Artículos

Parentalidade positiva e a sua relação com o desenvolvimento socioemocional em crianças

Positive parenting and its relation to socioemotional development in children

Silvana Martins
Unidade de Investigação em Ciências da Saúde: Enfermagem, Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, Portugal
Cláudia Augusto
Unidade de Investigação em Ciências da Saúde: Enfermagem, Escola Superior de Enfermagem de Coimbra; Escola Superior de Enfermagem da Universidade do Minho, Portugal
Maria José Silva
Escola Superior de Enfermagem da Universidade do Minho, Braga , Portugal
Ana Duarte
Escola Superior de Enfermagem da Universidade do Minho; Centro de Investigação em Estudos da Criança; Unidade de Investigação em Ciências da Saúde: Enfermagem, Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, Portugal
Fátima Martins
Unidade de Investigação em Ciências da Saúde: Enfermagem, Escola Superior de Enfermagem da Universidade do Minho; Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, Portugal
Rafaela Rosário
Unidade de Investigação em Ciências da Saúde: Enfermagem, Escola Superior de Enfermagem de Coimbra; Escola Superior de Enfermagem da Universidade do Minho; Centro de Investigação em Estudos da Criança, Portugal

Parentalidade positiva e a sua relação com o desenvolvimento socioemocional em crianças

Revista de Estudios e Investigación en Psicología y Educación, vol. 9, núm. 0, Esp., pp. 118-131, 2022

Universidade da Coruña

Aviso de derechos de autoría: Los trabajos publicados en esta revista están bajo una licencia Creative Commons Reconocimiento-CompartirIgual 4.0 Internacional. Los/as autores/as son los titulares de los derechos de explotación (copyright) de su trabajo, pero ceden el derecho de la primera publicación a la Revista de Estudios e Investigación en Psicología y Educación, la cual podrá publicar en cualquier lengua y soporte, divulgar y distribuir su contenido total o parcial por todos los medios tecnológicamente disponibles y a través de repositorios. Se permite y anima a los/as autores/as a difundir los artículos aceptados para su publicación en los sitios web personales o institucionales, antes y después de su publicación, siempre que se indique claramente que el trabajo pertenece a esta revista y se proporcionen los datos bibliográficos completos junto con el acceso al documento, preferiblemente mediante el DOI (en caso de que sea imprescindible utilizar un pdf, debe emplearse la versión final maquetada por la Revista).

Recepción: 15 Julio 2021

Revisado: 17 Marzo 2022

Aprobación: 21 Marzo 2022

Publicación: 29 Abril 2022

Resumo: A família é considerada importante na promoção de um desenvolvimento físico, cognitivo e socioemocional adequado. Este estudo pretendeu analisar as associações entre as dimensões da parentalidade positiva, a coparentalidade e o desenvolvimento e socioemocional de crianças entre os 12 e os 36 meses. Para a recolha de dados, utilizou-se um questionário de dados sociodemográficos, a Escala de Parentalidade Positiva, a Escala de Coparentalidade e a Escala de Desenvolvimento Socioemocional, preenchidos pelos pais em suporte de papel. Participaram 347 crianças (50.3% raparigas), com idades entre os 10 e os 35 meses. As mães destas crianças tinham, em média, 34.76 (DP = 4.79) anos e mais de metade terminou o ensino superior (62.1%). A figura paterna tinha, em média, 36.79 (DP = 4.95) anos e 48.3% terminou o ensino superior. Os resultados mostram a existência de correlações fracas e positivas entre o desenvolvimento socioemocional e as dimensões da parentalidade positiva. Além disso, existe uma relação fraca, negativa e estatisticamente significativa entre o desenvolvimento cognitivo e uma das dimensões da parentalidade positiva. As dimensões da coparentalidade não apresentam correlações estatisticamente significativas com o desenvolvimento socioemocional nem com o desenvolvimento cognitivo. Na análise de regressão multivariada, verificou-se que o desenvolvimento emocional está associado com a idade da criança e o envolvimento familiar.

Palavras-chave: criança, desenvolvimento socioemocional, parentalidade positiva, coparentalidade.

