Expediente
Quando o dossiê temático “Violência, segurança pública e violência policial”, que ora publicamos, foi proposto à Sociedade e Cultura no começo de 2016, não imaginávamos o cenário que viveríamos logo no início de 2017. A realidade do sistema prisional brasileiro exposta duramente a partir das chacinas de Manaus e Roraima e o risco do efeito cascata anunciado como certo pela mídia nos assegura, de modo duro e triste, a necessidade e relevância deste dossiê.
Organizado por Dijaci David de Oliveira (UFG), Michele Cunha Franco (UFG) e Arthur Trindade Maranhão Costa (UnB), ele está ancorado em três eixos, mas não exclusivos: a) a abordagem da violência; b) a segurança pública em perspectiva; c) a violência policial. Trata-se de um esforço coletivo em reunir revisões teóricas consistentes aliadas a análises empíricas em profundidade. O resultado é um dossiê atualíssimo e muito abrangente em termos da realidade brasileira.
Completam esta edição três artigos livres, uma entrevista e uma resenha. Em “O periódico Seara no Timor Português (1949- 1973): práticas de mediação e integração institucional pela imprensa católica”, Alexandre Fernandes (UnB) se propõe a compreender a ação missionária católica no Timor Português, especificamente no período que corresponde ao início da Diocese de Díli ao fim da colonização portuguesa (1940-1975).
O artigo em coautoria de Arnaldo José Zangelmi (UFOP), Fabrício Roberto Costa Oliveira (UFV) e Izabella Fátima Oliveira de Sales (Centro Federal de Educação Tecnológica/Minas Gerais) intitulado “Movimentos, mediações e Estado: apontamentos sobre a luta pela terra no Brasil na segunda metade do século XX” aborda questões concernentes ao processo de luta pela terra no Brasil desde os conflitos anteriores ao Golpe de 1964 até parte do processo de criação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) no Sul do Brasil, as migrações de militantes sulistas dessa organização para outras regiões, a constituição de suas relações com outros atores em vários estados e a generalização de certas formas de luta nesses contextos.
O último artigo livre, de Marina Félix de Melo (UFAL), “Sustentabilidades das ONG”, trata da relação entre Estado, mercado e sociedade civil (utilizando alternativamente o termo “Terceiro Setor”) do ponto de vista da sustentabilidade das organizações não governamentais (ONG), não apenas em termos financeiros, mas também de sua profissionalização. A autora parte de dois estudos de caso no Recife, Pernambuco.
Após, apresentamos a entrevista com Vidulfo Rosales Sierra, integrante do Centro de Direitos Humanos da Montanha Tlachinollan (México), realizada por Roberto Lima (UFG) e Christianne Evaristo de Araújo (UnB). Intitulada “Justiça por Guerrero (México)”, a entrevista aborda a trajetória deste ativista político desde os anos 1990, quando encontra os movimentos estudantis, indigenistas e os de luta armada – Exército Zapatista de Liberação Nacional (EZLN) e Exército Popular Revolucionário (EPR) –, até se especializar em direito agrário e atuar na defesa dos direitos humanos, em particular os dos comuneros camponeses, suas formas de organização e funcionamento político nas comunidades agrárias e o enfrentamento com a violência policial do Estado, momento no qual o entrevistado, com a emoção de quem viveu, narra os episódios de prisões, torturas e assassinatos dos seus companheiros de luta.
Por fim, temos a resenha escrita por Lucas Sena Dembogurski sobre o livro Violência contra migrantesno México, de Júlio da Silveira Moreira. No livro são abordadas com detalhes as trajetórias de migração vividas pelos migrantes que partem de seus países rumo aos Estados Unidos em busca de uma vida melhor. A obra tem como base de inspiração a morte de 72 migrantes no Norte do México em agosto de 2010.
Que a leitura seja útil, não necessariamente prazerosa, em tempos mais do que nunca demandantes de pensamento crítico e de engajamento político em prol de dias melhores.
Autor notes