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Um ensaio sobre o niilismo em Nietzsche: falta do sentido histórico, necessidade e superação e recepção
An essay on nihilism in Nietzsche: lack of historical sense, necessity and overcoming and reception
Revista de Filosofia: Aurora, vol. 34, núm. 62, pp. 278-299, 2022
Pontificia Universidade Catolica Parana

Artigo


Recepção: 12 Maio 2022

Aprovação: 06 Junho 2022

DOI: https://doi.org/10.7213/1980-5934.34.062.AO01

Resumo: Este artigo faz parte de um estudo mais amplo acerca das considerações de Nietzsche sobre a história, no qual examinamos a questão do sentido histórico levando em conta a sua relação com o niilismo e a genealogia. No que concerne à relação entre niilismo e sentido histórico, investigamos as considerações de Nietzsche acerca da história, tendo como base os seus escritos nos quais a crítica à cultura é narrada a partir da falta de sentido histórico e de seu estado niilista, que nos possibilitam esclarecer as ideias com as quais o filósofo, por um lado, desde os textos de juventude, solapa radicalmente o historicismo, sobretudo suas noções de progresso (Fortschritt), finalidade (Zweck) e excesso de apego ao passado, e, por outro lado, elabora uma narrativa da história, sem essas noções, a partir do conceito filosófico de niilismo - que aparece a partir 1881 em sua obra. O tema oculto desses escritos é a historicidade do homem ou, melhor, a constatação de que há um estado de degenerescência da humanidade, revelado em seu processo histórico que compromete substancialmente a destinação humana. Contudo, a ideia de niilismo em Nietzsche vai além do domínio histórico, é também pensada sob a égide de outras esferas, como a da psicologia e a da fisiologia, que só será abordada, em nossa análise, indiretamente, subordinada ao tema da história. Por ora, pretendemos apenas analisar como Nietzsche, em posse do conceito de niilismo, estabelece uma noção mais ampla e mais bem elaborada da sua narrativa crítica sobre a história, lançando luz naquilo que ele compreende, desde as obras intermediárias, como sendo uma “filosofia histórica”2, que foca a sua investida nos valores mais fundamentais a partir dos quais a história humana foi conduzida, ensaiando também uma saída ou uma superação do estado de degenerescência que esta narrativa parece apontar. Retomamos, deste modo, ainda, a uma velha polêmica, talvez datada, acerca do tema da superação ou não do niilismo em certa recepção da filosofia de Nietzsche, defendemos de forma ressignificada a compreensão da superação e a sua relação orgânica com o niilismo.

Palavras-chave: Niilismo, Sentido histórico, Superação, Necessidade.

Abstract: With this article is part of a broader study of Nietzsche's considerations on history, in which we examine the question of historical meaning, taking into account its relationship with nihilism and genealogy. Regarding the relationship between nihilism and historical sense, we investigate Nietzsche's considerations about history, based on his writings in which the criticism of culture is narrated from the lack of historical sense and its nihilistic state that allow us to clarify the ideas with which the philosopher: on the one hand - from the texts of his youth - radically undermines historicism, above all, its notions of progress (Fortschritt), finality (Zweck) and excessive attachment to the past; and on the other hand, he elaborates a narrative of history, without these notions, from the philosophical concept of nihilism - which appears from 1881 onwards in his work. The hidden theme of these writings is the historicity of man, or rather, the realization that there is a state of degeneration of humanity, revealed in its historical process that substantially compromises human destiny. However, the idea of nihilism in Nietzsche goes beyond the historical domain, it is also thought under the aegis of other spheres, such as psychology and physiology that will only be addressed, in our analysis, indirectly, subordinated to the theme of history. For now, we only intend to analyze how Nietzsche, in possession of the concept of nihilism, establishes a broader and better elaborated notion of his critical narrative about history, shedding light on what he understands, from the intermediate works, as being a “historical philosophy” that focuses its assault on the most fundamental values from which human history was conducted, also rehearsing a way out or overcoming the state of degeneration that this narrative seems to point to. In this way, we still return to an old polemic, perhaps dated, about the theme of overcoming or not nihilism in a certain reception of the Nietzsche's philosophy, we defend a new understanding of overcoming and its organic relationship with nihilism.

Keywords: Nihilism, Historical sense, Overcoming, Necessity.

Aquilo que eu narro é a história dos próximos dois séculos. Descrevo aquilo que vem aquilo que não pode mais vir de outra maneira: o advento do niilismo (KSA, XIII, 189).

