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Pensamento fractal1
Fractal Thinking
Plural – Revista de Ciências Sociais, vol. 27, núm. 1, pp. 206-214, 2020
Programa de Pós-Graduação em Sociologia da FFLCH-USP

Dossiê Migrações Internacionais na Sociologia Contemporânea - Tradução

. Fractal Thinking, em Accessions. 2016

Recepção: 12 Outubro 2019

Aprovação: 17 Fevereiro 2020

DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2176-8099.pcso.2020.163159

Centenas de pessoas negras e não-brancas2 comprimem-se em botes frágeis, dezenas avançam para embarcar em trens nas fronteiras da Itália e da Áustria, caminhando por cercas de arame farpado ao longo da fronteira Croácia-Hungria, ou presas na Selva de Calais. Nessas imagens, eu vejo movimento sem mudança; os enredos e a cena repetem-se em diferentes cenários. Foquemo-nos nos refugiados sírios fugindo da última guerra do capital global, na qual Bashar al-Assad, Rússia, Estados Unidos e Reino Unido, junto a muitos outros grupos militares menores, disputam entre si o comando do país. Chegando na Europa, após cruzar a zona de guerra que é a Líbia e o Mar Mediterrâneo, esses e outros fugidos das guerras e da despossessão na África acabam nas mãos de agentes da lei disfarçados na Áustria e, mais recentemente, na Alemanha, que circulam pelos trens nas estações de fronteira, solicitando aos viajantes negros e não-brancos seus passaportes e outras formas de identificação. Outro vídeo de uma pessoa negra desarmada sendo assassinada por um agente policial e outra vizinhança negra em revolta após a absolvição ou a não-acusação de um assassino ocupam as telas e o mural de notícias do Facebook.

O racial é o conceito ético-jurídico mais importante da atualidade global. Guerras nacionais e regionais no Oriente Médio e na África, e os conflitos urbanos e rurais nos espaços economicamente despossuídos da África, América Latina, Caribe, Estados Unidos e Canadá não são apenas efeitos ou excessos, mas integrais à assemblagem ético-jurídica que facilita o acesso do capital global aos recursos produtivos - corpos e terras - necessários ao seu crescimento e reprodução. Minha leitura das afirmações de Alain Badiou acerca da islamofobia e dos comentários de Slavoj Žižek sobre a “crise de refugiados” na Europa advogam a favor de um tipo de pensamento que é capaz de traçar como a colonialidade figura em todas as formas de capital, sem reduzi-la a uma temporalidade linear ou a um processo acumulativo ou de desenvolvimento separado (paralelo ou subordinado); em vez disso, compreendendo sua reconfiguração dos mecanismos jurídico-econômicos básicos da expropriação capitalista. Apenas um pensamento complexo, não-linear, pode traçar como (a) a matriz colonial (jurídico-econômica) que sustentou o capital mercantil (b) opera através do arsenal racial (político-simbólico) que continua a alicerçar o capital industrial, bem como (c) o capital financeiro por meio da violência racial. Esse rastreamento produz uma assemblagem ético-jurídica que inclui as guerras do capital global que forçam milhões para fora de suas casas em direção às perigosas águas do Mar Mediterrâneo e do Oceano Pacífico. Teorias anticoloniais (pós-coloniais ou decoloniais) e teoria racial crítica possibilitam uma leitura dessas imagens como marcas de eventos raciais.3

… NO SENTIDO REACIONÁRIO

Pensadores da esquerda, ao comentarem sobre esses eventos, replicam uma versão do argumento de Marx de que o colonial não desempenha um papel na acumulação de capital. Ao fazer esse apontamento no passado, fui questionada: “Quem se importa?”. Minha resposta é sempre: eu me importo, porque a perspectiva do materialismo histórico fornece a melhor base para a crítica do capital, mas apenas se deixar de compreender a violência racial e colonial como uma sobra ideológica, oportunista, do capital global. Por meio da leitura dos comentários de Žižek e Badiou acerca de eventos raciais recentes, eu explicarei essa má compreensão enquanto uma falha em pensar a violência colonial e racial em sua total complexidade fractal. Em suas tentativas de resgatar o sujeito (e seus objetos) de seu destino iluminista e pós-iluminista, pensadores como Badiou e Žižek - e seus estudantes realista-especulativos - não têm sido capazes de pensar através da/com a criação mais significativa do pensamento moderno - a saber, a figura do Outro Racial4. Ambos falham em compreender a significância jurídico-econômica do Outro Racial5 no pensamento moderno porque, para eles, a diferença racial/cultural é um dado e, portanto, não precisa ser submetida a um maior escrutínio. O que explica essa falha em compreender as atuações da racialidade na atualidade global? Explicitamente, sua falha resulta do emprego de uma noção de diferença cultural significativamente apoiada em abordagens sociológicas seminais (século XX) acerca da subjugação racial; implicitamente, o pensamento linear, ou unidimensional, que subjaz essa aplicação da diferença cultural em seu discurso rompe as ligações entre as várias encarnações do capital através do tecido do espaço-tempo global.

