Artigos e ensaios

Fé e saúde: a relação construída entre os itamatatiuenses e a Santa Teresa D’Ávila de Jesus

Faith and Health: The relationship buit between the itamatatiuense and Santa Teresa D’Àvila

Fe y salud: la relación construida entre los itamatatiuenses y Santa Teresa D'Ávila de Jesús

Rosinete de Jesus Silva Ferreira 1
Universidade Federal do Maranhão, Brasil
Cleyciane Cassia Moreira Pereira 2
UFPB, Brasil

Fé e saúde: a relação construída entre os itamatatiuenses e a Santa Teresa D’Ávila de Jesus

Revista Internacional de Folkcomunicação, vol. 20, núm. 44, pp. 243-261, 2022

Universidade Estadual de Ponta Grossa

Recepción: 06/09/2021

Aprobación: 15/05/2022

Resumo: Propõe-se uma reflexão sobre a fé como elemento primário e necessário nas relações sociais advindas da comunidade negra de Itamatatiua, localizada no município de Alcântara, Maranhão. A cultura popular aliada à fé em Santa Teresa D’Ávila desenvolveu uma relação comunicacional de esperança para a busca da cura, da saúde àqueles que acreditam no poder da Santa. A par da pesquisa bibliográfica para compreender o sentido de religiosidade e saúde nos processos comunicacionais com o divino, adotou-se o método etnográfico com visitas periódicas durante um ano e meio na comunidade, coletando dados através da observação participante, questionários e entrevistas. Compreendemos que mesmo tendo uma rede de saberes e práticas envolvendo humanos e não humanos, ou seja, ervas, práticas de cura, benzimentos, chás, consultas, exames e medicamentos, a fé se constitui em um componente essencial para os filhos de Santa Teresa.

Palavras-chave: Itamatatuia, Fé, Religião, Folkcomunicação.

Abstract: It proposes a reflection on faith as a primary and necessary element in social relations arising from the black community of Itamatatiua, located in Alcântara - Maranhão. Popular culture combined to faith in Santa Teresa D'Ávila developed a communicational relationship of hope for the search for cure, health for those who believe in the power of Santa Teresa. In addition to the bibliographical research to understand the meaning of religiosity and health in the communication processes with the divine, the ethnographic method was adopted with periodic visits to the community for a year and a half, collecting data through participant observation, questionnaires and interviews. We understand that even having a network of knowledge and practices involving humans and non-humans, that is, herbs, healing practices, blessings, teas, appointments, exams and medications, faith constitutes an essential component for those who belive in Teresa.

Keywords: Itamatatuia, Faith, Religion, Folk communication.

Resumen: Se propone una reflexión sobre la fe como elemento primario y necesario en las relaciones sociales advenidas de la comunidad negra de Itamatatiua, ubicada en el municipio de Alcântara, Maranhão. La cultura popular aliada a la fe en Santa Teresa D'Avila desarrolló una relación comunicacional de esperanza para la búsqueda de la cura, de salud para aquellos que creen en el poder de la Santa. A partir de la investigación bibliográfica para comprender el significado de la religiosidad y la salud en los procesos de comunicación con lo divino, se adoptó el método etnográfico con visitas periódicas a la comunidad durante un año y medio, recolectando datos a través de observación participante, cuestionarios y encuestas. Comprendemos que aun teniendo una red de conocimientos y prácticas que involucran humanos y no humanos, es decir, hierbas, prácticas curativas, bendiciones, tés, citas, exámenes y medicamentos, la fe constituye un componente esencial para los hijos de Santa Teresa.

Palabras clave: Itamatatuia, Fe, Religión, Comunicación popular.

Introdução

Dialogar acerca do contexto comunicacional fora das relações midiáticas e do poder político é imprescindível para que possamos compreender as outras formas de comunicação existentes na sociedade. Aqui trataremos de uma das formas alternativas de comunicação: a folkcomunicação, compreendida por Beltrão (2004, 2013) como uma teoria comunicacional que investiga a comunicação em grupos existentes fora da grande mídia. De acordo com Beltrão (2004, p. 117):

Não é somente pelos meios ortodoxos – a imprensa, o rádio, a televisão, o cinema, a arte erudita e a ciência acadêmica – que, em países como o nosso, de elevado índice de analfabetos e incultos, ou em determinadas circunstâncias sociais e políticas, mesmo nas nações de maior desenvolvimento cultural, não é somente por tais meios e veículos que a massa se comunica e a opinião pública se manifesta. Um dos grandes canais de comunicação coletiva é, sem dúvida, o folclore.

