Secciones
Referencias
Resumen
Servicios
Buscar
Fuente


The future of the factory: how megatrends are changing industrialization
Revista Brasileira de Inovação, vol. 24, e025005, 2025
Universidade Estadual de Campinas

RESENHAS

Hauge Jostein. The future of the factory: how megatrends are changing industrialization. 2023. Oxford, UK. Oxford University Press. 240pp.. 978-0-198-86158-4

Received: 15 October 2024

Revised document received: 15 October 2024

Accepted: 04 November 2024

DOI: https://doi.org/10.20396/rbi.v24i00.8678229

O livro The Future of the Factory: How Megatrends are Changing Industrialization, de autoria de Jostein Hauge (2023), oferece uma análise abrangente sobre como as megatendências globais estão transformando os caminhos da industrialização e da manufatura. Com foco em quatro megatendências — o crescimento dos serviços, a automação digital, a globalização da produção e a crise ecológica —, a obra investiga como essas forças remodelam a economia global e desafiam a viabilidade da política industrial tradicional. O principal objetivo é analisar como essas tendências emergentes transformam as relações de longo prazo entre industrialização e prosperidade econômica.

Este tema é especialmente relevante no contexto atual, em que a automação e a digitalização avançam rapidamente, enquanto a sustentabilidade se torna uma preocupação central para o futuro da indústria. A interdependência entre manufatura e serviços, bem como os desafios impostos pelas mudanças climáticas, evidenciam a necessidade de reformular políticas industriais e modelos de desenvolvimento econômico. Além disso, a crise global gerada pela pandemia de COVID-19 e as tensões geopolíticas causadas por guerras resultam em assimetrias de poder que criam oportunidades desiguais para a captura dos benefícios amplos da industrialização.

O livro é organizado em seis capítulos, que abordam como essas megatendências impactam a industrialização global. No Capítulo 2, discute-se a ascensão dos serviços, destacando como o setor de serviços, especialmente os digitais, vem ganhando importância nas economias desenvolvidas e emergentes, embora a manufatura continue a desempenhar um papel central na criação de valor e inovação. No Capítulo 3, o autor explora o tema da automação digital e do trabalho, argumentando que, embora a automação digital possa causar uma reestruturação no mercado de trabalho, sua implementação cria oportunidades de emprego, especialmente quando combinada com políticas industriais adequadas.

No Capítulo 4, investiga-se a globalização da produção, analisando como as cadeias globais de valor permitiram que muitos países do Sul Global participassem da economia global, ao mesmo tempo em que aumentaram as desigualdades entre os países. O Capítulo 5 foca nos desafios ecológicos, ressaltando como a crise climática impõe novos limites ao crescimento industrial e como a transição verde, embora necessária, ainda é insuficiente para resolver a crise ecológica.

Por fim, no Capítulo 6, o autor aborda as políticas industriais futuras, argumentando pela necessidade de reformas nacionais e internacionais que permitam um crescimento sustentável e mais justo, com ênfase na criação de políticas que ofereçam mais espaço de manobra para os países em desenvolvimento. Hauge conclui que as megatendências exigem um novo paradigma de industrialização, no qual a manufatura, os serviços e a sustentabilidade devem ser integrados para enfrentar os desafios globais atuais.

A análise proposta é notavelmente abrangente, cobrindo uma vasta gama de megatendências que moldam a industrialização global. O autor explora como a automação, a globalização e o crescimento dos serviços transformaram os caminhos da manufatura e da economia mundial. Por meio de exemplos históricos e dados recentes, destaca o impacto da automação nas estruturas produtivas e na força de trabalho, sempre contextualizando o presente com paralelos históricos, como a Revolução Industrial e o movimento ludita. A lucidez com que aborda essas tendências oferece aos leitores uma base sólida para compreender como o conceito de fábrica e sistema fabril está em constante evolução.

Um ponto interessante do livro é a decisão de explicar que, ao longo do texto, o termo “país industrializado” é adotado como sinônimo de “país desenvolvido”. Embora isso possa parecer óbvio para estudiosos do assunto, trata-se de um exemplo da preocupação do autor em disseminar noções fundamentais e tornar o debate acessível para além do público especializado. Em outras palavras, é preciso compreender que, apesar dos diferentes fatores necessários para a transição de países pobres para ricos, todas as fórmulas de sucesso têm a industrialização como ingrediente principal.

A capacidade de Hauge de integrar múltiplas perspectivas é um dos pontos fortes da obra. O autor é capaz de articular as interações entre política industrial, economia global e as questões de poder, desigualdade e sustentabilidade ecológica. Ele aborda de forma coesa as assimetrias globais, destacando como as políticas industriais do Norte Global continuam a ditar as regras da globalização, exacerbando as disparidades com o Sul Global. Ao mesmo tempo, explora os obstáculos enfrentados pelos países em desenvolvimento, evidenciando o impacto da automação e da globalização sobre suas economias. Sua análise dessas interseções oferece ao leitor uma visão ampla sobre as complexas dinâmicas de poder que moldam o desenvolvimento econômico global.

Diante do propósito de ampliar a compreensão histórica desse Sul Global, é importante reconhecer o esforço do autor em revisitar pensadores, teorias e instituições oriundas dessa região, trazendo à tona autores como Alejandro Bunge, Raul Prebisch e Marcus Garvey. No entanto, argumenta-se que um maior aprofundamento nas contribuições de Celso Furtado teria sido particularmente valioso para o propósito do livro, além de oferecer uma perspectiva adicional sobre o legado do pensamento econômico latino-americano.

Apesar desses esforços, o livro não deixa de ter uma ênfase expressiva nas questões e reveses que afetam o Norte Global. Ainda que reivindique uma reforma nas regras do comércio internacional que conceda mais “espaço de política” aos países do Sul Global, a obra carece de uma discussão mais profunda sobre os desafios específicos que esses países enfrentam ao implementar políticas industriais. O tratamento das realidades locais e das particularidades regionais é limitado e carece de um panorama mais completo das barreiras enfrentadas pelos países em desenvolvimento.

The Future of the Factory é uma leitura essencial para acadêmicos, formuladores de políticas e líderes empresariais interessados nas transformações da economia e nas implicações da globalização e automação. O livro oferece uma análise pertinente e acessível das megatendências que moldam o futuro da indústria, discutindo caminhos para as políticas industriais atuais. Ao integrar perspectivas históricas com debates contemporâneos sobre desigualdade e sustentabilidade, o livro se posiciona como uma contribuição relevante para o campo, destacando os limites e possibilidades, especialmente para os países em desenvolvimento, no contexto da transição para uma economia digital e sustentável.

Referências

HAUGE, J. The future of the factory: how megatrends are changing industrialization. Oxford: Oxford University Press, 2023.

Notes

Fonte de financiamento: O autor declara que não houve fonte de financiamento.

Conflict of interest declaration

Conflito de interesse: O autor declara que não há conflito de interesse.


Buscar:
Ir a la Página
IR
Scientific article viewer generated from XML JATS by