Em uma entrevista recentemente publicada na International Socialist Review, Badiou responde a questões sobre islamofobia e a recente ascensão da extrema direita nacionalista (a Frente Nacional) na França (BADIOU, 2014-15). Um pensamento linear e uma conceitualização falha da diferença cultural permitem que Badiou negue os fatores jurídico-econômicos atuando na islamofobia, ao articular esses fatores ao mesmo tempo em que os rejeita, negando-lhes um papel determinante. O pensamento linear de Badiou fica evidente em sua distinção entre o passado colonial (Argélia) e um contexto francês contemporâneo contaminado por uma inconveniente sobra ideológica do passado. Ele identifica duas causas para o atual crescimento da islamofobia na França: a primeira é “de uma natureza ideológica. É racismo que pode ser rastreado até o colonialismo, esse sentimento de superioridade do Mundo Ocidental”. A segunda causa é de uma ordem diferente:

Depois da guerra tivemos um grande número de trabalhadores chegando às fábricas francesas, e esses trabalhadores eram majoritariamente árabes e muçulmanos. A grande maioria dos trabalhadores árabes e muçulmanos são pessoas pobres que vivem em condições muito precárias nos subúrbios. Eles são segregados porque a maior parte dos trabalhadores brancos não mora - e frequentemente se recusa a tal - nas mesmas vizinhanças. Temos então uma mistura entre algo de uma natureza ideológica, racista, e algo de natureza social: uma mistura de tradição ideológica no sentido reacionário e algo que assume a forma de luta de classes. E é essa mistura que cria uma situação muito difícil para árabes e muçulmanos (BADIOU, 2014-15).

Para Badiou, essa é uma situação que não requer análise mais profunda porque, ele afirma, pode ser resolvida por meio de um retorno à “verdadeira tradição republicana” de igualdade na educação. O que está em questão aqui? Por um lado, a análise de Badiou sobre a islamofobia reconstrói o raciocínio despolitizado característico das abordagens da sociologia das relações raciais do início do século XX, que nasciam do preconceito, discriminação e segregação de imigrantes do sul e leste europeus, leste asiático e migrantes negros para as cidades do norte e leste dos Estados Unidos. Badiou repete essa abordagem sociológica seminal, que localiza as causas da subjugação racial no preconceito individual e em uma discriminação baseada em traços físicos e mentais particulares, os quais, pensava-se, eram raciais e mentais, respectivamente. Mas o que os antigos sociólogos, como Robert E. Park, atribuíam à cor da pele, ao odor e à comida6, Badiou atribui à pobreza. Embora o argumento de Badiou tenha todas as marcas de uma declaração acerca dos processos jurídico-econômicos, com frases como “algo de uma natureza social”, ele perde relevância explicativa uma vez que a pobreza que aflige árabes e muçulmanos não é vinculada nem à expropriação colonial (anterior e em outro lugar, na Argélia) nem à exploração capitalista (aqui e agora, na França). Para Badiou, uma vez que os argelinos chegam à França para serem explorados pelo capital como trabalhadores, a relação colonial com a França desaparece. Ao cruzar o Mediterrâneo, os argelinos transformam-se de “nativos”, para usar o termo de Fanon (1963), em “trabalhadores pobres”, o que permite à República Francesa negar responsabilidade pela tribulação de árabes e muçulmanos.

“CONFRONTO AO CAPITALISMO GLOBAL” SEGUNDO ŽIŽEK

Agora me voltarei para a declaração de Žižek acerca da crise dos refugiados como exemplo de um argumento em que a diferença cultural fornece a lógica, mas é simultaneamente rejeitada enquanto um princípio organizador da existência europeia. Em um artigo recente, ele oferece quatro prescrições para o enfrentamento dos novos desafios postos pelo capital global. A segunda e a quarta prescrições interessam-me mais. Começarei pela segunda:

A Europa deveria se organizar e impor regras e regulamentações claras. O controle estatal do fluxo de refugiados deveria ser aplicado através de vasta rede administrativa que envolvesse toda a União Europeia (a fim de evitar barbarismos locais, como os cometidos pelas autoridades na Hungria e na Eslováquia).