Abstract: The family is considered important in promoting adequate physical, cognitive, and socioemotional development. This study aimed to analyze the associations between the dimensions of positive parenting, co-parenting and socioemotional development of children aged 12 to 36 months. For data collection, we used a sociodemographic data questionnaire, the Positive Parenting Scale, the Coparenting Scale, and the Socioemotional Development Scale, filled out by parents on paper. Participants included 347 children (50.3% girls), aged between 10 and 35 months. The mothers of these children were, on average, 34.76 (SD = 4.79) years old and more than half had completed higher education (62.1%). The father was, on average, 36.79 (SD = 4.95) years old and 48.3% had completed higher education. The results show the existence of low, positive correlations between socioemotional development and the dimensions of positive parenting. In addition, there is a low, negative and statistically significant relationship between cognitive development and one of the dimensions of positive parenting. The dimensions of co-parenting do not show statistically significant correlations with either socioemotional development or cognitive development. In the multivariate regression analysis, it was found that socioemotional development is associated with the child's age and family involvement.

Keywords: child, socioemotional development, positive parenting, co-parenting.

A família é o primeiro ambiente social que a criança contacta e reveste-se de uma enorme importância na sua educação. É neste contexto que as crianças aprendem valores, comportamentos e competências que as ajudam a adaptar-se à vida e a desenvolver as suas capacidades (Al-Elaimat et al., 2020; Alarcão, 2006; Bayle, 2005; Palacios et al., 2014). Assim, o contexto familiar tem um papel fundamental na formação da personalidade de uma criança. Um ambiente familiar caraterizado pela confiança, lealdade e espírito de diálogo irá fomentar a construção de uma personalidade saudável. Porém, um ambiente familiar marcado por discussões e relações tensas poderá traduzir-se no desenvolvimento de problemas de comportamento e de personalidade (Al-Elaimat et al., 2020; Rodrigues, 1997).

De entre os sistemas que compõem as famílias, o subsistema parental deve assegurar a promoção e a educação dos filhos com o objetivo de potenciar o seu desenvolvimento global. Deste modo, um exercício positivo da parentalidade poderá responder de forma mais eficaz às necessidades de desenvolvimento da criança. Atendendo à Teoria da Segurança Emocional proposta por Cummings e Miller-Graff (2015), o ajustamento da criança e o seu desenvolvimento socioemocional são influenciados pelos sentimentos de segurança que sentem em relação ao ambiente familiar, nomeadamente a relação entre pais e filhos e a qualidade da relação interparental.

Quando analisamos o conceito de parentalidade positiva, verificamos que a tarefa parental engloba um conjunto de aspetos chave, como o apoio, o afeto, a comunicação, o estabelecimento de rotinas, normas, limites e consequências, sem recorrer à violência; elementos que se vão solidificando com o acompanhamento e implicação dos pais no quotidiano da criança. Esta diversidade de comportamentos parentais constitui uma resposta às necessidades desenvolvimentais dos filhos (Daly, et al., 2015; Rodrigo, et al., 2015).

A interação entre pais e filhos não se estabelece através de uma linha unidirecional. Os modelos teóricos subjacentes à parentalidade positiva destacam que o processo de socialização da criança resulta da interação bidirecional, em que pais e filhos se influenciam mutuamente (Rodrigo et al., 2015).

O desenvolvimento socioemocional e, consequentemente, a compreensão básica recetiva e expressiva das emoções é uma das primeiras competências que emerge na primeira infância (Rhoades et al., 2011). O conhecimento e a compreensão das emoções pelas crianças é um aspeto importante na consciência social, sendo uma das várias competências que refletem um desenvolvimento socio-emocional ajustado (Collaborative for Academic Social and Emotional Learning [CASEL], 2003).

Sabe-se que o desenvolvimento socioemocional é uma das áreas do desenvolvimento infantil fortemente dependente das primeiras interações com os pais (Nandy et al., 2020). Dentro da multiplicidade do comportamento parental, o brincar e a interação pais-filhos surgem como fatores chave na aquisição de competência socioemocional da criança (Cabrera et al., 2017; Menashe-grinberg & Atzaba-poria, 2017).

