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O PAPEL DO MISSIONARISMO NA COMPOSIÇÃO DO IMAGINÁRIO SOCIAL DOS ADVENTISTAS DO SÉTIMO DIA

THE ROLE OF MISSIONARISM IN THE COMPOSITION OF THE SOCIAL IMAGINARY OF SEVENTH-DAY ADVENTISTS

Marcos Galdino
Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Brasil

O PAPEL DO MISSIONARISMO NA COMPOSIÇÃO DO IMAGINÁRIO SOCIAL DOS ADVENTISTAS DO SÉTIMO DIA

Ciencias Sociales y Religión / Ciências Sociais e Religião, vol. 19, núm. 27, pp. 97-114, 2017

Universidade Estadual de Campinas

Resumo: O presente trabalho discute as principais características componentes do imaginário social dos Adventistas do Sétimo Dia, tendo como recorte as reflexões sócio-históricas acerca da construção do ser adventista centrada nas suas características missionárias. Dialoga com as premissas de caráter identitário, fundamentadas sobre valores bíblico-cristãos, difundidas concomitantemente através da expansão do adventismo e sua fixação em diretrizes missionárias que envolvia, entre outros fundamentos, a expansão de seu modelo educacional. Como resultado, observou-se que a construção do imaginário social não se dá de modo espontâneo, mas por meio da assimilação de uma gama infinita de símbolos que se ancoram nos mais distintos significados; e no caso dos Adventistas do Sétimo Dia, a partir de uma clara intencionalidade por parte daqueles que assumem a responsabilidade de tornar-se propagadores dos valores que compõe seu fundamento doutrinário, uma vez que ao tornar-se adventista, torna-se necessariamente um missionário.

Palavras-chave: Imaginário social, Adventistas do sétimo dia, Missionarismo, Construção de identidade.

Abstract: The present work discusses the main components of the social imaginary of Seventh-day Adventists, with a focus on socio-historical reflections on the construction of the Adventist being centered on its missionary characteristics. It addresses the assumptions of identity, based on Biblical-Christian values, spread concomitantly through the expansion of Adventism and its establishment in missionary guidelines that involved, among other things, the expansion of its educational model. As a result, it has been observed that the construction of the social imaginary does not occur spontaneously, but through the assimilation of an infinite range of symbols that anchor in the most different meanings; And in the case of Seventh-day Adventists, from a clear intentionality on the part of those who take responsibility to become propagators of the values that make up their doctrinal foundation, once becoming an Adventist, necessarily becomes a missionary.

Key-words: Social imaginary, Seventh day adventists, Missionaries, Identity construction.

Introdução

A Igreja Adventista do Sétimo Dia foi criada formalmente em Battle Creek, Michigan, no dia 21 de maio de 1863, com uma adesão de 3500 membros. A sede denominacional foi mais tarde mudada dessa cidade para Takoma Park, Maryland, onde permaneceu até 1989. A sede da Associação Geral, em seguida, mudou-se para sua localização atual em Silver Spring, Maryland ( KNIGHT, 2000, p. 56).

A partir de 1870, a denominação voltou-se para o trabalho missionário e renovou-se, triplicando sua participação para 16.000 em 1880 e estabelecendo sua presença além da América do Norte durante o final do século XIX, com as missões internacionais de John N. Andrews na Europa. O crescimento continuou, alcançando 75.000 membros em 1901. No momento histórico em questão, funcionavam duas faculdades, uma escola de medicina, algumas dezenas de academias, 27 hospitais e 13 editoras. Em 1945, a igreja informou que tinha 226.000 membros nos EUA e Canadá, e 380.000 em outros lugares. O orçamento foi de US$ 29 milhões e as matrículas em escolas da igreja chegaram a 40.000 1.

Tal crescimento ocorreu de modo a facultar ao movimento adventista o título de uma das maiores organizações religiosas do mundo. Em maio de 2007, os adventistas eram o décimo segundo maior corpo religioso do mundo e o sexto maior movimento religioso internacional. A Igreja Adventista do Sétimo Dia também é a oitava maior organização internacional de cristãos do planeta 2.

No mundo, os Adventistas são regidos por uma Conferência Geral, com pequenas regiões administradas por Divisões, Uniões, Associações e Missões locais. Possui atualmente cerca de 17 milhões de membros, está presente em mais de 200 países e territórios e é etnicamente e culturalmente diversificada. No Brasil existem cerca de 1,6 milhão de membros.

Compreendemos, porém, que o Adventismo sofreu diversas transformações, chamadas neste capítulo de metamorfoses. Afinal, as identidades de um grupo social são construídas a partir de movimentos históricos, sociais e culturais. Essa definição nos aproxima das concepções de Stuart Hall (2006) em relação à construção de identidade, na qual as concepções de identidade se relacionam às visões de sujeito ao longo da história, como a Identidade do Sujeito do Iluminismo, que de acordo com o autor expressa uma visão individualista de sujeito, caracterizado pela centralização e unificação, em que prevalece a capacidade de razão e de consciência, e a Identidade do Sujeito Sociológico, que considera a complexidade do mundo moderno e reconhece que esse núcleo interior do sujeito é constituído na relação com outras pessoas, cujo papel, segundo Hall, é de mediação da cultura. Nessa última visão, que se transformou na concepção clássica de sujeito na Sociologia, o sujeito se constitui na interação com a sociedade, em um diálogo contínuo com os mundos interno e externo. Ainda permanece o núcleo interior, mas este é constituído pelo social, ao mesmo tempo em que o constitui. Assim, o sujeito é, a um só tempo, individual e social; é parte e é todo. Corroborando com ideias de Hall, Bauman afirma que:

Tornamo-nos conscientes de que o “pertencimento” e a “identidade” não tem a solidez de uma rocha, não são garantidos para toda a vida, são bastante negociáveis e revogáveis, e de que as decisões que o próprio indivíduo toma, os caminhos que percorre, a maneira como age - e a determinação de se manter firme a tudo isso - são fatores cruciais tanto para o “pertencimento” quanto para a “identidade”. Em outras palavras, a ideia de ter uma “identidade” não vai ocorrer às pessoas enquanto o “pertencimento” continuar sendo seu destino, uma condição sem alternativa. Só começarão a ter essa ideia na forma de uma tarefa a ser realizada. ( BAUMAN, 2005, p.17 e 18.)

Ou seja, uma vez que as identidades não são estáticas, compreendemos que o movimento adventista da década de 1840, apesar das relevantes características identitárias, apresentadas durante este momento histórico, não compõem, em sua totalidade, o mesmo Adventismo da atualidade.

