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Recepção: 08 Novembro 2018
Aprovação: 20 Dezembro 2018
Resumo: Já entrado o século XXI, ficaram conhecidas iniciativas pela valorização da literatura escrita por mulheres por meio de campanhas de leitura. De outro lado, é possível elencar, ao longo do século XX, especialmente segunda metade, iniciativas que visavam a publicar obras de autoria feminina, especialmente estrangeiras traduzidas para o português. Neste trabalho, apresentamos três coleções, de três casas editoriais brasileiras (Paz e Terra, Art Editora e Cosac Naify), cujo objetivo era o de trazer para nossa língua grandes livros de reconhecidas autoras de várias partes do mundo. Infelizmente, tais coleções tiveram vida curta. No entanto, contribuíram para que obras importantes chegassem ao Brasil.
Palavras-chave: Coleções de Livros, Literatura Feminina, Autoria Feminina, Tradução.
Abstract: Well into the 21st century we can identify some initiatives that favor the literature produced by women by means of reading campaigns. In the other hand, all along the 20th century, especially in its second half, we can find editorial initiatives that aimed at the publication of literary works written by women, especially of foreign ones translated to Portuguese. In this work we introduce three collections presented by three different Brazilian publishing houses (Paz e Terra, Art Editora and Cosac Naify) that aimed at the publication of great literary works by well-known female authors. Although such collections have had a short life, they contributed to the acquaintance in Brazil of many relevant literary works.
Keywords: Book Collections, Women’s Literature, Female Authoring, Translation.
1 Considerações iniciais: já entrado o século XXI
Por todo o ano de 2017, circularam pelas redes sociais iniciativas para a valorização de escritoras, por meio da leitura de suas obras. Uma das campanhas mais conhecidas foi a que empregava a hashtag #leiamulheres. Tratava-se da ressonância de um projeto estrangeiro proposto pela escritora inglesa Joanna Walsh, em 2014. A ideia era ler mais escritoras publicadas e usar, em redes sociais e outros espaços digitais, a hashtag #readwomen2014. Em 2015, um trio de brasileiras – Juliana Gomes, Juliana Leuenroth e Michelle Henriques – trouxe a ideia de Walsh para o Brasil, somando à ideia original os encontros presenciais em livrarias e outros espaços culturais, para discussões sobre obras de autoria feminina. A hashtag em português é #leiamulheres.
Outras ações também ocorreram, a exemplo da iniciativa denominada Para Ler Escritoras, que funciona por meio de subscrição a um endereço eletrônico. Assim está sucintamente explicado, no site do projeto: “Faça seu cadastro e receba todo domingo um texto curto de uma autora contemporânea brasileira ou estrangeira na sua caixa de entrada”.
Diferentemente do Leia Mulheres, o Para Ler Escritoras é ligado a uma espécie de escola de escrita criativa chamada Escrevo, que por sua vez está vinculada a uma escola de redação de roteiros e outras peças para filmes, a Escola Revolution e a Fish Films. No site da Escrevo, que só aparece muito discretamente na página do projeto Para Ler Mulheres, é possível encontrar a seguinte descrição: “Sendo a Fish uma maravilhosa produtora de entretenimento e a Revo a residência oficial dos amantes das artes digitais, não fica difícil perceber que está na essência dessa família trabalhar com narrativas, não é? É por isso que a ESCREVO existe: para contar histórias e dividir histórias”.
Esses dois exemplos provavelmente não estão isolados (não é nosso objetivo fazer uma busca exaustiva) e são mencionados aqui para oferecer uma noção muito contemporânea de como a leitura de obras escritas por mulheres tem sido pautada não apenas pela imprensa e por curadorias de eventos, mas também por iniciativas de outras naturezas, em redes sociais e em encontros presenciais em vários pontos do país.
No entanto, se, de um lado, leitores (normalmente leitoras) e escritores (escritoras) se articulam para um maior consumo de textos de mulheres que escrevem e publicam, é necessária uma contraparte do lado da produção editorial2. É preciso publicar mulheres, torná-las conhecidas, distribuídas e amplificar suas vozes, junto a um público mais vasto. Com isso, passamos a mirar iniciativas de casas editoriais explicitamente direcionadas à publicação de autoras e daí surgiram os dados que aqui compilamos e brevemente apresentamos, a seguir.
