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Por uma história e método da recepção filosófica da psicanálise: esboço de um programa de pesquisa[1]
For a history and method of the philosophical reception of psychoanalysis: research program sketch
Revista de Filosofía Aurora, vol. 33, núm. 58, pp. 145-168, 2021
Pontifícia Universidade Católica do Paraná

Dossiê


Recepción: 30 Noviembre 2020

Aprobación: 24 Febrero 2021

DOI: https://doi.org/10.7213/1980-5934.33.058.DS08

Resumo: O artigo apresenta um esboço de programa de pesquisa sobre a recepção filosófica da psicanálise, baseado em uma dupla proposta: 1) a formulação de uma história dessa recepção, 2) a possibilidade de extrair dessa história, um método. A argumentação se desenvolve em duas direções: i) na caracterização geral das maiores tradições de recepção filosófica da psicanálise — as tradições alemã, anglo-saxã e francesa —, seguida da análise específica dos trabalhos da filosofia brasileira da psicanálise e do freudismo filosófico francês; ii) na discussão de questões metodológicas: a) de história, b) de método e c) de locus, que constituem o problema de saber se uma história da recepção filosófica da psicanálise pode nos fornecer, ou não, um novo método de pensamento. A principal conclusão do trabalho é a de que um programa de pesquisa sobre a recepção filosófica da psicanálise, concebido nos termos aqui propostos – história e método –, deve ser levado adiante especialmente pela recepção filosófica brasileira da psicanálise, isto é, tudo indica que é do conjunto de pesquisas realizadas no Brasil que poderá surgir uma “história e método da recepção filosófica da psicanálise”.

Palavras-chave: História da recepção, Filosofia, Psicanálise.

Abstract: The article presents a research program sketch about the philosophical reception of psychoanalysis based on a double proposal: 1) the formulation of a history from this reception, 2) the possibility of extracting from this history, a method. The argumentation develops into two directions: i) in the general characterization of the greatest traditions of philosophical reception of psychoanalysis - the German, Anglo-saxon, and French traditions-, followed by the specific analysis of the works of the Brazilian philosophy of psychoanalysis and of the French philosophical freudism, ii) in the discussion of methodological issues: a) of history, b) of method and c) of “locus”, which constitute the problem of knowing whether a history of the philosophical reception of psychoanalysis can provide us, or not, a new method of thinking. The main conclusion of the work is that a research program about the philosophical of psychoanalysis, conceived in the terms proposed here - history and method -, must be carried on specially for the Brazilian philosophical reception of psychoanalysis, that is, apparently it is from the set of researches performed in Brazil that may arise a "history and method of the philosophical reception of psychoanalysis".

Keywords: History of reception, Philosophy, Psychoanalysis.

Introdução



... E que se consagre enfim a um trabalho sério de crítica histórico-teórica para identificar e definir, nos conceitos que Freud teve que usar, o verdadeiro “aporte epistemológico” existente entre estes conceitos e o conteúdo que eles pensam [...] é preciso uma história epistemológica da psicanálise e uma história social (e ideológica) do mundo analítico.

Fuente: (ALTHUSSER, 1993, p. 23-24; 45).

A interlocução entre filosofia e psicanálise já está bastante consolidada nas três principais tradições do pensamento filosófico contemporâneo — tradições alemã, anglo-saxã e francesa —, mas é notadamente no “freudismo filosófico francês”, de um lado, e na “filosofia brasileira da psicanálise”, de outro, que os trabalhos dessa interlocução concentram e impõem significativas questões de história e método. E, no entanto, desde o âmbito geral da “sempre problemática” recepção filosófica da psicanálise[3], essas questões, embora não completamente ignoradas, jamais foram devidamente constituídas como objeto central de um programa de pesquisa.

No que concerne à tradição do freudismo filosófico francês, que aliás conta já com quase um século de produtiva existência, sabemos que não há mais que algumas poucas e dispersas análises que tratam objetivamente do tema[4]. Sabemos igualmente que, no Brasil, com exceção do importante ensaio de Monzani, Discurso filosófico e discurso psicanalítico: balanços e perspectivas[5], só muito recentemente, após quase cinco décadas de pesquisas filosóficas sistemáticas sobre a psicanálise, é que o assunto parece receber a devida atenção que merece[6].

Falta então à recepção filosófica da psicanálise realizar duas grandes tarefas: 1) contar sua história e 2) demonstrar seu método. Gostaria de fornecer aqui um “esboço de programa de pesquisa” que pode auxiliar na realização futura dessas duas tarefas[7].

Dividirei a apresentação deste “esboço” em dois tópicos: 1) Questões de história, 2) Questões de método. No primeiro tópico apresentarei breve consideração geral acerca das maiores tradições de recepção filosófica da psicanálise — as tradições alemã, anglo-saxã e francesa —, seguida de discussão mais detalhada acerca dos primeiros trabalhos da filosofia brasileira da psicanálise e do freudismo filosófico francês. Procurarei mostrar, em cada caso, a partir de alguns elementos históricos, certa caracterização da recepção filosófica da psicanálise, o que julgo ser suficiente para ilustrar as questões de história com as quais um programa de pesquisa da recepção filosófica da psicanálise deve se confrontar. No segundo tópico apresentarei questões de método que emergem do problema maior de saber qual método novo de pensamento é possível extrair de uma história da recepção filosófica da psicanálise. Abordarei aí três questões metodológicas específicas: 1) questões de história, 2) questões de método, 3) questões de locus. Ao fim desse percurso, espero ver esboçado um programa de pesquisa que seja capaz de apresentar a importância e os meios mediante os quais torna-se possível construir uma história e extrair um método da recepção filosófica da psicanálise.

1. Questões de história

1.1. Considerações gerais

Uma caracterização inicial da recepção filosófica da psicanálise feita pelas principais tradições de pensamento da filosofia contemporânea — tradições alemã, anglo-saxã e francesa — pode ser descrita, ainda que de maneira extremamente simples, conforme a análise a seguir.