O autor observava que os agentes comunicadores externos ao sistema convencional de comunicação e as modalidades que adotavam para transmissão de mensagens eram características folclóricas. Beltrão (2001) percebeu uma relação estreita entre folclore e comunicação popular, que aos poucos foi sendo ampliada apontando para uma reflexão teórica: uma área onde o processo de intercâmbio de informações e manifestações de opiniões, ideias, folclore, religiosidade, fé e devoção se manifestavam, através de um processo comunicativo que se constituía de maneira informal, interpessoal e às vezes de forma coletiva.

De acordo com Amphilo (2010) Beltrão não estava preocupado em uma promoção do folclore, mas na compreensão e tradução das mensagens próprias de uma cultura. Não era interesse uma difusão, mas uma compreensão de um contexto social, de uma forma de expressão peculiar, própria de um determinado espaço geográfico. Quando realizamos uma reflexão sobre a folkcomunicação e seus processos, há uma necessidade natural de compreensão dos processos históricos, da trajetória e marcas sociais da comunidade estudada para podermos compreender os processos comunicacionais daquele local, comenta o autor.

São essas relações que observamos na comunidade de Itamatatiua, localizada em Alcântara, interior do Maranhão. As relações travadas no território pela conquista da alimentação, preservação da cultura, saúde e religiosidade, tornam-se importantes elementos da folkcomunicação, a partir do momento em que a cultura dos itamatatuienses tem a função de integrar a sociedade.

A fé, por exemplo, pode ser compreendida como uma dimensão da comunicação da comunidade, pois é capaz de promover a cura e devolver a saúde e a inclusão social. A comunicação estabelecida com Santa Teresa pode ser caracterizada como um diálogo com o sagrado, uma forma de negociação por algo que pode vir a ser alcançado. Pereira (2018) sinaliza que o laço estabelecido com a Santa Teresa é tão estreito, que chega a mostrar-se viva no seio itamatatiuense. Neste sentido Beltrão (2001) comenta que uma parcela significativa da população realiza o ato comunicativo por meio dos mecanismos informais, podendo estar direitamente ou indiretamente ligado ao folcklore. Podemos pensar como resultado deste processo comunicativo o carnaval e suas variações, a pintura, literatura e no estudo em questão a religião.

A fé na comunidade é evidenciada através de manifestações simbólicas e semânticas, ou seja, temos os romeiros, aqueles que acreditam em Santa Teresa D’ávila trazendo seus ex-votos e a palavra, o testemunho como sinal de cura e fé. Oliveira (2003) comenta sobre a linguagem própria criada pelo ex-voto para estabelecer a relação de devoção, de troca de informação entre a pessoa e o Santo, tendo o objeto da dor (saúde, moradia, emprego ...) representado.

Diante da importância de pesquisa no lócus já mencionado, reafirmamos que nosso objetivo é realizar uma discussão acerca da fé e religiosidade como elementos intrínsecos à comunidade em estudo. O debate é proposto à luz da folkcomunicação, com ajuda de autores como Coulon (1995), Beltrão (2013), Passos, Kastrup e Escóssia (2009) para explorar as conexões nas quais a saúde está inserida.

Portanto, a fim de que seja feita uma articulação entre os campos teóricos da Folkcomunicação, Etnometodologia e a Etnografia é necessário fazermos algumas considerações. Primeiro, descrevemos a comunidade e as condições de vida e saúde das pessoas de forma que o leitor possa ter uma melhor compreensão do universo e do lugar do qual estamos falando. Em seguida apresentamos a comunidade, o que se revela como saúde – uma construção feita pela experiência empírica das pessoas daquele povoado. No entanto, não nos prendemos na descrição, mas sim na compreensão do objeto em estudo – a fé -, procurando captar aquilo que está implícito e explícito nos modos de dizer e fazer, nos atos de fala relativos à saúde e à fé.

Em alguns momentos, tivemos um comportamento antropológico, provocando situações para que o outro falasse, principalmente sobre os “segredos”, tradições e hábitos. Procuramos dar atenção aos detalhes das situações para percebemos àquilo que faz parte do cotidiano e em outras ocasiões captar o que nem sempre as palavras revelavam. Nesse sentido, nosso esforço está em discutir como os saberes e as práticas da fé, construídas e mantidas através das experiências, tradições e ações comunicativas da folkcomunicação se consolidaram ao longo do tempo.

