Artigo Original

“PELO GOVERNO DE DEUS”: A INSERÇÃO DE NOVOS MOVIMENTOS FUNDAMENTALISTAS ESTADUNIDENSES NA ARENA POLÍTICA DO BRASIL DURANTE O GOVERNO TRUMP

“POR EL GOBIERNO DE DIOS”: LA INSERCIÓN DE NUEVOS MOVIMIENTOS FUNDAMENTALISTAS ESTADOUNIDENSES EN LA ARENA POLÍTICA EN BRASIL DURANTE EL GOBIERNO TRUMP

“FOR GOD’S GOVERNMENT”: THE INSERTION OF NEW US FUNDAMENTALIST MOVEMENTS IN THE BRAZILIAN POLITICAL ARENA DURING TRUMP’S GOVERNMENT

Magali Nascimento Cunha
Instituto de Estudos da Religião, Brasil

“PELO GOVERNO DE DEUS”: A INSERÇÃO DE NOVOS MOVIMENTOS FUNDAMENTALISTAS ESTADUNIDENSES NA ARENA POLÍTICA DO BRASIL DURANTE O GOVERNO TRUMP

Ciencias Sociales y Religión/Ciências Sociais e Religião, Campinas, vol. 23, pp. 1-37, 2021

Universidade Estadual de Campinas, Brazil

Recepção: 28 Fevereiro 2021

Aprovação: 16 Agosto 2021

RESUMO: Este artigo tem por objetivo compreender a inserção de novos movimentos fundamentalistas estadunidenses na América Latina durante o governo Trump, tendo como foco o Brasil. A abordagem teórica que referencia o estudo reúne conteúdo sobre os fundamentalismos e sobre a potencialização de sua presença na política nos EUA e na América Latina, com a análise de suas características. O trajeto metodológico inclui um estudo exploratório que identificou organizações/movimentos que se inseriram na América Latina de 2010 a 2020, sendo delimitada para este artigo a atuação no Brasil de dois destes projetos durante o governo Trump, o Ethnos 360° e o Capitol Ministries, como aplicação da noção de fundamentalismos adotada. Estas organizações são impulsionadas pela pauta da “liberdade religiosa” construída na aliança de Donald Trump com o evangelicalismo conservador e ultraconservador de matriz fundamentalista, para, nitidamente, realizarem intervenções em temas de interesse público.

PALVRAS CHAVE: Fundamentalismo, política Brasileira, evangélicos, direita Cristã, governo Trump.

RESUMEN: Este artículo tiene como objetivo comprender la inserción de nuevos movimientos fundamentalistas estadounidenses en América Latina durante el gobierno Trump, con foco en Brasil. El enfoque teórico que hace referencia al estudio reúne contenidos sobre fundamentalismos y la potencialización de su presencia en la política de Estados Unidos y América Latina, con un análisis de sus características. La trayectoria metodológica incluye un estudio exploratorio que identificó organizaciones/movimientos que ingresaron a América Latina de 2010 a 2020, delimitando para este artículo la ejecución de dos de estos proyectos en Brasil durante el gobierno de Trump, Ethnos 360 ° y Capitol Ministries, como una aplicación de la noción adoptada de fundamentalismo. Estas organizaciones están impulsadas por la agenda de “libertad religiosa” construida sobre la alianza de Donald Trump con el evangelismo conservador y ultraconservador de una matriz fundamentalista, para realizar intervenciones claras en temas de interés público.

PALABRAS CHAVE: Fundamentalismo, política brasileña, evangélicos, derecha cristiana, gobierno Trump.

ABSTRACT: The objective of this article is to understand the insertion of new US fundamentalist movements in Latin America during the Trump government, with Brazil as the focus. A theoretical approach that the study refers is the one that gathers content on fundamentalisms and the potentization of its presence in politics in the US in Latin America, with an analysis of its characteristics. The methodological path included an exploratory study that identified organizations/movements that were inserted in Latin America from 2010 to 2020, being delimited for this article, the action in Brazil of two of these projects during the Trump administration, Ethnos 360° and Capitol Ministries, as an application of the notion of fundamentalisms adopted. These organizations are driven by the pattern of “religious freedom” built in the alliance of Donald Trump with conservative and ultraconservative evangelicalism of fundamentalist matrix, to carry out interventions on issues of public interest.

KEYWORDS: Fundamentalism, brazilian Politics, evangelicals, christian right-wing, trump Government.

Introdução

Transformações na arena pública na América Latina, em termos sociopolíticos, econômicos, culturais e ambientais, observadas durante as últimas duas décadas, têm instigado reflexões e evocado planejamento de ações de enfrentamento da parte de organizações que atuam na defesa dos direitos humanos e ambientais. Isto ocorre por serem mutações, no contexto de diferentes países, na forma de reações a avanços e conquistas no campo dos direitos de trabalhadores, de mulheres e de minorias sociais, seguidos de retrocessos e obstáculos políticos de diversas ordens. Entre estas organizações, estas mutações observadas no continente são avaliadas como reflexos de diferentes expressões de fundamentalismo.

Desde a década de 1970, com a revolução iraniana, até os acontecimentos que culminaram nos ataques de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos (EUA), e a entrada no século XXI, com os novos contornos da relação entre cristãos e política na América Latina, a noção de “fundamentalismo” vem sendo ressignificada. A origem do termo remonta à tendência ultraconservadora de um segmento protestante dos Estados Unidos, na virada do século XIX para o XX, enraizado na interpretação literal da Bíblia, classificada como inerrante, em reação a certos valores da modernidade, especialmente os encarnados na teologia liberal e no estudo bíblico contextual, em defesa dos fundamentos tidos como imutáveis da fé cristã.

Nesse período, a perspectiva fundamentalista foi se transformando, no interior do próprio evangelicalismo, e ultrapassou as fronteiras da religião. Torna-se uma matriz de pensamento, uma postura, ancorada na defesa de uma verdade única e na imposição dela à sociedade em várias frentes políticas, na reconfiguração de movimentos como o reconstrucionismo e o reformismo. Nos EUA, estes grupos promoveram uma ocupação do Partido Republicano, dando um fôlego a novas expressões fundamentalistas nos anos Bush (pai e filho, respectivamente 1989-1993 e 2001-2009) e com o governo Donald Trump (2016-2020).

Nessas novas expressões, certos “fundamentos” são escolhidos para persuadir a sociedade, a fim de estabelecer fronteiras e lutar contra “inimigos”, o que frequentemente resulta em um movimento polarizador e separatista, que nega o diálogo e estabelece um pensamento único que visa direcionar ações reacionárias no espaço público. O caso mais emblemático no período contemporâneo na América Latina é o Brasil, por conta da eleição do militar de extrema-direita Jair Bolsonaro à Presidência da República, em 2018, resultante de um intenso processo reacionário a avanços no campo dos direitos sociais, sexuais e reprodutivos. No entanto, observa-se que em outros países do continente há processos que denotam situações simulares, em períodos bastante próximos, indicando uma espécie de padrão fundamentalista de intervenção nas democracias e nas ações por direitos.

Os anos 2010 tornaram mais evidentes as novas articulações fundamentalistas político-religiosas, que aparecem no período como soldados de uma “guerra cultural” ou em uma guerra ao “marxismo cultural”, termo que passa a ser amplamente utilizado por líderes religiosos e políticos conservadores, no debate de pautas como educação e direitos sexuais. Observa-se que este processo foi potencializado durante o governo de Donald Trump e o período coincide com a entrada de novas organizações religiosas originárias dos EUA na América Latina.

Este quadro está exposto de forma abrangente em pesquisa conduzida pela autora deste artigo, em 2020, em Argentina, Brasil, Colômbia e Peru, Fundamentalismos, Crise da Democracia e Ameaça aos Direitos Humanos na América do Sul: tendências e desafios à ação.1 Parte desta pesquisa contou com um estudo exploratório que é parcialmente apresentado neste artigo, que tem por objetivo de compreender a inserção de novos movimentos fundamentalistas estadunidenses na América Latina durante o governo Trump, tendo como foco o Brasil.

