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Folclore Nu – Desnudando a cultura brasileira
Andriolli de Brites da Costa
Andriolli de Brites da Costa
Folclore Nu – Desnudando a cultura brasileira
Revista Internacional de Folkcomunicação, vol. 20, núm. 45, pp. 298-308, 2022
Universidade Estadual de Ponta Grossa
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Ensaio Fotográfico

Folclore Nu – Desnudando a cultura brasileira

Andriolli de Brites da Costa1
Universidade do Estado do Rio de Janeiro , Brasil
Revista Internacional de Folkcomunicação, vol. 20, núm. 45, pp. 298-308, 2022
Universidade Estadual de Ponta Grossa
Folclore Nu – Desnudando a cultura brasileira

Este projeto de experimentação artístico-poética surge no bojo de ações da iniciativa Colecionador de Sacis, que desde 2015 atua para a “divulgação folclórica” nas redes sociais. O termo, que toma emprestado o conceito já consolidado de divulgação científica, é utilizado para referenciar ações comunicativas voltadas para a promoção e valorização da cultura popular junto aos mais distintos públicos. Em resumo:

A utilização de recursos, técnicas, processos e produtos para a veiculação de informações relacionadas ao folclore - entendido como os modos de sentir, pensar e agir de um povo fundamentados pela tradição e que lhe caracterizam identidade. Estas informações são dirigidas a um público que é leigo de seus conceitos ou que ignora sua agência, e são transmitidos para criar afeto, conhecimento e reconhecimento da cultura popular. (COSTA, 2021, p. 65)

Neste contexto, já havíamos estabelecido pontes de diálogo facilmente delineadas junto a crianças em idade escolar por meio de visitas às escolas para falar de folclore, contações de história e mostras de desenhos animados ligados aos mitos brasileiros. Para o público jovem, a relação era estabelecida a partir dos trabalhos com literatura, podcast e produção de conteúdo para a web. No entanto, havia uma parcela do público que ainda ignorava a potência sensível e simbólica da cultura popular, que precisava de uma linguagem ainda mais distinta para estabelecer esta aproximação afetiva.

Assim surge Folclore Nu - Desnudando a Cultura Brasileira, um projeto que reúne fotografia e nu artístico com mitos e lendas do imaginário popular. Foram quatro ensaios, no total, cada um contendo 7 fotos. Em cada uma delas, uma legenda que explica um pouco mais sobre cada mito retratado.

O objetivo do projeto foi o de mostrar que o repertório compartilhado do folclore brasileiro pode inspirar não apenas histórias infantis, como amplamente repetido na vulgata, mas qualquer tipo de narrativa. A estética se une à informação, com a possibilidade de transmitir de maneira inovadora fatos pouco conhecidos sobre cada criatura do bestiário nacional.

A proposta dos ensaios é a de capturar a singularidade de cada mito retratado, o que foi feito a partir de pesquisa bibliográfica e do design de produção, concatenando cenários, objetos de cena e maquiagem corporal para a produção dos sentidos desejados.

Cabe ressaltar, porém, que a iniciativa foi completamente independente e precisou ser realizada de acordo com os recursos disponíveis. Todo o ensaio foi dirigido e fotografado por Andriolli Costa, com assistência de Jessika Andras. Os modelos, igualmente, eram amigos do casal que se dispuseram a participar.

Contingências do projeto incluíram as pessoas dispostas a serem fotografadas em ensaios com nudez, os horários livres dos modelos, as locações disponíveis para a construção de espaços seguros para todos os envolvidos. Houvesse recursos, seria possível ter maior diversidade de corpos, etnias e espaços.

No ensaio do Lobisomem, com Luz Dorneles de modelo, buscamos a representação da ferocidade incontida. Temos como índices de conotação as roupas rasgadas, os dentes sempre à mostra, os olhos furiosos. Suas mãos pintadas de preto remetem às garras e foram os seus próprios dedos que mancharam o rosto pelas marcas de suas unhas. Luz já tinha uma tatuagem de lua, que ajudou a compor a persona. No cenário, a criatura é vista atrás das grades de um canil, acuada entre os muros da casa, espojando-se no chão de terra.

O ensaio seguinte foi o do Boitatá, com a modelo Liara Chamun. Nele, seu corpo é coberto de olhos com pupilas fendidas: uma referência à serpente devoradora de globos oculares da qual fala Simões Lopes Neto (2012). No ensaio buscamos referência à sua forma etérea e fantasmagórica, representada pela dupla exposição. Como recurso adicional, acrescentamos a obliteração como índice de fora de campo (DUBOIS, 1993, p. 195), colocando fogo na fotografia revelada e a fotografando novamente. Nada mais coerente para uma cobra ígnea.

