Secciones
Referencias
Resumen
Servicios
Descargas
HTML
ePub
PDF
Buscar
Fuente


A contribuição literária do General Abreu e Lima: recepção na História da Literatura Brasileira*
The literary contribution of General Abreu e Lima: reception in the History of Brazilian Literature
Amoxtli, núm. 3, pp. 17-34, 2019
Universidad Finis Terrae

Artículos


Recepção: 09 Abril 2019

Aprovação: 24 Julho 2019

DOI: 10.5281/zenodo.3518480

Resumo: O presente artigo visa analisar a recepção de José Ignácio de Abreu e Lima (1794-1869) na História da Literatura Brasileira. Este foi general de Simón Bolívar (1767-1830) e teve destacada contribuição na nascente historiografia literária brasileira, com ensaios que se denotam tanto como síntese histórica quanto declarações de constituição de uma literatura para o país. Ao analisar os principais livros historiográficos inscritos na área da Literatura Brasileira, observamos a disparidade nas abordagens dos críticos em torno da contribuição deste intelectual oitocentista. Podemos concluir que houve por parte dos críticos a tentativa de incluí-lo em duas categorias: 1) para Sílvio Romero e José Veríssimo, Abreu e Lima estaria vinculado à categoria oitocentista de “publicistas e oradores”; 2) Mais adiante, Nelson Werneck Sodré integra o nome do escritor à historiografia literária. A partir disso, pensando na sua contribuição nas discussões sobre a formação da historiografia do campo, Antônio Candido, Alfredo Bosi e Roberto Acízelo de Sousa reiteram a presença de Abreu e Lima nesta última categoria.

Palavras-chave: Abreu e Lima, Escritor público, História da Literatura Brasileira.

Abstract: This article aims to analyze the reception of José Ignácio de Abreu e Lima (1794-1869) in the History of Brazilian Literature. This was general of Simón Bolívar (1767-1830) and had outstanding contribution in the nascent Brazilian literary historiography, with essays that denote both as historical synthesis as declarations of constitution of a literature for the country. In analyzing the main historiographical books inscribed in the area of Brazilian Literature, we observe the disparity in critics’ approaches to the contribution of this nineteenth-century intellectual. We can conclude that critics have tried to include it in two categories: 1) for Sílvio Romero and José Veríssimo, Abreu e Lima would be linked to the nineteenth-century category of “publicists and speakers”; 2) Later, Nelson Werneck Sodré integrates the writer’s name into literary historiography. From this, thinking about their contribution in the discussions about the formation of the historiography of the field, Antônio Candido, Alfredo Bosi and Roberto Acízelo de Sousa reiterate the presence of Abreu e Lima in the last category.

Keywords: Abreu e Lima, Public writer, History of Brazilian Literature.

José Ignácio de Abreu e Lima1 nasceu no dia 6 de abril de 1794, no Engenho Casa Forte, Recife (PE), propriedade que fora herdada pelo pai, o revolucionário Padre Roma2 (1768-1817). Filho de uma família de boas condições, o jovem recebeu educação e estudo condizentes às elites à época. O fato de ter pertencido a uma família receptiva às causas revolucionárias, a exemplo do seu irmão Luís Ignácio (1797-1848), que participou ativamente da Revolução Praieira, de 1848, e, sobretudo, por influência do seu pai, pode ter sido uma das razões que, provavelmente, levou Abreu e Lima a seguir a carreira militar: “Para as famílias nobres desse período, o ingresso na vida militar era uma forma de conquistar prestígio político, além da oportunidade de vivenciar a vida política na então capital do Brasil”3.

Ele transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde estudou na Real Academia Militar, pois teve “4 avós nobres”, que era um dos requisitos para ingresso na instituição, conforme o regulamento. Em 1816, depois de estudar quatro anos incompletos, formou-se como capitão de artilharia e professor de matemática. Após sua formatura, foi enviado para servir em Angola, atuando “como membro de uma comissão que tinha por objetivo instruir a oficialidade daquela colônia portuguesa”4, passando nove meses na África. Ao retornar ao Brasil, foi obrigado a presenciar, ao lado do irmão Luís, o fuzilamento do pai. O Padre Roma havia sido preso no momento em que cumpria missão dada pela junta revolucionária de Pernambuco da Insurreição de 1817. Este acontecimento marcou a vida do jovem, que iria relembrar o momento anos mais tarde nas páginas do seu Compêndio:

No momento em que escrevo estas linhas, assalta-me todo o horror d’ aquella tremenda noite, em que fui quase companheiro da victima: era eu que parecia o condenado, e não ella. Tenho visto morrer milhares de homens nos campos de batalha, e muitos nos supplicios, mas nunca presenciei tanta coragem, tanta abnegação da vida, tanta confiança nos futuros destinos da sua pátria, tanta resignação emfim; era meu pai quem me animava, porque eu parecia inconsolavel; uma mão de ferro me arrancava o coração; meu pranto e minha dor commoviam a todos os que se achavam presentes; era mister separar-me então para dar alívio às minhas lagrimas, e me conduziam à outra prisão, donde voltava depois a poder de minhas supplicas, até que foi forçoso arrancarem-me de seus braços para sempre5.

Depois da morte do pai, Abreu e Lima escreve carta para Simón Bolívar (1767-1830) oferecendo seus serviços de militar, que o aceitou. Sendo assim, seguiu à Venezuela para integrar como capitão de artilharia o exército libertário juntamente com Bolívar, participando de todas as batalhas ao lado dele.

Naquelas terras hispânicas, Abreu e Lima começou a desenvolver atividades nas letras, atuando na redação do Correo del Orinoco, semanário em oposição à reacionária Gaceta de Caracas. Por incumbência do Libertador, ele também escreveria o Resumen histórico de la última dictadura del Libertador Simón Bolívar; comprobada con documentos6, que se limita ao período de 1826, quando Bolívar retorna do Peru à Grã-Colômbia, sendo publicado em periódicos e panfletos de época, entre os anos de 1828 e 1830, para defendê-lo das acusações do filósofo francês Benjamin Constant (1767-1830), tornando-se um dos pioneiros trabalhos biográficos sobre Bolívar7.