Numa revisão sistemática desenvolvida por Alves e Martins (2021) foram identificados estudos que reforçam a influência dos estilos parentais no desenvolvimento socioemocional da criança. Os resultados analisados sugerem que o calor afetivo, o envolvimento emocional, o diálogo, o respeito, o estabelecimento de normas e limites e a resposta às necessidades das crianças estão relacionados com um melhor desenvolvimento socioemocional.

A aquisição e desenvolvimento destas competências são aspetos muito importantes, uma vez que elas podem ajudar a criança a controlar as suas emoções, pensamentos e ações de modo a poder adaptar-se de forma saudável ao ambiente social em que está inserida, tornando-a um ser humano mais confiante e capaz de enfrentar a vida diária cheia (Mejah et al., 2019).

Os estudos que relacionam o desenvolvimento socioemocional e a parentalidade positiva têm-se focado nos estilos e práticas parentais (Al-Elaimat et al., 2020; Sahithya et al., 2019; Williams et al., 2009). Neste sentido, é importante considerar outras dimensões da parentalidade positiva e do comportamento parental e estudar o seu impacto no comportamento e no desenvolvimento socioemocional da criança.

Considerando estes elementos teóricos, este estudo tem como objetivo estudar as associações entre as dimensões da parentalidade e coparentalidade (variáveis preditoras) e o desenvolvimento socioemocional (outcome) em crianças com idades entre os 12 e os 36 meses.

Método

Participantes

Participaram neste estudo 343 crianças (51% raparigas) com uma idade média de 23.59 meses (DP = 6.28). A figura materna destas crianças apresentou uma idade média de cerca de 34.76 anos (DP = 4.79) e, a maioria completou o ensino superior (62.1%). A figura paterna tinha em média 36.79 anos (DP = 4.95), tendo a maioria completado o secundário (34.3%) e o ensino superior (48.3%) (cf. Tabela 1).

Tabela 1
Tabela 1
NFrequência absolutaMédiaDPMinMáx
Sexo da criança343
Feminino17551%
Masculino16849%
Idade da criança (meses)34723.596.281035
Idade da mãe (anos)21334.754.791946
Escolaridade da mãe214
Ensino básico157%
Ensino secundário6630.8%
Ensino Superior13362.1%
Idade do pai (anos)20136.794.952350
Escolaridade do pai201
Ensino básico3517.4%
Secundário6934.3%
Ensino Superior9748.3%

Caracterização sociodemográfica da amostra

Instrumentos

Questionário de dados sociodemográficos. A recolha de dados sociodemográficos foi realizada através de um questionário construído no âmbito projeto. Este questionário versou a identificação da idade, profissão e escolaridade dos pais e a idade e sexo da criança.

Escala de Parentalidade Positiva. A Escala de Parentalidade Positiva (EPP; Suárez et al., 2016; tradução portuguesa de Martins & Almeida, s.d.) é um questionário que avalia as perceções dos pais relativamente aos princípios da parentalidade positiva. A versão portuguesa é constituída por 12 itens, cotados através de uma escala de tipo Likert de 4 pontos, em que 1 representa o “nunca” e o 4 “sempre”. Os itens que compõem esta escala são agrupados em quatro subescalas, cada uma delas constituída por 3 itens: Envolvimento familiar (α = .65), Afeto e reconhecimento (α = .61), Comunicação e controlo do stress (α = .67), Partilha de atividades (α = .62).

Escala de Coparentalidade. O Questionário de coparentalidade (CQ; Margolin et al., 2001) é um questionário de heterorrelato que avalia as perceções que os cônjuges/parceiros têm um do outro enquanto pais. O questionário foi adaptado para a população portuguesa por Pedro e Ribeiro (2015) e é constituído 14 itens distribuídos por três subescalas: Cooperação (α = .818), Conflito (α = .540) e Triangulação (α = .719). Resultados elevados indicam níveis elevados de cooperação, conflito e triangulação.

