RESENHA
RESENHA DO LIVRO “TEACHER PREPARATION IN SCOTLAND” (FORMAÇÃO DE PROFESSORES NA ESCÓCIA)
BOOK REVIEW “TEACHER PREPARATION IN SCOTLAND
REVISIÓN DEL LIBRO “PREPARACIÓN DE PROFESORES EN ESCOCIA”
RESENHA DO LIVRO “TEACHER PREPARATION IN SCOTLAND” (FORMAÇÃO DE PROFESSORES NA ESCÓCIA)
Revista Práxis Educacional, vol. 17, núm. 46, pp. 528-537, 2021
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
Recepção: 05 Fevereiro 2021
Aprovação: 19 Abril 2021
Resumo: Esta resenha objetiva destacar as ideias principais do livro “Teacher Preparation in Scotland” organizado por Rachel Shanks da Escócia. Efetuamos inicialmente o levantamento das ideias principais do livro, com destaque para a história e atualidade da formação de professores na Escócia, com suas fases, debates e forma de funcionamento, em especial o estágio supervisionado e a indução profissional; o principal lugar de formação docente, na universidade ou na escola; a discussão sobre a maior ênfase no conhecimento acadêmico ou prático; as parcerias entre as instituições; o impacto das políticas educacionais na formação de professores; a introdução de rotas alternativas e a educação online e a distância para suprir a carência de professores na Escócia; as formas de formação de professores, entre outras. Depois realizamos resumo dos seus capítulos, que contém temáticas variadas sobre a formação de professores na Escócia. Por fim, realizamos uma crítica de como o livro traz reflexões que são importantes para pensarmos a realidade e o futuro da formação de professores no Brasil.
Palavras chave: Formação de professores na Escócia, história e atualidade, indução profissional docente.
Abstract: This review aims to highlight the main ideas of the book “Teacher Preparation in Scotland” organized by Rachel Shanks from Scotland. We initially surveyed the main ideas of the book, with emphasis on the history and currentness of teacher training in Scotland, with its phases, debates and way of functioning, especially the supervised internship and professional induction; the main place of teacher training, at the university or at school; the discussion about the greater emphasis on academic or practical knowledge; partnerships between institutions; the impact of educational policies on teacher education; the introduction of alternative routes and online and distance education to fill the shortage of teachers in Scotland; forms of teacher education, among others. Then we summarize its chapters, which contain various topics on teacher education in Scotland. Finally, we made a critique of how the book brings reflections that are important to think about the reality and the future of teacher education in Brazil.
Keywords: Teacher training in Scotland, history and current events, teaching professional induction.
Resumen:
Esta revisión tiene como objetivo resaltar las ideas principales del libro “La preparación del profesorado en Escocia” organizado por Rachel Shanks de Escocia. Inicialmente realizamos un relevamiento de las ideas principales del libro, con énfasis en la historia y estado actual de la formación del profesorado en Escocia, con sus fases, debates y forma de funcionamiento, especialmente la pasantía supervisada y la inducción profesional; el lugar principal de formación del profesorado, en la universidad o en la escuela; la discusión sobre el mayor énfasis en el conocimiento académico o práctico; asociaciones entre instituciones; el impacto de las políticas educativas en la formación del profesorado; la introducción de rutas alternativas y educación en línea y a distancia para suplir la escasez de profesores en Escocia; formas de formación docente, entre otras. A continuación, resumimos sus capítulos, que contienen diversos temas sobre la formación del profesorado en Escocia. Finalmente, hicimos una crítica de cómo el libro trae reflexiones que son importantes para que pensemos sobre la realidad y el futuro de la formación docente en Brasil.
Palabras clave: Formación docente na Escocia, historia y actualidad, enseñanza de la inducción profesional.
Introdução
Este livro organizado pela professora Rachel Shanks da Universidade de Aberdeen na Escócia, somado com a contribuição dos principais pesquisadores do país da área, trazendo resultados de um grupo de 11 membros da “Measuring Quality in Initial Teacher Education” (MQuITE) que pesquisam sobre formação docente na Escócia e envolvendo as Universidades que oferecem formação de professores na Escócia. Aprofunda tanto a história (desde o século XIX) como a atualidade da “Formação de professores na Escócia”, desde a formação inicial docente até a indução profissional dos professores na sua carreira, desde a formação presencial à formação a distância, desde a formação católica à episcopal.