Com a morte de Bolívar, Abreu e Lima retornou ao Brasil, indo residir no Rio de Janeiro, já com seu título de general, alcançado pelos governos da Colômbia e Venezuela8. O pernambucano envolveu-se com a política e participou ativamente dos debates, da vida na corte, e das polêmicas através das letras. O Bosquejo9 é a obra que marca o retorno de Abreu e Lima à sua terra. Surgida de artigos publicados no Mensageiro Niteroiense10, teve como escopo reivindicar os projetos de lei que havia sido apresentado pelos deputados Antônio Ferreira França e Rafael de Carvalho, sobre a causa monárquica do Brasil e a Igreja Católica.

Depois do Bosquejo, publicou o seu Compêndioda História do Brasil, em 1843, primeiro compêndio do país nesta área, oferecido ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB). Em 1850, o Compêndio foi utilizado no lugar do Resumo de História do Brasil até 1828 (1831), de Henrique Luís de Niemeyer Bellegarde (1802-1839), e foi o livro usado nas escolas durantes os anos de 1850 a 1862, sendo substituído por Liçõesde História do Brasil (1861), de Joaquim Manoel de Macedo (1820-1882)11. O Compêndio rendeu ao seu autor uma acusação de plágio pela obra, por meio do parecer de Francisco Adolfo de Varnhagen (1816-1878) da Comissão de Legislação do IHGB. A polêmica foi um dos motivos que acelerou o retorno do general ao Recife, em 1844.

Logo de sua chegada, manteve ainda o vínculo com a capital do Brasil, ao publicar a Respostaao Cônego Januário da Cunha Barbosa ou Análise do Primeiro Juízo de Francisco Adolfo Varnhagen12, onde rebatia os pontos do parecer do IHGB e explicava o mérito de sua obra. No período em que esteve no Rio de Janeiro, Abreu e Lima envolveu-se em diversas polêmicas, sendo alvo constante de crítica. Na volta a Pernambuco não seria diferente, pois não demorou a ser acusado13 e ter seu nome entre os líderes da Revolução Praieira14, ocorrida na província, em 1848.

Após esta fase conturbada, o general pernambucano viveu isolado, recebendo poucas visitas de admiradores e amigos. Esse teria sido o período mais fértil de produções literárias, pois além de colaborar em diversos jornais do Recife, esteve também escrevendo obras, muitas das quais ficaram perdidas15. Esta cidade, em fins da década de 1840 e início de 1850, vivia o “maligno vapor pernambucano”, embebido pela crítica social e pelas ideias socialistas16. Abreu e Lima participou deste cenário, convivendo com as ideias socialistas que eram propagadas por diferentes intelectuais, como o engenheiro Louis Léger Vauthier (1815-1901), que estava a trabalho naquela capital. Com o objetivo de analisar o socialismo dos autores franceses, como Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865), Jean Baptiste Joseph Fourier (1768-1830) e o inglês Robert Owen (1771-1858)17, em 1852 Abreu e Lima escreveu O Socialismo, a primeira obra do Brasil a tratar este tema, e que viria a ser publicada em 1855. Em 1868, escreveu seu último trabalho, a Carta18 ao General Páez, que representava o único testemunho conhecido até agora das Guerras de Libertação da “Grande Colômbia” feita por um brasileiro, e serviu de fonte para seus biógrafos. Em março do ano seguinte, veio a falecer devido a uma grave enfermidade, sendo sepultado19 no Cemitério dos Ingleses, na capital.

Além dos livros mencionados20, Abreu e Lima escreveu sobre direito criminal, medicina, ecologia prática, religião, entre outros temas, os quais não receberam reedições posteriores: “Sua obra já era considerada rara e esgotada em 1882, ao tempo da publicação do Dicionário Biográfico de Pernambucanos célebres21, pois, “estranhamente aqueles que reverenciaram Abreu e Lima no decorrer dos anos nunca tiveram a preocupação de difundir, através de reedições, as suas mais importantes produções literárias”22. As obras mais reeditadas de Abreu e Lima foram o Compêndio, que teve cinco edições, sendo a última póstuma, de 1882, e O Socialismo, que teve quatro edições. Outras edições póstumas saíram em comemorações a eventos, como foi o caso da Sinopse, que teve sua segunda edição pelo bicentenário do nascimento de Bolívar, em 1983.

Abreu e Lima destacou-se, ao longo de sua trajetória de intelectual, como um escritor da história e da política, o que pode ser justificado através de sua formação como militar, que influenciou seus principais escritos, não se aventurando pela ficção. No entanto, é importante mencionar o que ele produziu como literatura. Ao analisar os principais livros de história da literatura publicados no país, desde a consolidação da Literatura Brasileira como disciplina, e revisitando as reflexões de nomes como Sílvio Romero (1851-1914) e Antônio Candido (1918-2017), destacamos diferentes abordagens dos críticos sobre a contribuição do pernambucano na nascente literatura, que inclui a tentativa alocá-lo nas categorias de “publicistas e oradores” e na de historiografia literária.

Entre “publicistas e oradores”

O contexto de produção das principais obras historiográficas de Abreu e Lima esteve relacionado ao momento de entrelaçamento da Literatura Brasileira com a política, tendo seu estopim com Silva Alvarenga (1749-1814), e, posteriormente, com o grupo em torno dele, a Sociedad e Literária, que teve desenvolvimento com os alunos por ele formados como Mestre de Retórica e Poética23. Este movimento iniciado por Alvarenga e pelos próceres da Independência teve continuidade e despertou nos escritores uma tomada de consciência de si mesmos e de seu papel em se trabalhar pela pátria.

Nos primeiros idos do século XIX, emergiram “no Brasil condições para definir tanto o público quanto o papel social do escritor em conexão estreita com o nacionalismo”24. Era intenção dos românticos brasileiros, assim como de outros países, estabelecer a identidade nacional25. Primeiro, inventavam uma tradição nacional, em seguida, acreditavam nela e formavam uma identidade. É importante observar que, no caso do Brasil, alguns dos escritores possuíam dupla militância, sendo políticos e escritores, e se esforçavam em impulsionar as nações segundo suas crenças político-intelectuais.

