Tradução
Plummer KNardi Peter M, Schneider Beth E. Social perspectives in lesbian and gay studies: a reader. 1998. London/New York. Routledge |
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Recepção: 25 Setembro 2018
Aprovação: 09 Março 2020
DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2176-8099.pcso.2020.150573
Este artigo é concernente primeiramente a um grupo de categorizações recentemente inventadas que propõem localizar um fenômeno coerente. Para as pesquisas atuais tais categorizações incluem “os invertidos”, sejam “absolutos”, “anfigênicos” ou “contingentes” (FREUD, 1977) e “o homossexual”, seja “pré-edípico”, “edípico” ou “pseudo[-edípico]” (SOCARIDES, 1978). Para o/a leigo/a tais categorizações incluem “boiola”, “traveco”, “sapatão”, “bicha” e “viado”2. Contudo um pequeno grupo de pessoas a categoria agora é “gay”. Há uma diferença considerável entre as duas primeiras - que são amplamente negativas e “criadas por outrem”3 - e a última que é positiva e “autocriada”4 - mas todas elas, não obstante, apontam para um referente externo empírico que se supõe ser identificável. Eu não estou totalmente seguro que ele exista. De fato as categorias existem; elas são aplicadas agora (de boa vontade ou não) a milhões de pessoas mundo afora e foram aplicadas ao longo da história a um grande número de pessoas como o são ainda hoje. Certamente há considerável intenção política por trás da construção de tais categorizações - ordenar, controlar e segregar em nome da benevolência (GAYLIN, 1978). Seguramente estas categorias também têm criado - em geral - grupos inteiros de pessoas desvalorizadas, desonrosas e perigosas, e têm justificado frequentemente atrocidades humanas monstruosas e a negação de direitos humanos.5 Mas estas certezas sobre as categorias não deveriam ser confundidas com certezas sobre os fenômenos aos quais as categorias referem-se.
Neste artigo minha preocupação recai em apresentar algumas sugestões de pesquisa para estudar as categorias não os fenômenos, e para realizar isso eu estou me servindo muito da perspectiva da rotulação. Assim quatro questões amplas precisam de detalhada exploração:
Estas são questões amplas e significativas que sinalizam uma mudança dramática das preocupações de pesquisa para com os próprios fenômenos. No que segue, eu posso apenas tratar cada questão seletivamente.
A NATUREZA DA CATEGORIA “HOMOSSEXUAL”
O ponto de partida de toda pesquisa sobre rotulação deve jazer em construir as várias categorias que nós usamos como um problema. Neste caso nós precisamos conhecer a natureza dos diversos e sempre mutantes significados que as pessoas conferem a “encontros emocionais e eróticos com pessoas do mesmo sexo”6, aqueles/as que estão formal e informalmente engajados/as em seu controle, como daqueles/as que encontram os significados aplicados a si. Quais significados são imputados por grupos específicos? Como tais significados mudam em contextos diferentes? Qual efeito, características gerais como “estigma” (a desvalorização das pessoas) e “essencialização” (a tradução de fazer em ser), têm na reunião de tais significados? Qual a relação entre o que as pessoas dizem sobre “homossexuais” e o que as pessoas fazem-lhes? Responder tais questões conduzirá o/a pesquisador/a de uma sobressimplificada versão tanto da hostilidade uniforme como de “tipos” identificáveis para uma visão de mundo que é mais empiricamente válida, porque isto destacará significados sociais multiestratificados, mutantes, conflitantes, confusos e contrastantes em torno de experiências com o mesmo sexo. O que se advoga aqui, então, é uma etnografia das reações societais às experiências com o mesmo sexo, uma tarefa que mal começou.
Das questões acima, a que eu gostaria de considerar mais profundamente aqui concerne o problema da “essencialização” - dos modos pelos quais “fazer” e “experienciar” podem tornar-se consolidados em “ser” através de rotulações categóricas. Desde já é possível reconhecer duas tendências que podem ser discernidas no esclarecimento de categorias homossexuais: uma tendência essencializante dos/ as próprios/as homossexuais e uma tendência oposta de cientistas sociais.
ESSENCIALISMO E O MOVIMENTO GAY
A maioria concorda que um “papel homossexual” distinto agora existe em sociedades do ocidente capitalista que não existia em períodos históricos anteriores e que não existe em outras culturas atuais; os pesquisadores diferem primariamente sobre quando aquele papel emergiu, qual é seu conteúdo preciso e como ele é traduzido na vida real das pessoas. Assim McIntosh vê este papel emergir no final do século XVII, Weeks no final do século XIX e Marshall em medos do XX. McIntosh foca nas expectativas de que “homossexuais” fossem focados em sexo, molestadores de garotos efeminados, Weeks destaca a medicalização dos homossexuais e Marshall liga a medicalização à separação entre gênero e sexo.
Nenhuma destas discussões, contudo, considera o papel e sua constituição nos anos 1970 (embora esta seja a preocupação de Blachford7). Ainda assim esta é uma omissão curiosa para algo incomum que está acontecendo: as expectativas de que homossexualidade seja uma “condição”, a qual foi engendrada no passado por médicos, estão sendo sustentadas hoje e reforçadas por gays radicais. É verdade que liberacionistas rejeitariam o efeminado que busca garotos, expectativas “débeis” de retratos incipientes do papel, mas eles ainda sustentam a visão de que gays são tipos de seres. De fato Dank sempre argumentou - com razão eu acredito - que as construções da realidade criadas por pessoas publicamente envolvidas com liberação homossexual performam as mesmas funções que as construções da realidade dos tradicionalistas. Especificamente, suas construções da realidade funcionam para homogeneizar e desumanizar pessoas homossexualmente orientadas frequentemente através de processo de deificação e ao mesmo tempo eles constroem o homossexual como um ser alienígena. Assim como os tradicionalistas criaram o homossexual e o heterossexual assim outras pessoas fizeram enquanto invocando a retórica da liberação homossexual. (DANK, 1976, p. 14-15)
Aqui, então, Dank estende o argumento McIntosh-Weeks-Marshall ao mostrar que os próprios liberacionistas começaram a tornar-se definidores-chave de um papel homossexual e, portanto, ironicamente começaram a tornar-se sua própria fonte de regulação. “Homossexuais” foram uma vez regulados/as e definidos/as por “especialistas”; agora estes especialistas não precisam mais fazê-lo, porque o/a homossexual assumiu aquele papel para si próprio/a. Guetizado/a e reificado/a, “o/a homossexual” permanece firmemente sob controle no capitalismo “liberado”. Ele e ela estão sendo empurrados mais e mais abaixo do convencional da sociedade - estabelecendo suas próprias colônias e guetos (veja Levine, 1979; Humphreys, 1979),8 construindo suas “identidades gays” como crescentemente pivotante para seu mundo pessoal e criando uma proliferação de grupos separatistas, até que “o/a homossexual” existe tanto mental como espacialmente como uma espécie altamente confinada e restrita. E ainda dentro deste mundo, “gays” apartam-se uns dos outros através da construção de tipos mais distantes: “homens” com “homens”, “mulheres” com “mulheres”, “efeminados” com “efeminados”, “SM” com “SM”. Isso forma uma espiral intoxicante sempre crescente de autocategorização como tipos, os quais antecipam uma segregação autoimposta sempre crescente.9
Eu não quero ser muito pessimista sobre esta tendência por ela poder ser diretamente contra-argumentada que estas categorizações e segregações crescentes, longe de serem perigosas, podem ter consequências muito positivas para “homossexuais”, pois elas são autocriadas e autocontroladas. Melhor viver em um gueto autoimposto do que em um campo de concentração imposto pelo Estado! Conquanto válido isto possa ser, poder-se-ia ao menos estar atento que a história de muitos rótulos mostrou uma passagem de uma origem benévola para uma consequência malévola, em que humanitarismo ostensivo conduziu a camisas de força e cerceamento de oportunidades para grupos inteiros de pessoas (GAYLIN, 1978).
