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Território usado e lógicas patrimoniais no Paraguai
Territorio usado y lógicas patrimoniales en Paraguay
Used territory and patrimonial logics in Paraguay
Território usado e lógicas patrimoniais no Paraguai
PatryTer, vol. 3, núm. 6, pp. 167-184, 2020
Universidade de Brasília

Recepção: 20 Maio 2020
Aprovação: 15 Julho 2020
Publicado: 01 Setembro 2020
Resumo: Para além da perspectiva hegemônica da patrimonialização, esse estudo traz um olhar geográfico para as heranças que resistem ante intervenções territoriais de caráter excludente, que refletem a colonialidade do poder. Com o objetivo de analisar como interações espaciais oriundas da patrimonialização global ressignificam o patrimônio-territorial no bairro Loma San Jerónimo, Assunção, Paraguai, foram confrontadas estas duas lógicas patrimoniais aplicadas ao continente latinoamericano à luz do conceito de território usado. A pesquisa qualitativa, com aporte em procedimentos de campo sistematizado e realização de entrevista, nos evidenciou que apesar dos impactos da patrimonialização global, o patrimônio-territorial do bairro é persistente e se mostra como uma possibilidade de emancipação da comunidade, bem como para o fortalecimento de novas estratégias de valorização patrimonial e espacial.
Palavras-chave: patrimonialização global, patrimônio-territorial, território usado, Loma San Jerónimo, Assunção, Paraguai.
Resumen: Además de la perspectiva hegemónica de la patrimonialización, este estudio aporta una mirada geográfica a las herencias que resisten ante las intervenciones territoriales de naturaleza exclusiva, que reflejan la colonialidad del poder. Con el objetivo de analizar cómo las interacciones espaciales derivadas de la patrimonialización global resignifican el patrimonio-territorial en el barrio de Loma San Jerónimo, Asunción, Paraguay, se confrontaron estas dos lógicas patrimoniales aplicadas al continente latinoamericano a la luz del concepto de territorio usado. La investigación cualitativa, basada en procedimientos de campo sistematizados y la realización de entrevistas, nos mostró que, a pesar de los impactos del patrimonio global, el patrimonio-territorial del vecindario es persistente y se muestra como una posibilidad para la emancipación de la comunidad, así como para el fortalecimiento de nuevas estrategias de valorización patrimonial y espacial.
Palabras clave: patrimonialización global, patrimonio-territorial, territorio usado, Loma San Jerónimo, Asunción, Paraguay.
Abstract: In addition to the hegemonic perspective of patrimonialization, this study brings a geographic look to the inheritances that resist before territorial interventions of an exclusive nature, which reflect the coloniality of power. In order to analyze how spatial interactions arising from global patrimonialization resignify the patrimony-territorial in the Loma San Jerónimo neighborhood – Asunción, Paraguay, these two patrimonial logics applied to the Latin American continent and the concept of the used territory were confronted. Qualitative research, based on systematized field procedures and conducting interviews, showed us that despite the impacts of global patrimonialization, the neighborhood's patrimony-territorial is persistent and expresses itself as a possibility for the emancipation of the community, as well as for strengthening new strategies for patrimonial and spatial valorization.
Keywords: global patrimonialization, patrimony-territorial, used territory, Loma San Jerónimo, Asunción, Paraguay.
1. Introdução
Este trabalho[i] parte do pressuposto de que narrativas de desenvolvimento, além de corroborarem para a supressão de memórias locais, aproximam-se da tentativa de apagamento e desvalorização dos sujeitos que, desde a constituição da modernidade, são subalternizados. Quando a gestão patrimonial de bens culturais não considera a totalidade da constituição histórica dos lugares e não vai de encontro com os anseios da população, favorece a manutenção da história oficial contada pelos vencedores (Pollak, 1989), aquela que seleciona os aspectos e os sujeitos a serem enaltecidos.
Para autores decoloniais como Quijano (2005), Mignolo (2005), Dussel (2005) e outros, o discurso da modernidade é o eixo estruturante desse mundo desenhado a partir da exploração do trabalho e, posteriormente, do apagamento de sujeitos subalternizados. Esta narrativa é orientada por um conjunto de justificativas para a submissão e a dominação pautadas na inferioridade fenotípica e cultural dos povos oprimidos. Este é o lado oculto da modernidade: a sua colonialidade constitutiva e permanente.
Nesse mesmo viés decolonial, Costa (2015, 2016) apresenta para a Geografia duas análises patrimoniais desde a história territorial do continente, uma que compreende a razão que reafirma a colonialidade do poder e outra que intenciona seu enfrentamento: a patrimonialização global e o utopismo patrimônio-territorial. Aqui essas lógicas foram confrontadas diante de um bairro de Assunção, Paraguai, à luz do conceito de território usado proposto por Milton Santos, uma vez que nos traz uma dimensão histórica da relação dialética espaço–sociedade e revela as apropriações do território por distintos atores.
Ao apontar para a importância de se preservar e divulgar dimensões socioespaciais pouco ou não valorados na história, mas que são resistentes na vida cotidiana por meio do denominado patrimônio-territorial, Costa (2016) reflete as relações que os sujeitos estabelecem com o lugar, ao largo da história. Isso possibilita aproximar de um redesenho esperançoso do futuro a partir da compreensão do território usado como espaço banal, como território usado por todos os atores, o que torna possível a coexistência de antigas e novas sinergias (Santos, 2000a, 2005).
Ademais, o conceito de patrimônio-territorial proposto por Costa adquire o caráter de denúncia face a um contexto em que territórios continuam a ser invadidos por lógicas dominantes, pela imposição de redes e ações marcadas por intencionalidades que objetivam diluir as solidariedades construídas no decorrer da história, em relação direta com o lugar. Situação que favorece usos excludentes do território, fundamento da patrimonialização global (Costa, 2015) – processo em que memórias e identidades passam a ser consumidas e apropriadas com o intuito de reorganizar os espaços em proveito do capital estrangeiro.
Em resposta à ideologia que perpetua a distorção e diferenciação dos lugares, dos sujeitos e dos bens culturais e estimulando a resistência a partir da essência social latinoamericana encontrada na infinidade de obras, nos fatos e nos próprios sujeitos históricos (Costa, 2016), o Grupo de Pesquisas sobre Cidades e Patrimonialização na América Latina e Caribe – GECIPA/UnB, coordenado pelo prof. Everaldo Costa, tem compartilhado e aprofundado essa perspectiva, teórica e empiricamente, na América Latina.
Essa dimensão parte do projeto de pesquisa de Costa (2016, 2017, 2018, 2021), que fundamenta e estimula a discussão latinoamericana no grupo. Assim, parte dos trabalhos orientados estão preocupados em difundir, evidenciar e valorar o patrimônio-territorial latinoamericano, a partir de diferentes referenciais empíricos e abordagens, e em fomentar o debate geográfico situado sobre a produção espacial no continente, bem como revisar o conceito e a metodologia, na busca de alternativas populares à lógica hegemônica de controle dos territórios.