A filosofia alemã concebeu a psicanálise, de modo geral, como uma espécie de “filosofia insuficiente”, que precisaria, por isso mesmo, ser constantemente complementada e reorientada pela reflexão filosófica, caso em que a recepção filosófica da psicanálise se caracteriza, nessa tradição, principalmente pelo fato de subjulgar a psicanálise à permanente correção filosófica.

A filosofia anglo-saxã, por sua vez, dedicou-se de forma mais expressiva ao famigerado problema da cientificidade da psicanálise, fazendo decorrer daí uma recepção filosófica de ordem acentuadamente epistemológica e, nesse caso, a relação da filosofia com a psicanálise se caracteriza, sobretudo, pelo viés da crítica científica para a qual, na maior parte das vezes, a invenção freudiana nada teria a contribuir.

Já a filosofia francesa, veremos em detalhes adiante, desenvolveu com a psicanálise uma relação bem mais distinta e complexa. Além de ser a primeira, dentre as grandes tradições do pensamento filosófico contemporâneo, a confrontar-se significativamente com a psicanálise, ela o fez por meio de tendências bem mais variadas, amplas e flexíveis: dividiu com a filosofia alemã, mas com ressalvas importantes, a tese da “insuficiência filosófica” do freudismo e divergiu completamente da filosofia anglo-saxã a respeito do tratamento epistemológico dado ao estatuto científico da psicanálise.

Claro, a simplicidade das descrições acima não significa ignorar as sérias dificuldades de uma sistematização dessa natureza. Sabemos que na tradição alemã a recepção filosófica da psicanálise terá, pelo menos, três tendências representativas: 1) a do neokantismo de Karl Jaspers, por exemplo, de menor repercussão geral, porém, bastante crítica (JASPERS, 1953); 2) a da fenomenologia de inspiração heideggeriana, que encontrará no psiquiatra suíço Ludwig Binswanger, talvez, a sua expressão mais emblemática[8]; e, 3) a do marxismo, revisitado pela Escola de Frankfurt, responsável por consolidar a famosa e ampla tradição de estudos freudomarxistas[9].

Sabemos igualmente que na recepção anglo-saxã, antes mesmo da predominante tendência epistemológica[10], existe um interesse bem mais amplo e diverso pela psicanálise[11], além da multifacetada tendência analítica, oriunda da “moderna filosofia da linguagem”, comandada sobretudo pelos trabalhos de Wittgenstein, quem também não se furtou ao debate com Freud[12]. Seguramente, isso amplia bastante o caráter “estritamente epistemológico” da recepção filosófica da psicanálise pela tradição anglo-saxã, na medida em que se pode encontrar nela uma tematização robusta, não apenas a respeito dos critérios de cientificidade da invenção freudiana, mas também do caráter geral da racionalidade da psicanálise, o que pode ser verificado, por exemplo, por meio das mais diversas incursões, seja da chamada “filosofia pragmática”[13], seja do vasto campo da “filosofia da mente”[14].

Por fim, já dissemos, não desconhecemos a considerável variedade e complexidade das leituras filosóficas da psicanálise realizadas pela recepção francesa: ora, Freud é “quase um filósofo francês”![15]. Uma fórmula retórica, que sintetiza com clareza imediata quão intensa e profunda é a presença da psicanálise no conjunto do discurso filosófico dessa tradição.

Tudo isso, além de relativizar criticamente a caracterização inicial que propusemos, serve especialmente para demonstrar que o tema da recepção filosófica da psicanálise por essas três grandes tradições da filosofia contemporânea é tão extenso, rico e promissor, quanto ainda é pouco explorado.

Com efeito, faltam estudos de concepção geral que comparem com profundidade essas respectivas recepções, trabalhos históricos que rastreiem suas implicações e influências mútuas, que explicitem seus fundamentos filosóficos comuns e caracterizem com pormenores as suas diferenças.

Afinal, o que exatamente explica, por exemplo, o fato de o caráter de insuficiência filosófica da psicanálise ser tão forte na tradição alemã? Por qual razão predomina na tradição anglo-saxã uma recepção, não exclusiva, mas fortemente epistemológica? Por que a tradição francesa é a que demonstra maior adesão filosófica à psicanálise?

Questões como estas, sabemos, são demasiadamente amplas e nos remetem à própria constituição filosófica dessas tradições. Todavia, quero apenas chamar atenção para o fato de que, reunidas assim, em perspectiva de conjunto, em perspectiva histórica, as respostas a essas questões certamente contribuiriam de forma significativa para o esclarecimento das relações destas tradições filosóficas com a psicanálise e vice-versa; bem como, talvez, possam contribuir igualmente para o modo mesmo segundo o qual as compreendemos, a essas tradições, e a própria psicanálise.

Um programa de pesquisa sobre a recepção filosófica da psicanálise deveria, portanto, começar por isto: comparar as tradições alemã, anglo-saxã e francesa, rastrear suas influências mútuas, caracterizar suas respectivas diferenças e, por fim, extrair e levar adiante radicalmente as consequências teóricas que daí resultam.

1.2 Os casos da “filosofia brasileira da psicanálise” e do “freudismo filosófico francês”

Historicamente, no que concerne à “filosofia brasileira da psicanálise”, as publicações na década de oitenta de Freud: a trama dos conceitos[16] e Freud: o movimento de um pensamento[17], ambas resultados de pesquisas filosóficas realizadas na década anterior[18], podem com muita propriedade ser consideradas os primeiros trabalhos sistemáticos do que, mais ou menos duas décadas depois, e daí em diante, se constituiria no Brasil como aquilo que particularmente temos chamado “filosofia da psicanálise”.

Claro, uma série de outros fatores colaboraram para esta constituição. Se quisermos um marco institucional fundador da pesquisa em “filosofia da psicanálise” no Brasil, devemos encontrá-lo no âmbito do CLE/UNICAMP — Centro de lógica, epistemologia e história da ciência da Universidade de Campinas —, já que aí, a partir de 1984, passou a ser ofertado o curso de especialização FFPP — Fundamentos filosóficos da psicologia e da psicanálise.