As questões de pesquisa geradas por estas breves observações são especialmente cruciais para criminologistas “radicais/críticos”. Pelo que eles lembram-nos, sociologicamente, que movimentos sociais “radicais” e de “liberação” nunca são apenas isso; eles sempre trarão suas próprias formas de controle. Liberdade “total” e liberação “total” podem existir apenas na mente de um/a revolucionário/a; mas elas são absurdo sociológico. E a questão que precisa ser colocada é se estas formas de controle baseadas em movimentos podem ser vistas a complementar ou mesmo estender as formas de controle societais mais amplas. Neste caso, enquanto a homossexualidade parece estar entrando em uma nova fase de “liberação” e “aceitação” no mundo ocidental, pode se considerar que os processos de controle, antes prevalecentes, estão simplesmente sendo mais firmemente estendidos - apenas de uma maneira mais privada agora - pelos/as próprios/as “homossexuais”?
DESCATEGORIZAÇÃO E DESCONSTRUÇÃO
Ao longo desta invenção, classificação e expansão do “papel homossexual”, primeiro por médicos e mais tarde pelos/as próprios/as homossexuais, outro processo tem ganhado espaço que perpetuamente ajuda a subverter a ideia de que a homossexualidade é uma condição ou tipo de pessoa. É uma tradição clandestina, ainda que ela esteja arraigada tanto no pensamento clássico (que destacou por livre vontade) e pesquisa sexual mais recente. Enquanto o ponto de vista da “condição” está completamente congruente com o positivismo criminológico convencional que dominou o pensamento de meados do século XIX até meados do XX, esta alternativa ajuda a subverter aquele tipo de ponto de vista por enfatizar que homossexualidade é uma experiência complexa e difusa que qualquer um pode ter. É possível localizar um número de estratégias que tentam reconstruir a homossexualidade deste modo. Quatro processos podem ser brevemente identificados:
NATUREZA HUMANA E PERVERSIDADE POLIMORFA
Embora os escritos de Freud ajudassem na constituição de tipos “pervertidos”, seu imaginário subjacente - de bissexualidade e perversidade polimorfa - ajuda a subvertê-los. Porque isso provê um retrato de pessoas que ao menos inicialmente estão abertas a uma ampla série de experiências, que ancoram o potencial para conduta masculina e feminina, bem como buscam um prazer sexual difuso com múltiplos apoios e objetos. Certamente, na explanação de Freud, ela é necessária para essa abertura mundial tornar-se canalizada, embora nos escritos de outrem tais restrições de experiência sejam um preço alto demais a pagar (BROWN, 1959; MARCUSE, 1969; ALTMAN, 1971). Neste imaginário a homossexualidade é um componente de um “desejo” mais geral que existe em todos/as nós:
O desejo emerge em uma forma múltipla, na qual componentes são apenas divisíveis a posteriori, consoante a como nós manipulamo-lo. Assim como o desejo heterossexual, o desejo homossexual é uma estrutura arbitrariamente congelada em um fluxo polívoco e ininterrupto (HOCQUENGHEM, 1978, p. 36).
A crença neste “desejo difuso” constantemente constrange a visão de que a homossexualidade é uma condição, desde que este desejo esteja presente em todos nós (veja STAMBOLIAN; MARKS, 1979).
O CONTÍNUO HOMOSSEXUAL E AS HOMOSSEXUALIDADES
Foi Kinsey quem primeiro arguiu claramente que “o mundo não se divide entre ovelhas e bodes” e enfatizou a necessidade de ver a homossexualidade como um contínuo de sete pontos com a classificação em uma escala que vai de zero (heterossexualidade exclusiva) a seis (homossexualidade exclusiva). O ponto de partida para um tal contínuo era os próprios achados empíricos de Kinsey - baseado em dezesseis mil estadunidenses brancos vivendo nas primeiras décadas deste século [XX] - que claramente mostrou a mistura de experiências homossexuais e heterossexuais encontrada na vida de muitas pessoas. Assim enquanto 4% de sua população de machos era exclusivamente homossexual da puberdade em diante, 37% experimentaram homossexualidade chegando ao orgasmo pelo menos uma vez no período entre a puberdade e a velhice. Além disso, 30% tiveram pelo menos experiência ou reações homossexuais acidentais durante um período de pelo menos três anos entre a idade de 16 e 55; 25% tiveram mais do que experiência ou reação homossexuais incidentais durante um período de pelo menos três anos entre as idades de 16 e 55; 18% relembraram pelo menos igual montante de experiência homossexual e heterossexual durante um período de pelo menos três anos entre as idades de 16 e 55; 13% tiveram mais experiência homossexual do que heterossexual em um período acima de três anos; 10% dos homens foram mais ou menos predominantemente homossexuais durante um período de pelo menos três anos entre 16 e 55 anos e 8% foram exclusivamente homossexuais durante um período de pelo menos três anos entre as idades de 16 e 55. Estas figuras - a despeito de sua fragilidade - são de experiências homossexuais em um tempo em que elas eram forte tabu, mas elas conduziram muito bem o fluxo, a mudança e a diversidade de experiências homossexuais na vida humana (KINSEY et al., 1948; 1953). Não é surpreendente que o mais recente “estudo Kinsey”, especificamente focado em homossexuais no início dos anos 1970 na Califórnia, reafirma e reforça esta diversidade. Escreve Bell:
Em relação a como eles classificaram a si mesmos durante adolescência, menos de um terço dos machos classificaram-se como exclusivamente homossexuais em seu comportamento sexual durante aquele período inteiro; cerca de um terço deles era predominantemente heterossexual em seus comportamentos naquele tempo. Em torno de um terço dos machos classificou-se como exclusivamente homossexuais em seus sentimentos durante o período da adolescência e mais de um quarto deles eram predominantemente heterossexuais em seus sentimentos naquela época. 40% dos machos tiveram mudanças na classificação de seus sentimentos e comportamento durante a adolescência e cerca de metade dele lembra algum grau de discrepância entre duas classificações diferentes […] Claramente um homossexual não é um homossexual quando isso vem de seus sentimentos e comportamentos sexuais passados e presentes. Novamente, voltando à carreira adolescente, quase dois terços de ambos machos e fêmeas experimentaram excitação heterossexual; menor mas ainda relativamente grande número deles/ as não sabiam como era estar sexualmente excitado/a por uma pessoa do sexo oposto. Entre os machos que relataram ambas excitações sexuais homossexual e heterossexual anteriores à juventude adulta, 54% eram excitados sexualmente por machos antes deles experimentarem volúpia por fêmeas; cerca de um quarto deles experimentou ambas as formas de excitação durante o mesmo ano; e um número similar seria sexualmente excitado por uma fêmea antes que eles fossem sequer excitados sexualmente por um macho. Em torno de dois terços das fêmeas brancas homossexuais eram sexualmente excitadas por outra fêmea antes que elas experimentassem excitação sexual heterossexual […] uma explanação completa e detalhada das autoclassificações de uma pessoa na escala Kinsey sobre o curso de sua vida pode prover ricos dividendos. Isso permite ambos clínico e cliente a ter uma sensação de baixa e alta da experiência homossexual versus a heterossexual, desafiar a presunção comumente aceita de que se é tanto homossexual ou heterossexual, considerar e comparar as condições sob as quais excitação homossexual e heterossexual ocorreu primeiro, explorar a reação de uma pessoa a tal excitação bem como suas consequências comportamentais e perquirir a natureza das fantasias masturbatórias do/a cliente, ensaios cognitivos, apegos românticos e sonhos sexuais. (BELL, 1976, p. 8-9)
Notar-se-ia que este contínuo destaca a diversidade em qualquer momento de tempo e através do ciclo de vida e conduz os/as autores/as a defender o termo “homossexualidades” antes que homossexualidade.