Conhecendo Itamatatiua



Vou-me embora e sei que não vou voltar.
Vou pra Itamatatiua é ali o meu lugar.
Pedra, peixe, rio esse tem quando se quer,
peixe pedra tem bastante na enchente da maré.

Fuente: Antônio Vieira – cantor Maranhense

A comunidade se caracteriza por ser habitada essencialmente por negros que se dizem descendentes, ou melhor, filhos de Santa Teresa D’Ávila de Jesus (1515 - 1582)3. Santa Teresa nasceu em Ávila, Espanha, no século XVI, a 20 anos ingressou no Carmelo de Ávila, ordem do Carmo. Ressalta-se que a Ordem do Carmo, a qual pertencia Santa Teresa D’Ávila de Jesus, instalou-se no Brasil, no século XVI, e fixou-se a princípio em Olinda, Pernambuco, em 1580. No século XVIII, com a ramificação dos Carmelitas, a ordem foi para o Maranhão.

Ir para Itamatatiua é fazer uma viagem de retorno ao século XVIII, a partir do momento em que nos deparamos com uma paisagem que relembra as ruínas de grandes fazendas, que certamente remontam aos traços marcantes da escravidão. Na viagem, com o passar do tempo, a região e a paisagem vão se revelando para quem escolheu trilhar o primeiro roteiro, isto é, cerca de 70 quilômetros desde o centro de Alcântara, sob uma temperatura que oscila entre 33° a 37° graus, com muita umidade do ar, poucas e solitárias casinhas de palha ao longo da estrada e um cenário que ora oscila com vegetação de verde intenso, ora com vegetação tão seca que lembra os sertões de Euclides da Cunha.

Depois desse percurso, chega-se a Itamatatiua: um território de 57 hectares, que pertencia à ordem religiosa do Carmo e hoje engloba cerca de quinze povoados4, dentre eles a comunidade de Itamatatiua ou Tamatatiua (Foto 1), nome que significa na língua indígena pedra, peixe e rio. Segundo as narrativas colhidas no trabalho de campo, essa nomenclatura é oriunda de um fato ocorrido na comunidade: o rio encheu, transbordou e começaram a sair muitos peixes de nome tamata, por isso o local passou a ser chamado de Tamatatiua.

Entrada da Comunidade de Itamatatiua
Figura 1
Entrada da Comunidade de Itamatatiua
PEREIRA (2018).

O local é também conhecido por “Terra de Santa Teresa” por ter sido uma fazenda Carmelita e, mais recentemente, em 2006, Comunidade Quilombola por direito, reconhecimento de propriedade da terra e por questões étnicas. Viver nesse povoado é comungar com os modos mais simples que a vida pode apresentar, pois as pessoas ainda não aparentam a necessidade de estabelecer a relação de compressão espaço – tempo proposta pela modernidade.

As terras de Itamatatiua ou Tamatatiua pertenciam à Ordem das Carmelitas, que, de acordo com Molina (2006), chegaram ao Brasil em 1580. A igreja católica agregava uma dominação física, territorial e simbólica, visto que ditava as normas e as regras da conduta religiosa e, ao mesmo tempo, detinha grandes extensões territoriais e se fazia presente nas propriedades mais abastadas, através de uma capela familiar, símbolo de poder e dinheiro.

As relações estabelecidas entre as ordens religiosas e a escravidão negra no Brasil estão inseridas em uma rede que envolve o poder do Estado, a Igreja Católica e a Coroa Portuguesa, com o objetivo de produção de riqueza e acúmulo de escravos para legitimação do espaço social e político. No Maranhão, esta relação não se estabeleceu de forma diferente do restante do país, pois “[...] à medida que o Estado colonial português avançava nas suas políticas reformistas de fomento da economia lusitana, os poderes da igreja eram adequados aos seus projetos” (QUEIROZ, 2007, p. 66). Ferreira (2012) comenta que em consequências dessa política, houve o processo de expansão territorial e de dominação escravocrata. No Maranhão, por exemplo, as terras da ordem Carmelita incluíam a fazenda de Itamatatiua, que continham escravos para tarefas na produção agrícola, plantações, criação de gado e o trabalho com cerâmica e olaria. Com a decadência da ordem, a riqueza começou a entrar em declínio a partir da segunda metade do século XVIII e, anos depois, com o advento da escravatura, as ordens religiosas não conseguiram mais manter todo o sistema social e político em que estavam inseridos e foram obrigadas a deixar oficialmente suas propriedades para o governo.

