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Bolivianos em São Paulo: territórios e alteridade
Fábio M. Serrano Pucci; Maura P. Bicudo Véras
Fábio M. Serrano Pucci; Maura P. Bicudo Véras
Bolivianos em São Paulo: territórios e alteridade
Bolivians in São Paulo: territories and otherness
Plural - Revista de Ciências Sociais, vol. 24, núm. 2, pp. 276-299, 2017
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo
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Resumo: Este artigo aborda as relações de sociabilidade e a produção da alteridade dos imigrantes bolivianos em São Paulo na atualidade, tendo sido selecionados os bairros do Brás e Grajaú, por apresentarem condições de vida diferenciadas a partir das distintas localizações. Em função da natureza dos temas tratados, utilizou-se o método qualitativo, sendo entrevistados tanto bolivianos como seus vizinhos brasileiros. Alguns resultados indicaram correlação significativa entre a presença de bolivianos no Grajaú e a tentativa de se dissociar dos estigmas a eles atribuídos no bairro do Brás, pois relatam que são vistos mais por sua singularidade do que pelos estereótipos, enquanto os imigrantes do Brás afirmam o contrário.

Palavras chave: ImigraçãoImigração,BolivianosBolivianos,CidadeCidade,SociabilidadeSociabilidade,AlteridadeAlteridade.

Abstract: This article approaches the sociability relations and the production of the otherness of the Bolivian immigrants in São Paulo currently. The districts of Brás and Grajaú have been chosen because they have different living conditions. Due to the nature of the issues dealt with in this article, the qualitative method was chosen. The Bolivians as well as their Brazilian neighbors were interviewed. Some of the research results show a meaningful correlation between the presence of Bolivians in Grajaú and their attempt to dissociate themselves from the stigmas imputed to Bolivians in Brás. Moreover, the Bolivians in Grajaú mention they are seen more by their singularity than by stereotypes, while Bolivians in Brás say the contrary.

Keywords: Immigration, Bolivians, City, Sociability, Otherness.

Carátula del artículo

ARTIGO

Bolivianos em São Paulo: territórios e alteridade

Bolivians in São Paulo: territories and otherness

Fábio M. Serrano Pucci
PUC-SP, Brasil
Maura P. Bicudo Véras
PUC-SP, Brasil
Plural - Revista de Ciências Sociais, vol. 24, núm. 2, pp. 276-299, 2017
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo
INTRODUÇÃO

Este artigo se utiliza das reflexões e material empírico coletado ao longo de uma dissertação de mestrado (PUCCI, 2016). Esta dissertação foi desenvolvida junto ao Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais da PUC-SP, sob orientação da coautora. Foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). A pesquisa empírica envolveu 22 entrevistas com imigrantes bolivianos e 05 entrevistas com os vizinhos nos bairros de Brás e Grajaú.

Decidiu-se por entrevistar grupos heterogêneos de imigrantes, tendo em vista as diferenças de idade, sexo e tempo de permanência no país. No que tange às entrevistas com os brasileiros, vizinhos dos bolivianos, privilegiaram-se aqueles que tinham maior proximidade com os bolivianos.

O roteiro de entrevista procura abordar principalmente questões relativas a trabalho, moradia, acesso à saúde e sociabilidade. Adotou-se como estratégia de campo o estabelecimento de contato com organizações não-governamentais de assistência aos imigrantes (caso de uma Pastoral no Brás) e organizações governamentais (caso dos postos de saúde, Programa Escola da Família e creche). Solicitou-se aos entrevistados, ao final da entrevista, que indicassem conhecidos seus que pudessem responder a pesquisa.

Além disso, foram realizadas entrevistas em duas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) no município de São Paulo, uma no Grajaú e outra no Brás. Na ocasião entrevistaram-se agentes de saúde da Estratégia Saúde da Família, que fazem acompanhamento com os imigrantes bolivianos em suas residências e, que conhecem de perto o cotidiano das oficinas de costura. Por fim, o projeto foi considerado habilitado pelo Comitê de Ética da PUC-SP e da Secretaria Municipal de Saúde. Todas as entrevistas foram feitas com consentimento livre e esclarecido dos entrevistados. Foram utilizados pseudônimos para designar os entrevistados, com o intuito de manter o sigilo e privacidade das informações.

Na dissertação foram estudados um bairro central - Brás, por concentrar grande contingente de bolivianos - e um distrito periférico - Grajaú - (ver Mapa 01, abaixo, para identificar as regiões estudadas), por ter havido um importante aumento desses imigrados na região de 2000 a 2010 (IBGE, 2000; 2010). O objetivo foi estudar as condições de moradia dos bolivianos em São Paulo, a exclusão desse grupo das políticas sociais (principalmente as de habitação e saúde) e as relações de sociabilidade com a vizinhança. Essa escolha se justificou pelo fato de que tem sido negada aos bolivianos uma condição digna de moradia, o que vem a se somar às demais formas de subalternidade a que esse grupo é submetido como é o caso da clandestinidade (do ponto de vista da legalidade), da exploração de sua mão-de-obra e da estigmatização de que o grupo é alvo.




O presente trabalho procura resgatar, como desdobramento da citada dissertação, especificamente os temas da sociabilidade, do território e das relações de alteridade. Em um primeiro momento analisa-se a ambiguidade das redes sociais e dos territórios para os bolivianos. Em seguida apresenta-se de que maneira os bolivianos procuram se integrar à sociedade receptora dissociando-se dos estigmas atribuídos a eles em São Paulo. Então, expõe-se de que maneira este fenômeno está associado aos bairros escolhidos por esses imigrados para residir. Finalmente, estudam-se as principais diferenças entre a sociabilidade dos bolivianos no Brás e no Grajaú.

OS BOLIVIANOS EM SÃO PAULO

A imigração é um fenômeno muito caro à história de São Paulo, sobretudo desde a segunda metade do século XIX, durante a economia cafeeira e no surto de nossa primeira industrialização, deixando marcas significativas em nossas sociedade e cidade (Veras, 2003a). As primeiras colônias de imigrantes - de portugueses, italianos, espanhóis - vão se firmar nos bairros do Belém, Brás, Bom Retiro, Pari, Mooca, Lapa e Ipiranga, ao longo das “orlas ferroviárias”, onde se concentrava a indústria têxtil e alimentícia (ROLNIK, 2001). Mais tarde, japoneses configurariam um quarto segmento importante na história da imigração estrangeira para São Paulo.