1.1. O Adventismo como sentimento de pertencimento: reflexões sobre o ser adventista

O ser Adventista, no que diz respeito às questões identitárias, tem feito parte do imaginário brasileiro há mais de um século. A palavra Adventista, oriunda da palavra advento3, significa, etimologicamente “aquele que aguarda algo que está por vir”. Mas afinal, o que o Adventista está aguardando? Segundo o dicionário ilustrado das religiões, “adventistas são os membros de uma religião cristã que aguardam a volta iminente de Jesus Cristo à Terra”. (Schwikart, 2001, p. 8). Conquanto que a palavra Adventista pode denominar qualquer religião cristã que divida entre seus integrantes a crença num possível retorno espiritual e material de Jesus Cristo à Terra, o presente trabalho acadêmico parte da concepção de que Adventistas são aqueles que partilham da fé cristã pertencente às doutrinas apregoadas pela Igreja Adventista do Sétimo Dia, que é o objeto central das análises.

Assim, compreendemos o Adventismo, no sentido identitário, como grupo de pessoas que partilham crenças, valores, doutrinas e dogmas que lhes são comuns, o que não restringe suas crenças apenas no retorno de Jesus Cristo à Terra, como sugere sua nomenclatura; o Adventismo é composto por uma gama de preceitos que orientam a visão de mundo de seus adeptos, fazendo com que estes se reconheçam enquanto adventistas.

Durante a realização das análises, observamos que há crenças que, de certo modo, distinguem os adventistas dos demais grupos religiosos que aguardam o retorno de Jesus Cristo. Tal distinção se dá principalmente através da ênfase em outras três doutrinas específicas: o cuidado com a alimentação saudável, o descanso sabático e a crença no dom profético de Ellen White. Tais aspectos identitários podem ser compreendidos como características que o Adventismo busca ressaltar, ou mesmo “ostentar, negociar, oferecer e barganhar”. A respeito disso Bauman afirma que:

Estar totalmente ou parcialmente “deslocado” em toda parte, não estar totalmente em lugar algum (ou seja, sem restrições e embargos, sem que alguns aspectos da pessoa “se sobressaiam” e sejam vistas por outras pessoas como estranhas), pode ser uma experiência desconfortável, por vezes perturbadora. Sempre há alguma coisa a explicar, desculpar, esconder ou, pelo contrário, corajosamente ostentar, negociar, oferecer e barganhar. Há diferenças a serem atenuadas ou desculpadas, ou, pelo contrário, ressaltadas e tornadas mais claras. As “identidades” flutuam no ar, algumas de nossa própria escolha, mas outras infladas e lançadas pelas pessoas em nossa volta, e é preciso estar em alerta constante para defender as primeiras em relação às últimas. Há uma grande probabilidade de desentendimento, e o resultado da negociação permanece eternamente pendente. ( BAUMAN, 2005, p.19.)

Em relação ao cuidado com a alimentação saudável, Haller Elinar Stach Schünemann (2008) em artigo intitulado “Interfaces entre Religião e Ciência no Discurso de Saúde no Adventismo” afirma que no ano de 1863, ano da organização oficial da Igreja Adventista do Sétimo Dia, Ellen White reivindicou ter uma visão sobre a importância de cuidados com a saúde. Segundo Schünemann (2008, p.2) a “Mensagem de Saúde ou a Reforma de Saúde é incorporada no corpo doutrinário da IASD, se tornando uma parte muito relevante da identidade adventista”. A chamada “mensagem de saúde” compreende várias orientações de Ellen White a respeito dos cuidados com o corpo, principalmente no que diz respeito à alimentação saudável. Cabe salientar, que o corpo, no imaginário adventista, é compreendido como “templo do Espírito Santo” 4, de modo que, para o Adventista, alimentar-se a revelia dos preceitos orientados por Ellen White se constitui em uma “profanação” deste templo, constituindo-se em desobediência às doutrinas compartilhadas pelos fieis.

“Não sabeis vós que os vossos corpos são membros de Cristo?" I Cor. 6:15 "Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus." I Cor. 6:19 e 20. Nosso corpo é adquirida propriedade de Cristo, e não devemos sentir-nos em liberdade de fazer com ele o que nos apraz. Os homens têm procedido assim; têm tratado o seu corpo como se suas leis não previssem penalidade. Por meio do pervertido apetite seus órgãos e faculdades têmse tornado debilitados, enfermos e inutilizados. E esses resultados que Satanás tem acarretado por suas próprias especiosas tentações, ele usa para escarnecer de Deus. Ele apresenta diante de Deus o corpo humano que Cristo adquiriu como Sua propriedade; e que deformada representação de seu Criador é o homem! Porque pecou contra o corpo, e corrompeu seus caminhos, Deus é desonrado. ( WHITE, 2007a, p. 18)

A mensagem de saúde de Ellen White baseia-se na afirmação de que a ausência dos devidos cuidados com o corpo se constituiria em “escárnio de Deus”, afirmando que render-se às tentações do apetite seria resultado de render-se às tentações de “Satanás”. Conquanto que este trabalho acadêmico não entrará em detalhes a respeito das diversas representações a respeito das figuras Deus e Satanás, se faz necessário compreender que, no imaginário adventista, ambos compõem um antagonismo, reproduzindo a compreensão cristã tradicional: Deus, como a representação do Bem, e Satanás como representação do Mal. Ou seja, “render-se às tentações” de satanás nas questões relativas à saúde seria, para a compreensão Adventista, participação diretamente do mal, o que corresponderia a uma ofensa ao ser divino, logo, pecado. Compreende-se, assim, que a mensagem de saúde assume um caráter doutrinário, dogmático e preceitual, tornando-se parte preponderante no imaginário adventista, compondo sua identidade.

Compreendemos que o imaginário, de um modo geral, é composto por imagens, símbolos, sonhos, aspirações, mitos, fantasias, muitas vezes pré-racionais e com forte conotação afetiva que existem e circulam nos grupos sociais. De acordo com o entendimento de Baczko,

Com efeito, o imaginário social informa acerca da realidade, ao mesmo tempo em que constitui um apelo à ação, um apelo a comportar-se de determinada maneira. Esquema de interpretação, mas também de valorização, o dispositivo imaginário suscita a adesão a um sistema de valores e intervém eficazmente nos processos da sua interiorização pelos indivíduos, modelando os comportamentos, capturando as energias e, em caso de necessidade, arrastando os indivíduos para uma ação comum ( BACZKO, 1985, p. 311).

Para Baczko, portanto, o imaginário é algo inerente às coletividades, nas quais ele surge e sobre as quais ele atua, podendo, ainda, ser manipulado de acordo com interesses específicos, por meio de diversos veículos de comunicação. No caso dos Adventistas do Sétimo Dia, compreendemos que a bibliografia composta pelas obras de Ellen White atua como um dos principais componentes influenciadores do imaginário social deste grupo social, principalmente pelo caráter simbólico que ele representa.