A socióloga da literatura Gisèle Sapiro (2016) aponta a identidade de gênero como um dos nichos relevantes para a agenda dos estudos de edição e mesmo literários, no século XXI. Além disso, a autora lembra que foi a partir dos anos 1980 que esses nichos começaram a se impor no mercado de livros, principalmente por meio da publicação de coleções especialmente dedicadas a certos temas ou tipos de autorias. Tais afirmações estão em consonância com o que a monumental obra de Laurence Hallewell (2005) aponta como o período em que as mulheres começam a se tornar mais visíveis como autoras e editoras no Brasil, os anos 1980 e mais ainda os 1990. Vejamos o surgimento de algumas dessas iniciativas no Brasil.
2 Iniciativas em produção editorial: algumas coleções de obras de autoria feminina
Vamos considerar o início das atividades editoriais brasileiras no século XIX, com a chegada da imprensa ao Rio de Janeiro. A partir daí, nossa história editorial e literária é incrementada, em crescente movimento, que entra pelo século XX, profissionalizando-se, lentamente, a partir dos anos 1920-30. A publicação de obras de autoria feminina é notoriamente menor, em relação às autorias masculinas, e segue sendo assim até os dias de hoje. No entanto, a partir dos anos 1980, podemos encontrar algumas iniciativas de nicho, como as mencionadas muito ligeiramente por Sapiro (2016), tais como as que se seguem. Os quadros aqui apresentados foram compostos a partir de levantamentos feitos em coleções bibliográficas e blogs especializados (cf. Bottmann, 2011, 2012, 2014, 2016; e Barbosa, 2014).
É óbvio que autoras foram publicadas esparsamente, fora de coleções, e também em antologias3, ao longo dos séculos XX e XXI, no entanto, a revisão de coleções como estas flagra um movimento mais incisivo em direção à edição de mulheres, especialmente em traduções, no país.
2.1 Coleção Mulheres e Literatura
A editora Paz e Terra foi fundada em 1966, “a partir da publicação da revista de mesmo nome, ligada aos movimentos religiosos ecumênicos com forte expressão naquela conjuntura política brasileira” (Karam, 2016: 59). Seus fundadores foram o editor Ênio Silveira, então diretor da editora Civilização Brasileira, o sociólogo de religião protestante Waldo Cesar e o poeta Moacyr Félix, e sua intenção era claramente a de divulgar ideias consoantes com a Teologia da Libertação e outros movimentos religiosos de caráter progressista. Em seu catálogo, foram publicados muitos intelectuais importantes, mais amiúde na área das Ciências Humanas e Sociais4. Em 1975, a editora foi vendida ao empresário Fernando Gasparian e, atualmente, pertence ao grupo Record.
Na década de 1980, antes de integrar a Record, a Paz e Terra lançou a coleção Mulheres e Literatura, cujo objetivo evidente era publicar grandes escritoras estrangeiras no Brasil. Nos livros, não há indicação de coordenação editorial ou de direção da coleção. O texto de orelha do primeiro livro da série, Caro Michele, de Natalia Ginzburg, dizia:
A Editora Paz e Terra inicia, com Caro Michele, a coleção Mulheres e Literatura, que reunirá algumas das mais prestigiadas autoras da atualidade, entre elas Natalia Ginzburg, Vlady Kociancich, Grace Paley, Anna Seghers. Escritoras de inegável talento, seus nomes figuram entre os mais respeitados da literatura universal.
O livro Nas próximas horas, de Grace Paley, traduzido por Janet Lilian Estill, foi publicado em 1988, sem qualquer referência à coleção, que parece ter se encerrado com os dois livros de Ginzburg (Caro Michele, de 1986, tradução de título idêntico lançado originalmente em 1973, e Léxico familiar, de 1988, tradução de Lessico famigliare, 1963), um da alemã Anna Seghers (Em trânsito, de 1987, tradução para Transit, de 1944, isto é, a edição nacional veio 43 anos depois da original) e um da argentina Vlady Kociancich (no Brasil, Abissínia, também de 1987, tradução de Abisinia, originalmente publicado em Madri, pela editora Alfaguara, em 1983).
O Quadro 1 organiza as informações obtidas, oferecendo também os nomes dos(as) tradutores(as) das obras de autoria feminina trazidas, tão brevemente, pela editora Paz e Terra.
2.2 Coleção As Escritoras
A Art Editora, de São Paulo, foi muito ativa desde meados dos anos 1980 até a metade da década seguinte. Além da coleção aqui tratada, publicou a coleção Toda Poesia, com edições bilíngues de autores como John Keats, W.B. Yeats, François Villon e Góngora, entre outros. Pelo menos seis dos 14 volumes publicados nessa coleção foram traduzidos por Péricles Eugênio da Silva Ramos, que teve também editado um volume de poesias de sua autoria, além de outros brasileiros como Tácito de Almeida, Emílio Moura e Geraldo Carneiro.
