Artigos

Recepción: 15 Abril 2022
Aprobación: 15 Noviembre 2022
Resumo:
O mundo está a conviver com a pandemia da COVID-19, marcada de avanços, recuos e incertezas associadas ao descaso de informações, fake news e negacionismo da doença, por isso, é importante que a entidade que informa a população goze da confiança desta.
Assim, a investigação propõe-se a analisar o grau de confiança que a população possui nas diferentes entidades que informam a sociedade angolana. Com recurso a aplicação de um inquérito por questionário numa amostra de n = 289 pessoas; a análise envolveu estatística descritiva univariada e bivariada (cruzamento de variáveis). Os resultados apontam que a população confia mais na informação da COVID-19 que vem dos médicos 60,9%, cientistas 30,1%, jornalistas 25,4% e líderes religioso 22,9; a população tem pouca confiança na informação que vem dos políticos, apenas 6% da amostra confia nesta classe e infere-se como principais razões, a politização da pandemia, os discursos incoerentes e a diabolização da pandemia. Esta investigação pode sugerir aos decisores políticos que tracem estratégias para informar a população envolvendo activamente as entidades que gozam de maior credibilidade diante população.
Palavras-chave: COVID-19, Informação, Confiança, População.
Resumen: El mundo vive la pandemia del COVID-19, marcada por avances, retrocesos e incertidumbres asociadas a la falta de información, fake news y negación de la enfermedad, por lo que es importante que la entidad que informa a la población goce de su confianza. Así, la investigación se propone analizar el grado de confianza que la población tiene en las diferentes entidades que informan a la sociedad angoleña. Utilizando un cuestionario de encuesta en una muestra de n = 289 personas; el análisis involucró estadísticas descriptivas univariadas y bivariadas (cruzamiento de variables). Los resultados muestran que la población confía más en la información sobre COVID-19 que proviene de médicos 60,9%, científicos 30,1%, periodistas 25,4% y líderes religiosos 22,9; la población tiene poca confianza en la información que proviene de los políticos, solo el 6% de la muestra confía en esta clase y las principales razones son la politización de la pandemia, los discursos incoherentes y la diabolización de la pandemia. Esta investigación puede sugerir que los hacedores de políticas diseñen estrategias para informar a la población involucrando activamente a las entidades que gozan de mayor credibilidad con la población.
Palabras clave: COVID-19, Información, Confianza, Población.
Abstract: The world is living with the COVID-19 pandemic, marked by advances, setbacks and uncertainty associated with the neglect of information, fake news and denialism of the disease, so it is important that the entity that informs the population enjoys its confidence. Thus the research proposes to analyze the degree of trust that the population has in the different entities that inform Angolan society. A questionnaire survey was applied to a sample of n = 289 people; the analysis involved univariate and bivariate descriptive statistics (crossing of variables). The results show that the population trusts more the information of COVID-19 that comes from doctors 60.9%, scientists 30.1%, journalists 25.4% and religious leaders 22.9; the population has little confidence in the information that comes from politicians, only 6% of the sample trusts this class and the main reasons are the politicization of the pandemic, the incoherent speeches and the demonization of the pandemic. This research may suggest to policy makers to design strategies to inform the population by actively involving the entities that enjoy greater credibility in the population.
Keywords: COVID-19, Information, Confidence, Population.
INTRODUÇÃO
Há quase dois (2) anos que o cenário mundial mudou por conta do aparecimento do novo COVID-19. A pandemia COVID-19 espalhou-se pelo planeta terra causando muitas incertezas sobre o futuro da humanidade afectando o modo de vida das pessoas bem como as relações intra e interpessoais.
O novo cenário mundial constitui uma fase muito impactante para muitas pessoas, uma vez que o mesmo apresenta novas realidades e exigências, trazendo muitas mudanças na vida das mesmas que podem afectar a sua saúde física, emocional e mental. Em função disso, diferentes estudos estão sendo desenvolvidos com o objectivo de compreender a questão da COVID-19 para gerar aportes (informação) sobre impacto da pandemia nas várias facetas da vida.