O descanso sabático é uma das doutrinas consideradas com maior relevância pelos Adventistas do Sétimo Dia. Para o Adventista, o Sábado não é um dia comum: é um dia de repouso espiritual, dedicado à realização de atividades religiosas. Inclusive, salienta-se que na nomenclatura oficial da igreja, o fragmento “do sétimo dia” é referente à “guarda” do sábado. Presente entre as doutrinas fundamentais dos Adventistas do sétimo dia, a historiografia adventista aponta a doutrina relativa à observância do sábado como uma herança doutrinária dos Batistas do Sétimo Dia, congregação protestante surgida nos Estados Unidos da América no início do século XIX. Através da conversão da Batista do Sétimo Dia Raquel Oakes ao milerismo, os ministros mileritas passaram a acrescentar entre suas doutrinas salvacionistas o descanso sabático, a começar por Frederico Wheeler, chamado pela historiografia adventista como “metodista-adventista-milerita” ( MAXWELL, 1982, p. 70), considerado o primeiro Ministro Adventista a aceitar e pregar a respeito do sábado como “dia do Senhor”.

Entretanto, o sábado passou a ter grande aceitação doutrinária dos primeiros Adventistas a partir de dois movimentos distintos, mas complementares: os estudos de hermenêutica bíblica realizados pelo pioneiro do movimento adventista Joseph Bates, publicados em um panfleto intitulado “O sábado do sétimo dia, um sinal perpétuo”, e o posterior parecer de Ellen White, segundo ela, baseado em uma “visão” espiritual a respeito do tema 5. Estes elementos, seguidos da Assembleia Geral dos Adventistas do Sétimo Dia realizadas no dia 30 de setembro de 1860, acrescentam o sábado como doutrina do fundamental dos Adventistas do Sétimo Dia.

Outra característica identitária observada ao longo da pesquisa é a ideia de que no imaginário Adventista, este é pertencente a um Remanescente. Ellen White, ao justificar a escolha do nome Adventistas do Sétimo Dia (Seventh-Day Adventists, em inglês), utilizou a mesma expressão, e ao longo de suas obras o fez por diversas vezes, o que faz da expressão Remanescente ser considerada entre os adventistas como um cognome.

Foi-me mostrado o modo por que o povo remanescente de Deus obteve seu nome. Duas classes de pessoas me foram apresentadas. Uma abrangia as grandes corporações de cristãos professos. Estes tripudiavam sobre a lei divina, inclinandose diante de uma instituição papal. Observavam o primeiro dia da semana em vez do sábado do Senhor. A outra classe, posto que pequena em número, tributava obediência ao grande Legislador. Estes guardavam o quarto mandamento. As feições peculiares e preeminentes de sua fé são a observância do sétimo dia e a expectativa da volta de Cristo nas nuvens do céu. ( WHITE, 2005, p. 65).

O texto supracitado nos permite analisar algo além da constituição da nomenclatura utilizada para designar o grupo religioso que está sendo estudado. O texto claramente trata de duas classes de pessoas: “as grandes corporações de cristãos confessos”, ou seja, as igrejas cristãs em geral, e a classe daqueles que “tributavam obediência ao grande legislador”. Ou seja, ser adventista, num contexto identitário, significa para o crente mais do que participar de uma denominação cristã. No imaginário adventista, pertencer a este grupo significa estar ao lado da verdade, entendida como única e absoluta. Esta perspectiva pode ser analisada a partir da concepção de identidade de Stuart Hall, como um processo, assim como uma narrativa ou bem como um discurso em que “a identidade é sempre vista da perspectiva do outro” (HALL, 1993, p. 45). Esta é uma formulação fundamental, porque nos leva à consideração de que as identidades podem ser vislumbradas somente no que têm a dizer - sobre si e sobre o outro, na relação com o outro. Bauman (2005) vai além, ao afirmar que:

[...] diferentes significados associados ao uso do termo “identidade” contribuem para minar as bases do pensamento universalista. As batalhas de identidade não podem realizar a sua tarefa de identificação, sem dividir tanto quanto, ou mais do que unir. Suas intenções includentes se misturam com (ou melhor, são complementadas por) suas intenções de segregar, isentar, excluir. ( BAUMAN, 2005, p.84).

Pode-se dizer, que estes quatro preceitos - crença no retorno de Jesus Cristo, o cuidado com a alimentação saudável, o descanso sabático e a crença no dom profético de Ellen White - formam os pilares doutrinários do Adventismo, que somando-se a ideia de pertencimento a um povo remanescente, compõem aspectos identitários relevantes para a presente pesquisa. Logo, a construção da identidade adventista, acompanhada do sentimento de ser adventista são concomitantemente forjadas a partir de movimentos segregatórios, caracterizados por dicotomias, como cristãos professos-remanescentes, lei divina-lei papal, sábado-domingo. Isto é: ser adventista só é possível a partir da negação da identidade do outro.

O adventista, enquanto sujeito histórico é o indivíduo que mantém laços com o território simbólico, que integram a mentalidade do grupo, mesmo quando o grupo se distancia fisicamente de seu local de origem. Este fenômeno pôde ser observado, por exemplo, com o surgimento das primeiras missões adventistas que chegaram à América do Sul, e posteriormente ao Brasil, ao final do século XIX. Estas missões eram ligadas a um departamento específico da Associação Geral da Igreja Adventista do Sétimo, com sede nos Estados Unidos, chamado de Comissão de Missões Estrangeiras.

A fim de acelerar a obra da igreja fora dos Estados Unidos, a Associação Geral, nos dias 3 e 6 de novembro de 1889, votou a comissão de um novo comitê: a Comissão de Missões Estrangeiras. Em 3 de janeiro esse grupo falou sobre a América do Sul pela primeira vez, recomendando a emigração de obreiros de sustento próprio, que tivessem um ofício ou profissão, para o continente, a fim de que estes fornecessem informações à Associação Geral sobre os melhores métodos para estabelecer o trabalho adventista na região. ( GREENLEAF, 2011, p. 28).