Tendo como horizonte a América Latina, optou-se por deslindar o Paraguai nesta pesquisa, pois assim como todo o continente, o país tem sua história marcada pela colonialidade dos atores estrangeiros hegemônicos e também pela exploração de seus vizinhos Argentina e Brasil. Além disso, a colonialidade do poder é reproduzida internamente quando populações indígenas e campesinas são cada dia mais afligidas pela modernização do campo e compelidas a migrarem e a viverem nas periferias das cidades. Apesar da tentativa de apagamento, a influência de matriz indígena é potente na cultura do Paraguai, sendo reavivada em comportamentos, no idioma guarani, na vivência comunitária e solidária, na gastronomia e na medicina tradicional, expressões que serão justificadas como patrimônio-territorial.
A capital Assunção, seguindo a tendência das capitais latinoamericanas, desenvolve-se e se urbaniza mais intensamente dada a concentração de funções econômicas, políticas e administrativas e a centralização de atividades e serviços. Aspectos que revelam um uso desigual e fragmentador do território paraguaio no decurso de sua história. Tem-se, portanto, a modernização do território marcada pelos impulsos estrangeiros e pela inserção desigual de objetos técnicos, de maneira a beneficiar os agentes do capital hegemônico (Santos, 2000a; Vázquez, 2006). Para Causarano e Chase (1987), Assunção se moderniza e as contradições da racionalidade hegemônica se agudizam e se projetam na sua imagem urbana, uma vez que esta não é rígida, mas acompanha a estrutura econômica e política e suas transições ideológicas, pois está em permanente interação com esses elementos.
Essa conjuntura nos estimulou a buscar as resistências patrimoniais reproduzidas em símbolos e memórias dos sujeitos subalternizados, mas também em compreender como a razão colonial que rege a patrimonialização impacta e redimensiona essas resistências. Portanto, decidiu-se analisar o bairro Loma San Jerónimo localizado no setor Oeste de Assunção sobre uma de suas sete colinas e inserido na área do tradicional bairro Dr. Garcia de Francia. Nas suas proximidades, estão situadas importantes referências para a cidade, como o Porto de Assunção e instâncias militares, a ver Figura 1, o que culminou na sua anexação na zona de amortecimento do Centro Histórico de Assunção via ordenança municipal nº 267/09, num cenário de projetos urbanos que incidiriam direta e indiretamente no bairro e em seu patrimônio-territorial.

A sua conformação urbana segue a morfologia do terreno e conserva a característica de ocupação orgânica de Assunção anterior à reforma urbana que impôs a quadriculação da cidade no século XIX, sendo este um de seus principais atributos. As habitações que se deram de forma espontânea foram parcialmente legalizadas com o tempo, mas mantendo os vestígios da história da capital paraguaia. Por essa razão, a maioria dos lotes do bairro apresentam distintas dimensões e formas, acumulando desigualmente no espaço, a passagem do tempo, conforme ensina Milton Santos.
Com características de colina – apresentando um desnível de aproximadamente 15 metros entre a zona mais baixa e a mais alta do bairro – e rodeado por arroios que chegam ao rio Paraguai, tem-se uma distribuição demográfica relacionada a aspectos socioeconômicos, bem como a distribuição dos impactos decorrentes de fenômenos naturais que atingem grande parte da população de Assunção anualmente. Essa característica é essencial para compreender a dinâmica do bairro e as ações advindas dos projetos urbanos que incluem o setor.
Durante a pesquisa foi possível questionar quais seriam as resultantes do abandono massivo da ‘zona costeira’ de Assunção e de seu centro tradicional? O que permitiu a imposição globaritária de projetos urbanos de cunho modernizante para a capital paraguaia? Quais os impactos desses projetos para o bairro San Jerónimo e seu patrimônio-territorial? Qual a proposta do texto-pesquisa para lidar com estas dimensões, de modo a apresentar uma alternativa à proposta dos agentes da patrimonialização global?
Por fim, o objetivo deste estudo é analisar como interações espaciais oriundas da patrimonialização global ressignificam o patrimônio-territorial no bairro Loma San Jerónimo, Paraguai. O caminho metodológico trilhado para alcance do objetivo teve como procedimento central a pesquisa de campo, o que permitiu a realização de entrevistas aprofundadas com moradores e atores sociais envolvidos nas dinâmicas da vizinhança e realização de atividades de pesquisa, como observação, fotografias e localização de lugares específicos do bairro, bem como a participação em eventos fundamentais para a pesquisa: rodas de conversa, missas, participação em rosários, preparativos para a festa patronal e missa em honra ao santo San Jerónimo. O guia de entrevista semiestruturada contou com uma seção para reconhecimento do patrimônio-territorial atinente ao bairro e outra referente às intervenções urbanas que atestam a lógica da patrimonialização global naquele contexto. Esse percurso propiciou um entendimento mais aprofundado da realidade aqui qualitativamente estudada.
2. A patrimonialização global e o apoderamento dos usos do território
O debate decolonial explicita que o projeto moderno, eurocentrado em sua gênese, demarca o continente europeu como ponto de origem da civilização ocidental, celebrando todas as suas conquistas enquanto oculta suas mazelas, a sua colonialidade (Mignolo, 2005, 2017).
Na constituição do mito da modernidade, o mundo antes demarcado pela coexistência de civilizações e circuitos comerciais passa por duas transformações, uma de ordem econômica – a emergência do capitalismo, e outra de ordem epistemológica – a revolução científica, eventos determinantes de uma nova ordem mundial (Mignolo, 2005; Quijano, 2005).
O globo então passa a ser interconectado por uma mesma economia e surge uma estrutura de controle econômico, normativo e subjetivo, pautado na exploração do trabalho e na expropriação de terras. De acordo com Quijano (2005), o novo padrão de poder, que surge e se mundializa a partir da América, seu “primeiro espaço/tempo” (Quijano, 2005, p. 117), estrutura-se na definição de raça enquanto elemento de diferenciação entre colonizador e colonizado – o que permitiu naturalizar a inferiorização baseada em características biológicas – e na centralidade do capital e do mercado mundial, pelo o qual foram articuladas todas as formas históricas de apropriação do trabalho e de recursos.
Para além do subjugo do trabalho e das relações sociais de raça, a colonialidade do poder se reproduz nas dimensões epistemológicas e na própria subjetividade humana. Perspectivas de mundo, saberes e culturas foram relegados a segundo plano, tendo como objetivo o enaltecimento das descobertas mentais do sujeito europeu. Desse modo, a colonialidade do saber nega outras experiências e reafirma o controle do outro a partir de uma geopolítica do conhecimento (Lander, 2005). Tudo isso gera sentidos díspares ao território, em diferentes escalas, na América Latina.
Damos continuidade a esse debate refletindo sobre a noção de patrimônio cultural, para situá-lo no campo da Geografia. A ideia patriarcal de patrimônio, surgida na modernidade, remete à herança passada de pais para filhos. São todos os bens, materiais ou imateriais, preservados por aqueles que nos precederam e que devem ser transmitidos às futuras gerações. Freire (2019) ressalta que essa concepção de patrimônio não é presente em todas as culturas e coexiste de diferentes maneiras nos lugares que a adotam, mas no geral reflete a salvaguarda, por meio de mecanismos institucionais, daquilo que se visa proteger. Ao perpassar a esfera social e cultural, o conceito é alargado e o patrimônio passa a ser representativo de toda uma sociedade, o que o aproxima de uma narrativa de unificação sociocultural.
