Editorial
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Revista Internacional de Folkcomunicação, vol. 18, núm. 41, pp. 9-10, 2020
Universidade Estadual de Ponta Grossa

A realidade latino-americana revela-se um campo fértil para análises das práticas de cultura e comunicação marcadas por diversas formas de subalternização. Conhecer distintos cenários da Região em que a teoria da folkcomunicação pode ser apropriada e refletida conduz ao desafio de (re)pensar alguns marcos conceituais e promover o diálogo com perspectivas convergentes, ancoradas nos fenômenos culturais.
Foi com esse propósito que a Revista Internacional de Folkcomunicação (RIF) propôs o dossiê “Folkcomunicação em cenários latino-americanos”, sob a organização do professor Dr. Fernando Fischman (Universidad de Buenos Aires, Instituto de Investigaciones Sociales de América Latina - FLACSO/CONICET), do professor Dr. Cristian Yáñez Aguilar (Universidad Austral de Chile) e da professora Dra. Clemencia León (Servicio Nacional de Aprendizaje SENA, Colombia). O dossiê traz nove pesquisas que perpassam as práticas dos agentes populares, as identidades, as resistências operadas no interior da cultura, além de reflexões teórico-metodológicas que constituem as bases de estudos localizados em diferentes contextos da América Latina.
A reflexão teórica em torno das influências que marcaram o pensamento comunicacional latino-americanos nos anos 1960, tendo como entidade aglutinadora da área o Centro Internacional de Estudos Superiores de Comunicação para a América Latina (Ciespal), é o foco da abordagem de Iury Parente Aragão (UNEB). As relações entre folkcomunicação e direitos humanos na América Latina são abordadas na análise de Laura Gottero (Universidad Nacional de Lanús) sobre o tratamento jornalístico de temas de imigração, com um viés crítico e propositivo.
Em relação ao tema da religiosidade, a revista traz a pesquisa de Ivig de Freitas Santos e Maria Érica de Oliveira Lima (UFC) sobre uma festa popular em Fortaleza/CE, “Caminhada com Maria”, no cenário de digitalização acentuado pela Covid-19, e o trabalho de campo junto a participantes do movimento religioso Renovação Carismática Católica do Brasil, que oferece as bases para a pesquisa de Roseméri Laurindo e Ana Cláudia Kostetzer (FURB) sobre o testemunho como objeto da folkcomunicação.
Do Chile, Nastassja Mancilla Ivaca (Universidad Austral de Chile), por meio de uma pesquisa participante, recupera elementos presentes na memória coletiva na região de Los Ríos, enfatizando o papel de agentes folkcomunicacionais. Nair Santos Lima (UFPA) realiza uma análise folkcomunicacional do Festival das Tribos Indígenas no Pará, com a competição entre as “tribos” Munduruku e Muirapinima, identificando aspectos de resistência cultural. Também com enfoque nas práticas de resistência, Flávio Santana (UMESP) utiliza entrevistas para sustentar o estudo sobre grupos marginalizados em uma comunidade de catadores de caranguejo em Aracaju.
As lives musicais no cenário da pandemia são tema da pesquisa de Helyna Dewes e Ada C. Machado da Silveira (UFSM) e, para completar o dossiê, as características folkmidiáticas da Companhia Teatral Arte Viva de Santa Cruz/RN são apresentadas no estudo de Beatriz Lima de Paiva e Itamar de Morais Nobre (UFRN).
Nos artigos gerais, constam trabalhos sobre a utilização de ferramentas on-line de comunicação em comunidades rurais, de autoria de Luiz Custódio da Silva, José Primitivo Leal Neto e Iara Alves dos Santos (UFPB), a experiência educativa de produção do impresso O Candeeiro no sertão do Ceará por Rosa da Conceição Nascimento e Catarina Tereza Farias de Oliveira (UFC) e as práticas culturais artesanais de Mariana/MG diante do processo de midiatização, analisadas por Denise Figueiredo Barros do Prado (UFOP).
A edição traz ainda uma entrevista com a pesquisadora Iraildes Caldas Torres (UFAM), que se dedica aos estudos sobre comunidades indígenas na Amazônia, relações de gênero e etnicidades, realizada por Karina Janz Woitowicz (UEPG).
O ensaio fotográfico “México colorido”, de autoria de Marcelo Sabbatini (UFPE), traz representações acerca da heterogeneidade cultural do país, a partir de elementos do cotidiano como tecidos, culinária, cenários e tradições. E, por fim, a edição conta ainda com a resenha de João Guilherme de Castro Martins (UEPG) sobre as questões de gênero no livro “Coração na aldeia, pés no mundo”, de Auritha Tabajara.
Com as contribuições apresentadas nesta edição, que encerra o ano de 2020, esperamos que a Revista Internacional de Folkcomunicação promova reflexões sobre os usos e atualizações da folkcomunicação em diferentes cenários e aponte para uma perspectiva crítica, inovadora e emancipadora.
A todas e todos, uma boa leitura!
Equipe Editorial RIF