A “NORMALIZAÇÃO” DA HOMOSSEXUALIDADE
Uma das forças chave em compor um “tipo homossexual” tem sido o processo de medicalização. Ao declarar a homossexualidade uma “doença” e um “desequilíbrio” - embora de diversos modos - os/as psiquiatras e médicos/as efetivamente encontraram um caminho para isolar e controlar a homossexualidade. Ela tornou-se uma categoria diagnóstica usada para identificar uma espécie de pessoa.
Mas todo o tempo em que este processo de medicalização massiva ocorreu, outro subordinado arguiu o contrário. De Freud em diante, numerosos/as psiquiatras, antropólogos/as, sociólogos/as e psicólogos/as têm argumentado que a homossexualidade “não pode ser classificada como uma doença” (FREUD, 1951: 787; CROMPTON, 1969; FREEDMAN, 1971; GREEN, 1972) e de fato por volta de 1973 isto pareceu ser pacificado pela Associação de Psiquiatria Americana (FREEDMAN; MAYERS, 1976). Há muitos exemplos bons de cientistas sociais que, antiga e recentemente, têm tentado alquebrar a ideia de homossexualidade como uma diagnose clínica e fundamentar as sobreposições entre homossexualidades e heterossexualidades. Com efeito, mais recentemente praticantes líderes de todas as esferas científicas convergem na posição de que a homossexualidade não é um distúrbio. Assim ao longo do trabalho recente do Instituto Kinsey referido acima, os “pais” fundadores da terapia sexual - Masters e Johnson - vêm estudando também homossexualidade e heterossexualidade e enfatizando que “os/as terapeutas/as devem conscientizar-se de que homossexualidade não é uma doença” (MASTERS; JOHNSON, 1979, p. 272).
Outra discussão muito lúcida é fornecida pela obra de Robert Stoller, que distingue crucialmente entre rótulos, enquanto forças sociais, e diagnósticos psiquiátricos, e assim procede a considerar se categorias homossexuais são válidas no segundo sentido. Ele sugere que um diagnóstico psiquiátrico deveria, ao menos, especificar uma síndrome (um amontoado de sinais e sintomas visíveis), uma dinâmica subjacente e uma etiologia coerente de que essa dinâmica origina-se. Utilizando tais critérios ele conclui que:
homossexualidade não é um diagnóstico; há apenas uma preferência sexual, não uma constelação uniforme de sinais e sintomas; pessoas diferentes com esta preferência sexual têm psicodinâmicas diferentes subjacentes ao seu comportamento sexual; experiências de vida completamente diferentes podem causar estas dinâmicas e este comportamento. (STOLLER, 1975, p. 199)
Restam muitos/as psiquiatras que rejeitariam firmemente obras daqueles/as como Masters e Johnson, Stoller ou o Instituto Kinsey e insistiriam que a homossexualidade é uma patologia flagrante; o texto atualizado de Socarides, por exemplo, nem mesmo considera a possibilidade de que ela seja qualquer outra coisa senão uma doença (1978). Não obstante o grupo de pressão para desmedicalizar a homossexualidade seja altamente visível e influente e esteja se tornando crescentemente o modo “profissional” dominante de ver a homossexualidade.10
A PLURALIZAÇÃO DAS IDENTIDADES
Processos mais amplos - nada a ver com a homossexualidade per si - podem também ser vistos a contribuir com este movimento de “derrubar” o papel homossexual construído. Basicamente sugere-se que desde a industrialização tem havido um constante retrocesso de um mundo público para um mundo privado ou si mesmo, família, relacionamentos. Uma divisão, que formalmente não existia, tem ocorrido e indivíduos que não podem mais encontrar apoio, sustento ou sentido em símbolos públicos “retraem-se” para seus próprios mundos privados para “sentidos que engrandeçam a vida” (SENNETT, 1974; LASCH, 1979; BERGER et al., 1973; ZARETSKY, 1976; ZIJDERVELD, 1971; BRITTAN, 1977; ZURCHER, 1977). Este argumento complexo - que toma muitas formas - sugere que nessa transição nosso senso de identidades torna-se menos estável e mais negociável; nós estamos envolvidos em uma “busca pela identidade” e parte dessa busca inevitavelmente acarreta uma visão de indelimitada formação de identidade. No passado eram-nos dadas nossas identidades; agora nós fazemo-las nós mesmos/as (BERGER et al., 1973, p. 73).
Tal processo leva-nos a um círculo completo por ele parecer deter implicações contraditórias para a experiência homossexual. De um lado, isso sugere que pessoas podem experimentar homossexualidade sem que ela torne-se uma “identidade-mestre” pois todas as identidades são opções; por outro lado, isso implica que se indivíduos escolhem chamar-se “homossexuais” no seu mundo privado, eles podiam então erigir isto como um “sistema heróico” de sustentar a vida (BECKER, 1973) em volta do qual organizariam suas vidas. É esta tensão peculiar que precisa de muito mais fundamentada análise.
AS ORIGENS DAS CATEGORIAS HOMOSSEXUAIS
A questão “causal” padrão no estudo da homossexualidade por muito tempo foi: o que faz as pessoas homossexuais? A perspectiva da rotulação inverte este problema causal e pergunta: o que faz com que as pessoas respondam de tal maneira à homossexualidade? Parcialmente a questão é por que elas dar-se-iam o trabalho de inventar uma preocupação com a homossexualidade como tal - por que a experiência deveria ser reconhecida como uma “questão” e, em nossa cultura, traduzida como um “jeito de ser”. Mas a questão maior e mais central é por que isso deveria ser frequentemente investido de tanto medo, hostilidade e raiva. É esta questão que eu quero tratar aqui.