O acesso à informação em situações pandémicas constitui uma arma poderosa que muito contribui para as pessoas estarem esclarecidas e se actualizarem sobre questões da doença, visando o menor nível de contágio e melhor enfrentamento da mesma, ao passo que a desinformação (informação falsa) pode exactamente um efeito contrário ao pretendido.
Segundo Lima, Tarragó, Grings e Maia (2021), a pandemia de COVID-19 tem sido o novo palco da desordem informativa, com uma mistura indistinguível de informações não verificadas, informações úteis e desinformação, deliberada ou não. Agravam esta situação numerosas controvérsias e teorias conspiratórias relacionadas com a origem do vírus, os possíveis tratamentos e medidas de prevenção e contenção de contágios, reproduzidas e amplificadas pelas mídias.
Neste sentido, o excesso de informações imprecisas gera pânico, negacionismo e afrouxamento das medidas de prevenção, o que prejudica directamente o combate à pandemia. Na já intitulada maior crise global do século XXI, o mundo tem enfrentado dois vírus que se alastram rápido e paralelamente: a COVID-19 e as fake news (Falção & Souza, 2021).
Para Lima, Tarragó, Grings e Maia (2021), a desinformação representa uma verdadeira desordem informativa, que se expande a velocidades vertiginosas como um vírus contagioso e mortal. Esse fenómeno de produção, a compartilha de notícias falsas e desinformação, chamado de “infodemia”, afecta, principalmente, os cidadãos desprovidos de senso crítico e de alfabetização digital e que, assim, costumam colocar em prática o que lêem na internet.
Já Carvalho e Guimarães (2020), assinalam que a alfabetização digital é extremamente necessária para que os indivíduos adquiram a capacidade de distinguir aquilo que é confiável o que não é. Além disso, os autores ressaltam o importante papel da telemedicina e da ciência para contrapor notícias falsas e a desinformação e, assim, cumprir com o compromisso com a sociedade e com as boas práticas de pesquisa.
O tratamento da COVID-19, juntamente com a sua prevenção e diagnóstico, protagonizou a infodemia que se disseminou em todo o mundo, durante a pandemia. A profusão de informações sobre a COVID-19, principalmente as falsas ou imprecisas, dificultou a comunicação eficaz em saúde e gerou impactos sociais significativos (Lopes & De Lima, 2021).
Dessa forma, faz-se mister o desenvolvimento de estratégias baseadas em evidências para mitigar a desinformação. Estas devem ter foco no monitoramento da informação, fortalecimento da saúde digital e da alfabetização científica, melhoria da qualidade da informação e tradução precisa do conhecimento Eysenbach G (s/d, citado por Lopes & De Lima). Além dessas medidas, Lopes e De Lima (2021), acrescentam mais transparência e integridade nas pesquisas, com destaque, sobretudo àquelas relacionadas à COVID-19.
A COVID-19 E A CONFIANÇA DA POPULAÇÃO.
Para Parente (2020), a pandemia da doença do coronavírus 2019 (COVID-19), causada pelo SARS CoV-2, abalou a todos e deixou profundas marcas na vida de cada um de nós, alertando para a necessidade de cooperação premente entre as nações.
Em relação a confiança da população em fase de COVID, pode-se observar que os governos a nível mundial têm estado a levar a cabo inúmeras actividades e acções no sentido de minimizar o impacto da COVID-19 na vida dos cidadãos.
Nesse sentido, Santos, Mariano e Pimentel (2020), afirmam que o nível de confiança que o sujeito desenvolve pode alterar sua vivência durante a pandemia. Os autores ainda sublinham que a confiança no sector da saúde para um enfrentamento adequado da pandemia é uma questão importante, quando se fala de bem-estar e informação durante a luta contra a COVID-19.
