralidade da realidade socioespacial da América Latina por meio de sua natureza violenta, na forja da Espacialidade Mineratória e seus mecanismos de perpetuação das metanarrativas espaciais da mineração (Rúbio-Schrage, 2019c). A autora constrói uma tríade singular entre essas duas noções mencionadas em diálogo com a terceira, que irá traduzir o condicionamento em curso de sujeitos e sujeitas, de recursos e do território, por meio da situação espacial duradoura, forjada por Costa (2016). Essa noção traduz a condição espacial criada pela lógica da construção-destrutiva, no que se refere à permanência da estrutura de dominação que se perpetua desde a colonização, a chamada empresa colonial. Assim, a situação espacial duradoura traduz-se como lógica espacial e ontológica do continente (que se aproxima da perspectiva de espaço como processo presente na obra de Milton Santos).
Por fim, construímos na última parte deste ensaio uma convergência de posturas e de propostas – através do resgate de trabalhos realizados no escopo do Gecipa - em direção ao utopismo sobre o espaço latino-americano. Que este espaço, ao romper as estruturas de condicionamento, possa ser resultante e resultado da apropriação comunitária, significativa, sob uma outra lógica alternativa ao da construção-destrutiva.
Assim, apontamos uma espécie de horizonte de expectativa do grupo rumo a certo utopismo como forma de potencializar as práticas territoriais alternativas como movimentos de resistência à modernidade-colonialidade. Cada esforço em direcionar os estudos, os fazeres e as pesquisas para a necessária denúncia da lógica capitalista construção-destrutiva, conciliada à busca e ressonância das formas alternativas a essa lógica; configura-se em nossa busca contínua enquanto grupo, árdua e gradual, mas sempre mirando a utopia necessária de uma outra realidade socioespacial comunitária e significativa, ao continente e aos territórios, gentes e vidas submetidas. Essa é a nossa esperança.
Agradecimento
Aos meus colegas, todos eles e elas, que passaram pelo e/ou que estão no Gecipa, pela partilha respeitosa, esperançosa e trabalhosa. Aos avaliadores deste ensaio, por entendê-lo como parte do nosso rito comemorativo enquanto grupo, e contribuir animosamente. Ao professor Everaldo Costa, pelas contribuições acadêmicas e de vida; por seguir em sua busca contínua, conciliadora, árdua, estudiosa. Só quem se dedica às andanças a horizontes desconhecidos mas essencialmente mais humano, poderá levar consigo os seus amigos eternos orientandos, rumo a um novo... Rumo a algo. É importante celebrar a sua invenção de mar e de cais, conforme ensina o poeta amineirado Milton Nascimento.
As Rodas de Samba do Distrito Federal brasileiro, patrimônio-territorial latinoamericano, expressão de resistência espacial negra
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Notas