Segundo Simanke, essa iniciativa foi importante porque:

[...] serviu para congregar em torno do projeto aqueles que trabalhavam na interface entre filosofia e psicanálise na Unicamp e em instituições associadas: Zeljko Loparic – cuja área de pesquisa transitava mais entre Kant e Heidegger, mas que começava então a se interessar por Freud, que foi o primeiro diretor do FFPP; Osmyr Gabbi Jr., que vinha da psicologia, mas que defendera uma tese histórica e filosófica sobre os primórdios da obra freudiana, na psicologia da USP, e que agora estava na filosofia da Unicamp; Monzani, [...] [mencionado acima, e que nesse período já integrava igualmente os quadros da Unicamp]; e Bento Prado Jr., que nesse momento já estava efetivado na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), geograficamente próxima a Campinas e onde em breve surgiria uma pós-graduação stricto sensu em filosofia com uma linha de pesquisa voltada para a psicanálise (SIMANKE, 2014, p. 211).

Há ainda outro fator significativo: no mesmo ano em que foi criado por Bento Prado Jr., o PPGFIL/UFSCar, em 1988, também houve a criação do PPGTP — Programa de Pós-graduação em teoria psicanalítica da UFRJ — Universidade Federal do Rio de Janeiro —, igualmente o primeiro e único dessa natureza no país. Vinculado ao Instituto de psicologia, o Programa também atraiu pesquisas filosóficas sobre a psicanálise, em parte, graças ao fato de a iniciativa ter sido comandada por Garcia-Roza e Joel Birman, ambos de reconhecida formação em filosofia, igualmente pioneiros na divulgação científica das relações entre filosofia e psicanálise no Brasil. A formação filosófica de Birman é, inclusive, oriunda do mesmo período e do mesmo departamento de filosofia, do qual são provenientes Mezan e Monzani. Sua tese de doutorado, Pensamento freudiano e a constituição do saber psicanalítico[19], foi concluída em 1984.

Além disso, nosso trabalho de investigação[20] descobriu que, a rigor, a recepção filosófica brasileira de Freud guarda traços bem anteriores, que datam pelo menos desde a década de trinta. Assim, enquanto A verdade contra Freud, 1933, de Almir de Andrade[21], fazia a psicanálise encontrar aquilo que é, provavelmente, a sua primeira “crítica cultural filosófica” nacional; de 1935 a 1944, Jean Maugüé, um dos primeiros professores de filosofia da “missão francesa” da USP, a incluía no interior da filosofia acadêmica brasileira, onde consequentemente ela encontrava inserção e relevância filosóficas, apesar de também aí sua recepção não ter sido muito calorosa[22]; e, nesse mesmo sentido, também merece destaque o pequeno ensaio filosófico A psicanálise, de 1945, do filósofo polonês Paulo Siwek, que na ocasião lecionava na Universidade Gregoriana de Roma e na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro[23].

Particularmente sobre Almir de Andrade, chama bastante atenção o entusiasmo crítico do intelectual brasileiro em relação à psicanálise. Aluno de Porto-Carreiro, inclusive seu analisando, Andrade teve o seu livro sobre Freud publicado na Espanha apenas um ano depois de sê-lo no Brasil; além disso, traduziu, em 1948, para o português, Freud desmascarado, um pequeno ensaio crítico suíço-alemão, surgido dois anos antes em Zurique, de Emil Ludwig, famoso escritor e biógrafo europeu[24]. A tradução brasileira acompanha longa introdução do tradutor, na qual retoma pontos de sua crítica, reafirmando-a, agora com o auxílio crítico do escritor alemão.

Enfim, se os primeiros trabalhos sistemáticos no campo da “filosofia brasileira da psicanálise” datam das décadas de setenta, oitenta, nosso trabalho de pesquisa descobriu que as relações entre filosofia e psicanálise no Brasil já existiam antes desse período, precisamente, quatro décadas antes. Há, portanto, traços de um passado que talvez se possa chamar de pré-história da “filosofia brasileira da psicanálise”, pré-história sobre a qual nada ainda foi produzido e a respeito da qual, seguramente, uma história da recepção filosófica brasileira da psicanálise deveria se ocupar[25].

Quanto ao “freudismo filosófico francês”, é consenso citar a Crítica dos fundamentos da psicologia, 1928, de Politzer, como a primeira abordagem francesa inteiramente filosófica da psicanálise[26]; talvez pelo caráter, embora crítico, de franca abertura e adesão de pelo menos parte da obra freudiana.

Sabemos que este trabalho de Poltizer ocupará lugar de destaque, não somente em referência à recepção filosófica de Freud na França, como também, de algum modo, em relação a toda filosofia francesa que o procederá, como muito bem mostrou Prado Jr.[27]; contudo, a rigor, talvez o primeiro trabalho filosófico francês sobre psicanálise tenha sido, na verdade, o de Charles Blondel, 1924, A psicanálise[28].

O autor era um médico com formação filosófica e professor de psicologia. Seu pequeno ensaio é uma crítica virulenta às ideias de Freud, um texto evidentemente de bem menor repercussão e complexidade que o de Politzer, porém não sem importância, já que quatro anos mais tarde encontraríamos indícios de seu conteúdo, senão rigorosamente nas ideias do próprio Politzer, ao menos no estilo “contra ou a favor” por ele adotado em sua Crítica[29]; estilo que em alguma medida encontraremos ulteriormente em toda a recepção filosófica francesa da psicanálise.

A respeito dos primeiros trabalhos filosóficos franceses sobre a invenção freudiana, descobrimos que antes mesmo de Blondel houve três importantes revistas que publicaram, pelo menos desde 1911, artigos sobre o tema: 1) Revue philosophique de la France et de l’étranger[30], 2) Le disque vert, importante revista franco-belga de literatura, que dedicou edição especial a Freud e à psicanálise em 1924, na qual consta dois artigos de análise filosófica[31], 3) Évolution psychiatrique, revista dirigida por Hersnard e Laforgue, cuja primeira edição, em 1925, trouxe o sugestivo artigo de Allendy, A psicanálise e as ciências antigas: as doutrinas filosóficas[32].

Enfim, assim como no caso da filosofia brasileira da psicanálise, também a recepção filosófica francesa de Freud tem a sua “pré-história”, e igualmente, trata-se de uma pré-história que merece ainda maior atenção e mais estudos, justamente o que uma história da recepção filosófica da psicanálise poderia oferecer.