Pressupostos sobre o niilismo em Nietzsche

O conceito de niilismo - como é amplamente propalado - não é originariamente nietzschiano, já era corrente tanto na filosofia quanto na literatura europeia desde o séc. XVIII, onde aparecia como um sintoma de época nas obras de diversos pensadores, escritores, como por exemplo: William Hamilton, Jacobi, Jean-Paul, Dostoievski, Turgueniev, nos poetas românticos alemães, nos anarquistas russos, no pessimismo schopenhaueriano e em Paul Bourget, de quem o nosso filósofo adotou o termo1. Nietzsche, o filósofo da suspeita, que havia criticado duramente o historicismo nos textos de juventude, parece apresentar, com a sua doutrina do niilismo, uma narrativa histórica, sem contudo, reivindicar nem uma Filosofia da História (die Geschichtsphilosophie) e nem uma História Universal (Weltgeschichtliche), que descreve: por um lado, a crise ameaçadora na qual estava lançado o mundo moderno com a desvalorização dos valores universais lançando, consequentemente, a humanidade na angustiante situação de que nada mais tem sentido2; por outro lado, como sendo a lógica interna do próprio desenrolar de toda a história chamada europeia desde Platão, acentuando-se com a moral cristã e em suas variações modernas. Evidentemente que a história europeia não se limita ao continente europeu, mas diz respeito ao ocidente em geral. Portanto, na medida em que tem conduzido o processo de desenvolvimento histórico da humanidade, o niilismo se fez sempre presente como sua lógica interna, antes e depois da sua constatação, como diz o filósofo: “Aquilo que eu narro é a história dos próximos dois séculos. E descrevo aquilo que vem aquilo que não pode mais vir de outra maneira: o advento (die Heraufkunft) do niilismo” (KSA XIII, 11 [411], 2). Apesar do tom profético, do que se estar falando neste póstumo, é contra a cultura moderna, notadamente, a europeia que descortinava, em seu tempo, um futuro sombrio, devido à percepção da eclosão de uma grande crise dos valores metafísico-morais que a sustentavam até então, ameaçando e comprometendo, desta maneira, a destinação humana. E, por isso, que em continuidade, com o que foi dito, o filósofo sentencia:

Desde já esta página da história pode ser contada; porque, no caso presente, é a própria necessidade que a produzirá. O futuro fala desde agora pela voz de cem signos, a fatalidade anuncia-se por todos os lados; para compreender esta música do futuro todos os ouvidos já estão atentos. A cultura (die Kultur) europeia agita-se desde muito sob uma pressão que vai até a tortura, uma angústia que cresce em cada década, como se quisesse provocar uma catástrofe: inquieta, violenta, arrebatada, semelhante a um rio que quer alcançar o fim de seu curso, que não reflete mais que teme até refletir (KSA XIII, 11 [411], 2).

Coincidindo, portanto, com a história da humanidade mesma, o niilismo pode ser considerado, sem hesitação, por Nietzsche, como sendo o seu estado normal (normale Zustand) do processo de desenvolvimento histórico. Acometendo à cultura e, consequentemente, ao homem - com toda sua carga, moral, psicologia e fisiológica - o niilismo se estabelece: tanto como experiência e sentimento de uma situação de crise efetiva quanto como pensamento crítico contra as crenças, os valores e ideais da grande tradição. Por isso que, na elaboração de um esboço para a composição da pretendida e controvertida obra Vontade de Poder, diz o filósofo: “o niilismo está à porta [...] como o mais sinistro dos hóspedes. Primeiro, ele se instala maliciosamente como sentimento entristecedor; depois, como sentimento atemorizador do fracasso de todos os sentidos” (KSA XII, 2 [127], p. 125)3. O niilismo é considerado então como o momento que se percebe o esgotamento progressivo de todos os sentidos, ou seja, o reino em expansão do esvaziamento de todos os sentidos em decorrência da queda dos valores; é neste momento então que se experimenta o pesadelo ou a desorientação completa de todos os sentidos, a derrocada dos valores. Nietzsche usa uma imagem, em seu Zaratustra, para expressar essa situação: “o deserto cresce” (KSA IV, p. 380). Todos os valores que orientavam os sentidos se esgotaram, se ocultaram, se negaram, por conseguinte, faltam às metas4. O niilismo como a experiência do esgotamento dos valores e sentidos se traduz em um grande cansaço que é o fastio do homem por si mesmo, uma agonia infinita, um interminável crepúsculo, um “horror vacui”.

O tema do niilismo passa a ganhar mais destaque em sua obra, contudo, menos nos textos publicados em vida do que nos póstumos, nos quais a sua incidência é maior. Nos póstumos, contudo, a grafia niilismo é mais recorrente, surgindo várias vezes no espólio dos volumes, IX, X, XII e XIII da KSA5. Nas obras publicadas pelo filósofo, a escrita do conceito é tímida, aparecendo apenas: no quinto livro de a GC; no parágrafo 12 do primeiro ensaio da GM, na variada forma como o nada (das Nichts), no parágrafo 11 do segundo ensaio e nos parágrafos 1 e 28, do terceiro ensaio, com a seguinte formulação, “o homem ainda prefere querer o nada a nada querer [...]”; aparece também no prefácio tardio (1886) ao NT e no sétimo parágrafo do AC. Além dessas poucas e contidas passagens enfatizadas nas obras editadas em vida é acertado ressaltar que o tema se faz presente também em Za, PBM, CI, CW e AC, porém, sem aparecer escrito ou aparecendo na forma adjetivada de niilista - em o CW, o conceito é substituído pela variante décadence6. Ainda é de grande importância ressaltar a relação que Nietzsche estabelece entre o tema do niilismo e o problema da “morte de Deus” em sua filosofia. Ambas as questões estão profundamente relacionadas, pois o sentimento de nada que o niilismo representa é o mesmo expresso na sentença “Deus está morto” (Gott ist tot)7, que não deve ser compreendida apenas com o significado de uma crítica à religião e nem se resume ao movimento ateísta em voga no século XIX, ela expressa especialmente, a queda dos valores supremos e o esgotamento dos sentidos, revelando, deste modo, o nada. A crise que tal sentença sugere é muito mais ampla e abrange todo o pensamento com pretensão de edificar valores universais que direcione o sentido histórico, tais como: unidade, verdades últimas e finalidade. O Deus que morreu era o que garantia os valores superiores do mundo e consequentemente conduzia o sentido histórico, com a sua morte, o conjunto dos ideais, dos princípios, em última instância, dos valores que direcionavam a história, dando-lhe sentido, também, se esvaíram, denunciando assim um nada absoluto, que Nietzsche ilustra de forma genial na mais significativa passagem sobre o tema, no aforismo 125 de a GC:

Procuro Deus! Procuro Deus! [...] Para onde foi Deus? - bradou - Vou lhe dizer! Nós o matamos, vós e eu! Nós todos, nós somos seus assassinos! Mas como fizemos isso? Como pudemos esvaziar o mar? Quem nos deu a esponja para apagar o horizonte? Que fizemos quando desprendemos a corrente que ligava a Terra ao sol? Para onde vai agora? Para onde vamos nós?

Nietzsche introduz o tema do niilismo, portanto, como a sua visão de mundo mais abrangente e, com isso, apresenta a sua mais dura e extensa crítica à cultura e, por isso, não é pensado apenas sob o domínio da história, o que seria um reducionismo historicista, mas também, estabelece fortes vínculos fecundos com o psicológico e o fisiológico. Contudo, o conceito é essencial para se esclarecer aquela questão mais antiga do sentido histórico, na última fase produtiva do filósofo. A primeira vez em que o termo niilismo surgiu no conjunto da obra nietzschiana foi em um fragmento póstumo do espólio de 1881, KSA IX, 12 [57], com a seguinte indagação: “Em que medida todo horizonte (Gesichtskreis) mais claro aparece como niilismo”. Nas obras publicadas em vida, o termo foi cunhado pela primeira vez no aforismo 347 do quinto livro de a GC, em 1885 e está diretamente ligado - como mencionamos acima - ao tema da “morte de Deus”, seu correlato, o qual este aforismo está intimamente relacionado desde o 343, no mesmo livro, quando se ganha liberdade no conhecimento, devido ao fatídico acontecimento da morte de Deus, que já aparecia impresso, na mesma obra, no aforismo 125, do terceiro livro e, postumamente, em um fragmento de 1881 - contemporâneo ao anteriormente citado sobre o surgimento do niilismo, KSA IX, 12 [57] -, no qual aparece a sentença: “Gott ist tot...”( KSA IX, 12 [77]). Nietzsche, no entanto, ainda não relacionava explicitamente os dois temas na fase intermediária, só fazendo isto depois de o AFZ, mais precisamente, em alguns póstumos do espólio reunidos no volume XII da KSA, como por ex: 2 [131]8, um dos mais expressivos e no quinto livro de a GC, onde, os temas estão encadeados nos aforismos 343, 344, 345, 346 e em 347.

A nossa hipótese interpretativa acerca do vínculo entre a falta do sentido histórico e o niilismo, na obra nietzschiana, se dá, portanto, com o surgimento deste último conceito, pois, a partir de 1881, Nietzsche amplia a sua narrativa crítica sobre a história da humanidade, compreendendo-a como sendo um processo de desenvolvimento da deficiência, enfermidade e degenerescência, tal como já aparecia, embrionariamente, na segunda Extemporânea, em 18749, e, mais tarde, em 1881, no aforismo 337, no quarto livro de a GC, no entanto, agora, junto com a problemática do niilismo, também surge uma reflexão sobre a sua necessidade e possibilidade ou não da superação desse estado “patológico” da humanidade, através de uma transvaloração de todos os valores que regem a cultura e também, como exalta o aforismo KSA XII, 2 (131)10 uma autotransvaloração que envolveria questões psicológicas e fisiológicas, a partir de uma experiência extremada do eterno retorno do mesmo. Sendo, todavia, nossa hipótese totalmente desprendida de pretensão de originalidade e de caráter dogmático quanto ao tema, seguindo apenas o próprio transcurso dos textos no contexto da filosofia de Nietzsche.

