Resumo: O presente artigo busca desenvolver uma tipologia sobre a apropriação que os deputados fazem do Facebook e o tipo de inter-relação desenvolvida com os cidadãos, aqui denominada de ciber-base. Para isso, foram construídos dois índices: o Índice de Ativação Parlamentar e o Índice de Ativação da Ciber-Base, elaborados por meio da análise das postagens e dos comentários recebidos nas páginas de Facebook de 20 deputados federais, em um intervalo de uma semana. Observa-se a existência de quatro tipos de padrões de relacionamento dos parlamentares com a ciber-base nessa mídia social: 1) páginas de alto desempenho político; 2) páginas de médio desempenho político - em que só o parlamentar ativa; 3) páginas de médio desempenho político - em que só a ciber-base ativa e 4) páginas de baixo desempenho político. Este estudo contribui para entendermos melhor como se dá o processo de interconexão entre representantes e representados mediada pelo Facebook.
Palavras-Chave: Representação política, Internet, Facebook, Deputados, Padrões de atuação.
Abstract: This article aims to develop a typology about the appropriation that federal congressmen make on Facebook, and the kind of interrelation they have developed with citizens, which we label as the cyber base. Two indexes were constructed: the Parliamentary Activation Index and the Cyber-Base Activation Index. They were elaborated by analysing the posts and comments received by 20 Federal congressmen on their Facebook during one week. The main conclusion is that there are four types of patterns about the parliamentarians’ relationship with the cyber base in this social media: 1) pages with high political performance; 2) pages with medium political performance in which only the parliamentarian activates it; 3) pages with medium political performance in which only the cyber base activates it and 4) pages with low political performance. This study contributes to the understanding of how the process of interconnection between representatives and represented mediated by Facebook, takes place.
Keywords: Political representation, Internet, Facebook, Congressmen, Performance standards.
Resumen: El presente artículo desarrolla una tipología sobre la apropiación que los diputados hacen de Facebook, y el tipo de interrelación con los ciudadanos, denominada de ciber-base. Se construyeron dos índices: el Índice de Activación Parlamentaria y el Índice de Activación de la Cyber-Base. Ellos fueron elaborados a través del análisis de mensajes y comentarios recibidos en las páginas de Facebook de veinte diputados federales, en un intervalo de una semana. Se observa la existencia de cuatro tipos de patrones de relación de los parlamentarios con la cyberbase en esos medios sociales: 1) páginas de alto desempeño político; 2) páginas de medio desempeño político en que sólo el parlamentario activa; 3) páginas de medio desempeño político en que sólo la ciber-base activa; y 4) páginas de bajo desempeño político. Este estudio contribuye para entender más cómo se procesa la interconexión entre representantes y representados mediados por Facebook.
Palabras clave: Representación política, Internet, Facebook, Parlamentarios, Patrones de actuación.
Artigos
“Tamo junto?” Parlamentares e mídias sociais: uma tipologia dos padrões de atuação de deputados federais no facebook
“Estamos juntos?” Parlamentarios y medios sociales: una tipología de los estándares de desempeño de diputados federales en el Facebook
“Are we together?” Parliamentarians and social media: a typology of the performance of the Federal Congressmen on Facebook
Recepção: 14 Junho 2019
Aprovação: 31 Outubro 2019
Na sociedade contemporânea, marcada por uso intenso de tecnologias digitais de informação e comunicação na vida social, econômica e política, tornou-se fundamental que as elites políticas estejam atentas às novas configurações comunicacionais, usando-as tanto no sentido de informar cidadãos, quanto de absorver demandas e alinhar expectativas.
Parte da literatura que estuda os impactos da comunicação na política reconhece que as mídias tradicionais são limitadas por não serem capazes de propiciar espaços de diálogos entre cidadãos e representantes (STROMER GALLEY, 2013). Com o surgimento da internet e das novas tecnologias, passamos a ter múltiplas oportunidades de diálogos e trocas entre atores políticos e cidadãos (BENTIVEGNA, 2012). De fato, a internet tem gerado “múltiplas oportunidades de informação política e comunicação” (NORRIS, 2001, p. 109, tradução nossa). Leston-Bandeira (2007) aponta que a questão “se parlamentares estariam, de fato, utilizando a Internet para se comunicar” foi superada. Para a estudiosa, devemos focar um segundo conjunto de questões: Como o parlamento tem se apropriado da Internet? Qual o impacto que tem gerado na atividade legislativa?
Dentro desse contexto, este texto tem como objetivo propor uma tipologia dos padrões de atuação de parlamentares brasileiros e o uso que fazem da mídia social Facebook. A partir das análises de páginas de parlamentares, identificamos tipos quanto ao seu nível de atividade, com base nas diferentes relações estabelecidas entre o parlamentar e a sua ciber-base. Por ciber-base entendemos o grupo de apoio de um parlamentar em uma mídia social, que é maior do que sua base eleitoral (ALMEIDA, 2017). Esse conceito será mais bem aprofundado em outra seção do artigo.
Dessa forma, nosso objetivo central é elaborar, propor e testar uma tipologia que busque identificar diferentes padrões de atuação de uso de parlamentares em suas respectivas páginas no Facebook. Como objetivos específicos, buscamos: 1) mapear a quantidade e tipos das postagens nas páginas; 2) identificar se há feedback dos deputados com relação à sua ciber-base; 3) identificar como a ciber-base atua na página do deputado. O artigo encontra-se dividido em mais três partes para além desta introdução. A primeira seção procura discutir como as mídias sociais podem aperfeiçoar e desenvolver novas formas de mediação no que diz respeito à representação política. A segunda envolve a discussão metodológica e o processo de construção dos dois índices aqui trabalhados: o “Índice de Ativação Parlamentar” e o “Índice de Ativação da Ciber-base”. Posteriormente, é feita a análise dos resultados e a explicação da tipologia referida. Por fim, seguem as considerações finais deste trabalho, apresentando, também, novas agendas de pesquisas.
Nos últimos anos, as mídias sociais têm sido constantemente identificadas pelos legisladores como um espaço que pode promover o envolvimento do público (public engagement). Em um contexto onde os níveis de confiança política estão cada vez menores nos parlamentos (LESTON-BANDEIRA, 2016), a internet e, especialmente, as mídias sociais, vêm sendo identificadas como meio crucial para enfrentar os desafios que surgem nas democracias representativas contemporâneas.