Este discurso deixa evidenciar as intenções missionárias da Igreja Adventista logo após seu surgimento, através da criação de departamento próprio que lidaria tão somente com os objetivos missionários da referida organização religiosa. A Igreja Adventista do Sétimo dia, deste modo, passava a integrar o chamado Protestantismo de Missão, que segundo Martin N. Dreher havia chegado à América do Sul no ano de 1826 através da congregação Anglicana, além da primeira Congregação Presbiteriana em Buenos Aires, organizada entre os “estrangeiros residentes” ( DREHER, 2007, p. 52). No caso dos adventistas, a perspectiva missionária é considerada um dever, ligado doutrinariamente às obrigações éticas que todo adepto do Adventismo deve ter. A respeito das obrigações missionárias do que o membro da igreja adventista deve ter, Ellen White afirma que:

A Igreja de Cristo foi organizada com fins missionários. A obra missionária cristã fornece à igreja um firme fundamento, o qual tem este selo: "O Senhor conhece os que são Seus." II Tim. 2:19. Por ela os membros são possuídos de zelo para renunciar-se a si mesmos, desenvolver abnegados esforços para enviar a verdade às regiões distantes. Isso tem uma salutar influência sobre os incrédulos; pois ao trabalharem os obreiros sob o conselho divino, os mundanos são levados a ver a grandeza dos recursos que Deus tem preparado para aqueles que O servem. Achamo-nos sob a mais solene obrigação de proporcionar nas missões cristãs um exemplo dos princípios do reino de Deus. A igreja tem de trabalhar ativamente, como um corpo organizado, para dilatar a influência da cruz de Cristo. ( WHITE, 2007b, p. 464)

Isto é, para o imaginário adventista, ser adventista implica em ser missionário. Assim, o adventista possui o dever moral, ético e religioso de ser um agente de difusão das ideologias, crenças e preceitos que lhes são comuns. “Todo verdadeiro discípulo nasce no reino de Deus como um missionário” ( WHITE, 2013, 102). Em outras palavras: aquele que não for missionário não é verdadeiro discípulo. Compreendemos, assim, que a implantação estratégica de uma comissão de missões estrangeiras, aliadas ao discurso religioso de Ellen White, forma o cenário que contribui para a irradiação do Adventismo que atinge o oeste paranaense e, posteriormente, Foz do Iguaçu.

1.2. Do surto de fanatismo à organização eclesiástica: condições históricas para o surgimento do Adventismo

No ano de 1843 os Estados Unidos da América passavam por uma das maiores transformações sociais de toda a sua história. A Segunda Guerra de Independência, ocorrida entre os anos de 1812 e 1814, deixaram sequelas tão profundas, que passariam a fazer parte da identidade do povo americano. A vitória sobre a potente Grã-Bretanha provocou tamanho êxtase, a ponto de gerar um sentimento único, peculiar, que segundo os historiadores moldariam sua ideologia ( BAILYN, 2003). Neste contexto, era necessário romper com todos os elos que os ligavam de algum modo ao antigo colonizador, entre eles, o elo social-religioso.

O Calvinismo estava entre as religiões protestantes mais difundidas na América Colonial.

Tal rompimento, ou afastamento natural de seus conceitos e teorias, em promoção aos ideais Arminianos 6, conduziram o povo americano aos princípios que embasariam futuramente o surgimento de novos movimentos religiosos, levando as igrejas a um amplo movimento de reforma social no país. É neste contexto que surge no ano de 1843 o Milerismo 7, movimento precursor ao Adventismo 8, e principal norteador de seus dogmas e ideologias. Milerismo é o nome que se dá ao movimento religioso que surgiu nos Estados Unidos na primeira metade do século XIX, liderado por Guilherme Miller. Este movimento baseava-se na crença do retorno iminente de Jesus Cristo à Terra, o que fazia com que seus adeptos cressem de que este “retorno” traria consigo a destruição do planeta, e salvação daqueles que aceitassem a mensagem como verdadeira. Isto é, ao mesmo tempo em que a mensagem milerita não abandonava a perspectiva salvacionista, presente nas religiões protestantes americanas, trazia consigo um elemento de urgência, o que provocou um surto de fanatismo, levando milhares de pessoas a aguardar o retorno fantástico de Jesus Cristo.

Guilherme Miller era um jovem agricultor do estado de Nova York e pregador batista, que se tornou uma das figuras mais influentes que contribuíram para esse movimento. Miller foi um estudioso da Bíblia Cristã, cuja matemática e cálculos centraram-se na iminente Segunda Vinda de Cristo, o chamado Segundo Advento. As novas doutrinas acrescentadas pelo Movimento Milerita convenceram uma parte do segmento da população americana, o que de certo modo influenciou na formação de várias novas denominações cristãs protestantes americanas. A fragmentação do movimento Milerita após o evento conhecido historicamente pelos adventistas como o grande desapontamento de 22 de outubro de 1844, também marcou um ponto de reviravolta na história da interpretação da profecia bíblica, o fim do domínio do método histórico para a exegese da profecia bíblica.

Segundo Porto (2009, p. 41):

No adventismo sempre existiram interpretações da Bíblia apoiadas em gráficos, diagramas, comparações extensas entre textos bíblicos e mensagens que apelavam mais a uma convicção racional. Assim, “conhecer a verdade”, entre os adventistas, significa que a pessoa deve possuir uma compreensão intelectual das doutrinas. (PORTO, 2009, p. 41)

Segundo a historiografia adventista, Miller teria utilizado uma abordagem chamada pelos adventistas de abordagem historicista de interpretação, que se caracteriza pelo estudo cronológico da bíblia, contextualizando historicamente seus escritos. Estes acreditavam que deste modo estariam se aproximando da Bíblia "racionalmente", de modo que princípios como clareza, literalidade e veracidade da Bíblia, estariam no centro de sua abordagem hermenêutica.

Voltando a Guilherme Miller, cabe dizer que este era um estudioso leigo das escrituras. Motivado pelo apelo comovente de um pregador da congregação religiosa onde frequentava, decidiu estudar a Bíblia de modo compenetrado e minucioso. Prometeu a si mesmo de não avançar ao próximo texto sem que o compreendesse por completo. “Utilizando uma Concordância Bíblica, Miller formou a concepção de que a Bíblia como livro inspirado, deveria explicar-se por si mesma”. ( MAXWELL, 1982, p. 12).

Ao deparar-se com o texto de Daniel, capítulo 8 versículo 14 9, entendeu que o mesmo representava 2300 anos literais, que se iniciariam em 457 A.C e terminariam durante a primavera de 1844, com o evento cataclísmico do retorno de Cristo à Terra e consequente destruição do mundo. Cristo não veio na data pré-estabelecida pelos cálculos de Guilherme Miller, e com muita expectativa, no dia 22 de outubro de 1844, após multidões aguardarem ansiosamente por longas horas o alvorecer de uma nova era espiritual, o Movimento Milerita ruiu, dando origem a vários movimentos religiosos, entre eles o Movimento Adventista.

Após contato proeminente com Joseph Bates, Guilherme Miller, como o líder e principal proponente do Adventismo na América do Norte, estabeleceu uma base teológica que ainda hoje faz parte do corpo doutrinário dos Adventistas do Sétimo: uma demonstração do sábado como sétimo dia, sendo pertencente aos mandamentos de Deus e digno de repouso. A historiografia adventista afirma que a partir da participação de Guilherme Miller na Guerra de 1812, ele rejeitou as crenças deístas, passando por uma dramática experiência de conversão, ao retornar às suas raízes batistas. A fim de responder às questões de seus amigos deístas sobre a confiabilidade da Bíblia e suas acusações de que a Bíblia se contradiz, Miller começou uma leitura sistemática da Bíblia, do Gênesis ao Apocalipse.