O estudo exploratório identificou quatro organizações/movimentos que se inseriram e passaram a atuar na América Latina durante o governo Trump: Ethnos 360° (reformulação da New Tribes Mission, 2017), Capitol Ministries (2017), Instituto L’Abri Brasil (impulsionado em 2017) e The Send (2020). Estas organizações/movimentos estão presentes nos quatro países pesquisados. Como delimitação para este estudo, será abordada a descrição da inserção e da prática de dois destes projetos no Brasil, relacionados mais diretamente à política institucional, o Ethnos 360° e o Capitol Ministries, como aplicação da noção de fundamentalismos adotada.

A coleta de dados sobre os projetos deu-se por meio de seus próprios veículos de divulgação institucionais e de suas lideranças, e por material publicado sobre eles em mídias noticiosas e em documentação de organizações governamentais e não-governamentais. A base teórica que referencia este conteúdo é a que reúne abordagens sobre os fundamentalismos e sobre a potencialização de sua presença na política nos EUA e na América Latina durante o governo de Donald Trump, com a análise de suas características.

O artigo está apresentado em duas partes – Fundamentalismos: uma compreensão e A inserção de novos movimentos fundamentalistas na arena política do Brasil de 2017 a 2020 – expostas a seguir.

Fundamentalismos: uma compreensão

O termo “fundamentalismo” emerge entre cristãos protestantes nos EUA no início do século XX, mas popularizou-se durante a revolução (islâmica) iraniana no final anos 1970. Analistas políticos e a imprensa classificaram os eventos no Irã dos aiatolás como “fundamentalistas”, expressão de uma “religião tradicional militante” (Marsden, 1991).

Em 2001, o sentido popularizado é retomado com mais força, quando passou a ser usado intensamente pelas mídias noticiosas, em todo o mundo, após atentados em Nova York (EUA). As ações violentas extremistas assumidas por grupos radicais islâmicos foram amplamente classificadas como “fundamentalistas”. Nesse sentido, construiu-se uma representação negativa do Islã que se tornou, pelas mídias, sinônimo de fundamentalismo. Esta popularização do termo deu a ele o sentido de radicalismo, extremismo (Gomes, 2014).

A ascensão de cristãos conservadores e sua presença na política na América Latina, a partir dos anos 1980, promoveu a retomada do termo “fundamentalismo” por religiosos progressistas, acadêmicos dos estudos da religião, ativistas políticos de esquerda e analistas da imprensa. Passou-se a se recorrer ao termo para classificar posturas de autoritarismo, intolerância, intransigência, fanatismo, recusa ao diálogo, negação da pluralidade, reconstrução da ordem moral e idealização do que existiu no passado, expressas por algumas lideranças religiosas, em especial as do segmento pentecostal, no espaço público (Carranza, 2009).

Esta popularização da noção terminou por gerar tensão conceitual em torno do “fundamentalismo” (Cunha, 2020). Em certos círculos acadêmicos, emerge o termo “neofundamentalismo”, com base na compreensão de que os fenômenos contemporâneos estão para além daquilo que alguns pesquisadores denominam “fundamentalismo histórico”.

Outros círculos assumiram um rechaço ao uso do termo, com a noção de que práticas no espaço público como radicalização, intolerância, recusa ao diálogo, reconstrução da ordem moral e idealização do passado, politização do dogmatismo religioso, extremismo religioso e fanatismo, não devem ser consideradas “fundamentalismo” pois são incompatíveis com o conceito constituído nas origens do século XX. Estes pesquisadores substituem o termo por “conservadorismo político-religioso” e “reacionarismo”.

Neste estudo, busca-se afirmar o conceito sobre outro viés, compreendendo-o como noção que está em contínua reconstrução diante das transformações sócio-históricas (Williams, 1979).

As muitas transformações de um conceito

O fundamentalismo surgiu entre teólogos calvinistas conservadores do Seminário Teológico de Princeton no final do século XIX e se espalhou no início do século XX entre outros grupos protestantes nos EUA. Surgiu do evangelicalismo, fruto dos movimentos de avivamento dos séculos XVIII e XIX, classificado como o molde das características da religião naquele país (Marsden, 1991).

Em uma época de fortes mudanças socioculturais e econômicas, com o avanço da ciência, processos de modernização, urbanização e industrialização, o evangelicalismo se dividiu em duas alas: a liberal, que assume o humanismo que fundamenta as mudanças e estabelece o diálogo da teologia com as ciências humanas e sociais e o surgimento das ciências bíblicas e da teologia liberal; e a conservadora, que reage fortemente às transformações e à releitura da tradição.

Na primeira década do século XX, foi publicada a coleção de 12 volumes intitulada “Os fundamentos: um testemunho da verdade” (1910-1915), editada pelo Rev. Reuben Ancher Torrey. A coleção continha textos sobre a Bíblia, em defesa de sua inerrância, bem como conteúdo crítico da modernidade, teologia liberal, filosofia moderna e catolicismo romano. Com base nisso, o cristianismo evangélico é apresentado como a verdadeira religião e é oferecida uma lista de dogmas e doutrinas que apoiam esta afirmação. A coleção valoriza a ciência como meio de validar os fatos históricos da Bíblia (Marsden, 1991).

Esses “fundamentos” são, portanto, uma reação contra os valores do iluminismo e da modernidade humanista, o que poria em causa a centralidade do cristianismo na cultura ocidental, provocando o processo de secularização. Tendo como âncora a defesa do mito da civilização cristã ocidental, corporificada na cultura dos dominantes países protestantes, o fundamentalismo nascido entre os evangélicos clama pelo verdadeiro cristianismo, recusando o diálogo ecumênico, que é avaliado como relativização da fé.

No período pós-Segunda Guerra Mundial, o fundamentalismo ganha um novo significado com a hegemonia de sua face conservadora. Torna-se internacionalizado e se amplia pelo globo após a expansão do capitalismo americano. Os fundamentalistas se veem como “personagens contraculturais, em uma batalha pela reconquista da América pela família e pelos valores cristãos, supostamente sequestrados pelo humanismo secular, a ameaça comunista, o feminismo e os gays” (Karina Bellotti em entrevista a Cunha, 2020: 22-23). Durante a década de 1960, “fundamentalistas” significavam “separatistas” (Marsden, 1991).

É nos anos 1970 que se inicia um processo de recuperação do “evangelicalismo”, como fator de unidade e transição. O termo “fundamentalismo” ganha nova significação. Herdeiros do fundamentalismo do início do século XX, figuras de destaque como os pastores Jerry Falwell, Tim LaHaye e Pat Robertson, de posse de amplos recursos financeiros e de acesso ao rádio e à TV, se organizam para retomar a “América para Jesus”. É a era dos televangelistas que têm ampla atuação na América Latina, o que está competentemente desenvolvido na clássica obra A igreja eletrônica e seu impacto na América Latina, do teólogo católico Hugo Assmann (1986).

É um tempo de maior ativismo político com aproximação ao Partido Republicano, formação de grupos de pressão, lobbies, articulações como a “Moral Majority” [Maioria Moral], a nova direita cristã, liderada por Jerry Falwell. Nesta etapa, fundamentalistas desprendem-se de uma vez por todas de uma identidade denominacional e unem-se com grupos até então adversários, como pentecostais, judeus, católicos, em torno das pautas pró-vida e pró-família – isto é, contra o aborto (legalizado nos Estados Unidos em 1973), pela regulação das mídias, com indicações classificativas por faixa etária, contra as conquistas dos direitos civis de mulheres e LGBTI+.

