Artigos e ensaios

Recepção: 12/02/2018
Aprovação: 04/06/2018
DOI: https://doi.org/10.5212/RIF.v.16.i37.0009
Resumo: As comemorações da festa dos reis magos na Espanha, registradas por diversos hábitos e manifestações de um sincretismo religioso e cultural, traduzem uma das abordagens da Folkcomunicação, conforme caracterização conceitual de Luiz Beltrão (1980 e 2001). Além de feriado nacional, o 6 de janeiro ‘ibérico’ é marcado por desfiles de carros decorados (cabalgata) por um tema anual, entrega de presentes para crianças, hábitos alimentares (como o “roscón de reyes”) e, inclusive, um jogo de apostas oficial (loteria del niño), dentre outras ações e estratégias de mídia, que caracterizam as festas de reis, na Espanha. Trata-se, pelo estudo aqui apresentado, baseado em pesquisa de campo de caráter etnográfico e recortes de produções midiáticas que tematizaram a festa, de um evento que pode ser caracterizado como expressão contemporânea folkcomunicacional.
Palavras-chave: Folkcomunicação, Festa de reis, hibridismos culturais, cabalgata de reyesen Espana, Jornalismo cultural.
Abstract: The celebrations of the feast of the Magi in Spain, recorded by diverse habits and manifestations of a religious and cultural syncretism, translate one of the approaches of the Folkcommunication, according to Luiz Beltrão's conceptual characterization (1980 and 2001). In addition to a national holiday, the January 6 'Iberian' is marked by parades (cavalcade) of cars decorated by an annual theme, delivery of gifts for children, eating habits (such as the "roscón de reyes") and even a gambling (lottery of the child), among other actions and media strategies that characterize the festivals of kings in Spain. This study, based on field research of ethnographic character and clippings of media productions that thematicised the party, is an event that can be characterized as a contemporary folk-communicational expression.
Keywords: Folkcomunicação, Festividy of kings, cultural syncretism, cavalcade of kings in Spain, Cultural journalism.
Introdução
Se no Brasil, diz uma lenda, o país só funciona depois do carnaval, na Espanha é o Dia de Reis que marca a retomada das atividades escolares e encerra os feriados natalinos. Mesmo que o calendário europeu considere o conjunto de feriados de fim de ano apenas um recesso, pois as férias ‘longas’ só acontecem no verão (entre julho e setembro), o Dia de Reis registra uma magia que extrapola a crença católica, pois envolve diversos hábitos e eventos sociais.
A festa de reis magos, na Espanha, confirma a presença da tradição católica atualizada com um desfile de rua com tema próprio a cada ano ("o poder da imaginação e da criatividade" na edição 2018). Apesar da chuvinha de inverno, no fim da tarde da sexta, milhares de pessoas circulam nas ruas dos diversos bairros centrais em que a cabalgata de Reyes acontece com 14 carrozas, terminando a noite com um show na praça de Cibeles (Ayjuntamiento de Madrid). Guardadas as proporções, é uma espécie de versão cultural de festa religiosa em que grupos diversos se organizam para levar carros às ruas, em meios à expectativa de presentes para crianças, que enviam cartas aos reis.
O presente texto descreve e analisa a festa dos reis magos na Espanha, a partir da perspectiva folkcomunicacional, identificando marcas de um sincretismo religioso e cultural, paralelo ao uso e exploração comercial da primeira data festiva do ano no País.
A perspectiva metodológica que orienta a reflexão inclui uma pesquisa de campo norteada por aspectos conceituais da etnografia participante (GADINI, 2013) e recorte de produtos jornalísticos e materiais de divulgação que pautaram a festa de reis na edição 2018, na Espanha. Os textos e imagens jornalísticos entram, aqui, como elementos ilustrativos da abordagem conceitual da Folkcomunicação e, assim, os referidos produtos editoriais, também, operam como fontes de pesquisa ao presente ensaio.