Do período pós-Segunda Guerra até 1980, por razões já conhecidas histórica e sociologicamente, houve declínio no número de imigrantes estrangeiros e aumento da presença de migrantes nacionais nesses bairros - muitos nordestinos e mineiros, entre outros (ROLNIK, 2001; VÉRAS, 2003a; SOUCHAUD, 2011). Além disso, novos rumos para a indústria nacional fizeram-na afastar-se dessas antigas zonas industriais, passando a se localizar na periferia da capital e nos municípios limítrofes contíguos às estradas de rodagem (SINGER, 1977). Assim, a partir da década de 1960 (ROLNIK, 2001), ganha maior importância o ramo da confecção1 (SOUCHAUD, 2011). Em meados da década de 1970, imigrantes coreanos já estão definitivamente debruçados sobre a atividade do comércio de roupas, na confecção e no setor atacadista, principalmente no bairro do Bom Retiro, mas também no Brás (VÉRAS, 2000). Mais recentemente, no entanto, nota-se principalmente a presença de imigrantes bolivianos nesses bairros.

As notícias de pesquisas sobre os primeiros bolivianos que chegaram ao país na década de 1950, apontam que estes eram basicamente “jovens que vinham para estudar ou trabalhar e depois permaneciam no país” (SILVA, 1997, p. 82). Esse processo aumenta na década de 1970 - com a oferta de trabalho originada pelas obras ditas desenvolvimentistas adotadas pelo regime militar -, e torna-se mais intenso na década de 1980, quando os bolivianos, na procura por melhores condições de vida, chegam para ocupar a mão-de-obra não qualificada no setor das confecções dos antigos bairros operários de São Paulo (SILVA, 1997).

Em um cenário urbano contemporâneo, fragmentado e segmentado pelas iniciativas do mercado imobiliário e pela ineficiência das políticas públicas quanto à oferta de habitação adequada à maioria da população, tem-se que zonas de primeiro mundo, alguns enclaves fortificados, ocupados por elites que se autossegregam, convivem com áreas desprovidas de equipamentos e serviços sociais, algumas de uso misto e/ou degradadas, outras periféricas, abrigando moradores da precariedade, da pobreza como desempregados, imigrantes, nômades, sem abrigo, enfim, pessoas em situação de fronteira, vulneráveis. Uma cartografia social pode revelar, também, certa topografia da alteridade, na medida em que são considerados “outros”, um “não nós”, aqueles que o mercado econômico baniu de boas e adequadas localizações urbanas, assim como aqueles que por sua origem - inclusive étnica -, acabam por ser segregados em uma perversa territorialização. A cidade de São Paulo, considerada como polo dinâmico inserido no capitalismo globalizado, continua a revelar graves débitos sociais e apresentar contrastes em seu ambiente construído. É nesse panorama social e urbano que se inserem os imigrantes que aqui demandam suas condições de vida e trabalho.

TERRITÓRIO, ALTERIDADE E CADEIAS MIGRATÓRIAS, FUNDAMENTOS CONCEITUAIS

De acordo com os limites do presente texto, apresenta-se um breve quadro teórico que o fundamenta. A principal referência sobre os processos migratórios foi buscada em Sayad (1998), pois, como fica explícito no título de seu livro, A Imigração ou os Paradoxos da Alteridade, trabalha com os paradoxos de ser imigrante, que se define como trabalhador, vivendo uma situação de provisoriedade que se perpetua nas terras de recepção, produzindo relações de alteridade em cotejo com reconstrução de sua própria identidade.

Dentre as leituras e releituras atuais sobre as teorias das migrações internacionais adotou-se Sasaki e Assis (2000), Patarra (2006) e Muniz (2002) como fundantes. Procurou-se “agregar as teorias neoclássicas [em que o indivíduo faz escolhas racionais] e a histórico estrutural [em que o indivíduo é impelido pelo contexto social mais amplo a tomar decisões] sob uma perspectiva domiciliar (ou familiar).” (MUNIZ, 2002, p.3). Importante registrar a discussão evocada por Silveira (2014) de que em tempos de globalizações e fluxos, os imigrantes são transmigrantes, pois desfazem-se concepções tradicionais de migração (permanentes, de longa ou curta duração), para descreverem-se vários deslocamentos em idas e vindas constantes de países de destino aos de origem e vice versa. Igualmente Tilly (1978) estabelece nova conceituação para os imigrantes, classificando-os por duas variáveis: a primeira refere-se à distância do local de origem ao país de destino e a segunda diz respeito à ruptura com a cultura original, quer em termos de família, grupo ou individual. Dessa forma, nem todos os deslocamentos poderiam enquadrar-se como imigração. Em que pese toda e qualquer arbitrariedade em classificações, Tilly (1990) aponta quatro categorias possíveis para os processos imigratórios, mesmo quando se desenvolvem em áreas fronteiriças:

a) locais, quando os fluxos consistem de deslocamento para áreas contíguas; b) circulares, quando há ida e retorno ao local de origem, em determinado intervalo de tempo; c) de carreira, na medida em que o deslocamento se deve à promoção de carreira oferecida por organizações/ empresas a que indivíduos pertencem; d) em cadeia, se a motivação para o deslocamento vem de redes de parentes, amigos e conterrâneos já instalados no local de recepção (TRUZZI, 2011). De acordo com a bibliografia produzida2 sobre os bolivianos em São Paulo, parece que sua presença se caracteriza como movimento circular e em cadeia, ou seja, aquela que envolve o deslocamento de indivíduos motivados por uma série de arranjos e informações fornecidas por parentes e conterrâneos já instalados no local de destino. (TILLY, 1978 apud TRUZZI, 2011, p. 20).

