Dossiê
Recepción: 22/10/2021
Aprobación: 03/12/2021
DOI: https://doi.org/10.5212/RIF.v.19.i43.0014
Resumo: O presente artigo investiga, por meio de alguns textos de Literatura de Cordel, disponíveis na internet, em que medida esta literatura incorporou as práticas preventivas contra a Covid-19 em sua temática, uma vez que tem no leque de suas características uma linguagem popular e lúdica e em seus temas insere o objetivo de informar seus leitores. Com este intuito, aqui visualiza-se a folkcomunicação como instrumento e ponte entre o saber científico e o popular. A amostra do estudo consiste em quatro cordéis publicados no ano de 2020. A partir deles, comprova-se o objetivo proposto, ou seja, as informações e orientações sobre a Covid-19, preconizadas pela Organização Mundial de Saúde, veiculadas entre versos e estrofes de uma literatura popular são meios eficazes de educação em saúde.
Palavras-chave: Covid-19, Folkcomunicação, Literatura de Cordel.
Abstract: This paper investigates, focused on some texts of Cordel Literature, available on the Internet, the impact of this kind of art once the authors incorporated preventive practices against Covid-19 in its themes, once its most remarkable traits are the popular and playful language and in order to inform its readers. The aim is to reflect folkcommunication as a tool and as a bridge able to connect scientific and popular knowledge. The study sample consists of four texts published in 2020 and, according to them, it is possible to investigate and prove the efficiency of the the information and guidance on Covid-19, recommended by the World Health Organization, transmitted by verses and stanzas of a popular literature are an efficient methodology of health education.
Keywords: Covid-19, Folkcommunication, Cordel Literature.
Resumen: El presente artículo investiga a través de algunos textos de la Literatura de Cuerdas, disponiblesen internet, em qué medica esta literatura há incorporado práticas preventivas contra Covid-19 em su temática, ya que sus características son de un linguaje popular y lúdico com objetivo de informar a sus lectores. Teniendo esto en cuenta, la comunicación popular se ve aquí como un instrumento y un puente entre el conocimiento científico y el conocimiento popular. La muestra del estudio consta de cuatro cadenas publicadas en 2020. A partir de ellas, se compruebael objetivo propuesto, es decir, la información y pautas sobre Covid-19, recomendadas por la Organización Mundial de la Salud, transmitidas entre versos y estrofas de una literatura popular son eficazes medios de educación en salud.
Palabras clave: Covid-19, Folkcomunicación, Literatura de Cuerdas.
Fundamentação teórica
A Covid-19 é uma doença causada pelo coronavírus, o SARS-CoV-2, e sua sintomatologia varia de infecções assintomáticas a quadros graves.
Os primeiros casos de Covid-19 surgiram em dezembro de 2019, na China, e rapidamente se espalharam pelo mundo, promovendo uma pandemia, entre as mais graves já vivenciadas pela humanidade (SCHUELER, 2021).
A transmissão do vírus ocorre pelo contato direto entre pessoas ou por contato com superfícies infectadas. No primeiro caso, pessoas infectadas expelem secreções e gotículas no ar ao falar, tossir ou espirrar e o contágio acontece quando há aspiração dessas gotículas por uma pessoa ainda não infectada. No segundo caso, como o vírus pode sobreviver e permanecer infeccioso em determinadas superfícies por um período de tempo, o contato com tais superfícies possibilita que, pelo manuseio das mãos, o vírus acesse as mucosas da boca, nariz e olhos (RUIZ-BRAVO e JIMÉNEZ, 2020).
De acordo com a World Health Organization (Organização Mundial da Saúde) (2020), 80% dos pacientes com Covid-19 são assintomáticos ou apresentam poucos sintomas, enquanto 20% deles podem necessitar de atendimento hospitalar em razão do agravamento da doença.
