Dossiê

Jornalismo local: estudo da história profissional de jornalistas de São Félix do Xingu e Canaã dos Carajás, na Amazônia Oriental[1]

Local journalism: study of the professional history of journalists from São Félix do Xingu and Canaã dos Carajás, in the Eastern Amazon

Periodismo local: estudio de la trayectoria profesional de periodistas de São Félix do Xingu y Canaã dos Carajás, en la Amazonia Oriental

Ingrid Bassi 3
Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (FACOM/ICSA/Unifesspa), Brasil
Alexandra Manoella Silva Ferreira 3
Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, Brasil

Jornalismo local: estudo da história profissional de jornalistas de São Félix do Xingu e Canaã dos Carajás, na Amazônia Oriental[1]

Revista Internacional de Folkcomunicação, vol. 20, núm. 45, pp. 14-34, 2022

Universidade Estadual de Ponta Grossa

Recepción: 11 Julio 2022

Aprobación: 15 Noviembre 2022

Resumo: A pesquisa dedica-se a analisar a história de vida e profissional de jornalistas de São Félix do Xingu, Canaã dos Carajás e seus entornos, na região sudeste do Pará, por meio do uso de entrevistas e história oral. A investigação objetiva analisar o trabalho jornalístico dos profissionais, a partir das categorias: estrutura jornalística; organização profissional da empresa e/ou instituição do terceiro setor; perfil da atuação dos jornalistas; produção jornalística – tipo, formato e gêneros; audiência e periodicidade; saliência local e tematização da informação.

Palavras-chave: Comunicação local, São Félix do Xingu, Canaã dos Carajás, História Oral, Amazônia Oriental.

Resumen: La investigación está dedicada a analizar la historia de vida y profesional de los periodistas de São Félix do Xingu, Canaã dos Carajás y sus alrededores, en la región sureste de Pará, a través del uso de entrevistas e historias orales. La investigación tiene como objetivo analizar el trabajo periodístico de los profesionales, a partir de las categorías: estructura periodística; organización profesional de la empresa y/o institución del tercer sector; perfil del trabajo de los periodistas; producción periodística - tipo, formato y géneros; audiencia y periodicidad; prominencia local y tematización de la información.

Palabras clave: Comunicación local, São Félix do Xingú, Canaã dos Carajás, História oral, Amazonia Oriental.

Keywords: Local communication, São Félix do Xingu, Canaã dos Carajás, Oral History, Eastern Amazon

Introdução

Este artigo tem como objetivo analisar entrevistas realizadas com cinco jornalistas locais das cidades de São Félix do Xingu, Canaã dos Carajás e seus entornos. Como metodologia, utilizamos a história oral (ALBERTI, 1996) para melhor compreensão das memórias autobiografadas dos entrevistados. São eles: Wesley Costa, jornalista do Portal de Notícias Fato Regional e Paulo Francis, jornalista do Blog Jornal Xingu News, ambos da região de São Félix do Xingu; Luciana Marschall, jornalista do Correio de Carajás, Kleysykennyson Carneiro, repórter do Jornal InFoco, e Carlos Antônio da Costa Santiago, jornalista do Portal Web Cidade, os três últimos de veículos de comunicação da cidade de Canaã dos Carajás.

Como categorias de análise das entrevistas, definimos: estrutura jornalística, organização profissional da empresa e/ou instituição do terceiro setor, perfil da atuação dos jornalistas, produção jornalística – tipo, formato e gêneros, audiência e periodicidade, saliência local e tematização da informação. Importante também, contextualizar brevemente, neste artigo, as cidades em que as comunicações são produzidas, ou seja, o local de onde falamos, na região do sudeste paraense.

São Félix do Xingu no sudeste paraense apresenta aproximadamente 135 mil habitantes (IBGE, 2022) em 84 milhões de Km², e foi emancipada da região de Altamira em 1961. Do desenvolvimento econômico e social nos anos sessenta e setenta se destaca na produção do arroz, da borracha, da seringa e do milho (IBGE, 2022). Atualmente a área econômica centra-se na agropecuária, extração de madeira e outras fontes agrícolas. Segundo os autores Crispim e Frabetti em a “Exploração da terra e do trabalho na fronteira agropecuária da Amazônia Oriental: o caso de São Félix do Xingu”, a cidade “[...] comporta o maior rebanho bovino do país, com cerca de 2,2 milhões de cabeças de gado”. (CRISPIM; FRABETTI, 2021, p.116).

Na área educacional, a Unifesspa oferece pelo Instituto de Estudos do Xingu (IEX) desde 2014, em São Félix do Xingu, os cursos de: Licenciatura em Letras, Licenciatura em Ciências Biológicas e bacharelado em Engenharia Florestal.

Segundo os dados da história de Canaã, o município se origina de um assentamento agrícola e para tentar diminuir os conflitos locais pela posse de terra, os governos locais e federais iniciaram o Projeto de Assentamento Carajás na localidade desse assentamento. (CANAÃ DOS CARAJÁS, 2022). A cidade de Canaã dos Carajás é oficialmente reconhecida em 1982, atualmente apresenta aproximadamente 50 mil habitantes e sua área econômica gira em torno da extração de minério, principalmente a partir dos anos 2000. Anteriormente a economia local se baseava em serviços e comércio em geral (CANAÃ DOS CARAJÁS, 2022). Segundo pesquisadores sobre a urbanização de Canaã, no sudeste paraense (CARDOSO; CÂNDIDO e MELO, 2018), a cidade se ergueu em termos de provisão de infraestrutura por meio da mineração, fato que articulou a cidade no desenvolvimento local centrado nos desdobramentos da economia mineradora, como área industrial, alojamentos e comércio/serviços voltados para esse setor.