O estudioso do fundamentalismo e do evangelicalismo George Marsden (1991) afirma que se os herdeiros do fundamentalismo do século XX alcançaram algum trabalho de unidade, ele se deve ao pastor batista Billy Graham. Com sua popularidade, Graham construiu uma vasta aliança em torno do neoevangelicalismo, a denominada Aliança Evangélica, com impacto no evangelismo, na educação, em publicações (como a revista Christianity Today) e em ações sociopolíticas. A Aliança Evangélica era considerada uma reforma do fundamentalismo, retomando a mobilização por uma frente evangelical alcançada no início do século. As cruzadas evangelísticas da Aliança Evangélica atuaram na luta contra o comunismo no período da guerra fria. Mais tarde, com os fundamentalistas reformistas, seu poder de alcance se consolidará.

Maioria Moral, reformismo e reconstrucionismo nos EUA

É do Seminário Teológico de Westminster (Filadélfia), fundado em 1920 pela Igreja Presbiteriana, na gênese do fundamentalismo, para formar teólogos e pastores que resguardassem a igreja do modernismo e da teologia liberal, em lealdade ao calvinismo histórico, que saíram duas grandes lideranças fundamentalistas. Elas adentram no espaço público nos anos 1970, mas com diferentes compreensões sobre a ação cristã: Francis Schaeffer e Gary North, representantes das correntes fundamentalistas reformista e reconstrucionista, respectivamente (Souza, 2017).

A corrente reformista vê na aliança entre denominações religiosas cristãs e no reavivamento da fé a possibilidade de uma ação política de curto prazo para a garantia das agendas morais, com a reforma moral da sociedade e das leis, e com produções no âmbito da cultura (música, entretenimento). A reconstrucionista, mais separatista, que não se considera fundamentalista, se orienta por uma prática que visa a uma “reforma dos indivíduos” a longo prazo, partindo “de baixo”, como, por exemplo, por meio da educação das novas gerações – é a partir desta reforma que se dá a reconstrução da sociedade.

A partir disto, as duas correntes estabeleceram estratégias distintas para a intervenção social. O reformista Schaeffer propôs que as transformações se dariam no âmbito das produções culturais e no apoio político à eleição de candidatos comprometidos com as causas cristãs, que produziriam leis coerentes com elas. O reconstrucionista North se alinha com a ideia de ocupação da política partidária, mas acredita não ser suficiente. Defende a dominação e não a oposição a instituições seculares, para a cristianização da sociedade. Daí a proposta de atuação “de baixo”, da cultura, da base da vida social. Para os reconstrucionistas, a educação é um dos principais campos de batalha por corações e mentes para transformações de longo prazo.

Ambas as correntes tiveram importante papel na Maioria Moral, a Nova Direita Cristã dos Estados Unidos. O reformismo de Francis Schaeffer foi base para vários movimentos “pró-vida”. Schaeffer frequentou a Casa Branca quando Gerald Ford foi presidente dos Estados Unidos, a convite do filho deste, que foi um estudante do Instituto L’Abri, fundado por Schaeffer nos anos 1950, na Suíça, para formação de jovens. A forma moderada com que Francis Shaeffer abordava temas do momento, sem abandonar a leitura bíblica inerrante, permitia-lhe que evangélicos de diferentes tendências o admirassem. Ele propunha que os cristãos entrassem na “guerra cultural” que foi resultado da autonomia humana promovida pelo Modernismo – em detrimento de Deus – e responsável por uma crise cultural e de valores (Alencar, 2018). Nessa compreensão, cristãos deveriam se utilizar das instituições culturais da sociedade a fim de transformá-las. Por isso passou a estimular a produção cultural, em especial de filmes com base religiosa, confrontando o humanismo, ao qual Schaeffer tinha ojeriza e relacionava ao aborto (Williams, 2010).

Entretanto, foi o reconstrucionismo, concebido nos anos 1970, a forma teológica mais influente na política, por meio da Teologia do Domínio, cujas bases são a busca da reconstrução da teocracia na sociedade contemporânea, no cumprimento da predestinação dos cristãos ocuparem postos de comando no mundo (presidências, ministérios, parlamentos, lideranças de estados, províncias, municípios, supremas cortes) para incidirem na vida pública – o domínio religioso cristão (Silveira, 2017).

Ambas as correntes tiveram importante papel na formação da Maioria Moral, a Nova Direita Cristã dos Estados Unidos nos anos 1970. Ela se tornou uma grande força política nos EUA e tinha como principais bandeiras: a defesa dos “valores da família” (o que incluía a oposição ao aborto em qualquer caso, o combate à expansão dos direitos dos homossexuais e, também, a restrição à pornografia); a volta da prática das orações e o ensino do criacionismo nas escolas públicas; o combate à disseminação do comunismo juntamente com uma defesa de cunho patriótico ferrenha do capitalismo e do “modo de vida” americano; uma posição extremamente crítica às políticas de bem-estar social; a defesa de uma postura pró-Israel por parte do governo; entre outras (Rocha, 2020).

É neste período que o termo “‘fundamentalismo’ passa a ser associado a ‘estreiteza’, ‘obscurantismo’ e ‘sectarismo’”. A disseminação desta compreensão teve a contribuição do biblista da Oxford University James Barr, na obra Fundamentalism, de 1977. Na primeira página do livro, Barr apresenta as seguintes características do fundamentalismo: primeira, inerrância; segunda, hostilidade à “teologia moderna” e ao “estudo crítico moderno da Bíblia”; e terceira, “uma certeza de que aqueles que não compartilham do seu ponto de vista religioso não são realmente ‘cristãos verdadeiros’” (Barr, 1977: 1).

Nesse momento, o conceito começa a ser utilizado, também, de forma análoga, a outras religiões como o judaísmo e o Islã. O tratamento ocidental à Revolução Iraniana, com a tomada do poder pelos aiatolás, em 1979, refletiu bem isto. Uma das características comuns desta ampliação da utilização do termo a outras religiões é o antimodernismo, o que se amplia com outras análises para a reação a uma percepção de ameaça ou crise, a dramatização e a mitologização de inimigos da fé, o idealismo religioso, a infalibilidade das escrituras, o extremismo e o proselitismo (Ainz, 2011).

Um elemento que manteve fundamentalistas em presença intensa e visível nos EUA foi o estabelecimento de uma cultura própria de escolas, universidades, imprensa e mídia, que retroalimentava suas visões de mundo (Diamond, 1995). Um exemplo é a Liberty University, fundada por Jerry Falwell, em 1971, na Virgínia.

A Maioria Moral entrou fortalecida nos anos 1980, mas foi nos 1990 que ganhou mais espaço com a presidência do republicano Ronald Reagan. Ele abraçou as bandeiras morais da Nova Direita Cristã e a defesa de uma postura pró-Israel por parte do governo norte-americano. Lideranças fundamentalistas foram nomeados para cargos importantes no governo Reagan (Rocha, 2020). Esta ocupação do Partido Republicano permitiu poder a fundamentalistas cada vez que o partido assumia o posto maior do Estado. Esta força política foi retomada nos anos Bush (pai e filho) e potencializada no governo Donald Trump, o que será abordado adiante.

Um possível conceito

A dimensão política que essas características do fundamentalismo assumem a partir dos anos 1970, para além do religioso, mas mantendo-o em seus alicerces, faz emergir o entendimento de que o fundamentalismo é a busca do estado ético-religioso, com o restabelecimento da lei de Deus.

Neste ponto, é relevante recorrer à socióloga Alexandra Ainz, que faz um inventário destas perspectivas e, a partir delas, considera que “o fundamentalismo consiste em formas muito concretas, primeiro em interpretar a realidade [cosmovisão] e depois em agir sobre essa interpretação” (Ainz, 2011: 165, tradução minha). Para a pesquisadora, no fundamentalismo, a interpretação da realidade é feita a partir de uma matriz religiosa, e a ação está ligada à dimensão política, sendo confluentes e mutuamente condicionadas.