Durante a leitura, Miller tornou-se convencido de que a segunda vinda de Jesus Cristo à Terra ocorreria, aproximadamente no ano de 1843. Ele começou a proclamar publicamente esta mensagem do “Segundo Advento” em 1831, e logo reuniu seguidores que aceitaram a sua crença. Mesmo abstendo-se inicialmente em definir uma data exata para o evento que supostamente havia descoberto através de seu estudo sistemático da Bíblia Cristã, ele finalmente aceitou a data 22 de outubro de 1844 como possível data do retorno de Cristo à Terra. Entretanto, quando esta data passou, e o retorno de Cristo não aconteceu, a maioria dos Mileritas desistiu de suas crenças.

Quase imediatamente após o desapontamento de 22 de Outubro, muitos crentes e ministros que se haviam associado à proclamação da mensagem do Advento se afastaram. Alguns deles se haviam unido ao movimento em grande parte por temor, e passado o tempo da expectativa, abandonaram a esperança e desapareceram. Outros foram arrastados pelo fanatismo. Cerca da metade do grupo adventista apegou-se à confiança de que logo Cristo apareceria nas nuvens do Céu. No caso do desprezo e ridículo sobre eles cumulados pelo mundo, julgaram ver evidências de que passara o dia de graça para o mundo. Essas pessoas criam firmemente que a volta do Senhor estava muito próxima. Mas como os dias se fizeram semanas e o Senhor não aparecia, desenvolveu-se uma divisão de opiniões, e esse grupo se dividiu. Uma parte, numericamente grande, assumiu a posição de que a profecia não se cumprira em 1844, e de que devia ter havido um engano no cálculo dos períodos proféticos. Começaram a fixar a atenção em uma futura data específica para o acontecimento. Outros havia, num grupo menor, os antepassados da Igreja Adventista do Sétimo Dia, que estavam tão convictos das evidências da operação do Espírito de Deus no grande Despertamento Adventista que, negar fosse o movimento a atuação do Senhor seria — assim criam — um insulto ao Espírito de graça. E isto achavam que não podiam fazer. ( WHITE, 2007c, p.18)

Uma minoria de Mileritas mantiveram suas crenças no breve retorno de Jesus Cristo ou no suposto significado profético de 22 de outubro de 1844. Estes grupos desenvolveram uma variedade de explicações para a "não aparição” de Jesus Cristo naquela data, quer reinterpretado o evento ligado a 22 de outubro de 1844, ou mesmo definindo outra data que parecesse mais coerente com estudos bíblicos proféticos.

Segundo Knight (1993) o Movimento Milerita foi um movimento religioso interconfessional cujo não cumprimento das predições de Guillherme Miller culminaram na multiplicidade de interpretações referentes ao retorno de Cristo à Terra. Entretanto, as diferenças doutrinárias acabaram por dividir os seguidores de Miller, surgindo, deste modo, pelo menos outros quatro grupos. Um deles que ficou conhecido como os adventistas do “Sábado e da Porta Fechada” 10 foi o grupo no qual a IASD se originou ( DOUGLASS, 2001, p. 50).

A denominação cristã Adventista do Sétimo dia, formalmente constituída em 1860, a partir destes crentes Mileritas remanescentes, foi um grupo que desenvolveu um cenário alternativo que lhes permite manter a sua crença na importância da data de 22 de outubro de 1844. Segundo dados oficiais 11, a Igreja Adventista do Sétimo dia é composta atualmente de 17 milhões de membros, constituindo-se em uma forte denominação com presença em todo o mundo, que lê e interpreta a Bíblia usando uma abordagem que deve muito a hermenêutica tradicional de Miller. Deste modo a Igreja Adventista do Sétimo Dia mantém uma série de características associadas à sua herança milerita, incluindo uma expectativa contínua de breve volta de Cristo, a interpretação bíblica das profecias através da lente do historicismo 12, incluindo o conceito de dia-ano profético, com ênfase na clareza do texto bíblico e em sua literalidade.

Entretanto, faz-se necessário salientar, que o início do século XIX foi uma época de efervescência religiosa nos Estados Unidos. O chamado Milenarismo 13 Utópico, promulgado por Charles Finney e outros pregadores durante o chamado Segundo Grande Despertar Evangélico, fez com que numerosas comunidades utópicas se estabelecessem. Apesar da semelhança entre as expressões Milerismo e Milenarismo, trata-se de movimentos religiosos diferentes. Milenarismo pode ser definido como movimento social, geralmente de caráter religioso, que acredita em algum tipo de salvação total, coletiva e iminente de origem sobrenatural. Entre as comunidades que dividem crenças consideradas milenaristas pode-se citar a formação dos Mórmons no ano de 1827 por Joseph Smith (que também vislumbravam o estabelecimento do reino de Deus na terra), os Shakers em 1774, que afirmavam que Cristo viera espiritualmente na pessoa da profetisa Ann Lee, além de Ralph Waldo Emerson, que em 1836 desenvolveu a filosofia transcendentalista, “que segundo ele seria um esforço de introspecção metódica para chegar ao ‘eu’ profundo, numa tentativa de aperfeiçoar as sociedades humanas”. ( CROCOMBE, 2011, p.4).

O pesquisador José Jeremias de Oliveira Filho, em sua tese de doutorado intitulada “A Obra e a Mensagem: Representações simbólicas e organização burocrática na Igreja Adventista do Sétimo Dia”, apresentada ao Departamento de Sociologia da FFLCH - USP, em 1972, afirma que a característica básica desses movimentos era o seu inconformismo com as associações religiosas já estabelecidas em Igrejas, tais como a Metodista, a Episcopal, a Presbiteriana e, principalmente, a Igreja Católica. Oliveira filho assinala algumas características gerais:

Neste contexto histórico, nos séculos XVIII e início do XIX, o movimento do Segundo Advento era uma força religiosa potente na Europa e na América do Norte. Seus adeptos focavam em uma data específica para o cumprimento literal do Segundo Advento de Cristo, ou seja, o regresso de Jesus Cristo à Terra para estabelecer um reino eterno. Segundo Crocombe (2011), nos Estados Unidos, o estabelecimento da chamada Democracia Jacksoniana 14 evocou em muitos um otimismo fervoroso, de modo que tal ambiente se mostrou um terreno fértil para as teorias de Guilherme Miller, e seus seguidores, que posteriormente viriam a ser chamados de Mileritas.