Escala de Desenvolvimento Socioemocional. A Escala de Desenvolvimento Socioemocional (Breinbauer et al., 2010) é uma adaptação da Greenspan Social-Emotional Growth Chart: A Screening Questionnaire for Infants and Young Children (Greenspan, 2004; Greenspan & Shanker, 2004) e foi traduzido para português por (Santos, Lopes, Sousa-Sá, Oliveira, Silva, & Rosário, s.d.). A escala, desenvolvida para crianças desde o nascimento até aos 42 meses de idade, avalia marcos de desenvolvimento socioemocional que representam padrões e metas significativos e não apenas emoções específicas ou isoladas ou, ainda, capacidades sociais (Bayley, 2006). Está dividida em oito grupos etários e abrange seis grandes marcas do desenvolvimento emocional. É constituída por 35 itens, em que cada item pode ser respondido com recurso a uma escala de tipo likert de 5 pontos onde o 0 (Não sei dizer) e o 5 (Sempre). O cálculo do total da escala é ajustado à idade. Os primeiros oito itens referem-se ao processamento sensorial e não estão relacionados com a idade. É calculado o score do questionário através da soma das pontuações em cada um dos itens, posteriormente calculado num score padronizado onde a pontuação máxima é de 40. A partir deste score são calculados os percentis. Os resultados do questionário permitem a identificação de três tipos de competências gerais: i) domínio total, em que a criança demonstra proficiência ou domínio das competências necessárias; ii) domínio emergente, que remete para a necessidade de maior estimulação da criança e, caso não se verifique uma evolução poderá ser necessária uma avaliação mais aprofundada; e, iii) possíveis desafios, em que a criança poderá necessitar de mais avaliações para adquirir mais plenamente as aptidões necessárias. Para esta amostra, o valor de consistência interna foi de .908.

Procedimento

Desenvolveu-se um estudo com recurso a uma metodologia quantitativa, não experimental, descritivo, correlacional e multivariado através de uma amostra de crianças de diferentes creches do concelho de Braga. As creches foram informadas acerca do estudo e, após a sua autorização, foram enviados para os pais a explicação do estudo e foi-lhe solicitado o preenchimento dos consentimentos informados. Foi atribuído um código de participação a cada criança de forma a garantir o anonimato e a confidencialidade dos dados. Os questionários foram enviados para os pais, em envelope fechado, e devolvidos à creche após o seu preenchimento.

Plano analítico

Para a análise dos dados deste estudo recorreu-se ao IBM SPSS versão 27, utilizando técnicas de estatística descritiva e inferencial.

A análise descritiva (médias e desvio-padrão, mediana e intervalo interquartílico, moda e frequência) permitiu caracterizar a amostra.

Em termos de estatística inferencial optou-se pela análise das correlações de Pearson. Seguiu-se a realização de uma regressão linear múltipla, estando cumpridos todos os pressupostos estatísticos: dimensão adequada da amostra, independência das observações (valores de Durbin-Watson entre 1 e 3), ausência de singularidade e ausência de multicolinearidade (valores de VIF inferiores a 4 e valores de tolerância entre .1 e 4), ausência de outliers e normalidade, linearidade, homocedasticidade e independência dos resíduos (Field, 2005). Na regressão, o desenvolvimento socioemocional foi a variável dependente; a idade, as dimensões da coparentalidade (Cooperação, Triangulação e Conflito) e as dimensões da parentalidade (Envolvimento familiar, Afeto e reconhecimento, Comunicação e controlo do stress e Partilha de atividades) foram as variáveis independentes.

Aspetos éticos e legais

O estudo foi aprovado pelo Subcomité de Ética para a Investigação em Ciências da Vida e da Saúde da Universidade do Minho (CE.CVS 133/2018).

De forma a garantir o anonimato e a confidencialidade dos dados, as crianças que participaram no estudo foram codificadas. Esse código passou a figurar em todos dados recolhidos para que fosse possível fazer o emparelhamento dos mesmos.

