Dossiê

O silêncio da Sapucaí e o barulho na internet: relação espaço-tempo durante o carnaval da pandemia

The silence of Sapucaí and the noise on the internet: Space-time relationship during the carnival of the pandemic

El silencio de Sapucaí y el ruido en internet: Relación espacio-tiempo durante el carnaval de la pandemia

Valmir Moratelli
PUC-Rio, Brasil
Mariana Dias
PUC-Rio, Brasil

O silêncio da Sapucaí e o barulho na internet: relação espaço-tempo durante o carnaval da pandemia

Revista Internacional de Folkcomunicação, vol. 19, núm. 43, pp. 189-207, 2021

Universidade Estadual de Ponta Grossa

Recepción: 29/09/2021

Aprobación: 16/11/2021

Resumo: Diante das adversidades provocadas pela recente experiência da pandemia de Covid-19, a proposta desse artigo é discutir a ausência dos desfiles de escola de samba do Rio de Janeiro a partir da experiência de uma transmissão ocorrida pela internet nos dias de carnaval, em fevereiro de 2021. Ao se analisar um canal do YouTube chamado “Boi com Abóbora”, que utiliza imagens de carnavais antigos para fazer transmissão no tempo presente, o trabalho discute noções de nostalgia e memória. O embaralhamento de narrativas, novos recortes e uma supressão do tempo contemporâneo atravessam esse objeto, que nos fazem pensar sobre a identidade cultural como ligação do coletivo social, ou a criação do senso de pertencimento. Como metodologia, explicamos de forma empírica o objeto, como foi realizada a transmissão e suas características, para se discutir, em seguida, como essa experiência alivia danos do distanciamento social causado pela pandemia. Tal atividade nos leva a apresentar, entre os resultados, uma reflexão sobre os impactos e transformações da cultura, mesmo quando as manifestações populares estavam aparentemente suspensas. Desse modo, conclui-se que as forças culturais, em tempos de crise pandêmica, se mantêm em sua tônica máxima, a de fazerem presentes como forma de elo e pertencimento social.

Palavras-chave: Folkcomunicação, Carnaval, Escolas de samba, Memória, Nostalgia.

Abstract: In view of the adversities caused by the recent experience of the Covid-19 pandemic, the purpose of this article is to discuss the absence of the samba school parades in Rio de Janeiro based on the experience of an internet transmission during carnival days, in February 2021. When analyzing a Youtube channel called “Boi com Abobora”, which uses images from ancient carnivals to broadcast in the present time, the work discusses notions of nostalgia and memory. The shuffling of narratives, new cuts and a suppression of contemporary time cross this object, which make us think about cultural identity as a link to the social collective, or the creation of a sense of belonging. As a methodology, we empirically explain the object, how the transmission was carried out and its characteristics, to then discuss how this experience alleviates the damage caused by the social distancing caused by the pandemic. Such activity leads us to present, among the results, a reflection on the impacts and transformations of culture, even when popular demonstrations were apparently suspended. Thus, it is concluded that cultural forces, in times of pandemic crisis, remain in their maximum tone, that of making themselves present as a form of link and social belonging.

Keywords: Folk communication, Carnival, Samba schools, Memory, Nostalgia.

Resumen: En vista de las adversidades provocadas por la experiencia reciente de la pandemia Covid-19, el propósito de este artículo es discutir la ausencia de los desfiles de las escuelas de samba en Rio de Janeiro a partir de la experiencia de una transmisión por Internet durante los días de carnaval, en febrero. 2021. Al analizar un canal de Youtube llamado “Boi com Abobora”, que utiliza imágenes de antiguos carnavales para difundir en la actualidad, la obra discute nociones de nostalgia y memoria. El barajado de narrativas, nuevos recortes y una supresión de la época contemporánea atraviesan este objeto, que nos hacen pensar en la identidad cultural como un vínculo con el colectivo social, o la creación de un sentido de pertenencia. Como metodología, explicamos empíricamente el objeto, cómo se llevó a cabo la transmisión y sus características, para luego discutir cómo esta experiencia alivia el daño causado por el distanciamiento social provocado por la pandemia. Tal actividad nos lleva a presentar, entre los resultados, una reflexión sobre los impactos y transformaciones de la cultura, aun cuando aparentemente las manifestaciones populares estaban suspendidas. Así, se concluye que las fuerzas culturales, en tiempos de crisis pandémica, permanecen en su tono máximo, el de hacerse presentes como forma de vínculo y pertenencia social.

Palabras clave: Comunicación popular, Carnaval, Escuelas de samba, Memoria, Nostalgia.

Introdução

Sob o contexto da pandemia de Covid-19, que ainda causa desdobramentos no país e no mundo no decorrer do segundo semestre de 2021, serão discutidos neste trabalho aspectos culturais da relação entre memória e nostalgia na prática relacional do carnaval carioca, mais precisamente com os desfiles das escolas de samba da Marquês de Sapucaí. A abordagem pretendida envolve uma investigação que relaciona a cultura carnavalesca e a (folk)comunicação na pandemia.