A Art Editora destacou-se também por publicar a coleção Grandes Artistas Brasileiros, em formato 21x28 cm, com volumes sobre a obra de Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, Volpi e Lasar Segall, entre outros. Mas o que nos interessa mais de perto, neste trabalho, é a coleção As Escritoras. É de se destacar que sete dos 13 títulos identificados foram romances contemporâneos à época em que foram publicados (dois de autoras brasileiras e cinco traduções), além de três títulos das décadas de 1950 e 60, dois clássicos dos anos 1930 (os romances de Carolina Nabuco e de Jean Rhys) e o canônico O morro dos ventos uivantes, do século XIX.
É possível distinguir os números de volumes publicados sob o selo da coleção As Escritoras, que resultou em uma série de 13 obras, assim nominadas: A sucessora, de Carolina Nabuco, originalmente publicado em 1934; O falecido mundo burguês, de Nadine Gordimer, tradução de The late bourgeois world, de 1966; O morro dos ventos uivantes, de Emily Brontë, originalmente Wuthering Heights, de 1847; Mulher no espelho, de Helena Parente Cunha, de 1982; Razão de Deus, de Muriel Spark, 1984, tradução de The only problem, publicado apenas um ano antes de sua edição brasileira; Bom-dia, meia-noite, de Jean Rhys, tradução de Good morning, midnight, de 1939. Todos esses foram publicados no ano de 1985, o que mostra a intensa atividade da editora, em relação a esta coleção. Em 1986, foram publicados Troca d’armas, de Luiza Valenzuela, originalmente Cambio de armas, de 1982; Todas as nossas lembranças, de Natalia Ginzburg, tradução de Tutti i nostri ieri, 1952; e A maligna, de Fay Weldon, originalmente The life and loves of a She-devil, de 1983. Nos anos seguintes, diminui o ritmo das publicações: em 1987, apenas os títulos Em busca de Christa T., de Christa Wolf, e Senhora Caliban, de Rachel Ingalls, são publicados (respectivamente, nos originais, Nachdenken über Christa T., 1968, e Mrs. Caliban, 1982). Em 1988, somente o livro O lance final, de Yola Oliveira Azevedo, vem à luz (e não obtivemos mais detalhes sobre ele). Finalmente, dois anos depois, em 1990 (data provável), saiu A jovem de Paris, de Joan Aiken (tradução de The young lady from Paris, 1982).
O Quadro 2 oferece melhor visualização e mais informações sobre as obras da coleção As Escritoras, que parece ter cessado suas publicações já no início dos anos 1990.
2.3 Coleção Mulheres Modernistas
A editora Cosac Naify esteve presente no mercado editorial brasileiro durante aproximadamente vinte anos, desde sua fundação, em 1997, até seu abrupto final, anunciado em 2015 pelo editor Charles Cosac. Ficou conhecida pela alta qualidade editorial de suas publicações, destacando- se especialmente pelo design arrojado e extremo cuidado gráfico dos livros, que abrangeram áreas diversas (antropologia, história do design gráfico, literatura estrangeira, poesia, cinema, entre outras).
A coleção que aqui nos interessa, Mulheres Modernistas, teve coordenação editorial da tradutora Maria Helena Arrigucci e chegou a publicar 14 livros entre 2005 e 2012. Os três primeiros títulos da coleção, lançados em 2005, foram A fazenda africana, de Karen Blixen (tradução de Out of Africa, de 1937), a antologia Contos, de Katherine Mansfield, e os Contos completos de Virginia Woolf (tradução de The complete shorter fiction of Virginia Woolf, de 1985). Em 2006, saiu mais um título, o da dinamarquesa Karen Blixen, Anedotas do destino, tradução de Anecdotes of destiny, uma seleção de contos publicada originalmente em 1958.
A publicação da coleção Mulheres Modernistas prosseguiu em 2007 com três títulos: o terceiro de Karen Blixen na coleção, Sete narrativas góticas (tradução de Seven gothic tales, de 1934), e dois livros da francesa Marguerite Duras, O amante (originalmente L'Amant, de 1984) e O homem sentado no corredor/A doença da morte, reunindo as novelas L'Homme assis dans le couloir (de 1980) e La maladie de la mort (de 1982).