Assim, nota-se o desenvolvimento de mecanismos de participação política e deliberação pública, de accountability e responsiveness decorrentes da utilização de ferramentas digitais. Como resultado, temos a promoção e construção de novas formas de interação entre representantes e representados, por meio de novos canais de interlocução que podem diminuir a assimetria informacional e enriquecer o repertório de informações sobre os interesses dos cidadãos (PEREIRA, 2011). No Brasil, iniciativas como e-Democracia, por exemplo, têm sido criadas com o intuito de democratizar o acesso à informação e estimular a participação política dos cidadãos perante as instituições políticas (FREITAS, 2016).
Especificamente, quando se pensa o relacionamento entre parlamentares e cidadãos, essas mídias vêm sendo apontadas como potenciais oportunidades para a criação de novas relações entre representantes e representados, não só criando canais diretos de comunicação entre eles, como também reforçando as relações já existentes (ALMEIDA, 2017).
Dessa forma, entende-se que o uso dessas mídias pode fortalecer o relacionamento entre os cidadãos e os parlamentares ao propiciar a disseminação de informações; criar possibilidades comunicativas, seja de forma bilateral ou multilateral; e incrementar os processos internos de gestão da informação (LESTON-BANDEIRA, 2007). Os usos da internet e das mídias sociais podem propiciar, também, uma maior transparência e justificação pública das ações e decisões políticas, com maior ganho informacional de maneira mais ágil e eficaz, além de estreitar os laços dos representantes com os cidadãos (COLEMAN, 2005; GRIFFITH, LESTON-BANDEIRA, 2012). No caso específico brasileiro, já existe uma série de estudos que têm tentado entender como os parlamentares têm se apropriado dessas tecnologias em seus mandatos. Estudos recentes, como de Almeida (2017); Pereira, Santos e Almeida (2018) e Pereira e Sátyro (2016), buscam entender não só se deputados utilizam ou não essas plataformas, mas como têm se dado esses usos, levando em conta as especificidades, potencialidades e desafios desse fenômeno. Também Braga, Carlomagno, Rodrigues (2014) salientaram que as tecnologias aumentam, sim, a qualidade do trabalho parlamentar.
Pelo formato e dinâmica, a internet e as mídias sociais possuem a capacidade de remodelar a forma da participação política, ao permitir um espaço contínuo para que a representação seja reafirmada e reivindicada entre o parlamentar e os constituintes, e entre os próprios constituintes. Por meio desses espaços e plataformas digitais, a relação entre esses atores pode se dar simultaneamente de forma sincrônica e assincrônica e, ainda, favorecer as dificuldades de lidar com a escala para além do âmbito local (scalling up) e a distância física entre eles. Todos esses fatores potencializam as oportunidades de envolvimento político por parte dos cidadãos, reduzindo os custos de se engajar politicamente.
Além disso, a internet permite uma interconexão entre esses atores - representantes e representados, sendo essa interconexão não restrita àqueles que estão presentes em localidades físicas próximas. Nessa representação, tem maior importância o “tornar presente as perspectivas sociais dos cidadãos”, como indica Young (2006) por meio de um processo sistêmico interativo e dialógico, o que facilitaria o aparecimento de temas que fomentem a opinião pública.
Em trabalho recente, Almeida (2017) aponta que os indivíduos que seguem os parlamentares podem ser divididos em dois grupos salientes:
Almeida (2017) identifica que, nas mídias sociais, especificamente o Facebook, há um grupo maior de seguidores do que se nomeia como base do parlamentar. Esse grupo é denominado pela autora como ciber-base. A ciber-base seria, portanto, um grupo de seguidores de um determinado parlamentar para além da sua base eleitoral. Ou seja, pessoas que concordam programaticamente com aquele parlamentar, mas que não necessariamente votam nele, ou porque têm outras(os) candidatas(os) ou porque simplesmente não têm títulos eleitorais registrados em colégio eleitoral que possibilita o voto nessas figuras (ALMEIDA, 2017, p. 170).
A ciber-base assume, dessa forma, um papel importante dentro das páginas dos parlamentares, já que, mesmo diante de um cenário da existência do ator parlamentar como um policy seeking, em determinado momento, este terá que enfrentar a corrida político-eleitoral e pensar de forma pragmática em sua carreira, tornando-se office-seeking ou vote-seeking1. É neste momento, então, na tentativa de reeleição e da propagação de sua campanha, que os laços entre ciber-base e parlamentar se tornam cruciais.
Em segundo lugar, tratando ainda da importância da ciber-base do legislador, nota-se que esta será central exatamente porque demandas e discussões que estão mais próximas de seu escopo programático e ideológico são mais fáceis de serem incorporadas na agenda de discussões e trabalhos e ainda fortalece seu discurso, já que levanta novas ideias e argumentos para as discussões feitas e ainda cria uma relação de proximidade entre representantes e representados (ALMEIDA, 2017, p. 171).
A internet e as mídias sociais podem, assim, propiciar maiores aportes informacionais para os parlamentares. Por meio dessa interação relacional com os representados, o ator político tem diversos benefícios, por exemplo: ele pode ter acesso a informações que anteriormente poderiam gerar muitos custos de transação e de oportunidades para serem adquiridas, ou até gerar uma maior dependência das informações advindas do poder Executivo. Desse modo, tais ferramentas possuem o potencial de aperfeiçoar a atividade representativa do legislador, oferecendo novos insights e recursos estratégicos a ele. Assim, remetendo ao pensamento de Plotke (1997), esses espaços permitem que os cidadãos configurem a representação no sentido de estarem presentes politicamente.
Pensando no contexto mais recente, Coleman e Blumler (2009) apontam que o século XXI inaugurou, de fato, uma era da visibilidade. Isso porque, segundo eles, as elites políticas não conseguem mais preservar seus casulos de sigilo impenetrável, uma vez que a distância entre o representante e o representado está se encurtando. A expansão a novas formas de informação permite que os cidadãos atualmente não apenas deleguem as decisões para os políticos eleitos, mas que também interpretem a realidade, o que Norris (1999) caracteriza como “cidadãos críticos”2.
Portanto, a internet pode incentivar uma forma mais direta e permanente da representação, no sentido de desenvolver uma representação política com base em formas interativas de comunicação e de conectividade, com maior proximidade e visibilidade entre os atores envolvidos (COLEMAN, 2005; COLEMAN, BLUMLER, 2009; KARLSSON, 2013). Todavia, apesar de todas essas potencialidades, tal processo depende dos valores da sociedade, da cultura política, e do uso estratégico por parte dos representantes para impulsionar determinados ideais de representação política interligados ao mundo digital. Essas questões serão mais bem exploradas na próxima seção, em que serão analisadas as formas de apropriação e utilização dos deputados federais brasileiros no relacionamento com a sua ciber-base.