O objetivo desse artigo é, desse modo, analisar uma inusitada prática de atividades comunicacionais oriundas das redes sociais, que permitiu suprimir, em partes, a ausência dos desfiles das escolas de samba no cotidiano pandêmico dos foliões. Com a proibição de eventos no país, o carnaval foi suspenso em 2021 em todas as suas manifestações públicas, afim de evitar aglomeração e propagação do novo coronavírus. Entretanto, um grupo de jornalistas, formado por profissionais que costumam fazer a cobertura noticiosa dos desfiles da Marquês de Sapucaí, resolveu criar um canal no YouTube para transmitir alguns carnavais marcantes das escolas de samba, dando-lhes nova narrativa e suprimindo a relação temporal.

Os desfiles de escola de samba foram criados oficialmente, a partir de 1932. Antes disso, porém, nos anos 1920, surgiram as primeiras escolas de samba com os sambistas do bairro do Estácio, entre eles Ismael Silva, que fundaram a escola Deixa Falar (hoje Estácio de Sá) e o primeiro concurso de sambas, em 1929, que contou com a participação da Estação Primeira da Mangueira. Sua origem está relacionada aos morros cariocas, onde, em geral, moravam os sambistas (VIANNA, 1995).

Estas primeiras décadas não contavam com a organização que se tem atualmente. As escolas desfilavam sem horário pré-definido, itinerário, disputa ou qualquer tipo de premiação para a campeã. Ainda que não caiba aqui um detalhamento do processo histórico de estruturação dos desfiles de escola de samba, vale ressaltar que os desfiles como se conhece hoje são, em parte, resultado da inauguração do sambódromo, em 1984, idealizado pelo então governador Leonel Brizola e o antropólogo Darcy Ribeiro, e projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer. Assim como já era realizado na Avenida Presidente Vargas, o espaço projetado como uma avenida margeada por arquibancadas permitiu a verticalização das alegorias e maior organização na competitividade entre as agremiações.

Hoje o desfile das escolas de samba se trata de uma das maiores manifestações populares do país, reconhecido no mundo, e tem grande atrativo econômico em termos de geração de receita e de trabalho para a cidade do Rio de Janeiro. Dados da Empresa de Turismo do Município do Rio de Janeiro (Riotur)3 mostram que o carnaval de 2020, portanto o último antes da paralisação causada pela pandemia de Covid-19, injetou na economia formal e informal da cidade, no período que inclui a semana anterior aos desfiles, mais de R$ 4 bilhões, superando os R$ 3,78 bilhões do ano anterior, 2019.

Esses números refletem a importância econômica do evento no calendário da cidade e do país. Segundo o Ministério do Turismo, com dados de 2018, o impacto do carnaval na economia naquele ano atingiu R$ 3 bilhões, gerando mais de setenta mil postos de trabalho e uma arrecadação de impostos de R$ 179 milhões, sendo R$ 77 milhões de Imposto sobre Serviços (ISS) somente para o Rio de Janeiro.

Em 2021, o sambódromo se manteve às escuras durante o carnaval, pela primeira vez desde que foi inaugurado. Ao se trazer para o tempo presente estes desfiles antológicos, marcados na memória afetiva dos que acompanham o carnaval carioca, tal prática, no contexto do espaço virtual, possibilitou emergir uma fantasia nostálgica de um mundo ainda sem distanciamento social e uso de máscaras. Recorrendo a Carvalho (2007), é importante, desde já, salientar que:

as manifestações culturais estão no centro do espaço ocupado hoje pelos estudos folkcomunicacionais. A partir deste diagnóstico inicial, as mesmas podem ser entendidas como formas de expressão da cultura de um povo, constituindo movimento de determinada cultura, em época e lugar específicos (CARVALHO, 2007, p. 64).

A construção imaginativa de um desfile de escola de samba no tempo presente se faz em duas esferas de mediação: o interlocutor precisa usar o tempo presente para imagens do passado e, junto a isso, o receptor precisa fingir acreditar que houve uma supressão da lógica temporal para embarcar nessa nova narrativa. Isso só é possível porque o receptor (o espectador, internauta ou seguidor) carrega consigo a memória afetiva com aquelas imagens agora retransmitidas.

Acredita-se que este jogo entre passado e presente na relativização de manifestações populares se dá “fazendo um percurso em que o passado é somado com as experiências do presente e reinterpretado. A memória se faz importante por sua capacidade de agir sobre o presente, contribuindo para a afirmação da identidade” (CRUZ, MENEZES, PINTO, p.12).