Dessa forma, a atividade criadora se desenvolveu apoiada no nativismo e no civismo, que funcionava como maneira para aproximar o leitor, tomando como princípio a propagação das ideias. Paralelo a este evento, formou-se um público de auditores, que esperava nos escritores bom desempenho na oratória, além do apego à cor local, revelando que o homem de letras estava “disposto a falar em público”26. A tradição de auditório seguiu por todo o século XIX e inicio do XX, e nas primeiras histórias literárias o nome de Abreu e Lima aparece vinculado ao desses “publicistas e oradores”, cabendo-nos avaliar sua alocação nesta categoria.

Neste período em que as produções literárias ainda conviviam entre a oscilação do velho e do novo padrão estético – do Arcadismo para o Romantismo –, de acordo com Antônio Candido, os escritores produziam para ganhar prestígio e para obter recompensas27. Com relação à questão dos gêneros públicos, Candido faz uma divisão em “oradores” e “jornalistas”, sendo que o primeiro, fruto da inspiração do momento, não resistiu ao tempo, e o jornalístico conservou-se embasado nas publicações periódicas e nos ensaios28.

De acordo com esta divisão, Abreu e Lima teria o perfil do jornalista, que escreveu, sobretudo, panfletos ou jornais breves. No seu retorno ao Brasil, foi no Rio de Janeiro, entre os anos de 1833 a 1840, que participou dos debates políticos por meio das matérias veiculadas em quatro jornais: A Torre de Babel (1833), Arca de Noé (1833), Raio de Júpiter (1836) e o Maiorista (1840), em que manifestava seu apoio à Monarquia e à Maioridade de D. Pedro II. Nas páginas destes jornais, ele explicava o que era ser escritor naquela época. Apesar de escrever para A Torre de Babel29, declarava que tinha como única razão participar da “moda” de publicar periódicos30. Por outro lado, ele escrevia muito mais para obter prestígio, conforme destacou Antônio Candido, pois via a produção escrita como um instrumento de luta, que poderia integrá-lo à posição que almejava na conjuntura da política nacional31.

No entanto, o caminho que percorreu na tentativa de formular uma historiografia literária e histórica foi trabalhoso. Nos últimos anos em que passou no país, ele vivia do dinheiro que resgatou dos bens da família e do que acumulava com seu trabalho. O escritor que procurava prestígio e reconhecimento atrelava-se ao social, e escrever passou a ser um meio de sustento, enfrentando também dificuldades, como algumas vezes em que convivia com as exigências de produzir em curto prazo, ou nos momentos em que lhe faltava dinheiro para imprimir seus trabalhos, chegando a combinar com os editores que retirassem as notas de rodapé, pois assim a impressão ficaria mais em conta. Nesta época, Abreu e Lima integrava-se ao círculo de relações com os editores de alguns de seus trabalhos32, e acreditamos que isso teria facilitado a divulgação de suas ideias e a colaboração na parte das impressões, como é o caso dos laços com o irmão Luís Ignácio, que tinha uma Tipografia e editou panfletos de Abreu e Lima.

No momento de produção dos seus principais livros, Abreu e Lima teria também se aproximado dos irmãos Laemmert33. Com a Tipografia Universal, além das produções de trabalhos de autores brasileiros, Eduardo Laemmert (1806-1880) interessava-se por obras traduzidas do francês34. Um dos primeiros livros que ganhou sua atenção foi a História Criminal do Governo Inglês desde as primeiras matanças da Irlanda até o envenenamento dos chinas por Elias Regnault(1842), assinada “Por um Brasileiro”, mas que é traduzida por Abreu e Lima, que usou este pseudônimo em alguns de seus trabalhos. Os Laemmert e a Tipografia Universal editaram os dois volumes do seu Compêndio da História do Brasil (1843), e, posteriormente, uma edição única do Compêndio (1843), viabilizando um melhor custo e disponibilidade aos leitores, além dos cinco tomos da sua HistóriaUniversal (1846-1847) e O Socialismo (1855).

Embora tivesse publicado muito, nem sempre Abreu e Lima se reconhecia como escritor. Apesar de, na maioria das vezes, não ter tido uma postura de autoafirmação, ele tinha a consciência do valor de cada obra que produzia. Em 1844, mais convicto, conceitua o que seria um homem de letras. Nas páginas da Resposta do general J. I. de Abreu e Lima ao Cônego Januário da Cunha demonstrou como um escritor era formado e como deveria ser alguém que atuasse também como crítico, capaz de emitir juízo de valor sobre outros trabalhos. Para ele, um homem de letras era, sobretudo, um escritor que publica, e um leitor, destacando o quanto era necessário ter uma base sólida e conhecer autores e obras, tanto nacionais quanto estrangeiros. É nesse texto em que ele se intitula como “escritor público”, expressando a preocupação de sua reputação como escritor, depois que foi acusado de plágio pelo IHGB.

Romero, na sua Históriada Literatura Brasileira (1888)35, no capítulo em que abarca o panorama do Romantismo, retoma Abreu e Lima como escritor público, destacando a questão do prestígio ao integrá-lo ao círculo dos homens de letras daquele momento:

Foi o tempo em que Magalhães, Porto Alegre, Varnhagen, Torres Homem, Penna Macedo, Gonçalves Dias, Nunes Ribeiro, Adet, Bourgain, Norberto Silva, Mello Moraes, Pereira da Silva, Ignacio Acciolli, Abreu e Lima, Joaquim Caetano, e vinte outros conheciam-se, relacionavam-se, encontravam-se no Instituto Histórico, em casa de Paula Brito, ou na Petalogia do Largo do Rocio36.

Apesar de apenas citar o nome do general pernambucano entre os intelectuais que se reuniam, dentre outros locais, no IHGB, Romero completa a nota afirmando que eles eram alguns dos mais valorosos talentos que o Brasil tinha produzido37. Além disso, é preciso ressaltar que esta colocação de Romero dá destaque para o fato de que naquela época havia um número reduzido de escritores, e até a primeira metade século XX isso permanecerá38. Mesmo com a valorização para a figura pública de Abreu e Lima, ele não faz um aprofundamento da categoria de publicistas, como José Veríssimo (1857-1916) na sua História da Literatura Brasileira (1916).

