Reseñas

![]() | Moura Octávio, Pereira Marcelino, Simões Mário R.. 2020. Lisboa, Portugal. PACTOR. 406pp.. 978-989-693-091-2 |
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Recepción: 17 Noviembre 2021
Revisado: 19 Febrero 2022
Aprobación: 21 Febrero 2022
Publicación: 01 Julio 2022
Octávio Moura (Psicólogo e Investigador Doutorado Integrado do Centro de Investigação em Neuropsicologia e Intervenção Cognitivo-Comportamental da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra), Marcelino Pereira (Psicólogo e Professor Associado da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra) e Mário R. Simões (Psicólogo e Professor Catedrático da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra) organizaram esta obra, Perturbação de Hiperatividade/Défice de Atenção: Diagnóstico, intervenção e desenvolvimento ao longo da vida, procurando compilar informação científica, vasta e atualizada, sobre a perturbação em causa.
O livro é extenso e compreende 12 capítulos, cujos autores, nacionais e internacionais, são especialistas na área e com formação diversa (na área da Psicologia, Neuropsicologia, Medicina, Pediatria ou Psiquiatria). Estes capítulos permitem uma panorâmica minuciosa e completa quando se procura um entendimento, compreensivo e rigoroso, sobre a Perturbação de Hiperatividade/Défice de Atenção (PHDA) nos campos multidisciplinares da Psicologia, da Medicina e da Educação, ou ainda noutras áreas envolvidas, direta ou indiretamente, na questão da PHDA. A leitura desta obra, além de permitir uma compreensão histórica do estudo da perturbação, permite desenvolver conhecimento sobre a avaliação e a intervenção, bem como sobre os contributos mais recentes ao nível da Neurologia.
No capítulo 1, PHDA: Do passado ao presente, Maria Inês Freitas e Marcelino Pereira apresentam a evolução da concetualização e tratamento da PHDA desde o século XVIII ao século XXI. De destacar neste último, os dados mais recentes no que se refere à definição de PHDA e os critérios de diagnóstico segundo o DSM-5 (American Psychiatric Association, 2014), a prevalência, a diferença entre sexos, a etiologia e a comorbilidade. Terminam com uma breve nota sobre a PHDA em Portugal, referindo alguns trabalhos realizados sobre a mesma.
No capítulo 2, PHDA: Novos desenvolvimentos, problemas e desafios, Arthur Caye, David Coghill, Alessandro Zuddas, Tobias Banaschewski e Luís Rohde referem ainda a necessidade de estudos multidisciplinares em algumas áreas relacionadas com a PHDA dado o conhecimento atual ainda ser inconclusivo. Nesse sentido, elencam alguns aspetos que na ótica dos autores se revestem de interesse para novas investigações nomeadamente aspetos que se prendem com a nosologia, a epidemiologia, a trajetória desenvolvimental da infância para a idade adulta, a etiologia e a patofisiologia, a relação entre a PHDA e os jogos e a tecnologia, a otimização dos resultados de tratamento e os modelos de prestação de cuidados, as especificidades do tratamento da PHDA em diferentes fases da vida, e os big data na pesquisa e prática da PHDA.
No capítulo 3, Prevalência da PHDA, Octávio de Moura, Marcelino Pereira e Mário R. Simões dão conta sobre a prevalência da PHDA, a nível mundial e em Portugal, em função do sexo e da idade, e na família. Apontam a PHDA como uma das perturbações mais frequentes, sendo mais prevalente na infância e nos rapazes, parecendo os fatores genéticos importantes na sua ocorrência e encontrando-se em todos os países e culturas.
No capítulo 4, Neuroimagem na PHDA, Daniela Jardim Pereira apresenta a neuroimagem para a compreensão da fisiopatologia da PHDA e do reconhecimento da sua base neurobiológica, elencando os princípios metodológicos e técnicas associados à neuroimagem e explicando a sua aplicação no caso da PHDA na compreensão da evolução da PHDA na idade adulta e na avaliação do efeito da terapêutica farmacológica. A terminar, expõe os potenciais contributos da ressonância magnética, que carecem de mais estudos, como neuromarcador e classificador, importante para descrever e prever a evolução, e como terapêutica não farmacológica na PHDA.
No capítulo 5, Impacto a longo prazo dos Défices de Atenção, Hiperatividade e Impulsividade, António Castro Fonseca explica a persistência da PHDA ao longo do desenvolvimento da criança ressaltando a necessidade de mais estudos. Apresenta dados de investigação sobre a continuidade dos défices de atenção/hiperatividade, a realização vocacional e o bem-estar geral, o impacto da PHDA no comportamento antissocial e no crime, e no consumo de drogas, bem como outros problemas registados ao nível da saúde e as diferenças sexuais relacionadas com PHDA.
No capítulo 6, O papel das entrevistas e das escalas de avaliação de comportamentos na PHDA, Ana Rodrigues e Mariana Neves abordam o processo de diagnóstico, enfatizando a importância e necessidade do bom uso, do ponto de vista técnico e ético, dos instrumentos de avaliação. Apresentam uma listagem e caracterização de entrevistas semiestruturadas e de escalas utilizadas para a avaliação da PHDA quer em crianças e adolescentes quer em adultos.