Portanto, considerando que o termo “fundamentalismo” é um conceito que está em contínua reconstrução diante das transformações sócio-históricas, uma síntese teórica pode definir o termo “fundamentalismo” no plural, para compreender as expressões político-religiosas que se manifestam na direção oposta de processos democráticos e da pauta de direitos humanos na América Latina.

Fundamentalismos (no plural, portanto) são aqui compreendidos como uma visão de mundo, uma interpretação da realidade, com matriz religiosa, combinada com ações políticas decorrentes dela, para o enfraquecimento dos processos democráticos e dos direitos sexuais, reprodutivos e das comunidades tradicionais, políticas de valorização da pluralidade e da diversidade, num condicionamento mútuo. Não são homogêneos, são diversificados, formados por diferentes grupos que têm em comum inimigos a combater com ações distintas no espaço público. Por isso, o caráter basilar dos fundamentalismos é o oposicionismo. (Cunha, 2020: 26)

Não devem ser considerados fundamentalismos os fenômenos que não tenham as dimensões religiosa e política mutuamente condicionadas e os movimentos e grupos que não têm uma racionalidade fundamentalista acionada na defesa de seus ideais (Ainz, 2011). Por isso, ao se afirmar fundamentalismo no plural e relacioná-lo à economia, à cultura ou a outras dimensões sociopolíticas, importa aplicar estes critérios.

“O presidente dos sonhos”: Trump e os evangélicos fundamentalistas

Donald Trump se autodescreveu publicamente como “presbiteriano”, mas, diferentemente de outros políticos republicanos, nunca demonstrou identidade estreita com a religião. Em entrevista ao jornalista da Christian Broadcasting Network, David Brody, em 2011, Trump afirmou:

Eu acredito em Deus. Eu sou cristão. Eu acho que a Bíblia é correta, é O livro. É isso. Fui criado e acabei de lhe dar uma foto e talvez você use aquela que encontrei há muito tempo. A Primeira Igreja Presbiteriana em Jamaica Queens é onde passei a ir à igreja. Sou protestante, sou presbiteriano. E você sabe que tive um bom relacionamento com a igreja ao longo dos anos. Acho que a religião é uma coisa maravilhosa. Eu acho que minha religião é uma religião maravilhosa. (...) Eu vou o máximo que posso [à Igreja]. Sempre no Natal. Sempre na Páscoa. Sempre quando há uma ocasião importante. E durante os domingos. Sou uma pessoa da igreja dominical. Eu irei quando puder. (Brody, 2011, tradução minha)

Na avaliação de David Brody,

Donald Trump despertou o interesse de alguns líderes evangélicos. Seu discurso ousado é algo que os cristãos conservadores gostam de ouvir. Lembre-se de que os evangélicos tendem a operar em um mundo de absolutos bíblicos. Seu mundo é muito preto e branco. Não há muitos tons de cinza. É assim que Trump vê o mundo também. Um casamento feito “no céu?” O fato de ele ter expressado posições conservadoras sobre o aborto e o casamento o tornará ainda mais intrigante. Trump tem algumas minas terrestres? É claro. Quem não tem neste campo do GOP [Grand Old Party, ou, o Partido Republicano]? Mas os evangélicos parecem prontos para ouvir o que ele tem a dizer. Será interessante ver como isso se desenrola. (Brody, 2011, tradução minha)

Em 2015, em entrevista para o Canal de TV Blomberg, depois que Trump disse que a Bíblia era seu livro favorito, ele foi questionado sobre o versículo bíblico de que mais gosta. A resposta foi vaga: “Bem, eu não gostaria de entrar nisso, porque para mim isso é muito pessoal... Sabe, quando falo sobre a Bíblia, é muito pessoal, então não quero entrar em versos (...) A Bíblia significa muito para mim, mas não quero entrar em detalhes” (With all…, 2015, tradução minha).

Também diferentemente de outros candidatos à Presidência, em seu livro mais destacado, intitulado A Arte do Negócio, Donald Trump, não faz qualquer menção a um relacionamento pessoal com Cristo como parte do caminho para o sucesso (Moyer & Stars, 2016).

Apesar dessas expressões superficiais de religiosidade, a retórica do Donald Trump evangélico acabou sendo colocada em xeque por escândalos morais, em especial, o vídeo divulgado pela imprensa no período da campanha eleitoral, que mostrava o candidato republicano gabando-se, em termos vulgares, de beijar, apalpar e tentar fazer sexo com mulheres, dizendo que “quando você é uma estrela, elas deixam você fazer” (Fahrenthold, 2016). Na gravação, ele chega até a mencionar ter tentado fazer sexo com uma mulher casada.

Ocorre que a condenação que evangélicos estadunidenses certamente fariam das posturas vagas quanto à religião, e vulgares e “pervertidas” quanto à sexualidade do então candidato à presidência, aconteceu de forma muito inexpressiva. Sobre o vídeo, o presidente da Convenção Batista do Sul, Ronnie Floyd, declarou: “Eu não aprecio os comentários e eu não entendo os comentários, mas, ao mesmo tempo, você vai descobrir que a maioria dos evangélicos... tem que entender que as pessoas vão dizer coisas que nem sempre estão certas” (Caldwell, 2016, tradução minha).

A frase que Donald Trump disse em comícios de campanha (entre eles na Liberty University, de Jerry Falwell), “Eu amo os evangélicos. Acho que os evangélicos realmente me entendem” (Caldwell, 2016, tradução minha), reflete o clima de alinhamento que se estabeleceu entre o candidato e as expectativas de evangélicos identificados com a pauta ultraconservadora apresentada.

Diversos líderes evangélicos, como o herdeiro de Billy Graham, Franklin Graham, o fundador da organização Family Focus, James Dobson, o autor e apresentador de rádio Eric Metaxas, o presidente do Family Research Council Tony Perkins, e o teólogo Wayne Grudem, exortaram os cristãos a ignorarem a história de imoralidade pessoal de Trump, uma vez que ele tinha prometido nomear juízes pró-vida para a Suprema Corte e proteger sua liberdade religiosa – pauta que ganhou fôlego durante seu governo (Gasaway, 2019). Pesquisa com pastores brancos sobre motivos para votar em Trump confirmou a eficácia desta campanha: a nomeação para a Suprema Corte foi a segunda opção mais indicada (20%), seguida de “Características pessoais do candidato” (27%) (Renaud, 2017).

Essa mesma pesquisa com membros brancos de igrejas evangélicas indicou que melhorar a economia e a segurança nacional (combate ao terrorismo islâmico, restrições à imigração e controle de fronteiras) eram as questões mais importantes. Todo este processo garantiu 81% de votos de evangélicos brancos para Trump em 2016, mantendo a tendência em alta em comparação com os 78%, dados a George W. Bush em 2004, 74% para John McCain em 2008, e 78% para Mitt Romney em 2012, candidatos mais identificados com religião e menos vulgares na exposição pública.

A eleição e o apoio ao governo Trump por evangélicos fundamentalistas indicou que a retórica vaga ou o comportamento duvidoso do presidente não importavam, mas, sim, o que ele oferecia. Era a política implantada e não a fé que fazia de Donald Trump “o presidente dos sonhos dos evangélicos”, como disse o reitor da Liberty University Jerry Falwell Jr., que recebeu Trump no primeiro ano de governo para um discurso de formatura: “Acho que os evangélicos encontraram o presidente dos seus sonhos. Nunca vi uma Casa Branca ter um relacionamento tão próximo com líderes religiosos do que este” (Bailey, 2017, tradução minha).