A superação do sentido histórico niilista através da transvaloração dos valores extremada na experiência do eterno retorno

Vejamos quais são as consequências do niilismo e a necessidade da sua superação através da experiência extremada o pensamento do eterno retorno, que possibilita a transvaloração dos valores, restaurando assim um sentindo para vida e, consequentemente, para história. O momento da percepção do niilismo, para Nietzsche, é necessário e representa o mais perigoso de todos os estágios do seu processo de desenvolvimento, pois aponta para dois sentidos: o primeiro é propositivo e indica o sentido para a transvaloração, ou seja, a tomada de consciência de que somos nós que comandamos a nossa destinação, não há mais autoridade externa, valores superiores que nos guiem, somos nós mesmos, que conduzimos o sentido da vida, criando os nossos próprios valores; entretanto para isto, é necessário, antes de tudo, se ater para o outro sentido, o perigo que a percepção da ausência, da falta de sentido pode gerar sobre a humanidade em geral, assim como para cada indivíduo, pois tal tomada de consciência revela que aquilo em que depositávamos a mais alta esperança e nos orientava é, totalmente, desprovido de valor, ou seja, é mera ficção e ilusão, revelando-se, assim, como o nada, um sem sentido total, esta é a forma do niilismo extremado. Este sentimento de nada é instaurado devido à constatação do vazio que a ausência dessa autoridade externa provoca, podendo, consequentemente, lançar a história e o indivíduo que a conduz, às cegas, no mais funesto e sombrio dos tempos, no qual nada mais vale à pena, tudo é em vão, inviabilizando, deste modo, todas as perspectivas futuras. Contudo, embora o niilismo seja considerado a tomada de consciência de que os valores constitutivos da cultura são ilusórios e que há, por isso, uma desorientação completa do sentido da vida, a situação pode ainda, desgraçadamente, radicalizar o seu ilusório sentido em uma falta de sentido total instaurando, deste modo, o horror vacui, o dilema enfrentado por Nietzsche a partir do último ensaio da GM e que se arrasta até as últimas obras. Trata-se de uma vontade que, diante da constatação de que nada mais tem sentido, se satisfaz com esta falta de vontade e, resignadamente, se lança no nada vazio como sendo o sentido. Para Nietzsche, esta era a situação da Europa em sua época e foi por isso que se isolou no verão de 1887, em Lenzerheide, nos Alpes suíços, após a publicação da GM, e fez o seguinte apontamento no conjunto dos póstumos intitulados Niilismo Europeu11: “Uma interpretação sucumbiu: porém, porque ela valia como a interpretação, parece como se não houvesse absolutamente nenhum sentido na existência, como se tudo fosse em vão” (KSA XII, 5 [71]. 4). A terrível mensagem de que “o nada (das Nichts)” e “o em vão (das Umsonst)”12 constituem a verdade dos valores superiores que direcionaram o sentido da Europa. A postura de aceitação desta situação é bem ilustrada, por Nietzsche, também na figura do “Adivinho”, a personagem da obra Za que representa o profeta do “niilismo”13 - a caricatura de Schopenhauer - o qual prega que “nada mais vale a pena, nada mais faz sentido” (KSA IV, 172-176).

Todavia, como vimos acima, essa última posição não é a única, pois se assim fosse, o autor do Za não se diferenciaria do seu antigo mestre Schopenhauer, um pessimista confesso. A concepção niilista que Nietzsche adere - especialmente após a GM e nos póstumos que imediatamente lhe seguem - visa oferecer elementos propositivos para se perceber os vestígios do niilismo e, consequentemente, indo mais além, proceder a uma transvaloração de todos os valores, tal evento é frequentemente chamado, principalmente nos póstumos, de niilismo ativo. Este, por sua vez, não é impelido por nenhum pessimismo da fraqueza diante da falta total de vontade, mas, antes, por um otimismo que intensifica a vida, forçando-a a superar este estado psicológico, expresso no pensamento afirmativo do eterno retorno, tal como se revela em EH, “como a forma mais elevada da afirmação que em geral se pode alcançar”14. Entretanto, para se alcançar “esta forma mais elevada da afirmação (diese höchste Formel der Bejahung)”, o pensamento sobre o niilismo tem que experimentar a sua radicalidade na experiência extremada do eterno retorno, tal como o filosofo já havia elaborado no parágrafo 341 de a GC:

Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria ou por ventura te esmagaria; a questão diante de tudo e de cada coisa: ‘Quero isto ainda uma vez ou ainda inúmeras vezes?’ repousaria sobre suas ações como o peso mais pesado... (KSA III, 570).

Por isso, que na supracitada coletânea de Lenzerheide, Nietzsche radicaliza o niilismo com a experiência do eterno15, levando-o as últimas consequências:

Pensemos esse pensamento em sua forma mais terrível: a existência, assim como ela é, sem sentido nem objetivo, mas inevitavelmente retornando, sem um final no nada: “o eterno retorno”.

Esta é a forma mais extrema do niilismo: o nada (o “sem sentido”), eternamente! Forma europeia do budismo: a energia da matéria e da força coage a tal crença. É a mais científica de todas as hipóteses possíveis. Negamos objetivos finais: se a existência tivesse um, ele deveria ter sido atingido (KSA XII, 5 [71]. 6).

O niilismo pensado enquanto um processo histórico - ou mesmo sob outro domínio - se torna necessário e esta necessidade implica necessariamente em sua autossuperação, ou seja, trata-se de uma superação interna do seu processo de nadificação, apontando para um futuro inconcluso que deve ser criado, inventado na experiência radical do pensamento do eterno retorno que possibilita, em suma, a transvaloração de todos os valores. É, portanto, o que parece querer dizer Nietzsche em um apontamento do inverno 1887.