Na raiz, há duas abordagens principais ao entendimento das origens do medo de “homossexuais”; uma foca nos indivíduos e busca explicar a “homofobia”, e a outra foca na sociedade e busca explanar “o tabu homossexual”. O conceito de “homofobia” - embora longe de ser novo11 - foi primeiro explicitamente discutido por George Weinberg no início dos anos 1970. Em seu livro The society and the healthy homosexual (1973) ele define homofobia como uma doença fóbica em que há um “receio de estar próximo de homossexuais” e continuou a identificar o tipo de reação pânica que esta fobia pode gerar, normalmente em heterossexuais, mas algumas vezes em homossexuais oprimidos. Através do uso deste conceito é o/a opressor/a de homossexuais que vem a ser doente, não os/as próprios/as homossexuais.12
Já como uma arma tática no movimento gay eu penso que o conceito de homofobia contém um esplêndido número de ironias. Na raiz ele emprega todas as mesmas armas pseudocientíficas que são utilizadas para condenar a homossexualidade. Assim, onde uma vez era apenas o/a homossexual que era visto/a como doente, agora é o/a heterossexual que carrega a patologia. Onde outrora o/a homossexual foi identificado/a por uma longa série de traços de caráter, é agora possível identificar os traços do/a homofóbico/a: autoritário/a, restrito/a cognitivamente, com ansiedades de gênero (MCDONALD; GAMES, 1974). Enquanto uma vez a difusão das experiências homossexuais tornava-se canalizada na ideia da pessoa homossexual, é agora o/a homofóbico/a que é visto/a como uma pessoa especial. No lugar em que o/s homossexual podia ser outrora descoberto/a ao submetê-lo/a a uma grande bateria de testes psicológicos, agora o/a homofóbico/a pode ser localizado/a pelo uso de escalas de homofobia - uma medida de distância social que solicita aos respondentes que escrevam sua concordância com sentenças como “se um/a homossexual sentasse ao meu lado em um ônibus eu ficaria tenso/a” e “um/a homossexual podia ser um/a bom/a presidente/a para os Estados Unidos” (LUMBY, 1976). Além disso, onde uma vez foi o/a homossexual que foi tratado pelo seu problema, agora é o/a homofóbico/a doente que precisa de um/a terapeuta.
Enquanto o conceito de homofobia pode ter um valor simbólico aglutinador dentro do movimento gay, como um conceito da ciência social ele levanta um número de dificuldades. De fato sua mistura irônica - que ele usa as mesmas armas que costumavam ser empregadas no ataque à homossexualidade e aplica-as à heterossexualidade - serve para reforçar muito daquilo que a ciência social atual procura rejeitar. De modo mais notável, quatro preocupações podem ser suscitadas no uso comum do conceito: que ele reforça a ideia de doença mental, que ele negligencia as mulheres, que ele dirige a atenção para longe da opressão sexual geral e que ele individualiza o problema inteiro.
Primeiro, então, ele ratifica e reforça a noção de doença mental. É curioso que no mesmo ano em que a Associação Americana de Psiquiatria retirou a homossexualidade de sua classificação e nomenclatura de doenças, um psicólogo estadunidense pôde criar a nova doença da homofobia (WEINBERG, 1973). Agora o que quer que alguém possa achar da visão atual proposta pelo psiquiatra estadunidense Szasz13 - que toda doença mental é um mito - é justo, eu acho, dizer que certos problemas são melhor vistos como problemas de convivência do que doença. Pode haver algumas variações comportamentais em que noções de doença são prestativas. Mas a inabilidade de algumas pessoas em conviver com homossexuais dificilmente parece um desses [casos]. Se a homossexualidade não é inerentemente uma doença, e eu obviamente não penso que seja, então a homofobia também não deveria ser vista como uma [doença].
Um segundo problema surge da misoginia frequentemente engastada no termo. “Homofobia” é quase sempre “medo de homossexuais masculinos”, e é frequentemente explicada como tendo suas origens nas ameaças à masculinidade (LEHNE, 1976). Também não é dada muita atenção à “ameaça lésbica” (STANLEY, 1976) ou às reações das mulheres aos gays, portanto reforçando o persistente viés masculino da pesquisa gay.
Terceiro, “homofobia” dirige a atenção ao ataque a homossexuais em detrimento de outros grupos de minorias sexuais, pelo que homossexuais podem na verdade serem os/as menos oprimidos/as de todas as minorias sexuais. Nossa irritação e ódio tornam-se mesmo maiores quando confrontados com a pedofilia, o pai incestuoso, o/a sadomasoquista e o/a fetichista. Produziremos toda uma série de novas palavras - “sadofobia”, “pedofobia”, “fetofobia” - para cada um destes medos e hostilidades, ou eles poderiam estar todos conectados de uma maneira particular? Focar na homofobia é revelar a própria miopia de alguém e causar um prejuízo às atitudes mais gerais do negativismo sexual na sociedade.
Quarto, e mais importante, a noção de homofobia individualiza o problema inteiro da hostilidade [contra o/a] homossexual, fazendo dela um problema de personalidades antes de que das sociedades. A abordagem é reminiscente daquela usada para estudar a personalidade fascista, antissemita, autoritária pelos/as cientistas sociais depois da II Guerra Mundial (ADORNO et al., 1950). Eles/as também viam o problema da perseguição à minoria como um resultado de tipos de personalidade frustradas, antes de que geração social de um problema que subsequentemente justificou-se através do aprendizado da ideologia do racismo. Enquanto há um número de dificuldades com um tal conceito, ele destaca uma característica crítica de certa hostilidade [contra o/a] homossexual: sua irracionalidade baseada no medo. Reduzir a hostilidade pública à homossexualidade não pode simplesmente ser visto como uma matéria de mais educação e informação, porque muito da hostilidade parece ser uma defesa pessoal erigida a fim de esconder-se e manter-se longe alguns medos e ansiedades terrificantes. De que outro jeito alguém pode dar conta de certas de suas manifestações públicas - a todo momento desde o assassinato de homossexuais pelo espancamento de bichas até a ridicularização na mídia? Estas respostas parecem ser finamente respostas veladas ao medo (algumas vezes tão terrificante que elas traumatizam a pessoa a assassinar), e a questão de pesquisa aqui é conseguir chegar à base disso. Em meio às soluções sugeridas esteve o medo de alguém da sua própria homossexualidade (CORY, 1953), medo de alguém do seu próprio sexo (LEHNE, 1976), medo de perda da imortalidade (WEINBERG, 1973; Becker, 1973) e medo da perda de status (ZURCHER; KIRKPATRICK, 1976).
Estas noções de “medo” e “ameaça” também proveem, eu creio, uma ponte para uma explanação social mais ampla - à qual eu me referi como “O tabu homossexual” (PLUMMER, 1976) - em que a hostilidade é vista como um tabu social disseminado (aparentado ao tabu do incesto) anterior a uma fobia individualista. Desde que poucas, se alguma, sociedades aceitaram a homossexualidade como a forma majoritária ou dominante da experiência sexual, o problema não pode ser reduzido às peculiaridades de poucos indivíduos mal informados ou preconceituosos; é mais provável que a hostilidade esteja atrelada a medos sobre ameaças disseminadas contra a ordem social, e esta hostilidade torna-se mais intensa sob certas formas de organização social.