A festa de reis na perspectiva folkcomunicacional
De acordo com Luiz Beltrão, a Folkcomunicação compreende um “conjunto de procedimentos de intercâmbio de informações, idéias, opiniões e atitudes dos públicos marginalizados urbanos e rurais, através de agentes e meios direta ou indiretamente ligados ao folclore” (1980, p. 24). Assim, continua Beltrão (1980, p. 26), a Folkcomunicação “preenche o hiato” das funções da comunicação: “educação, promoção e diversão, refletindo o viver, o querer e o sonhar das massas populares excluídas por diversas razões e circunstâncias do processo civilizatório”.
Se o folclore envolve relações e formas de “manifestação cultural protagonizadas pelas classes subalternas, a Folkcomunicação caracteriza-se pela utilização de mecanismos capazes de difusão simbólica de expressar, em linguagem popular, mensagens previamente veiculadas pela indústria cultural”, explica José Marques de Melo (2007, p. 48).
Nas dinâmicas e relações culturais, processos de hibridismos são frequentes, ainda que não previsíveis e, tampouco, automáticos. Falas, hábitos alimentares, práticas rituais, crenças e valores religiosos, também registram ‘cruzamentos’ que resultam de aproximações entre diferentes modos de entender e viver no mundo. “Religiões sincréticas, filosofias ecléticas, línguas e culinárias mistas e estilos híbridos na arquitetura, na literatura ou na música” seriam, de acordo com Peter Burke (2003, p.23), alguns exemplos processuais resultantes de aproximações, diálogos e tensões entre diferentes.
De um modo geral, compreende-se por festa popular encontros comemorativos que registram adesão ou envolvimento de grupos sociais, seja para celebrar uma data, acontecimento, homenagem ou cultuar tradições através da música, gastronomia, dança, religião, vestuário, dentre outras formas de expressão e rituais. Por isso mesmo, a ‘fronteira’ de sentido entre uma festa popular e um evento religioso nem sempre são claramente identificados em suas manifestações.
No Brasil, eventos como: as folias e cantorias de reis (mais conhecidas em Minas, interior do Rio de Janeiro e alguns estados do Nordeste), decorações em ruas na procissão de Corpus Christi, festas comemorativas de colheita, festas juninas, dentre outras manifestações, em geral, reúnem elementos comuns que, aos frequentadores e participantes, pouco importa se registram marcas originárias da religião, agricultura, grupos ou classes sociais diferenciadas.
É esta conexão entre expressões da cultura popular com a religiosidade que possibilita, em variadas situações e contextos, o surgimento de eventos festivos que passam a ser realizados e cultuados pelos grupos humanos que legitimam determinadas tradições.
As especificidades da versão espanhola da festa dos reis magos pode, assim, ser compreendida como uma manifestação folkcomunicacional, na medida em que se trata e expressa um modo próprio de crença religiosa (católica), que agrega hábitos e elementos da cultura ibérica, através de desfiles em carros alegóricos, entrega de presentes às crianças, culto à solidariedade (não deixar criança sem presente), produto alimentar típico, bem como uma homenagem que lucra e promete riqueza aos premiados na loteria del niño.
Por manifestação cultural, considera-se aqui a reflexão de Samantha Castelo Branco (2007), que relaciona a perspectiva folkcomunicacional com as expressões que caracterizam os modos de vida de determinados grupos sociais ou povos marcados pelas dimensões do espaço, tempo e tensões de época.
Magia de reis contagia crianças
O 6 de janeiro é o dia que marca a visita dos três reis magos do oriente – Melchior, Gaspar e Baltasar – ao recém-nascido Jesus Cristo. Pelo relato bíblico, os reis chegam a Belém guiados pela estrela, pois o então rei da Judeia queria saber onde teria nascido o novo rei dos judeus. Após presentear o Cristo, os reis dormem e, em sonho, são avisados para não retornar a Jerusalém e avisar Herodes.