Entre 2008 e 2010, a coleção avançou com a publicação de seis títulos, à razão de dois por ano. Em 2008 saíram os Contos completos da norte-americana Flannery O'Connor (tradução de The complete stories, de 1971) e Três vidas, da também norte-americana Gertrude Stein (tradução do clássico Three lives, de 1909). No ano seguinte, saíram Léxico familiar, da italiana Natalia Ginzburg (tradução de Lessico famigliare, de 1963) e outro livro de Gertrude Stein, A autobiografia de Alice B. Toklas (tradução de The autobiography of Alice B. Toklas, de 1933). Finalmente, em 2010, as mesmas autoras publicadas no ano anterior, Natalia Ginzburg e Gertrude Stein, aparecem com, respectivamente, Caro Michele (tradução de Caro Michele, de 1973) e Autobiografia de todo mundo (tradução de Everybody's autobiography, de 1937). Não foi possível localizar títulos publicados em 2011 na coleção, que parece ter se encerrado com a publicação, em 2012, do romance Mrs. Dalloway, de Virginia Woolf, originalmente publicado em 1925.
É de se notar que a maioria dos títulos da coleção Mulheres Modernistas já contava com traduções anteriores no Brasil, muitas delas publicadas na década de 1980, e pelo menos duas foram reaproveitadas: Autobiografia de todo mundo, de Gertrude Stein, publicado em tradução revista de Júlio Castañon Guimarães, com edição anterior pela Nova Fronteira, em 1983; e Léxico familiar, de Natalia Ginzburg, na mesma tradução de Homero Freitas de Andrade publicada na edição de 1988 da Paz e Terra (conf. seção 2.1 deste trabalho). Observe-se também que a italiana Natalia Ginzburg é a única autora a fazer parte das três coleções aqui elencadas.
O Quadro 3 apresenta informações mais detalhadas sobre as obras da coleção Mulheres Modernistas, destacando-se a autoria das traduções de cada volume.
Considerações finais
O esforço de traduzir e publicar autoras de renome internacional no Brasil pode ser constatado por meio dessas três coleções, de três editoras de diferentes perfis, sendo duas iniciativas na década de 1980 e uma já no século XXI. Reiteramos que muitas mulheres foram publicadas fora de coleções, incluindo obras de brasileiras. No entanto, consideramos relevante organizar e dar atenção ao tipo de iniciativa francamente ligado à publicação de mulheres, conforme foi possível executar neste trabalho.
Em relação às traduções publicadas nas três coleções abordadas, é interessante observar que as duas primeiras, da Paz e Terra e da Art Editora, ambas da década de 1980, contaram com primeiras traduções brasileiras das obras publicadas: todas as cinco da coleção Mulheres e Literatura, da Paz e Terra, e nove das dez traduções da coleção As Escritoras, da Art Editora. A exceção ficou por conta de O morro dos ventos uivantes, publicado numa tradução editada em 1971 pela Bruguera, além do fato de o livro já contar com várias outras traduções brasileiras, pelo menos desde 1938 (Bottmann, 2012).
Já a coleção Mulheres Modernistas, da Cosac Naify, inclusive pelo fato de ter sido editada nos primeiros anos do século XXI, teve condições de publicar novas traduções de obras anteriormente publicadas no Brasil. Assim, em relação às sete autoras publicadas nos 14 volumes da coleção, é possível dizer que os três livros de Karen Blixen (Isak Dinesen) tinham traduções anteriores no país: A fazenda africana . Sete narrativas góticas (com o título de Sete novelas fantásticas) saíram em 1979, pela Civilização Brasileira, em tradução de Per Johns, e Anedotas do destino (ou A festa de Babette e outras anedotas do destino) saiu em 1986, pela Record, em tradução de Isabel Paquet de Araripe.
Sobre os três livros de Gertrude Stein, a situação é parecida: Três vidas saiu pela Cultrix, em 1965, em tradução de Brenno Silveira e José Paulo Paes; A autobiografia de Alice B. Toklas saiu pela gaúcha L&PM, em 1984, em tradução de Milton Persson; e Autobiografia de todo mundo, como vimos, saiu pela Nova Fronteira, em 1983, e teve a tradução revista por Júlio Castañon Guimarães para a edição da Cosac Naify, já nos anos 2000 (BARBOSA, 2014).
Os dois livros de Marguerite Duras também já tinham traduções anteriores no Brasil: O amante saiu pela Nova Fronteira, em 1985, traduzido por Aulyde Soares Rodrigues, e as novelas O homem sentado no corredor . A doença da morte, publicadas em volume único pela Cosac, haviam saído, respectivamente, em 1987, pela Record, traduzido por Sieni Maria Plastino, e 1984, pela Taurus, em tradução de Jorge Bastos (Bottmann, 2014).