No capítulo sobre o Romantismo,Veríssimo aponta o aparecimento de gêneros variados no período nacional, “a filosofia, a crítica e a história literária, o teatro, a oratória política e parlamentar, a ficção em prosa e as vernaculamente chamadas questões públicas, ou publicística, segundo o barbarismo em voga”39. Veríssimo observa ainda que, no Brasil, o estabelecimento da imprensa, assim como o da sede da monarquia portuguesa em 1808, estimularam o sentimento nacional e fomentaram as publicações de assuntos econômicos, políticos e sociais feitas pela Imprensa Régia, depois Imprensa Nacional.

Na sua história da literatura, que vai de Bento Teixeira a Machado de Assis, o nome de Abreu e Lima não podia passar despercebido. Logo na parte sobre a oratória política a partir de 1823, momento em que destaca a atividade literária dispersiva na Província de Pernambuco, Veríssimo observa que Abreu e Lima deixou na sua terra natal, e no Brasil ilustrado, o renome de um polígrafo notável, e foi um dos nomes que tiveram certa popularidade na época40:

Escreveu com efeito compêndios de História do Brasil, polêmica literária e religiosa, o primeiro livro sobre o socialismo aqui publicado (O Socialismo, Recife, 1855, 352 págs.), obras de direito ou sobre questões públicas, estudos diplomáticos e médicos, etc., tudo com certo vigor de estilo, mas com graves falhas sob o aspecto da linguagem41.

Embora destacasse o fato dele ter sido um “polígrafo”, ou seja, um escritor que tratou de diversas matérias científicas ou filosóficas, ele não menciona quais escritos de Abreu e Lima apresentavam graves falhas no aspecto da linguagem. José Veríssimo ratifica que Abreu e Lima pertenceu à categoria de “publicistas e oradores”, que achamos adequado, visto que ele próprio se definiu como escritor público, que realizava atividades extraliterárias ao escrever para a vida pública, desenvolvendo as linhas ideológicas que marcavam os debates sobre o contexto político do período da Regência e do Segundo Reinado. A avaliação dele como publicista por estes dois críticos ainda é restrita, pois eles se preocuparam muito mais em definir o conceito do gênero em questão do que aprimorar uma análise crítica da contribuição de Abreu e Lima como jornalista ou até mesmo de discutir a questão historiográfica.

Recepção de Abreu e Lima na historiografia literária brasileira

O escritor Abreu e Lima aparecia nas discussões historiográficas como um contestador, enquanto outros críticos, também contemporâneos seus, pertenciam aos círculos oficiais, como Januário da Cunha Barbosa (1780-1846) e Adolfo Varnhagen, dois pioneiros nos trabalhos em prol da historiografia brasileira, que não reconheceram as contribuições ensaísticas de Abreu e Lima, e avaliaram negativamente sua produção. Os debates suscitados com a polêmica do IHGB, que envolveram Januário e Varnhagen, contribuíram para que Abreu e Lima se posicionasse de modo mais criterioso sobre conceitos pertinentes à Literatura Brasileira de seu tempo, como “homem de letras”, “escritor”, “crítica literária”, “plágio”, dentre outros, e para que ele mesmo emitisse juízo de valor sobre alguns dos nomes que produziam literatura.

Apesar de Abreu e Lima ter tido a experiência com gêneros literários diferentes42, que são pouco referidos por seus estudiosos – deixou o seu Diário particular do General J. I. de Abreu e Lima (1843-1845), teria escrito três poemas, dois sonetos dedicados à Frei Caneca, que integram os Escritos(1824) de Abreu e Lima, e mais um poema, que teria dedicado à filha de Lourenço de Sá e Albuquerque (1797-1897) – o Barão de Guararapes –, Mariana de Sá e Albuquerque, pertencente ao Álbum de Recordações de Mariana; e foi para a mesma Mariana a quem ele dedicou um conjunto de Cartas de amor (1865-1869)43 –, sua presença nas histórias literárias é devido à sua contribuição na história da literatura do país com ensaios críticos para se pensar a literatura em formação, discussões presentes, sobretudo, no seu Bosquejo.

Para Abreu e Lima, a literatura produzida pelos portugueses não trazia grandes contribuições para que houvesse um avanço intelectual, tanto para Portugal como para o Brasil, já que para ele, os portugueses se baseavam nas memórias da Academia Real das Ciências. Mesmo assim, o Brasil apresentava algumas criações literárias como as de José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838) e de José da Silva Lisboa (1756-1835) – o Visconde de Cairu –, que não deviam ser consideradas como grandes produções. Para Abreu e Lima, o trabalho mais relevante da época era o Dicionário Clássico da Língua Portuguesa de Antônio de Morais Silva (1755-1824), além do Caramuru, do Uraguai e da Marília de Dirceu.

A falta de uma literatura estava associada à carência de uma doutrina própria, visto que Abreu e Lima compreendia a literatura como “o corpo de doutrinas que professava uma Nação”, e ao entender a literatura como corpo de doutrinas valorizava também as obras da ciência. A concepção de literatura para Abreu e Lima ainda era a de erudição, apresentando um conceito muito amplo, pois para ele a literatura não compreendia somente “os versos, os contos e os romances em si, mas tudo que porventura tenha sido escrito ou vinha se escrevendo no campo filosófico e científico”44. Quando Abreu e Lima faz uma análise de quatro séculos da história da inteligência em Portugal, ele afirma que os portugueses nunca se encaminharam pelas ciências da utilidade. Nesse ponto, para tratar mais a fundo o que seria “ciência da utilidade” Abreu e Lima retoma “o sentido tradicional que os bibliógrafos davam à palavra literatura”45, “classificando os livros entre os de ciência e os de arte”46:

A classificação mais geral dos livros, que tratão das sciencias e das artes, He concebida nestes termos; Sciencias: abstractas, positivas, exactas, experimentaes e naturaes; Literatura: Gramaticas, Diccionarios, Classicos da lingoa, Retorica, Eloquencia, Poesia, Historia, e tudo quanto se comprehende na denominação de Bellas letras e Humanidades47.