Os pais receberam informação sobre o estudo e foram obtidos consentimentos informados por escrito dos pais ou prestadores de cuidados das crianças. Este estudo será conduzido de acordo com a Declaração de Helsínquia para Estudos com Humanos.

Resultados

Na tabela 2 encontram-se os dados relativos aos valores de correlação de Pearson entre a idade, o Desenvolvimento socioemocional e as escalas e subescalas da Escala de Coparentalidade e da Escala de Parentalidade Positiva. Os resultados mostram-nos que o desenvolvimento socioemocional das crianças desta amostra apresenta uma correlação negativa, fraca e estatisticamente significativa com a idade (ρ = -.216). Por sua vez, o desenvolvimento socioemocional não apresenta correlações estatisticamente significativas com a Coparentalidade e as suas respetivas subescalas. O mesmo não ocorreu com as subescalas da Escala de Parentalidade Positiva. Aqui os resultados obtidos demonstraram a existência de correlações positivas e estatisticamente significativas, as quais variam entre valores negligenciáveis (ρ = .156) com a subescala Comunicação e controlo do stress e valores fracos (ρ = .260) com o total da Escala de Parentalidade Positiva.

Tabela 2
Tabela 2
12345678910
1. Idade--
2. Desenvolvimento sociodemocional-.216**--
4. Cooperação-.012.085--
5. Triangulação.050-.042-.076--
6. Conflito.011-.011-.526**.516**--
7. Parentalidade positiva total-.013.275**.356**-.037-.470**--
8. Envolvimento familiar-.054.244**.419**-.121-.419**.793**--
9. Afeto e reconhecimento.005.162*.146*-.074-.156*.602**.373**--
10. Comunicação e controlo do stress-.016.165*.119.015-.384**.729**.357**.326**--
11. Partilha de atividades.033.199**.301**.020-.336**.749**.484**.380**.319**--

Correlações de Pearson entre o Percentil do Desenvolvimento Socioemocional, a Coparentalidade e Parentalidade Positiva

** p < .01* p <.05

Na tabela 3 estão sintetizados os resultados obtidos na análise da regressão linear múltipla e a contribuição da idade da criança e das subescalas da Coparentalidade e da Parentalidade positiva para o desenvolvimento socioemocional. Os resultados mostram que dois preditores explicam significativamente o desenvolvimento socioemocional das crianças desta amostra. Pela a análise do O coeficiente de regressão linear múltipla, é possível constatar que estas variáveis preditoras explicam 14.2% de variância ocorrida no desenvolvimento emocional. O resultado da análise da co-variância (ANOVA) demonstrou que o modelo é estatisticamente significativo. Dos preditores escolhidos para o modelo, apenas a idade da criança e o Envolvimento apresentam valores estatisticamente significativos.

Tabela 3
Tabela 3
Coeficientes não estandardizadosCoeficientes estandardizados
RR2FBSEβt
Modelo.377.1423.867***
Preditores
Idade-.959.316-.208-3.03**
Cooperação-6.024.71-.1152.24
Triangulação-4.8310.08-.040-1.28
Conflito8.725.34.151-.479
Envolvimento familiar10.94.87.2021.63*
Afeto e reconhecimento5.159.09.0432.24
Comunicação e controlo do stress7.464.31.138.567
Partilha de atividades7.785.19.1271.73

Sumário da análise da regressão múltipla dos preditores do desenvolvimento socioemocional