Segundo Souza (2019), faz-se necessário o questionamento acerca da origem dessas heranças e para quem foram deixadas. A autora é certeira quando diz que a definição daquilo que se é preservado enquanto patrimônio cultural de interesse público perpassa os dilemas: o que, para que, para quem e por quê?
Isso porque o “patrimônio é o lugar onde melhor sobrevive hoje a ideologia dos setores oligárquicos” (Canclini, 2008, p. 160). As narrativas e o próprio discurso acerca do patrimônio cultural são elaborados e associados a partir de valores dominantes de civilização, progresso e cultura, reiterando moldes eurocêntricos basilares da colonialidade do poder e do saber. Dessa maneira, o patrimônio cultural é importante mecanismo de reprodução de diferenças e a seletividade presente na escolha daquilo que se deve preservar é definida pela colonialidade (Canclini, 2008; Costa, 2016).
Ao reforçar a subalternização e o esquecimento da história e referências culturais de negros, indígenas, mulheres e grupos historicamente marginalizados, essas narrativas também distanciam essas coletividades das dinâmicas patrimoniais contemporâneas que se estendem sobre o território urbano, mas não sem impactá-las grandemente.
Dada a universalização de valores e referências ocidentais no campo patrimonial, especialmente após a Convenção das Nações Unidas sobre a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural pela Assembleia Geral da UNESCO, em 1972, são estabelecidas restrições e obrigatoriedades quanto a proteção, valorização e disseminação do patrimônio em escala mundial. Tal aspecto corrobora para a manutenção de discursos salvacionistas e justifica a continuidade de intervenções externas nos países entendidos como “desprovidos”, razão que replica a colonialidade do poder na esfera da cultura e do patrimônio.
A definição do que é patrimônio mundial e a listagem de bens dessa magnitude inicia uma disputa que articula empreendimentos urbanos de caráter global e exploração turística, sendo instrumentalizados o território e seu ordenamento para exercício de diferenças de poder que distorcem e quebram solidariedades sociais antes presentes. É o patrimônio sendo incluído nas estratégias e operações advindas do desenvolvimento da economia urbana e da mundialização da cultura ante a transnacionalização do território, segundo Costa (2015, 2012).
Segundo Choay (2006), o patrimônio esvaziado de seu sentido e tratado como mercadoria – o que revela a passagem do valor de uso e simbólico para o um valor econômico – favorece a inserção das cidades no mercado mundial. Para além do campo político-cultural, patrimônios tornam-se produtos culturais a serem distribuídos e consumidos.
Essa é a racionalidade que gesta a patrimonialização global definida por Costa (2015a, p. 35) como “brusco movimento universal de espetacularização e banalização pela cenarização progressiva dos lugares promovido pela dialética Estado-mercado sobre a base das técnicas, da ciência e da informação; em síntese, é um processo de ressignificação dos lugares da cultura e da natureza em escala planetária”. Quando Costa propõe essa abordagem em que os lugares são objetos da financeirização capitalista e da corrida mundial pela inclusão de bens culturais na rede internacional de turismo, nos dá evidências sobre o uso restritivo que esses agentes fazem do território.
Conforme ensina Santos (2000b, p.6),
para os atores hegemônicos o território usado é um recurso, garantia da realização de seus interesses particulares. Desse modo, o rebatimento de suas ações conduz a uma constante adaptação de seu uso, com adição de uma mentalidade funcional ao exercício das atividades exógenas ao lugar, aprofundando a divisão social e territorial do trabalho, mediante a seletividade dos investimentos econômicos que gera um uso corporativo do território.
Souza (2019) reforça que esse outro território não é abrigo para a maioria, pois é tomado por regras, interesses e usado mediante a constituição de lugares privilegiados, densos e controlados remotamente. Articulando as reflexões de Sanchez (2001), Sanchez e Moura (2005) e Lemos (2018), tem-se que as intervenções territoriais urbanas criam essas condições de uso transformando substancialmente a morfologia das cidades, a partir de uma agenda urbana hegemônica. Além disso, refletem como o atual contexto de globalização econômica e de mundialização da cultura afeta a produção do espaço urbano, por meio da elaboração e disseminação de modelos e padrões legitimadores de novos projetos de cidade.
O patrimônio cultural edificado ganha destaque nessa lógica, pois norteia investimentos nas áreas centrais (centros tradicionais) intencionalmente desassistidas das cidades; a sua revalorização se pauta na apreciação patrimonial e em arquétipos internacionais em contraponto ao consenso de perda de qualidade de vida urbana, degradação, sujeira, informalidade e insegurança, discursos estes criados e conduzidos pelo poder público e iniciativa privada (Sanchez, 2001; Alves, 2008; Costa, 2015).
Portanto, a patrimonialização global, seus agentes e seus artifícios produzem e contribuem com a fragmentação do território mediante a centralização de ações aos lugares que abrigam patrimônios chancelados pela UNESCO e/ou representantes de estratos sociais dominantes. Além disso, destinam a periferia à péssimas condições de vida, acirrando desigualdades socioespaciais e enaltecendo o patrimônio hegemônico face ao que determinados grupos valorizam enquanto patrimônio (Costa, 2015).
Ainda que a Unesco seja o principal vetor da patrimonialização global, Costa em diálogo com Gabriel Videla define os “arquitetos do mundo”, sendo eles o Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID, os Estados Nacionais e o Banco Mundial, como agentes potencializadores desse processo, já que são responsáveis pelo ordenamento do território em favor dos interesses hegemônicos do capital.
Apoiada em autoras como Sanchez (2001), Alves (2008) e também em Costa (2015), sintetizo que há uma manipulação de imagens e representações de cidade fomentadas e dissipadas pelos arquitetos do mundo, de modo a tornar a cultura e o patrimônio fatores centrais nas estratégias de transformação dos espaços urbanos. Esses fatores culminam na objetivação de um urbano específico, na exclusão e subalternização de sujeitos, na restrição ou exclusivismo de usos do território e corroboram para a permanência da colonialidade do poder cristalizada no fato cidade.
3. Patrimônio-territorial, território usado e resistência no âmbito cotidiano
Baseado nas particularidades das formações socioespaciais e da urbanização do continente latinoamericano, e também com o objetivo de romper com a face dominante da patrimonialização global, Costa (2016, 2017, 2018, 2021) propõe o debate teórico-metodológico sobre o utopismo patrimônio-territorial, pensando utopismos patrimoniais pela América Latina[ii].
O imaginário do mundo moderno foi construído tendo a América Latina como periferia, inferiorizada e dominada (Mignolo, 2005; Quijano, 2005), quando na verdade a história do Ocidente é também sua história. Como bem sinaliza Chimamanda Adichie (2019), as narrativas unilaterais contadas oficialmente são perigosas, roubam a dignidade das pessoas, silenciam e criam estereótipos que fazem com que “uma” história se torne “a” única história possível!