O sentido de literatura para Abreu e Lima pode ser aproximado dos verbetes da Enciclopédia de Diderot e d’Alembert, do século XVIII, em que os autores empregam como partes da literatura “a Gramática, a eloquência, a poesia, a História, a crítica” e destacam não só o enriquecimento mútuo entre as letras e a literatura, mas também a união entre elas como fator responsável pelo florescimento de uma nação48. Um dos pontos questionados no Bosquejoé o da nacionalidade da literatura. Tanto Abreu e Lima como José da Gama e Castro49 defendiam que o Brasil ainda não tinha uma literatura própria50. O posicionamento de Abreu e Lima foi questionado por críticos contemporâneos dele como Joaquim Norberto de Souza Silva (1820-1891) e Santiago Nunes Ribeiro. Antônio Candido e Almeida Gonçalves apontaram que para Nunes Ribeiro o ensaio de Abreu e Lima representava uma ameaça na construção da autonomia da literatura brasileira, sendo contrário ao teor nacionalista, que tinha Nunes Ribeiro como um dos expoentes51.

Apesar das várias considerações negativas no século XIX sobre as contribuições de Abreu e Lima para a historiografia, Roberto Acízelo de Souza foi quem reavaliou criticamente sua presença nesse campo. No entanto, antes dele, Nelson Werneck Sodré (1911-1999), Antônio Candido e Alfredo Bosi introduziram as discussões referentes a esta questão. Na História da Literatura Brasileira (1938), Sodré cita o nome de Abreu e Lima em diferentes momentos. Primeiro, pela participação na história ao lado dos Libertadores, como uma figura sugestiva nas lutas de Bolívar e nas agitações do Recife52, depois, por ser uma personalidade singular que aguarda interpretação, que espera um biógrafo. Na parte das letras, destaca o trabalho de Abreu e Lima como continuador, após Gonçalves de Magalhães (1811-1882), do esboço da crítica da história literária brasileira53, e com relação aos seus escritos, menciona que ele “escreveu livros como a Cartilha do Povo. O Socialismo, verdadeiramente surpreendentes no âmbito do tempo”54, que “deixara trabalhos incompletos, desordenados, mas cheios de observações pessoais e de pontos de vista interessantes, inteiramente destoantes de conformismo”55.

O posicionamento de Sodré em ressaltar em um livro de história literária a personalidade de Abreu e Lima como general pode estar correlacionado ao fato dele ter tido também uma formação militar assim como teve o pernambucano. No entanto, a contribuição de Sodré vai ser importante por alocar Abreu e Lima na tradição da crítica à história da literatura brasileira, integrando-o nas discussões após Gonçalves de Magalhães. Depois de Sodré, convém mencionarmos a avaliação de Antônio Candido, na Formaçãoda Literatura Brasileira (1959), que mesmo na parte dedicada ao embrião da historiografia literária, ou nas biografias de alguns homens ilustres da província de Pernambuco, Abreu e Lima não é destacado. Apesar disso, apenas no capítulo VIII, da “Consciência Literária”, ele é citado brevemente na parte sobre a teoria da literatura brasileira, quando Candido menciona nomes que contribuíram para firmar o nacionalismo, Januário, Magalhães e Pereira da Silva, que refutavam “as ideias defendidas por Abreu e Lima”, Gama e Castro, e Nunes. Ainda que articule o nome de Abreu e Lima na parte referente à historiografia, para Candido, Abreu e Lima seria mais um contestador, e não pertencente ao círculo oficial dos escritores que pertenciam ao cânone historiográfico daquela época.

Alfredo Bosi, no capítulo dedicado ao Romantismo, na HistóriaConcisa da Literatura Brasileira (1970), foi mais adiante ao pensar em uma consciência histórica e crítica. Ele divide em quatro os grupos que estavam desenvolvendo tendências diferentes da visão romântica, e inclui Abreu e Lima como um dos integrantes do “Grupo Pernambucano”, que representava a ponta de lança do progressismo liberal romântico56. Por seus escritos, Bosi integra-o à maneira de pensar do radicalismo, afirmando que ele viveu em aparentes contradições, com linha nitidamente liberal, e destaca oito de suas obras, sobretudo, o Bosquejo (1835), pelas ideias socializantes e democráticas do livro. É importante destacar as considerações de Bosi na tentativa de alocar os autores daquela época em grupos particulares, assim como fez com Abreu e Lima, embora nesta parte de sua História da Literatura não tenha se aprofundado sobre a historiografia.

Roberto Acízelo de Souza, recentemente, publicou dois livros, cada qual com um capítulo dedicado a Abreu e Lima, onde reavaliou a contribuição do pernambucano na historiografia ltierária. O primeiro é a Introduçãoà historiografia da Literatura Brasileira57, em que no capítulo “O Cônego e o General: uma controvérsia matricial sobre a ideia de Literatura Brasileira”, Souza faz uma atualização acerca da opinião de alguns críticos sobre a produção de Abreu e Lima, alocando-o na categoria oitocentista de “publicistas e oradores”58, assim como fez José Veríssimo. Para Veríssimo, esta categoria dos escritores daquele período teria sido impulsionada pelo regime de livre opinião e publicação do pensamento, que foi articulada com a Independência, favorecendo o advento de novas expressões da nossa atividade mental59. Acízelo ainda enfatiza que Abreu e Lima foi um dos primeiros que desenvolveu a abordagem de “insuficiência da simples natureza”, ideia abarcada posteriormente por outros autores, como Nunes Ribeiro ao falar de “sentido oculto” e Machado de Assis (1839-1908) em “Sentimento íntimo x Instinto de Nacionalidade”60.

Na Historiografia da Literatura Brasileira: textos fundadores (1825-1888)61, Souza divide os textos fundadores da Literatura, do período correspondente entre os anos de 1825 a 1888, em sete categorias. Para ele, e partindo dessas categorias, Abreu e Lima estaria enquadrado em duas: na segunda categoria, dos “ensaios que contém verdadeiras declarações de princípios para a Instituição de uma Literatura Brasileira autêntica e emancipada, que em alguns casos se conjugam a projetos para a elaboração de sua história ou a sínteses historiográficas do seu desenvolvimento”62, por seu texto “Para a regeneração Intelectual do Brasil”, e na terceira categoria, dos “ensaios que se apresentam como síntese histórica da literatura brasileira, envolvendo o seu conjunto ou cingindo-se a um gênero específico”63, por seu texto “Do Atraso Intelectual do Brasil”.