Os dois livros de Natalia Ginzburg, como vimos, já haviam sido publicados pela Paz e Terra na coleção Mulheres e Literatura: Caro Michele, em 1986, em tradução de Federico Mengozzi, e Léxico familiar, em 1988, na mesma tradução de Homero Freitas de Andrade utilizada pela Cosac Naify. Já os dois livros de Virginia Woolf apresentam situações diferentes: Mrs. Dalloway foi o primeiro romance da autora traduzido no Brasil, editado pela Globo, em 1946, em tradução de Mario Quintana (Bottmann, 2011), ao passo que a edição de seus Contos completos representou uma novidade, na medida em que, até 2005, os contos da autora haviam sido publicados apenas de maneira esparsa no país, em antologias diversas. Parece-nos importante frisar que diferentes tipos de publicação, em obras reunidas ou esparsas, alteram a visibilidade de uma obra e o modo como ela circula e chega ao leitor e à leitora.
Sendo contista, a neozelandeza Katherine Mansfield, com um único título na coleção, sempre foi publicada no Brasil em antologias de tamanho variado. A primazia coube a Felicidade, uma edição de 1940, da Livraria do Globo, em tradução de Erico Verissimo (Bottmann, 2016), sendo que a edição da Cosac Naify traz um total de doze contos, em nova tradução. Finalmente, a norte-americana Flannery O'Connor aparece com a edição de seus Contos completos, até aquele momento (2008) inéditos no Brasil, país em que haviam sido publicados apenas dois de seus romances.
Se estivermos certos, em consonância com o que aponta Hallewell (2005) quanto à emergência das mulheres no cenário editorial e literário brasileiro, há quase quarenta anos ocorrem iniciativas cujo objetivo é, claramente, visibilizar e dar a conhecer livros de autoria feminina no Brasil, com curadoria que busca, em tese, nomes e títulos de relevância e reconhecimento mundiais. Com essas iniciativas, nomes e obras são injetados na cena nacional, em língua portuguesa (o que também significa atingir leitores e leitoras para além do Brasil), inspirando outras coleções e obras, também esparsas, de autoria de mulheres, inclusive brasileiras. Tais iniciativas não são desprezíveis, daí nosso esforço de organização, embora não sejam também definitivamente suficientes para uma mudança contundente em um cenário que permanece mais árido para autoras, especialmente na literatura.
Referências
Barbosa, Luiz Guilherme. (11 jul. 2014) Dossiê Gertrude Stein no Brasil. Disponível em: <https://geleiacomrequeijao.wordpress.com/2014/07/11/dossie-gertrude-stein-no-brasil/>. Acesso em 24 mar. 2018.
Bottmann, Denise. (8 ago. 2011) Virginia Woolf traduzida no Brasil. Disponível em: <http://naogostodeplagio.blogspot.com.br/2011/08/woolf-no-brasil.html>. Acesso em: 24 mar. 2018.
Bottmann, Denise. (11 jun. 2012) Emily Brönte no Brasil. Disponível em: <http://naogostodeplagio.blogspot.com.br/2012/06/emily-bronte-no-brasil.html>. Acesso em: 24 mar. 2018.
Bottmann, Denise. (16 mar. 2014) Marguerite Duras no Brasil. Disponível em: <http://naogostodeplagio.blogspot.com.br/2014/03/marguerite-duras-no-brasil.html>. (Acesso em: 24 mar. 2018.
Bottmann, Denise. (5 jun. 2016) Katherine Mansfield no Brasil. Disponível em: <http://naogostodeplagio.blogspot.com.br/2016/06/katherine-mansfield-no-brasil.html>. Acesso em: 24 mar. 2018.
Hallewell, Laurence. (2005) O livro no Brasil. Sua história. Trad. Maria da Penha Villalobos, Lólio Lourenço de Oliveira e Geraldo Gerson de Souza. 2 ed. São Paulo: Edusp.
Karam, Sérgio Bandeira. (2016) A tradução de literatura hispano-americana no Brasil: um capítulo da História da Literatura Brasileira. Dissertação (Mestrado em Literatura Brasileira). Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Disponível em: <http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/172902/001060383.pdf?sequence=1>. Acesso em: 23 mar. 2018. Ribeiro, Ana Elisa. (2017)
Ribeiro, Ana Elisa. (2017) Mujeres editoras en Brasil: un registro preliminar. Jornadas 2017 de la Facultad de Humanidades y Ciencias de la Educación de la Universidad de la Republica, Uruguay, 11-13 out.
Sapiro, Gisèle. (2016) La sociología de la literatura. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica.
Notas
Autor notes