Esta posição pode ser identificada na carta aberta que o pastor da Igreja Evangélica Luterana em Kansas, C. J. Conner, publicou na revista evangélica Charisma para instar Donald Trump a não esquecer dos evangélicos e da proteção prometida às instituições cristãs:

Nós nos sacrificamos pelo senhor, Sr. Presidente. Milhares de nós sacrificamos nossa posição em nossas denominações... Alguns foram demitidos de nossas congregações por apoiar você. Sofremos de muitas maneiras, mas nossas famílias foram as que mais sofreram. (Bailey, 2017, tradução minha)

Trump respondeu à expectativa de evangélicos conservadores com ações como a transferência da embaixada dos EUA de Tel Aviv para a cidade sagrada de Jerusalém; a emissão de ordens limitando o financiamento do governo para grupos que realizam abortos; a garantia da libertação de Andrew Brunson, um pastor dos EUA detido na Turquia; e a nomeação de uma lista de juízes conservadores tanto para as cortes inferiores quanto para a Suprema Corte.

Um exemplo significativo é o projeto de homeschooling, lançado por Ronald Ernst Paul, um dos líderes do Tea Party (fundado em 2004, nas bases da Teologia do Domínio) e candidato à presidência em 2013, “o Ron Paul Curriculum”. O projeto, que contou com Gary North como um dos organizadores, parte da ideia de que o Estado não tem autoridade moral para determinar a validade dos conteúdos educacionais, portanto, as famílias precisam se salvaguardar nos seus direitos de educarem seus filhos em casa a partir dos princípios cristãos (Souza, 2017). Neste caso, impõe-se também uma compreensão de gênero, com a mulher tendo função incondicionalmente associada à educação e à formação dos filhos no ambiente da casa. A nomeação da evangélica republicana Betsy Dee DeVos, como Secretária do Departamento de Educação dos EUA, por Donald Trump, em 2017, ilustra a força que o fundamentalismo reconstrucionista alcançou no contexto político contemporâneo daquele país (Miller, 2017).

Em 2017, Trump assinou a Ordem Executiva sobre a Promoção da Liberdade de Expressão e Liberdade Religiosa (Presidential Document, 2017) que alivia a proibição de endossos políticos por igrejas e grupos religiosos e afrouxa uma disposição do código tributário que proíbe organizações religiosas de apoiar ou se opor diretamente a candidatos políticos.

Outro exemplo foi a criação, por meio de uma “Ordem Executiva” (Presidential Document, 2018), da Iniciativa Fé e Oportunidade da Casa Branca, substituindo o antigo “Serviço de Iniciativas Comunitárias e Baseadas na Fé”, de outras administrações. O serviço tinha por objetivo dar aos grupos religiosos mais voz em programas governamentais dedicados a questões como a defesa da liberdade religiosa e o combate à pobreza. Para a direção do serviço foi nomeada, em 2019, a pastora televangelista da Igreja Cidade do Destino Paula White, amiga e “conselheira espiritual” de Donald Trump (Peters & Haberman, 2019; Paula White, s/d). O posto tinha poder significativo, pois, de acordo com a Ordem Executiva assinada pelo presidente, a iniciativa deveria transpassar todos os departamentos executivos (Ministérios de Estado) e agências governamentais.

Uma pesquisa do Pew Research Center, em 2020, mostra que cidadãos estadunidenses reconheciam que o governo Trump favoreceu mais os evangélicos do que outros grupos religiosos (Nortey, 2020)

O fato de Donald Trump ter se tornado o candidato dos sonhos dos evangélicos estadunidenses abriu caminho para ações fundamentalistas internas e para uma potencialização dessas ações na América Latina, com novos ingredientes na dinâmica que permeia a relação entre cristãos e política no continente. Com isso observa-se novas tendências fundamentalistas político-religiosas na região, que se configuram na reação contra os direitos sexuais e reprodutivos, no discurso “pró-família” como projeto político-econômico; no pânico moral e no confronto permanente com os inimigos; na ameaça a comunidades tradicionais; nas ações coordenadas de grupos fundamentalistas; na apropriação das questões do estado laico e da liberdade religiosa; e nos novos movimentos fundamentalistas dos Estados Unidos atuando na região (Cunha, 2020).

Este último ponto será desenvolvido mais especificamente na segunda parte deste artigo, com o estudo exploratório-descritivo que aplica a base teórica abordada, sobre organizações/movimentos identificados na pesquisa, que se inseriram e passaram a atuar na América Latina, particularmente no Brasil, durante o governo Trump.

A inserção de novos movimentos fundamentalistas na arena política do Brasil de 2017 a 2020

É possível afirmar que expressões políticas com matriz religiosa em evidência na América Latina, na forma de reações contra as conquistas de direitos de grupos até então silenciados e/ou subalternizados (trabalhadores, mulheres, LGBTI+, indígenas e afrodescendentes), são semelhantes às que marcam as correntes fundamentalistas nos EUA a partir dos anos 1970, na integração com o Partido Republicano. O que se observa no presente latino-americano são novas formas de fundamentalismo, novos protagonismos, que buscam uma ressacralização da sociedade pelo político (Guadalupe, 2019).

Observa-se o fortalecimento da articulação entre lideranças políticas evangélicas, lideranças evangélicas midiáticas, lideranças católicas e políticos não religiosos, empresários e ruralistas, afinados com as pautas reacionárias, formando um conglomerado de lideranças que compõem um quadro de reverberação de pautas conservadoras, com amplo apoio do eleitorado. Neste quadro, a concepção de fundamentalismos é transformada, como abordado na parte anterior deste artigo.

A entrada dos novos movimentos fundamentalistas dos EUA na América Latina, se dá com força a partir dos anos 1980, com reformistas e reconstrucionistas, via teologia do domínio e da prosperidade aplicadas por lideranças dos próprios países, nos movimentos de avivamento gospel e no avanço das igrejas denominadas neopentecostais, que impuseram significativas transformações no cenário religioso e político (Cunha, 2007; Almeida, 2019). O avanço das democracias pós-ditaduras nos anos 2000, com governos considerados de esquerda, implementadores de políticas referentes aos direitos humanos e sexuais, estimularam ações reformistas e reconstrucionistas, tomando a forma de contramovimentos.

Novas articulações fundamentalistas tornaram-se evidentes a partir do ano de 2017, em que Donald Trump assume o governo dos EUA, e tomam a forma de organizações e projetos que se reformulam ou se inserem no continente. Eles aparecem nesse período como soldados de uma “guerra cultural” ou uma guerra ao “marxismo cultural”, termo que passa a ser amplamente utilizado por líderes religiosos e políticos conservadores, no debate de pautas como educação e direitos sexuais.

Uma pesquisa exploratória tornou possível a identificação de quatro organizações que emergiram ou se reconfiguraram na América do Sul, durante o governo de Donald Trump, no período de 2017 a 2020, sendo o Brasil o único país em que as elas estiveram em atuação ao mesmo tempo: Ethnos 360° (reformulação da New Tribes Mission, 2017), Capitol Ministries (2017), Instituto L’Abri Brasil (impulsionado em 2017) e The Send (2020) (Cunha, 2020).

O Brasil ganha relevância neste estudo por conta da relação estabelecida entre Donald Trump e Jair Bolsonaro. Quando Bolsonaro venceu as eleições para a Presidência do Brasil em 2018, ele e seus conselheiros mais próximos se viam como parte de uma onda conservadora global liderada pelo presidente dos EUA. Ao buscar estreitar laços pessoais com Trump, Bolsonaro apelava para sua base conservadora no Brasil e planejava ganhar a confiança do empresariado com acordos políticos e econômicos com os EUA. Ele e os filhos políticos demostravam publicamente sua reverência ao país da América Norte, desenhando acordos com Trump, inclusive no campo da segurança. Pela postura e discursos que se assemelhavam em vários elementos com os de Trump, incluindo o apelo aos evangélicos, Bolsonaro chegou até ser apelidado, internacionalmente, como o “Trump dos Trópicos” (Mello, 2020; Jair Bolsonaro, 2018).