Posteriormente convidamos o modelo Juliano Quites para representar o Boto Cor de Rosa. A conotação foi dada tanto pela interpretação, orientada para a sensualidade, quanto pelo chapéu panamá sempre presente nas representações do mito das águas. O ensaio foi realizado em um córrego na região de Morro Reuter/RS, e construiu ainda uma dialogia com o mito de Narciso, especialmente a partir da interpretação de Caravaggio.

Por fim, encerramos a série com o Negrinho do Pastoreio, interpretado por Rômulo Ferreira. O ensaio foi realizado em um haras na cidade de Novo Hamburgo/RS, e foi o primeiro contato do modelo com um cavalo. Como referência imagética, o ensaio recorre às estátuas de Vasco Prado – produzidas na década de 1960 e que marcaram o imaginário gaúcho sobre esta lenda dos pagos. Para representar a benção de Nossa Senhora Aparecida, recorremos a uma metonímia: um pano azul celeste, cobrindo o corpo do modelo. Os mesmos das vestes da Madrinha.

Você confere abaixo uma versão resumida dos ensaios. Para ver o material na íntegra, acesse:

http://andriolliandras.myportfolio.com


Foto 1
Lobisomem

Dizem que o sétimo filho, se não for batizado pelo primogênito, tem seu destino garantido: mais cedo ou mais tarde, vira lobisomem. Quando escuta o chamado do fadário, o amaldiçoado vai até um chiqueiro ou espojador, se livra das roupas e rola pela terra. Lá acontece a terrível transformação da carne. (LIMA, 1983)

Autor (2022)


Foto 2
Lobisomem

Seguindo a tradição portuguesa, o lobisomem tem pouco de "lobo". Sua transformação é variável. Pode ser metade porco, cachorro, cavalo e até touro. Todos os bichos que se espojaram na terra lhe emprestam seu poder. O cachorro preto é o único que pode com o lobisomem. Os outros fogem de medo assim que ouvem o estalar de suas orelhas enormes. O lobisomem também não ladra e nem uiva, mas rosna e ronca.

Autor (2022)


Foto 3
Boitatá

Antes mesmo da chegada dos portugueses, há muito as noites já eram iluminadas pelos boitatás. O mito é um dos mais antigos do Brasil, registrado pela primeira vez já em 1560 pelo padre José de Anchieta (CASCUDO, 2012). Era tido como um fantasma que atacava e matava os indígenas nas praias do sudeste. Mais tarde, fica conhecido como protetor da natureza, atacando aquele que coloca fogo na mata indiscriminadamente.

Autor (2022)


Foto 4
Boitatá

No Rio Grande do Sul, Simões Lopes Neto conta outra versão. Diz que nos tempos antigos, a Cobra Grande (Boiaçú) sobreviveu se alimentando somente dos olhos dos animais que morreram durante o dilúvio. A luzinha que restava nos olhos de cada bicho se reuniu no corpo da Cobra Grande e a incendiou por dentro. Assim, iluminada, a Boiaçú virou a Boitatá que tanto conhecemos. Um mito da devoração.

Autor (2022)


Foto 5
Boto Rosa

Apesar de frequentemente tido como mito nativo, nenhum cronista registra narrativas fantásticas sobre o boto cor de rosa até o século XIX (BATES, 1864). O boto encantado emerge de origem branca e mestiça, com projeção no imaginário após o estabelecimento dos colonizadores.

Autor (2022)


Foto 6
Boto Rosa

A sina do boto é a da conquista. Todas as noites de festa ele aparece nas comunidades ribeirinhas, onde seduz e toma para si uma mulher diferente. Assim que consegue o que quer, abandona imediatamente sua amante. Deixa para trás, muitas vezes, uma gravidez indesejada.

Autor (2022)


Foto 7
Negrinho do Pastoreio

Um dos momentos mais trágicos da lenda do Negrinho do Pastoreio é o ápice de seu castigo, quando é colocado desacordado – mas ainda vivo – em um formigueiro para que dele não sobrem nem os ossos. A pose foi imortalizada por Vasco Prado, em estátuas idênticas em Porto Alegre, São Francisco de Paula e outras cidades gaúchas.

Autor (2022)


Foto 8
Negrinho do Pastoreio

Após ter sonhos terríveis com o Negrinho, o fazendeiro volta ao formigueiro ao terceiro dia. Lá, encontra-o montado em seu cavalo baio, acompanhado de sua madrinha, Nossa Senhora Aparecida. Com sua benção, ele parte correr o mundo com sua tropilha invisível, levando piedade aos que não recebem nenhuma. O egrinho traz esse mito da esperança, que mesmo diante do poder e da violência, nunca pode morrer.