Muitos dos estudos acerca da apropriação dos canais digitais por parte dos parlamentares se voltam para a usabilidade dos parlamentares em relação a essas mídias digitais, ou seja: se concentram muito na análise quantitativa de dados sobre a inscrição ou não nas mídias - como Facebook, Twitter, Flickr e Youtube -, se possuem blog ou site pessoal, sua respectiva utilização e a frequência de mensagens trocadas entre o deputado e o cidadão, correlacionado ao perfil e figura do parlamentar (AMARAL et al., 2015; BRAGA, NICOLAS, 2011; MARQUES, AQUINO, MIOLA, 2014). Em outras palavras, há uma carência de pesquisas que procuram compreender as diferentes formas de usos e apropriação que os deputados podem fazer dessas mídias, analisando como se dá o formato relacional desempenhado com os cidadãos que os procuraram e as diferentes formas de se apropriar desses espaços. Ainda mais se pensarmos que esses diferentes padrões de atuação junto às mídias sociais podem estar relacionados a um mecanismo denominado de “thin rationality”, compreendida como racionalidade em sentido ampliado e conformada por tipos-ideais (BENGTSSON, HERTTING, 2014). Nesse sentido, o objetivo deste artigo é analisar as motivações que os legisladores possuem para adotarem ou não a tecnologia e a maneira como a adotaram.
Especificamente sobre o Facebook, mídia social que aqui analisamos, chama-se atenção de que esta detém a primazia absoluta quanto ao número de usuários (BENTIVEGNA, 2012). No Brasil, essa ferramenta é, de fato, muito popular e o crescimento de usuários tem sido visível. Se em maio de 2014 o Brasil tinha 70,5 milhões de usuários, em abril de 2017, o número registrado foi de 123 milhões (The Statistics Portal - Leading countries based number of Facebook users as of May 2014), o que corresponde a uma taxa de penetração na população brasileira de 53,9%. Além disso, Almeida (2017, p.121) mostra que em 2013, 324 deputados federais possuíam página no Facebook. Já em 2017, esse número cresceu para 502, atingindo quase a totalidade dos deputados (513), o que demonstra um esforço das elites parlamentares de estarem presentes no mundo digital. Por essas razões, focaremos nessa mídia e nas possibilidades de interatividade que ela promove entre representantes e representados.
Os dados utilizados para medir a tipologia de atuação de parlamentares no Facebook fazem parte do banco de dados construído por Almeida (2017), que utilizou como unidade de análise os deputados federais da Câmara dos Deputados brasileira, durante 55ª Legislatura da Câmara dos Deputados (2015 - 2019). A partir desse banco de dados, formatou-se uma amostra de 20 deputados federais, usando os seguintes critérios com um objetivo de promover uma heterogeneidade da análise: 1) os deputados escolhidos foram retirados por quartil de seguidores: 5 de cada quartil; 2) os deputados escolhidos foram retirados de acordo com sua posição em relação ao número de curtidas e de acordo com as seguintes cotas: a) o 1º deles sempre é o deputado com mais curtidas do quartil; b) o 2º, o 3º e o 4º foram escolhidos por sua ideologia partidária3. Necessariamente deveria haver, entre as 3 (três) posições: 1 deputado de esquerda, 1 deputado de centro e 1 deputado de direita; c) a 5ª deputada foi escolhida por seu sexo e deve ser mulher, não importando que nas outras cotas já tenha aparecido uma mulher (Tabela 1).

A partir da amostra de deputados, foi determinado o recorte temporal de uma semana completa para a análise dos dados, de 19/09/2016 a 26/09/20164. No total, foram lidas todas as 518 postagens e 11488 comentários feitos nas páginas de deputados federais na semana de atividades selecionada.
Lilleker e Koc-Michalska (2011) salientam que a interação conversacional entre representante e representado pode ser facilitada de várias maneiras na internet, sendo que essas discussões políticas podem, inclusive, criar um “online constituency”. Nesse caso, esse relacionamento poderia se dar em sites, weblogs etc., e acentuadamente em mídias sociais, já que elas permitem interações menos formais com o legislador e entre usuários.
Assim, neste trabalho, se mediu a “Tipologia dos padrões de atuação de parlamentares e uso do Facebook”. Para isso, foram construídos dois índices que interagiram em um plano cartesiano x;y. O primeiro índice, que se localiza no eixo y, denominado “Índice de Ativação Parlamentar” foi calculado pelo somatório de postagens (50 pontos) e respostas (50 pontos), que resultam em 100 pontos ao total. A distribuição de pontos dentro desses critérios (postagens e respostas) foi feita pela classificação hierárquica a partir da análise de conteúdo das páginas, utilizando a lógica metodológica de definição de limiares da “Qualitative Comparative Analysis” (QCA). Dessa forma, valoramos as categorias e distribuímos pontos de acordo com o grau de importância para a nossa análise. Isso porque nosso trabalho parte do entendimento de que determinadas categorias identificadas nas postagens e respostas produzem ou estimulam o debate naquele espaço e, por isso, são mais importantes.
Primeiramente, dividimos as postagens analisadas em quatro categorias, a partir da definição feita por Almeida (2017). São elas:
1) agenda extraordinária (20 pontos): são postagens em que o conteúdo esteve relacionado a questões políticas “emergenciais” ou que não dizem respeito propriamente às atividades diárias do parlamentar. O conteúdo de agenda extraordinária foi considerado com alto nível de importância para a nossa análise, pois diz respeito a questões políticas de uma forma geral, que vão além das tarefas do parlamentar, que em certos casos mobiliza a opinião pública e a agenda política nacional.
2) agenda ordinária (15 pontos): as postagens de agenda ordinária estavam relacionadas a atividades cotidianas do parlamentar, como reuniões de comissões, atividades no plenário da Casa, reuniões com lideranças políticas ou membros do governo etc. Essas postagens são importantes para estimular o debate, no entanto, por serem bastante específicas, identificamos que elas podem estimular menos o debate do que a categoria acima.
3) assuntos pessoais (10 pontos): postagens relacionadas à vida pessoal do parlamentar. É bastante comum encontrar nas mídias digitais uma mistura de conteúdos que dizem respeito a assuntos públicos e privados. Isso faz parte da própria natureza dessas plataformas e, de certa forma, pode criar uma proximidade entre representantes e representados. São exemplos disso: momentos mais informais, em que o deputado está fora do ambiente parlamentar, com a família e/ou amigos, ou em situações de confraternização (festas, churrascos, shows), dentre outros. No entanto, acreditamos que, para construção deste índice, postagens de conteúdos pessoais podem não estimular o debate político com a ciber-base.