O número exato de reis não está claro no texto bíblico, mas segue indicadores da simbologia cristã, que indica três pelos presentes recebidos de visitantes estrangeiros (ouro, incenso e mirra), que chegaram a Belém guiados por estrela. Vale lembrar que para alguns grupos (como as igrejas orientais da Armênia e Síria), o número de reis coincide com o dos apóstolos (12). Os três reis representam os continentes (África, Ásia e Europa), ainda que isso não seja consensual e tampouco materialidade explicativa.
O Dia de Reis na Espanha é feriado nacional e a festa é, na maioria das cidades, realizada no fim da tarde do dia anterior (5 de janeiro). Para as crianças, a data tem um significado especial, pois comemora a entrega de presentes dos reis magos ao menino Jesus, conforme a crença cristã. E, também, escrevem uma carta, indicando os presentes desejados.
Durante a cavalgada os reis – elegantemente vestidos em seus trajes de majestades – são saudados e distribuem doces às crianças, que levam sacolas para juntar os caramelos. Os carros alegóricos do desfile costumam prestar homenagens, direta ou indiretamente, às crianças, tematizando direitos, história, vida e hábitos infantis, pois o caminho dos reis equivale ao trajeto simbólico que os magos fizeram do Oriente até Belém para homenagear o nascimento de Cristo.
Pela tradição, na noite de 5 de janeiro, que antecede a chegada dos reis, as crianças esperam pela entrega dos presentes encomendados aos magos e, em troca, deixam junto à arvore, presépio ou em algum lugar da casa doces e bebidas como agrado e agradecimento aos reis: doces e leites para os reis, água para os camelos. Em alguns países latino-americanos, há o hábito de deixar um sapato como se faz com o papai noel, para que os reis encham de presentes. Em Porto Rico as crianças cortam grama e colocam em uma caixa embaixo da cama para os camelos comer, enquanto os reis deixam os presentes. Como se vê, os hábitos variam de um país a outro, mas lembram a espera do papai noel, que pressupõe bom comportamento das crianças para entregar os presentes.
La Fiesta de Reyes na capital
“La noche más mágica de la Navidad para todos, y especialmente para los niños, es la noche de Reyes, que en Madrid se celebra desde por la tarde de manera muy especial con una gran Cabalgata que traerá a sus Majestades de Oriente Melchor, Gaspar y Baltasar”. Esta é a abertura do texto que divulga a festa de reis, disponível no portal da Cidade (Madrid.es).
Na edição 2018 da cabalgata de reyes, o trajeto estimado em cerca de 3 horas passou por diversos bairros da região central: Paseo de la Castellana (Nuevos Ministerios esquina Pza. San Juan de la Cruz) - Paseo de la Castellana - Plaza del Doctor Gregorio Marañón - Paseo de la Castellana - Glorieta de Emilio Castelar - Paseo de la Castellana - Plaza de Colón - Paseo de Recoletos - Plaza de Cibeles (fim do desfile e espetáculo pirotécnico em frente ao Palácio Municipal). O tema do ano, que orientou grupos a decorar os carros, abordou o “poder da imaginação e da criatividade”, trazendo às ruas imagens, ícones e alegorias sobre invenções técnicas que mudaram a vida e o mundo ao longo dos séculos da modernidade.
A carroza del Ayuntamiento de Madrid (carro oficial da Prefeitura) abriu o desfile anual, portando a estrela de Natal que, pela tradição, orienta o caminho de Melchior, Gaspar e Baltasar na viagem desde o Oriente. O carro oficial reporta a “Constelación de los Deseos: una galaxia colectiva formada, desde el 21 de diciembre en la Galería de Cristal de CentroCentro, por los casi 6.000 madrileños y madrileñas que han querido depositar en ella sus deseos convertidos en estrellas de papel”, explica o texto da festa do ano (MADRID.ES, 2018).