Em suma, seja quanto à filosofia da psicanálise, no Brasil, seja quanto ao freudismo filosófico francês, um programa de pesquisa sobre a recepção filosófica da psicanálise deveria se voltar à pré-história das relações destas duas tradições com a psicanálise. Um trabalho de comparação histórica que evidenciasse o desenvolvimento teórico entre os primeiros e os últimos trabalhos do campo, no interior de cada uma dessas tradições, certamente nos surpreenderia.

Além disso, pouco importa se a recepção filosófica brasileira da psicanálise possui uma história mais recente que os velhos consensos já estabelecidos no freudismo filosófico francês, essa diferença não deveria cristalizar a história da recepção filosófica da psicanálise, também nesse caso valeria muito a pena um trabalho comparativo, já que estamos diante de duas tradições que desempenham papel central na elaboração e desenvolvimento do campo de pesquisa entre filosofia e psicanálise. Uma genealogia comparada da recepção de ambas, seguramente faria emergir novas hipóteses e questões, criando assim novas linhas de pesquisa, que poderiam reorientar muitas das nossas concepções, quem sabe, já bastante embotadas.

2 Questões de método

O leitor minimamente familiarizado com a literatura sobre filosofia e psicanálise poderia justamente recorrer às tradições às quais recorro — “freudismo filosófico francês” e “filosofia brasileira da psicanálise” — para objetar-me quanto à tese de que falta à recepção filosófica da psicanálise uma história e um método. Este mesmo leitor poderia evocar a favor de sua objeção, por exemplo, os célebres trabalhos de Assoun, na França, notadamente o seu Freud, a filosofia e os filósofos[33], e o nosso importante e igualmente célebre Freud: a trama dos conceitos, de Mezan.[34]

Ora, esses dois textos não seriam, em suas respectivas tradições de pensamento, dois marcos da análise histórica e metodológica da recepção filosófica da psicanálise? Não há nenhuma dúvida de que Assoun e Mezan são dois marcos da literatura especializada sobre o tema. Todavia, o que designo aqui “história e método da recepção filosófica da psicanálise” pretende ter sentido distinto. Trata-se na verdade de uma perspectiva de análise contrária à de Assoun e bastante diferente da de Mezan.

Enquanto Assoun se dedicou basicamente em mostrar as relações entre filosofia e psicanálise desde o ponto de vista geral de Freud ou do movimento psicanalítico, o que pretendo é dedicar-me prioritariamente a uma análise histórica da recepção filosófica da psicanálise; ou seja, pensar as relações entre filosofia e psicanálise, não do ponto de vista de Freud ou do movimento psicanalítico, mas do vasto ponto de vista da história da filosofia, notadamente, da história da filosofia contemporânea.

Por sua vez, enquanto Mezan se preocupou, sobretudo, em fornecer-nos uma análise da estrutura conceitual interna da psicanálise freudiana, o que procuro é interrogar se podemos extrair da estrutura conceitual de Freud um novo método de pensamento.

Isto é, Assoun nos oferece elementos para uma história da “recepção psicanalítica” da filosofia, quando justamente, ao contrário disso, busco por uma história da “recepção filosófica” da psicanálise. Mezan nos oferece uma análise estrutural do pensamento de Freud, quando em perspectiva relativamente distinta desejo analisar se a filosofia pode, ou não, extrair do pensamento freudiano, um método.

Temos então o seguinte quadro, sobre o qual gostaria de insistir: apesar de a recepção filosófica da psicanálise ser extremamente fecunda, tanto do ponto de vista bibliográfico, quanto do ponto de vista conceitual, ainda não depreendemos daí, 1) uma história, que nos ajude na compreensão geral de seu sentido, 2) um método, que nos auxilie na compreensão particular de sua natureza.

Por isso, um programa de pesquisa sobre a recepção filosófica da psicanálise deve considerar não apenas “questões de história”, como vimos, mas também, “questões de método”. Extrair um método do pensamento freudiano (psicanalítico) deve ser a ambição filosófica maior desse programa.

2.1 Da história, do método e do locus

2.1.1 Da história

Se considerarmos a enorme quantidade e relevância das referências filosóficas, que desde muito cedo a psicanálise mobilizou e até hoje mobiliza, é surpreendente notar a negligência com a qual, até o momento, é tratada metodologicamente a natureza histórica de sua recepção pela filosofia.

Em igual medida, também surpreende que especialmente o freudismo filosófico francês, tão intensamente difundido e influente na filosofia contemporânea francesa, ainda prescinda de uma história à sua altura; e, não menos surpreendente ainda, é o fato de que a filosofia brasileira tenha produzido tanto e qualitativamente sobre a psicanálise, e tão pouco se interesse pela maneira particularmente original com a qual o fez e continua a fazê-lo.

Há então uma lacuna fundamental a ser preenchida no campo da recepção filosófica da psicanálise: a lacuna histórica. O que explicaria a existência dessa lacuna? Por que a recepção filosófica da psicanálise a teria ignorado sistematicamente: mera recusa histórica ou simplemente negligência crítica? Quais seriam, afinal, as razões deste “recalque teórico”?[35]

Eis aí todo um inventário de questões que um programa de pesquisa da recepção filosófica da psicanálise deve levar adiante; todavia, antes de responder a este inventário, seria necessário a este programa precaver-se quanto a duas tentações metodológicas imediatas, de um lado, 1) a tentação do historicismo, uma ambição totalizante, resquício, talvez, de certo modo clássico de filosofar; e, de outro, 2) a tentação do logicismo, uma espécie de eloquência meramente performática, tendência que domina grande parte da filosofia contemporânea.

No primeiro caso, o da ambição totalizante, seríamos levados à sedutora, porém, ilusória convicção, de que o problema da lacuna histórica, tal qual uma espécie de pedra filosofal, seria a essência primordial de toda a problemática que envolve as relações entre filosofia e psicanálise. Erro crasso. A história não pode tudo dominar e tudo resolver.