Para aproximar-se progressivamente do tema principal da investigação, fundamentou-se o estudo sobre alteridade em Os Estabelecidos e os Outsiders, de Elias e Scotson (2000), que analisam a produção do outro pela estigmatização como ferramenta para afastar os indesejados da concorrência pelo poder. Trabalhou-se também com Truzzi (2012), Hall (2003), Wieviorka (2006) e Castells (1999) para desenvolver as noções de “assimilação”, “identidade cultural”, (in)tolerância, reconhecimento das diferenças e o próprio racismo. Quanto mais um grupo está segregado, mais reforça o discurso do racismo. O conceito de “segregação” baseou-se em Marques (2005), que a conceitua como separação e desigualdade de acesso. O tema da precariedade e acesso à moradia foi apoiado em Bonduki (1998), Véras (2003b) e Kowarick (2009), conceituando de forma ampla a moradia não só como a residência de fato, mas também os “seus complementos de infra-estrutura, serviços, transporte, equipamentos sociais e paisagem.” (VÉRAS, 2003b, p. 326). Como um conceito explicativo tanto para o processo de formação de identidades, quanto para a reprodução das desigualdades sociais, a territorialidade foi considerada nos termos de Véras (2003a), Santos (2007) e Carneiro (2009). Um dos aspectos fundamentais na condição de vida do imigrante é o território e, em especial, a moradia como âncora desse lugar de vivência. Os territórios, lugares aos quais se atribuem sentido e identificação, se constituem em uma “ponte” (WACQUANT 2004 apud SILVEIRA, 2014) para o imigrante, ou seja, “espaços de permanência e simultaneamente de passagem dos imigrantes que promovem sua adaptação às novas condições de vida em outro meio social” (SILVEIRA, 2014, p. 97). É nos territórios que se dá a aprendizagem de elementos como a língua local, o acesso a serviços essenciais (como saúde e educação) e a formação de redes de relacionamento para inserção no mercado de trabalho.

Quanto aos conceitos de “redes” e “cadeias migratórias”, referência teórica significativa foi o texto de Truzzi (2011). Segundo esse autor, “cadeia migratória” pode ser definida como “o deslocamento de indivíduos motivados por uma série de arranjos e informações fornecidas por parentes e conterrâneos já instalados no local de destino” (TRUZZI, 2011, p. 20). Esses conceitos procuram dar conta de uma realidade na qual, cada vez mais, os imigrantes só se decidem pela imigração após obterem informações prévias das oportunidades e dificuldades enfrentadas na sociedade de destino. Assim, são conceitos que enfatizam “o papel ativo dos emigrados, já partidos, na sociedade de origem” (TRUZZI, 2011, p. 23).

Para Sasaki e Assis (2000), a importância das redes sociais consiste em absorver o impacto da chegada dos migrantes, que levam em conta outras escolhas que não apenas aquelas do tipo racional a fins, mas também as racionais com relação a valores ou à tradição (para resgatar o pensamento de Max Weber, 1946). Essa abordagem ressalta os laços de parentesco, de amizade e de experiência de trabalho, ou seja, relações de comunalização.

O depoimento abaixo ilustra bem como opera essa cadeia migratória:

É assim, tendo a confiança de que tem uma pessoa lá, e vai vindo. Eu vim com meu esposo. Meu esposo veio pela irmã. A irmã dele veio porque a tia dela veio. Não é que a gente vem à deriva, assim, “ah, eu vou no Brasil e ver o que acontece comigo”, não. E isso, que uma brasileira falou assim pra mim: “vocês bolivianos vêm porque sabem que aqui vão ser bem recebidos.” “Não, a gente não vem porque a gente sabe que os brasileiros vão receber bem a gente.” A gente vem porque tem um boliviano que vai dar casa pra gente. Senão a gente não viria, porque a gente tem medo, não fala português, não fala nada. Então, um boliviano traz o outro. E essa é a cadeia de migração. (Maria, boliviana, modelista, há 15 anos no país, moradora do Brás).

Porém, nem sempre o boliviano tem algum parente ou conhecido no país de destino. Nesses casos, ele terá que contar com o apoio dos conterrâneos no país de recepção, como afirma a seguinte entrevistada:

Em verdade, se você tem alguém, alguma pessoa conhecida, alguém da família que já mora aqui no Brasil há mais tempo, você pode ter informação de fazer tudo legal e de fazer tudo direito. Mas se você chega e você não tem onde morar, não conhece ninguém, não tem a comida, então você vai procurar gente de seu país. Então, procura nas colônias bolivianas, onde tem um monte que precisa de costureiro, precisa de trabalhador. Então oferecem pra você pagar, “eu vou pagar por terminar essa peça, por fazer essa peça, um real, ou cinquenta centavos de real”. Porque você precisa onde morar e precisa que comer, então você vai ficar aí no trabalho, vai aceitar a proposta, mesmo que fossem dez centavos por peça, a necessidade obriga pra você ficar trabalhando. E você não conhece ninguém. Então por isso você termina fazendo o que eles querem. E eles terminam explorando o próprio compatriota boliviano. É assim que acontece. A realidade. (Estela, boliviana, médica, há 3 anos no país, Brás)

Aqui se percebe um fenômeno já descrito pela Escola de Chicago há um século: a mesma colônia que acolhe ao imigrante também o aprisiona. No entanto, é importante ressaltar que “a denominada empresa étnica, embora explore seus funcionários, a médio prazo parece responder pelo grande potencial de recepção, acolhimento e integração de imigrantes” (TRUZZI, 2007, p. 46, grifos do autor).

Assim, embora o território de bolivianos sirva de apoio ao recém-chegado, nem sempre isso é verdade, pois ele pode significar também um entrave à integração desses imigrados à sociedade receptora, levando alguns deles, inclusive, a preferir residir em bairros onde não há grande concentração de compatriotas.

Em um primeiro momento, a rede social é útil à integração desses bolivianos, mas ela se torna um entrave quando ele quer alçar voos mais altos, como abrir um empreendimento, por exemplo. Quando a trajetória de um imigrante atinge esse ponto, é possível perceber que ele procura se dissociar de sua colônia, pois a imagem negativa dos bolivianos em muito pode prejudicar a sua ascensão social.

EVITANDO OS ESTIGMAS ASSOCIADOS AO GRUPO DOS BOLIVIANOS

A literatura já tratou antes sobre o assunto. Para Baeninger e Simai (2010), se trata de um caso de “auto-ódio”, no qual o grupo estigmatizado interioriza o preconceito contra si mesmo e adota o discurso de favorecimento do grupo de fora. Assim, “quanto mais poderoso o grupo a que se pertença, maior será o favoritismo intragrupal, ao passo que aqueles que pertencem aos grupos de menor poder demonstram mais tendências ao favoritismo fora do grupo.” (BAENINGER; SIMAI, 2010, p. 18, grifos colocados).