Para Bakhtin (1981), isso só é possível porque o ato de carnavalizar não é um processo estático, definido em um conteúdo finalizado, mas uma atividade flexível de visão artística. “O carnaval, na concepção do autor, é o locus privilegiado da inversão, onde os marginalizados apropriam-se do centro simbólico, numa espécie de explosão de alteridade, onde se privilegia o marginal, o periférico, o excludente” (SOERENSEN, 2017, p.320). Desde seus primórdios, portanto, o carnaval tem como proposta revogar “o sistema hierárquico e todas as formas conexas de medo, reverência, devoção, etiqueta etc., ou seja, tudo o que é determinado pela desigualdade social hierárquica e por qualquer outra espécie de desigualdade (inclusive a etária) entre os homens” (BAKHTIN, 1981, p. 105).

Já em “A cultura popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais”, Bakhtin reforça a possibilidade de inversão na lógica reinante como suspensão da realidade.

Um dos elementos obrigatórios da festa popular era a fantasia, isto é, a renovação das vestimentas e da personagem social [.] o elemento da relatividade e de evolução foi enfatizado, em oposição a todas as pretensões de imutabilidade e atemporalidade do regime hierárquico medieval (BAKHTIN, 1999, p. 70).

O rompimento com a lógica organizacional da sociedade já é um indício de como as fronteiras com a fantasia são factíveis de serem alcançadas na proposta de fuga do real, também nos dias atuais. Para o antropólogo Roberto DaMatta (1981), em seu livro “Carnavais, malandros e heróis”, essa inversão de hierarquia é pertinente a um país como o Brasil, marcado por grandes desigualdades sociais. Para DaMatta, as figuras de malandros e heróis, antagonistas em suas definições primordiais, se complementam como criações sociais que refletem os problemas e dilemas básicos da sociedade que os concebeu. Daí o Carnaval ser uma inversão pertinente da realidade brasileira: uma festa sem dono num país que tudo hierarquiza (DAMATTA, 1981, p. 116).

Segundo Daniel Miller (2002), a cultura é um processo através do qual grupos humanos se constituem e se socializam. Hall (1997) considera que o conceito de cultura está centrado na produção e na troca de significados entre membros de uma sociedade ou grupo. Os significados dados aos signos não são fixos ou imutáveis, se transformam ou se perpetuam a partir de seus usos. Os signos que ganham significado e relevância, a partir dos processos culturais de uma sociedade, tornam-se símbolos de uma cultura, constituindo-se como parte fundamental de sua cultura material, como é o carnaval para a cultura brasileira (MILLER, 2002; HALL, 1997).

Conforme Gonçalves e Martins (2015, p. 3), “na sua dimensão sociológica, a cultura aponta para uma ação intencional de produção cultural, ou seja, há um desígnio manifesto de criar determinados sentidos e de atuar diante de algum tipo de público”. Ainda segundo os autores, é devido a essa intencionalidade, que agem “as mãos ‘visíveis’ (o Estado) e ‘invisíveis’ (o mercado) na produção da cultura”. Nessa lógica, a cultura se caracteriza e se faz presente a partir de uma estrutura organizada na sociedade, seja por um circuito integrado por agentes, seja pelas organizações que fornecem “concretude à produção, circulação e consumo cultural” (GONÇALVES; MARTINS, 2015, p. 3). O Carnaval se insere nessa lógica, como será exposto mais à frente.

Assim posto, antes da discussão se aprofundar nos meandros de memória e nostalgia, é necessário descrever o nosso objeto de análise, para melhor compreensão da presente proposta.

Objeto de análise

Com a suspensão da realização dos desfiles das escolas de samba no carnaval de 2021, devido à fase crítica da pandemia de Covid-19 que o país atravessava no período, o canal do YouTube Boi com Abóbora4 teve a curiosa iniciativa de relembrar desfiles históricos da Marquês de Sapucaí, do Rio de Janeiro. O canal, também com forte presença nas redes sociais5, é uma iniciativa do jornalista Fábio Fabato, do enredista João Gustavo Melo e do carnavalesco André Rodrigues, e está no ar desde 2013.

Dividida em duas noites de carnaval – dias 12 e 13 de fevereiro de 2021 – a programação foi definida após eleição para voto popular em suas redes sociais, afim de selecionar doze desfiles, um de cada escola de samba que desfila no Grupo Especial, o grupo que concentra a chamada “elite do samba”. A ordem de apresentação foi exatamente a mesma que se daria caso não houvesse interrupção dos desfiles por parte das autoridades sanitárias em 2021.