Como parte de uma série de livros editados pela Emerald Publishing sobre a formação de professores de países, nos seus 14 capítulos este livro aborda de forma abrangente como se dá a formação docente na Escócia, com os seus debates e questões particulares.
São incluídas questões sobre:
a) a história e atualidade da formação de professores na Escócia, com suas fases, debates e forma de funcionamento, em especial o estágio supervisionado e a indução profissional;
b) o principal lugar de formação docente, na universidade ou na escola, e a consequente discussão sobre a maior ênfase no conhecimento acadêmico ou prático, o que também leva a discussão da necessidade de parcerias entre as instituições;
c) o impacto das políticas educacionais na formação de professores, como, por exemplo: a mudança de currículo das escolas de 3 a 18 anos em 2010, que passou a demandar dos professores que ensinem os jovens e cuidem do seu bem-estar;
d) a introdução da educação online e a distância para suprir a carência de professores no país;
e) há capítulos sobre as formas de formação de professores, contendo recomendações para a formação e indução de professores, incluindo área negligenciadas.
A formação de professores na Escócia é exclusivamente efetuada em Universidades em nível superior, o que inclui 4 anos de bacharelado, 1 ano de um programa de pós-graduação chamado “Professional Graduate Diploma in Education - PGDE”, formação de professores online e à distância ou novas rotas de formação de professores. Depois disso há a obrigatoriedade de um período de indução profissional docente no ensino que lhe dá depois o registro completo de professor pelo “General Teaching Council for Scotland”(GTCS).
Descrição dos capítulos do livro
O primeiro capítulo, de Moira Hulme, aborda a história da formação de professores na Escócia de 1872 a 1920, discutindo o lugar da Universidade na formação de professores e o lugar do conhecimento e da prática, também, mais recentemente, sobre como formar melhor alguém para ser professor. O segundo capítulo, da mesma autora, continua a efetuar um histórico da formação de professores na Escócia de 1920 a 2000, abrangendo o movimento de passar de uma formação “monotécnica” (com uma disciplina única) do centro de treinamento para a incorporação ao setor universitário, bem como a contínua discussão sobre o lugar do conhecimento e habilidade na docência.
O currículo da Escócia (Curriculum for Excellence - CfE) é destaque da discussão efetuada por Carrie McLennan no capítulo 3 sobre a formação de professores “Post-Devolution” (pós-devolução) de 1999-2007, discutindo a discussão, revisão e produção do CfE e das consequentes alterações que as instituições de formação de professores (inclusive em “Colleges” que são faculdades que só têm graduação, que tinham um enfoque mais prático de formação) que culminaram em que a partir de 2001 toda a formação docente acontecesse somente em Universidades.
No capítulo 4, Anna Beck e Paul Adams discutem as parcerias e a formação de professores, descrevendo o relatório Donaldson (2011) “Teaching Scotland’s Future” (Futuro do ensino na Escócia) realizado no contexto pós-recessão de 2008, de austeridade e da campanha da independência da Escócia e do Brexit. Um das grandes questões abordadas é a necessidade de uma revisão da formação de professores com o fortalecimento de parcerias entre universidades, autoridades locais e escolas, bem como a modernização e “revigoramento” do profissionalismo docente.
Já o capítulo 5, de autoria de Sandra Eady, explora o impacto dos discursos, políticas e práticas nos cursos de bacharelado em Educação (que acontece em 4 anos de estudo). Critica-se o desenvolvimento desses graus e o envolvimento e influência de diferentes partes interessadas, como as instituições de Ensino Superior, o GTCS com a acreditação profissional e também as escolas e autoridades locais no que tange à prática profissional. A autora demarca que os bacharelados em educação são construídos de diversas forma, existindo as rotas flexíveis e os questionamentos sobre a sua qualidade. Assim, duas questões se destacam: a necessidade de relação entre o estudo acadêmico com a experiência prática de sala de aula (relação teoria e prática); as parcerias em relação aos graus de bacharelado.
