Editorial
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O novo número da Sociedade e Cultura conta com o Dossiê “Pagamento por desempenho: formulação, implementação e sucesso da política” que discute as políticas que introduzem incentivos financeiros ou formas de financiamento parcial de sistemas de saúde com base em critérios de desempenho. Os artigos selecionados abarcam análises de políticas implementadas principalmente no Brasil e em países africanos. O amplo panorama dos estudos aliado à contribuição de autores e autoras de vários países devem ser destacados como resultado da busca constante de maior diálogo e de internacionalização das pesquisas. Fecha o dossiê uma tradução de artigo de Martin Roland e Frede Olesen sobre a experiência de política de pagamento por desempenho no Reino Unido, e uma entrevista com James Macinko, da Universidade da California Los Angeles, sobre o Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica.
Além do dossiê, temos cinco artigos livres que apresentam diversidade temática, mas que se articulam em alguns pontos, como ao pensar o contexto do continente americano, na discussão sobre o conceito de família, além da precariedade nas ocupações de moradias e nas reflexões sobre o campesinato brasileiro. Democracia e desigualdades mais uma vez se fazem presentes e fundamentais nas pesquisas e estudos das Ciências Sociais. O primeiro artigo discute a definição de famílias migrantes transnacionais em territórios fronteiriços e o protagonismo das mulheres nesse processo a partir de uma pesquisa etnográfica desenvolvida com mulheres peruanas na fronteira Chile-Peru. “Reflexiones sobre el transnacionalismo familiar en territorios de frontera” é de autoria de Menara Lube Guizardi, da Universidad de Tarapacá (Chile) e do CONICET, de Felipe Valdebenito, da Universidad Católica del Norte (Chile), de Esteban Nazal, da Universidad Alberto Hurtado (Chile) e de Eleonora López, da Universidad de Chile.
Ainda no âmbito do continente americano, em ”A atuação da Organização dos Estados Americanos (OEA) e de sua burocracia internacional na defesa da democracia no continente americano”, Jan Marcel de Almeida Freitas Lacerda, da Universidade Federal do Tocantins, e Jeane Silva de Freitas, da Universidade Federal de Pernambuco, abordam a promoção e proteção da democracia da OEA nas Américas a partir de crises recentes como a de Honduras e a do Paraguai.
No artigo “Divergências e convergências quanto ao conceito de “Família” no Semanário Católico O São Paulo”, Fabio Lanza e Raíssa Regina Brugiato Rodrigues, ambos da Universidade Estadual de Londrina, e José Wilson Assis Neves Junior, da Universidade Estadual Paulista, retomam a discussão sobre o conceito de família a partir de uma pesquisa documental em uma publicação católica tanto no momento da ditadura militar nos anos 1970 como no período mais atual em que a temática da “família tradicional” volta à agenda nacional.
Em seguida, Adriana dos Santos Fernandes, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, constrói uma narrativa reflexiva sobre implicações ético- metodológicas da precariedade na pesquisa de campo das ocupações de moradias e expulsão das camadas pobres em “Imagens da precariedade, governo dos pobres e implicações etnográficas”.
Finalmente, em “Roger Bastide e a difícil identificação de um ideal de transformação agrária camponesa no Brasil”, Dora Vianna Vasconcellos, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, retoma o pensamento de Roger Bastide destacando em suas contribuições a possibilidade de reconhecimento de uma perspectiva transformadora da classe campesina, pressuposto deixado de lado quando Bastide ressalta a tendência à conciliação entre as classes sociais no país, como é tradição no pensamento social brasileiro.
Além dos artigos, temos duas resenhas de livros que proporcionam reflexões importantes no cenário atual. Na primeira, George Gomes Coutinho, da Universidade Federal Fluminense, discute o livro“Cultures of optimism: the institutional promotion of hope”, de Oliver Bennett, que aponta a promoção do otimismo como uma política cultural entranhada nos discursos e práticas do capitalismo avançado. Em seguida, Murilo Vilarinho, da Universidade Federal de Goiás, apresenta“Brasil: uma biografia”, de Lilia Moritz Schwarcz e Heloisa Murgel Starling, que propõe uma nova leitura sobre a sociedade brasileira desde os tempos coloniais até a resistência à ditadura e a retomada da democracia, um processo ainda pouco discutido e que carrega suas consequências até os dias de hoje.