Na versão 2018, o desfile contou com 14 carros, reunindo mais de 2 mil pessoas entre artistas (músicos, acrobatas, bailarinos, figurinistas e afins), comitiva, técnicos e membros dos grupos diversos que acompanharam os reis na passagem pelo roteiro, em que o público aguardava com as crianças em festa. O evento contou com nove companhias de artes cênicas, marionetes gigantes, artefatos voadores e infláveis, iluminadores, fogos de artifício e outros meios que marcaram a Festa de Reis.
As crianças vão às ruas com sacolas para juntar os caramelos jogados pelos reis. Pela tradição hispana, as crianças escolhem um dos reis (Melchior, considerado europeu,Baltazar, que teria vindo da África, ou Gaspar, originário da Ásia) a quem dirigem os pedidos. Durante a cavalgada, carteiros reais recolhem as cartas de última hora, para que as crianças tenham seus pedidos atendidos. Conforme a organização, são milhares de cartas que, a cada 6 de janeiro, são depositadas nos espaços destinados pelos correios e organização do evento para receber os pedidos das crianças.
Existem cavalgatas em inúmeras cidades e povoados em toda Espanha. Em Madrid, além da que acontece na região central, há desfiles em diversos bairros e distritos da Comunidade (região metropolitana). A cavalgada de Alcoy (Alicante, em Valência), considerada a mais antiga do País, com mais de 100 anos, é transmitida pela TV Trece (TP). Em Madrid, os festejos foram transmitidos ao vivo pelo canal Telemadrid e também pela TV T1, canal do sistema público TVE.
Em 2018, a festa contou com atividades de inclusão e acessibilidade, como a entrega de uma carta por três crianças com deficiência auditiva aos reis, a tradução das falas em linguagem de sinais no encerramento, homenagem às crianças docentes com o carro do ‘niño hospitalizado’ e reserva de espaços para crianças em diferentes situações de risco durante as celebrações da festa na noite de 5 de janeiro.
“Queremos que esta noite seja a noite mais feliz para todas crianças de Madrid”, diz a alcadesa (prefeita) da cidade, Manuela Carmena, na abertura do show, durante a chegada dos reis ao palco na Plaza de Cibeles, centro da capital, na festa de 5 de janeiro de 2018. O rei Melchior transmitiu a mensagem às crianças: “não percam nunca vossa curiosidade de entender o mundo, as pessoas que os rodeiam e, sobretudo, de saber se colocar no lugar do outro e compartir seus sentimentos”.
Em Barcelona, depois de chegar pelo porto da capital, os reis percorreram cerca de 5 km do trajeto da cabalgata. Sevilha, Canárias (Las Palmas), Huelva, Albacete, Zaragoza, dentre dezenas de outras cidades hispanas. Em cada cidade ou povoado, pode-se verificar alguma variação nas tradições da festa. As cavalgadas mais conhecidas na Espanha são as Alicante (em Alcoy, considerada mais antiga, desde 1885), Granada (mais de um século), Madrid, Barcelona e Santander.
Em 2018, foram registrados desfiles de reis em diversos bairros e distritos de Madrid desde o dia 3 (em Chamartín), 4 (Ciudad Lineal, Barrio de Reyes Montecarmelo em Fuencarral-El Pardo, Moratalaz, San Blas-Canillejas, Tetúan, Usera eVilla de Vallecas) e 5 de janeiro (Carabanchel, Hortaleza, Latina, Puente de Vallecas, Barrio de las Tablas en Fuencarral-El Pardo, VicálvaroeVillaverde Alto y Bajo).
Durante o desfile, pais tentam aproximar as crianças dos reis – se possível, o ‘preferido’ – para que recebam beijo, abraço, benção e mensagem da majestade. Por ironia, quando entrevistados, vários niños revelam pedidos em sintonia com hábitos de consumo cotidiano do momento (‘muñecas, dulces o moviles’). Após os desfiles, as crianças vão para suas casas à espera dos ‘regalos’, que serão trazidos pelos reis durante a noite mágica da passagem (6 de janeiro).