Costa (2016) reitera que o utopismo patrimônio-territorial intenciona reconectar a América Latina ao Ocidente, que se constitui não só pelos grupos hegemônicos enaltecidos e os seus fatos espaciais celebrados e contados em uma história oficial que se pretende unilateral, mas também pelos grupos silenciados, suas culturas e memórias apagadas. Nesse sentido, “identifica e ilumina a cultura barbarizada pela presente colonialidade, julgando os subalternizados latinoamericanos como necessários à escrita da nova história continental” (Costa, 2016, p. 3).
Essa reflexão do autor se pauta numa outra ótica do patrimônio, visto que a concepção hegemônica é, em resumo, eurocentrada e negadora dos sujeitos historicamente subalternizados. O conceito equivale aos símbolos representantes da história territorial latinoamericana em sua totalidade, ou seja, preocupa-se em identificar e dar notoriedade às expressões artísticas, à cultura, à religiosidade, aos saberes, aos fazeres, aos modos de vida, aos assentamentos urbanos e rurais dos grupos explorados e omitidos no processo colonizador e aos bens materiais e imateriais esquecidos ou destruídos pela lógica mercadológica e global do patrimônio, mas que retém significado em um contexto local (Costa, 2016).
De acordo com Costa (2017), a lógica colonial que articulou raça e trabalho, também destinou aos indígenas, afrodescendentes, mulheres e pobres urbanos ou rurais formas de trabalho e lugares para a reprodução da vida. Entretanto, sabendo que os vínculos identitários que são estabelecidos com o território estão intimamente relacionados com as experiências espaciais dos sujeitos, particularmente respondendo às demandas do trabalho, a experiência de escassez faz com que os sujeitos busquem outras vias de realização da vida no campo material e simbólico, numa luta diária contra os preconceitos advindos de localizações e estigmas provenientes de constructos raciais (Costa, 2017)
A análise, portanto, volta-se para as diferentes apropriações que estes sujeitos fazem do território em sua vida cotidiana, o que nos permite correlacionar o patrimônio-territorial ao entendimento do território usado de Milton Santos, pois leva em conta todos os atores do acontecer histórico-geográfico. Convida-nos a refletir as ligações processuais estabelecidas entre o lugar, a formação socioespacial e o mundo, abarcando um todo complexo onde são estabelecidas relações de complementaridade e de conflito (Santos, 2000b).
Enquanto a patrimonialização global participa e favorece essa dinâmica de competitividade e luta entre os lugares promovida pelo capital internacional, o patrimônio-territorial se aproxima do uso do território realizado pelo sujeito, a partir de sua vivência e estabelecimento de vínculos com o lugar em sua experiência diária, pois “os atores hegemonizados têm o território como um abrigo, buscando constantemente se adaptar ao meio geográfico local, ao mesmo tempo que recriam estratégias que garantam sua sobrevivência nos lugares” (Santos, 2000b, p. 6).
Souza (2019) reforça esse entendimento ao considerar os pobres periféricos nos processos patrimoniais, levando em conta que “a dinâmica da periferia é outra, orgânica, maleável, buscando, cotidianamente – e esse é seu tempo histórico – a sobrevivência constituindo processos de resistência” (Souza, 2019, p.8).
Com base nos ensinamentos de Santos e Costa, entendemos que o lugar na qualidade de entre-dois [mundo e indivíduo] revela as experiências e o uso do território realizado pelo sujeito a partir da dimensão espacial do cotidiano, dimensão onde o patrimônio-territorial ganha corpo, material ou imaterialmente.
Isso se dá num movimento de resistência memorial e factual: símbolos do passado, que foram ou são menosprezados ou renegados, permanecem na memória dos habitantes, no plano da vida presente. No entendimento de Lima (2017) a resistência, assim, ganha conteúdo geográfico, uma vez que se baseia nos vínculos instituídos entre o sujeito e o lugar.
Os elementos da cultura popular demonstram uma forte relação com o território e por isso seus símbolos são tão expressivos, pois o território usado “é o fundamento do trabalho; o lugar da residência, das trocas materiais e espirituais e do exercício da vida” (Santos, 1999, p. 8). O reconhecimento dos elementos da identidade territorial desses grupos, antes colocados em segundo plano, ou nem mesmo lembrados se torna essencial, uma vez que “os símbolos ‘de baixo’ produtos da cultura popular, são portadores da Verdade da existência e reveladores do próprio movimento da sociedade” (Santos, 2000a, p. 145).
Nesse contexto, o patrimônio-territorial é, portanto,
uma chave, uma reação e uma resposta à patrimonialização global; possibilita, por meio de uma concepção mais totalizante da cultura, desmantelar, pelas periferias, os efeitos da modernização e da colonialidade no continente: valora homens, mulheres e crianças humilhados por preconceito de origem econômica, racial/étnica e tópico espacial. (Costa, 2017, p.73)
Quando a cidade se vê permeada por ideias que reproduzem discursos coloniais e o desenvolvimento é visto como afastamento e negação do usufruto dos espaços recriados aos mais pobres, como pressupõe a racionalidade que rege a patrimonialização global, faz-se necessária a identificação e reconhecimento, para posterior criação de estratégias populares de ativação desse patrimônio-territorial que resiste (Costa, 2017).
Contra as perversidades “os mais pobres nas cidades empreendem esforço de preservação e adaptação de suas culturas nativas aos novos tempos de sempre. Por isso nunca foram destruídos ou extintos” (Souza, 2019, p.9). Como a existência e a permanência do patrimônio-territorial não depende da institucionalização da salvaguarda, percebemos em Assunção uma forte influência de matriz indígena nos relacionamentos, no âmbito da gastronomia, nos modos de vida, no cotidiano e particularmente no idioma.
Apesar dessas referências terem suas origens desprestigiadas ou ocultadas pela força da colonialidade, nas praças e ruas da cidade se aviva a memória indígena pelo comércio dos “yuyos”, por exemplo. Essa é a nomenclatura em guarani para as ervas ou os chamados remédios naturais, elementos que se configuram como uma saída laboral para os não absorvidos pelo mercado formal, como registrado pela figuras 2.

Apreendemos em Costa (2017) e em Santos (2006b) que, nessas conjunturas, os sujeitos revelam o conhecimento espacial necessário para sua sobrevivência, a relação íntima com o território concatenada com a reprodução da vida material.
4. Sob as lentes hegemônicas da patrimonialização global
Assunção também se embala na mundialização da economia e na competitividade territorial internacional. Apesar de não possuir bens patrimoniais inscritos na Lista do Patrimônio Mundial pela Unesco, seu Centro Histórico para a ser valorizado em planos estratégicos respondendo “à nova onda de terciarização e estetização de cidades, provocada pela promoção de empreendimentos público-privados genéricos ou mais específicos” (Costa, 2012, p. 91), tendo alguns deles aporte no BID.