O segundo caso, o da eloquência performática, consistiria em conceber o problema da lacuna histórica por meio simplesmente do fascínio lógico-positivista, e com frequência arbitrário, que a linguagem tem ultimamente exercido sobre a análise filosófica. Equívoco profundo. O positivismo da linguagem não pode subjugar a experiência histórica.

Portanto, o problema da lacuna histórica não se refere respectivamente, nem a uma panaceia filosófica, cuja pretensão última seja qualquer espécie de “referente absoluto” ou solução completa (historicismo), e tampouco à proposição de uma historiografia fantástica, ao estilo lógico de uma “saga histórica”, no sentido usual do termo, que resultaria senão em mero espetáculo retórico da linguagem (positivismo).

Desse modo é que, bem longe da proposição de qualquer espécie de historicismo, e advertidamente afastado de qualquer espécie de positivismo, nosso problema da lacuna histórica é muito menos uma questão teleológica, de “fundamento último”, ou simples questão de lógica, de formalização do conhecimento, mas, principalmente, uma questão epistemológica, de método.

Em resumo, o problema da lacuna histórica, apesar de ser, naturalmente, histórico — teleológico, lógico, como vimos —, ele é fundamentalmente um problema de método, método epistemológico. Mas, não no sentido dos vários métodos epistemológicos existentes, trata-se de um método novo, porque uma nova questão foi inaugurada. Não se trata mais de investigar o mesmo e velho problema de sempre — qual epistemologia “da” ou “para a” psicanálise —, agora, trata-se de descobrir qual a “história epistemológica” que ela possui[36], questão radicalmente diferente das questões antes discutidas, cuja descoberta, segundo nossa hipótese, pode ser oferecida pela análise histórica da recepção filosófica da psicanálise.

A centralidade do aspecto epistemológico em relação ao histórico significa a opção metodológica que torna possível ao nosso programa de pesquisa aprofundar a compreensão da recepção que a filosofia faz da psicanálise, sem jamais ignorar que além de uma história, buscamos também um método.

Com isso, não corremos o risco de superestimar nosso programa de pesquisa, apresentando-o como aquilo que ele não é — uma História —, e tampouco o subestimamos, negligenciando a sua importância especificamente filosófica, isto é, aquilo que ele deve ser — epistemológico.

Em suma, nosso programa de pesquisa sobre a recepção filosófica da psicanálise deve ser histórico, mas não deve se perder na história que busca, deve principalmente visar ao método epistemológico que desta história se pode extrair.

2.1.2 Do método

Não basta então à recepção filosófica da psicanálise simplesmente contar sua história, é preciso demonstrar seu método. Isso quer dizer que, além estabelecer os meios pelos quais pode ser contada certa história da recepção filosófica da psicanálise, é primordialmente necessário ao nosso programa de pesquisa interrogar qual destino metodológico/epistemológico, propriamente filosófico, essa história pode reservar.

Convém aqui não temer ao rigor. Diante da questão do método que ora se impõe, somos obrigados a reordenar nosso discurso, recolocar e aprofundar ainda mais a nossa problemática inicial: afinal, o que nosso programa de pesquisa pretende oferecer que a enorme e variada literatura filosófica sobre a psicanálise já não tenha, de algum modo, oferecido?

Em primeiro lugar, trata-se de oferecer uma história epistemológica da recepção filosófica da psicanálise. Nesse contexto específico, diferentemente do que até o momento nos forneceu a grande literatura em torno da relação das duas disciplinas, proponho que nosso programa de pesquisa pode, 1) oferecer uma compreensão mais sistemática e precisa acerca do sentido filosófico da recepção filosófica da psicanálise, 2) contribuir para a solução do problema de sua lacuna histórica, 3)estabelecer uma base teórico-metodológica, histórico-epistemológica, para a recepção filosófica da psicanálise.

Em segundo lugar, trata-se de fornecer à recepção filosófica da psicanálise uma reflexão sobre seu método. Com efeito, porque a história nunca anda desacompanhada, poderemos ver surgir, do interior mesmo da história epistemológica que buscamos, elementos metodológicos cuja significação filosófica deverá ser cuidadosamente explorada e explicitada. Terá então chegado o momento de a recepção filosófica da psicanálise finalmente “demonstrar seu método”, o destino filosófico de nossa pequena histórica.

Além disso, absolutamente tudo o que se disse acima a respeito do problema da lacuna histórica, pode-se repetir em relação à questão do método: 1) aí também há uma lacuna fundamental; 2) de igual maneira, surpreende que, apesar de suas contribuições decisivas, nem o freudismo filosófico francês, nem a filosofia brasileira da psicanálise tenham avançado mais radicalmente na compreensão do método, no interior da recepção filosófica da psicanálise; 3) é igualmente surpreendente se deparar com o enorme silêncio teórico de toda a literatura filosófica sobre a psicanálise que, ao que tudo indica, muito pouco se interessou pela natureza de sua própria atividade.

Ainda nos mesmos termos do problema da lacuna histórica, também quanto ao problema da “lacuna do método”, é importante que nosso programa renuncie a qualquer “ambição totalizante” ou “eloquência performática”; isso quer dizer precisamente que não estamos à procura de um método universal de pensamento, oriundo da recepção filosófica da psicanálise, supondo existir aí uma entidade epistemológica, tal qual certa mathesis universalis, que tudo comanda e resolve (método metafísico); e menos ainda pretendemos uma espécie de “discurso do método” contemporâneo, no qual, é bem provável, seríamos conduzidos a certas “regras para a direção do espírito”, baseadas exclusivamente na eloquência da análise lógica da linguagem (método analítico). Não, nem à mathesis universalis, nem a qualquer espécie contemporânea de “discurso do método”.

Em tese, o que um programa de pesquisa sobre a recepção filosófica da psicanálise deve buscar é descobrir, mediante sua história epistemológica, o conjunto de elementos metodológicos que fundamentalmente a constitui. Trata-se, enfim, de identificar, analisar e determinar o “saldo de método” que esta história epistemológica pode oferecer, a fim de que possamos por meio dele chegar a uma compreensão acerca da natureza da recepção filosófica da psicanálise, isto é, uma compreensão desde o ponto de vista do que ela significa particularmente como atividade filosófica.