Zhang (2020), afirma que nesta fase da luta contra o novo Coronavírus, não se trata apenas de coragem, mas de racionalidade, paciência e ciência. O autor acrescenta ainda que “Controlar a fonte de infecção”, “interromper a rota de transmissão” e “proteger as pessoas susceptíveis” são as únicas maneiras de controlar a propagação de doenças infecciosas.
Em função disso Morais (2020) afirma que deve-se adoptar ou manter um conjunto de medidas, voltadas tanto para a protecção de vulneráveis como para a diminuição da probabilidade de conflitos sociais violentos. Estas podem também diminuir a probabilidade de eventos não violentos, como passeatas e carreatas, embora em circunstâncias normais estes fossem legítimos, eles reduzem os efeitos positivos das regras de distanciamento social. O autor aponta entre tantas as seguintes medidas:
Adoptar políticas que não impliquem um sacrifício maior da renda para pessoas com rendimentos mais baixos, o que criaria percepções de injustiça e aumentaria a probabilidade de conflitos sociais.
Adoptar políticas que levem à “hibernação” de empresas e empregos ao invés de falências e demissões.
Garantir o fornecimento de electricidade e água.
Ampliar as actividades voltadas para a saúde mental da população.
Comunicar notícias com clareza, coerência, agilidade e transparência, considerando-se que audiências distintas precisam de formas de comunicação específicas.
Manter o combate à disseminação de boatos. Órgãos do governo podem fazer isso directamente, mas podem também incentivar a imprensa e a população a comprovar a origem das informações e repassar para outros apenas aquelas oriundas de fontes confiáveis.
Promover protocolos e treinamento para todos os profissionais actuando na “linha de frente”, sobretudo policiais, bombeiros e profissionais da saúde e do sector de limpeza.
Começar a elaborar uma estratégia de saída, pensando-se em alguns cenários a partir dos quais certas actividades ou grupos de pessoas passariam a voltar ao trabalho, assim como os estímulos necessários à recuperação da confiança.
De igual modo, Rego et al. (2020), afirma que em contextos de emergência em saúde pública, o dever de falar a verdade torna-se imperativo. A verdade aqui, é compreendida como as respostas, mesmo que transitórias, à perguntas que se utilizam de métodos científicos confiáveis.
Além disso, é fundamental que a população atingida confie nas autoridades responsáveis pela formulação da resposta institucional aos desafios que o contexto de uma epidemia impõe para a população. Para isso, uma estratégia de comunicação entre as autoridades e a população atingida deve ser definida de forma a garantir transparência no repasse das informações (Idem).
METODOLOGIA
Instrumento utilizado
Na presente pesquisa utilizámos o inquérito por questionário, como instrumento para recolher os dados empíricos. O inquérito por questionário utilizado na investigação, em parte baseou-se em questões disponíveis no Manual da Antigua de 2015 que mensura os indicadores de percepção pública da ciência e tecnologia. Este manual tem sido frequentemente utilizado nos países Iberoamericano e também na Europa.
A adaptação das questões propostas pelo Manual da Antigua consubstanciou-se na flexibilização das questões, na redução e substituição das variáveis a mensurar e finalmente escolher apenas questões que se concatenam com a realidade angolana. As variáveis e questões integradas no questionário contaram com análise prévia de todos os autores do presente texto, com vista a adaptar as melhores, de melhor maneira, as questões e termos de uma visão holística e sólida sobre os constructos que geraram as variáveis em estudo (Vilelas, 2017).
Teste piloto
Depois da adaptação do questionário, submeteu-se o mesmo a um pré-teste para se avalia a clareza, aceitabilidade e compreensão do instrumento (Vilelas, 2017). Nesta fase enviámos aproximadamente 18 questionários a um grupo de pessoas que já não poderiam fazer parte da investigação. Os resultados do pré-teste serviram para reduzir alguns itens, alterar a estrutura das questões e alterar a lógica para melhorar a compreensão dos inquiridos.
