Editorial
Editorial

Celebrar o centenário de Luiz Beltrão (1918-2018) constitui um modo de reconhecer a sua importância para a teoria e a pesquisa em Comunicação. É por isso que, em meio a diversas iniciativas realizadas em 2018 para homenagear este importante teórico brasileiro, lançamos a presente edição da Revista Internacional de Folkcomunicação (RIF). A organização deste especial ficou a cargo dos pesquisadores Maria Cristina Gobbi, Sônia Regina Soares da Cunha e Francisco de Assis, a quem agradecemos pela colaboração neste importante trabalho.
Os artigos reunidos no dossiê circundam a obra de Beltrão, apontam caminhos para a (re)leitura dos conceitos que fundamentam a teoria, dialogam com marcos teóricos afins a partir da perspectiva folkcomunicacional e promovem outras aproximações com a teoria. Oferecem, desse modo, formas de interpretar e operar com a folkcomunicação para pensar os processos comunicacionais na atualidade. Além disso, percorrem marcos e registram a trajetória do pensamento de Beltrão, contribuindo para a memória da comunicação no Brasil.
O dossiê temático traz um artigo inédito do professor José Marques de Melo, seu discípulo e maior incentivador da teoria da folkcomunicação dentro e fora do Brasil, que percorre os fundamentos do pensamento de Beltrão e estabelece diálogos produtivos com outros autores. A publicação foi gentilmente autorizada pela esposa de José Marques de Melo, Sílvia, a quem agradecemos pela oportunidade de publicação de mais um trabalho do professor, que estava em processo de finalização no momento do seu falecimento, em junho de 2018.
O artigo de Antonio Hohlfeldt, por sua vez, demarca a contribuição do professor José Marques de Melo na difusão da obra de Beltrão e no importante impulso ao reconhecimento acadêmico da folkcomunicação. E, em um diálogo que atualiza os conceitos desenvolvidos por Beltrão, Osvaldo Trigueiro oferece uma (re)leitura dos agentes intermediários culturais na contemporaneidade.
Cristina Schmidt apresenta um levantamento da produção bibliográfica em folkcomunicação, que oferece uma reconstituição do campo, e Eduardo Gurgel aborda os aspectos da pedagogia do jornalismo no trabalho acadêmico e profissional de Beltrão. As contribuições de Beltrão para os estudos de televisão são abordadas por Aline Maria Grego Lins, em um processo de apropriação das abordagens do autor. E, por fim, Luitgarde Oliveira Cavancanti Barros percorre os antecedentes dos estudos da cultura de vertente popular para delimitar o pensamento de Beltrão na América Latina. A edição traz ainda, como parte das homenagens ao centenário de Luiz Beltrão, um depoimento de sua filha, Sílvia Teresa Beltrão, apresentado a Sônia Regina Soares da Cunha.
Na seção Artigos Gerais, a revista traz seis estudos sobre temas diversos ligados à cultura popular e suas relações com os processos de comunicação. Luís Erlin Gomes Gordo aborda os ex-votos na religiosidade popular, apontando conceituações para esta manifestação cultural. Sérgio Luiz Gadini, por sua vez, apresenta uma pesquisa de caráter etnográfico e documental sobre as comemorações da festa dos reis magos na Espanha, em que se observa aspectos do sincretismo religioso e cultural.
As representações de assombrações do folclore brasileiro na história em quadrinhos Piteco – Ingá são trabalhadas por Guilherme Ieger Dobrychtop e Rosane Kaminski pelo viés dos estudos de folkmídia. A perspectiva decolonial, em diálogo com a abordagem beltraniana, é desenvolvida por Aline Wendpap Nunes de Siqueira em uma análise do vídeo sobre concurso de Lambadão e as interações provocadas por esta produção cultural.
O desenvolvimento local é tema do artigo de Juliana Freire Bezerra e Severino Alves de Lucena Filho ao analisarem o papel de folk-ativistas na comunidade de Padre Hildon Bandeira, em João Pessoa-PB. E, por fim, a cultura local no webjornalismo do Amapá é discutida por Larissa Cantuária Lucena e Cíntia Xavier a partir das representações da Festa de São Tiago.
A edição conta ainda com o ensaio fotográfico de Pedro Sevico Vaz Filho sobre a cidade do Serro, localizada no Vale do Jequitinhonha, no estado de Minas Gerais, a partir do trabalho do escultor José Dias e de registros da cena cultural local. E, para finalizar a edição, a resenha de Rafael Lopes sobre o livro Da casa à praça pública: a espetacularização das festas juninas no espaço urbano, de Janio Roque B. Castro, publicado pela EdUFBA em 2012.
Tratam-se de olhares diversos sobre a folkcomunicação, que tanto se sustentam na teoria beltraniana quanto oferecem outras abordagens que contribuem para fortalecer e renovar os estudos que se situam na interface entre comunicação e cultura. Desejamos às leitoras e aos leitores uma boa leitura, com a expectativa de que o legado de Beltrão, no marco do seu centenário, inspire novos objetos e perspectivas.
Equipe Editorial RIF