2.1.2 Do “locus”

Afinal, o que filosoficamente fazemos, quando fazemos filosofia da psicanálise? Que história podemos depreender do farto e significativo arcabouço teórico produzido pela recepção filosófica da psicanálise? Qual método novo nos reserva a ampla recepção da psicanálise pela filosofia?

Estas são finalmente as questões mais urgentes e radicais que um programa de pesquisa sobre a recepção filosófica da psicanálise deve enfrentar. Não é mais possível ignorar, relativizar ou simplesmente adiar respostas. Além da enorme quantidade de referências que encontramos na literatura especializada, o grau de desenvolvimento e institucionalização das pesquisas que a recepção filosófica da psicanálise produziu exige hoje de nós, pesquisadores da área, um decisivo acerto de contas.

É preciso, de uma vez por todas, que este grande campo de pesquisa denominado “filosofia da psicanálise” se pronuncie com maior rigor e clareza a respeito de uma apresentação mais explícita acerca da natureza de sua própria atividade, sob pena, ao fim, de não compreendermos a radicalidade do seu sentido[37].

Todo o problema é que até aqui, as pesquisas filosóficas sobre a psicanálise em geral, em que pese a enorme diversidade de abordagens e interesses que as envolvem, foram basicamente orientadas pela mesma intenção fundamental: de algum modo, o que sempre se buscou foi descobrir ou propor um “lugar filosófico” para a psicanálise. Assim, justificar a sua relevância para a filosofia, ou mesmo negar-lhe qualquer valor propriamente filosófico, tornou-se então uma espécie de parti pris comum a todas essas pesquisas.

Com efeito, o tema do “lugar filosófico da psicanálise” esconde um problema mais profundo e sensível, ele refere-se à questão de saber qual o “sentido filosófico da psicanálise”. Este é, pois, o problema de fundo que paira absoluto sobre os trabalhos de pesquisa da área, e mesmo se não mencionado explicitamente, comanda de forma implícita o discurso desses trabalhos.

Claro, este locus philosophicus, entendido como interrogação pelo “sentido filosófico” da psicanálise, difere, mais ou menos, de acordo com a tradição filosófica de sua recepção.

Se quanto aos franceses em geral, de Blondel a Maldiney, por exemplo, podemos dizer que a maior parte dos filósofos admitiram-no diretamente no interior mesmo de suas filosofias; já para os alemães, de Reich aos filósofos atuais, o que se vê é que a admissão de um sentido filosófico para a psicanálise sempre passou, em grande medida, por uma espécie de elemento externo de ligação, a psiquiatria para Heidegger e seus discípulos, a sociologia ou teoria social para a Escola de Frankfurt, a literatura para o contemporâneo Sloterdiky etc.

No caso dos anglo-saxões, por sua vez, o que de imediato se vê é justamente a fundamentação epistemológica do não sentido filosófico da psicanálise, assim podemos ver, pelo menos, desde positivismo lógico de Nagel até as filosofias da ciência de Popper e Grünbaum, para citar somente os exemplos mais conhecidos. Por outro lado, também aí, desde Wittgenstein pelo menos, passando por Macyntyre e Rorty, por exemplo, a tradição anglo-saxã admite certo locus para a psicanálise no interior da “filosofia analítica”.

Ou seja, guardadas as devidas proporções, em qualquer um desses casos, de um modo ou de outro, é sempre a questão do sentido filosófico da psicanálise que se impõe.

Em termos mais gerais, a centralidade deste locus philosophicus pode também ser verificada na divisão superficial que podemos fazer do modo como as pesquisas filosóficas sobre a psicanálise até aqui se desenvolveram. Propenho três classificações: 1) histórico-filosófica; 2) crítico-kantiana; e, 3) epistemológico-analítica.

No primeiro caso, o sentido filosófico da psicanálise, aquilo, portanto, que lhe confere um lugar na filosofia, é encontrado principalmente na sua relação com tradições do pensamento filosófico, sejam antecedentes ou posteriores a Freud, e às quais, de algum modo, ele pode estar ligado. Trata-se, então, de todos aqueles trabalhos de pesquisa histórica, cujo escopo é situar a psicanálise em uma grande história das ideias e identificar, por comparação, a gênese e a evolução de seus conceitos etc.

No segundo caso, a psicanálise é considerada relevante filosoficamente, isto é, toma o seu lugar filosófico, em razão sobretudo dos seus próprios conceitos, ou mesmo das relações conceituais entre o seu arcabouço teórico e o de determinada corrente filosófica. Aqui, podemos nos referir àqueles trabalhos de pesquisa de ordem mais analítica, no sentido estritamente kantiano do termo, isto é, trabalhos que buscam identificar as condições possíveis de demarcação de limites, estabelecer a crítica das fronteiras conceituais para análise de problemas e objetos. Refiro-me àqueles trabalhos que se concentram principalmente na análise conceitual epistemológica, seja dos conceitos propriamente psicanalíticos, seja das relações fronteiriças que esses conceitos podem manter com o conceitual próprio de algum outro discurso filosófico específico.

Por fim, no terceiro caso, encontram-se aqueles trabalhos de pesquisa para os quais não é possível admitir qualquer sentido radicalmente filosófico da psicanálise, para os quais a tarefa da filosofia em relação à invenção freudiana é, na melhor das hipóteses, justamente demonstrar que não existe qualquer lugar filosófico para ela. Na maior parte desses casos, trata-se de trabalhos baseados na “epistemologia analítica” em geral, cuja recusa filosófica a Freud, e à sua invenção, se apoia principalmente na demonstração de uma determinada inconsistência lógica dos argumentos psicanalíticos.

Seguramente, todas estas três classificações devem ser relativizadas, mas especialmente quanto à última é preciso observar a variação substancial que nela se desenvolve. É que, do ponto de vista geral da “filosofia analítica”, pode-se pensar também que é justamente a ausência de um “lugar filosófico para a psicanálise” que lhe confere “importância filosófica”. Inicialmente, isso se explica por meio de certo estilo de performance conceitual com o qual a “filosofia analítica” desenvolve caracteristicamente seus raciocínios[38].