Este alinhamento político-ideológico responde às bases que alimentam a Teologia do Domínio:

Trata-se de uma suposta teologia política, especialmente dentro do neopentecostalismo, que busca uma reconstrução da teocracia na sociedade atual. Para alguns autores, esta seria a face política da chamada “teologia da prosperidade”, que prega que os cristãos estão predestinados a ocupar postos de comando neste mundo: presidências de países, ministérios, prefeituras, parlamentos etc. (...) Pressupõe a construção do poder político a partir do lógica do domínio religioso nas várias esferas públicas da sociedade. Além disso, presume que os cristãos têm um mandato para conquistar posições e espaços públicos estratégicos para influenciar a vida política da sociedade. Na realidade, o reconstrucionismo não seria totalmente novo, mas suas bases teológicas foram originalmente formuladas em círculos calvinistas ultraconservadores e mais tarde recuperado por ativistas políticos carismáticos e neopentecostais que buscam uma legitimidade teológica para conquistar o poder, sob uma suposta superioridade moral evangélica e subordinação do sistema jurídico do Estado de acordo com as leis bíblicas. (Guadalupe, 2019: 64-65, tradução minha)

Com base nesta teologia se localiza a crença de que a razão de ser das igrejas é tomar o partido de Deus em uma guerra contra o Diabo pelo domínio da humanidade. Por isso, tudo o que não é considerado divino e não corresponde aos valores consagrados pela religião é demonizado e deve ser combatido pelos féis, que devem estar em permanente processo de libertação, tendo como alvo a prosperidade (a felicidade em termos materiais nos diversos âmbitos da vida). Ao lado do plano individual, o domínio de Deus deve alcançar o plano coletivo, da Nação, por meio da ocupação do Estado e de suas estruturas por agentes cristãos ou credenciados pela religião. A Igreja Universal do Reino de Deus tornou-se a expressão mais destacada desta teologia (Mariano, 1999; Mafra, Swatowiski & Sampaio, 2012; Camurça, 2020).

Se este princípio já determinava ações de grupos estadunidenses na América Latina desde o início do século XX, ele se potencializa com a dimensão política adquirida pelos fundamentalismos religiosos a partir dos anos 1970 e ganham potência durante o governo Trump.

Um exemplo significativo é tomado da afirmação da secretária de imprensa da Casa Branca Sarah Huckabee Sanders, quando questionada pela Christian Broadcasting Network sobre Trump ser o homem certo: “Acho que Deus chama todos nós para cumprirmos diferentes funções em momentos diferentes e acho que ele queria que Donald Trump se tornasse presidente, e é por isso que ele está lá” (Milbank, 2019, tradução minha).

A mesma compreensão foi exposta por Franklin Graham, presidente da Associação Evangelística Billy Graham, em 2018, quando Donald Trump estava sob severas críticas por suas políticas de extrema-direita e sob a denúncia de fazer pagamentos a uma ex-estrela pornô para que ela não falasse publicamente sobre um suposto encontro sexual quando ele era candidato: “Eu acredito que Donald Trump é um bom homem. (...) Ele fez tudo errado como candidato e venceu! Eu não entendo isto! Fora isso, acho que Deus o colocou lá” (Vales, 2018, tradução minha).

Esta noção de que Deus chama à liderança de ações políticas se propaga nos EUA, e a partir deles para movimentos na América Latina, como “Com meus filhos não te metam”, que se opõem a políticas educacionais na Colômbia, Peru e Argentina (Meneses, 2019) e, no Brasil, o projeto Escola Sem Partido, somado às propostas de homeschooling pelo governo de Jair Bolsonaro (Bolsonaro…, 2019). Esses movimentos demonstram a força dos fundamentalismos no continente. Articulação intensa no período de 2017 a 2020 no Brasil, que se revela também nos dois projetos relacionados mais diretamente à política institucional, o Ethnos 360° e o Capitol Ministries, que serão descritos a seguir.

Ethnos 360°: comunidades indígenas como alvo

Os povos indígenas da América do Sul têm sido alvo das centenas de agências de missão identificadas como fundamentalistas dos EUA, que têm missionários espalhados por 192 países, sendo 33% atuantes na América Latina, o maior número, segundo dados do final dos anos 1990 (Brasher, 2001).

Grupos evangélicos começaram a atuar mais intensamente em meados do século XX, entre indígenas, especialmente por meio de agências missionárias estadunidenses, e entre populações negras, por meio de projetos evangelísticos de igrejas em territórios ocupados por elas. Nos anos 2000 identifica-se a ampliação das atividades de grupos fundamentalistas, algumas delas atreladas a empresas do agronegócio, mineradoras, madeireiras, de garimpo e de especulação imobiliária, que buscam intervir em territórios dessas populações para alcançar seus interesses econômicos (Damiani, Pereira, Nocetti & Paredes, 2018; Restrepo, 2017).

Uma destas agências é a New Tribes Mission [Missão Novas Tribos - MNT], fundada em 1942, nos EUA, que, em 2017, mudou de identidade, transformando-se na Ethnos 360º. É considerada um dos grupos fundamentalistas mais extremos (Brasher, 2001), acreditando que a segunda vinda de Cristo só ocorrerá quando a última tribo da terra for alcançada pelo Evangelho. A MNT ingressou em território boliviano já no ano de sua fundação, na Colômbia em 1945, no Brasil em 1951, no Paraguai em 1952 e na Venezuela em 1953, concentrando ações com povos isolados (Becerra, 2015).

Em um estudo sobre a necessidade da autonomia para povos isolados recém-contatados no Brasil, Dominique Tilkin Gallois (1994) aborda criticamente a presença de agências classificadas como fundamentalistas, citando a MNT e suas bases de ação. Ela as ilustra com o conteúdo de um cartaz publicado na revista da organização, intitulada Brown Gold (apelido que a MNT dá aos indígenas, “ouro moreno”, como minas preciosas a serem “salvas”), onde consta a pergunta: “São os selvagens realmente felizes? Medo, superstição, feitiçaria, infanticídio... Algumas tribos enterram vivos seus bebés acreditando serem um mau presságio. Ide em todo o mundo e pregai o evangelho para cada criatura” (Gallois, 1994: 127). Gallois argumenta que o cartaz evidencia a compreensão que embasa a atuação deste tipo de missão religiosa sobre indígenas isolados:

Eles não são vistos exatamente como povos “virgens”: praticam atos “selvagens”, levados por impulsos que denotam serem apenas “corpos físicos”. Segundo esta lógica, por não terem tido ainda experiência espiritual, representam o campo ideal para a concretização de todas as etapas (especialmente as iniciais, que as missões-de-fé almejam monopolizar) da engenharia cultural a que elas se propõem. Grupos isolados não oporiam defesas às inovações materiais e espirituais, que exigem a substituição dos traços considerados “negativos” por eliminação e adaptação aos que são compatíveis com a civilização, tida como única, universal. (Gallois, 1994: 127)

A MNT esteve envolvida em crimes étnicos nos vários países do continente. Na Venezuela, a MNT foi implicada na exploração de indígenas e foi expulsa do país em 2005 (President expels…, 2005). No Paraguai, a MNT foi acusada de colaborar com a ditadura de Alfredo Strossner e de praticar etnocídio contra os indígenas Ayoreos, que foram sedentarizados à força, tiveram seus cabelos cortados, forçados a renunciar a suas crenças, forçados a viver e a trabalhar nos assentamentos missionários, vestindo roupas ocidentais. Mortes ocorreram neste processo (Blunt, 2019).