Essas intervenções impactam em cheio o bairro em questão. Considerado um dos locais mais antigos de Assunção, Loma San Jerónimo tem seu conjunto urbanístico catalogado como Patrimônio Histórico, Urbanístico e Cultural pela Municipalidade de Assunção, segundo Ordenança N° 28/96, e como Bem Patrimonial Protegido por seu Valor Histórico segundo Ordenança N° 151/96 pelo Ministério de Educação e Cultura por conservar a sua configuração urbana originária de oito quadras irregulares, com ruas, passagens estreitas e escadas que se mantiveram até hoje, conforme figuras 3 e 4.


A sua história de ocupação é datada do século XIX e revela o movimento de urbanização da cidade de Assunção e a necessidade de assentamento orgânico de famílias vindas do interior do país. De acordo com Causarano e Chase, (1987), no período do Paraguai independente e após 300 anos de sua fundação, Assunção foi quadriculada como as demais cidades de colonização hispana para ganhar verdadeiro “aspecto de cidade”. Essa visão demarca a mentalidade colonial e a absorção de valores europeus por seus governantes.
Em virtude da localização geográfica favorável à visualização do movimento da Baía de Assunção, esse terreno foi excluído do traçado o que, posteriormente, permitiu uma distinta ocupação de trabalhadores migrantes atraídos pela dinamização que as atividades portuárias, ferroviárias e comerciais traziam para a cidade (Masuli, 2008; Sanchez, 2014). Muitos criadores de animais e especialmente de porcos, que visavam trabalhar no antigo Mercado Guazú, assentaram-se na zona mais baixa desse local, que passou a ser denominado de Kure Cuá, em guarani lugar dos porcos, denominação que resiste nos dias atuais.
A sua topografia resultou em uma setorização na distribuição do bairro em zonas baixa, média e alta que correspondem basicamente a uma divisão de estratos socioeconômicos. Encontram-se famílias com mais ampla disponibilidade de recursos e proprietárias de seus terrenos, mas também famílias em situação de ocupação irregular de terrenos municipais e com menores poderes econômicos, notadamente no setor baixo da colina, como ilustra a figura 5. Devido a composição histórica da zona baixa por pessoas humildes e campesinos do interior, todo o bairro foi associado ao imaginário de marginalização, culminando no que Costa (2016) denomina de preconceito tópico-espacial associado à colonialidade do poder.

A partir de atividades de campo, pesquisa documental, materiais institucionais e entrevistas com gestores da área foi possível definir os planos urbanos de Assunção que implicam em transformações diretas nas dinâmicas socioespaciais do bairro San Jerónimo.
Importa-nos compreender que, assim como outras cidades latinoamericanas, a cidade de Assunção passa por um acentuado processo de modernização decorrente de regime ditatorial na década de 70. Segundo Causarano (2013), com a intensificação do processo de urbanização da capital e alargamento de sua Região Metropolitana, o deslocamento de atividades econômicas, empresas, zonas residenciais de classe média é favorecido, enquanto o centro tradicional vai perdendo sua relevância. Defronte o quadro histórico de migração rural, e pela via contraditória do desenvolvimento urbano que favorece a fragmentação articulada do território (Costa, 2015), o centro foi esvaziado e empobrecido, convertendo-se em setor de baixa renda.
É necessário salientar que essa diferenciação de setores territoriais de cidades é essencial na lógica da expansão econômica. Ao passo que se desloca investimentos infraestruturais em áreas periféricas, possibilita-se o surgimento de uma renda diferencial da terra e cria-se oportunidades para novos investimentos nas áreas centrais, favorecendo o surgimento de estratégias para a recuperação de setores deteriorados (Santos, 1993; Alves, 2008).
Nessa lógica, o antídoto para o colapso da área central de Assunção corresponde aos planos estratégicos que produzem “a recolonização dos centros em um mercado globalizado das cidades” (Costa, 2015, p. 125). Segundo fontes documentais, a capital paraguaia tem sido reconfigurada desde os anos finais da década de 90, por meio de projetos urbanísticos de cunho desenvolvimentista. Em San Jerónimo as problemáticas de pobreza e degradação ambiental se amplificaram entre os anos de 2003 e 2005, quando da extensão da ocupação irregular por famílias campesinas. Uma situação de periferização no centro da cidade.
Neste mesmo período se iniciam investigações no âmbito da Universidade Nacional de Assunção a respeito de saídas laborais e novas perspectivas de desenvolvimento ao lugar, resultando em uma dissertação de mestrado (Masulli, 2008) que subsidiou a valorização turística do local, do seu patrimônio e suas práticas socioculturais tradicionais
A cultura e o patrimônio foram inseridos, de fato, na agenda urbana da cidade a partir do programa intitulado Ciudadela cultural de Asunción, criado em 2010 pela Secretaria Nacional de Cultura do Paraguai. A proposta surge no contexto da eleição da cidade como Capital Americana da Cultura pelo Bureau Internacional de Capitais Culturais no ano de 2009 e pelo evento do Bicentenário da Independência a ser realizado em 2011. Tal cenário estimulou uma série de ações de “embelezamento” na capital, dialogando com que apontam Sanchez e Moura (2005) sobre o papel de eventos de caráter internacional e de prêmios ou distinções dadas por diferentes agências na transformação e na legitimação de um determinado modelo de cidade que se pretende universal.
Esta que é uma proposta de reabilitação associada à revitalização urbana, apresentava o objetivo de recuperar e dinamizar culturalmente o centro histórico, por meio do turismo, da economia criativa e da inovação, no qual as tradições pudessem propiciar “cualidad de vida, cohesión social y competitividad” (Secretaria Nacional de Cultura/Py, 2010). Dentre os seus interesses, estava a consolidação de San Jerónimo por meio de circuitos turísticos cujos guias eram os próprios moradores, visto que o bairro já havia iniciado um processo de valorização de suas tradições. É hipotético que o programa atuou como catalisador da valorização patrimonial no sentido comercial, representando como a cultura se tornou elemento indispensável nas estratégias de gestão das cidades compondo o tripé cidade, empresa, e práticas culturais[iii] para o caso de Assunção.
O centro histórico também passa a ser acompanhado por atores públicos e privados em parceria[iv] que, segundo Vainer (2000), é o que assegura que os interesses mercadológicos sejam inseridos de forma representativa e adequada nos processos de planejamento e de decisão e, em nosso entendimento, alavanca o processo da dita patrimonialização global.
No ano de 2010 é aprovado financiamento do BID para o projeto intitulado Reconversión Centro, Modernización del Transporte Público Metropolitano y Oficinas de Gobierno (PRL1044), com um empréstimo de cento e vinte cinco milhões de dólares americanos. Os estudos de impacto dessa proposta foram iniciados nos anos 2000 e sua efetivação a partir de 2010 tem transformado o perfil urbano da capital paraguaia. Os impactos sobre San Jerónimo se dão por meio de obras de infraestrutura e instalação de novos equipamentos urbanos no perímetro do bairro, além da profusão de ideias desenvolvimentistas que tem acometido a mentalidade do bairro acerca de suas tradições.