A semelhança de logo Globeleza TV Globo e Boi Beleza internet
Figura 1
A semelhança de logo Globeleza TV Globo e Boi Beleza internet
Reproduzido, respectivamente, de https://logos.fandom.com/wiki/Carnaval_Globeleza e https://www.youtube.com/channel/UCV36s1e6o9aoFq2S-eZtwNw

Em formato de live na plataforma de vídeos, a primeira noite6 teve a apresentação dos desfiles da Imperatriz Leopoldinense, Mangueira, Salgueiro, São Clemente, Viradouro e Beija-Flor de Nilópolis. Na noite seguinte7, estava programado para desfilarem Paraíso do Tuiuti, Portela, Mocidade Independente de Padre Miguel, Unidos da Tijuca, Acadêmicos do Grande Rio e Vila Isabel. O evento foi chamado de Boi Beleza, uma clara alusão ao Carnaval Globeleza (Figura 1), marca registrada da TV Globo, única detentora dos direitos de transmissão dos desfiles de escola de samba na atualidade. Todos os desfiles apresentados eram, na verdade, resgate de transmissões antigas de carnavais da TV Globo e da extinta TV Manchete, disponíveis em diversos canais gratuitos da internet.

Quadro 1
Ordem das apresentações e respectivos enredos
SEXTA-FEIRA (12/02)SÁBADO (13/02)
Imperatriz Leopoldinense: 1996 (Imperatriz Leopoldinense Honrosamente Apresenta: Imperatriz Leopoldina);Tuiuti: 2018 (Meu Deus, Meu Deus, Está Extinta a Escravidão?)
Mangueira: 2017 (Só com a Ajuda do Santo)Portela: 1995 (Gosto que me Enrosco)
Salgueiro: 2007 (Candaces)Mocidade Independente: 1997 (De Corpo e Alma na Avenida)
São Clemente 2015 (A Incrível História do Homem que só Tinha Medo... Fernando Pamplona)Unidos da Tijuca: 2004 (O Sonho da Criação e a Criação do Sonho: A Arte da Ciência no Tempo do Impossível)
Viradouro: 1998 (Orfeu, O Negro do Carnaval)Grande Rio: 2006 (Amazonas: Delírios e Verdades do Eldorado Verde)
Beija-Flor: 1986 (O Mundo É uma Bola)Vila Isabel: 1993 (Gbalá, Viagem ao Templo da Criação)
Descrição dos autores a partir do canal do YouTube Boi com Abóbora

Com uma audiência média de 1,5 mil pessoas acompanhando ao vivo, o Boi Beleza chegou a ocupar o segundo lugar nos trending topics do Twitter no Brasil, já na primeira noite de exibição. Ao longo da transmissão da primeira parte dos desfiles, mais de 20 mil pessoas assistiram às reprises, comentadas como se estivessem acontecendo ao vivo, em tempo real. Até o dia 6 de setembro de 2021, data dessa presente análise, a transmissão acumulava mais de 33 mil visualizações, a respeito da live que passou de sete horas ininterruptas de duração. A programação se iniciou às 21h, com a Imperatriz, e terminou depois das 4h com a Beija-Flor.

Assim como ocorre durante os desfiles ao vivo, quarenta jurados foram convidados – entre sambistas, jornalistas, pesquisadores e apaixonados por carnaval – para acompanharem as apresentações do canal para uma apuração com os mesmos quesitos já conhecidos do público que frequenta a Marquês de Sapucaí. O resultado, com direito a um troféu de campeã, foi revelado na Quarta-feira de Cinzas8.

Na primeira noite desses desfiles virtuais, o prefeito do Rio Eduardo Paes participou da live, fazendo a abertura “oficial” do Boi Beleza (Figura 2). “Não é como eu gostaria. Mas tem um esforço das pessoas entenderem que vivemos um momento difícil, temos que proteger a vida das pessoas. Sem muita aglomeração, sem festa, mas a causa é nobre”, disse ele, se referindo ao cancelamento dos desfiles inéditos. O comentarista Fabio Fabato reforçou a ideia daquele projeto: “A gente está fazendo uma transmissão com desfiles históricos que vão passar de novo (na Sapucaí). Na verdade, a gente esqueceu que eles já passaram. É como se estivessem acontecendo ao vivo. A gente está operando na lógica do entretenimento e do lúdico do carnaval”.

Os comentaristas do Boi Beleza e o prefeito do Rio Eduardo Paes abrindo a transmissão virtual dos desfiles
Figura 2
Os comentaristas do Boi Beleza e o prefeito do Rio Eduardo Paes abrindo a transmissão virtual dos desfiles
Canal de YouTube Boi com Abóbora

Nesse momento, surgem imagens antigas das arquibancadas lotadas da Sapucaí (Figura 3). O comentarista volta a reforçar: “Vamos operar no lúdico, meu povo. A Sapucaí está lotada. A primeira escola a passar hoje é a Imperatriz Leopoldinense, que já está na concentração”. Essa operacionalidade na lógica do lúdico, como ele mesmo apresenta, é um acordo a ser firmado com os internautas, que acompanham a transmissão na mesma intensidade ilusória. Há comentários dos espectadores no chat que confirmam esse pacto nostálgico, tais como: “Já estou na arquibancada ansioso”, “Quero ver a Mangueira desfilar lindamente”, “Preparei os petiscos e vou até de manhã acompanhando os desfiles”, entre tantos outros.

