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O potencial informativo do folheto de política de cordel: Resenha do livro Política e Literatura de Cordel, de Alberto Perdigão
Revista Internacional de Folkcomunicação, vol. 21, núm. 46, pp. 258-263, 2023
Universidade Estadual de Ponta Grossa

Resenhas & Críticas

Perdigão Alberto. Política e Literatura de Cordel: o folheto como mídia informativa, alternativa, popular e contra-hegemônica. 2022. Brasil. RDS. 352 p.15 x 21 cmpp.. 978-65-88668-36-8

Recepción: 22 Abril 2023

Aprobación: 12 Mayo 2023

DOI: https://doi.org/10.5212/RIF.v21.i46.0014

O livro Política e Literatura de Cordel – O folheto como mídia informativa alternativa, popular e contra-hegemônica (RDS Editora, 2022), do jornalista e professor Alberto Perdigão, se trata de uma coletânea inovadora de doze artigos que abordam o folheto de cordel como um exemplo de mídia informativa alternativa, popular e contra-hegemônica. A publicação é resultado de cinco anos de uma pesquisa que retrata o universo da literatura de cordel e reinsere o folheto informativo como tema de pesquisa no campo da folkcomunicação.

A obra se interessa, sobretudo, pelos folhetos de cordel em sua versão informativa - ou de circunstância - e sua relação com o tema da política. Perdigão apresenta, em dez dos doze artigos, o folheto de política em diálogo teórico com diversos autores e, em dois outros, analisa mais empiricamente o conteúdo de poesias-reportagens sobre a destituição da presidenta Dilma Rousseff e as representações dos poetas-repórteres sobre o papel que tiveram neste processo.

Intrigado por questões que envolvem a exclusão comunicacional e política existente no Brasil – muito próprio de pesquisadores e estudiosos da Folkcomunicação – devido à forte concentração dos meios de comunicação e a aparente incapacidade do sistema de comunicação pública do país no combate a este isolamento, o autor defende que superar este cenário excludente resultaria em um país com mais participação cidadã, mais expressão, controle e informação, reduzindo os possíveis riscos de violações democráticas.

Em sua análise, ele percebe que o folheto de política estaria sendo utilizado por segmentos do país comunicacionalmente excluídos como instrumento alternativo para incorporação nas discussões políticas, concedendo-lhes mais possibilidades de participação na esfera pública sobre assuntos comuns e pertinentes a todo e qualquer cidadão brasileiro.

O autor se dedica a problematizar e refletir sobre como o enredo brasileiro de 2016, que culminou com a destituição da presidenta Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores (PT), da Presidência da República e que foi um processo amplamente narrado pela mídia tradicional como impeachment, foi também interpretado sob o olhar dos poetas-repórteres dos folhetos de cordel que tratam de política, a fim de encontrar respostas para a seguinte pergunta de partida: como a literatura de cordel serve à informação e expressão, no contexto da destituição?

Do ponto de vista político, o livro possui igual serventia tanto aos leigos no assunto quanto aos pesquisadores dedicados em temas que envolvem política, jornalismo e comunicação alternativa e popular. O autor considera plural a região Nordeste e, por isso, em sua análise investigativa verifica que nas populações pobres e desempoderadas do Nordeste do país se percebem a legitimidade, a grandeza e a força desta mídia que é o folheto informativo junto a elas, que costumeiramente se sentem pouco representadas na mídia tradicional.

Baseado em uma metodologia predominantemente bibliográfica, a obra de Perdigão coletou dados disponíveis principalmente sobre o folheto informativo, mas foi a dificuldade em encontrar literatura exclusiva sobre o folheto de política que o instigou a escrever o livro. Uma análise exaustiva de mais de 600 folhetos de política contemplou a metodologia da pesquisa que o permitiu penetrar no universo desta literatura popular e, assim, elaborar uma amostra de oito folhetos sobre a destituição da presidenta Dilma Rousseff.

Além disso, o autor buscou contatar uma série de atores sociais envolvidos no processo de produção das poesias-reportagens, através de anúncios em estações de rádio e também através de convocação pelas redes sociais, formando uma verdadeira cadeia de cordelistas por assim dizer, composta por poetas, vendedores, autores e editores.

Fruto dessa metodologia surgiu o livro Política e Literatura de Cordel, que permite ao leitor fazer um mergulho no ambiente desta literatura popular em nada inferior a qualquer outra e que possui a capacidade de levar uma diversidade de vozes e uma pluralidade de temas ao seu público consumidor.

A coletânea encontra-se dividida em duas partes principais, seguidas de dois anexos. A primeira parte se concentra em abordar o folheto de política em sete capítulos, sendo que cada um deles consiste em artigo produzido por Alberto Perdigão, de forma a trazer um entendimento amplo sobre esse tipo de produção literária.