1.2.1 A Importância dos Discursos de Ellen White para os Adventistas do Sétimo Dia: o espírito de profecias

Na tentativa de compreendermos a importância que os adventistas do sétimo dia conferem aos discursos proferidos por Ellen White, recorremos a conceitos bastante discutidos na história cultural, como as categorias de Imaginário Social, como é compreendida pelo filósofo e historiador das ideias Bronislaw Baczko, e de Representação Social, como é compreendida pelo historiador francês Roger Chartier.

Baczko (1985) afirma que os imaginários sociais constituem pontos de referência no vasto sistema simbólico que qualquer coletividade produz, e através da qual ela se reconhece, divide e elabora seus objetivos, possuindo uma realidade específica e um impacto variável sobre as mentalidades e comportamentos ( BACZKO, 1991, p.08). Ou seja, segundo o referido autor, o imaginário social não é distinto do real, uma vez que influencia diretamente sobre as ações dos indivíduos que compartilham de crenças comuns.

É assim que através dos seus imaginários sociais uma coletividade designa sua identidade; elabora uma certa representação de si; estabelece a distribuição dos papéis e das posições sociais; exprime e impõe crenças comuns; constrói uma espécie de código de “bom comportamento”, designadamente através da instalação de modelos formadores tais como a do “chefe”, o “bom súdito”, o “guerreiro corajoso”, etc. ( BACZKO, 1985, p.309).

A partir das elucidações de Baczko, compreendemos que no caso dos Adventistas do Sétimo Dia, um dos “modelos formadores” cujo discurso representa maior autoridade é a pioneira do movimento adventista Ellen White. Segundo o Manual da Igreja Adventista do Sétimo Dia (2010), no subtítulo intitulado “A Igreja do Deus Vivo”, a IASD possui um corpo doutrinário de bases cristãs, que ressalta, inclusive, a ausência de distinção de “nacionalidade, etnia ou classe social” (p.23) em relação às suas crenças, necessárias à edificação do “corpo de Cristo” (p.33). Entretanto, há crenças que possuem características identitárias marcantes, como a chamada doutrina do dom profético, que segundo os adventistas “[...] é uma característica da Igreja remanescente e foi manifestado no ministério de Ellen G. White” ( WHITE, 2008a, P. 276), de modo que, para estes, seus escritos constituem-se em fonte de autoridade doutrinária.

Por sua vez, Douglass (2001, p. 182) afirma que: “O ministério de Ellen White e o surgimento da Igreja Adventista do Sétimo Dia são inseparáveis. Tentar entender um sem o outro tornaria ambos ininteligíveis e inexplicáveis”. Tal perspectiva se relaciona com o conceito de representação, discutido amplamente através da bibliografia de Roger Chartier, uma vez que a representação tanto poderá dar a ver algo ausente, como poderá exibir uma presença, como apresentação de algo ou alguém ( CHARTIER, 1990, p. 20) simulando uma presença dotada de significado simbólico.

A presente pesquisa compreende o “dom profético” de Ellen White a partir das representações que ele assume diante dos discursos por ela proferidos através de seus escritos, que adquiriram caráter de “escritos proféticos” diante de uma estrutura de símbolos cujos significados fazem sentido, diante dos motivos que a levaram a proferir as mensagens a ela atribuídas, a partir de uma visão particular do mundo social. Analisando as divisões do mundo social, Chartier afirma que:

Desta forma, pode pensar-se uma historia cultural do social que tome por objeto a compreensão das formas e dos motivos — ou, por outras palavras, das representações do mundo social — que, a revelia dos atores sociais, traduzem as suas posições e interesses objetivamente confrontados e que, paralelamente, descrevem a sociedade tal como pensam que ela e, ou como gostariam que fosse. ( CHARTIER, 1990, p. 19)

Cabe destacar que Ellen Gould Harmon, nasceu no dia 26 de novembro de 1827. Era uma das oito filhas de um casal de camponeses, membros praticantes da Igreja Metodista Episcopal. Segundo a historiografia adventista, apenas aos 17 anos de idade foi chamada ao cargo de “profetisa”, após ter tido uma “visão” no ano de 1844, que viria a ser publicada no ano de 1846. De acordo com o historiador adventista Mervyn Maxwell (1982), logo em seguida ao recebimento da primeira visão, “[...] Ellen recebeu outra na qual Deus a chamou formalmente para trabalhar para Ele como profetisa. Ele a advertiu do grande sacrifício que isso acarretaria, e também prometeu-lhe a abundância de Sua graça” (p. 60). Timm (1999), afirma que as “visões” de Ellen White ajudaram a compreender seu papel de liderança na formação da mentalidade adventista do sétimo dia. Ou seja, segundo a cosmovisão adventista, Ellen White constitui-se em uma profetisa enviada por Deus, e suas visões sobre os mais variados assuntos servem de aporte ético e doutrinário, constituindo-se como uma das bases de suas crenças.

Percebemos, deste modo, que a influência de Ellen White pode somente ser compreendida através de um conjunto de representações coletivas e imagens formuladas socialmente. A esse respeito escreve a historiadora Sandra Jatahy Pesavento, em artigo intitulado Imaginando o Imaginário,

O imaginário é, pois, representação, evocação, simulação, sentido e significado, jogo de espelhos onde o “verdadeiro” e o aparente se mesclam, estranha composição onde a metade visível evoca qualquer coisa de ausente e difícil de perceber. Persegui-lo como objeto de estudo é desvendar um segredo, é buscar um significado oculto, encontrar a chave para desfazer a representação do ser e parecer ( PESAVENTO, 1995, p. 24).

A respeito desta relação contraditória entre o verdadeiro e o aparente, observam-se nas obras de Ellen White elementos que nos permitem uma análise de seus escritos tanto da perspectiva histórica, quanto da perspectiva simbólica. Ellen White nasceu em um período promissor da política de seu país. De acordo com o Historiador Eric Hobsbawm:

O aumento dos habitantes das Américas de cerca de 30 a quase 160 milhões entre 1800 e 1900; e, especialmente, a América do Norte, que aumentou de cerca de 7 a mais de 80 milhões de habitantes. O devastado continente africano, sobre cujos dados demográficos, como se sabe, há pouca informação, cresceu mais lentamente que qualquer outro, talvez no máximo um terço nesse século. ( HOBSBAWM, 1988, p. 31)

Este crescimento, descrito por Hobsbawn, deve-se ao constante processo imigratório europeu, que alcançou seu auge durante o século XIX, provocando, inclusive, fortes tensões raciais oriundas do escravismo ainda presente. Segundo Hoyt (apud Douglass, 2001, p.46) este quadro social dinâmico que se desenhava ao norte dos Estados Unidos durante este período despertou na população, de um modo geral, um “fervor religioso, veemente busca pela verdade, obstinada independência, austeridade espartana, desembaraço, simplicidade, resoluta autonomia e uma propensão para aderir a causas impopulares e lutar por elas” (HOYT apud DOUGLASS, 2001, p.46). Cenário bastante propício para o surgimento de novas ideias, principalmente, aquelas que dizem respeito a aspectos éticos, morais, e, sobretudo religiosos.