As imagens que seguem ilustram a festa na capital espanhola, na tarde e noite de 5 de janeiro de 2018.

Efeitos, usos e sentidos da Festa de Reis
Além dos tradicionais desfiles (cabalgatas) e presente para as crianças, a festa de reis agrega outros sentidos e usosde práticas culturais. A data é aproveitada, principalmente pela rede hoteleira, como apelo turístico, explora hábitos alimentares e ainda abre espaço para que as pessoas arrisquem a sorte na aposta lotérica exclusiva dedicada às comemorações.
O uso turístico da data e festa na Espanha pode ser facilmente identificado, como no site da rede de hotéis (Accor), que divulga agenda e serviços da festa. “La cabalgata de los Reyes Magos se lleva a cabo en todas las grandes ciudades del país y es una fiesta de Interés Turístico Nacional que marca el final de las fiestas de Navidad”, informa texto disponível na web da rede hoteleira. Após o desfile dos reis, “los niños dejan, antes de dormir y junto a la ventana, un par de zapatos, un recipiente con agua (para los camellos) y comida para los Reyes Magos”. E, por fim,no dia seguinte, “los maravillados ojos de los niños llenarán de alegría a sus padres”, conclui a divulgação do hotel(ACCORS, 2018).
Mas, também, não faltam polêmicas, como a tentativa por ação judicial, embora frustrada, de um grupo religioso local em proibir a carroza LGBTI de desfilar no distrito de Vallekas. Na véspera do desfile, uma associação considerada como ultra (direita) chegou a pedir intervenção judicial para afastar o carro do movimento Orgullo Vallekano da Cabalgata de Reyes de 2018. Com a negativa judicial, ficou assegurada a participação do carro que tematiza a defesa da igualdade e dos direitos do coletivo (RIAZA, 2018).
Comida típica, que ainda pode dar sorte!
Um pão com cobertura de frutas cristalizadas e pedaços de amêndoas e açúcar refinado, com ou sem recheio (natas, frutas variadas, cremes, chocolate ou trufas) é a comida típica da festa: roscón de reyes. Panificadoras, casas de doces e outros estabelecimentos alimentares produzem milhares de unidades a cada ano. Em uma das unidades da série produzida deve estar um souvenir da sorte (de plástico, porcelana ou mensagem) que vale o prêmio oferecido pela casa comercial. É um quase equivalente ao ‘quiabo’ de Cosme e Damião ou ao santo escondido nos pães de 13 de junho no Brasil.
A força da tradição – e colonização ibérica – foi além da Espanha, pois hábitos similares fazem parte da festa na Argentina, Colômbia, México, Uruguai, dentre outros países latino-americanos. Embora, em cada país e mesmo região da Espanha, existem algumas variações no formato, recheio e coberturas do roscón de reyes. Em casas de doce, café, padarias ou residências, o hábito é comer o roscón acompanhado de chocolate quente ou café.

Uma aposta lotérica (del niño)
Outra atividade comemorativa que marca a festa de reis na Espanha é um jogo da loteria oficial del niño. A aposta na sorte provoca filas em casas lotéricas de todo o País, pois o prêmio motiva a espera da mensagem que pode mudar a vida de algum ou alguma escolhida. As imagens da loteria del Niño 2018, que seguem, ilustram uma produção de mídia que envolve casas lotéricas, anúncios publicitários, cobertura midiática exclusiva, transmissão ao vivo e a divulgação do resultado, que atraem anualmente milhões de espanhóis.
Confira algumas imagens, divulgadas na mídia (TV, internet, impressos) da loteria del Niño 2018, lançada anualmente pela Loterias y Apuestas del Estado, em referência comemorativa à festa de reis na Espanha.