Os dois capítulos iniciais da parte I trazem informações básicas para situar o leitor sobre a literatura de cordel e a literatura informativa. O capítulo 1 produz um esclarecimento a respeito das classificações temáticas do cordel, onde, em uma delas, vai se encontrar o folheto informativo. Já no capítulo 2, o autor propõe um modelo de classificação temática para o folheto informativo, enquadrado em cinco eixos temáticos (ciência política, disputa política, vultos da política, notícia política e políticas públicas), útil para facilitar a manipulação deste objeto de estudo, mas sem considerá-lo, contudo, como um modelo fechado.

Entre os capítulos 3 e 7, o autor aborda separadamente as quatro características definidoras do folheto atribuídas por ele no subtítulo do livro (informativo, alternativo, popular e contra-hegemônico). No terceiro capítulo, ele discute em conjunto com outros autores em que contextos e condições a literatura de cordel pode ser considerada uma mídia informativa. O capítulo 4 trata da possibilidade de considerar que essa mídia informativa é alternativa à mídia tradicional. Aqui, o autor compara o folheto ao jornal, trazendo para a compreensão vários pontos de aproximação e outros de afastamento entre os dois.

No quinto capítulo se discute sobre o caráter popular desta mídia informativa e alternativa, encarado por ele como uma construção social. Perdigão questiona o sentido do termo popular dado ao folheto de cordel, considerando-o como um enquadramento a um lugar que lhe submetem para que, assim, as outras literaturas possam ter seus lugares privilegiados na hierarquia da escala literária. O autor defende que o diferencial da literatura popular de cordel é que o poeta se assume, de fato, como porta-voz e tradutor do pensamento de uma determinada população.

O caráter contra-hegemônico e resistente da poesia de cordel é destacado no capítulo 6, considerando que o conteúdo impresso no cordel está interessado genuinamente com o fato noticiado e a interpretação desta notícia por parte de um segmento específico da população, manifestando como esse grupo recebeu e assimilou determinado fato político ou social. Findando a primeira parte, o capítulo 7 do livro encara o folheto informativo de política como um verdadeiro documento de pesquisa histórica, da mesma forma que um jornal. Para o autor, o folheto representa um documento importante para refletir a perspectiva de segmentos da sociedade comunicacionalmente excluídos e descredenciados em suas escassas manifestações.

A parte II da obra traz, ao longo dos capítulos 8 a 12, o golpe de 2016, cuja trama midiática se deu dentro de um país comunicacionalmente excludente. Influenciado pelo sociólogo alemão Harbermas, é feita uma reflexão do conceito de exclusão no capítulo 8, que, segundo Perdigão, seria a restrição parcial ou total das condições concretas e simbólicas do direito à comunicação e a estar na esfera pública das discussões e deliberações políticas.

O capítulo 9 se concentra em interpretar como a imprensa se comportou durante o processo da destituição da presidenta Dilma Rousseff, ainda fazendo uso do conceito de exclusão. Nos dois capítulos seguintes, 10 e 11, é analisado o conteúdo, a partir de pesquisa empírica, de uma amostra de oito folhetos sobre a destituição da presidenta, usando como critério de análise as seis perguntas do lead jornalístico proposto pelo teórico Lasswell.

A pesquisa empírica presente no capítulo 11 vai ajudar o leitor a perceber quem é o ator social presente na figura do poeta-repórter, através dos depoimentos de oito escritores que explicaram sobre suas atuações enquanto poeta-repórteres durante o processo de destituição presidencial de 2016. O autor fecha esse pensamento no capítulo 12, quando se tem a compreensão, segundo bibliografia consultada, de três papeis do poeta-repórter, nominados: enunciador panfletário, líder de opinião e mediador ativista.

Por fim, o anexo I traz a íntegra da coleção reunida dos oito folhetos que o autor tomou como amostra empírica para a análise do conteúdo a respeito da destituição da presidenta Dilma Rousseff. O anexo II demonstra a proposta de classificação temática do autor para a referida amostra dos folhetos. Através de uma leitura leve e fluida proposta por Perdigão, o leitor encontrará na obra uma importante ferramenta para refletir sobre o folheto não só como um tipo de mídia informativa alternativa, popular e contra hegemônica, mas também sobre o potencial documental e a riqueza temática presente nos folhetos políticos de cordel.

Referências

PERDIGÃO, Alberto. Política e Literatura de Cordel: o folheto como mídia informativa alternativa, popular e contra-hegemônica. Fortaleza: RDS, 2022.

Notas de autor

1 Cientista Social, Mestre e Doutoranda em Comunicação pela Universidade Federal do Ceará. Correio eletrônico: brunafranco19@gmail.com.


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