4) assuntos não políticos strictu sensu.(5 pontos): são postagens nem políticas nem pessoais, que tratam de assuntos corriqueiros ou que não se encaixam em nenhuma das categorias acima. São exemplos: mensagens com votos de ótimo dia ou semana, citações de passagens bíblicas, frases de motivação e/ou autoajuda. Esse tipo de postagem tem pouca relevância para a construção do índice.
Já as respostas foram subdivididas em protocolar e feedback. As respostas do tipo protocolar diziam respeito a uma resposta padrão à ciber-base feita pelo administrador da página. Refere-se a agradecimentos pelo envio da mensagem; da assessoria do deputado(a) assegurar que a mensagem será encaminhada a ele/ela; ou para reafirmar uma aproximação com o cidadão (“é isso aí”, “concordo com sua opinião”). A postagem protocolar (10 pontos) nem sempre era formal, uma vez que a linguagem na internet permite uma escrita menos formal (com uso, por exemplo, de símbolos e emoticons). No entanto, ela seguia um determinado padrão que se repetia em outras respostas. As respostas feedback (40 pontos) foram consideradas mais importantes para o nosso índice. Isso porque elas estão relacionadas a conteúdos onde o administrador busca esclarecer uma dúvida, chamar para o debate etc. Essas respostas podem ser exemplificadas por uma prestação de contas (“enviarei a sua demanda para órgão x”), ou quando o deputado responde o cidadão com mais informações, fontes, relatórios acerca da reivindicação em questão, oferecendo mais subsídios para a discussão (Tabela 2).

Após estabelecer esses critérios, iniciamos a pontuação das páginas dos deputados analisados. A partir do somatório de cada tipo de postagem e cada tipo de resposta das páginas definidas anteriormente, calculamos a média e a mediana desses valores e estabelecemos os limiares de pontuação (Tabela 3).

Pippa Norris (2001) afirmou que a internet seria um ativador de indivíduos já ativos. Hoje, a literatura especializada já entende que a internet também “pode facilitar a mobilização de novos indivíduos e grupos que, tradicionalmente, não participariam da vida política" (HANSEN; FERREIRA, 2018, p. 13). Se cidadãos ativos têm sido mais ativados e cidadãos não ativos têm sido pela primeira vez ativados, torna-se importante entender esse movimento geral de ativação nas páginas dos parlamentares
Para isso, foi construído o índice 2, “Índice de Ativação da Ciber-base” (Tabela 4), localizado no eixo x, que foi feito de forma análoga ao índice 1. A composição do índice se deu pelo somatório de tipos de comentários (100 pontos), também categorizados pela análise de conteúdo. A distribuição de pontos foi feita também pelos autores de acordo com a ordem de importância, a saber:

Assim como no índice 1, após estabelecer a distribuição dos pontos, somamos as quantidades de cada tipo de comentários e calculamos a média e a mediana desses valores. Dessa forma, estabelecemos os limiares de pontuação (Tabela 5).

A primeira medida necessária para a feitura da sequência de análises empíricas que resultarão na construção do “Índice de Ativação Parlamentar” e no “Índice de Ativação da Ciber-base” é o “número absoluto de postagens da página” de cada deputado(a) da amostra (Tabela 6). Pode-se observar, então, que Jandira Feghali foi a deputada com o maior número de postagens, foram 115 no recorte temporal pesquisado. Em segundo lugar, Luís Tibé com 81 posts, em terceiro, Marco Feliciano com 58 postagens, em quarto lugar Fernando Francischini (49 postagens) e, em quinto lugar, Jean Wyllys, com 48 publicações.

Chama-se atenção que a listagem de deputados a seguir está ordenada pelos “quartis de curtidas”, ou seja, os 5 (cinco) primeiros deputados da lista foram os que tiveram os maiores números de curtidas em suas respectivas páginas. Por isso chama atenção que Jair Bolsonaro, o segundo em número de curtidas, tenha postado tão pouco - apenas 15 vezes - ao passo que os demais que compõem esse quartil postaram entre 48 e 115 vezes. É ainda importante observar que há deputados que estão atrás no que diz respeito ao número de seguidores de suas páginas, mas que, ainda assim, empenham esforços para ter uma página ativada por eles mesmos, como se pode observar nos casos de Luis Tibé (localizado no último quartil de curtidas) e de Moema Gramacho (que está presente no segundo quartil de curtidas).
Ao analisarmos a variável do Índice de Ativação Parlamentar, “Postagens Agenda Ordinária”, ou seja, aquelas postagens relativas a atividades cotidianas do parlamentar, estabelecemos uma pontuação de 0 a 15 pontos, em três subcategorias: 0 - 7,5 - 15. Vimos que a deputada Jandira Feghali aparece em um primeiro lugar, distante dos demais (103 posts). Em segundo lugar está Luis Tibé (57 posts), em terceiro lugar está Moema Gramacho (42 posts), em quarto lugar está Vicentinho Júnior (20 posts) e, em quinto lugar está Waldenor Pereira (12 posts). Os outros 15 deputados fizeram menos que 11 posts. Da amostra, apenas 4 (quatro) parlamentares conseguiram alcançar a pontuação máxima na variável “Postagens Agenda Ordinária” (15 pontos), o que pode significar que esses têm um compromisso maior, se comparados aos outros parlamentares, de transparência em relação à divulgação de sua atividade parlamentar diária. Foram eles: Jandira Feghali, Moema Gramacho, Luis Tibé e Vicentinho Júnior. Alcançaram a pontuação média (7,5 pontos) 7 parlamentares: Marco Feliciano, Fernando Francischini, Jean Wyllys, Felipe Bornier, Waldenor Pereira, Subtenente Gonzaga e Lucio Mosquini. Essa categoria chama atenção por incluir deputados que se enquadram tanto no 1º quartil de curtidas quanto deputados que estão no último quartil, o que pode indicar que uma preocupação massiva com a feitura de postagens não é necessariamente considerada de importância crucial por deputados que estão no topo de números de seguidores. Por fim, 9 deputados fizeram 0 pontos.
Em relação à variável do índice, “Postagens Agenda Extraordinária” (postagens que tratam de assuntos de políticas públicas e grande política nacional), imputou-se a pontuação máxima de 20 pontos, consistindo na variável de maior peso no índice supracitado, divididos em três subcategorias: 0 - 10 - 20. Se comparada essa subcategoria à anterior (Postagens de Agenda Ordinária), pode-se ver a diminuição drástica de postagens desse tipo, em termos absolutos, na grande maioria dos deputados. São casos que sublinham a perspectiva citada anteriormente: Marco Feliciano, Jandira Feghali, Moema Gramacho e Luís Tibé. Essa queda acentuada, possivelmente, tem a ver com o “desgaste” maior que a abertura de uma publicação para discutir política nacional pode gerar na página do parlamentar que, dessa forma, terá que empregar mais recursos de staff, de tempo e argumentativos para fazer a postagem e, em conseguinte, para respondê-la e mediar o debate que virá.