Esse é um projeto que prevê a renovação urbana, que se aproxima de uma concepção economicista do desenvolvimento urbano. Nesse primeiro momento, o projeto que é dividido em dois componentes (a) Revitalización urbana e (b) Primer Corredor Metropolitano de Transporte Público, inclui o bairro da seguinte forma, no primeiro item:
Este componente tiene como principal objetivo la revitalización y mejoramiento del espacio público de la zona central de Asunción (…). Se prevén recursos para financiar las siguientes actividades: i) rehabilitación urbana y puesta en valor del barrio San Jerónimo (sector tradicional del área central). (BID, [s.d.], p. 3)
Por via do Plan de Rehabilitación Urbana del Barrio San Jerónimo foram realizados trabalhos de infraestrutura, pavimentação de vias estratégicas e recuperação de um dos arroios que perpassam o bairro, obras que seriam base para a retomada de ações em anos futuros (Peres, 2011). Também foram feitas intervenções de revitalização que se concentraram na via Piravevé, rua principal de San Jerónimo, como a pintura das casas, instalação de lixeiras, de bancos e de pontos de iluminação, de modo a deixar o setor mais colorido e atrativo.
É possível depreender que esse plano se aproxima do entendimento de Costa (2012, 2015) e Paes (2016) acerca da requalificação urbana, uma vez que propõe o resgate do valor simbólico para os moradores e para o mercado. Entretanto, quando estas intervenções são descompromissadas com os significados atribuídos ao lugar pela comunidade, ocasionam na “dialética da memória”[v], em que “a representação simbólica do lugar passa a ser atributo fundante da patrimonialização global” (Costa, 2015, p. 450).
Neste contexto, tem-se um acentuado processo de modificação do lugar e propostas de releitura de seu patrimônio por atores externos. Estes envolvem a comunidade com o discurso de desenvolvimento econômico através do turismo, de modo a ressignificar suas práticas pelo viés mercadológico, incisivamente. Com apoio da Secretaria Nacional de Turismo, a partir de ações de divulgação, gera-se um forte movimento turístico no bairro, culminando no título de primeiro bairro turístico de Assunção, concedido em 2013 pela instituição.
A comunidade vive um período de decadência dadas às inundações ocorridas nos anos de 2014 e 2015, pelas cheias do rio Paraguai, que ocasionam em aumento do nível dos arroios, afetando fortemente as famílias da zona baixa do bairro. Há, dessa forma, uma paralisação das obras que só são retomadas no ano de 2016 a partir da atualização do Programa Reconversión Urbana, Modernización del Transporte Público Metropolitano y Oficinas de Gobierno, agora denominado Programa Reconversión Urbana y Metrobús. Esse programa apresenta o caráter de renovação e modernização da cidade, de modo a torná-la mais eficiente economicamente. Para que San Jerónimo fosse adequado a esses propósitos, dois objetos estratégicos foram concebidos para tornarem o bairro um polo de desenvolvimento urbano para a cidade: o centro comunitário e o mirante de San Jerónimo.
Como aponta Vainer (2000) e Souza (2010) projetos que encaram a cidade como empresa e incorporam um planejamento estratégico mercadófilo, utilizam-se da cidadania e do discurso de uma cidade melhor para os cidadãos, quando na verdade se vale da despolitização planejada e na negação da cidade enquanto espaço político. Nesse sentido, há participação popular, mas com limites bem estabelecidos. Em memorial sobre as transformações do bairro, criou-se a narrativa de que a idealização de ambos elementos parte “de la inspiración conjunta de su propria comunidad”, quando na verdade já estavam previstos no projeto desde 2010[vi]! A comunidade é cooptada e convencida por ideias hegemônicas de desenvolvimento que mascaram seus reais objetivos e a perspectiva excludente e fragmentadora do território que o encerra. Aliás, o convencimento acerca das obras se deu pela lógica das possibilidades econômicas que poderiam ser advindas dos edifícios e também pela valorização turística de seu patrimônio.
O pequeno oratório, um dos elementos mais carregados de simbologia do bairro, seria transformado em um centro de compras e lazer com um mirante, mas segundo moradores o Ministerio de Obras Públicas y Comunicaciones – MOPC, órgão executor das intervenções, suspendeu as obras tendo como justificativa a possibilidade de pouco retorno financeiro frente ao investimento que seria empreendido. Já o Centro comunitário inaugurado em agosto de 2018, teria o objetivo de funcionar como centro de desenvolvimento para moradores do bairro e para a população de Assunção, o que não aconteceu na realidade. A comunidade afirma que o uso do espaço é condicionado à aprovação institucional e na maioria dos dias está de portas fechadas!
O que podemos observar é que San Jerónimo está no meio de uma empreitada modernizante e que sua imagem destoa das pretensões dos planos e projetos que o inserem em seus objetivos. O centro comunitário contrasta da paisagem do bairro, como mostra a figura 6, aproximando-se mais da proposta de renovação do porto de Assunção, ilustrado na figura 7. Esse novo momento, que delineia a revitalização da zona portuária da cidade e sua reconfiguração nos moldes de modelos replicáveis, como é o caso do Porto Madero em Buenos aires, implica na possível realocação das famílias de San Jerónimo que vivem na zona mais baixa e vulnerável do bairro.
Ao analisar o Marco de Planes de Reasentamiento para Renovación Urbana del Barrio San Jerónimo y Relocalización de comercios informales en tramo de BRT constatamos que desde a concepção do projeto está prevista a remoção dos moradores do Kure Cuá para a construção de um espaço de uso coletivo (o que viria a ser o Centro comunitário), aumento da cota do bairro a fim de evitar inundações e realização de obras de saneamento (BID, 2010b). Esse aspecto foi confirmado em entrevista com uma das arquitetas do MOPC:
Las personas que viven en esta franja, son aproximadamente 50 familias, están en um terreno municipal, pero son pobladores antiguos digamos eso. (…) La municipalidad también está dispuesta a negociar en cierta forma con ellos, o su permanencia o su traslado a otro sitio. Igualmente el centro comunitario que se está construyendo está asentado en terreno municipal, toda esta franja es municipal. (Entrevista concedida pela senhora RU, em Assunção, Paraguai, em fevereiro de 2018)


A lógica mercadológica que rege a patrimonialização global reafirma a colonialidade do poder quando, conforme entende Vainer (2000), vê a vulnerabilidade socioeconômica como um problema paisagístico ou ambiental, que influi diretamente nas decisões dos agentes econômicos e também na atratividade da cidade. Não se importam com a grande perda de componente social dos lugares, quando a “mercadoria-cidade tem um público consumidor muito específico e qualificado” (Vainer, 2000, p. 82), que não são os mais pobres ou os migrantes atraídos pelas possibilidades de sobrevivência em setores valorizados, mas sim “um grupo de elite de potenciais compradores: capital internacional, visitantes e usuários solváveis” (Vainer, 2000, p. 83).
Em síntese, a conjuntura apresentada afirma a lógica da patrimonialização global na cidade de Assunção, notadamente no bairro San Jerónimo. Esta racionalidade é permeada por relações de poder e formas de dominação vinculadas aos usos exclusivistas do território urbano (Costa, 2012, 2015), que confirmam como os países da América Latina continuam a incorporar narrativas e práticas, por isso os impactos das modernizações interessadas aos países do Norte, bem como dos grupos dominantes internos, favorecendo o uso do território enquanto artifício político e de classe.