No Brasil, a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), órgão governamental que cuida da aplicação das políticas indigenistas, retirou a MNT de áreas indígenas por conta de acusações de abusos. Há vários processos judiciais contra ela e, em 1991, o Supremo Tribunal Federal baniu a agência da aldeia Zo’é, especialmente por conta da transmissão de doenças (gripe e malária), que ocasionaram 45 mortes de indígenas e, também, por ações incompatíveis com a política para povos isolados em curso no país (Ministério Público Federal-DF, 2020).

Em 2017, a organização desenvolveu a reconstrução desta imagem controversa com a criação da Ethnos 360°, agência que dá continuidade ao trabalho da MNT e mantém bases no Brasil, na Colômbia e na Bolívia.

Com escritório central em Sanford, Florida, a Ethnos 360° permanece ancorada em bases fundamentalistas, como se pode identificar na seção “What we believe” no website da organização (Ethnos 360°, s/d). A compreensão do sentido do trabalho com indígenas também é mantida:

Nossos fundadores tinham uma visão para alcançar o mundo: “Com determinação inabalável, arriscamos nossas vidas e apostamos tudo por Cristo até alcançarmos a última tribo, independentemente de onde essa tribo possa estar.” (Revista Brown Gold, edição 1, maio de 1943) (...) Essa visão não mudou, mas o mundo mudou. Enfrentamos novos desafios e estamos aprendendo a enfrentá-los juntos - confiando em Deus para unir Seu povo para vencê-los para Sua glória. (Ethnos 360°, s/d, tradução minha)

Durante o governo de Donald Trump, a Ethnos 360° passou a integrar uma estratégia em que várias organizações evangélicas importantes alteraram seu status de “organizações sem fins lucrativos” para “igrejas” no Internal Revenue Service (IRS, agência da Receita Federal dos EUA). O novo status permite que mantenham em sigilo os registros de como gastam seu dinheiro e os salários de seus funcionários mais bem pagos. A estratégia foi identificada pela organização Ministry Watch, que monitora instituições evangélicas (Smith, 2019).

Matéria do jornal The Washington Post sobre o caso afirma que os líderes dos grupos evangélicos que são parte da estratégia, dizem que estão mudando seu status para evitar custos administrativos. Porém, alguns também acreditam que esse status com o IRS poderia permitir proteções extras de liberdade religiosa em possíveis processos judiciais sobre direitos LGBTI+. Há ainda uma questão potente: organizações sem fins lucrativos não podem fazer campanha em nome de políticos ou dedicar uma parte substancial de seu trabalho para fazer lobby na legislação. Na prática, como “igrejas”, estas organizações deixarão de oferecer informações importantes sobre como as instituições isentas de impostos estão operando (Bailey, 2020).

O alcance que esta agência missionária consolidou com sua reconfiguração, durante o período Trump, foi ressaltado no Brasil com o governo de Jair Bolsonaro. Ethnos 360° teve portas abertas para a retomada de suas ações, ainda que incompatíveis com a política do país para povos isolados. Já em 2018, ano da campanha de Bolsonaro à Presidência da República, a organização desenvolveu uma campanha de arrecadação de fundos para comprar um helicóptero, registrando que seria usado para alcançar grupos indígenas isolados no oeste do Brasil, perto da fronteira com o Peru (Ethnos360° Aviation, 2018).

O piloto da Ethnos 360°, Jeremiah Diedrich, disse em um vídeo que essa região (Vale do Javari) tem a maior concentração de grupos de pessoas isoladas em qualquer lugar do mundo. “É o lugar mais escuro, denso e difícil de alcançar em toda a América do Sul. É por isso que precisamos de um helicóptero”, disse o piloto. “A liderança da missão será capaz de designar novas equipes para alcançar novos grupos de pessoas nesta área”, afirmou a missionária Julie Diedrich no filme em questão (Phillips, 2020). A organização divulgou a chegada do helicóptero Robinson R66 em novembro de 2019 (Tracking All…, 2019).

No final de janeiro de 2020, o presidente da Missão Novas Tribos do Brasil, Edward Luz, anunciou publicamente a aquisição do “helicóptero Ethnos360 Aviation R66” e disse a um pequeno grupo de evangélicos em reunião no Rio de Janeiro, que: “Deus fará qualquer coisa para que a humanidade ouça a Sua Palavra. Se um helicóptero se torna necessário, Ele o fornece” (Branford, 2020, tradução minha).

No início de 2020, um dos ex-missionários da MNT, o antropólogo Ricardo Lopes Dias, foi nomeado para comandar a Coordenação Geral de Índios Isolados e de Recente Contato da FUNAI (Entrevista..., 2020). A nomeação foi contestada por associações indígenas, por organizações não-governamentais que atuam pelos direitos dos povos originários, pela Associação Brasileira de Antropologia, pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs, e pelo Ministério Público Federal, que ajuizou uma ação civil pública, em fevereiro de 2020, para suspender a nomeação do missionário (MPF vai à Justiça...2020). O processo pediu a suspensão da nomeação por evidente conflito de interesses, incompatibilidade técnica, risco de retrocesso na política de não contato adotada pelo Brasil, desde a década de 1980, e apontou a ameaça de genocídio e etnocídio contra os povos indígenas. (Ministério Público Federal-DF, 2020).

Depois de nove meses de disputas judiciais com afastamentos e reconduções, Ricardo Lopes Dias foi exonerado (27 de novembro de 2020). Durante o período em que esteve na FUNAI, o missionário foi acusado, por lideranças indígenas, de omissão diante da crise sanitária que ameaça os povos das aldeias em meio à pandemia de Covid-19, e de ter permitido a entrada de missionários da Ethnos 360° na área de índios isolados (“As portas…”, 2020). Este caso foi denunciado ao Ministério Público Federal e à Diretoria de Proteção Territorial da Funai, classificado como ameaça à política pública do não contato aos índios isolados, e acusando o então coordenador da FUNAI de “proselitismo religioso junto aos indígenas recém-contatados”.

Depois desta nova controvérsia, a página da Ethnos 360° Brazil na internet foi retirada do ar, bem como o vídeo em que o piloto Jeremiah Diedrich declarava o objetivo de alcançar povos isolados com a compra do helicóptero, e assim permaneceu até a conclusão deste artigo em fevereiro de 2021. A organização também substituiu todos os vídeos que postou em seu canal do Youtube que tratavam sobre o contato e a conversão de tribos isoladas, substituindo por novos vídeos falando sobre o uso de aeronaves para “fins de segurança”, “trazendo médicos de emergência assistência”, e a pregação da “palavra de Deus”.2

Um artigo do website informativo Religion Dispatches registrou uma avaliação sobre o caso, a qual corresponde o que ao que está sendo desenvolvido neste artigo:

O presidente brasileiro Jair Bolsonaro e o presidente dos EUA Donald Trump tem muito em comum. Nenhum dos dois respeita muito o estado de direito. Bolsonaro gosta de atacar bufonamente a imprensa tanto quanto Trump. Ambos divulgaram informações errôneas sobre a gravidade do COVID-19, agravando a crise do coronavírus no Brasil e nos Estados Unidos. (Embora sejam evidentemente covardes demais para tratar Trump da mesma forma, Facebook, Twitter e Instagram são conhecidos por remover postagens especialmente notórias de Bolsonaro.) Finalmente, Bolsonaro, como Trump, é apoiado principalmente por cristãos de direita, muitos deles carismáticos do tipo representado pela conselheira espiritual de Trump, Paula White.

Assim como Trump, Bolsonaro nomeou muitos desses fundamentalistas para posições importantes em seu governo. Essas nomeações incluem colocar o ex-missionário evangélico Ricardo Lopes Dias à frente da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), órgão governamental do Brasil encarregado de supervisionar os interesses das populações indígenas. Em uma tentativa de acabar com a controvérsia sobre sua nomeação, Dias disse: “Não vejo isso como uma missão ou uma oportunidade para encontrar novos convertidos.” Mesmo assim, os missionários americanos sentem o cheiro de uma oportunidade. (Stroop, 2020, tradução minha).