Em todo caso, seja pelo viés da aceitação ou da recusa, total ou parcial, o que se pode constatar em geral é que até o momento as pesquisas filosóficas sobre a psicanálise, em diferentes níveis e diferentes tradições se pautaram todas por este mesmo registro de pesquisa: o de saber sobre o lugar/sentido filosófico que a psicanálise deve ou não ocupar.

A princípio, este registro de pesquisa — “registro do locus philosophicus” — não é exatamente um problema em si mesmo; afinal, nada mais natural e legítimo que a filosofia possa interrogar sobre o sentido filosófico que possui ou pode vir a possuir qualquer objeto que ela tome para a sua reflexão.

Ora, é um direito óbvio e inalienável do pensamento filosófico inquirir filosoficamente; logo, não há qualquer problema em interrogar o sentido ou lugar filosófico da psicanálise. Todas as pesquisas que assim o fazem e fizeram estão no seu mais pleno direito de fazê-lo, e ademais, elas têm ainda o mérito não pouco significativo de terem propriamente fundado o campo de pesquisa filosófica sobre a psicanálise, e de ter contribuído decisivamente para o seu desenvolvimento.

De minha parte, portanto, em momento algum se trata de questionar ou sequer minimizar a importância e fecundidade, em si mesmas, do registro de pesquisa do locus philosophicus. Ele está completamente assegurado.

Todo o problema é outro, de ordem muito mais sutil do que inicialmente se pode supor. Na verdade, o maior desafio da pesquisa filosófica sobre a psicanálise hoje repousa, segundo minha análise, menos na intenção fundamental prevista no locus philosophicus como registro tradicional de pesquisa da área, que na orientação, na finalidade sobre a qual este registro se aplica; isto é, a questão não é mais simplesmente saber qual “um lugar”, ou não, para a psicanálise na filosofia, é preciso agora descobrir qual o lugar filosófico de tudo isso que justamente o registro do locus philosophicus produziu.

Ou seja, se até aqui, em geral, indagamos pela posição filosófica da psicanálise, agora é hora de nos interrogarmos sobre qual, afinal, é o lugar filosófico desta indagação mesma, bem como de todas as suas consequências.

Estamos diante de uma questão de efeito, não de causa, uma questão de objeto. É que o registro do locus philosophicus acabou por produzir no interior da pesquisa filosófica sobre a psicanálise alguns impasses cuja solução exige a expansão de seu objeto.

Os impasses gerados pelo registro do locus philosophicus foram muito bem descritos por Monzani[39]. A principal tese do filósofo é que esse modelo de pesquisa, assim centralizado na preocupação de uma posição exclusiva da psicanálise no interior da filosofia, na medida mesma em que fez avançar os estudos filosóficos sobre Freud revelou-se, com o tempo, infrutífero. Chegou-se ao ponto no qual descobrir ou propor um lugar filosófico da psicanálise tornou-se, na verdade, tolhê-la em sua radicalidade.

Concentrar-se tão somente na “posição filosófica” da psicanálise não responde mais aos propósitos desse registro, em razão mesma dos avanços por ele trazidos. A hipótese de nosso programa de pesquisa, nesse contexto específico, é a de que é preciso centralizar a atenção, não nas causas desses avanços, mas no objeto sobre o qual esses avanços diretamente incidiram e incidem.

Esta hipótese tem basicamente três significações: 1) que deve haver então, no interior do próprio registo do locus philosophicus, alguma alternativa ao seu velho objeto, que corresponda mais satisfatoriamente a esse novo estado de coisas; 2) que, de algum modo, deve ser possível passarmos da clássica interrogação pelo lugar filosófico da psicanálise à investigação filosófica da posição de tudo aquilo que essa interrogação mesma gerou; 3) que deve ser legítimo, enfim, reorientarmos o registro de pesquisa, expandirmos o seu objeto e interrogarmos agora que posição filosófica ocupa, não mais a psicanálise apenas, mas a recepção filosófica da psicanálise em geral[40].

É justamente a possibilidade e as consequências dessa hipótese que um programa de pesquisa sobre a recepção filosófica da psicanálise deve repercutir. Isso orientaria a pesquisa filosófica sobre a psicanálise a voltar-se sobre si mesma e interrogar-se radicalmente quanto à natureza própria de sua atividade.

Sem isso, não é possível avançar na compreensão da recepção filosófica da psicanálise como atividade propriamente filosófica; sem isso, toda tentativa de compreender historicamente aquilo que fundamentalmente articula e comanda essa recepção é nula; sem isso, enfim, qualquer análise a respeito da questão do método na recepção filosófica da psicanálise fica inteiramente comprometida.

Considerações finais

Assim, se posso concluir, resumindo de forma objetiva o programa de pesquisa aqui esboçado, diria que há três grandes diretrizes que devem estruturar um programa de pesquisa para uma história e método da recepção filosófica: 1) a crítica do registo de pesquisa que até aqui tem conduzido o pensamento filosófico sobre a psicanálise, 2) a reorientação desse registro, graças aos efeitos de seu próprio método, para a centralidade de um novo objeto — da “psicanálise” à “recepção filosófica da psicanálise”; 3) a extração, do próprio “método” desse registro, de uma compreensão mais rigorosa acerca da natureza da recepção filosófica da psicanálise como um modo próprio de atividade da filosofia.

Por tudo isso, a interrogação fundamental do nosso programa de pesquisa não deve ser qual o lugar filosófico da psicanálise, mas esta outra: que posição, afinal — histórica e metodológica — ocupa a recepção filosófica da psicanálise no interior da filosofia contemporânea? Em outros termos, qual é o locus philosophicus da recepção da psicanálise pela filosofia: simples “mélange pós-estruturalista”, mero “jogo de linguagens”, ou finalmente temos o direito, e por que não dizer também, o dever, de reivindicar-lhe uma posição mais clara e distinta?