Criatividade editorial reverencia magia de reis
A reportagem da agência estatal de notícias EFE atribui o clima da festa em todo o País à magia dos reis. “Los Reyes Magos desafían al temporal y llenan de magia las calles españolas” (EFE, 05/01/2018), diz o título da matéria, distribuída para diversos países e centenas de veículos de mídia no mundo.“Los Reyes Magos han desafiado el temporal que azota España y han llenado de magia las calles en las tradicionales cabalgatas que este año han contado con grandes medidas de seguridad y novedades no exentas de polémica”, segue a matéria, lembrando que “cabalgatas suspendidas por la lluvia, adelantadas al jueves o pospuestas hasta el sábado. De todo ha habido en esta fiesta infantil que precede a la llegada de los regalos”, abre o texto informativo da Agência EFE.
Por ironia, ou criatividade editorial, até a variação de temperatura faz referência à magia dos reis. “Los Reyes Magos dejarán lluvia o nieve en casi toda España”, titula matéria da Agência EFE, associando a chegadade uma nevasca em 6 de janeiro.
O diário El País também aproveita a data festiva e oferta aos leitores/internautas um especial com 30 imagens da “Cabalgata de los Reyes Magos 2018” (06/01/2018). “Miles de niños esperan con emoción la llegada de sus Majestades de Oriente”, completa chamada no site que traz registros da festa em diversas cidades do País.
A festa de reis também registra ações sociais de pessoas preocupadas com crianças hospitalizadas, que merecem presentes, como informa a Agência EFE (05/01/2018). “Mireia Belmonte muestra su lado más humano llevando regalos a un hospital de Granada”, informa matéria.
Outro caso ilustrativo, registrado ao longo dos últimos anos, é a visita de craques do Barcelona a crianças hospitalizadas, que se repetiu em 2018.“Suárez y Messi le dieron la sorpresa de Reyes a los niños del hospital”, informa o diário esportivo uruguaio Ovación(05/01/2018). “En la víspera a Reyes Magos, los cracks del Barcelona visitaron nueve hospitales de la ciudad en donde se encontraban niños internados. Los rioplatenses cumplieron el sueño de muchos de ellos con fotos y autógrafos, pero también se interesaron en su salud”, completa linha de apoio do texto.
E, por fim, outra situação emblemática que envolve o 6 de janeiro na Espanha é a “cabalgata de las reinas”, que acontece em Valência.O desfile “es una celebración laica recuperada y organizada por la Societat Civil El Micalet, con la participación de otras entidades y colectivos. Este fue celebrado por primera vez en 1937 bajo el Gobierno de la República”, explica a reportagem do jornal ABC. “Se trata de un desfile ‘histórico’ en el que Libertad, Igualdad y Fraternidad intentan acercar a los niños sus valores”, explica o diário ABC (07/01/2018).
Considerações finais
O presente texto, em forma de ensaio, apresenta um retrato da festa de reis magos (Fiesta de Reyes) na Espanha, tomando por base o registro da série de atividades comemorativas realizadas em janeiro de 2018. A orientação metodológica da sistematização de um retrato etnográfico-folkcomunicacional é o que orienta a reflexão proposta, na medida em que toma por base o percurso sistematizado por Luiz Beltrão (2001), conforme também explicado por diversos autores que dialogam com os estudos folkcomunicacionais em suas variadas dimensões interdisciplinares (GADINI, 2013).
Como se vê, pela descrição, referências e apresentação do evento, a festa de reis espanhola revela práticas de um sincretismo secular religioso com expressões culturais mediadas por apropriações de uso comercial e turístico que tornam a festa um evento com marcas próprias na Espanha.
O reconhecimento de um feriado nacional (6 de janeiro), os desfiles festivos de rua em carro decorados com temas específicos a cada ano, a entrega de presentes às crianças que, por sua vez, em muito contribuem para reproduzir a crença e a força da manifestação popular, os hábitos alimentares e o incentivo turístico do setor hoteleiro, bem como a loteria oficial atribuem ao evento um caráter híbrido e sincrético que oportunamente aqui serve de reflexão ilustrativa aos estudos e atualidade da perspectiva conceitual e metodológica da Folkcomunicação.
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Notas