A seguinte fala ilustra bem um caso de “favoritismo fora do grupo”:

Francamente, eu não gosto deles [dos bolivianos]. (...) Porque muitas vezes eles abusam da boa vontade dos brasileiros. E por esse motivo os brasileiros não gostam de ajudar eles. Por isso que eles falam mal deles. Eles abusaram. Os brasileiros deram uma mão e os bolivianos pegaram a mão inteira. E tem certas coisas que eu não gosto. Eu mesmo brigo com eles. Às vezes até um preconceito contra mim, eu falo “ah, esses bolivianos”. Eu sendo boliviano, eu tenho vergonha. (Jairo, boliviano, estudante universitário, professor de informática e dono de uma oficina de costura).

Elias e Scotson (2000) também atribuíram esse sentimento de inferioridade a uma desigualdade de poder existente entre os estabelecidos e os outsiders. Os estabelecidos formam um grupo que se vê e é visto como a “boa sociedade”, grupo que partilha de uma tradição em comum e possui muita influência. Ou seja, que reivindica ser um grupo de homens melhores do que os outsiders; este último grupo, outsiders, é formado por pessoas que são estigmatizadas por a ele pertencerem. É um grupo que não tem memória e tradição em comum, o que os torna bastante desintegrados. Eles são considerados pelos estabelecidos como marginais, sujos e principalmente desordeiros. A estigmatização, afirmam os autores, é o meio mais eficaz pelo qual os estabelecidos conseguem fazer com que os outsiders interiorizem esse sentimento de inferioridade. Goffman define o estigma como “um atributo profundamente depreciativo” (GOFFMAN, 2008, p. 13).

Esse “favoritismo fora do grupo” surge inclusive nas partidas de futebol disputadas entre os bolivianos. As controvérsias durante o jogo são tantas que eles precisam de um árbitro para resolvê-las. Mas se esse árbitro for um boliviano, sua autoridade jamais será respeitada pelos times que demandam a controvérsia. Entretanto, a autoridade exercida por um árbitro brasileiro é inquestionável, como afirma este entrevistado:

Há quatro anos, conheci eles [os bolivianos], devido a amigos, foram conhecendo, eles precisavam de arbitragem, eles tentavam brasileiros e não conseguiam, até que eu me encaixei. Em 2011, eu comecei a arbitrar aqui. E aí, antes eram 20, 30 times que tinha aqui. Agora se vê, tem 10, 12 times só. E há quatro anos eu faço esse projeto com eles. Que eles têm um problema entre eles, assim, eu vou dizer, questão do futebol. Se tem um boliviano apitando contra eles, com eles, o que que acontece. Por falar o mesmo idioma, tudo, por mais que o rapaz apite direito, eles questionam tudo. E o brasileiro não, sê vê lá, eu apito, eles nem “tum”, acabou, morre o assunto ali. Eles não ficam debatendo por eu não falar a língua deles, entendeu. Então, eles têm esse problema com eles, se [supondo que] ele conhece você, você é boliviano; e eu sou boliviano e estou apitando, então dou motivo [para discórdia]; é igual brasileiro com brasileiro. Se você é brasileiro e você está apitando jogo de brasileiro, vai reclamar, vai xingar, vai fazer isso, vai fazer aquilo, coisa que eles já não fazem comigo. Eles andam na linha, porque quando [eles] começam a falar [com] o tom alto de voz, [eu] já abaixa a voz e eles abaixam, entendeu? (Daniel, brasileiro, árbitro de futebol dos jogos entre times bolivianos).

Por Daniel ser um estrangeiro para os bolivianos, ele teria uma visão mais objetiva dos fatos. Essa “objetividade” já foi descrita por um autor da seguinte maneira:

A objetividade do estrangeiro é outra expressão desta constelação. O estrangeiro não está submetido a componentes nem a tendências peculiares do grupo e, em consequência disso, aproxima-se com a atitude específica de “objetividade”. Mas objetividade não envolve simplesmente passividade e afastamento; é uma estrutura particular composta de distância e proximidade, indiferença e envolvimento. Refiro-me à discussão (no capítulo “Superordenação e Subordinação”) sobre as posições dominantes da pessoa que é um estrangeiro no grupo; seu exemplo mais típico encontra-se na prática daquelas cidades italianas de requisitar seus juízes de fora, porque nenhum natural da cidade estava livre do enredamento dos interesses familiares e partidários. (SIMMEL, 1983, p. 184; grifos colocados).

Essa autoridade de que é investido o brasileiro neste caso, no entanto, não remete apenas à “objetividade” do estrangeiro (SIMMEL, 1983), mas também à diferença de poder entre o grupo dos bolivianos e dos brasileiros (BAENINGER; SIMAI, 2010) ou, de uma forma conceitual, entre os estabelecidos e os outsiders (ELIAS; SCOTSON, 2000).

Portanto, o “favoritismo fora do grupo” (BAENINGER; SIMAI, 2010) pode ser considerado uma estratégia de ascensão social do boliviano no plano individual, mas nunca no plano coletivo. Esse fenômeno foi notado não apenas no discurso dos bolivianos, mas também na análise de sua trajetória habitacional em São Paulo.

A SOCIABILIDADE NOS BAIRROS DO BRÁS E DO GRAJAÚ

O distrito do Brás, situado na região central da cidade, na direção leste do município, foi, desde seu início, bairro de características populares, de uso misto de moradias voltadas às classes trabalhadoras, pequenas indústrias, comércio e serviços. Recebeu massivas levas de imigrantes italianos, espanhóis, nos inícios do século XX, permanecendo com tais características até a atualidade, agora com a presença de novos imigrantes como bolivianos, coreanos, haitianos e outros (VÉRAS, 2003a). Em 2010, de acordo com dados do IBGE, sua população era de 29.365 mil moradores, com densidade de 8.361 habitantes por km².