Atualmente Canaã dos Carajás dispõe na área educacional de Polo de Ensino, Pesquisa, Extensão, Tecnologia e Inovação (Pepeti) da Unifesspa, e já estão em execução seis Cursos Superiores de Graduação desde 2020, Letras, Agronomia, Engenharia Civil, Engenharia Mecânica, Engenharia Elétrica e Artes Visuais, além da especialização em Educação Inclusiva. No início de 2022, foram iniciados os cursos de Jornalismo, Matemática, Engenharia Florestal, Engenharia da Computação e Física. (UNIFESSPA, 2022).

Métodos de Pesquisa

O simples diálogo entre duas pessoas pode proporcionar uma troca de conhecimentos imprescindível. Na comunicação, a entrevista em profundidade é uma técnica metodológica competente para obter-se resultados relevantes a partir de uma abordagem estruturada. Nesse método é possível obter informações que podem gerar perspectivas e relatos diversificados, e analisar elementos que auxiliam na compreensão de fenômenos.

Nesse percurso de descobertas, as perguntas permitem explorar o assunto ou aprofundá-lo, descrever processos e fluxos, compreender o passado, discutir e fazer prospectivas. Possibilitam ainda, identificar problemas, microinterações, padrões e detalhes, obter juízos de valor e interpretações, caracterizar a riqueza de um tema e explicar fenômenos de abrangência limitada. (DUARTE, 2015, p. 63).

Dessa maneira, derivam possíveis soluções e explicações a problemas complexos, possibilitando engendrar uma elaboração baseada em relatos, interpretações e conhecimento empírico, ampliando sobre o espectro objetivo do tema de pesquisa.

Atrelada as entrevistas semiestruturadas, utilizamos neste artigo o método História Oral, o qual utiliza fontes orais que se dispõem a ter seus relatos, testemunhos, conjunturas, modos de vida ou outros aspectos da história contemporânea gravados. Logo, a entrevista realizada a partir desta metodologia constrói uma certa compreensão do passado. “Destaco como especificidade da história oral a possibilidade de ela documentar as ações de constituição de memórias. Tomar a entrevista como resíduo de ação, e não apenas como relato de ações passadas, é chamar a atenção para aquilo que se quer guardar como concebido legítimo, como memória” (ALBERTI, 1996, p. 4). Esse processo permite o acesso a uma “[...] pluralidade de memórias e versões do passado” (ALBERTI, 1996, p. 6).

A constituição desse dinamismo requer um conjunto de atividades realizadas anteriormente e posteriormente à realização das entrevistas, que permitem ao entrevistador estruturar roteiros específicos, “[...] a entrevista de história oral é resíduo de uma ação específica, qual seja, a de interpretar o passado – uma ação que é desencadeada tanto pelo entrevistado quanto pelo entrevistador” (ALBERTI, 1996, p. 4). O estudo de documentos biográficos e autobiografias também permite a compreensão de como os sujeitos experimentaram acontecimentos e suas interpretações de situações e modos de vida ou da sociedade em geral. Isso reaviva os eventos de maneira mais concreta e próxima, proporcionando a apreensão do passado por gerações futuras e a compreensão das experiências vividas por outros. “Ou seja, a história oral permite não apenas compreender como o passado é concebido pelas memórias, mas principalmente como essas memórias se constituíram” (ALBERTI, 1996, p.08).

As entrevistas semiestruturadas e estruturadas concebem uma breve recapitulação das histórias individuais de cada jornalista e/ou de veículos jornalísticos por onde passaram. A trajetória profissional de cada pessoa e de cada processo, permite a compreensão e a identificação dos aspectos que fundamentaram a construção social dessa determinada região. Canaã dos Carajás surgiu a partir da criação de um assentamento agrícola em 1982, o Projeto de Assentamento do Carajás, que tinha como objetivo atenuar os conflitos pela posse de terra na região. São Félix do Xingu foi formado ainda no período colonial e também compreende um processo de formação violento de desterritorialização, assim como outros inúmeros municípios do sul e sudeste paraense.

Referencial teórico

Desenvolvimento local e Comunicação

Toda e qualquer região é fruto de um processo histórico complexo que constrói e enraíza a cultura e a identidade da população local. Nesse sentido o desenvolvimento deve também ser compreendido “[...]como um processo complexo, sujeito a variáveis históricas relacionadas à cultura, à economia, ao território e às relações sociais” (CARNIELLO; SANTOS, 2013, p 327). Para os autores Carniello e Santos, o conceito de desenvolvimento regional está ligado intrinsicamente às variáveis fundantes do local, como a cultura, os processos econômicos e a forma como essas estruturas socioeconômicas se dão na gestão de relações intersubjetivas no território geográfico em questão. Além dessas características, os autores atentam para o papel da educação local e do acesso à informação de qualidade por esse grupo social determinado.