Os infectados sintomáticos podem apresentar, em casos considerados leves ou moderados, quadros comuns de uma gripe, febre, coriza, congestão nasal, tosse, dor de garganta, dor no corpo, dor de cabeça, além de diarreia, náusea e vômito (ROTHAN, 2020). Em casos especiais, pessoas inseridas no chamado “grupo de risco”, como idosos, imunossuprimidos ou portadores de comorbidades, podem apresentar reações mais agressivas e o quadro evoluir para uma pneumonia ou Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo (SDRA), disfunção cardíaca, hepática e renal (XAVIER et al, 2020).
A prevenção deve ancorar-se principalmente na higienização das mãos e superfícies (já que o vírus é sensível a desinfetantes e antissépticos, como álcool 70º, alvejante, sabonete, entre outros), uso de máscara e isolamento social. Além desses cuidados, a OMS orienta evitar contato das mãos com olhos, nariz e boca e procurar atendimento médico em caso de febre, falta de ar e tosse (MINGHELLI et al, 2020).
Mergulhado no contexto de uma pandemia, o mundo precisou, de forma urgente, (re)conhecer e se adaptar à sintomatologia da Covid-19, aprender e se adequar às medidas preventivas,como forma de evitar o avanço da doença que vitimou 5 044 6545 de pessoas em todo o mundo, de acordo com dados da Word Healt Organization (2021).
Para êxito na prevenção e no controle, iniciou-se um desafio comunicacional, de divulgação e compartilhamento de informações via redes sociais, jornais impressos, televisão, rádio, ou seja, nos mais diversos dispositivos, com propósito de informar a população sobre a Covid-19.
No Brasil, como em outros países, com número substancial de mortos e infectados, a cada noticiário veiculado na imprensa tradicional, acompanhamos os desdobramentos advindos da doença, abertura de hospitais de campanha, superlotação de Unidades de Terapia Intensiva, e o vertiginoso crescimento da curva de mortes pela Covid-19. Neste cenário, surgiram os entraves de uma comunicação ainda pouco acessível, marcada por uma linguagem médica muito técnica, redes sociais repletas de desinformações, ofertas de terapias alternativas e medicamentos sem comprovação científica, posturas político-ideológicas, que tornaram as estratégias de prevenção disseminadas pela OMS e adotadas pelo Ministério da Saúde e Secretarias de Saúde Estaduais mais difíceis de serem acatadas pela população.
Por outro lado, com o intuito de tornar a comunicação mais eficiente e acessível ao maior número de pessoas possível, áreas de conhecimento a princípio estanques (como a medicina e a literatura), aproximaram-se com o propósito de um veicular conceito da outra, disseminando, assim, informações científicas nos moldes da cultura popular.
Usar a cultura popular, como o folclore, a literatura de cordel, entre outras formas, para este fim, se alinha à folkcomunicação (DIAS, 2014), uma área da Comunicação fundada pelo pesquisador e jornalista pernambucano Luiz Beltrão, na década de 60.
Em linhas gerais, como preconizada por Beltrão (1971), a folkcomunicação evidencia a comunicação popular como um instrumento consistente e abrangente para mostrar que o saber científico precisa democratizar a comunicação, a fim de ser compreendido nas diferentes esferas da população. Sendo assim, ela atua como um instrumento importante e eficaz para possibilitar que a mensagem chegue aos interlocutores em sua completude e com veracidade.
Na questão do Covid-19, entende-se que um trabalho sob o viés da folkcomunicação, dissemina os conhecimentos técnicos necessários à prevenção da doença, de forma ampla, numa linguagem popular e acessível.
No conjunto de cultura popular brasileira, a literatura de cordel, manifestação artística aqui adotada, cumpre um importante papel transmissor de conhecimentos de áreas diversas, pois, em sua aparente simplicidade, principalmente linguística, adapta a temática desejada a fim de se achegar e se fazer entender a uma diversidade de contextos. Por isso mesmo, numa ambientação mais recente, a literatura de cordel deixou de ter seus limites regionais e temáticos relacionados ao nordeste, à vida e à cultura nordestinas, e ganhado destaque como instrumento de comunicação e de visibilidade para as mais diferentes áreas, como moda, política, educação, ciência e outras tantas. Basta uma pesquisa rápida para que isso se comprove: LUCENA FILHO e BEZERRA da SILVA, 2012; MEDEIROS; SILVA e TORRES, 2016; SILVA e GABRIEL, 2019; CHIARADIA, 2020; entre outros. Esta possibilidade de agregar e transmitir valores, conhecimentos e manifestações de áreas distintas promove o que a folkcomunicação tem como ideal (BELTRÃO, 1971).