No nível mais geral (e portanto historicamente não específico) de ordem social, experiências de mesmo sexo podem vir a ser atacadas porque elas agem como uma ameaça ao conjunto dominante de símbolos de uma sociedade, que provê a marquise mais abrangente de significado para a maioria de seus membros: a “ordem natural”. Pessoas nasceram possivelmente em um universo sem significado com enorme variedade de potencialidades e capacidades; elas poderiam organizar e experimentar o mundo em uma vasta mistura de modos diferentes. Elas poderiam mudar suas identidades, valores, crenças, amigos/as, papéis e percepções de mundo de uma dia para o outro; ninguém tem de ritualizar e rotinizar os mundos delas - todos/as poderiam fazer qualquer coisa. Mas com certeza todos/as deveriam escolher, o mundo tornar-se-ia caótico - um centro excitante de confusão explosiva. Confrontados/as com a possibilidade de novas experiências a cada minuto do dia nascente e a possibilidade de que ninguém saberia o que esperar de ninguém, o mundo cairia no caos (SCOTT, 1972).
Em nossas mentes então nós temos de livrar-nos destas possibilidades ou cada dia seria mais um pesadelo kafkesco de imprevisibilidade. Para proteger-nos deste pandemônio potencial, nós viemos a acreditar que o mundo não poderia ser de outra forma - qual seja “natural” ou “dado por Deus”. Assim nós construímos o sentido de nossas previsões pela imposição de esquemas dominantes (símbolos) de ordem sobre o mundo; qualquer coisa que emerge fora destes símbolos portanto vem a ser vista como uma ameaça a nossa segurança pessoal e deve ser explicada ou expulsa. Nós podemos explicá-las ao torná-las anomalias ou perversões do sistema; chamar homossexuais de “doentes” serve para neutralizar sua ameaça. Mas quando isto falha, eles/as precisam ser ejetados da sociedade (aprisionados/ as, deportados/as ou mortos/as).
Agora em muitas sociedades, mas notadamente na nossa, experiências de mesmo sexo são essa tal ameaça; elas estilhaçam o pensamento de senso comum e tornam o mundo cotidiano altamente vulnerável. Assim muitos membros de nossa sociedade aprenderam que é natural “apaixonar-se por uma pessoa do sexo oposto”: “homossexuais” implicam que o amor não precisa ser estritamente canalizado desse jeito. Muitos membros vieram a crer que a “família é natural”: “homossexuais” implicam que as pessoas não têm de formar famílias e podem viver sem elas. Muitos membros da sociedade acreditam que as diferenças entre homens e mulheres são instintivas: “homossexuais” tornam o gênero muito mais ambíguo - homens podem ser gentis e mulheres podem ser agressivas. Muitos membros dão por certo que a pedra de toque da moralidade é a conduta sexual “adequada”: “homossexuais” violam essa moralidade suposta. Muitos membros procuram algum sentido para suas vidas e encontram-no na ideia de ter filhos/as, provendo um foco para a vida de alguém e uma imortalidade vicariante: “homossexuais” implicam que a vida pode ser conduzida sem filhos/as.
Sobre todos estes pontos e outros, então, “homossexuais” são devastadoramente ameaçadores à “ordem natural”. Eles/as não vivem em famílias, frequentemente não podem ter filhos/as, confundem o sistema binário de gênero e permanecem em conflito com a moralidade presumida. “Homossexuais” são odiados/as porque eles/as violam o “mundo natural” ordenado que é tomado como certo por muitas pessoas.
Certamente as “ordens naturais” são mundos simbólicos que diferem entre culturas e - isso pode razoavelmente ser argumentado - dentro das culturas uma vez que a industrialização, burocratização e diversidade urbana estabeleceram-se (BERGER et al., 1973). Assim, dizer que homossexualidade constitui uma ameaça à “ordem natural” não é dizer que ela constitui a mesma ameaça para todas essas ordens. De fato ela possui, como aquela ordem simbólica mais difusa, complexa, divergente e ambígua (em outras palavras, a menos simples e rígida), o maior potencial para experiências homossexuais ser mais aceitáveis.
A fraqueza desta visão - e certamente de toda análise simbólica - é que ela falha em explicar por que a ordem existente é como ela é. Ela examina as consequências dos arranjos existentes; [porém] ela raramente examina como a ordem emergiu. Ela pode portanto ser conservadora antes que crítica, descritiva em vez de explicativa, e preocupada com o presente ao invés de desdobrar mudanças do passado. Mesmo que homossexuais sejam atacados/as porque eles/as não se encaixam nos sistemas familiares, de gênero e morais prevalecentes hoje, nós temos de entender como estes sistemas surgiram, como eles estão relacionados à sociedade mais ampla, interesses de quem - se algum [houver] - eles servem e quais arranjos alternativos são possíveis. Questões como estas precisam de mais exame no futuro.
Estas questões demandam uma pesquisa histórica escrupulosa e materiais antropológicos; não há respostas fáceis. Alguns estudos já foram realizados em certas áreas - Bailey, por exemplo, examinou em detalhe o impacto da cultura judaico-cristã sobre a opressão de homossexuais e chegou à conclusão de certo modo surpreendente de que ela não exerceu uma parte significante como se imagina com frequência (BAILEY, 1955). Bem como ao examinar interesses religiosos, estudos históricos poderiam considerar também os interesses de legisladores/as, médicos/ as e psiquiatras, moralistas, grupos de pressão e similares (SPECTOR, 1977; MORRISON; TRACEY, 1979). O problema com tais materiais é que eles ainda falhariam em localizar a hostilidade [contra] gays em contextos muito amplos; eles não mostram como a hostilidade pode ser ligada à racionalização e burocratização crescentes (GREENBERG; BYSTRYN, 1978), à ética protestante (ROTENBERG, 1979) e à natureza mutante da família, do gênero e do sistema de classes (WEEKS, 1977).
Uma vez que nós comecemos a fazer isso, outra possibilidade importante surge: que a opressão de gays não é o resultado premeditado de grupos específicos que odeiam gays por vários motivos. Em vez disso é o preço não intencional que tem de ser pago por organizar a sociedade de certos modos. Assim a atenção deveria ser dirigida não a por que “indivíduos sofrem de homofobia”, mas antes a por que nós construímos sociedades em torno de famílias fortes, papéis de gênero claros, estruturas rígidas de classe e status, e um sistema de crença que equipara moralidade com sexualidade.
AS CONDIÇÕES DE CATEGORIZAÇÕES: CARREIRAS HOMOSSEXUAIS E IDENTIDADES HOMOSSEXUAIS
Um terceiro conjunto de direcionamentos de pesquisa gerado pela perspectiva da rotulação concentra-se nos modos em que indivíduos vêm a ser categorizados/ as como “homossexuais”. Isto não é de maneira nenhuma o mesmo que perguntar por que as pessoas tornam-se homossexuais - o problema etiológico padrão - pois esta questão prejudica o assunto ao supor ser a homossexualidade uma situação de condição. É perfeitamente possível - e, a partir das teorias existentes, bastante comum - que as pessoas tenham fantasias com o mesmo sexo, engajem-se em comportamentos de mesmo sexo ou flertem com o mesmo sexo e que estas mesmas pessoas não se vejam como “homossexuais”. Do mesmo modo que não é totalmente incomum para as pessoas gastarem grandes porções de suas vidas comportando-se e sentindo-se “heterossexualmente” para só adotar o rótulo de “homossexual” em um estágio muito tardio nas suas vidas.14 Além disso, é possível que algumas pessoas apliquem o rótulo “homossexual” a si mesmas sem sequer encontrar outros/as homossexuais ou terem uma experiência de mesmo sexo. Não há, em resumo, absoluto “encaixe” ou congruência entre fazer, pensar ou sentir, e não há adequação necessária entre quaisquer destes e o ato de rotular alguém como “um/a homossexual”.15 O que é então que provoca a adoção da categoria por algumas pessoas e não outras?