O distrito do Grajaú, subprefeitura de Capela do Socorro, é o mais populoso dessa região, com 360.790 moradores, em 2010, segundo dados do IBGE, com a densidade de 3.922 habitantes por km². Situa-se nos limites da cidade de São Paulo, na periferia sul, a 26 quilômetros distante da Praça da Sé, marco central paulistano, limitando-se com os vizinhos municípios de Diadema e São Bernardo, região do chamado ABC paulista. A região abriga inúmeras favelas (a subprefeitura de Capela do Socorro conta 176 aglomerados, a maioria no Grajaú) e se caracteriza pela precariedade das edificações e residentes de baixa renda. (INFOCIDADE, 2016). Notou-se, ao longo da pesquisa, que os bolivianos com maior tempo de permanência no país preferiam deixar os bairros com maior concentração de compatriotas (como o Brás), para residirem em bairros com menor concentração de bolivianos (como o Grajaú). Afirmam esses entrevistados que o fato de existirem muitos bolivianos no Brás faz com que sofram mais com estereótipos e preconceitos do que em bairros onde existem poucos bolivianos. Além disso, os brasileiros que vivem no Brás culpam os bolivianos de estarem tomando o lugar dos brasileiros nas escolas e nos postos de saúde, o que não foi constatado no Grajaú, por exemplo. Segue uma fala de um casal de bolivianos entrevistados que ilustra bem este fenômeno:

Pesquisador: Tá certo. Quais são as vantagens que você acha daqui [do bairro Jardim Belcito, no Grajaú]?

Marido da entrevistada: A tranquilidade.

Entrevistada: Minha tranquilidade, meu sossego, que eu tenho aqui no bairro, que é ali no Jardim Belcito. É, né, onde a gente mora, porque no centro você acha muita discriminação, porque (...)

Marido da entrevistada: pra nós estrangeiros.

Entrevistada: Porque tem muito boliviano e o brasileiro já está enjoado de nós, né, está. Então, quando você chega lá no centro, você pede assim pra emprestar uma caneta, pede um favor, ninguém faz logo pra você. Aqui, você vai, você entra e ele para [o que está fazendo para] te indicar onde fica o endereço que você está procurando. A coisa que você está a fazer, ele para de fazer suas coisas para te ajudar. (Tamires, boliviana, moradora do Grajaú).

No entender desses entrevistados, enquanto nas periferias as relações são mais pessoalizadas, no centro elas são mais impessoais. Eles se referem à periferia como um lugar tranquilo, onde são vistos mais por sua singularidade do que pelos estereótipos. Já no centro, onde há maior concentração de bolivianos e maior impessoalidade, eles são referidos mais por estereótipos do que por sua singularidade. O estereótipo “nasce de uma caracterização grosseira, rápida e indiscriminada do grupo estranho; este é dito em poucas palavras, é reduzido a poucas qualidades que são ditas como essenciais.” (ALBUQUERQUE JÚNIOR, 2012, p. 13).

Além disso, residir nas periferias é um fator que contribui para a maior interação dos bolivianos com os brasileiros. Esse fenômeno - de que as periferias favorecem a sociabilidade entre grupos heterogêneos - já foi notado por dois estudiosos americanos, Albert e Nee:

Os autores [Albert e Nee] mostram, por exemplo, como, ao longo do tempo, a decisão de passar a residir em zonas mais afastadas do centro da cidade, favoreceu o relacionamento, como vizinhos, de grupos de origens étnicas e raciais diversas e, por consequência, a assimilação. (TRUZZI, 2012, p. 548).

Enquanto nas periferias há esse fenômeno de maior contato entre grupos sociais heterogêneos, no centro parece haver o processo contrário, ou seja, favorecimento dos grupos sociais permanecerem em contato com grupos homogêneos, levando-os a perpetuarem-se nessa “zona de conforto” e em uma “celebração do gueto”:

Aquilo que precisamente se perde com essa celebração [do gueto] é a ideia de que as pessoas só podem crescer através de processos de encontro com o desconhecido. Coisas e pessoas que são estranhas podem perturbar ideias familiares e verdades estabelecidas; o terreno não familiar tem uma função positiva na vida de um ser humano. Essa função é a de acostumar o ser humano a correr riscos, [...] [a] enriquecer as suas percepções, a sua experiência, e de aprender a mais valiosa de todas as lições humanas: a habilidade para colocar em questão as condições já estabelecidas de sua vida. (SENNET, 1988, p. 359-60, grifos colocados).

No entanto, essa interpretação merece ser tratada em sua ambiguidade, pois a moradia no Brás exemplifica que, se de um lado, há o apoio de conterrâneos como ponte territorial, “zona de conforto”, de outro ângulo, ilustra que acentuou a rejeição, o contato categórico com o “diferente”, ou seja, permitiu vislumbrar a heterogeneidade de dois grupos, os nacionais e os estrangeiros.

Além disso, vale dizer que estas características para centro/periferia foram aqui utilizados como tipos ideais, utilizados como recurso explicativo. A realidade empírica, entretanto, escapa dessa tipologia, apresentando-se multifacetada. Com isso quer-se introduzir o fato de que foi constatada uma exceção para a regra colocada acima, o de uma boliviana que se sentiu demasiadamente exposta quando viveu em um bairro periférico (Cídade Líder, na Zona Leste):

Porque acho que o brasileiro já acostumou um pouco com a fisionomia do boliviano [no centro]. Tem um pouquinho mais de (...). Não liga muito mais. Quando você está um pouco longe, que eu morei também em bairro longe, você parece que chegou, sei lá, um fenômeno lá. (...) Na Cidade Líder, perto do Parque do Carmo. (...) Não, que eu nunca mais voltei. Eu morei lá faz uns 10 anos. E foi pouco tempo também. Tanto que eu era a única boliviana lá. (...) Era oficina de costura de um brasileiro. A gente foi morar na garagem dele. Então, faz muito tempo lá. Mas, assim, dava para ver a gente se preocupando quando um estrangeiro está perto. Tanto que os vizinhos daquela minha patroa brasileira vinham a todo tempo fazer pesquisa do colégio, querer saber de nossa vida, que nem quando você vai num circo e quer que os palhaços se mexam, vem a escutar o jeito de falar castelhano, um sotaque engraçado e é uma coisa que a mim me incomodou muito. Que nessa oportunidade eu não sabia falar um piu de português. E era muito difícil pra mim. Muito. (Maria, Boliviana, modelista, há 15 anos no país, moradora do Brás).

Como se pode notar esta boliviana sentiu-se incomodada por uma curiosidade por demais explícita e invasiva por parte dos moradores daquela localidade, desacostumados que estavam com a presença de imigrantes com fenótipo indígena. Ela relata não sentir esse incômodo nos bairros centrais, onde os moradores frequentemente convivem com imigrantes de origem boliviana, de modo que já estão embotados frente a essa diversidade social, tendo inclusive desenvolvido uma “atitude blasé” (SIMMEL, 1976), como forma de se preservar frente a estas diferenças. Com tantos estímulos nervosos e diferenças culturais e sociais pululando, os indivíduos se veem obrigados a preservar a sua personalidade por meio da reserva (SIMMEL, 1976).