Nessa variável, o parlamentar que mais se destacou, ou seja, que mais discutiu a designada grande política (a política de forma ampliada) em sua página, foi Jean Wyllys, com 40 posts. Em segundo lugar está Fernando Francischini (35 posts), em terceiro Luis Tibé (24 postagens), em quarto lugar está Jandira Feghali (12 postagens) e em quinto lugar Marco Feliciano (11 posts). Pode-se notar que todos os deputados localizados no primeiro quartil de curtidas chegaram à pontuação máxima nessa subcategoria. Além deles, Luis Tibé também obteve 20 pontos. Apenas 3 (três) deputados fizeram 10 pontos, foram eles: Felipe Bornier, Jô Moraes e Carmen Zanotto. Os demais deputados - 11, ao total - ficaram com 0 pontos.
Quando se analisa as “Postagens Assuntos Pessoais”, que foram valoradas com, no máximo, 10 pontos, a terceira mais baixa pontuação, exatamente porque não implica em conteúdo político strictu sensu, mas sim, em uma abordagem de aproximação do eleitor pela construção de uma proximidade “familiar”, viu-se que apenas dois parlamentares pontuaram. O primeiro deles, que usou postagens deste tipo por 3 vezes foi Fernando Francischini, recebendo 10 pontos na categoria. Em segundo lugar, com uma postagem desse tipo, aparece Marco Feliciano, também recebendo 10 pontos na categoria. Os demais parlamentares receberam pontuação zero.
Passando para a variável “Postagens Assuntos Não políticos”, categoria essa que engloba tudo que não seja postagem de agenda ordinária, extraordinária e de assuntos pessoais, indicou-se que fossem destinados no máximo 5 pontos, já que estas seriam postagens totalmente fora de um viés político o que, normalmente, não se espera na página oficial de um parlamentar. Quando foram analisados os deputados, pode-se ver que Marco Feliciano foi quem usou por mais vezes esse tipo de postagem: foram 39 posts, o que o fez adquirir 5 (cinco) pontos. Os demais parlamentares não fizeram postagens desse tipo, com exceção de Fernando Francischini, que fez uma vez. Ao fim, somente Marco Feliciano pontuou na análise dessa variável.
Focando no segundo grupo de variáveis do “Índice de Ativação Parlamentar”, que se relaciona às respostas dadas pelos parlamentares, é importante que se note o número de respostas dadas pelos parlamentares aos seus eleitores e ciber-base. O número, de fato, é baixo, se considerarmos a quantidade de postagens e, principalmente, a média de comentários recebidos por postagens por parlamentar (ver Tabela 6).
A tabela abaixo (Tabela 7) apresenta a relação entre o número de postagens, a média de comentários de postagens e o número de curtidas total entre os 20 deputados federais no período aqui analisado. Interessante destacar que há parlamentares que não estão no primeiro quartil, mas que realizam um alto número de postagens. Entretanto, eles não desenvolvem um engajamento com os cidadãos nesses espaços (comentários e curtidas). Isso acontece com os parlamentares Moema Gramacho e Luis Tibé.

Para a análise das respostas, adotou-se a estratégia de ler apenas uma amostra do que foi captado (como indica a Tabela 8). O que se observou é que o número de respostas de deputados a seguidores que fizeram comentários parece baixo diante de um olhar mais atento.

Enfim, sabe-se que respostas demandam recursos dos mais variados (tempo, financeiro, conhecimento, redes de relacionamento etc.) para os deputados. São necessários staff especializado, expertise no assunto discutido, tempo para se dedicar a responder, interesse no debate com os seguidores, entre outros.
Dividiu-se as respostas em “Resposta Protocolar”, que valia 10 pontos no índice e com categorias 0 e 10; e “Resposta de Feedback”, que valia 40 pontos no índice, com categorias 0 e 40.
Nas “Respostas Protocolares” observou-se Jandira Feghali em primeiro lugar (64 respostas), Luís Tibé em segundo lugar (55 respostas), Jean Wyllys em terceiro lugar (42 respostas), Lincoln Portela em quarto lugar (31 respostas), Jair Bolsonaro em quinto lugar (13 respostas) e Moema Gramacho em sexto lugar (10 respostas). Somente os 6 (seis) deputados acima pontuaram na análise dessa variável (10 pontos).
Chama atenção que até os parlamentares que estão posicionados no primeiro quartil de curtidas, e que receberam números altos de comentários, como Jair Bolsonaro (média de 2084,4 comentários por postagem), Jean Wyllys (média de 537 comentários por post) e Marco Feliciano, (média de 421,9 comentários), responderam em pequeno número seu público. Talvez esse fato seja decorrente da opção dos parlamentares por tornarem-se um pouco alijados em relação aos debates políticos de sua própria página e, em contrapartida, abrirem espaço para que a própria ciber-base protagonize o debate de forma independente entre seus participantes, o que pode fazer com que o relacionamento democrático entre representante e representado em mídias sociais seja distante, apesar das possibilidades existentes nas redes. No entanto, isso permite uma consolidação dos laços entre a própria ciber-base.
Por fim, no que se relaciona ao “Índice de Ativação Parlamentar”, focamos nosso olhar nas “Respostas de Feedback”. A essa variável, foi destinado um score de 40 pontos, exatamente por ser uma resposta de caráter mais complexo e personalizado a ser dada pelo parlamentar. O parlamentar que apresentou mais respostas dentro desta categoria foi Jean Wyllys (36 respostas). Em segundo lugar estiveram Jair Bolsonaro (6 respostas) e Moema Gramacho (6 respostas) e em terceiro Felipe Bornier (4 respostas). Todos os parlamentares citados anteriormente tiveram 40 pontos, os demais não foram pontuados.
Ao analisar a escala de pontuação final do “Índice de Ativação Parlamentar”, que vai de 0 a 100, algumas observações importantes podem ser feitas a partir da amostra analisada. O deputado federal que obteve a maior pontuação no “Índice de Ativação Parlamentar” foi Jean Wyllys (77,5). Em segundo lugar esteve Jair Bolsonaro (60). Em terceiro, está Felipe Bornier (57,5) e em quarto lugar Moema Gramacho (55). Chama atenção que o 3º e 4º lugares no “Índice de Ativação Parlamentar” são parlamentares que se localizam no segundo quartil de seguidores, conseguindo ultrapassar a performance de deputados que, supostamente, deveriam estar mais preocupados em manter suas páginas mais ativas, já que têm mais público (Tabela 10). No entanto, como ficará mais visível na análise do “Índice de Ativação da Ciber-base”, parece que os deputados do 1º quartil contam com uma ciber-base extremamente ativa e por isso podem “se dar ao luxo” de delegar à sua ciber-base o protagonismo e a manutenção do debate.