O acesso à informação é, efetivamente, elemento determinante para a formação e o desenvolvimento de sociedades democráticas. “Dines (1970), ao prefaciar o livro de Schramm, exalta “o manancial inesgotável que a comunicação oferece para desenvolvimento de um país a partir do momento em que ela for posta a serviço da motivação de uma comunidade para o progresso” (1970 apud CARNIELLO; SANTOS, 2013, p. 328-329). Esse entendimento de comunicação, contextualizado pelos autores Carniello e Santos, ao citarem Dines, compreende enquadrar o ato e ação comunicativa interligados as suas funções de crescimento em conjunto com as comunidades locais, propondo o desenvolvimento como respeito à cultura e à economia local ao passo que avança para um cenário socioeconômico dessa localidade à promoção do “progresso”. Para isso, evidencia-se o desenvolvimento como ação voltada à justiça social e não apenas a ideia de crescimento da riqueza (CARNIELLO; SANTOS, 2013, p.329).

Uma das propostas salutares, para o desenvolvimento ser voltado à justiça social, é o fortalecimento da educação.

Entende-se que o acesso à educação seja primordial para o desenvolvimento, pensamento validado por Sen (2000) ao elencar a educação como uma liberdade instrumental do cidadão, que o torna apto para o exercício da cidadania e, portanto, conduzindo a uma sociedade mais desenvolvida (CARNIELLO; SANTOS, 2013, p. 342).

A partir desta perspectiva, o economista Sen dialoga com o papel da educação como plataforma emancipatória para munir essa localidade com a interlocução da cidadania, ou seja, a formação educativa de qualidade como requisitos culturais necessários para a tomada de decisão dos sujeitos locais, em sujeitos locais ativos e plenos em seus direitos na sociedade moderna.

No cenário contemporâneo, sobre a comunicação estende-se predominantemente ao formato digital. Tal acontecimento possibilita maior disponibilização de informações e garante outras diversas possibilidades. A partir de novas ferramentas tecnológicas admitidas, é necessário pensar na organização da sociedade diante de um cenário midiático reconfigurado. Assim sendo, é importante o entendimento do acesso à informação de qualidade por parte da gestão pública, para que com isso haja políticas pensadas e amarradas para esse local.

Os autores Carniello e Santos analisam o acesso à informação, nessa conjuntura para o desenvolvimento local, e problematizam as deficiências e limitações dos dados reais nessas localidades, fatores inibidores que comprometem o diagnóstico das regiões, consequentemente criando lacunas para “[...] a gestão pública, nos processos decisórios e na elaboração de políticas públicas” voltadas para à região (2013, p. 339).

Uma região desenvolvida é aquela em que os indivíduos podem desfrutar das liberdades individuais, para atender a seus desejos, associada ao comprometimento social institucional. Uma atuação mais direta dos indivíduos contribui para a formação de um capital social, resultante do clima de confiança estabelecido entre os membros de uma comunidade (CARNIELLO; SANTOS, 2013, p. 336-337).

Outro fator nefrálgico levantado pelos autores Carniello e Santos, diz respeito à ligação entre comunicação e inovação tecnológica. Para eles, essa conexão tem sido controlada gradualmente por aqueles setores sociais aonde há maior riqueza material, bem como é por meio desse avanço tecnológico que as economias capitalistas tendem a crescer e se expandir (2013, p. 334). Por isso que os meios de comunicação de massa, possuem considerável influência sobre a opinião pública, nesse entendimento social de avanço tecnológico e locais de fala. Buscando, por diversas vezes, persuadir os telespectadores de acordo com suas ideologias e interferindo na forma de ler, interpretar e entender os acontecimentos. A disponibilidade de informações de interesse público – por representarem direitos fundamentais – precisam ser veiculadas de forma verdadeira e justa, para que os indivíduos tenham consciência de seus direitos. A desinformação torna os sujeitos submissos a um poder majoritário, que dita regras e constrói um ciclo vicioso de passividade e exploração trabalhista. A escassez de imposição da própria sociedade impede o desenvolvimento regional.

As mídias digitais propiciam um espaço de diálogo sobre questões públicas, em que os usuários aprendem, trocam informações, debatem etc. Esse acesso e a crescente disponibilização de informações, instrumentaliza os cidadãos e possibilita uma possível comunicação direta entre sociedade e governo.

[...] vê-se que a tecnologia da informação pode constituir-se em instrumento de apoio à administração pública, ao permitir o oferecimento de novos serviços aos cidadãos, ao oferecer condições para ampliação da eficiência e da eficácia dos serviços públicos, ao melhorar a qualidade dos serviços prestados e ao permitir acesso à informação e à constituição de novos padrões de relacionamento com cidadãos e novos espaços para promoção da cidadania (apud CARNIELLO; SANTOS, 2013, p. 340).

Contudo, há a interface do desenvolvimento regional, com as políticas públicas voltadas à comunicação, do acesso à informação, da qualidade dessas informações e da intersecção entre o acesso e as propostas públicas de ação dessas comunicações voltadas à localidade.

Processos históricos e rupturas comunicacionais

Tentar compreender os processos históricos formadores das sociedades contemporâneas, é precisar levar em conta questões insólitas, como, por exemplo, o tempo de maneira conceitual. “O tempo é a relação que as pessoas, os processos, os produtos e as sociedades estabelecem com a duração e o fluxo. Trata-se de um processo que se constrói como uma arquitetura, dentro de regimes de historicidade” (POMIAN, 1984 apud RIBEIRO; LEAL; GOMES, 2017, p. 45). A ideia de tempo pode ser tida de forma subjetiva, ou seja, cultural. Cada organização social detém diferentes percepções acerca do assunto, pois, cada qual é formada de acordo o meio social no qual está inserida. Nesse sentido, a compreensão de tempo enquanto uma categoria conceitual torna-se caminho reflexivo para especular sobre processos históricos e seus fenômenos geradores.