Por que é, pois, que o advento do niilismo é necessário (nothwendig)? Porque são os nossos próprios valores que dele tiram a sua consequência ultima, porque o niilismo é a lógica dos nossos mais altos valores e ideais pensados até o extremo, porque temos de viver primeiro o niilismo para descobrir qual era afinal o valor desses “valores”... necessitamos (haben nöthig), a qualquer momento, de novos valores (KSA XIII, 11[411]).

A necessidade do niilismo, não inviabiliza a sua superação, não é porque ele é necessário que ele não possa ser superado, devemos compreender a superação de forma dinâmica, não como um estado de conforto a ser atingido. É porque o niilismo é necessário que ele tem de ser superado a todo o momento, pois se perde esta dinâmica, aniquila-se no nada, se afoga no mar do niilismo, e, por isso, a superação não pode deixar de cessar, pois senão perde o seu significado próprio. O niilismo, então, não se encontra superado simplesmente porque as distinções metafísico-morais inventadas por Platão na filosofia deixam de valer, pois, para uma transformação mais radical, é necessário passar das dissoluções reativa e passiva para uma dissolução ativa, tem de se incluir na destruição de todos os vínculos metafísicos e morais que até então edificaram a cultura e conduziram a história niilista, um ato de afirmação do destino, uma acolhida alegre dos fatos16, a partir de uma vontade que não retrocede diante do nada. O modo de se colocar diante da história niilista e superá-la foi encontrado por Nietzsche através do eterno retorno, que deve ser compreendido como a forma mais elevada da afirmação. Portanto, é como anulação de todas as dicotomias metafísico-morais e como experiência radical do seu processo que o niilismo poderá ser pensado como liberado de toda e qualquer teleologia e da paralisia nadificadora, anunciando, assim, uma transvaloração dos valores na experiência afirmativa do eterno retorno.

A concepção nietzschiana de história tem certa peculiaridade, que é fundamental em relação à tradicional Filosofia da História, pois esta, tanto em uma versão francesa com o Positivismo de Comte ou com Romantismo de Condorcet quanto em uma versão alemã, seja à la Kant ou à la Hegel, pensa a história a partir de uma noção de progresso performático teleológico que lança a luz da razão sobre um futuro triunfal. Nietzsche, em posição diametralmente oposta a esses pontos de vista, pensa a história como um desenvolvimento de decadência ou de niilismo, uma espécie de dialética negativa em relação ao passado e que não vislumbra nada de absolutamente triunfal no futuro, pois este se encontra totalmente aberto para ser criado. Sendo, portanto, o niilismo um sintoma do mal-estar necessário instaurado na história humana, devido à constatação da sua falta de sentido histórico e dos valores ilusórios em sua condução, possibilitando, entretanto, no futuro que se abre, um ato grandioso de criação na experiência extremada do eterno retorno.

Sobre certa recepção do niilismo nietzschiano

Nesta digressão, apresentamos certa discussão na recepção de Nietzsche acerca do estatuto da necessidade e da superação do niilismo em sua reflexão. Isto se torna relevante, pois é superimportante em nossa análise que o niilismo seja necessário e que haja a sua superação através do eterno retorno que possibilita uma ação afirmativa sobre o tempo, o indivíduo e consequentemente sobre a destinação humana. Esta questão por si só mereceria outro estudo em torno da discussão que o tema engloba. Entretanto, por ora, vejamos sinopticamente o seu desenvolvimento na recepção do nosso filósofo: há uma quase clássica contenda na recepção de Nietzsche, na Alemanha, desde a década de 30 até a de 50, envolvendo pensadores tão dispares como Karl Jaspers, Ernest Jünger, Oswald Spengler, Alfred Bäumler, Heidegger, Karl Löwith, Eugen Fink, entre outros. Dentre esses intérpretes, resguardando suas diferenças interpretativas, os que mais se apropriaram do tema sobre o niilismo e o articularam com os outros conceitos da filosofia nietzschiana, tais como vontade de poder, eterno retorno, transvaloração de todos os valores e super-homem, estruturando a partir deles uma sistemática como sendo a sua metafísica, foram Heidegger e Löwith17. Na articulação conceitual proposta por Heidegger - que se tornou o mainstream de sua geração -, o niilismo aparece como a essência da metafísica como o signo da dominação planetária, na era da técnica, que necessita ser superado, não obstante, a força do pensamento de Nietzsche, para ele, não foi o suficiente para tal tarefa18. Essa interpretação, no entanto, foi bastante questionada por diversos intérpretes, devido às consequências que implicariam a superação dentro do esquema proposto por Heidegger, pois, segundo ele, “Nietzsche interpreta metafisicamente a marcha da história ocidental, como nascimento e desenvolvimento do niilismo” (HEIDEGGER, 1950, p. 193-194). Heidegger entende que sendo a filosofia de Nietzsche um contra movimento (Gegenbewegung) ao platonismo, é ela mesma metafísica, ou seja, está inserida dentro dos seus limites e, consequentemente, é niilista em sua essência, pois, como mero movimento contrário, como mera inversão (blosse Umstülpung), segue aderido ao cerne daquilo contra o que se posiciona.