Os refugiados devem ter sua segurança garantida, mas é preciso também deixar claro que eles têm de aceitar a área de moradia que lhes foi designada pelas autoridades europeias, bem como respeitar as leis e normas sociais dos estados europeus: não será tolerada violência religiosa, sexista ou étnica em qualquer circunstância, não há o direito de impor aos outros sua própria religião ou modo de vida, deve-se respeitar a liberdade de todos os indivíduos de abandonar seus costumes comunais, etc. Se uma mulher escolhe cobrir seu rosto, sua escolha deve ser respeitada, mas se ela escolher não o cobrir, sua liberdade para fazê-lo tem de ser garantida. Sim, tal conjunto de regras privilegia o modo de vida da Europa Ocidental, mas é o preço a ser pago pela hospitalidade europeia. Essas regras devem ser explicitamente afirmadas e aplicadas, se necessário através de medidas repressivas (contra os estrangeiros fundamentalistas, bem como contra nossos racistas anti-imigrantes) (ŽIŽEK, 2015).

Nenhuma das sugestões de Žižek difere daquelas dos civilizadores europeus do passado, que também demandaram e projetaram mecanismos de assimilação, regulação e repressão. Novamente, a muleta retórica da diferença cultural e o pensamento linear sustentam essa repetição. Žižek ignora o fato de que a União Europeia já recebe refugiados através de um aparato biopolítico de aplicação da lei, proteção de fronteiras, e outras medidas, procedimentos e entidades nacionais e regionais de segurança. A lógica da diferença cultural rompe a conexão entre a violência com que os refugiados das guerras do capital global deparam-se atualmente na Europa - a construção de muros, islamofobia, deportações, entre outros - e a atuação corrente do estado e do capital. O que eu leio no texto de Žižek é sintoma de um caso comum de cegueira histórica histérica, de uma incapacidade de ver como a racialidade fornece os significantes étnicos (diferença cultural e racial) que derrocam proteção em segurança (SILVA, 2009).

Os atuais pensadores da esquerda continuam a repetir consistentemente um padrão insidioso de pensamento moderno que considera o racial como um referente de um outro tempo e lugar, um vestígio ideológico do passado colonial. Como Badiou, Žižek não compreende como o colonial e o racial sempre foram e permanecem como parte integrante do funcionamento do capital global, e assume que as arquiteturas de violência simbólica e total que produzem a figura do Outro Racial/Cultural da Europa não possuem relevância jurídica e econômica nos desdobramentos da atualidade global. Nessa crítica ao capital global, o que importa é o camponês europeu, que perdeu seu acesso às terras comunais devido aos cercamentos; as figuras jurídico-econômicas do nativo e do escravo não possuem significância. Em resumo, as posições de Badiou e Žižek (a) exibem sua rejeição da significância econômica e jurídica da racialidade, e (b) repetem abordagens sociológicas seminais acerca da subjugação racial, as quais (c) explicam a violência como um efeito da diferença cultural.

AS “CONDIÇÕES SOCIAIS QUE CRIAM REFUGIADOS”

A tarefa mais difícil e importante é uma mudança econômica radical que abolisse as condições sociais que criam refugiados. A principal causa da existência de refugiados é o próprio capitalismo global atual e seus jogos geopolíticos, e se nós não o transformarmos radicalmente, imigrantes da Grécia e de outros países europeus com certeza se somarão aos refugiados africanos. Quando eu era jovem, tal tentativa organizada de regular o comum era denominada Comunismo. Talvez nós devêssemos reinventá-lo. Essa é, talvez, no longo prazo, nossa única solução (ŽIŽEK, 2015; grifos colocados).

Ao ler a recomendação final de Žižek, eu imagino como o pensamento linear e a lógica de diferença cultural figuram no comunismo que Žižek postula como a solução para a “crise dos refugiados” da Europa. Iria o mundo comunista estabelecer as “regras e regulações” que ele demanda que países europeus instaurem, no sentido de inibir as “insuficiências” culturais de refugiados em relação aos valores adequados - europeus - de universalidade e igualdade? E se sim, como isso seria diferente do colonialismo?