Na nova era digital eminente, o tempo é percebido sob outros parâmetros. “Diante de um mundo sem projeto futuro e da indistinção dos tempos (não há mais momentos do trabalho, do lazer, do ócio, por exemplo), qualquer instante se transforma em tempo de frenesi que dura continuamente” (BARBOSA, 2017, p. 20). Fator que está diretamente relacionado às novas vivências e maneiras de se relacionar e interagir dos seres humanos. No meio virtual, os fluxos de informações são intermináveis, não há tempo para reflexões. Das tantas atualizações, dos tantos meios de informar e publicar, decorre a banalização das informações.

O uso e a apologia da tecnologia – que se transformam num apêndice do próprio homem – mudaram o mundo em que vivemos e também a nossa relação temporal com este mundo. Veloz, revelando-se cada vez mais próxima, a aceleração contemporânea impõe novos ritmos ao deslocamento dos corpos e ao transporte de ideias, refletindo-se nas imagens construídas do presente e do futuro. A interpenetração entre essas temporalidades talvez seja a marca mais visível desse mundo acelerado e no qual se embaralham os lugares. Não há mais uma nítida divisão entre as vivências cotidianas do tempo (BARBOSA, 2017, p. 33).

A construção de uma nova percepção efêmera de realidade propaga-se também nos discursos das grandes mídias. Suas narrativas são reconfiguradas na busca de apropriação da verdade. Articulando a ideia de que seus arranjos do passado são íntegros e incontestáveis, mantendo, dessa maneira, a credibilidade e o poder sob a opinião pública. “Nessa nova arquitetura temporal, ganha relevo um novo tempo que emerge das narrativas midiáticas, tornando-se cerne, contexto e influxo dos movimentos contemporâneos” (BARBOSA, 2017, p. 34).

Da desigualdade social advinda do sistema capitalista e fomentada pela mídia hegemônica, surge uma nova percepção de tempo, a dos excluídos. Com o acesso limitado às informações, alguns grupos marginalizados não acompanham o tempo fugaz proporcionado pela nova era digital, e possuem outra convicção de temporalidade. “[...] há o tempo dos que continuam excluídos pela lógica perversa do capitalismo, em que se vivencia a permanência do transitório, nas relações de precarização do trabalho, o presente sem passado dos deslocados, dos que vivem as múltiplas diásporas sociais e onde não há um futuro, já que o tempo dos projetos nunca esteve aberto para eles” (BARBOSA, 2017, p. 22).

Nesse sentido, é importante refletir os processos midiáticos contemporâneos e suas narrativas socialmente reconhecidas. “A mídia assumiu, na sociedade contemporânea, o lugar privilegiado de narradora dos fatos históricos. Pela narrativa midiática, uma infinidade de eventos e de pessoas pode ser reverenciada como históricos” (RIBEIRO; LEAS; GOMES, 2017, p. 48). Os processos comunicacionais, efetivamente presentes no cotidiano dos sujeitos, participam da estruturação das temporalidades, das percepções de tempo e noções históricas das sociedades que fomentam implicações éticas e políticas.

As narrativas midiáticas são planejadas para “controlar” o tempo em todos os aspectos. As programações veiculadas nas grandes mídias articulam determinada ordem e frequência de maneira contínua, o tempo e a disposição de cada programa televisivo exemplificam isso. Dessa forma, pode-se afirmar que a influência exercida pela mídia é fator que participa da formação de padrões civilizatórios que articulam os processos sociais modelando os modos de existência social.

Locais periféricos, ou memórias silenciadas?

Discutir sobre a marginalização dessas lacunas na história da nossa localidade, pelos meios de comunicação tradicionais, é um ato de resistência. Assim como refletir sobre os atores associados ao desenvolvimento superficial da localidade e a falta de memória local potencializada pela lógica periférica das geografias do poder, em especial, do poder econômico.

Por exemplo, no atual sistema capitalista os conceitos de progresso e desenvolvimento são associados a modernidade e ao crescimento econômico. A economia brasileira, como processo histórico colonial, é baseada em exploração e exportação de recursos naturais e matérias primas. Essas práticas, no contexto atual, são engendradas por novas tecnologias e mão de obra cada vez mais qualificada para suprir as demandas comerciais. O mercado que faz a economia nacional circular, é vulnerável e depende de demandas externas para obter bons resultados, e por vezes está sujeito a instabilidades. “[...] E isso foi feito sem levar em conta a sustentabilidade dos projetos extrativistas ou o esgotamento dos recursos. Soma-se ainda o fato de que a maior parte da produção das empresas extrativistas não se destina ao consumo no mercado interno, mas, sim, à exportação” (CASTRO, 2017, p. 27).

Logo, os planos e programas do Governo que objetivam o crescimento econômico não necessariamente significam melhorias na qualidade de vida das populações de onde são realizadas grandes infraestruturas, “[...] os benefícios do processo de acumulação de capital se realiza fora, no ‘ambiente econômico’ de outros territórios” (CASTRO, 2017, p. 34). As hidrelétricas da Amazônia são um bom exemplo disso, que apesar de representarem parte importante do sistema econômico, não relataram serviços de melhoria nas regiões que já pertenciam a uma parte marginalizada do país.