Reitera-se, assim, a condição privilegiada da literatura de cordel para exercer a função de divulgar, informar e/ou orientar sobre questões científicas ou de calamidade pública.
Considerando esse vínculo de práticas, realizamos o presente trabalho, permeado pela folkcomunicação, com o objetivo de mostrar como exemplares do cordel incorporaram informações e medidas preventivas a respeito da Covid-19, no contexto da atual pandemia.
Metodologia
Para objeto de estudo, selecionamos 4 produções de literatura de cordel. A seleção iniciou-se com uma busca de cordéis que traziam em sua temática a pandemia da Covid-19. Dentro da variedade de produções, escolhemos aqueles que atendiam ao que pretendíamos mostrar, isto é, as informações mais estreitas ao que é a Covid-19 e suas formas de prevenção. Além disso, a escolha desse corpus levou em conta os seguintes critérios: 1º - disponibilidade na internet em formato escrito; 2º - ser a produção mais recente do cordelista. Preenchendo estes critérios, adotamos os textos: I - Cordel do Coronavírus, de Tião Simpatia; II - Cordel da Covid-19, de Professor Ibiapina, de Cássio Ibiapina e Ricardo Ibiapina; III - Coronavírus em Cordel, de Anne Karolynne Santos de Negreiros e IV - Coronavírus em Cordel, de Orlando Paiva.
Realizamos leituras dos cordéis selecionados, identificando em cada um deles elementos que se reportam às informações a respeito da Covid-19, bem como as medidas preventivas preconizadas pela Organização Mundial de Saúde para enfrentamento da pandemia do Covid-19, tais como: higienização das mãos com álcool em gel e antissépticos, medidas para o cuidado com a Saúde Mental, distanciamento social e o uso correto das máscaras.
Discussão do corpus e resultados
O texto Cordel do Coronavírus (SIMPATIA, 2020)6, inicia com um alerta sobre a rapidez da propagação do coronavírus e o sentimento que causa nas pessoas: “Como um rastilho de pólvora/A COVID19/Se espalha pelo mundo/E o pânico promove” e, em seguida, se refere à parcela de pessoas que desacredita do perigo, apesar da ameaça que o vírus representa: “Mas tem gente que “faz hora”/ Ironiza, ignora/ Esse perigo iminente”7. A estrofe é finalizada com a medida mais drástica de prevenção: “Ficar em casa é prudente”, que corresponde ao recomendado isolamento social:
Como um rastilho de pólvora
A COVID 19
Espalha-se pelo mundo
E o pânico promove!
Mas tem gente que “faz hora”,
Ironiza, ignora
Esse perigo iminente.
Prevenção é o remédio
Ainda que cause tédio
Ficar em casa é prudente.
Há a orientação, muito enfatizada pela OMS e demais órgãos de saúde, referente à higienização das mãos com álcool em gel e antissépticos: “Lave as mãos com álcool em gel / Ou com água e sabão!”. O autor não se ateve apenas aos cuidados físicos para a prevenção da Covid-19, mas aconselhou também a preservar a saúde mental: “E por favor, não esqueça / De limpar bem a cabeça / Filtrando os bons pensamentos”:
Lave as mãos com álcool em gel,
Ou com água e sabão!
Também faça uma limpeza
Na alma e no coração.
E por favor, não esqueça
De limpar bem a cabeça
Filtrando os bons pensamentos
Expurgue do coração
O ódio, a ambição,
Da alma, os ressentimentos.