Esse poder sobre a população negra pode explicar, de certa forma, a origem da comunidade de Itamatatiua ou de Santa Teresa. As aldeias indígenas foram substituídas pelas fazendas, local onde viviam os negros, e estas se constituíram nos espaços onde havia os escravos, as casas dos religiosos, a criação de gado e a sede administrativa. Foi a partir do declínio do sistema escravocrata, no final do século XIX, que houve o abandono das fazendas e das unidades produtoras sob a responsabilidade do Estado e das igrejas. Os escravos acabaram se instalando nessas terras e organizando as comunidades camponesas tradicionais, até hoje existentes.

Santa Teresa, Religiosidade, Crença e Saúde

Essa Santa tem poder, quem tá lhe dizendo isso sou eu. “Seu” Mundoquinha, romeiro de Itamatatiua



Essa Santa tem poder,
quem tá lhe dizendo isso sou eu.

Fuente: “Seu” Mundoquinha, romeiro de Itamatatiua

Com as mudanças nas relações entre Estado e Igreja, as terras passaram a ter uso comum e os escravos incorporaram o nome do santo ou da santa aos quais pertenciam essas fazendas. Consequentemente, o sobrenome de Santa Teresa D’Ávila de Jesus se tornou parte do nome de todos aqueles que nasciam na comunidade. Como consequência dessa herança religiosa que envolve Santa Teresa, a maioria da população é católica5, mas com significativa sincretização de costumes, o que pode explicar a crença na cura de doenças através do benzimento6 e das ervas. Ser filho de Santa Teresa é por si só pertencer a um grupo de negros com características distintas, pois são descendentes de uma Santa branca. Esta narrativa, transmitida de geração para geração, já é considerada como autêntica dentro do grupo. Um mito incorporado e necessário para os filhos de Santa Teresa se legitimarem como tais. A religiosidade apresenta implicações diretas para as representações e práticas de saúde, pois é através do vínculo da fé com a Santa que os problemas de diversas ordens são resolvidos, inclusive os relacionados à saúde. É durante os festejos no mês de outubro que observamos mais claramente essa relação estabelecida entre saúde-santa-fé. Santa Teresa “faz parte da família” é a ela que os sujeitos recorrem para a resolução de causas difíceis no plano terreno. Logo, em termos de identidade relacional com os devotos, Sá (2007, p. 100) comenta o seguinte sobre os santos:

São definidos como ex-seres humanos com qualidades excepcionais, que alcançaram, por sua perfeição, o poder dos milagres; a origem humana, seguida de ressurreição, faz com sejam ditos “santos vivos”, que tem “alma e tudo”, isto é, parecidos com seres humanos, sendo reconhecidos por suas imagens verdadeiras, as que se encontram na capela.

Por essa razão que a intercessão junto aos santos é somente para pedidos de difícil solução no plano terreno. Ainda de acordo com Sá (2007), no que se refere à santa, as ações de negociação estão relacionadas a questões de invasão de terra, punição para aqueles que não cumpriram suas promessas, aquisição de bens e riquezas advindos da terra e isso inclui também as colheitas nas roças. Se as colheitas forem fartas, significa que a festa também será, pois as doações advêm daquilo que possuem. Com relação a esse vínculo estabelecido com a santa, nós acrescentamos outro plano de mediação que envolve a saúde.

Entendemos a mediação na folkcomunicação a partir de Beltrão (1980, p. 37), quando o autor menciona a necessidade do folkcomunicador perceber as imagens para “traduzí-las de forma adequadas às valorações dos destinatários”. O líder folkcom está sempre à procura da melhor forma de interpretar o que nem sempre é facilmente compreensível para as pessoas externas ao ambiente estudado.

Durante os festejos de 2010, 2016 e 2017, por exemplo, encontramos turistas, pesquisadores, pessoas das comunidades vizinhas e romeiros. Muitos frequentam a celebração para referendar os agradecimentos das bênçãos alcançadas e pedir pela saúde. Essa é uma prática de crença dentro e fora da comunidade. De acordo com Kawaguchi (2015, p. 300) o sincretismo está presente em toda as formas de religião se constituindo como central na religiosidade popular, pois se materializam nas procissões, comemorações dos santos, pagamentos de promessas e festas populares.