Em continuidade, vemos que no 5º lugar no “Índice de Ativação Parlamentar” estão empatados Jandira Feghali e um deputado proveniente do último quartil de curtidas: Luis Tibé, com 45 pontos. Em 6º lugar está Marco Feliciano (42,5 pontos), em 7º lugar Fernando Francischini (37,5 pontos).
O “Índice de Ativação da Ciber-base”, como foi dito, é composto das variáveis “Comentários apoio”, “Comentários não apoio”, “Comentários informacionais propositivos” e “Comentários não agendamento”5 (Tabela 9). Salientamos ainda, na análise deste índice, a força e a presença da ciber-base dentro das páginas dos parlamentares analisados. É importante observar que a ciber-base acaba por se transformar em um grupo excepcionalmente ativo e propositor de debates, ao passo que, como poderemos ver, os próprios parlamentares, muitas vezes, não estão tão presentes. De fato, a pujança percebida na ativação da ciber-base pode mostrar uma vontade real dos representados para que haja a abertura de arenas de discussão política nas mídias digitais.
Para a primeira variável que compõe esse Índice, “Comentários - Apoio”, considerados esses comentários que demonstram preocupação política da ciber-base do parlamentar, foram definidos 25 pontos de distribuição, com limiares 0 - 12,5 - 25. Pode-se ver na Tabela 9 que obtiveram a pontuação máxima nessa variável, ou seja, 25 pontos, Jair Bolsonaro (1048 comentários), Jandira Feghali (558 comentários), Jean Wyllys (519 comentários) e Moema Gramacho (170 comentários). Houve parlamentares que obtiveram pontuação mediana, ou seja, 12,5 pontos, foram esses: Felipe Bornier (98 comentários), Lincoln Portela (32 comentários), Marco Feliciano (29), Luis Tibé (18), Fernando Francischini (13) e Waldenor (12,5). Os demais deputados classificaram-se no limiar 0 pontos.
Sublinha-se aqui o caso de Marco Feliciano. Apesar de ele ser o deputado com mais seguidores, demonstrou baixos valores absolutos de comentários em relação aos demais membros do 1º quartil de curtidas, demonstrando um baixo engajamento de sua ciber-base. A interpretação que se faz aqui é que, como Marco Feliciano tem seus maiores números de postagens sobre temas não-políticos, como se pode ver no “Índice de Ativação Parlamentar”, e mais “Postagens de Assuntos Pessoais”, então parece que não há muito estímulo a debates por sua ciber-base.
Avançando na análise das variáveis, a próxima a ser observada é “Comentários não apoio”, que tem pontuação máxima de 25 e categorias limiares 0 - 25. “Comentários não apoio” são importantes na tipologia feita porque demonstram uma possível insatisfação da própria ciber-base do parlamentar e sinalizam a construção de debates com espaços, inclusive, para críticas. Observa-se que os números absolutos apresentados nessa variável são bem menores que os apresentados pela variável “Comentários de apoio”. Nesta, só 5 parlamentares pontuaram: Jean Wyllys (8 comentários), Jair Bolsonaro (7 comentários), Marco Feliciano (2 comentários), Jô Moraes (2 comentários). Todos receberam 25 pontos.
A variável dentro do “Índice de Ativação Parlamentar” que teve uma maior valoração máxima imputada - 45 pontos - foi a “Comentários informacionais propositivos”, isso porque ela demonstra uma tentativa de iniciação ou continuação de debates pela ciber-base do parlamentar. É interessante observar que essa é a segunda categoria de comentários com mais casos levantados, e só vem depois do “Comentários apoio”. Os limiares delimitados foram 0 -22,5 - 45. Dessa forma, muito à frente dos demais parlamentares, o deputado que apresentou mais casos de seguidores iniciando ou dando continuidade a debates foi Jean Wyllys (567 comentários). Em segundo lugar esteve Jair Bolsonaro, com 364 comentários; em terceiro Jandira Feghali, com 327, e, em quarto, Fernando Francischini com 255 comentários. Todos esses quatro deputados pontuaram 45 pontos e demonstram uma ciber-base participativa no sentido de debater assuntos políticos dentro das páginas de seus representantes. Marco Feliciano também conseguiu alcançar o limiar e pontuar 25 pontos, mas, de fato, olhando para os números absolutos dos comentários propositivos do deputado (92), pode-se ver que ele fica um tanto aquém dos demais parlamentares do 1º quartil. No mais, Felipe Bornier (26 comentários), Moema Gramacho (17 comentários), Lincoln Portela (15 comentários) e Pastor Eurico (6 comentários) conseguem alcançar o limiar mediano e pontuam 22,5. Os outros deputados da amostra não pontuam.
Por fim, nesse índice, encontra-se a variável “Comentários de não agendamento”, que recebeu a menor pontuação, 5 pontos. Nesta, só dois parlamentares pontuaram: Jair Bolsonaro (2 comentários) e Felipe Bornier (1 comentário), ambos com 5 pontos.
Dessa forma, quando se analisa o resultado final do “Índice de Ativação da Ciber-base” pode-se ver que Jair Bolsonaro obtém 100 pontos e Jean Wyllys 95 pontos, demonstrando uma super-ativação e participação de suas respectivas ciber-bases no âmbito do debate construído em suas páginas no Facebook. Em terceiro lugar aparece Marco Feliciano com 82,5 pontos, em quarto lugar Jandira Feghali com 70 pontos, em quinto lugar Fernando Francischini com 57,5 pontos. Salienta-se que os cinco primeiros lugares do “Índice de Ativação da Ciber-base”, diferentemente do que acontece com o “Índice de Ativação Parlamentar”, coincidem com os deputados integrantes do primeiro quartil de curtidas, ou seja: ciber-base maior, maior o fluxo de debates percebido. Pode-se observar que a disposição de Jair Bolsonaro e Jean Wyllys na ponta do índice pode ter relação com seu campo de atuação e com a militância política de sua ciber-base.
Mais uma vez destacou-se a Deputada Moema Gramacho, pertencente ao segundo quartil de curtidas, mas que teve pontuações significativas tanto no “Índice de Ativação Parlamentar” quanto no “Índice de Ativação da Ciber-base”, a despeito do número de seguidores bem menor que os parlamentares do 1º quartil, por exemplo.