Ainda no começo da transmissão, Fabato alerta: “Preciso dar uma informação a vocês sobre o serviço de meteorologia. Há uma previsão de chuva para o final dos desfiles”. Essa referência à chuva é porque o último desfile da noite seria o da Beija-Flor, de 1986 (“O mundo é uma bola”, criado por Joãosinho Trinta), no qual a agremiação desfilou debaixo de uma tempestade e se tornou antológico justamente pelo alagamento da avenida.

Os comentaristas falam sobre a Sapucaí lotada no tempo presente utilizando imagens passadas
Figura 3
Os comentaristas falam sobre a Sapucaí lotada no tempo presente utilizando imagens passadas
Canal de YouTube Boi com Abóbora

Em uma entrevista a Band TV, o jornalista Fábio Fabato declarou sua intenção em mexer com a memória e nostalgia dos foliões do carnaval carioca em tempos de pandemia. “Precisamos estar em casa até todo mundo se vacinar e nada melhor do que voltarmos à estética de uma folia delirante, quebrando tempo e espaço, fazendo com que as pessoas revivam grandes desfiles”9.

Essa quebra de tempo e espaço, como mencionado pelo organizador da transmissão, se deu, principalmente pela narrativa no tempo presente, em que se utilizou a reedição de imagens do passado para reviver desfiles antológicos, porém sendo reorganizados para a atualidade nos comentários acerca dos fatos reprisados. Como em uma transmissão de televisão em tempos de carnavais reais, o programa do YouTube exibiu cada ala e carro alegórico, detalhes do samba e da comissão de frente, com comentários de quem parecia acompanhar os desfiles ao vivo, pela primeira vez.

O jornal Extra, do grupo Globo, que controla os direitos de transmissão, chegou a noticiar, semanas antes, a proposta do programa Boi Beleza: “No carnaval do coronavírus, canal do YouTube vai transmitir desfiles antigos”10. Entretanto, com o sucesso da primeira noite de transmissão e a repercussão nas redes sociais, a live interativa realizada pelo canal foi tirada do ar11, sem qualquer aviso prévio, exatamente na hora em que a TV Globo começava a exibir as suas já programadas reprises de carnaval12. O Boi com Abóbora precisou exibir a mensagem: “Este vídeo não está mais disponível devido à reivindicação de direitos autorais das Organizações Globo”. Consultada pelo jornal O Estado de São Paulo, a emissora disse que “adota estratégias de proteção ao seu conteúdo e faz campanhas de esclarecimento sobre a ilegalidade e os riscos de sua utilização indevida”13.

Apesar dessa não exibição completa dos desfiles da segunda noite, manteve-se a ideia inicial de haver uma apuração do Boi Beleza. Os jurados foram convidados a assistirem aos desfiles que não foram exibidos no canal, já que continuam disponíveis no YouTube. Até o dia 6 de setembro de 2021, a live da segunda noite, ainda que interrompida, contava com mais de 14 mil visualizações. A apuração, que aconteceu na Quarta-feira de Cinzas, no dia 17 de fevereiro, teve 5,5 mil visualizações. E o desfile das campeãs14, quando as seis primeiras agremiações voltam a desfilar na Marquês de Sapucaí, contabiliza quase 9,5 mil visualizações. Ou seja, no total, o programa teve 62 mil visualizações. A Marquês de Sapucaí comporta um público médio de 70 mil pessoas.

Este sucesso na interação do público com os desfiles das escolas de samba, numa referência a apresentações bastante conhecidas, se deve a dois fatores centrais dessa presente análise: 1. A utilização da memória na importância de manifestações culturais populares; e 2. O afeto da nostalgia vivida durante o isolamento causado pela pandemia de Covid-19. Essas duas hipóteses serão tratadas a seguir, tendo como base a discussão sobre memória e nostalgia na criação de laços sociais.

Memória e nostalgia

A cultura é a maneira de viver de um povo. A experiência é o enquadramento de uma memória narrativa. É a partir da memória que se constitui o nosso sentimento de identidade tanto individual quanto coletivo. Assim sendo, tanto a memória como a identidade são construções sociais. A identidade é mobilizada pela diferença, envolvendo um trabalho discursivo, o fechamento e a marcação de fronteiras simbólicas. A identificação é uma construção, um processo nunca acabado, sempre em andamento, podendo ser sempre sustentada ou abandonada (HALL, 2000). Do mesmo modo, a memória deve ser entendida como um fenômeno construído coletivamente e submetido a flutuações, transformações e mudanças constantes (HALBWACHS, 2016).

Mais do que apenas um evento festivo, o carnaval se apresenta como um símbolo de uma cultura e identidade nacional. Assim, sua suspensão afeta diretamente a percepção de identidade. Em um momento de forte desestruturação social, econômica e psicológica como a pandemia, tornar possível que o carnaval se faça presente é de grande relevância, pois promove a continuidade de uma identidade, além de acionar a memória e a nostalgia, podendo assim nos lembrar de quem somos e que o amargo presente ainda poderá ser superado.