Autor (2022)

Material suplementario
Referências:
BATES, Henry Walter. The naturalist on the river amazons. New York: J M Dent & Sons, 1864.
CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. São Paulo: Global, 2012.
COSTA, Andriolli. Divulgação folclórica - a urgência em ocupar espaço no debate público. Revista Estação Folclore. N.1, v.1. Agosto, 2021. pag. 60-66. Acesso em 04 dez. 2022. Disponível em https://drive.google.com/file/d/1yGJOnru0841Iot0Q9s__SFs4MiFkgO96/view.
DUBOIS, Philippe. O ato fotográfico e outros ensaios. Campinas: Papirus, 1993.
LIMA, Maria do Rosário de Souza Tavares. Lobisomem: assombração e realidade. São Paulo: Escola de Folclore, 1983
LOPES NETO, João Simões. Lendas do Sul. Icata: Editora Dracena, 2012.
Notas
Notas de autor
1 Professor do Departamento de Jornalismo da UERJ. Doutor em Comunicação e Informação pela UFRGS, mestre em Jornalismo pela UFSC e graduado em Comunicação Social: Jornalismo pela UFMS. Cursou estágio pós-doutoral em Crítica Cultural na UNEB, na linha de pesquisa de Tradição Oral e Produção de Narrativas. É membro do Nutopia - Núcleo das Tradições Orais e Patrimônio Imaterial (UNEB), da Comissão Sul-Mato-Grossense do Folclore e integrante da diretoria da Rede Folkcom (2022-2024). Correio eletrônico: andriolli.costa@uerj.br.

Foto 1
Lobisomem

Dizem que o sétimo filho, se não for batizado pelo primogênito, tem seu destino garantido: mais cedo ou mais tarde, vira lobisomem. Quando escuta o chamado do fadário, o amaldiçoado vai até um chiqueiro ou espojador, se livra das roupas e rola pela terra. Lá acontece a terrível transformação da carne. (LIMA, 1983)

Autor (2022)

Foto 2
Lobisomem

Seguindo a tradição portuguesa, o lobisomem tem pouco de "lobo". Sua transformação é variável. Pode ser metade porco, cachorro, cavalo e até touro. Todos os bichos que se espojaram na terra lhe emprestam seu poder. O cachorro preto é o único que pode com o lobisomem. Os outros fogem de medo assim que ouvem o estalar de suas orelhas enormes. O lobisomem também não ladra e nem uiva, mas rosna e ronca.

Autor (2022)

Foto 3
Boitatá

Antes mesmo da chegada dos portugueses, há muito as noites já eram iluminadas pelos boitatás. O mito é um dos mais antigos do Brasil, registrado pela primeira vez já em 1560 pelo padre José de Anchieta (CASCUDO, 2012). Era tido como um fantasma que atacava e matava os indígenas nas praias do sudeste. Mais tarde, fica conhecido como protetor da natureza, atacando aquele que coloca fogo na mata indiscriminadamente.

Autor (2022)

Foto 4
Boitatá

No Rio Grande do Sul, Simões Lopes Neto conta outra versão. Diz que nos tempos antigos, a Cobra Grande (Boiaçú) sobreviveu se alimentando somente dos olhos dos animais que morreram durante o dilúvio. A luzinha que restava nos olhos de cada bicho se reuniu no corpo da Cobra Grande e a incendiou por dentro. Assim, iluminada, a Boiaçú virou a Boitatá que tanto conhecemos. Um mito da devoração.

Autor (2022)

Foto 5
Boto Rosa

Apesar de frequentemente tido como mito nativo, nenhum cronista registra narrativas fantásticas sobre o boto cor de rosa até o século XIX (BATES, 1864). O boto encantado emerge de origem branca e mestiça, com projeção no imaginário após o estabelecimento dos colonizadores.

Autor (2022)

Foto 6
Boto Rosa

A sina do boto é a da conquista. Todas as noites de festa ele aparece nas comunidades ribeirinhas, onde seduz e toma para si uma mulher diferente. Assim que consegue o que quer, abandona imediatamente sua amante. Deixa para trás, muitas vezes, uma gravidez indesejada.

Autor (2022)

Foto 7
Negrinho do Pastoreio

Um dos momentos mais trágicos da lenda do Negrinho do Pastoreio é o ápice de seu castigo, quando é colocado desacordado – mas ainda vivo – em um formigueiro para que dele não sobrem nem os ossos. A pose foi imortalizada por Vasco Prado, em estátuas idênticas em Porto Alegre, São Francisco de Paula e outras cidades gaúchas.

Autor (2022)

Foto 8
Negrinho do Pastoreio

Após ter sonhos terríveis com o Negrinho, o fazendeiro volta ao formigueiro ao terceiro dia. Lá, encontra-o montado em seu cavalo baio, acompanhado de sua madrinha, Nossa Senhora Aparecida. Com sua benção, ele parte correr o mundo com sua tropilha invisível, levando piedade aos que não recebem nenhuma. O egrinho traz esse mito da esperança, que mesmo diante do poder e da violência, nunca pode morrer.

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