A partir da construção dos índices e análise dos resultados que eles apresentam, colocamos esses índices para interagir em um plano cartesiano X e Y: “Índice de Ativação da Ciber-base” e “Índice de Ativação parlamentar”, respectivamente. O gráfico de dispersão a seguir (Gráfico 1) mostra a interação entre os dois índices criados e os posicionamentos dos perfis analisados nos quadrantes. A partir dos posicionamentos nos quadrantes, identificamos quatro tipos de páginas de parlamentares no Facebook. São elas:

Olhando para a distribuição por quadrantes e acentuando a atuação dos deputados com mais seguidores em relação aos quartis de curtidas que pertencem - 1º, 2º, 3º e 4º -, pode-se perceber que aqueles deputados com mais seguidores têm em comum uma alta pontuação no “Índice de Ativação da Ciber-base”, mas não têm, necessariamente, uma boa localização no que diz respeito ao “Índice de Ativação Parlamentar” (Gráfico 2).

Há, ainda, outros elementos que podemos explorar da interação entre esses dois índices. Se apresentarmos o gráfico de dispersão de acordo com espectro ideológico dos parlamentares (Gráfico 3), verificamos que, no quadrante de alto desempenho político, os dois parlamentares são de espectros ideológicos distintos: direita e esquerda (Jair Bolsonaro e Jean Wyllys, respectivamente). Esse elemento é interessante porque reforça a ideia de forte polarização política da sociedade brasileira atual, uma vez que eles conseguem mobilizar melhor as orientações normativas da sociedade (e seus polos) presentes na esfera pública. Já a maior parte de deputados de centro se concentrou no quadrante de baixo desempenho político. No quadrante onde a ciber-base ativa é maior, aparecem deputados de centro, esquerda e direita. No quadrante onde “só o parlamentar ativa” os deputados são de esquerda e centro.

Outro aspecto interessante diz respeito à região dos deputados que compõem esse índice (Gráfico 4). Nele, é possível identificar uma predominância de deputados do Sudeste nos padrões de alto desempenho político e de médio desempenho político (Jair Bolsonaro e Jean Wyllys). A Região Sudeste apresenta maiores índices de acesso à internet e, provavelmente, deve ter um número maior de usuários que contribuem para ativar a ciber-base7. Como foi dito anteriormente, os deputados que estão nesses quadrantes são conhecidos nacionalmente e esse reconhecimento pode estar relacionado ao fato de eles representarem a Região Centro-Sul do país.

Ainda no que diz respeito ao sexo dos parlamentares, percebe-se que duas das cinco mulheres que compõem a amostra estão posicionadas nos quadrantes de alto desempenho e de ativação do parlamentar (Gráfico 5). As outras deputadas da amostra encontram-se no quadrante de baixo desempenho político.

Esses quatro tipos da forma de apropriação e utilização do Facebook pelos parlamentares junto à ciber-base permitem compreender os custos e os benefícios envolvidos na relação representante e representado, nos atentando para olhar para cada um dos atores envolvidos. Em páginas de alto desempenho político, representadas neste estudo pelos deputados Jean Wyllys e Jair Bolsonaro, observou-se tanto parlamentares quanto cidadãos interconectados mais fortemente entre si, o que poderia desenvolver mais proximidade e aportes informacionais para o mandato quanto para o fomento da esfera pública.
Os deputados situados no tipo em que somente a ciber-base é ativa possuiriam menores custos de ação política e de coordenação para desenvolver a inter-relação com a sua ciber-base, dado que isso demandaria muito esforço, tempo, e infraestrutura para lidar com o alto número de comentários feitos pelos cidadãos nas suas páginas. Além disso, esses deputados poderiam concentrar suas ações e da sua equipe para outras esferas, uma vez que suas páginas já são fortes na mídia social devido à ação da sua própria ciber-base que a desenvolve e estimula. Ressalta-se, também, que esses deputados são figuras de liderança nacional, o que faz com que eles já possuam uma identidade política associada a eles. Porém, ao mesmo tempo, tais parlamentares podem perder recursos estratégicos e informacionais que podem advir das suas páginas ou, ao mesmo tempo, correr o risco de passar a impressão que representados falam somente com eles mesmos e que os deputados não os ouvem.
O outro enquadramento em que somente o parlamentar ativa significa um maior esforço por parte do deputado para que os cidadãos se engajem em suas redes sociais, mas que ainda não atingiu o objetivo pretendido. Os dois legisladores situados nesse espectro, Felipe Bornier e Moema Gramacho, procuram ativar suas redes sociais seja com postagens e/ou com respostas aos comentários da ciber-base, mas a interação entre essa ciber-base ainda está aquém do que poderia ser. A questão que fica é se futuramente essa estratégia de procurar se apropriar Facebook poderá levá-los ao quadrante do alto desempenho, desde que combinada com outras agendas políticas de visibilidade.
Já o padrão denominado como baixo desempenho político, o majoritário nesse estudo, demonstra que a forma como o Facebook é utilizado para desenvolver a inter-relação entre representante e representado é algo ainda incipiente. Tanto o deputado não faz uso recorrente dessa mídia, quanto os cidadãos não a procuram para estabelecer conexões com o parlamentar, o que pode limitar as maneiras de o cidadão se fazer representado (reivindicar a representação) e, ao mesmo tempo, restringir a representação do parlamentar de certos issues e demandas na esfera política.
Por fim, deve-se ressaltar que o recurso menos utilizado pelos parlamentares no Facebook é a resposta, seja ela protocolar ou de feedback junto à sua ciber-base. Dos 20 deputados, apenas 25% deles responderam de forma protocolar pelo menos 21 vezes nessa mídia na semana aqui analisada. Como vimos, esse tipo de resposta estabelece uma relação mais unilateral e não fomenta discussões nesse espaço. Esse tipo de comunicação se fecha e termina naquele momento.
Já na resposta de feedback, aquela que busca maior proximidade entre representante e representado, apenas três parlamentares a fizeram pelo menos 4 (quatro) vezes no intervalo de uma semana, ou seja, estão acima da média. Pouco mais da metade (11 deputados) sequer respondeu dessa forma nesse período. Em outras palavras, esse tipo de resposta é a que desenvolve uma relação mais bilateral e dialógica entre representantes e representados, e potencializa uma accountability do tipo discursiva (DRYZEK, NIEMEYER, 2008) e a prestação de contas, propiciando aos parlamentares a possibilidade de consultarem e se informarem mais sobre a vontade dos eleitores.