O reenquadramento do comunismo de Žižek e Badiou é inadequado para lidar com o capital global, devido a sua incapacidade de compreender o colonial e o racial como integrais ao capital em todas as formas que tomou; mercantil, industrial, e agora financeiro. De modo similar aos textos fundantes de Marx, o pensamento de Žižek sobre comunismo não dá atenção aos mecanismos do Estado-Capital7 que garantem a expropriação do valor total, sustentada pela capacidade produtiva da terra nativa e do trabalho escravo nas Américas. Aplicações da violência racial, como nos conflitos na República Democrática do Congo (violência total) e a associação de Islã e corpos não-brancos/negros com terrorismo (violência simbólica), são os meios pelos quais o estado-capital reproduz a si mesmo. Essas formas de violência criam as condições para o atual fluxo de refugiados ao mesmo tempo em que justificam a aplicação de medidas de “proteção” que resultam na morte e encarceramento de muitas pessoas negras e não-brancas.

Num discurso que se disfarça de um afastamento dos pares binários de natureza/cultura, corpo/mente, e objeto/sujeito, fundantes da filosofia moderna, o pensamento linear de Žižek e Badiou ainda assim repete a lógica da diferença cultural. Para Badiou e seus pupilos, renunciar a uma posição de superioridade, autoridade, ou maestria sobre coisas ou humanos já basta para liberar o sujeito de seu contexto imanente e desembaraçá-lo daquilo que lhe foi oferecido para pensar - o objeto e o Outro. Em outras palavras, anunciar a possibilidade de saber sem a pressuposição da correlação, como na posição delineada por Quentin Meillassoux (2009), é o suficiente para libertar “objetos” dos significados e funções atrelados a eles no momento de denominação; ou anunciar a aparição do sujeito que não é relacionado a nada senão ao evento (Badiou) é o bastante para liberar seus “Outros” (aqueles que Badiou despreza por se prenderem à diferença cultural) dos significados e funções atrelados a eles no momento de denominação (BADIOU, 2003). Parte do problema é que o pensamento linear trata ambos o estado-capital e as suas figuras de autoridade (o partido e o sujeito) horizontalmente. Isto é, o pensamento linear pressupõe que essas entidades políticas (jurídicas, econômicas e simbólicas) surgiram e continuam a prosperar num contexto que é histórica/ temporalmente ancorado e geográfica/espacialmente circunscrito. Por essa razão é incapaz de se atentar ao fato de que, para além dos cercamentos na Inglaterra, a conquista (colonização/assentamento) e a escravidão são momentos integrais na violência instauradora do capital.

MATERIALISMO PRIMÁRIO

Ultimamente eu tenho considerado um tipo de pensamento que é ao menos tetra-dimensional, e que eu chamo de pensamento “poético” ou “composicional”. A partir de uma perspectiva materialista-histórica convencional, por conta da pressuposição ôntica do espaço-tempo no nível atômico, qualquer instância, momento, ou evento possui três dimensões porque acontece em algum lugar (posição), e de algum modo (forma) no espaço; assim, suas figurações dizem respeito simultaneamente ao comprimentos, à altura e à profundidade. A partir daquilo que chamo de “perspectiva materialista primária”8, por conta da pressuposição ôntica do plenum (no nível da partícula), o que acontece é também uma composição (ou de-composição ou re-composição), sempre já um reagrupamento do que aconteceu antes e do que ainda está para acontecer9. Uma vez que se apreende tudo que existe como plenum, tanto o que acontece quanto o que existe não possuem mais os limites fixos dos corpos de Newton e das categorias de Kant (formas), e isso possibilita pensar diferentemente o mundo.

Três movimentos se tornam possíveis. Primeiramente, ao tratar do momento de ocorrência (o que acontece), ao invés de tomar a posição como um ponto, onde (no espaço) e quando (no tempo), é possível tratar simultaneamente de todas as quatro dimensões: espaço (profundidade, largura, e comprimento) e tempo (a quarta dimensão de Einstein). Em segundo lugar, ao tratar das quatro dimensões sem privilegiar o tempo, que impõe direcionalidade ao pensamento, a mente torna-se capaz de compreender o que acontece como uma composição instantânea. Finalmente, ao abordar o que acontece como uma composição, é possível tratar de seus elementos constitutivos, que podem também fazer parte de outras composições (o que aconteceu e o que ainda está para acontecer) que abrangem elementos similares10. A atenção aos elementos expõe similaridades e permite um tipo de pensamento material capaz de ler simetrias, ou correspondências. Imagens do pensamento poético não são lineares (transparentes, abstratas, vítreas, e determinadas) mas fractais (imanentes, escalares, abundantes e indeterminadas), como a maioria do que existe no mundo.