Triguero (2018) explica que a religiosidade popular vai desenvolvendo um sentimento de pertença através das orações, festas, e ações do sagrado e do profano. Triguero enfatiza que há uma dificuldade em separar religião da cultura popular, pois existe uma zona simbólicas de encontro e afastamento nos campos do sagrado e profano. Seu Mundoquinha, de 83 anos, morador do povoado de Três Marias se intitula um novenário de Santa Teresa, ele comenta esta atividade da seguinte forma:

Ela me fez uma operação. Eu me sentir um ajudante aqui da festa enquanto vida eu tiver [...] eu fiz uma operação de hérnia e não foi preciso eu ser medicado por médico, quem me curou foi ela. A santa tem poder. Quem está lhe dizendo sou eu. “Santa Teresa tem poder”. (Entrevista com Sr. Mundoquinha, frequentador da festa há mais de trinta anos).

As histórias de saúde e cura podem ser ouvidas entre várias pessoas que invocam a Santa. Mais um desses depoimentos está registrado na fala de “Dona” Joana esposa de Valdomiro que vão aos festejos desde 1957:

Eu peguei um baque na cabeça e depois eu tive problema de pressão alta e aí comecei a ficar com aquela tontura que não sossegava. E fiquei assim, andando assim lerda. Eu falei: minha Santa Teresa se vos fizer que isso apare em minha cabeça, que eu não sinta mais, vou levar uma cabeça de cera para vós. E me peguei com ela [...]. Para mim foi uma santa milagrosa. Para mim ela é, pros outros eu não sei. (D. Joana, visitante da festa desde 1957 e moradora de Conceição Peimirim).

Dias et. al. (2020) embasados em Sayad comentam que até hoje há tradição de pagar uma promessa relativa à doença ou desastre com objetos como muletas, representação da parte doente, peças da vestimenta, etc. A produção do ex-voto pode ser em materiais como cera, papel, madeira, palha, gesso, chifre, pedra sabão ou qualquer outro material comum na região. Por isso, observa-se uma variedade na confecção destes artefatos. A fé e a devoção mostram-se tão intensas que, em alguns casos, o próprio beneficiário é o responsável pela feitura da peça, demostrando uma forma de agradecimento. Beltrão (2013, p. 230) destaca que:

E ainda, os simbólicos – fitas que têm a medida da cabeça, velas do tamanho de uma criança, miniaturas de: embarcações, casas, máquinas de costura, pilões de barro, instrumentos de trabalho, e aqueles em objetos, como joias, peças de vestuário, mechas de cabelo, garrafas, cachimbos, baralhos, dados, bozós, muletas, óculos.

Outro depoimento de fé e religiosidade vem através das palavras do “Sr” Valdomiro, esposo de D. Joana:

Eu mandei bordar um coro de boi com o nome de Santa Teresa. Eu que achei que ela me ajudou. Eu andava no cacete com negócio daquele reumatismo agudo que eles chamam, então eu me apeguei com ela, que se ficasse bom eu trazia o boi aqui na época de São João [...]. Então a toada é o seguinte “meu amo eu vim lhe dizer e vou usar com franqueza/ que lá na fazenda nova apareceu uma beleza/ um anjo pastorando um boi/parece obra da natureza e eu vim um nome sentado meu patrão/ milagre santa Teresa/. (Valdimiro, esposo de D. Joana também participante da festa desde 1957).

A retribuição à Santa deverá ser feita enquanto a pessoa viver. Encontramos fiéis que vão aos festejos há dez anos, outros há vinte e assim se contabiliza a fé que não cessa para agradecer a saúde restabelecida. A festa de Santa Teresa é um ritual religioso e profano no qual as pessoas se encontram para celebrar a vida, as graças recebidas e pedir aquilo que está insolúvel. Observamos o encontro de idosos e jovens, não só da comunidade como também de povoados vizinhos e distantes, curiosos, pesquisadores, estudantes, todos interessados em entender essa manifestação que promove a partilha, a solidariedade e união das pessoas (Foto 2).

Produção do Bolo Comunitário
Figura 2
Produção do Bolo Comunitário
Ferreira (2012)

A imagem acima registra como a solidariedade está presente na comunidade, o prazer, a alegria e o bem-estar que sentem em receber todos, em “repartir o pão e beber o vinho”. Essa atitude pode ser compreendida a partir do momento em que as pessoas dividem aquilo que têm sem, até mesmo, conhecer com quem estão repartindo. Abrem suas casas para abrigar quem chega de longe, dão comida a quem nunca viram e se sentem bem em receber os romeiros, novenários e devotos da santa.