É necessário fazer o balanço de quem ganha e quem perde com as hidrelétricas na Amazônia. O estado do Pará, cuja hidrelétrica de Tucuruí, em 2015, celebrou 30 anos, tem a energia mais cara do Brasil, e nenhuma indústria se instalou na cidade de Tucuruí ou na Região de Integração do Lago de Tucuruí, que comporta inúmeros municípios. Todos eles têm o IDH deplorável, a floresta devastada e povos indígenas deslocados compulsoriamente a exemplo dos Gavião que foram forçados a se deslocar para outras terras, em Marabá, e que hoje enfrentam a ameaça de deslocamento pela construção da hidrelétrica de Marabá, também no rio Tocantins (CASTRO, 2017, p. 31).

Os grandes planos de desenvolvimento atuais pensados para a região amazônica, caracterizam, notoriamente, um novo ciclo de ocupação colonial. Além de um entendimento baseado em uma construção histórica, a floresta também é veiculada de maneira equivocada pelos meios de comunicação dominantes. Isso permite que interpretações acerca do assunto não passem de superficialidades, o que não deixa de ser conveniente para o Governo e para grandes corporações, que, buscando poder econômico, invadem e redefinem territórios e territorialidades causando impactos sociais e ambientais irreversíveis (CASTRO, 2017, p. 41).

Discussões acerca do desenvolvimento sustentável tornam-se cada vez mais frequentes, é verdade, mas são poucas as empresas e corporações que adotam práticas mais sustentáveis e conscientes. Isso faz com que a implantação da ideia de sustentabilidade, vá além da questão de logística ou conscientização, tornando-a inacessível diante da desigualdade social brasileira. Fato alarmante tendo em vista que a Amazônia é a última fronteira de área florestal contínua do planeta. E, apesar disso, ainda é tida como fonte inesgotável de recursos naturais, espaço demograficamente vazio e fonte de todo o desenvolvimento econômico nacional.

O discurso dominante que ainda perdura sobre a região, deve ser reformulado. As interpretações acerca da Amazônia, repensadas. O espaço deve ser encarado como parte determinante e simbólica na construção identitária de diversas etnias. Populações que vem sendo silenciadas e ameaçadas devem ser, finalmente, ouvidas. O ciclo vicioso de ocupação que viola direitos sociais, ambientais e étnicos precisa acabar para que haja novo planejamento regional, e a floresta deixe de ser vista apenas como área de estratégias mercadológicas.

Folkcomunicação como perspectiva local

Assim como defende Edna Castro (2017), um dos primeiros teóricos da Comunicação Social Luiz Beltrão, já ancorava a primeira teoria da área, Folkcomunicação, como proposta de pensar os processos culturais de autonomia local em meios de se comunicar em ambientes e espaços periféricos. Protagonizando os comunicadores e “líderes folks” (BELTRÃO, 1980) na tomada de fala dos seus locais de experiência e saber.

Um aspecto da cultura está no como as localidades periféricas do país transformaram-se sob o desenvolvimento compartilhado em seus territórios. Nas regiões de São Félix do Xingu e Canaã dos Carajás, marcadas pelas indústrias de mineração e agropecuária, há frentes de comunicação local, sim geradas a partir deste movimento de desenvolvimento, mas também em constante processo de construção e ressignificação com a cultura local.

Segundo Beltrão (1973), no esquema de comunicação cultural, a vertente da Folkcomunicação é a ponte de visibilidade da comunicação direta e indireta dos grupos marginalizados. Esses grupos, nas regiões estudadas, tendem a trazer no cotidiano comunicativo apelo emocional enquanto apresentadores e locutores no processo comunicativo. Ocupam territórios periféricos e desempenham produção de conhecimento baseado na troca e compartilhamento de cultura local que está imbrincada de regionalismos, colonialismos com os centros mais urbanos e outras referências de comunicação da grande mídia. Por tanto, suas expressões são fruto dessa soma de qualificações que tornam a comunicação local singular, periférica e dinâmica.

Nos estudos de Aline Wendpap Nunes de Siqueira (2018) recupera-se a teoria beltraniana da folkcomunicação para correlacionar objetos culturais com proximidades de produção, dos agentes e da maneira que chegam aos diferentes públicos. Para nossa pesquisa, a teoria da Folk-comunicação também pode ser norteadora na análise das comunicações locais em desenvolvimento. Pois são produções ancoradas em processos artesanais, mesmo que sejam arquitetados nas referências midiática da grande mídia.

A Folkcomunicação abrange três grandes grupos de audiência:

[...] os grupos rurais marginalizados, caracterizados, sobretudo, por seu isolamento geográfico, sua penúria econômica e baixo nível intelectual; os grupos urbanos marginalizados, compostos de indivíduos situados nos escalões inferiores da sociedade constituindo as classes subalternas, desassistidas, subformadas e com mínimas condições de acesso e os “grupos culturalmente marginalizados”, urbanos ou rurais, que representam “contingentes de contestação aos princípios, à moral ou à estrutura social vigente” (BELTRÃO apud SIQUEIRA, 2018, p. 239).