*** p < .001** p < .01* p <.05

Discussão

Este estudo evidencia que o comportamento parental positivo está associado a um melhor desenvolvimento socioemocional em crianças. As correlações obtidas parecem indicar que quanto maior o envolvimento familiar, o afeto e reconhecimento, a comunicação e o controlo do stress e a partilha de atividade melhores serão as capacidades socioemocionais das crianças; assim como um maior desenvolvimento emocional das crianças se traduz num comportamento parental mais positivo. Os pais são figuras primordiais no momento em que prestam apoio na regulação emocional das crianças. Segurar, balançar ou orientar a atenção das crianças de forma a ajudá-las a gerir situações emocionalmente complexas são comportamentos parentais que contribuem para o desenvolvimento sociemocional dos seus filhos (Williams & Berthelsen, 2017). Estes aspetos são facilmente observados no estudo de Al-Elaimat et al. (2020). Estes autores estudaram a relação entre os estilos parentais e o nível de inteligência emocional de crianças em idade pré-escolar e concluíram que o comportamento parental tem um forte impacto na competência emocional dos seus filhos. Contudo, a literatura também reforça esta influência bidirecional entre as características das crianças e o comportamento parental. As crianças que são percecionadas como tendo um comportamento mais reativo parecem ter mães com níveis mais elevados de stress. É importante ter em consideração que as relações são co-construídas e que as características individuais de pais e filhos contribuem e interagem de igual modo na forma como a relação se constrói e desenvolve ao longo do tempo (Dalimonte-Merckling & Brophy-Herb, 2018).

A idade da criança apresentou uma correlação negativa com o desenvolvimento socioemocional. Hoemann e colaboradores (2019) afirmaram que o desenvolvimento socioemocional pode ser entendido como um problema de construção de conceitos. Desta forma, para estes autores, uma criança torna-se capaz de experimentar e perceber a emoção apenas quando o seu cérebro desenvolve a capacidade de contruir conceitos emocionais com o objetivo de orientar o seu comportamento e dar sentido aos inputs sensoriais. Este desenvolvimento poderá tornar as crianças mais conscientes do meio e das pessoas com quem se relacionam; por sua vez, esta maior consciência poderá traduzir-se num comportamento de maior inibição por parte da criança influenciando a perceção que os pais têm do desenvolvimento social e emocional dos seus filhos.

Por seu lado, verificamos que a idade da criança e o envolvimento familiar parecem explicar o desenvolvimento socioemocional da criança, pelo que é expectável que o crescimento da criança se traduza em maiores competências socioemocionais por parte das crianças. As interações que estabelecem no seu quotidiano e as brincadeiras assumem-se como elementos potenciadores do desenvolvimento das crianças. Estes elementos vão-se complexificando com o seu crescimento. O envolvimento familiar espelha a necessidade das famílias em partilhar sonhos e objetivos, a distribuição conjunta das tarefas e a resolução de problemas de convivência de forma conjunta (Suárez et al., 2016). Este comportamento familiar poderá ser um forte potenciador das relações e um fator protetor no momento de resolução de conflitos. Neste sentido, a forma como os pais se colocam na relação que estabelecem com os filhos parece influenciar o seu desenvolvimento socioemocional. Há inclusive estudos que apontam que a presença de sintomas depressivos e o stress parental em mães estão associados a dificuldades no desenvolvimento socio-emocional de crianças em idade pré-escolar (Santelices et al., 2021).

Uma vez que este estudo pretendeu, apenas, analisar as relações entre as dimensões da parentalidade e o desenvolvimento socioemocional, seria importante considerar a influência de outras variáveis tais como: o nível socioeconómico, a escolaridade da mãe e o desenvolvimento cognitivo.

Conscientes do impacto que as variáveis parentais apresentam no desenvolvimento infantil, é essencial que a comunidade se articule e ofereça estratégias que reforcem o apoio às famílias. Neste sentido, será essencial repensarem-se as políticas de apoio à família, mais especificamente o desenvolvimento de medidas que facilitem um exercício positivo da parentalidade, tal como ele foi preconizado através da Recomendação Rec (2006) 19 do Conselho da Europa (Council of Europe, 2006). Estas medidas poderão incluir o alargamento da licença de maternidade e paternidade, o estabelecimento de políticas laborais que permitam às mães e aos pais um maior acompanhamento dos filhos ou o reforço de respostas sociais que apoiem de forma mais eficaz o desenvolvimento das crianças (por exemplo, desenvolvimento de um guia de boas práticas para o trabalho em creche). Outro aspeto que poderá funcionar como um fator protetor da boa convivência familiar será a aposta no desenvolvimento de intervenções de promoção da parentalidade positiva à família e, desta forma, potenciar o desenvolvimento socioemocional das crianças.