Quando o pensamento poético contempla a situação atual da Europa, ele não constrói uma imagem de “crise sem precedentes”, mas a normalidade para o capital global. Um mapeamento poético do presente revela a linguagem de assimilação e o impulso para proteger o “modo de vida” branco/europeu como uma repetição dos termos e da lógica aplicada há um século, quando trabalhadores anglo-americanos no Leste e Centro-oeste dos Estados Unidos protestavam contra a entrada de imigrantes do sul, do leste-europeu e da Ásia, e de migrantes negros fugindo da violência total do Jim Crow, sob o argumento de que estes não iriam se assimilar e que rebaixariam o padrão de vida existente. O pensamento poético, aplicado como um imageamento11 criativo (fractal) para tratar da subjugação colonial e racial, intenciona interromper a repetição característica de padrões fractais. A atenção às simetrias localiza instantaneamente um evento particular num contexto global moldado por repetições prévias e futuras da violência instauradora do capital. Ao tratar das quatro dimensões, o pensamento fractal (pensamento poético ou composicional) imageia o global como parte do cosmos, e, como tal, não o vê como constituindo o horizonte último, ôntico e ontológico, do pensamento. Pois uma vez que o que acontece ocorre no plenum, ele é ao mesmo tempo expressão de, e expresso por, seja lá o que existe debaixo, acima e ao lado; o que já se foi, e o que ainda está por vir. Quando um modo de pensamento diagrama o capital global junto a tantos instantes e instâncias repetitivos da aplicação do maquinário colonial-racial, ele não pode ser indiferente à violência racial em todas suas iterações e expressões.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BADIOU, Alain. Saint Paul: The Foundation of Universalism. Stanford: Stanford University Press, 2003.

BADIOU, Alain. A Philosophy for Militants - An interview with Alain Badiou. [Entrevista concedida a] Aaron Hess. International Socialist Review, n. 95, Winter 2014-2015. Disponível em: https://isreview.org/issue/95/philosophy-militants. Acessado em: 03 de outubro de 2019.

FANON, Frantz. The Wretched of the Earth. Nova York: Grove Press, 1963.

MEILLASOUX, Quentin. After Finitude. Londres e Nova York: Continuum, 2009.

RETALLACK, Joan. The Poethical Wager. Berkeley: University of California Press, 2003.

SILVA, Denise Ferreira Da. Toward a Global Idea of Race. Minneapolis: University of Minnesota Press, 2007.

SILVA, Denise Ferreira da. No-Bodies: Law, Raciality, Violence. Griffith Law Review, v.2, n.18, p. 212-236, 2009.

ŽIŽEK, Slavoj. We Can’t Address the EU Refugee Crisis Without Confronting Global Capitalism. In These Times, setembro de 2015. Disponível em: https://inthesetimes.com/article/18385/slavoj-Žižek-european-refugee-crisis-and-global-capitalism. Acesso em: 3 de outubro de 2019.

Notas

1 Publicado originalmente como Fractal Thinking, em Accessions, n. 2, abril de 2016. Disponível em: https://accessions.org/article2/fractal-thinking/
2 No original “brown people” (N.T.).
3 Por “evento racial”, eu quero dizer aquele que é marcado pela violência racial. Incidentalmente, por “violência racial”, eu quero dizer o trabalho do aparato ético e jurídico do capital global, que toma a forma da violência simbólica (no nível da representação, termos e lógica) e violência total (o trabalho da modalidade colonial de poder, a expropriação de terra, labor e vida).
4 Para uma discussão dessa indistinção proposta entre o racial e o cultural e diferença racial e cultural, ver Silva (2007).
5 O uso de maiúsculas nos termos Outro Racial e Estado-Capital segue o uso da própria autora em sua obra (N.T.).
6 Ver Silva (2007), em particular a parte II.
7 No original “state-capital” (N.T.).
8 No original “raw materialist perspective”. Optamos pelo termo “primário” para traduzir “raw” por ser uma tradução já mobilizada pela autora em uma de suas produções artísticas, o curta Serpent Rain de 2016, feito em colaboração com Arjuna Neuman (N.T.).
9 Meu uso do termo “plenum” deriva das descrições de níveis subatômicos de existência pela física quântica, nos quais entidades quânticas (partículas elementares) entram na composição de tudo que existe em sua instanciação como matéria/energia. Metafisicamente, deriva da descrição de Leibniz do universo como um plenum, como uma composição contingente e complexa de singularidades entrelaçadas.
10 O terceiro movimento se baseia na abordagem de Joan Retallack (2003) sobre complexidade enquanto simetria.
11 No original “imaging” (N.T.).


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