Nesse sentido, as regiões de São Félix do Xingu e Canaã dos Carajás apresentam características centradas nesses territórios mais rurais, distante dos centros urbanos da capital; são economicamente marcadas pela exclusão e também são subalternizadas pelas estruturas de centros educacionais, como ensino superior presencial e espaços culturais como teatros e outros. Essas “condições de acesso” organizam a cultural local dos processos de comunicação desenvolvidos nessas localidades, potencializando o fazer das reproduções da grande mídia, mas também hibridizando artesanatos do comunicar desses comunicadores locais.

Comunicadores locais

Wesley Costa – Portal de Notícias Fato Regional

Wesley Costa já atuava na área da comunicação antes mesmo de se formar em jornalismo pela Universidade da Amazônia (UNAMA) em 2007. Ele era colaborador da TV Liberal do sul do Pará nas cidades de Ourilândia do Norte, Tucumã e São Félix do Xingu. Durante o período de graduação, Costa morou em Belém e acompanhava os prefeitos do sul do Pará em audiências e trabalhos legislativos que ocorriam na capital. Além disso, ele também já cobriu notícias sobre as celebridades locais para veículos nacionais e continua na cobertura do carnaval de Salvador há mais de 10 anos para outros portais de notícias.

Assim que se formou em Jornalismo, Costa voltou a morar em Ourilândia do Norte, sua cidade natal. Virou sócio de um amigo na revista “Norte Brasil”, e depois de algum tempo montou sua própria revista chamada “Amazônia em Destaque”, em que buscava falar de assuntos de maior interesse da região, como política e pecuária. Cerca de dois anos depois, ao perceber a expansão do meio digital, Costa iniciou, em dezembro de 2018, o portal de notícias “Fato Regional”, que está no ar há três anos e cobre as notícias da região sul e sudeste do Pará.

O veículo possui prédio próprio e fica situado em Ourilândia do Norte, na rua Rondônia, n° 2172. Parte da equipe que trabalha no portal, é composta por dois freelancers que moram em Belém. O trabalho é realizado no estilo home office. Ambos são responsáveis pela produção das matérias e atualização do site. No geral, os textos levam a assinatura do portal. Os freelancers recebem mensalmente através de notas fiscais por já possuírem carteira assinada em outras empresas de comunicação, os horários são flexíveis e não há contrato formal. Wesley Costa é responsável pelo setor comercial da empresa.

Além do portal de notícias, Costa também tem uma agência de publicidade chamada “FR Comunicação e Marketing”. Os anúncios veiculados no portal são negociados mensalmente. Os clientes são: Vale, que é o maior parceiro financeiro do site, Banpará, o Governo do Estado do Pará, as prefeituras de Ourilândia do Norte e Tucumã, a rede de supermercados Giro Supermercados e a empresa Pema Táxi Zero. Segundo o proprietário, o portal também costuma fazer permuta.

Apesar de manter a empresa a partir de parcerias com anunciantes, Costa afirma que preza pelo jornalismo e sua credibilidade, garantindo que os jornalistas tenham liberdade para publicar o que acharem certo e necessário. As informações são produzidas pela própria equipe e o site é atualizado diariamente pelos freelancers encarregados e pelo próprio Costa. Outros dois profissionais são responsáveis pelas atualizações das redes sociais e pela edição de vídeos. O Instagram da empresa possui 10 mil seguidores e um milhão de acessos mensais, o portal de notícias Fato Regional alcança, dependendo da relevância das matérias, até 40 mil acessos por mês. Os links das matérias publicadas são postados a cada 30 minutos em redes sociais comuns como WhatsApp.

As informações veiculadas têm como foco um viés informativo e seguem uma editoria regional. Wesley Costa relata que os prefeitos da região não entendem o conceito de jornalismo e, por conta disso, o portal não possui editoria de opinião. Porém, ele afirma que abre espaço para que pessoas interessadas publiquem seus textos no site. Diz ainda, que temáticas policiais repercutem maior interesse na região.

O público-alvo abrange pessoas entre 16 e 24 anos, logo, as informações publicadas são voltadas aos interesses desse público. Entretanto, com a introdução da Wifi na zona rural, Costa afirma que o site busca publicar matérias com temáticas voltadas a esse público também. Seu novo projeto é focar na publicação de vídeos por conta do grande alcance de visualizações dos audiovisuais.

Paulo Francis – Blog/Jornal Xingu News

Paulo Francis começou a atuar na área da comunicação aos 14 anos em Tucumã. Ele e alguns colegas produziam um jornal impresso quinzenal que era distribuído gratuitamente para as populações de Tucumã, Ourilândia do Norte, São Félix do Xingu, Água Azul do Norte e outros municípios das redondezas de Xinguara e Redenção. Francis participava de todas as etapas de produção do jornal, desde a escolha da pauta até a finalização da edição. Os custos do processo de produção eram pagos por anunciantes e pelas prefeituras que tinham suas matérias institucionais publicadas. Apesar disso, segundo ele, a equipe buscava praticar um jornalismo independente. Fato se tornou ainda mais forte quando moradores da comunidade começaram a apoiar o projeto.