A justificação de personalidades e modos de vida divergentes tende a produzir uma perspectiva relativista e um senso de tolerância de diferenças que poderão ser encaradas como pré-requisitos para a racionalidade e que conduzem à secularização da vida. (WIRTH, 1976, p. 103-104, grifo nosso).

Assim, para a boliviana Maria, é preferível viver em um ambiente de “tolerância negativa”, onde “os indivíduos são impelidos a retrair-se perante o confronto directo das suas diferenças com os outros” (FORTUNA; SILVA, 2005, p. 454). É possível perceber que no centro os moradores não manifestam essa curiosidade invasiva pelos bolivianos. Entretanto, eles praticam uma “tolerância negativa” e estigmatizam os bolivianos a partir de estereótipos e generalizações. As ofensas, quando ocorrem, são voltadas a todo o grupo, em voz alta, mas nunca dirigidas para um boliviano em especial (o que não impede que os comentários ofensivos sejam expressos em locais públicos, na presença de imigrantes bolivianos que, em sua maioria, fingem que não entendem os desaforos). Veja como exemplo a seguinte reação de um boliviano frente a essas ofensas ditas em voz alta, mas de forma impessoal, no bairro do Brás:

Na rua sempre existe um preconceito. Prefiro evitar. Falam mal de mim. Finjo que não escuto e às vezes quando vêm brigar comigo eu finjo que não entendo português. Então, ficam na deles. (Jairo, boliviano, estudante universitário, professor de informática e dono de uma oficina de costura).

Maria, entretanto, diz que não suporta esse tipo de comentário e prefere discutir com a pessoa que faz esse tipo de discurso:

A maioria dos brasileiros pensa que os bolivianos não sabem falar o português, porque a gente fica quieta, fica calada, então eles começam a falar em português e bem na cara da gente. Ah, que o boliviano isso, o boliviano aquilo. Que porque não está em seu país e que são porcos, que são bêbados, que são baixinhos, que são estranhos, que são moreninhos, então ai você pega, vai pegando as coisas,vai escutando. Antigamente eu não entendia, como eu mal fala o português e aturava, aguentava, hoje em dia não. Hoje em dia, quando eles estão começando, para eles não continuarem me magoando ou pra não chegar mais longe eu falo, “não, peraí, que estou aqui, não faça isso que estou te entendendo, então me respeite.” Se você não gosta de algum boliviano, pode falar de algum estrangeiro, mas não fala “os bolivianos”. (Maria, boliviana, modelista, há 15 anos no país, moradora do Brás).

Importante notar como o mecanismo de defesa de Maria perante a discriminação impessoal é pedir que não se generalize o preconceito, que não se fale “dos bolivianos”, mas que se fale de algum estrangeiro em particular, que se pessoalize essa reclamação. Isso é um indicativo de que essa “tolerância negativa” pode sim incomodar aos bolivianos, demonstrando um desejo de ser reconhecido enquanto uma pessoa (por sua singularidade) e não por estereótipos. Esse incômodo é o principal motivo que os leva às periferias (no que se refere à dimensão da sociabilidade), pois ali são mais reconhecidos pelas pessoas que são do que pelos estereótipos.

Jairo, por sua vez, prefere fingir que não é com ele e acaba reforçando a impessoalidade que é a principal característica do estereótipo. Maria afirmava que “A maioria dos brasileiros pensa que os bolivianos não sabem falar o português, porque a gente fica quieta, fica calada, então eles começam a falar em português e bem na cara da gente.” Ora, esta é exatamente a reação de Jairo. Segundo Maria, essa passividade de Jairo é justamente o que torna o desaforo dos brasileiros ainda mais explícito e intolerável.

IDENTIDADE E ALTERIDADE NAS FESTAS BOLIVIANAS NO BRÁS

Tanto a feira na Praça Kantuta quanto na Rua Coimbra são importantes espaços de sociabilidade dos bolivianos. Na primeira, por exemplo, encontram-se comidas típicas, artesanato, cabeleireiros, CDs de música, tarjetas para ligar para a família na Bolívia, empresas que oferecem serviços de remessas, passagens de avião, festas típicas, um locutor que anima a feira, música boliviana, pastores, etc. É um espaço frequentado por milhares de pessoas, não só bolivianos, mas também brasileiros curiosos por essa cultura.

Há a presença também de festas em datas comemorativas nestas feiras, ocasião nas quais grupos folclóricos costumam apresentar a diablada, uma dança típica boliviana. O Grupo Folclórico Kantuta é um desses grupos que ensaiam todas as semanas com o intuito de se apresentarem no carnaval boliviano. Em visita de campo junto a este grupo, deu-se a revelar que as roupas que eles usam são bordadas na Bolívia e custam cerca de 400 dólares cada para serem trazidas de lá. As bandas que se apresentam com esses grupos também são contratadas da própria Bolívia, assim como as roupas usadas pelos dançarinos. Esse é um importante meio de afirmação cultural e manutenção da cultura de origem destes imigrados.


Figura 1
Jovens do Grupo Folclórico Kantuta Bolívia ensaiam dança folclórica boliviana

Além disso, há também festas devocionais, como é o caso das Alasitas. Uma entrevistada explica a festa da seguinte maneira:

As Alasitas são uma crença. Alasitas significa, como te falo, comprar. E Ekeko, Ekeko é um personagem que é muito rico, na Bolívia. Ele existiu há muitos anos atrás. Então, a gente faz aquela festa das Alasitas. Que é muito grande tanto aqui, quanto na Bolívia. Porque se leva a fé. A fé da pessoa. Você quer ter, digamos um carro. Você compra um carro em miniatura e, se você tiver fé - isso já aconteceu comigo, com muito (...) - você consegue o carro. Não sei como, mas consegue. Carro, tudo documentado, mas porque você leva a fé. Então, isso se faz cada dia 24 de janeiro. Se você me pergunta se eu já comprei alguma coisa, as Alasitas em miniatura, isso eu já comprei. Eu já comprei muito. Casinha, tudo. Comprei restaurante. Pela fé (...) todas essas coisas. (Rodriguez, boliviano, dono de um restaurante no bairro do Brás).