Ninguém pode construir uma auto-imagem isenta de mudança, de negociação de transformação em função dos outros. A construção da identidade é um fenômeno que se produz em referência aos outros, em referência aos critérios de aceitabilidade, de admissibilidade, de credibilidade, e que se faz por meio da negociação direta com os outros. Vale lembrar que memória e identidade podem perfeitamente ser negociadas e não são fenômenos que devam ser compreendidos como essência de uma pessoa ou de um grupo (POLLAK, 1992, p. 13).

Sendo a memória e a identidade fenômenos que estão sempre a serem negociados e não isentos a mudanças, o programa criado pelo canal Boi com Abóbora permite a manutenção desse laço social e identitário com o carnaval. Além do estímulo à memória afetiva de um grupo que estaria órfão de seu tão importante carnaval, o Boi Beleza também ofereceu uma oportunidade de partilha social entre eles. A área de comentários se tornou um local de encontro e troca de experiências entre espectadores durantes as exibições.

A respeito desse tipo de experiência, Maurice Halbwachs (2016) argumenta que o depoimento não tem sentido, senão em relação a um grupo do qual se faz parte, pois supõe um acontecimento real outrora vivido em comum e, por isso, depende do quadro de referência no qual evoluem presentemente o grupo e o indivíduo que o atestam.

A memória de quem já viu os desfiles teve que ser renegociada com as reprises. A memória sofre flutuações em função do momento em que é articulada e as preocupações do momento podem afetar sua estruturação. O que a memória grava, recalca, exclui ou relembra é resultado de um trabalho de organização (POLLAK, 1992). A memória tenta sempre buscar a coerência e, assim, na tentativa de encadear os fatos em uma ordem cronológica, também pode causar distorções. Talvez assim os desfiles não sejam exatamente como as pessoas se lembrassem. Isso pode criar uma nova dimensão espectatorial para este público, que irá conjugar a lembrança da realidade reapresentada com o novo tempo no qual se insere, tendo acumulado novas vivências em sua bagagem.

Ao analisar produtos culturais que operam sob a ordem da nostalgia, as autoras Castellano e Meimaridis (2017) comentam sobre a dualidade do reconforto do reencontro com o que já se conhece e o incômodo sobre a percepção de que o tempo passou.

Ao transformar o tempo em um espaço retornável, a nostalgia permite aos indivíduos retomarem momentos do passado. É uma estratégia de manejo do tempo em um contexto em que ele parece cada vez mais fugidio. Nota-se que com os avanços tecnológicos, esse retorno se tornou aparentemente “viável” e, assim, o que começou como uma doença15 se tornou um recurso mercadológico rentável (CASTELLANO; MEIMARIDIS, 2017, p. 65).

A exibição dos desfiles só foi possível pela existência de uma rede social como o YouTube, que permitiu além da realização do próprio Boi Beleza, o compartilhamento de todos os desfiles selecionados por voto popular. A iniciativa reativou a memória afetiva daqueles que os presenciaram, fazendo aflorar sentimentos e emoções ligados aos bons momentos vividos. Mas mesmo quem nunca os viu também pode se sentir nostálgico?

Pesquisadora da temática da nostalgia, a psicóloga e pesquisadora Krystine Batcho diferencia a nostalgia pessoal da nostalgia histórica. A primeira se refere a alguém que sente a falta ou se lembra saudoso de aspectos da vida que já viveu e que guardou na memória. A nostalgia histórica pode ser um apego emocional ou um anseio por tempos na história anteriores ao próprio nascimento de quem a sente, ou seja, a pessoa pode sentir esse tipo de nostalgia com relação a experiências que nunca teve, talvez por ter lido a respeito, ouvido falar ou visto um retrato desse momento ou evento em filmes e livros de ficção (BATCHO, 2019). São fenômenos diferentes, mas em ambos os casos se sente essa “sensação agridoce de saudade”. Pode-se assim dizer que a nostalgia trazida pela oportunidade de reviver os desfiles das escolas de samba é sentida tanto por aqueles que presenciaram esse evento, tanto por quem viu pela primeira vez – ainda que em cada caso opere um tipo particular de nostalgia, com diferentes relações emocionais, uma mais ligada à memória e a outra à fantasia do que os desfiles representam.

Segundo Batcho (2019), mudanças são sempre psicologicamente estressantes, sejam elas boas ou más, pois ao adicionar novos elementos a uma equação, não temos 100% do controle sobre seus resultados. Um dos aspectos considerados importantes para a saúde mental humana é o senso de controle da situação. Quando não se sabe o que esperar do futuro, se lembrar do passado traz o conforto de se ter a sensação de saber quem somos e o que já fizemos.