Apresenta o alerta para um problema de cunho social que tem influenciado negativamente na adesão das condutas preventivas contra o coronavírus, as informações falsas amplamente divulgadas principalmente nas redes sociais: “Não espalhe Fake News / Isto é muito importante: / Cheque a fonte da notícia / Antes de passá-la adiante”. Aqui ainda reforça a necessidade do isolamento social imposto pelos órgãos de Saúde: “Evite aglomerações / Siga as recomendações / Dos órgãos oficias”8:
Não espalhe FakeNews,
Isto é muito importante:
Cheque a fonte da notícia
Antes de passá-la adiante.
Evite aglomerações,
Siga as recomendações
Dos órgãos oficiais.
Foi dado o sinal de alerta
Se fizer a coisa certa
Protegerá seus iguais.
Orienta em relação à, talvez, mais “desobedecida” medida imposta para a prevenção da Covid-19, o uso de máscaras: “Bote a máscara da saúde”. Ciente da problemática que envolve o uso de máscaras, o autor apela à memória do leitor, lembrando-o que socialmente já usamos “a máscara da moral”:
Bote a máscara da saúde,
Tire a máscara da moral;
Todos nós usamos máscaras
No convívio social!
Mude hábitos e conceitos
E os velhos preconceitos,
Que tal higienizá-los?
Essa crise, na verdade
É uma oportunidade
Pra ressignificá-los.
Finalizando a investigação neste texto, encontramos a torcida pela criação da vacina, que atualmente é uma realidade para quase todos os países do mundo: “Torcer pra que a medicina / Descubra logo uma vacina / E acabe esse pesadelo”. Antes disso, o autor reforça o pedido para que se acredite e siga as medidas da OMS: “Do que diz a OMS / No seu detalhado plano / Pra conter a pandemia / Vamos seguir seu modelo”:
Na contramão do bom senso,
Do espírito republicano;
Do que diz a OMS
No seu detalhado plano
Pra conter a pandemia
Trabalhando noite e dia
Vamos seguir seu modelo.
Torcer pra que a medicina
Descubra logo uma vacina
E acabe esse pesadelo.
Cordel do Covid-19 (PROFESSOR IBIAPINA, IBIAPUNA, C. e IBIAPUNA, R., 2020)9, foi escrito pelo professor e pediatra aposentado da UFJF, Doutor Ibiapina, em coautoria com seus filhos Cássio e Ricardo, também médicos. Para salientar a necessidade ou o dever de procurar atendimento médico, caso haja sintomas da doença, os autores referem-se aos profissionais da chamada “linha de frente” que estarão de prontidão para cuidar dos infectados pelo vírus: “Os médicos estão prontos para cuidar” destacam também a necessidade do isolamento social: “Todos neste momento / Estão em isolamento”; alertam para a fragilidade maior dos idosos imersos no “grupo de risco: “Mas mais nos idosos pode complicar”:
Os médicos estão prontos para cuidar
Todos neste momento
Estão em isolamento
O vírus não deve circular
Tudo isso vai passar
Mas mais nos idosos pode complicar.
Descreve os sintomas da Covid-19: “Febre, dor de garganta, tosse seca / Pode ser coronavírus”; e reitera a busca de cuidados médicos “Se o cansaço piorar, o hospital você deve procurar”:
Febre, dor de garganta, tosse seca
Pode ser coronavírus
Você deve observar
Se o cansaço piorar, o hospital você deve procurar
Como profissionais da saúde, os autores questionam a eficácia da cloroquina e da azitromicina: “A cloroquina e a azitromicina nos graves pode salvar?”, remédios já existentes para outras enfermidades, cuja recomendação e uso para a prevenção e tratamento da Covid-19 geraram grande polêmica, chegando a se tornar um viés político, dividindo a opinião e aceitação da população quanto a seus usos:
A curva epidêmica não vai decolar
Fique em casa para não se infectar
A vacina estão a estudar
A cloroquina e a azitromicina nos graves podem salvar?