Em algumas comunidades, principalmente as étnicas, os saberes, curas, benzimentos e promessas, além de ser uma possível solução no momento do sofrimento e da dor, demonstram a relação que as pessoas têm com a crença, a fé, a sabedoria popular, o respeito e conhecimento por aquilo que foi transmitido pelos antigos. Em Itamatatiua, o benzimento ainda é praticado e aceito como forma de cura nos casos mais variados: quando a pessoa se sente “mufino”, ou seja, com o corpo doído e sem disposição para o trabalho, em atividades diárias, quando a criança sente dor de barriga ou fica “molinha”, que significa sem condições de brincar e agir naturalmente como as outras.

A relação com a fé é explicada pelo animador religioso Ruberval, que vai à comunidade quinzenalmente para celebração das missas. De acordo com o líder:

Essa mediação saúde-fé-santa é reproduzida em várias narrativas, que não se restringem somente aos moradores da comunidade de Itamatatiua, mas também aos povoados vizinhos. São muitos contos sobre cura através da fé que foram creditados na Santa para solução dos problemas, especialmente de saúde. Através do depoimento de Amâncio Barros Filho, Pai de Santo, Umbandista, devoto de Santa Teresa e morador do município de São Bento, localizado há cerca de duas horas e meia de Itamatatiua, podemos compreender melhor essa crença.

Ainda conforme o líder, essa ligação aconteceu aos poucos e a Santa funciona como uma mediadora entre os escravos e os ricos daquela época. Após a extinção da fazenda das carmelitas os escravos atribuíram a ela o milagre da libertação e consequentemente da devoção. Então, Santa Teresa é vista como a entidade que recebe as queixas, ouve o pedido do povo e leva até Deus, trazendo o retorno mais ou menos imediato. O povo recorre ao médico, vão ao centro de umbanda, recorrem às ervas medicinais, muitas das vezes até aos remédios químicos e caseiros e vão à Santa Teresa, onde encontram apoio e consolo, justamente a cura de alguma enfermidade.

Essa mediação saúde-fé-santa é reproduzida em várias narrativas, que não se restringem somente aos moradores da comunidade de Itamatatiua, mas também aos povoados vizinhos. São muitos contos sobre cura através da fé que foram creditados na Santa para solução dos problemas, especialmente de saúde. Através do depoimento de Amâncio Barros Filho, Pai de Santo, Umbandista, devoto de Santa Teresa e morador do município de São Bento, localizado há cerca de duas horas e meia de Itamatatiua, podemos compreender melhor essa crença.

Pesquisadora: O senhor fez alguma promessa para ela?

Amâncio: porque eles dizem que é começo de vento que eu peguei, mas eu fiquei todo dormente, aleijado não andava na moleta, então eu pedir uma graça para ela que ela me a fizesse uma graça, que algum dia eu traria um altar para ela e a toalha que eu trousse e fazer o altar dela como eu desejo fazer. Botar ela linda no andor, porque não é ela a mãe de Deus é homenagem a ela a nossa mãe do céu e da terra.

Pesquisadora: Na sua cura você teve ajuda de Santa Teresa?

Amâncio: É uma santa que eu admiro e tenho ela em meu coração.

“Dona” Marina, por indicação de uma amiga, frequenta os festejos há quatro anos, período em que passou a ser romeira e devota da Santa.

Pesquisadora: A senhora vem aos festejos há quanto tempo?

Marina: Quatro anos!

Pesquisadora: Por quê?

Marina: porque eu tenho fé na santa, através de uma amiga ela disse que alcançou uma graça e ai eu comecei vir também e com a doença da minha filha eu conversei com Santa Teresa eu alcancei a graça, porque ela tem um tipo de um câncer e já operou a primeira vez tornou voltar, sempre mandando operar e eu com a fé em Santa Teresa que ela ia botar ela boa. A última vez que ela operou, graças a Deus ela tá curada porque ela já fez muito exames e não deu nada, graças a Deus. Os remédios fizeram efeitos, mas quem curou foi Santa Teresa.