Agradecimentos

Um agradecimento à Fundação Calouste Gulbenkian, cujo financiamento permitiu a realização deste estudo. Um enorme agradecimento às creches que colaboraram com a equipa de investigação e nos receberam sempre de forma muito positiva nas suas instituições. Por fim, um agradecimento a todas as famílias que aceitaram participar no estudo.

Referências

Al-Elaimat, A., Adheisat, M., & Alomyan, H. (2020). The relationship between parenting styles and emotional intelligence of kindergarten children. Early Child Development and Care, 190(4), 478–488. https://doi.org/10.1080/03004430.2018.1479403

Alarcão, M. (2006). (Des)Equilíbrios familiares (3rd ed.). Quarteto Editora.

Alves, J., & Martins, I. (2021). Parentalidade e desenvolvimento socioemocional: Uma revisão [Parentality and socioemotional development: A review]. Revista Inclusiones, 8(3), 385–398. DOI: https://doi.org/10.51891/rease.v7i8.1967

Bayle, F. (2005). A Parentalidade. In I. Leal (Ed.), Psicologia da gravidez e da parentalidade. Fim de Século.

Bayley, N. (2006). Bayley scales of infant and toddler development. Administration Manual. Pearson.

Breinbauer, C., Mancil, T. L., & Greenspan, S. (2010). The Bayley-III Social-Emotional Scale. Bayley-III Clinical Use and Interpretation, 147–175. https://doi.org/10.1016/B978-0-12-374177-6.10005-4

Cabrera, N. J., Karberg, E., Malin, J. L., & Apego, C. De. (2017). The magic of play: Low-income mothers’ and fathers’ playfulness and children’s emotion regulation and vocabulary skills. Infant Mental Health Journal, 38(6), 757–771. https://doi.org/10.1002/imhj.21682

Collaborative for Academic Social and Emotional Learning (CASEL). (2003). Safe and sound: An educational leader’s guide to evidence-based social and emotional learning (SEL) programs. Casel. https://casel.org/safe-and-sound-guide-to-sel-programs/

Cummings, E. M., & Miller-Graff, L. E. (2015). Emotional Security Theory: An Emerging Theoretical Model for Youths’ Psychological and Physiological Responses Across Multiple Developmental Contexts. Current Directions in Psychological Science, 24(3), 208–213. https://doi.org/10.1177/0963721414561510

Dalimonte-Merckling, D. M., & Brophy-Herb, H. E. (2018). A Person-Centered Approach to Child Temperament and Parenting. Child Development, 00(0), 1–16. https://doi.org/10.1111/cdev.13046

Daly, M., R. Bray, Z. Bruckauf, J. Byrne, A. Margaria, N. P., & ´nik Samms-Vaughan, and M. (2015). Family and Parenting Support Policy and Provision in a Global Context Policy and Provision in a Global Context. https://www.unicef-irc.org/publications/pdf/01%20family_support_layout_web.pdf

Field, A. (2005). Discovering Statistics Using SPSS. In Ibm Introducing Statistical Methods (Vol. 2nd, Issue Third Edition). SAGE Publications https://doi.org/10.1016/j.landurbplan.2008.06.008

Greenspan, S. (2004). Greenspan social-emotional growth chart: A screening questionnaire for infants and young children. Harcourt Assessment.

Greenspan, S., & Shanker, S. (2004). The first idea: How symbols, language, and intelligence evolved from our primate ancestors to modern humans. Da Capo Press.