Em contrapartida, orienta-se o isolamento social como eficaz na prevenção da Covid-19: “O distanciamento social / É remédio natural”:
Seja com a tia, primo ou irmão
Não podemos dar a mão
O distanciamento social
É remédio natural
A preocupação com o “grupo de risco” surge mais uma vez quando aconselha a não se descuidar das doenças pré-existentes: “Controle sua diabetes, asma, hipertensão”; a higienização das mãos é também aconselhada: “Procure lavar as mãos / Pode ser com água e sabão”:
Controle sua diabetes, asma, hipertensão
Não facilite não
Procure lavar as mãos
Pode ser com água e sabão
Os autores fecham o cordel expressando confiança quanto ao fim da pandemia “Tenham fé, união, esperança / A pandemia vai passar”, resgatando uma expressão de carinho, cujo direito foi vedado a todos em razão do vírus: “E todos irão se abraçar.”:
Sejam os avós, os pais ou a criança
Tenham fé, união, esperança
A pandemia vai passar
E todos irão se abraçar.
Negreiros (2020), enfermeira e cordelista, é a autora do texto Coronavírus em Cordel10. De forma linear, numa linguagem bastante coloquial, a autora orienta sobre a Covid-19. Parece pretender deixar claro que o vírus é algo novo e desconhecido: “Um tal de coronavírus”, talvez para incentivar os cuidados, e informa do que se trata a doença: “Essa infecção viral”:
Armaria, minha gente
Que desmantelo total
Um tal de coronavírus
Fez rebuliço geral
Tá pegando o povo todo
Essa infecção viral.
Os sintomas são expostos: “O cabra tem logo febre / Tosse feito um condenado / Difícil até respirar”:
O cabra tem logo febre
Sem conseguir controlar
Tosse feito um condenado
Difícil até respirar
Saliva contaminada
Se transmite pelo ar.
As formas de transmissão são descritas: “Espirro, tosse, catarro / Levam contaminação / A saliva quando fala / Sai levando infecção / O vírus também se espalha / Em um aperto de mão”:
Espirro, tosse, catarro
Levam contaminação
A saliva quando fala
Sai levando infecção
O vírus também se espalha
Em um aperto de mão.
A autora refere-se a doenças conhecidas, como gripe e resfriado, que também necessitam de cuidados, como comparação, a fim de apelar para a prevenção: “Como gripe ou resfriado / Precisamos prevenir”. A proteção das vias respiratórias ao tossir “Cobrindo a boca e o nariz / Na hora em que for tossir” e, numa alusão ao contato com superfícies infectadas, em que ao tocá-las pode ocorrer a contaminação, há “E objetos pessoais / Não podemos dividir”:
Como gripe ou resfriado,
Precisamos prevenir
Cobrindo a boca e o nariz
Na hora em que for tossir
E objetos pessoais
Não podemos dividir.
As orientações de isolamento são recomendadas “Evitar lugar lotado / com muita aglomeração”, e, mais uma vez, de forma implícita, a referência à contaminação por meio de superfícies: “Limpar bem os ambientes”. A frequência da higienização das mãos e formas corretas de fazê-la: “Lavar sempre a nossa mão / Esfregar bem direitinho / Usando água e sabão”:
Evitar lugar lotado
Com muita aglomeração
Limpar bem os ambientes
Lavar sempre a nossa mão
Esfregar bem direitinho
Usando água e sabão.
Chama a atenção para o uso de máscara “Se precisar, use máscara”; do álcool em gel “Álcool em gel para limpar”; à ida ao médico em casos graves “Se estiver muito doente / Vá ao médico consultar” e ao isolamento domiciliar para os casos leves: “Se os sintomas forem leves / Fique em casa até curar”:
Se precisar, use máscara
Álcool em gel para limpar
Se estiver muito doente
Vá ao médico consultar
Se os sintomas forem leves
Fique em casa até curar.
A autora encerra o cordel convocando todos a se cuidarem, pois agora todos foram orientados em como fazê-lo: “Vamos simbora cuidar / Tá todo mundo informado”:
Vamos simbora cuidar
Tá todo mundo informado
Se puder, fique em casa
Prevenido, resguardando
Torcendo pra que esse vírus
Seja logo eliminado!