Ainda que a nostalgia seja um sentimento controverso, já tendo tido até a classificação de patologia médica, muito estudos como o de Batcho evidenciam diversos pontos positivos para a saúde mental operados pela nostalgia. Não à toa, períodos de transição ou de crise são gatilhos para pensamentos nostálgicos, assim como aqueles em que há uma insatisfação com o presente. Sendo assim, podemos levantar a hipótese de que a nostalgia pode trazer benefícios positivos para a manutenção da saúde mental em situações atípicas, como a que a pandemia de Covid-19 proporcionou.

A pandemia de uma hora para outra nos apresentou uma realidade distópica inimaginável, afetando nosso senso de propósito e significado de vida. Batcho (2019) destaca que pesquisas apontam como uma das principais funções da nostalgia facilitar o nosso entendimento sobre o significado da vida. Quando não se está 100% satisfatório com o estilo de vida presente, nossa mente viaja para o passado:

quando revisitamos nossas memórias, tentamos lembrar como outras pessoas em nossas vidas resolveram problemas no passado e, em seguida, usamos isso como um modelo de como queremos resolver os problemas que vivemos hoje, então é geralmente saudável (BATCHO, 2019).

Os dados encontrados pelas pesquisas da autora e de seus pares costumam contradizer o senso comum que reinava no pensamento psicanalítico anterior ao behaviorismo e às ciências sociais modernas ou contemporâneas, de que revisitar o passado seria algo regressivo. Considerava-se que o perigo é que, ao se conectar com a memória de um tempo considerado melhor, a pessoa preferiria permanecer lá, presa no passado.

Além desta função, Batcho (2019) destaca que a nostalgia:

- Gera um sentimento de unidade em termos pessoais, atuando na percepção de somos um mesmo ser, dotado de uma mesma identidade ao longo do tempo. Permite uma avaliação do passado e comparação com o tempo presente para que saibamos o que queremos ser no futuro.

- Fomenta laços sociais. A nostalgia é uma emoção altamente social, ela propicia a sensação de conexão com outras pessoas ao compartilharmos e ouvirmos vivências, sendo estas comuns a grupos ou individuais, mas com as quais nos sintamos identificados.

- Ajuda na superação de momentos de conflito. A nostalgia é uma emoção agridoce: doce porque estamos nos lembrando de bons momentos da nossa vida e amarga pela sensação de sabermos que nunca poderemos realmente recuperá-los. A irreversibilidade do tempo exige que se lide com o conflito, já que não é possível ficar estancado no bom tempo passado.

Para Batcho (2019), o tipo saudável de nostalgia é aquele em que os aspectos pró-sociais positivos podem nos reconectar com o tempo presente. Não apenas nos fazem lembrar de pessoas e situações de nosso tempo passado, mas nos dotam de ferramentas para que saibamos lidar com o que vivemos hoje.

Em um artigo sobre o mercado da nostalgia nas narrativas audiovisuais, ao tratar do boom destes produtos culturais anteriores à pandemia, a pesquisadora Ana Paula Goulart (2018) relembra a importância da dimensão da nostalgia ainda no século XVII, durante o romantismo. Neste contexto, o passado era tido como um lugar de retorno a valores morais, políticos e estéticos. A autora considera que o “consumo desenfreado de artefatos do passado representa o desejo de trazer, para o presente, elementos de um tempo pretérito” (GOULART, 2018, p. 3). Do mesmo modo, para Castellano e Meimaridis, as narrativas nostálgicas também funcionam como um instrumento de evasão, “ao ajudarem o espectador a fugir e se esquecer de suas realidades sociais” (CASTELLANO; MEIMARIDIS, 2017, p. 70). Elas argumentam que:

obras nostálgicas e outras formas de rememoração do passado tendem a se popularizar em contextos de descontinuidade e ansiedade. Nesse sentido, a nostalgia pode ser compreendida como “uma resposta sociocultural a formas de descontinuidade, ao propor uma visão de estabilidade e autenticidade existente em alguma ‘era de ouro’ conceitual” (GRAINGE, 2000, p. 28, tradução nossa). Davis (2011), ao analisar o “boom de nostalgia” [...], propõe que a nostalgia, além de ser uma emoção social, é, também, uma modalidade estética, que surge em resposta ao anseio por continuidade em momentos de transformação (CASTELLANO; MEIMARIDIS, 2017, p. 70).

Além de toda a importância cultural e histórica dos desfiles dessas escolas de samba, em um contexto de pandemia, eles fazem lembrar um tempo – ainda que recente – em que se podia celebrar o carnaval, aglomerar, ter contato físico e festejar.

Goulart (2018) argumenta que a atração pela nostalgia está relacionada à dificuldade que temos em lidar com a nossa própria temporalidade, mas que, contudo, temos consciência da ação implacável e destruidora do tempo. “Expressa nossa dificuldade de viver e dar sentidos a nosso presente” (GOULART, 2018, p. 11).