A resposta mais singela a esta questão é sugerir que ela [adoção de um rótulo] é imposta pelos agentes de controle formal - polícia, psiquiatras - sobre vítimas incautas, “mais maltratadas do que seus pecados”16 (GOULDNER, 1968). Mas esta visão é reconhecida agora como completamente inadequada; a autorrotulação simbólica autoconstruída é um problema teórico e empírico muito mais fundamental (WARREN, 1974; PLUMMER, 1975; ROTENBERG, 1979). Nós precisamos perguntar sobre os modos nos quais os indivíduos vêm a categorizar a si próprios como certos tipos de seres sexuais (ou assexuais), como eles vêm a enganchar-se em ambas definições societais mais amplas e de comunidade mais restrita, e como tais definições são usadas na personalização subsequente de estilos de vida.
Há dois jeitos amplos de abordar o problema da construção de uma identidade homossexual: o modelo da orientação sexual e o modelo do construto da identidade. O modelo da orientação é encontrado entre geneticistas, clínicos e comportamentalistas entre outros/as e sugere que a orientação sexual de uma pessoa é firmemente estabelecida na meia infância.17 Para os geneticistas ela está lá desde o nascimento; para os/as outros/as ela é formada nas primeiras experiências familiares. Em ambos os casos, nossas atrações sexuais são firme e irrevogavelmente configuradas antes que nós atinjamos a puberdade. Money, por exemplo, argumenta que uma identidade de gênero nuclear (o sentido de ser um homem ou uma mulher) é configurada por volta dos três anos de idade e que a orientação sexual é estabelecida na relação com esta [identidade] poucos anos depois:
Porque as preferências eróticas comumente revelam-se na puberdade, é frequentemente pressuposto que elas foram instiladas por uma primeira experiência sexual daquele tempo, ou foram capturadas da exposição a imagens eróticas, livros ou filmes, uma suposição que é responsável por muito do pânico judicial de hoje quanto a pornografia. Ao contrário, a volúpia de cada pessoa tem fronteiras fixas que são definidas antes mesmo da puberdade. Se as fronteiras são ortodoxas ou heterodoxas, convencionais ou inconvencionais, elas foram estabelecidas na infância como parte de uma diferenciação da identidade de gênero, pela codificação dos/as conspiradores/as, e por quaisquer peculiaridades e esquisitices que estavam inculcadas nos/as conspiradores/as. As fronteiras podem evidenciar-se primeiro na puberdade, mas elas não são definidas na puberdade e elas não mudam tanto, nem na puberdade nem depois. Sua relativa imutabilidade ajuda a explicar fenômenos tais como por que um/a segundo/a cônjuge com muita frequência parece o/a primeiro/a. Sua persistência também explica por que o/a adulto/a obrigatoriamente homossexual pode ser atraído e comportar-se afetivamente para com um membro do outro sexo, especialmente se o/a outro/a é mais velho, mas pode nunca se apaixonar por ele ou ela. Contos de degenerados sexuais que vão de uma para outra forma de depravação, experimentando de tudo, são apenas ficção: mesmo os/as assim chamados/as degenerados/as sexuais prendem-se a suas preferências particulares. (MONEY; TUCKER, 1977, p. 123)
Lado a lado com esta visão de desenvolvimento de orientação sexual está a ideia de que a identidade sexual emerge simultaneamente. Assim, também a identidade emerge sem problemas, a ponto de a criança em vias de tornar-se um ser heterossexual também aprende a identidade heterossexual, ou uma disjunção pode ocorrer entre a orientação (ser) que se constrói na infância e a identidade que se desenvolve. Então, por exemplo, na categoria de “homossexual latente”, o ser - aquele de “um/a homossexual” - é definido na infância, mas a identidade que é adquirida é inapropriada; a pessoa homossexual vem (falsamente e talvez por causa da coerção heterossexual) a enxergar a si mesmo ou mesma como um/a “heterossexual”. Este modelo suporia que a categoria “identidade heterossexual” é inapropriada neste caso; a identidade verdadeira da pessoa é aquela de um/a homossexual.
Em agudo contraste a este “modelo de orientação”, a visão da “identidade construta” - favorecida pelos/as interacionistas simbólicos/as18 - foca nos processos cognitivos pelos quais membros de uma sociedade interpretam seus/suas si mesmos/as sexuais19 sondando suas vidas passadas (seus corpos, envolvimentos grupais, sentimentos e comportamentos) e conectando estes a “teorias” disponíveis nos seus mundos contemporâneos (através de amigos/as, família, psiquiatras, mídias). O foco aqui não está nas determinações da infância nem nas orientações “reais” permanentes; está antes no processo de construir identidades ao longo da vida através de encontros significativos.
Como Blumstein e Schwartz (1976) notaram, o assunto a que eu me referi aqui deriva da sociologia do conhecimento. Basicamente o problema é explicar como as categorias sociais dadas existentes - o/a heterossexual, o/a homossexual, o pederasta, o/a bissexual - vêm a ser preenchidas: como indivíduos sondam suas histórias de vida (em momentos diferentes) e identificam-se com certos tipos de população sexual (em diferentes momentos)? O modelo da orientação responde isto ao dizer que o indivíduo experimenta um atração erótica profunda por membros do mesmo sexo, e assim vem a definir a si mesmo ou mesma como homossexual. A abordagem construcionista sugere que talvez nossas experiências sejam inicialmente muito mais aleatórias, desestruturadas e não cristalizadas do que nós escolhemos acreditar, e que é através do processo definicional que esta aleatoriedade torna-se canalizada em identidades sexuais estáveis.
À primeira vista estes modelos parecem mutuamente excludentes. Um diz que identidades são fixadas na infância, o outro diz que elas são flexíveis e negociadas na vida adulta. Um suscita o espectro da “latência”, de ter uma verdadeira identidade sexual da qual se pode estar inconsciente; o outro nega uma tal epistemologia “realista”. O problema imediato, contudo, de tentar decidir qual poderia provar[-se] mais válido é agravado pela descoberta de que há certamente evidência para suportar ambos os modelos.