Essa interpretação que marcou gerações e sofreu fortes reações, principalmente, a partir dos anos 60, por ex.: com a interpretação de Deleuze, que embora não tenha se desvencilhado da compilação de textos que compunha à obra Vontade de Poder e ter dado ênfase, em sua análise, aos conceitos nietzschianos eleitos por Heidegger, como sendo os mais importantes, ele tem uma solução peculiar para dispô-los; também, com o início da elaboração da edição crítica por Colli e Montinari que ao organizar os textos de nietzschianos em ordem cronológica, consequentemente, pulverizou a legendária “Hauptwerk” de Nietzsche - segundo Heidegger - comprometendo drasticamente a interpretação heideggeriana que depositara nela sua tese central, segundo a qual, o mais importante da filosofia nietzschiana teria sido reservado à suposta obra póstuma; e ainda, com a densa análise de Müller-Lauter, gerando um contramovimento à exegese heideggeriana na Nietzschesforschung. Sem querer minimizar a importância da edição e crítica e as análises filológicas de Montinari que desconchavam, por vez, qualquer possibilidade de se querer fundamentar a filosofia de Nietzsche através da compilada Vontade de Poder. Deleuze e Müller-Lauter foram nesse aspecto os primeiros e os mais destacados filósofos-intérpretes a questionarem a interpretação de Heidegger.

Deleuze, antes de tudo, não interpreta a filosofia de Nietzsche como sendo uma metafísica, mas uma física, a doutrina da vontade de potência é compreendida como uma teoria das forças, ela não é concebida como a unidade da totalidade dos entes - tal como Heidegger a entende - entretanto é a própria multiplicidade, a diferença; o eterno retorno, por sua vez, é compreendido como o pensamento afirmativo da multiplicidade que impede a redução à unidade, à identidade, sendo ele próprio a diferença, desarticulando, assim, a argumentação a partir de uma formulação do conceito, concebendo-o como o eterno retorno da diferença (L’Éternel Retour de la différence), contrariando a ênfase dada por Heidegger e também por Löwith ao “mesmo (Gleich)” na forma eterno retorno do mesmo (ewigen Wiederkehr des Gleichen); e, por fim, o niilismo que é articulado com ambos os temas da vontade de potência e do eterno retorno, sendo pensado dentro do processo dinâmico da teoria das forças, não desembocando, deste modo, no nada - como pressupõe a leitura de Heidegger -, contudo, em sua forma ativa, como último estágio do processo, abre um horizonte para a criação.

Já Müller-Lauter, em sua crítica, se atenta mais à formulação metafísica unificadora que Heidegger elaborou da doutrina da vontade de poder, concebendo-a como a Grundwort de Nietzsche, ligando-a à metafísica tradicional, sendo pensada como o fundamento do ente em sua totalidade, como o caráter fundamental da unidade do ente enquanto tal. Enfatizando a complexidade da doutrina que teria uma multiplicidade de sentidos em Nietzsche, evitando assim qualquer possibilidade de redução a uma estrutura metafísica, Müller-Lauter lança o seguinte contra-argumento: “em que medida Heidegger consegue recolher a filosofia de Nietzsche naquilo mesmo que foi por ele pensado. Nisso os textos (ou também contextos) de Nietzsche a que Heidegger recorre poderiam se revelar de tal amplitude que se acomodariam em sua interpretação” (MÜLLER-LAUTER, 2000b, p. 74). Embora tenham questionado a interpretação heideggeriana de Nietzsche, os autores supracitados, não centram diretamente as suas análises mais importantes no conceito de niilismo, só o fazendo em sua relação subordinada seja ao conceito de eterno retorno seja ao conceito de vontade de poder.

Em uma discussão mais recente - na qual Müller-Lauter continua presente, sobretudo, com seus estudos apresentados no mesmo Nietzsche-Interpretationen, III, Heidegger und Nietzsche, supracitado -, Van Tongeren estabelece uma sutil distinção entre a forma como Nietzsche experimenta o niilismo e como os outros o compreendem ou o experimentam. A sua análise, em sua maior parte, é perpetrada a partir da questão levantada pelo próprio Nietzsche, qual seja: de onde vem e o que significa o niilismo? O que, consequentemente, implica a necessidade da análise do seu processo de desenvolvimento apresentado a partir da divisão em etapas. Portanto, para Van Tongeren, seria prematuro falar sobre a “superaração do niilismo”, preferindo perguntar em que estágio ou etapa dessa história nós nos encontramos? E por que parece que estamos menos ameaçados do que Nietzsche pressupõe?19 Com isso, o intérprete parece arrefecer a importância que o tema da superação do niilismo tem em Nietzsche. Já Werner Stegmaier, por sua vez, em seminal artigo, questionará a interpretação de Heidegger, focando a força da sua análise em torno da ideia de necessidade (Not, Nothwendigkeit) e de superação (Überwindung) do niilismo. Segundo Stegmaier,

Nietzsche não se encontrava, em seu filosofar, fixado na necessidade do niilismo. Na obra publicada por ele muito contidamente falou de niilismo [...] não fazendo, no entanto, qualquer sugestão quanto à sua superação. Tal como o pensamento do eterno retorno do mesmo, é no espólio de Nietzsche que o niilismo desempenha o grande papel que Köselitz lhe atribuiu na Vontade de Poder, sendo que também aqui o discurso não é sobre a ‘superação’, mas sobre a ‘autossuperação do niilismo’ (STEGMAIER, 2005, p. 257-58)20.