O texto Coronavírus em Cordel (PAIVA, 2020)11 faz referência à pandemia que se tornou a Covid-19: “Um vírus está deixando / O planeta infectado”:
O mundo em desespero
Pânico para todo lado.
Um vírus está deixando
O planeta infectado.
O assunto virou manchete
Deixou o povo assustado
Antes das preventivas preconizadas pela Organização Mundial de Saúde à Covid-19, este autor refere-se à proteção divina: “Deus é nossa proteção”:
Essa pandemia é
Espécie de assombração,
Que tirando o nosso sono,
Parecendo obra do “cão”.
Mas nós vamos combater
Deus é nossa proteção.
Mais à frente, o autor deixa claro que o seu texto tem o objetivo de explicar sobre como se transmite o vírus, assim como as formas de prevenção: “As formas de transmissão / Assim como a prevenção / Aqui neste Cordel / Ficará tudo explicado”:
As formas de transmissão
Deste vírus vil, malvado
Assim como a prevenção
Pra não ser infectado.
Aqui nesse meu Cordel
Ficará tudo explicado.
As formas de transmissão são evidenciadas em várias estrofes, da tosse ao beijo: “O vírus se espalha em / Espirro e tosse no ar/ Por gotículas expelidas / Ou pela boca ao falar”:
O vírus se espalha em
Espirro e tosse no ar.
Por gotículas expelidas
Ou pela boca ao falar.
Mas também pelo contato
De uma mão ao apertar.
O contato físico, já referido anteriormente, volta a ser enfatizado na estrofe VII: “O famoso aperto de mão / Está hoje proibido”:
O gesto de cumprimento
Que é bastante conhecido,
É preciso evitarmos,
Cada um bem precavido.
O famoso aperto de mão
Está hoje proibido.
As demonstrações de afeto, chamadas aqui de “símbolos da paixão”, também são sinalizadas como formas de transmissão: “Os beijos e abraços / Símbolos de uma paixão / São as outras duas formas / Também de transmissão”:
Os beijos e os abraços
Símbolos de uma paixão,
São as outras duas formas
Também de transmissão.
Lugares não higienizados
Evite passar a mão.
Os sintomas da infecção são expostos na estrofe IX, como “Tosse seca ou secreção / Febre muito elevada / O infectado pode ter”:
Os sintomas da doença
O povo tem que saber.
Tosse seca ou secreção
Isso pode acontecer.
Febre muito elevada
O infectado pode ter.
Há também as complicações que o coronavírus pode desencadear “Problema respiratório / Insuficiência renal”:
Problema respiratório,
Insuficiência renal;
São esses e outros problemas
Causados por esse mal,
Chamado coronavírus
Que é temor mundial.
Nas estrofes finais do cordel, o autor expõe as formas de prevenção: “Cobrir o rosto com o braço /Ao espirrar ou tossir” e manter distanciamento social: “Ficar longe de pessoas / Se for preciso, sair”:
Meu leitor fique atento
Nas formas de prevenir.
Cobrir o rosto com o braço
Ao espirrar ou tossir.
Ficar longe de pessoas
Se for preciso, sair.
A higienização das mãos com álcool em gel e sabão é recomendada: “Lave sempre suas mãos / Com álcool ou gel pra limpar / Use também muito sabão / Para o vírus eliminar”:
Outra forma de prevenção
Que posso aqui destacar.
Lave sempre suas mãos
Com álcool ou gel pra limpar
Use também muito sabão
Para o vírus eliminar.
Evitar aglomeração e guardar a quarentena são medidas de prevenção recomendadas: “Fique longe da multidão / Em casa de quarentena / Serve como prevenção”:
Evite local fechado
Fique longe de multidão.
Em casa de quarentena
Serve como prevenção.
Assim o COVID-19
Não terá propagação.
Fechando o cordel, há o lembrete de que não há ainda uma vacina contra o coronavírus: “Ainda não tem vacina” e que o atendimento médico deverá ser buscado caso apareçam os sintomas: “Se o sintoma aparecer / Procure atendimento”:
Ainda não tem vacina
Para esse tratamento.