No entender de Vilela (2017), é fundamental que um questionário seja validado nos mais variados aspectos da sua aplicação, tais como a validação de conteúdo, que mede a correspondência dos conteúdos do questionário com o objectivo a ser avaliado, e deve ser avaliado por um grupo de juízes. Neste âmbito, podemos certificar que o Manual de Antigua é editado pela Rede Ibero-americana de Indicadores de Ciência e Tecnologias (RICYT), Observatório Ibero-americano de Ciência, Tecnologia e Sociedade (OCTS) e a Organização dos Estados Ibero-americanos para Ciência, Tecnologia e Cultura (Polino, 2015).
Caracterização da amostra
A amostra contou com 350 pessoas a quem enviámos os inquéritos, mas neste universo obtivemos 289 respostas. A selecção foi aleatória simples, considerando que qualquer pessoa adulta poderia responder ao questionário, caso esta concordasse. A amostra contou com um percentual de 65,1% do sexo feminino e 34,9% masculino. Destes, 58,5% são da faixa etária dos 20 – 30 anos; 23,5% pertence a faixa etária dos 31 – 40 anos; 7,6% é da faixa etária dos 41 aos 50 anos; 7,3% está na faixa etária dos 17 a 19 anos; a faixa etária dos 51 – 60 anos contou apenas com 2,8%; e 0,3% pertencem a faixa etária acima dos 60 anos. A minoria da amostra possui o ensino de base completo, correspondente a 6,6%; uma percentagem considerável de 33,9% possui o ensino médio; e a maioria da amostra frequenta ou tem o ensino superior concluído com quase 60%.
Procedimentos da análise estatística
A construção da base de dados foi feita com base aos resultados recolhidos do formulário online (Google forms). A partir destes resultados obteve-se um ficheiro do Excel, gerando uma base de dados com um total da amostra de 289 pessoas. Observa-se que a análise de dados foi efectuada através do software estatístico “SPSS Versão 22”.
Tipos de análises efectuadas: descritiva univariada e bivariada (cruzamento de variáveis). A primeira análise permitiu obter resultados detalhados (tabelas e gráficos) de modo a perceber o comportamento dos sujeitos investigados em cada variável e possíveis categorias das mesmas. Sabendo que todas as questões essenciais formuladas são de natureza qualitativa com tantas opções de respostas para cada uma delas, foi necessário aplicar a escala de likert para extrair conclusões consistentes, contribuindo para uma compreensão adequada ao invés de conclusões individuais. Consequentemente, a escala em referência gerou novas variáveis (quantitativas e qualitativas ordinais) e permitiu reduzir as variáveis qualitativas em três (3) categorias.
Em razão disso, surgiram oito (8) novas variáveis, sendo quatro (4) quantitativas que serviram somente de base para a obtenção de quatro (4) novas variáveis qualitativas tidas em conta no estudo: Nível de equilíbrio emocional; Nível de confiança na opinião pública em relação às informações da COVID-19; Nível de interesse na ciência e tecnologia; Nível de cultura geral; A segunda análise - bivariada (cruzamento de variáveis): Este tipo de análise forneceu as tabelas de contingências, por meio das quais foi possível estabelecer a associação entre duas variáveis com o intuito de se investigar a variabilidade ou a influência entre a variável independente em função da dependente.
RESULTADOS
A questão 2 colocada aos inquiridos referia-se ao seguinte: As vezes as informações sobre COVID-19 causam polémica. Nestes casos em quem preferes acreditar para formares a sua opinião? Escolhe somente uma das três opções em cada linha, sinalizando cada uma delas (1 = Em quem mais acreditas? 2 = Em quem razoavelmente acreditas? 3 = Em quem pouco acreditas?)