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Notas

[1] O conteúdo geral do presente artigo tem por base a tese de doutorado Do círculo à espiral: por uma história e método da recepção filosófica da psicanálise segundo o freudismo filosófico francês (Ricœur) e a filosofia brasileira da psicanálise (Monzani). Cf. Freitas Pinto, 2016. Algumas modificações e desenvolvimentos específicos foram realizados.
[4] Cronologicamente: Favez-Boutonier, 1955.; Gressot, 1956.; Lagache, 1957.; Lévy-Valensi, 1957.; Laplanche; Leclaire, 1960.; Althusser, 1996.; Backes, 1969.; Brès, 1980. Destacam-se os textos de Althusser e de Brès, os que mais profundamente abordam o assunto.
[5] Cf. Monzani, 1991. Em estilo e perspectiva de análise, o texto de Monzani é o mais completo de que dispomos na literatura especializada.
[6] Cf., especialmente, a iniciativa de Di Matteo, 2003, alguns trabalhos de Simanke, por exemplo, Simanke, 2010; Id., 2014, e os trabalhos de minha autoria, a tese de doutorado, Freitas Pinto, 2016, bem como o artigo, Freitas Pinto, 2018.
[7] Estudos aprofundados sobre o tema estão sendo desenvolvidos por meio do projeto interinstitucional de pesquisa A recepção filosófica da psicanálise: história, tradições e doutrinas (08/2019–07/2022). O projeto envolve as seguintes Universidades e pesquisadores: UFJF, Richard Simanke, UFMS, Weiny César Freitas Pinto, PUCPR, Francisco Bocca e Université Montpellier III, Caio Padovan.
[8] Cf., Binswanger, 1970. Uma particularidade notável quanto à tendência fenomenológica de recepção do freudismo é a sua clássica recusa ao naturalismo freudiano. De Heidegger a Binswanger, chegando até as leituras fenomenológicas francesas de Freud – Sartre, Merleau-Ponty e Ricœur, por exemplo –, o problema do naturalismo permanentemente se impõe. Complementarmente, ainda a respeito de certas recusas de elementos do pensamento de Freud, Dorer, 2012, autora alemã do que é, talvez, o primeiro livro eminentemente histórico sobre a psicanálise, ocupa lugar de destaque: ela apresenta uma espécie de síntese, historicamente estabelecida, tando das origens, como das razões pelas quais o naturalismo/mecanicismo freudiano deve ser recusado.
[9] Destaques para Marcuse, 1975, e para Habermas, 1982, sem ignorar evidentemente os trabalhos dos autores fundadores dessa tradição de etudos: Fromm, Reich, Fenichel, Adorno, outros.
[10] Cf., entre outros, Popper, 2008, e Grünbaum, 1984, talvez os dois últimos trabalhos mais importantes dessa linha de análise.
[11] Cf. Wisdom, 1953. Ver também, Hook, 1959. Há ainda os trabalhos de Wollheim, 1971; e, Id., 1976. Ver também a excelente descrição conceitual do inconsciente de Macintyre, 2004.
[13] Cf. Rorty, 1999.
[14] Cf. Davidson, 1982. Ver ainda, Cavell, 1996.
[15] Cf. Brodeur, 2003.
[18] As duas pesquisas, a de Mezan, resultado de uma investigação de mestrado, a de Monzani, resultado de uma tese de doutorado, foram desenvolvidas na década de setenta, no departamento de filosofia da USP – Universidade de São Paulo.
[19] Cf. Birman, 1984.
[21] Cf. Andrade, 1933. Do mesmo autor, ver também, Id., 1936.
[22] A respeito da inclusão de Freud nos cursos de Maugüe, Cf., o relato de Candido, 2007, p. 10, e ainda, os comentários de, Filho, 1971, p.132, que vinculam Maugüé aos seus mestres professores franceses, Brunschvicg e Blondel, caracterizando assim o seu interesse por temas psicológicos mediante seus problemas filosóficos e de sua determinação social, na mesma linha crítica inaugurada por Politzer na França.
[23] Cf. Siwek, 1945. Embora tenha muitos de seus trabalhos publicados na Europa, este pequeno ensaio de Siwek é, até onde sabemos, uma publicação exclusivamente brasileira.
[24] Cf. Ludwig, 1948.
[25] Sobre a “pré-história” da filosofia da psicanálise no Brasil, estamos trabalhando em uma análise aprofundada do tema e em breve os primeiros resultados dessa análise devem ser publicados. Sobre outros elementos do desenvolvimento histórico da filosofia brasileira da psicanálise após as décadas de setenta, oitenta, remeto o leitor ao trabalho, Freitas Pinto, 2018.
[26] Cf. Politzer, 1967.
[27] Cf. Prado Jr., 1990.
[28] Cf. Blondel, 1924.
[30] Cf. Duprat, 1911
[32] Cf. Allendy, 1925
[33] Cf. Assoun, 1978. Ver também, do mesmo autor, Id., 1983.
[34] Cf. Mezan, 1982
[35] Termo de Althusser; Cf. Althusser, 1993, p. 45.
[36] Penso particularmente aqui, naquilo que Althusser designou “história epistemológica da psicanálise” (ver epígrafe deste artigo).
[37] Sobre uma reflexão mais precisa acerca da natureza da atividade filosófica em relação à psicanálise, bem como, sobre o desenvolvimento institucional desta, Cf. Simanke, 2010, p.197-199; 204-205; e, também, Id., 2014, especialmente, p. 209-219. Destaque para a forte ênfase, na argumentação do autor, ao papel de centralidade da filosofia brasileira da psicanálise nesse contexto.
[38] No Brasil, esse estilo de trabalho, inaugurado por Gabbi Jr., tem sido adotado abertamente por Almeida, e pode ser verificado, por exemplo, em, Almeida, 2007; ou ainda, Id., 2008; Id., 2010.
[39] Cf. Monzani, 1991.
[40] Sobre interrogar a recepção filosófica da psicanálise como um todo, e não somente a psicanálise em particular, Simanke vê nesse ponto a evidência de um processo natural de amadurecimento do campo de pesquisa em filosofia da psicanálise, diz: “[…] a própria maturação disciplinar aí em curso, conduziu a um questionamento do lugar da filosofia da psicanálise no conjunto das disciplinas filosóficas e de sua autonomia e identidade […]”. Cf. Simanke, 2010, p. 205; ver também, pp.197-199.

Notas de autor

[b] Doutor em Filosofia


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