Depois de 30 anos, Francis precisou se mudar para São Félix do Xingu. Com a perceptível predominância do meio digital, e por não poder pagar os custos gráficos do jornal impresso, ele iniciou o portal de notícias “Jornal Xingu News”, que está no ar há quatro anos. O portal não é registrado e é produzido na própria casa de Francis, que realiza todas as etapas de produção sozinho. Não há contratos autorais ou suporte jurídico, segundo ele, a região é marcada por dirigentes políticos que não compreendem o verdadeiro papel da imprensa e perseguem os jornalistas. O veículo faz divulgações gratuitas quando a pauta é de interesse público e trabalha também com anúncios pagos. Dentre os clientes estão inclusos, um escritório local de contabilidade, uma empresa de agropecuária e um supermercado da região, ele explica que o valor cobrado por essas publicidades ainda é simbólico. Francis afirma que, apesar disso, o portal busca praticar um jornalismo independente e sem restrições.

O portal é atualizado diariamente e possui viés informativo, os temas das notícias publicadas são, na maioria das vezes, referentes a pautas policiais, assunto que demonstra ser o de maior interesse na região. O público-alvo abrange pessoas entre 20 e 25 anos. Em dias de poucos acontecimentos são publicadas informações como: vagas de emprego, divulgação de concursos públicos etc. Francis declara que as informações divulgadas não são organizadas em tipos e formatos ou divididas em editorias. O portal recebe em média 290 mil acessos mensais.

Luciana Marschall – Correio de Carajás

Luciana Marschall formou-se em comunicação social com habilitação em Jornalismo em Foz do Iguaçu, Paraná. Ela já atuou nas áreas de assessoria de comunicação, jornal impresso e TV. Marschall ingressou no Grupo Correio de Carajás há dez anos, atuando inicialmente no jornal impresso como repórter e, posteriormente, como redatora. O veículo é o mais antigo do Grupo e foi fundado há mais de 30 anos em Marabá, interior do Pará, a partir dele derivaram-se os demais veículos pertencentes à empresa, incluindo o portal de notícias Correio de Carajás, onde a jornalista exerce atualmente a função de editora.

O portal foi fundado em 2017 e está sediado em Marabá, além de ter outra praça em Parauapebas e manter correspondentes nas cidades de Canaã dos Carajás, Jacundá e Conceição do Araguaia, ainda assim, ele funciona integrado com o jornal impresso, ou seja, os conteúdos e os profissionais são os mesmos. O veículo conta com cerca de dez repórteres, incluindo os correspondentes de Marabá e Canaã dos Carajás, conta também com fotógrafos, designers, social medias, editores, freelancers e pessoas responsáveis exclusivamente pelas postagens. Segundo a jornalista, os profissionais são registrados, cumprem oito horas de trabalho diárias e ganham mais que o teto da profissão. Ela afirma ainda, que todos os instrumentos necessários para a produção das notícias são disponibilizados pela empresa, incluindo respaldo jurídico.

O site é atualizado diariamente de segunda a segunda e conta com diversos anunciantes. Os anúncios veiculados são vendidos por espaço – nesse caso são produzidos por designersou pelo setor comercial do Grupo – ou no formato “redação”, que se refere à cobertura de eventos e pautas financiadas. As informações são dispostas a partir de editorias e colunas baseadas, em sua grande maioria, no jornal impresso, incluindo as editorias de opinião e política. Marschall explica que a organização do portal foi pensada a partir dos assuntos de maior interesse na região, principalmente pautas policiais e políticas. O portal recebe em média 15 mil acessos diários. A jornalista explica ainda, que o público interage com frequência através das redes sociais e da caixa de comentários disponível no site, muitas matérias são desenvolvidas a partir de sugestões dos leitores.

Kleysykennyson Carneiro - Jornal InFoco

Kleysykennyson Carneiro nasceu em Marabá e mudou-se para Canaã dos Carajás há cerca de oito anos. Ele começou a atuar na área da comunicação em 2010 na RBA, onde trabalhava como auxiliar de estúdio, foi seu primeiro trabalho de carteira assinada. Apesar de não ser formado em jornalismo, Carneiro ao longo dos anos ganhou experiência como repórter, escrevendo para diferentes veículos de comunicação. Atualmente ele presta serviço para o portal de notícias Jornal InFoco.

O jornal surgiu em 2016 e inicialmente era produzido na versão impressa, porém, após poucas edições, foi redirecionado para o meio digital. Carneiro trabalha para o veículo desde o seu surgimento e explica que, inicialmente, o portal só contava com dois profissionais: ele, que escrevia e um fotógrafo. Hoje o site funciona das oito da manhã às seis da tarde durante cinco dias por semana e conta com quatro profissionais responsáveis pela atualização, edição, produção das notícias e das imagens e pela manutenção de redes sociais. Ele explica que, por ser uma empresa pequena, as tarefas não são precisamente definidas, todos fazem de tudo um pouco.

O portal se mantém através de anúncios comerciais que são negociados mensalmente. Carneiro explica que a logomarca da empresa anunciante é anexada na página, por isso os anúncios não precisam de edição. Ele conta que a empresa oferece o equipamento básico para a produção das notícias, como computadores e câmeras fotográficas e que não são oferecidos auxílios aos funcionários. O site é registrado, atualizado diariamente em dias úteis e dividido em editorias, as quais são: economia, política, sociedade, esporte e lazer, agropecuária e segurança pública. O jornalista explica que temas policiais geram maior interesse no público e que o veículo não possui público-alvo específico. Conta ainda, que o site recebe cerca de 100 a 200 acessos mensais, dependendo dos acontecimentos do período.