De realçar ainda que no gráfico seguinte foram apenas consideradas as variáveis Médicos; Cientistas que trabalham em instituições ou centros públicos de investigação; Políticos e Representantes de governo; Líderes religiosos e Jornalistas. As demais variáveis serão relegadas para análise em outro lugar, tendo em conta a limitação de espaço que se impõe neste sítio.

A = Médicos
B = Cientistas que trabalham na indústria
C = Religiosos
D = Representantes do governo
E = Cientistas que trabalham em instituições ou centros públicos de investigação
F = Políticos
G = Militares
H = Escritores/Intelectuais
I = Professores
J = Jornalistas
Ao colocarmos a questão 2, a intenção é perceber quais são as personalidades em que a população deposita mais confiança relativamente as informações sobre a Pandemia da COVID-19. Neste sentido, o gráfico geral da análise informa-nos o seguinte:
Médicos
Os médicos é a classe que mais confiança oferece nos cidadãos, mais da metade dos inquiridos que corresponde 60% disseram que confiam mais nos médicos; 27,7% dizem que acreditam razoavelmente nos médicos e apenas 13,4% acreditam pouco nos médicos. Esta variável, quando cruzada com a do nível de escolaridade, tem os seguintes dados em gráfico:

O gráfico informa-nos que os indivíduos com cultura geral média são os que mais acreditam nos médicos com 36,6, os inquiridos que acreditam razoavelmente nos médicos são representados por 14,13% e finalmente 6,16% dos inquiridos acreditam pouco nos médicos. Por outro lado, os inquiridos de cultura geral baixa são os que acreditam menos na informação que vem dos médicos, 9,8%, 6,16% e 6,16% respectivamente acredita pouco nos médicos.
Cientistas que trabalham em instituições ou centros públicos de investigação, nesta categoria encontramos 30,1% que acredita nesta classe, 34,8% acredita razoavelmente e 35,2% acredita pouco.
Quando cruzamos as variáveis, os inquiridos com baixo nível de escolaridade, apenas 1,1% acredita mais em cientistas que trabalham na indústria; 1,5% acredita razoavelmente e 3,4% acredita pouco nesta categoria. Ao contrário dos inquiridos que possuem o nível de escolaridade médio onde 6% acredita mais nesta classe, 13,3% acredita razoavelmente e igualmente 13,9 acredita pouco nesta classe. Finalmente os inquiridos com nível de escolaridade superior, 15% acredita mais nesta classe, 20% acredita razoavelmente e 24,9% acredita pouco nesta classe.

Políticos e representantes de governos
Por conseguinte, para a categoria dos representantes do governo mostra-se que 20,9% acredita mais nesta categoria, 34,6 acredita razoavelmente e 44,5% acredita pouco.
Já no que respeita a categoria dos Políticos apenas 6% acredita neles, 27,2% razoavelmente e mais da metade 66,8% acredita pouco nesta categoria. A questão 2 considerou o cruzamento da categoria políticos e nível de escolaridade. Neste cruzamento, os inquiridos de nível superior apresentam uma opinião bipolar, ou seja, são os que mais acreditam nos políticos com 4,4% e simultaneamente os que pouco acreditam com uma percentagem de 43,2%. Os inquiridos com classe básica são aqueles que menos acreditam nos políticos e em todas as opções aparecem com percentagem baixa, ou seja, 2,8 inquiridos com classe baixa acredita razoavelmente nos políticos e 3,2% acredita pouco nos políticos. Os inquiridos com classe média ficaram posicionados na linha intermédia com as seguintes as percentagens de 1,6%, 12% e 3,2% respectivamente.

Líderes religiosos
Entendemos necessário também incluir a categoria religioso, uma vez que a pesquisa foi realizada num contexto em que a religião tem uma forte influência na sociedade e na tomada de decisões dos cidadãos. Para esta categoria, os resultados mostram que 22,9% dos inquiridos acredita mais neles, 32,4% acredita razoavelmente, enquanto 44,7% acredita pouco.