Hoemann, K., Xu, F., & Barrett, L. F. (2019). Emotion words, emotion concepts, and emotional development in children: A constructionist hypothesis. Developmental Psychology, 55(9), 1830–1849. https://doi.org/10.1037/dev0000686

Margolin, G., Gordis, E. B., & John, R. S. (2001). Coparenting: A link between marital conflict and parenting in two-parent families. Journal of Family Psychology, 15(1), 3–21. https://doi.org/10.1037/0893-3200.15.1.3

Mejah, H., Yazid, A., Bakar, A., & Amat, S. (2019). The socio-emotional development of preschoolers: a case study. Konselor, 8(1), 1–5. https://doi.org/10.24036/0201981103975-0-00

Menashe-grinberg, A., & Atzaba-poria, N. (2017). Mother-child and father-child play interaction: The importance of parental playfulness as a moderator of the links between parental behavior and child negativity. Infant Mental Health Journal, 00(0), 1–11. https://doi.org/10.1002/imhj.21678

Nandy, A., Nixon, E., & Quigley, J. (2020). Infant Behavior and Development Parental toy play and toddlers’ socio-emotional development: The moderating role of coparenting dynamics. Infant Behavior and Development, 60, 101465. https://doi.org/10.1016/j.infbeh.2020.101465

Palacios, J., Oliva, A., Moreno, M., González, M., Hidalgo, V., Jiménez, J., Antolín, L., Jiménez, L., López, F., Román, M., Estévez, R., Mena, A., Ortega, M., & Pascual, D. (2014). Proyecto apego sobre “Evaluación y Promoción de Competencias Parentales en el Sistema Sanitario Público Andaluz” - Parte 2. Junta de Andalucía. Consejería de Igualdad, Salud y Políticas Sociales. https://idus.us.es/xmlui/handle/11441/74246

Pedro, M. F., & Ribeiro, M. T. (2015). Adaptação Portuguesa do questionário de coparentalidade: Análise fatorial confirmatória e estudos de validade e fiabilidade. Psicologia: Reflexão e Critica, 28(1), 116–125. https://doi.org/10.1590/1678-7153.201528113

Rhoades, B. L., Warren, H. K., Domitrovich, C. E., & Greenberg, M. T. (2011). Early Childhood Research Quarterly Examining the link between preschool social-emotional competence and first-grade academic achievement: The role of attention skills. Early Childhood Research Quarterly, 26, 182–191. https://doi.org/10.1016/j.ecresq.2010.07.003

Rodrigo, M.J. Máiquez, M.L., Martín, J.C. y Rodríguez, B. (2015). La parentalidad positiva desde la prevención y la promoción. In M.J. Rodrigo (Ed.), Manual práctico de parentalidad positiva (pp. 25–43). Síntesis.

Rodrigues, E. (1997). Menores em risco: que família de origem? In M. Carneiro (Ed.), Crianças de risco (pp. 539–696). Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas.

Sahithya, B. R., Manohari, S. M., & Vijaya, R. (2019). Parenting styles and its impact on children–a cross cultural review with a focus on India. Mental Health, Religion and Culture, 22(4), 357–383. https://doi.org/10.1080/13674676.2019.1594178

Santelices, M. P., Tagle, F., & Immel, N. (2021). Depressive Symptomatology and Parenting Stress: Influence on the Social-Emotional Development of Pre-Schoolers in Chile. Children, 8(5), 387. https://doi.org/10.3390/children8050387

Suárez, A., Byrne, S., & Rodrigo, M. J. (2016). Validación de la Escala de Parentalidad Positiva (EPP) para evaluar programas presenciales y online de apoyo parental || Validation of the Positive Parenting Scale (PPS) for evaluating face-to-face and online parenting support programs. Revista de Estudios e Investigación En Psicología y Educación, 3(2), 112. https://doi.org/10.17979/reipe.2016.3.2.1883

Williams, K. E., & Berthelsen, D. (2017). The Development of Prosocial Behaviour in Early Childhood: Contributions of Early Parenting and Self-Regulation. International Journal of Early Childhood, 49(1), 73–94. https://doi.org/10.1007/s13158-017-0185-5

Williams, L. R., Degnan, K. A., Perez-Edgar, K. E., Henderson, H. A., Rubin, K. H., Pine, D. S., Steinberg, L., & Fox, N. A. (2009). Impact of behavioral inhibition and parenting style on internalizing and externalizing problems from early childhood through adolescence. Journal of Abnormal Child Psychology, 37(8), 1063–1075. https://doi.org/10.1007/s10802-009-9331-3

HTML generado a partir de XML-JATS4R por