Assim a maioria das pesquisas de opinião sugere que respostas homossexuais são “determinadas e estabelecidas muito cedo na vida” (SAGHIR; ROBINS, 1973, p. 44). O estudo de Spada (com sua amostragem indubitável e pesadamente enviesada) inequivocamente relata que “35% dos respondentes relatam sua primeira atração homossexual antes dos dez anos de idade, e outros 41% localizam-na entre as idades de dez e quatorze” (SPADA, 1979, p. 23). Ainda mais, Whitam, em sua crítica do papel homossexual, comenta que:
Aproximadamente metade dos respondentes homossexuais relataram sentir-se sexualmente atraídos por machos antes de eles saberem da existência de tais relações sexuais no mundo adulto […] Respondentes frequentemente relataram saber que eles eram ou tornar-se-iam homossexuais sem terem ouvido o termo homossexual ou seus equivalentes e sem saber que tal comportamento existia no mundo adulto. (WHITAM, 1977, p. 7)
Parece que para alguns/mas homossexuais, uma orientação, independente da rotulação social, é firmemente vista ser fixada na infância. Mas se isso é verdade para alguns/mas, há certamente outra evidência que mostra o fluxo e a oscilação da identidade homossexual adulta (e com frequência isto vem do mesmo estudo). Muitos/as “homossexuais” levam um estilo de vida heterossexual em algum ponto de sua história e não constroem uma identidade homossexual até mais tarde na vida. Dank (1974), por exemplo, em seu estudo de 377 homossexuais masculinos autoidentificados, encontrou a idade em que eles construíam uma identidade homossexual altamente variada. Assim 45 (ou 12,2%) desta amostra viam a si mesmos como gays antes dos 15 anos de idade; outros 130 (35,5%) viam-se como gays antes dos 20 anos de idade; outros 113 (30,7%) viam-se como homossexuais quando eles tinham por volta de 25 anos de idade; e outros 80 (21,8%) viam-se como gays pela primeira vez quando eles tinham mais de 25 anos de idade. Agora este estudo não está falando sobre a emergência de comportamentos ou orientações homossexuais, mas sim da autorrotulação como um homossexual. Pode ser portanto que haja uma verdadeira separação entre o desenvolvimento de uma orientação em uma pessoa e o desenvolvimento da uma identidade em uma pessoa. Da mesma maneira um estudo em pequena escala de T. Weinberg (1978) distinguiu entre atividades homossexuais (“fazer”), identidades homossexuais (“ser”) e suspeita de ser um homossexual, e mapeou a ordem de suas emergências em trinta homossexuais masculinos. Ele encontrou quatro padrões:
Destes trinta homens, “apenas quatro definitivamente pensaram que ambos, seu comportamento e a visão de si mesmos como homossexuais, só ocorreu na primeira vez em que eles engajaram-se em sexo com outros machos” (WEINBERG, 1978, p. 151). A menos que alguém se refira a isto como uma amostra puramente “fortuita”, o estudo deve ser tomado para indicar a complexidade de ligar “fazer” com “ser”. Não há nenhum padrão.
Há então evidência para suportar o modelo da orientação, desde que parece bem estabelecido que para alguns indivíduos a orientação é configurada na primeira infância; mas há também evidência para sustentar o modelo do construto, uma vez que as identidades das pessoas empiricamente mudam e são muito trocadas na vida adulta. Confrontados/as com tal evidência, os/as teóricos/as da “orientação sexual” diriam que embora homens e mulheres possam não tornar-se “conscientes” de suas identidades até tarde da vida, elas estariam “latentes” até aquele momento, pois sua orientação fora conformada muito cedo. Da mesma forma os/as teóricos/as do “construto identitário” diriam que a significância das experiências da infância foi um “vocabulário de motivo” reconstruído e usado como uma legitimação da homossexualidade contemporânea.20 Argumento e contra-argumento deixam-nos indecisos e confusos.
Para mim, o problema é importante, demandando esclarecimentos conceituais e empíricos. No momento eu acredito que uma síntese de duas visões é requerida - uma síntese que reconheça a importância das experiências da infância na restrição de nossas possibilidades sexuais e a importância das experiências adultas em moldar, limitando ainda mais e algumas vezes transcendendo esta base da infância. Uma tal síntese é vista com frequência como sendo um absurdo contraditório: o irreconciliável não pode ser reconciliado. Mas empiricamente ambos são verdade; o que está errado não é a experiências “contraditória” vivida pelas pessoas mas sim os debates teóricos dos/as cientistas sociais que falham em incorporam tais confusões vividas.
Mas tais confusões aparentes são com efeito apenas confusões se nós buscamos respostas simples e uniformes para questões de identidade e orientação. Orientações são - em todos os casos - formadas na infância; mas enquanto algumas pessoas desenvolvem orientações restritivas e rígidas, outras podem estar abertas a flexíveis, ao passo que outras ainda podem desenvolver “orientação” nenhuma. Além disso, predisposições emocionais subjacentes não são cognições, e muitos indivíduos podem não - de fato podem nunca ao longo de suas vidas - estar conscientes delas. Se é assim, elas estão fora do mundo de significado do próprio participante e não deveria portanto ser dada tanta importância. Assim como identidades são - de todo jeito - altamente variáveis ao longo dos encontros sociais; mas enquanto para algumas pessoas isto significa drástica reestruturação de suas autoconcepções em pontos de mudança crítica na vida, outras podem desenvolver identidades relativamente estáveis em momentos incipientes da vida e usá-las como focos para orientar o mais da conduta futura. Mesmo se tais identidades estáveis estão fora de harmonia com orientações subjacentes, elas têm de ser levadas muito a sério conquanto as pessoas definem suas situações.
O IMPACTO DA ROTULAÇÃO
Esta área é aquela que os/as sociólogos/as estudaram mais frequentemente no passado, e portanto pouco precisa ser dito aqui. A ideia central destaca as consequências negativas para as experiências homossexuais que brotam do estigma. Em outros lugares eu delineei como o estigma pode dar abertura para problemas em no mínimo três áreas: no processo de tornar-se um/a homossexual, nos problemas de interação diários e nos problemas coletivos da subcultura. Na primeira área a situação de estigma dá brecha para uma série de problemas chafurdantes - de culpa, identidade e acesso a parceiros/as - para homossexuais potenciais enquanto eles/as adentram os primeiros estágios de sua carreira homossexual. Na segunda área, a vida do dia a dia dos/as homossexuais pode tornar-se mais problemática embora tais assuntos como ocultação, aceitação e a pesada autoconsciência de que a qualquer momento alguém pode declinar de uma pessoa desacreditável para uma pessoa desacreditada (GOFFMAN, 1963). Na terceira área algumas das características da subcultura gay e do mundo gay nascem da hostilidade. Hoffman (1968) descreveu muitas das características da comunidade homossexual e tentou mostrar como estas características afluem da hostilidade da sociedade. Outros, tais como Schur (1965) e Williams e Weinberg (1971), lidaram com as consequências mais objetivas das sanções negativas - assuntos como chantagem, perseguição policial, discriminação no trabalho e mesmo assassinato sexual.