Os festejos em homenagem à Santa ocorrem por intensos quinze dias e chega ao ápice com a procissão que reúne centenas de pessoas (filhos de Itamatatiua visitantes e devotos de várias localidades para pagarem suas promessas). Na Procissão, a imagem sai da Igreja, conduzida por quatro pessoas, percorre o sítio e faz paradas na casa de itamatatiuenses que já tiveram ligação estreita com a Santa. Observe foto 3:

Procissão de Santa Teresa
Figura 3
Procissão de Santa Teresa
Ferreira (2012)

A Igreja de Santa Teresa é o local onde se realiza grande parte das atividades comunitárias. As missas são celebradas às vezes de quinze em quinze dias ou mais e, devido à localização e distância, a comunidade não dispõe da presença de um padre constante. Somente durante os festejos, quando as atividades religiosas são mais ritualizadas, é que este permanece na comunidade, mesmo assim ainda observamos em alguns jovens a necessidade de manter grupos de catequese, coral e atividades religiosas.

Diferentemente do que ocorre no mundo da comunicação globalizada, como afirma Mattelart (2000), em que os meios de comunicação têm importância fundamental nas relações pessoais dos sujeitos, em Itamatatiua, ainda não predominam os meios tecnológicos e os encontros se processam muito mais no contexto face a face. Por isso, nessa comunidade onde, por muito tempo predominou a oralidade, as tecnologias mais recentes7 pouco se inserem nas experiências cotidianas dos sujeitos. Mesmo assim, a manutenção da cultura e da identidade negra se faz através de interações dentro da própria comunidade e dos produtos midiáticos que as pessoas têm acesso, como o rádio, televisão e mais recentemente de forma tímida as redes sociais.

Para compreender a relação proposta sobre o que as pessoas pensavam sobre saúde e saberes populares circulantes, começamos, então, a mapear os procedimentos desenvolvidos pelas pessoas quando se sentiam doentes. Começamos, então, a entender que as práticas se perpetuavam e renovavam pelo ato da linguagem, pela ação da palavra, mobilizadas pelas imagens, atitudes, símbolos que cercavam a saúde. Mas como elas permaneciam na mente daquelas pessoas por tanto tempo? Esse era também um dos nossos questionamentos.

Foi na pesquisa de campo que compreendemos tais práticas como elementos folkcomunicacionais intercomunitários, pois possibilitaram o tecer de redes de sociabilidade, configuradas pelos sentimentos de pertença, coletividade e participação, algo que implicava em pluralidade e diversificação dos saberes. Estes elementos não poderiam estar estanques ou materializada em um só objeto, e, ao mesmo tempo em que se apresentavam como algo já dado, como um conjunto de elementos pré-existentes, que tem normas pré-estabelecidas, elas se apresentavam em constante renovação e troca se constituindo em uma maneira de interpretar e pensar a realidade cotidiana em toda a sua complexidade.

O cotidiano simples de vida das pessoas de Itamatatiua nos revelou o quanto importante era a crença, a fé para solução dos problemas pessoais e coletivos. Entendemos que as práticas comunicativas observadas se constituem em uma fusão que envolve também o conhecimento, a experiência, a sabedoria de cada membro, aliados às práticas tradicionais de saúde. A mesma pessoa que recebe o benzimento pode procurar os serviços do curador, utilizar as ervas ou fazer uma consulta médica, colocando esses diferentes procedimentos no mesmo nível de importância e de eficácia. A possibilidade de ter várias experiências em saúde, cria a capacidade de interlocução, apropriação do conhecimento e intervenção com o outro e, ainda, a possibilidade de interpretar, aceitar ou refutar teorias sobre a saúde.

O importante desse processo não está na ordem com que as diferentes práticas são desenvolvidas, mas em como elas se articulam, produzindo efeitos no pensamento individual e coletivo. As pessoas da comunidade acreditam na Santa com tanta intensidade e fé, que na maioria das vezes negam a participação da medicina no processo da doença e creditam toda a cura a Santa Teresa. Essa relação entre saúde, fé se manifesta de forma às vezes simbólica, às vezes concreta, pois as maneiras encontradas para agradecer a Santa Teresa D´Ávila são manifestadas em novena, em rezas, roda de tambor, organização do mastro para a festa, doações em dinheiro, alimentos, trabalho ou mesmo pela ação voluntária.

Para articular a relação entre saúde e doença as pessoas se utilizam de várias experiências e conhecimentos que, transmitidos de geração para geração, se constituíram em representações sociais da saúde, que podemos denominar como os modos de perceber, entender, fazer e crer dos itamatatiuenses. Porém, mais importante que acreditar nos benzimentos, cura, chás e ervas foi compreender as práticas e sua lógica naquele povoado.