Embora os argumentos de Stegmaier sejam procedentes quanto à presença tímida do conceito de niilismo no conjunto da obra editada em vida e quanto à apropriação que Heidegger e companhia fizeram do pensamento de Nietzsche, estruturando-o esquematicamente como metafísica, a força do conceito é bastante emblemática e ilustrativa para expressar aquilo que o filósofo de Naumburg queria dizer com crise, deficiência, enfermidade, pessimismo, ressentimento, nada, vontade de nada, décadence e, às vezes ainda, com moral, platonismo, cristianismo, modernidade e humanidade que seriam também expressões do niilismo. Todos esses temas e conceitos são comutáveis com a questão do niilismo que os abrange em sua extensão e são diversas vezes evocados como sendo necessária as suas superações e autossuperações. Stegmaier que tem uma leitura introperspectiva de Nietzsche, ou seja, ele analisa sua filosofia dando ênfase ao caráter psíquico-fisiológico - essencialmente, a partir da GM e nas obras lhe sucedem -, compreendido como autogenealogia da moral, depositando, deste modo, uma carga maior ao estado psicológico do niilismo.

Aqui, estamos diante da possibilidade de apresentarmos uma interpretação discordante de ambos os autores, todavia lançando uma luz sobre a questão, pois, muito embora seja considerado como um estado psicológico, a situação não deve ser pensada como estática, mas antes, como dinâmica. Devemos da mesma forma, compreender, a própria ideia de superação, ou seja, o niilismo deve ser compreendido como um estado psicológico sempre presente na alma ou na mente humana, contudo, como uma situação a ser superada a todo o momento, pois se perde esta dinâmica, aniquila-se no nada, que embora seja necessário, o é passageiramente, pois a sua superação não pode deixar de cessar, pois senão perde o seu significado próprio. Portanto, em nossa análise é imprescindível à necessidade da superação do niilismo, tal como Nietzsche preconiza, e que o termo autossuperação aparece como uma variante, reforçando que a superação se dá pelo próprio niilismo e o que consequentemente requer a imprescindibilidade da sua necessidade.