No capítulo 7, Avaliação neuropsicológica na PHDA, Octávio de Moura, Marcelino Pereira e Mário R. Simões apontam o contributo que a avaliação neuropsicológica pode providenciar ao diagnóstico e à caracterização neurocognitiva da pessoa com PHDA, descrevendo características do funcionamento executivo, e de escalas para o avaliar, bem como a influência dos estimulantes no desempenho neurocognitivo, alertando para a necessária integração com os dados de outras fontes de avaliação, numa lógica compreensiva do fenómeno, e para as limitações da avaliação neuropsicológica.
No capítulo 8, Défices no funcionamento executivo em crianças em idade pré-escolar com PHDA, Alessandra Gotuzo Seabra, Regina Luísa de Freitas Marino, Adriana de Fátima Ribeiro e Luís Renato Rodrigues Carreiro alertam para a possibilidade de PHDA na idade pré-escolar, discorrendo sobre o diagnóstico de PHDA nesta idade e as componentes das funções executivas, explicitando ainda como um défice nas funções executivas pode estar associado à PHDA.
No capítulo 9, Terapêutica farmacológica na PHDA, José Boavida, Susana Nogueira e Inês Nunes Vicente explicam a terapêutica farmacológica aprovada para a PHDA, ou seja, os fármacos estimulantes e os não estimulantes, identificando-os e descrevendo os seus mecanismos de ação, indicações e efeitos secundários. Acrescentam ainda um apartado sobre aspetos práticos a considerar em situações particulares, nomeadamente, o ajuste de medicação, a dosagem e a duração do tratamento em função da variabilidade individual bem como a prevalência da PHDA com outras perturbações.
No capítulo 10, Aplicabilidade do Programa Anos Incríveis para pais na PHDA em idade pré-escolar, Andreia Fernandes Azevedo, Maria João Seabra-Santos, Maria Filomena Gaspar e Tatiana Carvalho Homem apresentam o Programa Anos Incríveis Básico para pais de crianças com PHDA em idade pré-escolar, acompanhado da evidência empírica internacional sobre o mesmo. Descrevem um estudo de aplicação do Programa em Portugal e as conclusões que evidenciam dados preliminares, indiciando eficácia em presença de eventual PHDA e alertando para a possibilidade de aplicação numa lógica de prevenção e não apenas remediação.
No capítulo 11, Treino de competências parentais na PHDA, Paulo José Costa e Luís Simões descrevem o que consideram como pressupostos das intervenções psicológicas e do treino de competências parentais na PHDA, nomeadamente sobre o desenvolvimento de programas de competências parentais e de questões metodológicas a considerar na aplicação dos mesmos. Apresentam ainda informação muito útil com exemplos de programas de competências parentais aplicados em presença de PHAD.
No capítulo 12, Intervenção na PHDA no adulto, Ana Machado, Diana Rafaela, Patrícia Regueira e Joaquim Cerejeira alertam para a PHDA na idade adulta e as implicações funcionais. De forma mais específica apresentam abordagens terapêuticas validades atualmente, as quais compreendem, intervenção psicofarmacológica específica e intervenção não farmacológica, referindo ainda possíveis abordagens terapêuticas quando face à PHDA existem comorbilidades psiquiátricas.
Por último, mas não menos importante, uma referência à nota prévia dos organizadores do livro. Merece atenção porque alertam para a designação de PHDA, em uso e adotada na tradução portuguesa do DSM-5 (APA, 2014), quando na publicação original com o termo Attention-Deficit/Hyperactivity Disorder (APA, 2013), e noutras traduções, a enfâse é colocada no défice de atenção e não na hiperatividade. Por isso, e também pelos dados da investigação à data, apontam como uma melhor designação, em Portugal, a expressão de Perturbação de Défice de Atenção/Hiperatividade, sugerindo essa revisão em futuras edições, facto com o qual também se concorda com os organizadores da obra e se sugere reflexão.
A leitura deste livro permite a clarificação e atualização do conhecimento sobre uma perturbação bastante frequente. Aponta linhas recentes de investigação e a necessidade de desenvolvimento de mais estudos, nomeadamente ao nível da Neurologia, não esquecendo possibilidades de intervenção e o alargamento da atenção à PHDA no indivíduo adulto.
Este é um livro vasto e denso. Em consequência, o que revela como uma grande fortaleza, a sua abrangência e diversidade de capítulos, torna-se também a sua fragilidade, pois pode conduzir a dispersão e a desmotivação por parte do leitor. Não obstante, se o livro for encarado como uma pequena “biblioteca” sobre a PHDA, a leitura pode ser selecionada e centrada no(s) “livro(s)”, ou seja, no(s) capítulo(s), que corresponda(m), e melhor responda(m), à demanda do utilizador.
É uma obra que pela sua pertinência e alcance se recomenda a professores e alunos em formação nas áreas da Psicologia, da Saúde e da Educação, bem como a profissionais, educadores e pais que tenham interesse e/ou necessidade de maior elucidação sobre a PHDA e diversos fatores associados.
Referencias
American Psychiatric Association (2013). Diagnostic and statistical manual of mental disorders (5th ed.). https://doi.org/10.1176/appi.books.9780890425596
American Psychiatric Association (2014). Manual de diagnóstico e estatística das perturbações mentais (5.ª ed.). Climepsi Editores.