As festas são objeto de consolidação dos estereótipos e concentram problemas quanto à avaliação dos bolivianos no bairro. Consistem em outra diferença fundamental entre o Brás e o Grajaú, onde não acontecem tais festas. No Brás os bolivianos ali aglomerados são conhecidos por serem baderneiros, ou seja, fazem festas com muita bebida. Os vizinhos os acusam de trazer a criminalidade para o bairro, de fazerem suas necessidades fisiológicas nas ruas, de fazerem muito barulho, entre outros:

Tanto que aqui, aqui que tem a feira sábado e domingo. Após a feira, há muita discussão, bebidas, porque eles trabalham muito, mas também eles gastam muito com bebida. É o único meio de diversão que eles têm é a bebida. Então, eles varam a madrugada nessa rua até de manhã, na bebida. Gastam, compram, mas a qualidade de vida deles é muito inferior, porque o que eles ganham eles gastam. Tudo no bar, no bar. (...) E há outro teor de bebida lá também, é a mesma coisa ela falou [sua amiga boliviana]. Como a gente vê aqui é lá, ela falou. Tudo bem comer na rua, beber, eles são trabalhadores. Mas pra beber eles são muito, alto teor de bebida. Muito, e muita briga. Eles brigam, se matam entre eles. Já houve casos aqui de achar um morto, assim, sabe? Eles mesmos se matam, se esfaqueiam, muita guerra entre eles mesmos. Por causa de quê? Da bebida. (Denise, comerciante brasileira no Brás).

Bom, vou falar aqui da feira, que é o que eu conheço, né? Que de dia de sábado essa feira é... Começa por volta da uma, duas da tarde e... Não tem hora pra acabar, e... Depois que passa das sete, oito horas, aqui é uma pouca vergonha e... Eles transam aqui na rua. O horário que for, eles tiram pra fora, mijam na rua na frente de qualquer pessoa, e... Ficam muito bêbados, brigam muito, de facada. Isso é constante, toda semana, e... Que mais... Depois que passa esse horário, as crianças, não tenho noção da idade, mas aparenta serem crianças de sete, oito anos, começam a roubar eles aqui de faca, crianças brasileiras, né? Então, aqui eu acho uma pouca vergonha, aqui. (Eliza, vizinha, há dez anos no bairro). É assim moço. Se for assaltado, se pelo menos reage, eles não conseguem agir porque eles tão sempre bêbados. Passa aqui pra fazer essa pesquisa amanhã à tarde. À tarde não, amanhã à noite. Nossa, já vi nego pegar boliviano aqui dentro, falando que era pra assaltar não, pegar aqui dentro. Mas também os caras vivem bêbado. Cê fala pro cara: levanta e dá a carteira, o cara dá e continua dormindo. (Gabriel, vizinho, há três anos no bairro).

É a sujeira que a rua tem. Eles fazem comida na rua. Outra coisa, eles são assaltados constantemente pelos brasileiros, porque aqui se formou uma quadrilha que roubam esses caras. Eles de noite bebem demais porque eles não têm outro divertimento. E nessa... Sábados de noite eles ficam aí enchendo a cara, depois sai na rua e deixam eles pelados. Sem roupa nenhuma. Isso é o mal. Eles trouxeram os bandidos para cá. Porque os bandidos sabem com quem rouba. E não pode gritar nada, porque eles até agora eles não tiveram, assim, liberdade, como qualquer brasileiro. Agora sim, depois que o Lula mandou naturalizar essa gente. Agora, eles tão ficando os donos da rua. (Marcondes, Vizinho brasileiro do Brás, aposentado, há 30 anos no bairro).

Ai meu Deus, todo dia... Todo dia que eles fazem a maior farra, bagunçam e brigam, quebram garrafas, bebem, se jogam no chão aqui. Vêm outros, talvez brasileiros, sei lá, roubam eles. Eles tiram anel. É uma miséria. Não dá, depois das seis horas, não dá pra gente abrir o portão sem... Quando já é sábado, domingo, é uma pouca vergonha. Fizeram banheiro aqui nessa costa da... Fizeram um banheiro porque eles vão aí no restaurante ou nos bailes, que tem dois salões de bailes e cobram um real para ocupar. Aí vem todo mundo aqui. Às vezes tem seis, sete, dez homens tudo encostado aí na parede. E que é uma vergonha. Eles não respeitam mulher, não respeitam criança, não respeitam ninguém. E a sujeira que causa. (Iara, vizinha, há 45 anos no bairro).

Esses são exemplos de vizinhos que reclamam dos bolivianos no bairro do Brás. Isso faz com que um boliviano que more no Brás, mesmo que não frequente essas festas, acabe sendo taxado como “desordeiro”, assim como os demais compatriotas que frequentam as festas. Não importa que seja uma minoria que adote esses comportamentos indesejáveis descritos pelos vizinhos. Como consequência disso, os próprios bolivianos que querem se integrar à sociedade receptora veem esses estigmas como uma barreira e, então, procuram se dissociar desses estigmas, afirmando que não são como os “bolivianos desordeiros”:

Eu entendo eles [os vizinhos brasileiros], em certa parte. Algumas vezes, como eu disse, os bolivianos são bem mal vistos. Eles bebem, enchem a cara e ficam ali... às vezes até se comportam como mendigo. Fazem suas necessidades na rua. Ficam jogados. Perto da [rua] Coimbra existe um exemplo pelo menos. É uma rua bem suja. Eu sendo boliviano, eu não gosto de ir lá. Mas o pessoal que vem pra cá, a maioria, até um ano atrás mais ou menos, era maioria tudo do interior da Bolívia. Então, o pessoal não respeita mesmo. E, em certa parte eu entendo que sejam preconceituosos. (Jairo, boliviano, estudante universitário, professor de informática e dono de uma oficina de costura).