Dessa forma, a partir da retomada nas considerações destes críticos, podemos dizer que a mais adequada avaliação da contribuição de Abreu e Lima na Literatura Brasileira é feita por Roberto Acízelo, que delimita sua análise a partir do Bosquejo e do Compêndio. Ele não se restringe a alocar Abreu e Lima apenas como mais um autor na categoria de “publicistas e oradores”, como pensou José Veríssimo e Sílvio Romero. Posteriormente, na Historiografia da Literatura Brasileira, é o momento em que o escopo é a historiografia, integrando cada autor a uma das sete categorias que ele desenvolve.

Diante de um quadro de autores ainda pouco explorados pela crítica, que integraram o período oitocentista no Brasil, e que, por vezes, não são lembrados por suas contribuições, é Roberto Acízelo quem vai destacar que, no geral, o general pernambucano é alocado como um“contestador”quando é mencionado nestes livros de história literária, por não fazer parte do “círculo de oficiais”64. É importante ressaltar que a avaliação dele é a mais especializada das tentadas anteriormente, pois ao integrar Abreu e Lima à segunda e à terceira categorias ele vai incluí-lo como parte daqueles que pensaram a literatura naquele período de formação, e que contribuíram na construção de uma história literária para o país.

Referências

ABREU E LIMA, José Ignácio de. Bosquejo Histórico, Político e Literário do Império do Brasil, ou análise crítica do projeto do Dr. A. F. França. Seguida de outra análise do projeto do deputado Rafael de Carvalho sobre a separação da Igreja Brasileira da Santa sede apostólica. Niterói: Tipografia Niterói do Rego e Companhia, 1835.

__________. Compêndio da História do Brasil (desde 1500 até o majestoso ato de coroação e sagração do Sr. D. Pedro II). Tomo I. Rio de Janeiro: Tipografia Universal de Laemmert, 1843.

__________. Sinopse ou dedução cronológica dos fatos mais notáveis da História do Brasil. 2. ed. Recife: Fundação de Cultura da Cidade do Recife, 1983.

BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. São Paulo: Cultrix, 1995.

CANDIDO, Antônio. Literatura e Sociedade: Estudos de Teoria e História Literária. Rio de Janeiro: Ouro Sobre Azul, 2006.

__________. Formação da Literatura Brasileira – Momentos decisivos. Rio de Janeiro: Ouro Sobre Azul, 2013.

CARVALHO, Alfredo de. “O General J. I. de Abreu e Lima”. Almanach de Pernambuco. Para o ano de 1903. Recife: Escritório da Direção, 1902.

CHACON, Vamireh. Abreu e Lima, General de Bolívar. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1983.

DIDEROT, Denis; D’ALEMBERT, Jean le Rond. Enciclopédia, ou Dicionário das ciências, das artes e dos ofícios – Volume 2 – O sistema dos conhecimentos. Pedro Paulo Pimenta e Maria das Graças de Souza (Orgs.). São Paulo: Editora UNESP, 2015.

FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2009.

FILHO, Andrade Lima; PEREIRA, Nilo. O Bispo e o General. Recife: Separata da Revista do Departamento Estadual de Cultura. Ano III, n. 8, dez. 1973.

HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: sua história. Tradução de Maria da Penha Villalobos e Lólio Lourenço de Oliveira, revista e atualizada pelo autor. São Paulo: T. A. Queiroz – Editora da Universidade de São Paulo, 1985.

MATTOS, Selma Rinaldi de. Para formar os brasileiros. O Compêndio da História do Brasil de Abreu e Lima e a expansão para dentro do império do Brasil. 2017. 254 f. Tese (Doutorado em História Social) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2017.

MAZIN, Angelo Diogo; STEDILE, Miguel Enrique. Abreu e Lima: general das Massas. São Paulo: Expressão Popular, 2006.

MOURA, Luís Cláudio Rocha Henrique. Ideias de nação na Argentina, Brasil e Chile (1830-1860): Juan Bautista Alberdi, José Inácio de Abreu e Lima, Andrés Bello. 2013. 380 f. Tese (Doutorado em História) – Universidade de Brasília, Brasília, 2013.

OLIVEIRA, Tatiane Maria Barbosa de. Abreu e Lima, o escritor público: estudo e antologia. 2018. 186 f. Dissertação (Mestrado em Letras) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2018.

__________. Entre generais: a carta que José Ignácio de Abreu e Lima enviou ao general José Antonio Páez. Revista Nordestina de História do Brasil, 1(2), 177-195, 2019. https://doi.org/10.17648/2596-0334-v1i2-1255.

__________. Abreu e Lima na Literatura: Protagonista. In: General Abreu e Lima: um pensador dos trópicos. Juan Pablo Martín Rodrigues, Monique Santana de Oliveira Sousa, Tatiane Maria Barbosa de Oliveira (Orgs.). 1. ed. Recife: Ed. UFPE, 2018. p. 53-72.

PAIM, Leandro Burgallo. A nação como possibilidade: imprensa e manuais didáticos na difusão da identidade nacional no Brasil oitocentista. 2011. 280 f. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011.

RICUPERO, Bernardo. O romantismo e a ideia de nação no Brasil (1830-1870). São Paulo: Martins Fontes, 2004.

ROMERO, Sílvio. História da Literatura Brasileira. 2. ed. Rio de Janeiro: H. Garnier – Editor, 1903.

SANTANA, Geferson. O combate das ideias: estratégias culturais dos intelectuais comunistas baianos na produção de um novo conhecimento sobre o Brasil (1920-1937). 2017. 336 f. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal de São Paulo, Guarulhos, 2017.

SODRÉ, Nelson Werneck. História da Literatura Brasileira. Seus fundamentos econômicos. São Paulo: Civilização Brasileira, 1969.

SOUSA, Roberto Acízelo de. Introdução à Historiografia da Literatura Brasileira. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2007.

__________. Historiografia da Literatura Brasileira: textos fundadores (1825-1888). Roberto Acízelo de Sousa (Org.). 1. ed. Rio de Janeiro: Caetés, 2014.