No capítulo 6, Ellis descreve como o PGDE (Professional Graduate Diploma in Education) é organizado, sendo um curso de pós-graduação de 1 ano para graduados na Escócia se formarem como professores, originando de um debate e uma transição acontecida em 1991, mas denominada dessa forma no ano de 2005/2006. O curso tem 18 semanas de estudo a tempo integral na Universidade e 18 semanas a tempo integral na escola, considerando que a chave é a integração entre teoria e prática. A autora descreve que há critérios de seleção e recrutamento mínimos para que um estudante possa fazer um PGDE e fornece uma análise de duas pesquisas sobre quem escolhe essa forma de preparação de professores, destacando reflexões sobre os critérios, questões de gênero (como o incentivo para homens serem professores primários), étnicas (a garantia que os professores das mais variadas etnias não serem discriminados), as dificuldades de recrutamento de professores, em especial em área rurais, dentre outras questões.
No capítulo 7, David Johnston enfoca o que é denominado na Escócia como colocação escolar (school placement ) que é um elemento obrigatório da preparação de professores na Escócia, equivalente ao estágio supervisionado ou prática pedagógica do Brasil. Destaca-se o estágio como o cerne da discussão entre “a virada para a universidade” e a “virada prática que está presente na atual questionamento do papel da universidade na formação de professores e na defesa da preparação de professores na escola, como o programa “Teach First”. Enfim, existem no mundo várias denominações e modelos de formação de professor (mais práticos; mais reflexivos; mais focados na justiça social, igualdade e inclusão; etc). Contudo, há um consenso de que a oportunidade de aprender com a prática na escola é um elemento essencial na formação inicial de professores, sendo um importante ritual de passagem.
Na Escócia a “colocação escolar” mínima é de 30 semanas na graduação e 18 semanas no PGDE, onde a Universidade informa o número de alunos que farão estágio e o GTCS insere os alunos em um sistema que os aloca em locais próximos. O autor descreve pesquisas que mostram que nem todos os futuros professores têm experiências boas de estágio, sendo por vezes pouco orientados, ou apoiados pela Universidade e pela escola. Descreve-se algumas pesquisas sobre o que influencia um bom estágio e analisa-se entrevistas de alunos sobre o estágio. Para o autor existe uma natureza relacional do estágio, os alunos-professores contribuem significativamente para o tipo de apoio que recebem durante o estágio, por isso é preciso evitar falar sobre estágio “bom” ou “mal”, sendo preciso levar em consideração a interdependência relacional entre os agentes individuais e sociais.
Sobre a origem e a atualidade da preparação de professores on-line e à distância, o capítulo 8 de autoria de Morag Redford , explica que as novas rotas, introduzidas na Escócia de 2014 a 2018, são o resultado de um esforço para suprir a escassez persistente de professores em matérias específicas e, particularmente, em áreas rurais. Cabe destacar que na Escócia 83% das pessoas vivem em 2% da área territorial do país. Iniciando em 1994 e aumentando até 2018, tais programas formaram quase 600 professores primários e mais de 50 professores secundários de 2014 a 2018. A autora diz que não é possível saber se os programas terminarão, pois depende da necessidade de professores em especial nas áreas rurais.
No capítulo 9, “Formação inicial de professores em nível de mestrado”, Aileen Kennedy e Nicola Carse investigam os movimentos no sentido de tornar o ensino uma profissão docente em nível de mestrado, tanto globalmente quanto na Escócia. Os argumentos de que o ensino seja uma profissão de nível de mestrado giram em torno de melhorar a qualidade do professor, aumentar a capacidade dos professores de pensar criticamente, criar professores mais engajados e focados na pesquisa e para atrair pessoas para a profissão. Existindo três tipos diferentes de oferta de mestrado (mais ou menos completos, mais ou menos críticos e/ou técnicos), procurados para progressão na carreira, dar aulas em disciplinas específicas, entre outros. As autoras defendem que é preciso raciocinar por que isso está acontecendo e se é a coisa certa a fazer, pois pode ser que esta estratégia de formar os professores em nível de mestrado seja só para manter uma competitividade internacional (em uma competição global neoliberal), sem um suporte da ideia que aumentar o nível de formação de professores signifique realmente ter professores melhores, mais críticos, engajados.
O capítulo 11 retorna às origens da preparação de professores na Escócia, traçando especificamente a história da preparação de professores católicos. Stephen McKinney explora essa história decorrente do crescimento da comunidade católica na Escócia no século XIX.