Bibliografia

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Notas

1 Nietzsche apresenta esta formulação em HH I, 1.
2 Van Tongeren traça uma extensa história do niilismo até Nietzsche, desde a cultura grega antiga - contrariando interpretações que apontam o cristianismo como sendo o berço do niilismo -, perpassando o mundo cristão, a epistemologia moderna de Descartes a Kant, o Romantismo, a sua transformação em algo positivo com idealismo alemão, Schopenhauer e os escritores russos e a décadence francesa. Cf. Tongeren, 2018, p. 3-20.
3 Cf. KSA XII, 350. Trata-se do difundido parágrafo 12, “A queda dos valores cosmológicos”, da legendária obra A Vontade de Poder que vários intérpretes de Nietzsche dedicaram páginas, analisando-o, entre estes, Heidegger. Cf. Heidegger II, 1961 - “O niilismo europeu”.
4 A respeito dessa passagem, cf. a magistral interpretação de Oswaldo Giacóia em: (GIACÓIA, 1997), essencialmente o cap. “A Crise da Cultura como Escalada do Niilismo (De onde procede o mais sinistro dos hóspedes?)”.
5 Cf. KSA XII, 9 [35].
6 Van Tongeren nos apêndices A e B do seu livro Friedrich Nietzsche and European Nihilism - estudo mais atual e completo sobre o estatuto do niilismo em Nietzsche - apresenta uma lista de todos os textos de Nietzsche sobre o Nihilism e em que o termo nihili ocorre. Cf. Tongeren, 2018, p. 180-187.
7 Embora haja certa equivalência entre ambos os conceitos, o de décadence é mais pausado, por ex., quando Nietzsche diz que a Reforma representa uma decadência em relação ao Renascimento; ou que o sec. XVIII francês representa uma decadência em relação ao sec. XVII que ele considera como sendo o século de ouro da França.
8 A relação entre os temas da “morte de Deus” e do niilismo em Nietzsche é mais complexa, portanto, por ora, basta-nos uma visão mais geral, ou seja, o essencial entre os dois temas é abordado. A primeira vez que aparece o tema “a morte de Deus”, explicitamente, é em um fragmento, de 1881 - contemporâneo ao primeiro fragmento sobre o niilismo por nós supracitado -, aparece com a seguinte grafia: “Deus morreu - quem o matou?” (Gott ist todt - wer hat ihn denn getödtet?...) KSA IX, 12 [77]. Todavia, nessa época, Nietzsche ainda não relacionava explicitamente os dois temas, só fazendo-o anos depois, mais precisamente, em alguns póstumos de 1885-1886, reunidos no volume XII da KSA, cf. por ex, em um esboço do outono de 1885: KSA XII, 2 [131], 129-130.
9 Trata-se de um dos esboços para o primeiro cap. da obra então pretendida, à época, A vontade de poder, neste fecundo texto, Nietzsche estabelece uma ampla relação do niilismo com outro domínios, como o: da política, da religião (cristianismo e budismo), da arte, da ciência, da historie e da psicologia.
10 Cf., especialmente, KSA, I, 246.
11 “Como o homem deveria ser para empreender essa transvaloração de si próprio. (Wie die Menschen beschaffen sein müßten, welche diese Umwerthung an sich vornehmen.)“.
12 Para uma leitura mais imanente e sistemática desse texto cf.: Kuhn, 1992; Nabais, 1997; Riedel, 2000; Campioni, 2006; Araldi, 2013; Tongeren, 2018. Heidegger também dedicou páginas analisando alguns desses póstumos que compõem o conjunto dos textos de Lezenheider, todavia ao valorizar a compilação VP - que traí consideravelmente o conjunto desses textos, tal como Nietzsche os elaborou - acabou por negligenciar a ordem expositiva dos mesmos, comprometendo, deste modo, a sua interpretação para as pesquisas atuais (cf. HEIDEGGER, 1961, v. II).
13 Apesar de se tratar de advérbio, Nietzsche faz um uso substantivado do termo em, por ex., “Fica por demonstrar que este “em-vão!” (dies “Umsonst”) é o caráter de nosso niilismo atual” (KSA XII, 213).
14 As aspas se fazem necessárias, pois o temo niilismo não aparece, se quer uma vez, grifado no Za, embora a questão esteja presente, sobretudo, em seu correlato “a morte de Deus”.
15 KSA VI, 335.
16 Cf. sobre a hiperbolização do niilismo com o pensamento experimental do eterno retorno: KUHN, 1992; ARALDI, 2013.
17 É digno de nota um comentário sobre a sentença “amor fati”, tantas vezes usada por Nietzsche em sua obra e que é outra forma afirmativa do destino e tem uma intima conexão de identidade com o tema do eterno retorno. Amor fati é uma expressão latina que pode ser traduzida por “amor ao destino” e era usada para descrever uma atitude em que se vê tudo o que acontece na vida, incluindo o sofrimento e a perda como bom ou necessário, porque está entre os fatos da vida e da existência, queiramos nós ou não. Por isso, é caracterizado por uma aceitação dos eventos ou situações que ocorrem na vida. A ideia aparece no Epiteto, do início do século II - no Cap. VIII é dito que: “Não busques que os acontecimentos aconteçam como queres, mas queira que aconteçam como acontecem, e tua vida terá um curso sereno.” (Tradução do texto grego Aldo Dinucci; Alfredo Julien. Introdução e notas: Aldo Dinucci. São Cristóvão: EdiUFS, 2012, p. 18). Em Nietzsche, a expressão aparece em textos editados por ele próprio (GC 276, Nietzsche contra Wagner: Epilogo, § 1; EH, “Porque sou tão sagaz”, seção 10 e “O caso Wagner”, § 4), em fragmentos do espólio (KSA IX,15[20]; KSA IX,16[22]; KSA XIII, 16[32]); KSA XIII, 25[7]) e em forma epistolar, tal como na carta a Franz Overbeck de 5 junho de 1882 (KSB 6. 199-200). As duas passagens mais significativas das quais as outras são muitas das vezes variantes, com poucas exceções, são: EH, “Porque sou tão sagaz”, seção 10 e GC 276. A primeira expressa a partir da exaltação do amor fati a grandeza: “[...] A minha fórmula para grandeza do homem é amor fati”. Já a segunda abre o quarto livro de a GC, intitulado, por seu autor, de Sanctus Januarius e também conhecido como o livro sobre o eterno retorno, que é apresentado no parágrafo 341, o penúltimo do texto nietzschiano e com o qual a ideia de amor fati da abertura está intimamente ligada como forma afirmativa da vida: “[...] Eu quero aprender mais e mais, a ver aquilo que é necessário nas coisas como belo: - deste modo me tornarei um daqueles que tornam belas as coisas. Amor fati [amor ao destino]: seja este, de agora adiante, o meu amor! Não quero fazer guerra à feiura. Não quero acusar, não quero acusar nem mesmo os acusadores. Que a minha única negação seja desviar o olhar! E, tudo somado e em suma: quero ser, algum dia, alguém que diz apenas Sim!”. (GC 276).
18 Entre as inúmeras semelhanças e diferenças das duas interpretações, a maior divergência é que, enquanto Heidegger privilegia os textos póstumos, Löwith dá primazia aos publicados em vida.
19 Cf. HEIDEGGER, 1961 II, caps. de V a IX; cf. também HEIDEGGER, 1950.
20 Cf., Tongeren (2018), principalmente, os caps. IV e V.
21 Os póstumos que Stegmaier se refere são: KSA, XII, 410; KSA, XII, 432; KSA, XIII, 215. E, ainda, cita o KSA, XIII, 210, no qual Nietzsche fala sobre a superação do pessimismo. No KSA, XIII, 215, Nietzsche fala não apenas da autossuperação do niilismo, mas também da sua necessidade.

Autor notes

a JNJ é professor de Filosofia, Doutor em Filosofia, e-mail: jnjnicolao@gmail.com


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