Apesar de eu pensar agora que estas três áreas constituem um maior e importante programa de pesquisa na sociologia da homossexualidade, elas não estão isentas de seus problemas. Um problema importante foi proposto por Sagarin e Kelly (1976). Eles criticamente notaram uma ironia que corre pela obra de muitos/as teóricos/as da rotulação, em que duas vertentes de pensamento podem ser encontradas. Por um lado, há uma forte afirmação na maioria dos estudos de rotulação sobre a normalidade dos/as desviantes: não são os/as desviantes perturbados/as, doentes ou patológicos. Por outro lado, há uma vertente na teoria da rotulação que sugere que sanções negativas criam situações dificultosas e preocupantes que em retorno devem levar à patologia, distúrbio e mesmo adoecimento. Está muito claro agora na perspectiva da rotulação sobre a homossexualidade que ambas essas vertentes existem lado a lado, e como Sagarin e Kelly corretamente comentam “patologia não pode ser negada, e ao mesmo tempo considerada, em termos de hostilidade social” (1976, p. 262). Não há dúvida de que os escritos de Gagnon e Simon, Hooker e mais notadamente Freedman sugerem que “homossexuais” são indivíduos muito frequentemente bem ajustados psicologicamente. Como diz Freedman:
Homossexualidade é compatível com funcionamento psicológico positivo. Estudos demonstram que a maioria dos indivíduos homossexualmente orientados avaliados nos estudos da função de ajustamento tanto quanto os grupos comparáveis de indivíduos heterossexualmente orientados; que seu funcionamento pôde ser tipicamente caracterizado como normal; e que em alguns casos, seu funcionamento aproxima-se mesmo daquele de pessoas autorrealizantes. Cumulativamente estes estudos (revisados por Freedman) lidavam com mais de seiscentos sujeitos homossexualmente orientados, enquanto os estudos com resultados mistos ou negativos tinham apenas cerca de cento e cinquenta sujeitos homossexualmente orientados ao todo. (FREEDMAN, 1971, p. 87)
De modo similar Gagnon e Simon, em sua revisão dos 550 sujeitos de Kinsey, “sugerem que a maioria dos/as homossexuais em geral saem-se bem, e mesmo particularmente bem quando nós consideramos o período histórico envolvido e a estigmatizada e, de fato, criminosa natureza de seus interesses sexuais” (1973, p. 138).
Contudo, enquanto teóricos/as dão lugar a uma grande ênfase no funcionamento psicologicamente normal de muitos/as “homossexuais”, eles/as reconhecem que distúrbio, patologia e tragédia podem também ser encontrados. Gagnon e Simon de fato comentam:
Nós não queremos dizer que a vida homossexual não contém um grande potencial de desmoralização, desespero e autodesgosto. Ao contrário, como em muitas carreiras inconvencionais resta aí o potencial para uma significante intensificação da psicopatologia individual. (GAGNON; SIMON, 1973, p. 139)
Esta questão então pode ser colocada de modo simples. Rotulacionistas parecem estar dizendo que, de um lado, homossexuais são normais - assim como todo mundo. Por outro lado, eles/as parecem estar dizendo que os processos de estigmatização criam o potencial para a patologia, desespero e tragédia. As descobertas sugerem que alguns/mas homossexuais estão bem ajustados e que outros/ as não estão. Sagarin e Kelly, contudo, parecem estar produzindo um espantalho em sua crítica da teoria da rotulação pois ambas as posições são temíveis; há homossexualidades ao mesmo tempo “patológicas” e “não patológicas”. As variáveis importantes de levar em conta são o estágio da carreira homossexual e a natureza de outros/as significantes no entorno. Assim nos estágios iniciais da carreira homossexual, é muito comum que o contexto estigmatizante da sociedade mais ampla vá engendrar um potencial enorme para desmoralização e desespero. Os problemas de culpa, segredo, acesso, identidade e assim por diante podem conduzir a uma experiência depressiva relevante e sufocante; e estas experiências podem levar “homossexuais” direto21 ao divã psiquiátrico. Mas assim que eles desenvolvem soluções para estes vários problemas, e em particular ganha acesso a uma subcultura de apoio (“gay”, “feminista” ou apenas “tolerante”), a identidade começa a mudar. Dank, por exemplo, demonstrou claramente como acessar outros/as homossexuais ajuda a dar a alguém uma identidade mais positiva. Aqui então os/ as “outrem rotulantes” são aquelas pessoas que proveem apoio positivo em vez de ataque destrutivo e negativo. Portanto sob estas circunstâncias alguém não poderia prever um alto potencial de desmoralização e desespero, mas de fato poderia prever um/a “homossexual” funcionando psicologicamente melhor. É precisamente isto que o trabalho empírico encontrou de maneira abundante. Homossexuais em prisões e sob tratamento psiquiátrico tendem a mostrar mais sinais perturbados do que homossexuais na comunidade gay em geral (SCHOFIELD, 1965).
Enquanto que nos estágios iniciais da carreira homossexual sanções negativas podem levar a problemas e patologia, e nos estágios intermediários da carreira homossexual o grupo de referência positivo de outros/as homossexuais pode levar a uma identidade positiva, então talvez venha um estágio posterior para alguns/ mas homossexuais em que, longe de funcionar de modo fraco ou mediano, eles/ as na verdade começam a funcionar melhor do que muitas pessoas da sociedade. Freedman sugere que quando homossexuais masculinos aprendem a superar a opressão e as dificuldades que os confrontam em uma sociedade hostil, eles tornam-se pessoas mais “centradas”. Eles vencem a camisa de força dos papéis de gênero, as restrições opressivas da expressão emocional dada à maioria dos homens e rígidos controles do sexo monogâmico. Através do trabalho ativo e autoconsciente dos problemas pessoais de alguém, a pessoa vem a ser mais sensível, cônscia e criativa, apta a controlar e dominar a vida de modo mais adequado. Esta posição certamente é também compatível com a teoria da rotulação. Aqui não se trata mais de um assunto simples de sociedade hostil conduzindo a problemas, ou grupo de referência e apoio dando identidades estáveis, mas agora uma avaliação positiva autodefinida que abre espaço a níveis mais altos de funcionamento psicológico. Autoestima positiva leva a autofuncionamento positivo.
O argumento de Sagarin e Kelly portanto parece estar mal conceituado. Ao levar em consideração os diferentes estágios do processo da carreira do/a homossexual e ao permitir respostas diferentes em vez das respostas uniformemente hostis que alguns/mas teóricos/as parecem sugerir, modos diferenciais de ajustamento e resposta podem ser previstos. Com certeza é precisamente esta a razão por que os achados de Weinberg e Williams sobre homossexuais de Nova Iorque, São Francisco, Copenhague e Amsterdã parecem refutar a teoria da rotulação. De fato eles/ as não fazem tal coisa; eles/as meramente proveem evidência para o argumento de que em culturas tolerantes e de apoio, homossexuais que estão envolvidos/as no mundo gay não mostrarão os sinais de patologia e distúrbio previstos por algumas das proposições da teoria da rotulação.
CONCLUSÃO
Neste artigo eu argumentei pelo estudo de categorizações homossexuais em vez de pelo estudo dos/as homossexuais. A necessidade é compreender bem os modos em que significados específica e historicamente produzidos conformam - e com frequência prejudicam - experiências humanas. Não é uma área fácil de investigar, uma vez que ela suscita preocupações muito amplas (as quatro questões delineadas na p. 2), ela também levanta uma questão similarmente insolúvel: a “categoria” reflete ou constrói o fenômeno? Nós tivemos cerca de cem anos supondo que as “categorias” simplesmente refletem; a tarefa do/a sociólogo/a é agora analisar a alternativa da visão “construcionista”.
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Notas