VERÍSSIMO, José. História da Literatura Brasileira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1969.

Notas

* O presente artigo é parte das discussões realizadas no mestrado pela autora como bolsista do CNPq. Ver: OLIVEIRA, Tatiane Maria Barbosa de. Abreu e Lima, o escritor público: estudo e antologia. 2018. 186 f. Dissertação (Mestrado em Letras) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2018.
1 Seu nome confunde-se com o do pai (José Ignácio Ribeiro de Abreu e Lima), que aparece na maioria das biografias com um “Ribeiro” incluso. No entanto, também é comum incluírem um “Joaquim” ao nome do genitor (José Joaquim Ignácio Ribeiro de Abreu e Lima).
2 O Padre Roma conseguiu, através de seus recursos materiais e intelectuais, ir para a Universidade de Coimbra graduar-se em teologia e dali seguiu para Roma, onde foi ordenado pelo Cardeal Ludovisio Bernabé Chiaramonti. Ver informação em CHACON, Vamireh. Abreu e Lima, General de Bolívar. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1983.
3 MAZIN, Angelo Diogo; STEDILE, Miguel Enrique. Abreu e Lima: general das Massas. São Paulo: Expressão Popular, 2006. p. 25-26.
4 A informação aparece em MATTOS, Selma Rinaldi de. Para formar os brasileiros. O Compêndio da História do Brasil de Abreu e Lima e a expansão para dentro do império do Brasil. 2017. 254 f. Tese (Doutorado em História Social) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2017. p. 26. No entanto, Luís Cláudio Moura afirma que ele teria ido para a África para trabalhar como professor. Ver discussão em: MOURA, Luís Cláudio Rocha Henrique. Ideias de nação na Argentina, Brasil e Chile (1830-1860): Juan Bautista Alberdi, José Inácio de Abreu e Lima, Andrés Bello. 2013. 380 f. Tese (Doutorado em História) – Universidade de Brasília, Brasília, 2013. p. 341.
5 ABREU E LIMA, José Ignácio de. Compêndioda História do Brasil (desde 1500 até o majestoso ato de coroação e sagração do Sr. D. Pedro II). Tomo I. Rio de Janeiro: Tipografia Universal de Laemmert, 1843. p. 284-285.
6 Sua primeira e única edição só saiu em 1922, uma parceria entre o Governo da Venezuela e o Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambuco (IAHGP), em comemoração ao centenário da Independência do Brasil.
7 Além de Benjamin Constant, ele também teria sido atacado por Docoudray e Hippisley. MOURA, Luís Cláudio Rocha Henrique. Abreu e Lima: uma leitura sobre o Brasil. 2006. 237 f. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade de Brasília, Brasília, 2006. p. 46.
8 Seu título de General só viria ser reconhecido no Brasil em 28 de outubro de 1832. PAIM, Leandro Burgallo. A nação como possibilidade: imprensa e manuais didáticos na difusão da identidade nacional no Brasil oitocentista. 2011. 280 f. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011. p. 25.
9 ABREU E LIMA, José Ignácio de. Bosquejo Histórico, Político e Literário do Império do Brasil, ou análise crítica do projeto do Dr. A. F. França. Seguida de outra análise do projeto do deputado Rafael de Carvalho sobre a separação da Igreja Brasileira da Santa sede apostólica. Niterói: Tipografia Niterói do Rego e Companhia, 1835.
10 Abreu e Lima teria editado o MensageiroNiteroiense, e publicado em 12 dos 134 números que circulou do jornal. Ver discussões em: MATTOS, op. cit., p. 69; PAIM, op. cit., p. 155.
11 MOURA, Abreu e Lima: uma leitura sobre o Brasil, p. 19.
12 A Resposta ao Cônego foi uma contrapartida em face da apreciação de Varnhagen a respeito do Compêndio, publicada em Madri, em 1840, sob o título de Resposta Apologética a um conhecido plagiário que se intitula general. 13Abreu e Lima foi preso como rebelde no presídio da Ilha de Fernando de Noronha (PE), sem haver sido. Sua participação no movimento praieiro estava relacionada às batalhas na imprensa, visto que ele escrevia para o Diário Novo, em 1844, tornando-se redator-chefe. Nessa época, ele publicou também o seu periódico A Barca de São Pedro (1848), que era impressa na tipografia de Luís Ignácio, na Rua da Praia, CHACON, op. cit., p. 186.
14 O nome do movimento derivava do Diário Novo, jornal que funcionava como órgão do partido liberal, fazendo alusão à sua sede que se localizava na Rua da Praia, no Recife. Ver discussão em FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2009. p. 178. O jornal foi fundado pelo irmão de Abreu e Lima, Luís Ignácio, e os colaboradores Nunes Machado, Félix Peixoto, Lopes Netto, Jerônimo e Joaquim Vilella, segundo CARVALHO, Alfredo de. “O General J. I. de Abreu e Lima”. Almanach de Pernambuco. Para o ano de 1903. Recife: Escritório da Direção, 1902. p. 23.
15 CARVALHO, op. cit., p. 30.
16 FAUSTO, op. cit., p. 178.
17 Idem.
18 Uma leitura crítica da Cartafoi publicada por OLIVEIRA, Tatiane Maria Barbosa de. Entre generais: a carta que José Ignácio de Abreu e Lima enviou ao general José Antonio Páez. Revista Nordestina de História do Brasil, 1(2), 177-195, 2019. DOI: 10.17648/2596-0334-v1i2-1255.
19 Por defender a liberdade religiosa, Abreu e Lima teve sepultura em solo católico negada pelo Bispo Cardoso Ayres, na polêmica que ficou conhecida como “o Bispo e o General”. Ver discussão em: FILHO, Andrade Lima; PEREIRA, Nilo. O Bispo e o General. Recife: Separata da Revista do Departamento Estadual de Cultura. Ano III, n. 8, dez. 1973.