As cidades mais atrativas do continente continuam sendo transformadas em cenário dos diversos embates e interesses do capital internacional, tornando seus cidadãos reféns de uma imagem criada que apaga as diferenças em prol da dissimulação e estetização. Frente a esses elementos apresentados, foi possível evidenciar, vivenciar e perceber o patrimônio-territorial do bairro, mas também as formas como a patrimonialização global o impacta.
5. Redimensionamento e resistência do patrimônio-territorial ante a patrimonialização global
No bairro San Jerónimo, além de identificar, foi possível perceber os riscos que corre o seu patrimônio-territorial frente a alienação de sua população, desencadeada pela mercantilização de suas referências simbólicas e pelo uso territorial proposto por agentes hegemônicos. Esses aspectos demarcam o bairro como síntese da simultaneidade das duas lógicas patrimoniais aqui abordadas, como resume a figura 8, e motivam reflexões acerca de possibilidades de revaloração do patrimônio por outras vias, além da mercadológica.
Ao assumir as proposições sobre o patrimônio-territorial, Costa (2016, 2017, 2018, 2021) também tem vistas para os elementos da vida cotidiana em escala local, que muitas vezes são esquecidos na forja da memória e identidade nacional. Estruturantes das tramas vivenciadas pela comunidade, o que os moradores tratam como seu patrimônio no bairro, tem sido gradativamente impactado pela patrimonialização global.

Originada nas missões jesuíticas e produto cultural da hibridização entre espanhóis e indígenas, configura-se como a rememoração da paixão e morte de Jesus Cristo, no qual idioma guarani figura como central nos cantos Purahéi Jahe’ó e Purahéi asy[vii] entoados por seus participantes (Torres, 1980). No bairro, a tradição está próxima de completar um século de realização e está nas mãos de duas famílias.
A caminhada dos estacioneros ocorre durante a Semana Santa e a simbologia que a encerra é repleta de significados. Cabe ressaltar a cruz toda adornada em flores, permanência da influência indígena no ritual[viii]. De acordo com uma estacionera, por muito tempo tiveram dificuldade de realizar suas práticas no contexto no bairro e a população somente reconheceu a manifestação após intervenção da Universidade Nacional de Assunção, nos anos 2000.
No movimento de tornar o bairro turístico por alunos da faculdade, foi proposto o realce dessa tradição, que já estava fincada no território de San Jerónimo, acrescentando à prática do canto a encenação da via crucis. Nesse sentido, somada a estetização do urbano, tem-se a ressignificação de seus símbolos e de seus usos sociais, num claro movimento de preservação pela mercantilização do patrimônio cultural (Costa, 2015).
A partir dessa ação da universidade que se desencadeia mudança do uso de seu território, demarcado pela lógica da patrimonialização global, em que o uso turístico passa a ser visado também pela população. Incluído no calendário turístico de Assunção, observa-se que esse componente do patrimônio-territorial do bairro foi impactado pela lógica hegemônica do patrimônio, uma vez que o ímpeto por resgatar e tornar atrativo, traz o risco de encenação e perda de sentido, como explica Costa (2015).

Apesar da crítica, o patrimônio-territorial resiste pela transmissão familiar, pois segue sendo passada de pais para filhos e filhas. Este fator é o que confere importância para os membros estacioneros. Ainda que a manifestação seja vista como uma forma de gerar movimento turístico e, consequentemente, ganhos econômicos para o bairro, existe a tentativa de manutenção de sua essência pelos membros do grupo por meio do cuidado com a memória dos familiares e com o ritual a ser passado para frente.
O oratório de San Jerónimo[ix] é uma pequena capela levantada em honra ao santo patrono de mesmo nome, sendo crença comum que a toponímia do bairro se associe à igrejinha. Esse pequeno espaço de fé e de encontro se perfaz enquanto patrimônio-territorial, pois dá a essa comunidade uma referência simbólica de sua origem e formação enquanto bairro (Allende, 2011).
Ponto de encontro entre os moradores, gera grande sentimento de pertencimento. Cânticos e expressões em guarani se fazem presentes e demarcam as missas e encontros religiosos e o idioma também está na nomenclatura dos santos e suas imagens: San Jerónimo guazú e San Jerónimo’í[x]. A pequena escultura é resguardada com cuidado dado seu o significado histórico e simbólico para esta comunidade, especialmente nas festas patronais.
A importância do oratório, de seus objetos e de suas festividades relacionadas está para além da materialidade e realização. Encontra-se no campo da resistência que suscita a manifestação de espacialidades. Dessa forma, a tradição e o seu papel ritualístico favorecem a perpetuação do patrimônio-territorial desse agrupamento ao consolidar o apego e a valorização de objetos e práticas passadas situadas no lugar, no presente (Costa, 2016; Lima, 2017).
Como já sinalizamos, a pequena igreja já foi alvo de projetos urbanísticos de cunho modernizante. Apesar de não ter sido concretizado o projeto de sua transformação em uma espécie de “mini-shopping”, tem-se como impacto da patrimonialização global o fechamento da escola/creche do oratório em 2016, que não retomou as atividades até o momento da realização da pesquisa.
Associado ao oratório, tem-se a festa patronal de San Jerónimo[xi] que se revela como uma prática rara em Assunção, em razão das ânsias de modernização e higienização da cidade somadas ao rechaço às tradições. Caracteriza-se como uma série de rituais territorializados propiciadores de vínculos afetivos com o lugar e marcados pelo empenho de seus moradores em todo o processo. Como explica Torres (1980) essas festividades resguardam traços decorrentes da hibridização cultural entre espanhóis e os povos originários, como as missas guaraníticas.
Essa que é uma das festividades mais importantes para a comunidade de San Jerónimo, tem sido modificada para atender às demandas de turistas. Os jovens que assumiram a organização da festa em 2018, reconfiguraram seu calendário para adequar as atividades em horaria ao santo em um grande festival denominado SanJe Festival[xii], a exemplo das festividades de San Patrick comemoradas à nível mundial:
La idea fue naciendo cómo se celebra San Patrick a nivel mundial, (…) entonces yo dije, porque nosotros no hacemos la fiesta San Jerónimo de esa forma. En Asunción no hay fiesta patronal como lo hay en el interior del País, en los pueblos del campo, (…) se van perdiendo nuestra costumbre entonces yo dije San Jerónimo se celebra hace 91 años y tenemos que hacer cada día más grande, entonces la idea que yo pensé ahora es, hacer un festival. (Entrevista concedida pelo senhor M.S.R.G, LG, em San Jerónimo, Assunção, em setembro de 2018)
A contradição encontrada na fala desse jovem é resultante de constructos que são enraizados pela colonialidade do poder e pelo eurocentrismo que a sustenta. De acordo com Lander (2005), além de legitimar explorações e controle em todo continente, a ideia de superioridade aliada ao conhecimento eurocêntrico corrobora para que experiências e expressões culturais não correspondentes ao dever ser europeu, sejam abominadas, ocultadas ou negadas. É possível observar a preocupação do morador quanto a perda de costumes ante a modernização de Assunção, mas assume a preservação se utilizando de exemplos e os modelos estrangeiros e se aproximando da lógica mercadológica da patrimonialização. Essa característica é reveladora da necessidade de “descolonização do pensamento” e de proposição de outras formas de valorização e preservação do seu patrimônio.