1.2.2 Os Discursos de Ellen White sobre Educação e seu caráter evangelizador

Ellen White havia adquirido uma grande esperança no retorno de Cristo à Terra, após contato com as ideias de Guilherme Miller em 1840, fato que havia provocado mudanças significativas em sua vida, entre estas, sua expulsão da Igreja Metodista, a qual frequentava desde o seu nascimento. A aquisição de sua nova crença moldaria todas as suas ideias e escritos, que surgiriam a partir daí, tratando sobre os mais variados temas. De acordo com Darius e Pancotte (2012, p.5):

Indubitavelmente todos os seus escritos acerca dos mais diferentes temas, tais como teologia geral, escatologia, estilo de vida, saúde, história e educação foram fortemente influenciados por ela [crença no advento de Cristo]. Em seus escritos sobre educação, nem mesmo as novas influências progressistas, o advento do marxismo em 1844, o nascimento do espiritismo moderno em 1848 e do darwinismo em 1858 fizeram com que ela mudasse a base de seu pensamento, fundamentada no estudo bíblico e tendo como tema principal a santificação e redenção do ser humano. ( DARIUS E PANCOTTE, 2012, p.5)

Ou seja, partindo do pressuposto que Cristo viria novamente ao mundo, porém desta vez, de um modo glorificado, Ellen White passou a moldar todos seus ideais e crenças, transmitindo-as por intermédio de profícua literatura oriunda de suas reflexões. Entretanto, sabe-se que o século XIX foi um período de importantes reformas nos Estados Unidos, em vários aspectos concomitantemente ao desenvolvimento europeu. Segundo Karnal:

A valorização da ciência, da razão e dos métodos, tão comuns nos estudos sobre o século XIX europeu, também pode ser observada na América do Norte. Os exemplos do crescimento da indústria, das ferrovias e o forte sentimento nacionalista, observado nas tentativas de expansão territorial e nos conflitos externos, mostram como os Estados Unidos, de alguma forma, compartilhavam esses valores do período. ( KARNAL, 2008, p. 117)

Entre as principais pautas da reforma americana, encontrava-se a reforma educacional. Segundo Darius & Pancotte (2012) percebeu-se urgente naquele país a premissa da necessidade de educação universal como elemento fundamental para construção da jovem nação, uma vez que o Puritanismo 15 herdado da colonização inglesa, ainda era bastante presente na mentalidade educacional americana. Tal modelo educacional era baseado em um método que intercalava trabalho braçal, portanto árduo, e estudos bíblicos, considerado “livro didático por excelência”. A influência de Ellen White não passou despercebida diante de todos estes movimentos, de modo que no ano de 1851, passou a escrever suas primeiras páginas, que entre as várias temáticas abordadas, a educação tinha espaço privilegiado.

Segundo Ellen White, a educação:

Abrange mais que mero conhecimento de livros. Envolve tudo quanto é bom, virtuoso, justo e santo. Compreende a prática da temperança, da piedade, bondade fraternal, e amor para com Deus e de uns para com os outros. A fim de atingir a esse objetivo, é preciso dar atenção à educação física, mental, moral e religiosa da criança ( WHITE, 2006, p. 136).

Nas obras escritas a partir de 1903 a temática educacional passou a fazer parte majoritária dos escritos de Ellen White, a partir da publicação de “Educação”, seguida por “Conselhos aos Pais, Professores e Estudantes" (1913), e “Conselhos Sobre Educação”, uma compilação de textos escritos entre 1855 e 1909, o que revela que sua preocupação com o tema da educação ocupou uma boa parte de seus esforços literários.

Entretanto, o que mais chama a atenção nos escritos de Ellen White sobre educação, é a maneira como a autora enfatiza e propõe uma educação que parte de princípios holísticos, o que a mesma intitula “Educação Integral”, ou seja:

A verdadeira educação inclui todo o ser. Ela ensina o devido emprego do próprio eu. Habilita-nos a fazer o melhor uso do cérebro, ossos e músculos; do corpo, mente e coração. As faculdades do espírito são as mais elevadas potências; têm de governar o reino do corpo. Os apetites e paixões naturais devem ser sujeitos ao domínio da consciência e das afeições espirituais. ( WHITE, 2013, p. 399)

Segundo George R. Knight, apesar de Ellen White expor através de seus escritos preocupações que até então não fazia parte das preocupações doutrinárias dos primeiros adventistas, ou ainda, preocupações que não faziam parte nem mesmo do pensamento que provocou o surgimento do Adventismo, o Movimento Milerita, é um mito acreditar que as ideias de Ellen White sobre Educação estavam a frente de seu tempo, uma vez que outros educadores e pensadores do século XIX também advogaram conceitos educacionais reformadores.

Ellen White sabia que estava em harmonia com as ideias da reforma educacional de sua época. Por exemplo, seus escritos sobre o papel da fisiologia na educação, sobre a ventilação e claridade adequadas na sala de aula se assemelham com algumas das ideias dos relatórios anuais de Horace Mann [educador norte americano do século XIX]. Mas porque não deveria ser notado que tanto Ellen White quanto Mann estavam lutando contra abusos educacionais que destruíam a saúde [...] ( KNIGHT, 2010, p. 53).

Mesmo as contribuições de Ellen White, que atribuíam à educação um aspecto de salvação espiritual, não podem ser consideradas únicas, uma vez que outros educadores durante o mesmo período, ou períodos anteriores ressaltaram o mesmo lema de Ellen White do uso da “verdadeira educação” como restauração da imagem de Deus no homem.

Compreende-se, deste modo, que o modelo educacional proposto por Ellen White apresentava como base os princípios bíblico-cristãos que posteriormente seriam incorporados pela Educação Adventista. Não obstante, compreende-se também que Ellen White surgiu como voz ativa entre os Adventistas do Sétimo valendo-se da prerrogativa de ser considerada por estes uma profetisa, ou seja, alguém enviada por Deus com uma missão especial. Isto não exclui, de forma alguma, a contribuição intelectual de White para a formulação das bases filosóficas da Educação Adventista, uma vez que tais reformas por ela propostas eram coerentes com as reformas educacionais de seu tempo. Ellen White “falou” de um lugar no tempo. E seu tempo foi marcado por dinâmicas mudanças sociais, políticas e econômicas que impulsionaram seus escritos na direção que tomaram.