20 Uma atualização das obras publicadas por Abreu e Lima, como também uma leitura da transmissão de seus livros, foi feita na dissertação de Mestrado de Tatiane Maria Barbosa de Oliveira.
21 Ver informação na nota do editor. ABREU E LIMA, José Ignácio de. Sinopse ou dedução cronológica dos fatos mais notáveis da História do Brasil. 2. ed. Recife: Fundação de Cultura da Cidade do Recife, 1983.
22 Idem.
23 CANDIDO, Antônio. Literatura e Sociedade: Estudos de Teoria e História Literária. Rio de Janeiro: Ouro Sobre Azul, 2006. p. 87.
24 Ibidem, p. 89.
25 RICUPERO, Bernardo. O romantismo e a ideia de nação no Brasil (1830-1870). São Paulo: Martins Fontes, 2004. p. XVIII.
26 CANDIDO, op. cit., p. 91.
27 CANDIDO, Antônio. Formaçãoda Literatura Brasileira – Momentos decisivos. Rio de Janeiro: Ouro Sobre Azul, 2013. p. 256.
28 Idem.
29 A matéria saiu n’A Torre de Babel, no dia 9 de janeiro de 1833.
30 A informação aparece em MATTOS, op. cit., p. 52.
31 PAIM, op. cit., p. 241.
32 A informação aparece no Diário particular do General J. I. de Abreu e Lima (1843). Ver transcrição do diário na dissertação de OLIVEIRA, op. cit.
33 A Sociedade E. & H. Laemmert alcançou prestígio como casa editora brasileira naquele período, e, após investimentos, ficou conhecida como Tipografia Universal. Consultar: HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: sua história. Tradução de Maria da Penha Villalobos e Lólio Lourenço de Oliveira, revista e atualizada pelo autor. São Paulo: T. A. Queiroz – Editora da Universidade de São Paulo, 1985. p. 160-162.
34 HALLEWELL, op. cit., p. 169.
35 ROMERO, Sílvio. Históriada Literatura Brasileira. 2. ed. Rio de Janeiro: H. Garnier – Editor, 1903.
36 ROMERO, op. cit., p. 13.
37 Idem.
38 Sobre o cenário intelectual brasileiro da primeira metade do século XX ver: SANTANA, Geferson. O combate das ideias: estratégias culturais dos intelectuais comunistas baianos na produção de um novo conhecimento sobre o Brasil (1920-1937). 2017. 336 f. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal de São Paulo, Guarulhos, 2017.
39 VERÍSSIMO, José. História da Literatura Brasileira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1969. p. 260.
40 Ibidem, p. 261.
41 Idem.
42 Para uma abordagem mais detalhada destes gêneros literários que Abreu e Lima escreveu consultar a dissertação de OLIVEIRA. Ver também as discussões sobre Abreu e Lima como personagem na Literatura Brasileira no capítulo de OLIVEIRA, Tatiane Maria Barbosa de. Abreu e Lima na Literatura: Protagonista. In: General Abreu e Lima: um pensador dos trópicos. Juan Pablo Martín Rodrigues, Monique Santana de Oliveira Sousa, Tatiane Maria Barbosa de Oliveira (Orgs.) 1. ed. Recife: Ed. UFPE, 2018. p. 53-72. Este livro é a publicação acadêmica mais atual sobre Abreu e Lima, e também o primeiro em colaboração com vários autores.
43 Algumas destas cartas foram digitalizadas pela Biblioteca Nacional (BN) após serem compradas pelo IAL. As demais pertencem a um acervo particular no Recife, no qual tivemos a oportunidade de vê-las durante pesquisa de campo.
44 VIEIRA, Anco Márcio Tenório. Entre Tupã e a Cruz de Malta: A autonomia literária e a defesa do conceito de literatura luso-brasileira no século XIX – 1800-1875. 2002. 420 f. Tese (Doutorado em Letras) – Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2002. p. 160.
45 Ibidem, p. 167.
46 Idem.
47 ABREU E LIMA, Bosquejo Histórico, Político e Literário do Império do Brasil, ou análise crítica do projeto do Dr. A. F. França. Seguida de outra análise do projeto do deputado Rafael de Carvalho sobre a separação da Igreja Brasileira da Santa sede apostólica, p. 67.
48 DIDEROT, Denis; D’ALEMBERT, Jean le Rond. Enciclopédia, ou Dicionário das ciências, das artes e dos ofícios . Volume 2 – O sistema dos conhecimentos. Pedro Paulo Pimenta e Maria das Graças de Souza (Orgs.). São Paulo: Editora UNESP, 2015. p. 369-371.
49 José da Gama e castro foi um português de Coimbra, que viveu no Brasil, durante os anos de 1838 e 1843, exercendo uma intensa atividade intelectual, e que questionou o conceito de literatura luso-brasileira nos três artigos que publicou no Jornal do Comércio, em janeiro de 1842. Ver: VIEIRA, op. cit., p. 145. De acordo com Gama e Castro, todo e qualquer escrito produzido no Brasil também fazia parte da Literatura Portuguesa, uma vez que é parte intrínseca dessa língua na qual ele se expressa. Consultar VIEIRA, op. cit., p. 155.
50 VIEIRA, op. cit., p. 146.
51 Ibidem, p. 37.
52 SODRÉ, Nelson Werneck. Históriada Literatura Brasileira. Seus fundamentos econômicos. São Paulo: Civilização Brasileira, 1969.p. 141.
53 SODRÉ, op. cit., p. 225.
54 Idem.
55 Idem.
56 BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. São Paulo: Cultrix, 1995. p. 155.
57 SOUSA, Roberto Acízelo de. Introduçãoà Historiografia da Literatura Brasileira. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2007.
58 SOUSA, op. cit., p. 47.
59 VERÍSSIMO, op. cit., p. 260.
60 SOUSA, op. cit., p. 53.
61 SOUSA, Roberto Acízelo de. Historiografiada Literatura Brasileira: textos fundadores (1825-1888). Roberto Acízelo de Sousa (Org.). 1. ed. Rio de Janeiro: Caetés, 2014.
62 SOUSA, Historiografia da Literatura Brasileira: textos fundadores (1825-1888), op. cit., p. 18.
63 Idem.
64 SOUSA, Introdução à Historiografia da Literatura Brasileira, op. cit., p. 51.


Buscar:
Ir a la Página
IR
Visualizador XML-JATS4R. Desarrollado por