Apesar das propostas e da realização de eventos paralelos, o júbilo em honra ao santo seguiu normalmente seu cronograma e o pequeno santuário acomodou boa parte da população de San Jerónimo, como mostra as figura 10 e 11. Quase toda a celebração foi proferida em guarani, desvelando o encontro de fragmentos de patrimônio-territorial presentes no bairro: a memória indígena sendo revivida pela ritualidade presente na manifestação local, realizada no oratório demarcado por afetividades que possibilitam a trama única de San Jerónimo.
Observamos os “sentidos e signos partilhados, as dinâmicas de atribuição de significados e valores no presente, concatenados à própria espacialidade do lugar” (Lima, 2017, p. 223). A dualidade encontrada em San Jerónimo está na permanência desses atributos genuínos coexistindo com a ânsia de emancipação econômica pelo turismo.


Reconhecemos também o setor denominado de Kure Cuá como patrimônio-territorial por resguardar as origens da ocupação e formação do bairro, especialmente por gente do interior, o que favorece a territorialização de toda uma bagagem cultural assentada na memória indígena.
Em entrevistas os moradores dessa zona resgatam aspectos que relembram as histórias de migração das próprias famílias, como é o caso da senhora R. O lote onde se encontra a sua casa é o mesmo do assentamento de seus avós que vieram de Cacupé, uma cidade do interior do Paraguai localizado no departamento de Cordillera. Segundo ela, ali naquele pequeno espaço a família chegou a criar cerca de 40 porcos, o que revela uma permanência histórica dos ofícios dos moradores da colina. Este relato ilustra a importância da compreensão do indivíduo como sujeito social participante da produção geográfica e histórica dos lugares (Suzuki, 2011).
O Kure Cuá é um claro exemplo de discriminação associada ao lugar onde se estabelece moradia e de abandono do poder público ante a necessidade de sua ação. Segundo moradores, por anos o setor foi desprovido de serviços básicos que só foram alcançados por meio de união comunitária e irregularidades. A seguinte fala de moradora evidencia como frações do território são selecionadas, enquanto outras são abandonadas, mas com finalidades muito específicas:
Y todo eso compramos para tener agua, luz, todo eso lo tuvimos que hacer la zona baja para poder tener servicios porque éramos completamente excluidos y abandonados. Yo creo, más que nada, que es porque somos humildes, no estamos en la mira (...)por mucho tiempo fuimos abandonados. Inclusive, cuando se hizo lo que era el barrio turístico, ellos pusieron límites de lo que era el barrio turístico y no estábamos incluidos tampoco. (Entrevista concedida pela senhora CEP, em San Jerónimo, Assunção, em setembro de 2018).
Quando se iniciaram os projetos urbanos no bairro, a zona baixa esteve fora do perímetro de atuação, o que reflete a lógica da patrimonialização gobal. Ela deetermina pontos para a projeção, assenta-se na fragmentação articulada do território e trata a pobreza e as questões sociais como meros problemas ambientais para facilitar a tomada de decisões (Vainer, 2000; Costa, 2015), como a remoção planejada dos moradores.
Apesar de todas as problemáticas, a população do Kure Cuá revela em suas falas um grande sentimento de pertencimento, já que acomodam suas emoções, afetividades no seu lar e também no seu bairro (Tuan, 1979; Lima, 2017). Tal aspecto reforça a vontade de permanência e a resistência em deixar suas habitações, suas histórias, suas vivências e suas experiências, todas compartilhadas espacialmente.
Como a perspectiva aqui adotada prevê a valorização em totalidade dos lugares, de maneira a reverter o quadro histórico de preconceitos de origem e condições socioespaciais impostas, vemos na apreciação das histórias ali contidas um modo a enfrentar os estigmas enraizados e os impactos da patrimonialiazação global pela consciência estimulada pela presença do patrimônio-territorial.
Embora seja incisiva a maneira como a colonialidade e as ideias e ações de cunho hegemônico disseminados pela lógica da patrimonialização global estão incutidos nos moradores de San Jerónimo, não podemos negar a robustez da resistência especializada do patrimônio-territorial no bairro. Os elementos aqui apresentados evidenciam o uso do território de forma localizada e centrada nos sujeitos, nas suas vidas e nos elementos de simbologia que lhe dão sentido de existência, o que nos faz acreditar no alargamento de consciência da comunidade frente os processos que a impacta.
6. Considerações finais
A partir da reflexão de duas lógicas patrimoniais apresentadas por E. Costa, em diálogo com a proposta de território usado de M. Santos e revisada por M. A. Souza, tratou-se aqui de dar centralidade aos impactos que a patrimonialização global ocasiona no patrimônio-territorial, mas não sem suscitar resistências e reafirmação. O bairro San Jerónimo foi convidativo, no sentido em que o descaso pelo seu patrimônio institucionalizado justifica sua recente apropriação pela lógica hegemônica do mercado de cidades, produzindo uma série de transformações nesse espaço carregado de simbologias e dinâmica própria. Ao mesmo tempo, seu patrimônio-territorial permanece ante tentativas, muitas vezes exitosas, de seu redimensionamento para o mercado globalizado de cidades.
Ao passo que essas ações podem alienar a população, também instigam resistência pela evocação da memória ou pela participação ativa dos sujeitos, uma vez que exista o sentimento de pertencimento à comunidade, ao território, resultante das relações de convivência entre os membros. Isto se faz possível mediante o uso do território a partir de uma perspectiva local, interativa, de maneira a deformar e reverter os sentidos dos imperativos de atores hegemônicos (Santos, 2000a), pois, sendo o território usado sinônimo do espaço habitado, espaço de todos (Santos, 2005), constitui-se como lugar de resistência e de revanches.
É possível a criação de uma agenda de ações juntamente com a comunidade para que a consciência das duas lógicas seja usada como estratégia de manutenção de seu patrimônio-territorial como signo da vida e dinâmica popular histórica, baseada no espaço, como pressupõe Costa (2017), uma vez que os vínculos ao lugar são consubstanciados pelo patrimônio-territorial. Mesmo que permeado pela lógica hegemônica que tende a quebrar solidariedades pré-estabelecidas, o bairro mantém muitos de seus aspectos genuínos, como os aqui elencados. Ademais, é viável a transgressão de práticas que participam da lógica hegemônica em favor dos hegemonizados, como é o caso do turismo. Quando repensadas políticas específicas de uso e apropriação coletiva do território, a atividade pode corroborar com a preservação patrimonial (Costa, 2018).
A perspectiva do patrimônio-territorial, seu entendimento e sua difusão se constituem enquanto um caminho de emancipação para comunidades historicamente subalternizadas na América Latina, bem como para o fortalecimento de novas estratégias de valorização patrimonial e da vida, em que os moradores, os verdadeiros guardiões do patrimônio, sejam os protagonistas das ações e enalteçam sua força política.
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Notas