Jornalistas
Quando analisamos a classe dos Jornalistas, 25,4% dos inquiridos preferem acreditar nestes, 41,3% acredita neles razoavelmente e 33,3% pouco acredita nos jornalistas.
No que diz respeito à variável Jornalistas versus nível de escolaridade, os inquiridos com escolaridade superior são os que mais acreditam nos jornalistas com percentual de 11,9%; os de escolaridade média apresentam uma percentagem de 10,7% e os de escolaridade baixa apresentam 2,7% de crença a classe de jornalistas. Por outro lado, os de escolaridade superior são os que menos acreditam nos jornalistas com 21,8%, seguidos pelos inquiridos com escolaridade média e baixa com 10,3% e 1,1% respectivamente.

DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Médicos: no âmbito geral, esta é classe que foi mais apontada pelos inquiridos como sendo aquela em quem eles mais acreditam concernente às informações sobre a pandemia da COVID-19. Como vemos nos resultados, 60% dos inquiridos apontam esta classe e apenas 13,4 diz não acreditar nela. Quando procuramos inferir as características dos inquiridos que mais confiança apresentam nos médicos, a imagem geral que podemos captar é que a maioria os inquiridos confiam nos médicos, embora estatisticamente os inquiridos com nível superior apresentam-se mais confiantes, seguidos dos inquiridos com o nível médio.
O estudo de 2018 da Wellcome Monitor dos dados sobre a África, relacionados com a confiança sobre o pessoal de saúde, revelam-se abaixo da média, apenas dois países, como a Nigéria e Ruanda apresentavam níveis de confiança acima da média, e as razões apontadas naquele estudo para este diferencial é a evolução das condições sócio- económicas no período em estudo.
Cientistas que trabalham em instituições e centro de investigação: na estatística geral, esta classe de cientistas aparece na segunda posição com 30%. A confiança nos cientistas em África, segundo os dados da Wellcome Monitor de 2018, mostram que de modo geral 55% acredita no trabalho dos cientistas e 64% acredita que a ciência lhes traz algum benefício. Infelizmente, Angola foi um dos poucos países africanos que não participou neste estudo, não dispondo de dados particulares, entretanto, fazendo um paralelo com os dados obtidos no âmbito do estudo da COVID-19, podemos salientar que a tendência de acreditar nos cientistas prevalece.
Políticos: de modo geral, os inquiridos não confiam nos políticos, apenas 6% confia nesta classe, representando a menor percentagem de todas as variáveis que contemplam o gráfico geral. Quando cruzamos esta variável com questão sobre o nível de cultura científica e o grau de escolaridade dos inquiridos percebemos que os indivíduos com maior grau de escolaridade e aqueles com nível médio e alto de cultura científica são os que menos confiam nos políticos.
No contexto da pandemia da COVID-19 está a vigorar o negacionismo associado a politização da doença. Muitos governos estão adoptar medidas de restrições desproporcionais com a subida de casos da COVID-19 e por vezes medidas completamente deslocadas das recomendações exaradas pela OMS, e não poucas vezes que se ouve sobre o retrocesso dos direitos humanos e a desestabilização de certas democracias e o fortalecimento dos sistemas autoritários (Meneguello & Porto, 2021).
Em função da politização da doença, no caso angolano, mesmo com poucos casos de hospitalização e mortes, o governo, no período em que aplicamos o inquérito, havia intensificado as restrições – medidas de confinamento sobre as instituições públicas e privadas, incluindo restrições nos mercados informais que só poderiam exercer actividade de comércio 3 dias por semana de forma interpolada. Enquanto o governo asseverava estas medidas, banindo simultaneamente as manifestações de activistas que pretendiam cumprir as medidas de biossegurança nas marchas previstas naquele período. Por outro lado, o paradoxal surgia quando viam-se manifestações de partidos políticos, principalmente da UNITA e do MPLA com centenas de pessoas sem qualquer distanciamento e muitos sem utilizar a máscara facial.