Carlos Antônio da Costa Santiago – Web Cidade

Carlos Antônio Santiago ingressou na área da comunicação em 2018 a convite de um amigo. Sua atuação começou na TV Record em Canaã dos Carajás, onde inicialmente produzia matérias que iam ao ar nas programações da manhã e da tarde. Logo no início, ele foi chamado por um apresentador para comentar os acontecimentos em um dos programas da emissora, dessa maneira, Santiago passou a exercer as duas funções dentro da empresa. Cerca de um ano e meio depois, ele começou a trabalhar na Web Cidade, onde iniciou atuando como repórter e comentarista no jornal matutino. Atualmente, ele apresenta um programa chamado “Revista Semanal”, em que realiza uma retrospectiva dos principais acontecimentos da semana e recebe convidados para produzir entrevistas sobre assuntos relevantes para à cidade.

O veículo de comunicação Web Cidade surgiu em março de 2019 com o foco de cobrir notícias regionais. Atualmente a empresa conta com 12 profissionais, dentre eles: dois cinegrafistas, quatro apresentadores, um editor e um editor chefe, uma pessoa responsável pelo apoio interno e repórteres. Segundo Santiago, nenhum deles é registrado, trabalham com contratos de um ano. Ressalta ainda, que ninguém é formado em jornalismo. Nesse sentido, ele conta que, ao ingressar na empresa, os profissionais passaram pela fase inicial de estágio, em que receberam monitoramento para a efetivação das funções.

Santiago explica que, inicialmente, o veículo realizou uma campanha de inserção dos possíveis leitores no site, em que eram oferecidas instruções de acesso. Hoje, cerca de duas horas depois da publicação da notícia, o portal recebe aproximadamente 400 visualizações. Porém, as matérias produzidas por ele vão ao ar somente na TV e na rádio online. Dessa forma, Santiago afirma que não há público-alvo específico, as informações e programações são produzidas para a população regional de forma geral, os temas são diversos. A empresa também possui repórteres correspondentes em Conceição do Araguaia, Xinguara e Marabá. Ele conta ainda, que apesar do veículo não trabalhar com grandes empresas, há vários anunciantes locais, como postos de gasolina, padarias, supermercados e lojas, além da prefeitura de Canaã dos Carajás.

Considerações finais

Das cinco entrevistas realizadas, verificamos o tema principal de cotidiano e jornalismo policial nos portais e veículos de comunicações em que os comunicadores e jornalistas representam. São dois jornalistas formados e três comunicadores por experiência de trabalho nas atividades na área da comunicação social. A periodicidade é regular em todos os veículos, alguns em mais de uma atualização diária. Como empresa de maior porte na área da comunicação há o grupo Correio de Carajás, que mantém correspondente em Canaã dos Carajás, o comunicador Nyelsen Martins, pela importância econômica do município. A empresa do jornalista Wesley Costa, o Portal de Notícias Fato Regional, tem contrato de freelance com dois jornalistas de Belém. Os outros veículos apresentam contratos com os comunicadores ou são eles mesmo a fonte de trabalho principal do veículo.

Os cinco veículos de comunicação são veiculados de forma online, apenas o grupo Correio de Comunicação que tem sua versão impressa. Mesmo em plataformas online, por exemplo, o Web Cidade realiza sua revista em programa de vídeo, assim como outros programas da plataforma. A plataforma digital do Notícias Fato Regional também segue em busca do aprimorando dos vídeos reportagens, já entendendo que seu público tem proximidade com os produtos audiovisuais do mundo noticioso.

Na interface da pesquisa bibliográfica, dos autores do referencial teórico deste artigo, entendemos que o desenvolvimento local ocorre a partir e fundamentalmente da memória coletiva das localidades, como direito à comunicação e direito à comunicação de qualidade. Nesse sentido, o desenvolvimento local seria sustentável socialmente, por permitir as localidades se inserirem com maior autonomia nas ações praticadas na economia local e pela administração pública regional. E a comunicação é a ponte entre as sociedades e a gestão local, de forma geral.

Outra questão importante, é a presença das histórias de vida e das sociedades locais poderem ser contadas por veículos e comunicadores das cidades e região, construindo localmente o incentivo pela leitura de notícia, crítica de mídia e atualidades cotidianas por quem vivencia o local, ou seja, é um agente nessa relação de força e ação política. Logo, o papel desempenhado pelos processos de comunicação locais, ainda que tolhidos por questões políticas e econômicas, exprimem vias de instrumentalização dos leitores de senso crítico e possível imposição diante das respectivas entidades governamentais responsáveis, exercendo papel fundamental no desenvolvimento da região. Entretanto, é importante ressaltar que apesar da comunicação desempenhar um papel de transparência e participação social, ela não se configura como elemento efetivo de intervenção, tendo em vista que o Brasil apresenta uma estrutura de mídia de cunho desfavorável aos processos de desenvolvimento.

Referências

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Notas

1 Os resultados do artigo foram inicialmente apresentados na XVI Conferência Brasileira de Comunicação Cidadã.

Notas de autor

3 Doutora em Processos Comunicacionais pela Universidade Metodista de São Paulo. Professora Adjunta da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (FACOM/ICSA/Unifesspa). Coordenadora do Programa Especial PLE de Monitoria Geral. Correio eletrônico: ingrid.bassi@unifesspa.edu.br.
3 Discente do Curso de Jornalismo da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará. Correio eletrônico: alexandra@unifesspa.edu.br.
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