Se o sintoma aparecer
Procure atendimento,
Desta forma evitará
Um maior sofrimento
Com a exposição acima, finalizamos o objetivo proposto no início deste artigo. Reafirma-se, a partir dos textos da literatura de cordel, tomados como objeto deste estudo, o ideal da folkcomunicação, que é exercer um relevante papel cultural ao misturar a tradição popular, acontecimentos históricos com o contexto massivo e formação social. Com ela, verifica-se como se processa a difusão de informações na comunicação popular, o que ganha vulto ainda maior quando o propósito de sua adoção está vinculado a promover a saúde pública, como é o caso ora estudado. Como afirma Botelho (2011):
O intercâmbio cultural permite verificar que a problemática da comunicação em nível das populações de cultura folk e suas relações com a cultura de massa é também objeto do interesse de pesquisa acadêmica (ainda que sob outras denominações) em diversas partes do mundo, inclusive em países onde as populações de cultura folk são absolutamente minoritárias e a cultura de massa tende a ser considerada com expressão cultural única. Ao expandir a área de abrangência dos estudos, coloca-se o desafio de prosseguir na pesquisa para consolidação do conhecimento científico. Impõe o trabalho interdisciplinar e o recurso as diversas técnicas de pesquisa em uso nas ciências humanas e nas ciências de linguagem, utilizadas isoladamente e em combinações variadas, aliadas à experimentação de técnicas próprias e à criatividade, sem prejuízo de vigor cientifico, na condução das investigações (BOTELHO, 2011, p. 287).
Em um contexto de pandemia, onde tudo parece novo; as informações desencontradas e o entendimento acerca do vírus algo complexo e fora da realidade de parte considerável da população leiga, muitas vezes com baixos níveis de letramento, adotar a folkcomunicação torna-se um caminho que oferece uma base segura para a conscientização popular. Ademais, quando observamos o caráter interdisciplinar do presente estudo e o fato de o campo folkcomunicacional estar consolidado, é possível inferir a adequação da literatura de cordel aos propósitos voltados à educação em saúde.
Considerações Finais
Pela leitura investigativa dos cordéis apresentados neste artigo, podemos afirmar que as obras estudadas estão alinhadas ao conceito da folkcomunicação, como instrumento facilitador na transmissão de ideias, informações e orientações científicas, se apropriando de uma linguagem popular, informal e acessível. A literatura de cordel, tomada como veículo comunicacional para a divulgação sobre a Covid-19, foi uma escolha relevante, uma vez que, além do cordel ser uma manifestação cultural consolidada numa ampla região brasileira, suas características tornam as informações transmitidas fáceis de serem entendidas e memorizadas: há o jogo de rimas, a musicalidade do ritmo, os versos curtos e a linguagem característica deste tipo de literatura.
Em relação ao objetivo informacional, todos os cordéis estudados apresentam ao leitor informações sobre a Covid-19, explicando sobre o vírus, como se infecta, os sintomas, as medidas de prevenção preconizadas pela Organização Mundial de Saúde. Há ênfase no uso de máscaras, na higienização das mãos, no distanciamento e isolamento social como fundamentais neste momento (Particularmente, dos quatro textos analisados, o texto Coronavírus em Cordel não “prescreveu” o uso da máscara como medida preventiva ao coronavírus.). O texto Cordel da Covid-19, escrito por médicos, foi o único a se referir e a questionar a eficácia dos remédios cloroquina e azitromicina. Interessante notar que o texto Cordel do Coronavírus orienta, não só quanto aos cuidados físicos de prevenção, mas, também, quanto à necessidade de cuidarmos da nossa saúde mental, bastante afetada pela insegurança e incerteza que nos atingiu com a pandemia. Dois textos, Cordel da Covid-19 e Coronavírus em Cordel, recomendam o apego à religiosidade como proteção.
Salientamos a contribuição significativa deste trabalho no contexto atual, já que nosso estudo constatou e confirmou que o conteúdo temático dos textos analisados está de acordo com o que a ciência tem difundido acerca da Covid-19.
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Notas