Os próprios bolivianos afirmam compreender a estigmatização de que seu grupo é alvo por parte dos brasileiros. Eles afirmam não serem como esses bolivianos que se comportam mal, todos eles provindos “do interior da Bolívia”, segundo palavras do entrevistado. Como consequência, muitos deles acabam escolhendo residir em bairros afastados, onde o boliviano não é associado a esse tipo de comportamento, pois não existem festas ou feiras típicas:

Boliviano é bom ter amigo. Mas os costumes dos bolivianos não são muito saudáveis. Você vai lá no centro, você encontra muita (...). A cultura dos bolivianos é a bebida. E eu não concordo muito com isso. A bebida destrói a família, o lugar, o organismo. O meu pai morreu por causa disso, consequência da bebida. Então, eu não tenho muito gosto por isso. Beber socialmente, uma ou duas cervejas. Mas os bolivianos têm o costume de beber até cair. Isso não é bom para a vizinhança. Na minha rua eu sou respeitada. Se tem outra pessoa fazendo o contrário de mim, aí não (...). Eles bebem, eles fazem barulho, desrespeitam as pessoas. E aí você fica mal [perante os olhos da vizinhança], junto com eles [os bolivianos baderneiros]. Generaliza. Já não é só eles. É você também. (...) A gente não vê isso [no Grajaú]. Lá [no centro] tem muitos bairros, muitas festas, você vê mais isso. Aqui não muito. Aqui só tem o futebol. E só no final de semana. Então você não percebe muito. Mas lá no centro é todos os dias. (Berenice, boliviana, costureira, há 17 anos no país, moradora do Grajaú)

Como se pode notar na fala dessa entrevistada, as práticas de beber muito e desrespeitar as pessoas só acontecem no Brás. No Grajaú, onde Berenice mora, não ocorrem festas. Por esse motivo, ela não fica mal perante a vizinhança. No entanto, caso algum vizinho boliviano fizesse baderna, provavelmente ela também poderia ser discriminada perante a vizinhança, como ocorre com aqueles bolivianos que sofrem preconceito, ainda que não frequentem as festas no bairro do Brás (ou frequentam, mas não adotam os comportamentos descritos pela vizinhança).

CONCLUSÃO

Como conclusões, ainda que relativas aos aspectos e limites empíricos enfocados, e parciais, portanto, tem-se que muitos bolivianos procuram se dissociar dos estigmas dirigidos ao seu grupo nos bairros centrais, adotando o discurso do “favoritismo fora do grupo” (BAENINGER; SIMAI, 2010). Mas alguns imigrantes vão além da adoção desse discurso e decidem residir em bairros mais afastados, onde os bolivianos, por serem em menor número, não são mal vistos pela vizinhança, como é o caso do Grajaú.

Esses imigrados moradores do Grajaú relatam mais tranquilidade e são mais vistos por sua singularidade do que pelos estereótipos. Já no Brás ocorre o processo oposto, eles são vistos mais por seu pertencimento a um grupo (e aqui é importante também o fenótipo como um marcador do estigma) do que por sua singularidade. Entretanto, o preconceito no Brás é impessoal e expresso de forma generalizada. Já nas periferias, como ocorreu com uma entrevistada, pode haver uma curiosidade muito mais pessoalizada pela diferença que o boliviano representa, pois ali ainda não vivem muitos desses estrangeiros.

Assim, não existe um lugar melhor para os bolivianos viverem, pois isso depende do que cada ator social entende por isso. Mas a pesquisa indica uma correlação significativa entre a presença de bolivianos no Grajaú como tentativa de se distanciar dos estigmas associados aos bolivianos de um bairro central, como o Brás. Por outro lado, deve-se registrar que as periferias também se constituem lugares de contingência, seus moradores, de forma geral, submetidos a discriminações, via de regra, por representarem a pobreza e a precariedade. (VÉRAS, 2016)

Assim, o território que abriga concentração desses imigrados, como ponte de acolhimento entre conterrâneos, que lhes oferece oportunidade de trabalho, como o Brás, paradoxalmente os distingue por discriminação, expondo-os aos comentários de brasileiros e mesmo de outros bolivianos, a rejeitarem hábitos e costumes diferentes. Enquanto na periferia, como se disse, lugar marcado pelas distâncias sociais, em certa segregação motivada pelas leis usuais do mercado imobiliário que afasta para tais regiões desequipadas os segmentos de baixa renda, a heterogeneidade étnica, cultural, de ocupação de seus moradores parece ser mais acolhedora, pela fala dos entrevistados.

Portanto, são estratégias individuais de integração que não apontam para uma “mudança de fronteiras” entre os bolivianos (TRUZZI, 2012), processo esse que ocorre quando um grupo deixa de ser outsider para se tornar estabelecido (ELIAS; SCOTSON, 2000), ou seja, é um processo lento e duradouro, que ocorre ao longo das gerações.

Essa rejeição dos estigmas associados aos bolivianos parece apontar mais para um “cruzamento de fronteiras” (TRUZZI, 2012), na qual a assimilação que ocorre é a nível individual, sem alterar a estrutura étnica e as relações de poder entre os grupos.

A prevalecer essa estratégia de inserção do boliviano na sociedade receptora, apenas se vislumbrará uma “assimilação segmentada”, que “enfatiza a consolidação de um determinado grupo como minoria prejudicada e marginal, impossibilitada de ascender socialmente” (TRUZZI, 2012, p. 547).

Material suplementar
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Notas
Notas
1 A diferença entre as fábricas tradicionais e as confecções não é apenas o seu tamanho quanto “o fato de a oficina ser subcontratada, por uma loja, por uma magazine, por uma grande marca.” (SOUCHAUD, 2011, p. 72).
2 O primeiro artigo produzido sobre a imigração boliviana em São Paulo foi publicado na revista Travessia por Sidney Antônio da Silva (SILVA, 1995a). Ele abordou as vivências desses imigrantes e os conflitos com a população local. Então, o autor realizou uma dissertação de mestrado sobre o assunto (SILVA, 1997) na qual analisou desde a diáspora desses imigrantes até o seu cotidiano, suas estratégias de sobrevivência e o papel da cultura em suas trajetórias. Em outros trabalhos ele aborda o tema da intolerância e do preconceito (SILVA, 1998a e SILVA, 2005b), da mobilidade econômica e social desses imigrantes (SILVA, 1998b; SILVA, 2006), dos processos de formação de uma identidade cultural (SILVA, 2005a, SILVA, 2005c; SILVA, 2007) e de sua religiosidade, tradições e festas (SILVA, 2003). Embora suas pesquisas tenham abrangido grande diversidade de assuntos, permaneceram temas que foram mais explorados por outros pesquisadores (BAENINGER, 2012; SOUCHAUD, 2011; XAVIER, 2010).




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