Essencialmente, o formato da participação pela internet se caracteriza pela dinamicidade, por dar e receber respostas instantâneas. Todavia, o deputado não consegue acompanhar essa dinamicidade que envolve todos os assuntos legislativos que estão relacionados à sua atuação. Assim, se torna uma tarefa árdua dar respostas rápidas e prontas, que vão além daquela do tipo protocolar, pois, mudar alguma legislação ou propor algum projeto de lei demanda tempo e maturação analítica, ainda mais em uma instituição de caráter coletivo e conflituoso como o parlamento (LESTON-BANDEIRA, 2007), que depende de discussão e negociação sobre as matérias legislativas com seus pares ou com outros poderes envolvidos. Todo esse processo é algo que não combina com o ritmo instantâneo das mídias sociais.
Deve-se ressaltar um caso peculiar nesse estudo: o caso de Jair Bolsonaro. Esse parlamentar é o único que atingiu pontuação máxima no índice de ativação da ciber-base, o que quer dizer que os cidadãos que o seguem ativam muito a sua página no Facebook. Isso reforça o que foi dito anteriormente, de que o deputado tem uma grande militância online. Todavia, se considerarmos proporcionalmente o número de comentários feitos por ele, o deputado e a sua equipe respondem relativamente pouco. Portanto, a sua apropriação no Facebook depende mais da sua ciber-base para impulsionar e fomentar a sua página.
A questão é que cada deputado utiliza as mídias sociais e estabelece inter-relações com a ciber-base com base em preceitos estratégicos para o seu mandato. E esse processo envolve custos operacionais, de infraestrutura, além dos objetivos e papéis representativos que os deputados focam mais. Dessa forma, concordamos com os estudos de Karlson (2013), em que a conexão e interatividade comunicacional se relacionam com as estratégias e comportamentos dos representantes com vista a atingir as suas finalidades de representação política.
Entretanto, não podemos cair no equívoco de que somente a variável vontade política explicaria os padrões de comportamento dos deputados nas mídias sociais. A dinâmica da internet é distinta daquela que incide nas instituições democráticas formais, e há questões de cultura política, de visibilidade, controle e custos de transação que também estão envolvidos nesse contexto (FOUNTAIN, 2005; MENDONÇA, PEREIRA, 2016).
Por meio das análises do “Índice de Ativação Parlamentar” e do “Índice de Ativação da Ciber-base”, a principal conclusão desta pesquisa é que existem, pelo menos, quatro tipos de interação de parlamentares e sua ciber-base/eleitores em suas páginas do Facebook. São elas: 1) páginas de alto desempenho político; 2) páginas de médio desempenho político em que só o parlamentar ativa; 3) páginas de médio desempenho político em que só a ciber-base ativa e 4) páginas de baixo desempenho político. Essa tipologia traz importantes elementos para entender a recente interlocução possibilitada pelos usos de mídias sociais entre representantes e representados. Além disso, ela avança ao tentar mapear de que forma esses atores políticos têm utilizado esses espaços e pode nos trazer elementos sobre como tem se dado o processo relacional entre legislador e representados em sociedades contemporâneas. Portanto, esse estudo lança luz a reflexões sobre o processo dual na relação entre parlamentar e representado no que diz respeito à interlocução propiciada pelas mídias sociais e marcada por diferentes formas e objetivos.
O presente artigo tem um caráter fortemente metodológico e empírico, procurando mostrar cada passo feito para a elaboração dos índices e a análise aqui empreendida. A metodologia desenvolvida poderia ser replicada para investigar as formas de uso que os parlamentares fazem do Facebook, bem como a interconexão com a ciber-base para contextos estaduais e municipais ou, no caso dos senadores, para examinar se haveria diferenças devido às mudanças institucionais e estruturais, comparando com o caso dos deputados federais aqui examinado. Ademais, o modelo proposto também poderia ser replicado para o contexto do executivo. Todavia, algumas modificações deveriam ser feitas: 1) poderia se pensar na codificação dos temas das postagens feitas (agenda e políticas públicas); 2) uso de recursos utilizados (vídeos, memes, gifs, hashtag, links); dentre outras. Pois, o executivo, diferentemente do legislativo, já tem uma voz e posição mais definida acerca dos projetos políticos, e assim, postagens de cunho mais personalistas e não políticas tenderiam a ser menos frequentes, mesmo na página pessoal do governante. Assim, se esperaria um número maior de posts no sentido da implantação e execução de obras e serviços públicos.
Enfim, novas agendas de pesquisa podem ser exploradas utilizando esses dois índices relacionados ao aspecto do sistema legislativo-partidário. Uma delas é pensar se em países cujo sistema é parlamentarista, ou cujo sistema eleitoral é lista fechada, a ativação por parte dos deputados se daria em torno de postagens relacionadas a posicionamentos do partido e menos em torno de agendas pessoais, e até mesmo se haveria uma replicação das postagens no Facebook entre membros do mesmo political party. Ou então se em modelos distritais se teria maior propensão a interconexão entre os cidadãos e os parlamentares nas mídias sociais, e como se daria essa ativação para a interconexão.
Nesse sentido, poderia confirmar se o modelo de representação partidária8 ainda seria o mais forte no contexto atual, como evidenciado por Norton (2007), ao analisar os portais dos deputados da House Of Commons. Nesse estudo, o autor demonstra que os parlamentares utilizam seus sites oficiais para se promover individualmente; promover a visão do deputado sobre assuntos dos constituintes; e para promover o partido, com conteúdos como o link para o site do partido, documentos oficiais sobre ele, e convite para filiação nos próprios sites dos deputados. Todavia, o próprio autor afirmava, naquela época, que não se poderia desconsiderar o modelo representativo no que diz respeito à apropriação que os parlamentares fazem das TICs, procurando se mostrar mais independente ao partido, disseminando as suas visões particulares e como forma de mobilizar apoio a elas. O ponto é buscar compreender se esse modelo se fortaleceu com o advento das mídias sociais, como o Facebook, e de que forma isso aconteceu.
Outra agenda de pesquisa está relacionada à análise sobre como se dá a inter-relação entre os partidos políticos brasileiros com os cidadãos. Devido ao contexto de um sistema de lista aberta, o que favorece a predominância da figura personalista do parlamentar, como se dariam os padrões de interação entre o partido com a ciber-base. Mesmo os partidos majoritários, como o PT, PSDB e MDB teriam suas páginas ativadas pela ciber-base? Ou haveria diferenças nos padrões de apropriação e utilização do Facebook entre tais instituições, de acordo com a base partidária, seu histórico e sua forma de atuação? Essas são questões a serem exploradas em uma próxima oportunidade.