Considerações finais

Procuramos perceber de que forma a folkcomunicação está inserida nos processos de interação social da comunidade de Itamatatiua, de maneira mais específica na relação fé e saúde. O dueto em estudo nos proporcionou uma compreensão de que as crenças se constituem como representações de vivências e ideias transmitidas intergeracionalmente, que ao passar do tempo se consolidaram com “verdades” para um determinado grupo e ou comunidades. Essas modalidades de crença são transmitidas inegavelmente pela oralidade, por um processo comunicativo que interessa à folkcomunicação. O da cultura de massa, com a cultura popular nos revela outros fluxos de comunicação que hibridismo deve ser investigados, pois não são de maneira alguma menos importantes que os cursos da grande mídia.

É importante, também, salientar que a transdisciplinaridade propiciada pelos conceitos de Folkcomunicação, Entnometodologia e Etnografia mostra-se relevante para pesquisas que dão destaque a promoção de diálogos intergeracionais, necessários para preservação e manutenção da cultura e memória de grupos e comunidades identitárias, bem como dá voz e vez a narrativas invisibilizadas.

Referências

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Notas

3 Santa Teresa D’Ávila de Jesus nasceu em Ávila, Espanha, no século XVI (1515), onde aos 20 anos ingressou no Carmelo de Ávila, convertendo-se pouco tempo depois e tornando-se um modelo de devoção à Igreja. Ela faleceu aos 67 anos, na cidade de Alba de Tormes, município da Espanha, na província de Salamanca, e sua canonização ocorreu em 1662. Nos idos de 27 de setembro de 1970, o Papa Paulo VI reconheceu-lhe o título de Doutora da Igreja. (SANTA ..., 2010). Ressalta-se que a Ordem do Carmo, a qual pertencia Santa Teresa D’Ávila de Jesus, instalou-se no Brasil, no século XVI, e fixou-se a princípio em Olinda, Pernambuco, em 1580, onde também construíram, em 1586, o primeiro Convento do Carmo, depois, na Província do Grão-Pará e no Maranhão no século XVIII, já com a ramificação dos Carmelitas Reformados ou Descalços. Essa foi uma Reforma que a Santa Teresa esteve à frente para sua efetivação (MOLINA, 2006).
4 De acordo com o relatório antropológico de Cantanhede Filho (1975), os povoados são Mocajituba, Tubarão, Goiabal, Raimundo Sul no município de Alcântara e Marajatiua, Buritirana, Mojô, Frederico, Jacioca, Macajubal, Santa Flor, Barroso, parte do Pontal e outras localidades menores, próximas ao município de Alcântara.
5 Até o período de realização da pesquisa, só encontramos uma família evangélica, no entanto, os neopetencostais, que já são considerados um número significante em todo município de Alcântara, têm realizado várias tentativas em estabelecer novos credos na comunidade e isso tem acontecido através de “cultos/visitas”, que são realizados com o consentimento da comunidade em frente ao Centro de Produção de Cerâmica.
6 Benzimento é um ato de proteção que pode ser feito através de rezas, garrafadas ou do ato de benzer.
7 Denominamos tecnologias recentes celulares, computadores, iphone, MP3 e eletrodomésticos como micro-ondas, geladeiras, ar condicionado, dentre outros.

Notas de autor

1 Mestre em Comunicação Social e Cultura (UFRJ), Doutora em Psicologia Social (UERJ). Professora do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal do Maranhão (DECOM/UFMA) e integrante do Programa de Pós-Graduação em Psicologia PPGPSI Coordenadora do Núcleo de Estudos e Estratégias em Comunicação (NEEC) e coordenadora da Linha de Pesquisa em Estratégias Audiovisuais na Convergência (G-PEAC). Correio eletrônico: rosinete.ferreira@ufma.br.
2 Mestre em Ciência da Informação (UFPB), Doutora em Ciência da Informação (UFBA). Bibliotecária da UFPB. Integrante do Grupo de Pesquisa COMPORTI, UFBA; do GEINCOS, UFPB e da Linha 2 do Grupo de Pesquisa Ciência, Saúde, Gênero e Sentimento - CISGES/UNISA/CNPq. Correio eletrônico: cley.pereira20@gmail.com.
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