Referências

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Notas

1 Disponível em: < http://www.iasdemfoco.net/mat/emdefesa/abrejanela.asp?Id=108>. Acesso em 08 de Janeiro de 2014.
2 Disponível em: < http://www.adherents.com/adh_rb.html>. Acesso em 08 de Janeiro de 2014.
3 Segundo o dicionário de língua portuguesa Aurélio, advento significa “chegada ou vinda”. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1976. (3ª. ed., revista e ampliada em 1999); 4ª. ed., Curitiba: Editora Positivo, 2009.
4 Nosso corpo é adquirida propriedade de Cristo, e não devemos sentir-nos em liberdade de fazer com ele o que nos apraz. Os homens têm procedido assim; têm tratado o seu corpo como se suas leis não previssem penalidade. Por meio do pervertido apetite seus órgãos e faculdades têm-se tornado debilitados, enfermos e inutilizados. E esses resultados que Satanás tem acarretado por suas próprias especiosas tentações, ele usa para escarnecer de Deus. Ele apresenta diante de Deus o corpo humano que Cristo adquiriu como Sua propriedade; e que deformada representação de seu Criador é o homem! Porque pecou contra o corpo, e corrompeu seus caminhos, Deus é desonrado. (WHITE, 2007, p. 19)
5 A respeito da “visão” de Ellen White sobre a obrigatoriedade da guarda do sábado entre os Adventistas, ocorrida no ano de 1847 (portanto anterior à organização oficial da Igreja Adventista do Sétimo Dia) o historiador adventista C. Mervyn Maxwell descreve o relato feito pela própria Ellen White: “Vi um anjo voando rapidamente em minha direção. Ele me transportou rapidamente da Terra para a Cidade Santa. Na cidade vi um templo no qual entrei. Depois passei ao lugar Santo. Jesus ergueu o véu e eu passei para o Santo dos Santos. Ali vi uma arca coberta do mais puro ouro. Jesus estava de pé ao seu lado. Dentro haviam tábuas de pedra dobradas juntas como se fossem um livro. Jesus abriu-as, e ao fazê-lo, vi os dez mandamentos. Numa das tábuas estavam registrados quatro mandamentos, e na outra seis. Os quatro na primeira tábua brilhavam mais do que os outros seis, mas o quarto, o mandamento do sábado brilhava acima de todos. O santo sábado parecia glorioso. Um halo de glória o circundava”. ( MAXWELL, 1982, p. 90 e 91.)
6 Doutrina fundada por Jacobus Arminius (1560-1609), que tinha como base teológica a afirmação de que a dignidade humana requer a liberdade perfeita do arbítrio, contrariando a doutrina calvinista da eleição incondicional, onde Deus escolheria, por determinados critérios, alguns para serem salvos.
7 Movimento religioso fundado por Willian (Guilherme, em português) Miller, em 1843.
8 Movimento religioso nascido a partir de 1844, após a revisão das crenças mileristas por ocasião do evento conhecido entre os adventistas como Grande Desapontamento.
9 “Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado”. Daniel 8:14. In: BÍBLIA SAGRADA, Nova Versão Internacional [traduzida pela comissão da Sociedade Bíblica Internacional]. São Paulo: Editora Vida, 2000.
10 O grupo que originou a IASD apresentava três núcleos principais, sendo eles: a) estudo acerca do Santuário; b) estudo referente ao dia de santificação (sábado) e c) aceitação do dom profético de Ellen G. White. Para maiores detalhes ver: TIMM, (2002).
11 Disponível em: < http://adventistas.org/pt/institucional/os-adventistas/quem-sao-os-adventistas/>. Acesso em 3 de Janeiro de 2014.
12 “Desde o início, os Adventistas do Sétimo Dia seguiram o método histórico de interpretação profética para explicar os símbolos e seu significado. Algumas vezes esse método é chamado de historicismo, ou método histórico contínuo. O método histórico aceita o conceito de que as profecias de Daniel e Apocalipse destinam-se a ser reveladas e cumpridas no tempo histórico, isto é, no período decorrido entre os profetas Daniel e João respectivamente, e o estabelecimento final do reino eterno de Deus. O princípio de dia/ ano (um dia simbólico = um ano literal) é parte integral deste método, desde que ele sirva para revelar os períodos de tempo simbólico para que possamos localizar os eventos preditos ao longo da História.” Disponível em: < http://centrowhite.org.br/pesquisa/artigos/ellen-g-white-e-ainterpretacao-de-daniel-e-apocalipse-2/>. Acesso em 15 de janeiro de 2015.
13 Segundo Fernandes (1996), o milenarismo aparece como a “esperança dos pobres, veiculando a vontade de realização na terra de uma ordem de abundância e de paz. Sendo esperança dos pobres, torna-se, através do tempo, a inquietação dos possidentes. Na sua marcha, desperta sucessivos messias, portadores da promessa de uma felicidade sem fim, na fruição de todos os bens deste mundo”.
14 “Sobre o sentimento religioso evocado durante o período da História Americana chamado de Democracia Jacksoniana, a historiadora Montserrat Huguet relata que “La cuestión que se dilucida en este punto es debilmente aceptable desde el punto de vista religioso o moral. Al permitir que los Estados del sur se expandan hacia el oeste se da a los esclavistas nuevos recursos y argumentos que dilatan en el tiempo la abolición de la esclavitud. Al saberse se dueño de una conciencia recta, la antiesclavista, el Norte se cierra en banda a esta posibilidad, pero consigue de paso lo que más anhela: ahogar el crecimiento del Sur en beneficio de su sistema de producción industrial y comercial. No obstante, el desempeño de esfuerzos populares para avanzar hacia el oeste tuvo la virtud de alimentar un sentimiento común de autoconfianza que sería parte de la herencia compartida por todos. El optimismo inherente a la empresa, la solvencia de los métodos individuales en el hacer, y la fe en el sentido democrático de un orden político, modificado en lo imprescindible y con enormes reservas, eran las actitudes que definían a la generación de norteamericanos de mediados de siglo XIX: los cocky (Alguien identificable por tener tanta seguridad en sí mismo y en sus propias habilidades que prescinde de tener que molestar a los demás.)”. (HUGUET, Montserrat. In: Presente, pasado y futuro de la democracia, 2009, pp. 151-159. Disponível em: < http://congresos.um.es/sefp/sefp2009/paper/viewFile/3201/3111>. Acesso em 03 de Janeiro de 2015.
15 “No plano educacional, a ética puritana exerceu forte influência na educação científica. A influência puritana fundamentou-se nas normas do utilitarismo e do empirismo; as quais conduziram os estudos ciência e da tecnologia”. (TERUYA, 2004, p. 118 e 119).
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