Como já explicado anteriormente, o carnaval tem grande relevância e é parte constituinte da cultura nacional e carioca. Sendo assim, a falta do evento no calendário reforça o estado de suspensão do que era considerado como algo natural à vida. O Boi Beleza, neste contexto, recupera em alguma esfera e de maneira irreverente o direito de se ter um carnaval. Seguindo a lógica do festejo de quebrar as estruturas, a iniciativa oferece uma possibilidade de se ter um carnaval, apesar de toda a situação pandêmica, sem quebrar a regra de saúde pública. Uma brecha criativa encontrada para tornar o carnaval possível, ainda que através do pacto da suspensão da descrença que transgrede a ordem do tempo.

Mais do que se lembrar de antigos desfiles, a experiência do Boi Beleza permitiu revivê-los a partir do pacto da suspensão da descrença entre os idealizadores do canal na internet e o público. Não houve apenas um estímulo à lembrança, mas sim uma reapresentação que ainda que assistida pelas mesmas pessoas, é sempre vista de maneira diferente. Como já dizia Heráclito, não se entra em um mesmo rio duas vezes, pois o próprio ser já se modificou.

Considerações finais

O carnaval é, desde a sua origem, uma fuga da realidade. O canal Boi Beleza teve a aderência de um grande público, que diante de uma realidade tão difícil com a pandemia da Covid-19 aceitou o convite de seus organizadores para que, durante o período que estaria reservado à festividade, passasse algumas noites revivendo momentos pré-pandêmicos. A experiência estimulou um sentimento nostálgico tanto nos que já haviam assistido aos desfiles, quanto para quem os viu pela primeira vez.

Essa atividade nostálgica do Boi Beleza, construída de maneira meticulosa para que o público pudesse desfrutar da experiência como se esta ocorresse em tempo real, permitiu uma nova oportunidade de viver momentos de um tempo passado. Um tempo em que se podia aglomerar e festejar livremente, que deixa saudades.

A partir das premissas apresentadas, o presente estudo problematiza a inserção das práticas de inovadoras relações digitais em momento de suspensão da produção cultural carnavalesca para o Rio de Janeiro no ano de 2021, devido à pandemia de Covid-19. Para tanto, o artigo contextualiza as relações de nostalgia e de supressão da realidade dentro de uma definição mínima de pertencimento a um mesmo grupo de indivíduos. A hipótese percebida é de que a estratégia comunicacional adotada tem fins de legitimação organizacional e de agregação por uma mesma identidade cultural. Percebe-se, assim, como o capital cultural simbólico se reinventa como laço de sociabilidade.

Coloca-se em diálogo recentes interfaces da comunicação com a cultura, realçando temáticas próximas dos Estudos Culturais, e, também, outros olhares e reflexões sobre um tema tão nosso, que é o carnaval das escolas de samba. Desse modo, colabora-se com a discussão da importância cultural de grandes manifestações populares, diante das incertezas contemporâneas agravadas pela pandemia. Muito além dos fatores econômicos, os impactos sociais e relacionais dessa experiência ainda deverão ser sentidos e estudados em análises com o devido distanciamento histórico. Entretanto, faz-se pontuar que experiências comunicacionais organizadas na lógica do pertencimento e da memória, já nos permitem compreender como a identidade cultural se faz fortalecida como um elo de relação em tempos de crise. O carnaval se mantém vivo, apesar de tudo.

Referências

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VIANNA, Hermano. O mistério do samba. São Paulo: Cia das letras, 1995.

Notas

4 O canal Boi com Abóbora (https://www.youtube.com/c/BoicomAbóbora) é definido como um “canal de cultura colaborativa”. Seu nome é inspirado no termo que remete, de forma jocosa no meio do carnaval, como um “samba ruim”. O compositor João Nogueira tem uma música de mesmo nome, que diz: “E o samba de sobra/ era um tremendo boi com abóbora/ rimava açúcar com sal”.
5 As redes sociais de divulgação do canal são: Instagram - https://www.instagram.com/boicomabobora/ / Facebook - https://www.facebook.com/boicomabobora/ / Twitter - https://twitter.com/boicomabobora.
12 O programa ‘Desfile Número 1 Brahma’ – o especial de Carnaval da TV Globo com cinco minutos de exibição para desfiles antológicos de diferentes épocas.
15 As autoras se referem a antiga concepção da palavra nostalgia, que estava relacionada à saudade de casa e foi incorporada na lista de patologias médicas. Segundo Krystine Batcho, ao longo do tempo essa semântica se ampliou, passando-se a noção de nostalgia para o anseio ou falta de aspectos do passado pessoal de uma pessoa (BATCHO, 2019). Nos tempos atuais seu uso está mais relacionado à memória afetiva (CASTELLANO; MEIMARIDIS, 2017; GOULART, 2018).
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