Já no capítulo 12, “História concisa do Colégio Episcopal de Formação de Professores”, Stephen McKinney e Roger Edwards fornecem uma contribuição em uma área pouco pesquisada da história da formação de professores escoceses: a evolução da Igreja Episcopal. Delineando os diferentes modelos de escola episcopal, os autores examinam, por fim, o fechamento do Episcopal Training College (de formação de professores) em 1934 e a diminuição do número de escolas episcopais no século XX.
O penúltimo capítulo, capítulo 13, de Mark Carver, fornece um relato de como o campo de educação de professores de língua inglesa entrou e saiu da universidade na Escócia, assim como discute questões sobre educação e linguística.
O livro conclui com o capítulo “O futuro da formação de professores Caledoniana1” de Robert Doherty que efetua reflexões críticas e sugestões de possíveis futuros com base na compreensão do contexto histórico e prática atual de preparação de professores na Escócia/Caledônia. Três futuros possíveis são explorados com base nos aspectos políticos, econômicos, socioculturais:
O autor conclui destacando a importância da formação de professores e como sua qualidade pode ser usada como um indicador para a saúde de um sistema educacional, também destacando a importância da formação de professores construída tanto academicamente como no campo da prática, a partir das parcerias.
Correlações e reflexões sobre o livro para a formação de professores no Brasil
Apresentados os capítulos espero ter provocado várias questões, curiosidades e associações em quem lê esta resenha, como eu fiquei ao ler este livro, associando com a realidade da formação de professores no Brasil. Citarei 8 considerações que esta leitura mais me interpelou:
Finalmente, quero dizer que este é um livro que ressalta a importância da formação de professores e da sua qualidade, que nos deixa várias indagações e inspirações, com isso ambiciono deixar o convite de leitura deste livro para quem quiser mais debates sobre os aspectos apontados, conhecendo o que afirma Carvalho (2013, p. 429) que o sentido da comparação “não deve se limitar ao reconhecimento das semelhanças e diferenças existentes entre os fenômenos, mas explicar por que estes ocorrem ou porque o comportamento da parte é diverso do todo”. Portanto, a possibilidade de fazer comparações internacionais oferece a possibilidade de identificar o idêntico e o específico, o global e o local, o comum e o específico, mostrando alternativas que ultrapassem a mera uniformização ou padronização.
REFERÊNCIAS
CARVALHO, Elma J. G. Reflexões sobre a importância dos estudos de educação comparada na atualidade. Revista HISTEDBR On-line, Campinas, v. 52, p. 416-435, set, 2013.
RABELO, Amanda Oliveira. Formação dos professores em nível superior no Brasil: da promulgação da lei de diretrizes e bases da educação nacional (LDBEN/1996) até os dias atuais. Educere (Mérida), v. 20, p. 505-514, 2016.
RABELO, Amanda Oliveira. Análise comparada da indução profissional como apoio ao docente iniciante. Currículo Sem Fronteiras, v. 19, p. 81-96, 2019.
RABELO, Amanda Oliveira; MONTEIRO, A. M. Apresentação da sessão temática: Indução profissional: desafios e experiências entre formação e profissão docente. Currículo Sem Fronteiras, v. 19, p. 5-22, 2019.
SHANKS, Rachel, ed. Alfabetização micropolítica e formação profissional de professores iniciantes. Traduzido por RABELO, Amanda Oliveira; MONTEIRO, A. M. Currículo sem Fronteiras, v. 19, n. 1, p. 134-150, jan./abr. 2019.
SHANKS, Rachel (ed). Teacher Preparation in Scotland, Emerald Publishing: UK, 2020.
ZEICHNER, Ken. Políticas de formação de professores nos Estados Unidos: como e porque elas afetam vários países no mundo. Tradutora Cristina Antunes. Belo Horizonte: Autêntica editora, 2013.
ZEICHNER, Ken. The struggle for the soul of teaching and teacher education in the USA, Journal of Education for Teaching, v. 40, n. 5, pp. 551-568, 2014. Disponível em: DOI: 10.1080/02607476.2014.956544. Acesso em: 18 dez. 2020.
SOBRE A AUTORA:
Que já publicou anteriormente um artigo no Brasil em dossiê por nós organizado (SHANKS, 2019).
Autor notes