Acreditamos que este proceder para o contexto de Angola contrariava o discurso dos políticos, o que poderia ser entendido como pedal de desconfiança que a população levanta diante dos políticos. Estudos na América do Sul, particularmente no Brasil também mostram que a confiança nos políticos no contexto da pandemia é baixa (Massuchin & Cervi, 2021).
Jornalistas: os jornalistas aparecem em terceiro lugar com 25,4% e há aqui um grau de confiança nos profissionais de comunicação social. É de salientar que os jornalistas nesta matéria devem ser vistos ou seja, associados à imagem da comunicação social e do órgão a que pertencem. No contexto angolano a comunicação tradicional ainda tem uma influência muito grande sobre a população de modo geral, principalmente a Rádio e a Televisão, considerando que a inclusão digital ainda não é um facto nesta geografia, pois, a maioria da população tem acesso às notícias através da Rádio e da Televisão.
O estudo de Massuchin e Cervi (2021) que procurou perceber a confiança nos meios de comunicação tradicionais e redes sociais concluiu que a população confia mais nos meios tradicionais do que nas redes sociais, esta é a tendência do contexto angolano. Aliás, é de notar que no início da pandemia havia um programa “diário da COVID-19” onde o Secretário de Estado da Saúde Franco Mufinda, actualizava a população sobre a pandemia e não poucas vezes, a própria Ministra da Saúde de Angola e outras entidades ligadas a presidência da República iam para aquele programa, falar sobre as novas restrições ou levantamento das mesmas.
Esta imagem fica obviamente associada não apenas aos meios de comunicação social, mas também aos próprios profissionais que estavam sempre ali para acompanhar e apresentar o programa e resumir as medidas impostas ou levantadas.
CONCLUSÃO.
A investigação visou analisar o nível de confiança que a população possui em diferentes entidades que fornecem a informação sobre COVID-19. No contexto de pandemia que estamos a viver, as pessoas reagem em função dos diferentes estímulos que surgem sobre diferentes entidades ou autoridades, por isso, entendemos que é necessário que quem fornece a informação sobre a pandemia deve ser alguém que goza de confiança diante da população.
A investigação analisou diferentes entidades que, em teoria, têm alguma autoridade/influência sobre a sociedade angolana, entre eles, médicos; cientistas que trabalham em instituições e centros de investigação; políticos; líderes religiosos e jornalistas. Entre estes, a investigação revela que a população tem mais confiança na informação que vem dos médicos, 60,9%, isto é, mais da metade da amostra. Outros estudos têm mostrado que esta classe tem merecido confiança, não apenas no contexto da pandemia que vivemos, mas como a nível de outras crises sanitárias.
Os líderes religiosos, cientistas e jornalistas também têm uma confiança relativa da população, ao contrário dos políticos que é a classe em que a população menos confia com apenas 6%. Algumas razões que podem explicar esta rotulação dos políticos são: a politização da doença; os discursos incoerentes; a diabolização da COVID-19 (atribuindo todos os males da sociedade à COVID-19); esta tendência da avaliação negativa aos políticos verifica-se em muitos países como o Brasil, Polónia, África do Sul, Congo Democrático entre outros. Outrossim, os jornalistas associados aos meios de comunicação tradicional tiveram uma avaliação positiva posicionando-se na terceira posição da estatística com 25,4%.
Os dados apresentados na pesquisa podem servir para os decisores políticos alinharem estratégias de informar a população neste contexto de pandemia; considerando que os políticos não gozam da confiança da população, os decisores políticos deveriam reforçar a cooperação com as entidades religiosas para passarem a informação sobre a pandemia, conceder mais espaços aos médicos e cientistas para falarem na mídia. A pesquisa limitou-se a recolher informação de 289 pessoas, por isso, para se confirmar a generalização destes dados é necessário que as futuras pesquisas alarguem o número de amostra e a geografia angolana.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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