Artionka Capiberibe (2020) avalia este caso como resultado das ações antipolíticas de cunho neoliberal, características dos fundamentalismos político-religiosos descritos neste artigo, que ameaçam a existência de povos indígenas, por meio de agendas morais, anti-ambientais e de segurança nacional. “Alcançando almas, a ação missionária está minando os direitos indígenas. Como consequência, sua ação despolitizada - ou antipolítica - ultrapassa a esfera religiosa e, paradoxalmente, se transforma em uma ação política antidemocrática” (Capiberibe, 2020: 22).

Evangelizando a política: o Capitol Ministries

Nesta mesma direção segue o Capitol Ministries, fundado em 1996 para acompanhamento religioso do corpo político da Califórnia, por Ralph Drollinger, um ex-jogador de basquete que se converteu ao cristianismo, estudou teologia e se tornou pastor deste ministério. O objetivo do Capitol Ministries é “evangelizar líderes políticos eleitos e indicados para que alcancem maturidade em Cristo”. A base, de acordo com os estudos oferecidos, é uma visão evangélica alinhada com a ultradireita americana. “Sem essa orientação, é bem mais difícil chegar a políticas públicas que satisfaçam a Deus e sejam benéficas ao progresso da nação”, conforme Drollinger afirma em um dos estudos que oferece (Drollinger, 2019).

Em 2010, Drollinger deu dimensão nacional ao ministério, alcançando o governo federal, com o primeiro ciclo de estudos realizados em Washington. Em 2015, um plano de estudos foi criado para Senadores e, em 2017, foi criado um ministério especial para os membros do alto escalão do governo de Donald Trump, com encontros semanais. Drollinger se orgulha em dizer que é a “primeira realização deste tipo em mais de 100 anos” (Capitol Ministries, s/d).

Ralph Drollinger abordou a campanha de Trump, em 2016, com a proposta dos encontros semanais na Casa Branca. Após a eleição, a falta de acesso direto a Trump não foi empecilho para que o pastor persuadisse membros do gabinete recém-nomeados sobre o estabelecimento de um processo de estudos bíblicos durante a transição, e o primeiro dos estudos semanais foi realizado algumas semanas depois da posse, em março de 2017. O projeto de Drollingher contava com participação e apoio (inclusive financeiro) do vice-presidente Mike Pence, do Secretário de Estado Mike Pompeo, do Secretário de Energia Rick Perry, do Secretário de Habitação e Desenvolvimento Urbano Ben Carson, da Secretária de Educação Betsy DeVos, do secretário da Agricultura Sonny Perdue, do Secretário de Trabalho Rene Alexander Acosta, do Administrador da Agência de Proteção Ambiental Edward Scott Pruitt, do Procurador-Geral Jeff Sessions, e do chefe da NASA Jim Bridenstine (Schwartz, 2019).

Com o apoio do governo Trump, o Capitol Ministries criou “o discipulado de estudos bíblicos para líderes políticos” de 24 países de quatro continentes, com a meta de criar, em longo prazo, 200 ministérios em 200 países. Na América Latina, abriu filiais no Brasil, na Costa Rica, no Equador, em Honduras, no México, no Paraguai, no Peru e no Uruguai, sob a direção do Diretor Global para a América Latina Oscar Zamora, em ação desde 2017, e com o auxílio de coordenadores locais nomeados. Zamora, um pastor neopentecostal peruano que estudou teologia no West Coast Christian College, na Califórnia, afirmou que “era como se os líderes das nações latinas estivessem prontos para receber a Palavra de Deus e estivessem apenas esperando pelo Capitol Ministries para mostrar-lhes o caminho” (Capitol Ministries, s/d, tradução minha).

O livro de Ralph Drollinger Rebuilding America: The Biblical Blueprint [Reconstruindo a América: o plano bíblico] foi traduzido para o espanhol e português sob o novo título “Reconstruindo uma nação”. Matéria do jornal The New York Times, em 2019, mostrou como as viagens de Drollinger pelo mundo, por conta da expansão do seu ministério, passaram a ter o status de diplomacia, tornando possível intervenções dele com chefes de Estado, como o presidente da Nicarágua Daniel Ortega, ou em diálogos com ministros de Estado, como aconteceu na Ucrânia, em 2019 (Schwartz, 2019).

Ralph Drollinger oferece conteúdos característicos do fundamentalismo estadunidense e se apresenta como anti-LGBTI+, antidireitos das mulheres, anti-imigração (com apoio à separação de famílias na fronteira dos Estados Unidos), nega as mudanças climáticas, e declara o catolicismo como as “uma das principais falsas religiões do mundo” (Schwartz, 2019). Em março de 2020, publicou texto no site do Capitol Ministries que associa a pandemia de coronavírus com a homossexualidade, o ambientalismo e o castigo de Deus (Drollinger, 2020).

Em 2019, o Capitol Ministries chegou ao Brasil, com lançamento oficial no mês de agosto, nas dependências do Senado Federal, com a presença de Drollinger e sua esposa. O diretor regional no Brasil é o pastor da Comunidade Batista em Moema, São Paulo, Giovaldo Freitas, que nomeou o pastor da Igreja Batista Vida Nova José Raul Ferreira Jr. para conduzir os estudos bíblicos no Congresso Nacional (Capitol Ministries, s/d).

Ferreira Jr. declarou a um site de notícias evangélicas (Novaes, 2019) que a atuação do ministério em Brasília foi articulada com o então Ministro da Casa Civil do governo Bolsonaro, da Igreja Luterana, atualmente na Igreja Sara a Nossa Terra, Onix Lorenzoni. O pastor explicou que o projeto no Brasil está totalmente vinculado aos EUA: “O Capitol Ministries Brasil é uma extensão do americano”. Ele afirmou que:

O presidente Bolsonaro é sem dúvida o presidente mais amigável com pastores da história do Brasil. O presidente tem recebido líderes e comitivas de diversas denominações quase semanalmente. Esses líderes o visitam em geral para manifestar apoio e orar pelo presidente, segundo o ensino do apóstolo Paulo em I Timóteo 2:1-3. (...) Somos plenamente a favor da separação entre a Igreja e Estado, mas defendemos a influência da igreja no meio político através do evangelismo e discipulado das autoridades e do bom testemunho cristão, que vale mais do que palavras. (Novaes, 2019).

Em 2018, a ex-deputada do Tea Party Michele Bachmann, membro da diretoria do Capitol Ministries, enviou um vídeo para igrejas no Brasil pedindo que votassem em candidato que apoiasse a transferência da embaixada de Israel para Jerusalém. Ela não citou o nome de Bolsonaro, mas o vídeo tratava-se de uma referência à campanha dele (Michelle…, 2018).3 A participação de Bachmann na campanha eleitoral do Brasil em 2018 é mais um exemplo das ações intensas do Capitol Ministries, como “dublê” da diplomacia do governo Trump.

Os estudos bíblicos do Capitol Ministries, com o apoio da Bancada Evangélica, passaram a ser realizados semanalmente, em 2019, na Câmara dos Deputados. O plano é alcançar as Câmaras e Assembleias das capitais, e então se expandir para os municípios. O projeto prevê, ainda, conduzir estudos bíblicos com o presidente Jair Bolsonaro e seus ministro (Dip & Viana, 2019).

Giovaldo Freitas declarou à Agência Pública que as negociações para a chegada do Capitol Ministries ao Brasil começaram ainda no governo Temer, em 2017. Naquele ano, o pastor já tinha relacionamento com evangélicos nos EUA, como participante do do Global Leadership Summit, uma organização evangélica que realiza grandes eventos de capacitação para lideranças empresariais no mundo todo. Em um dos eventos do grupo em Chicago, o pastor foi convidado pelo peruano Oscar Zamora para atuar na vinda do ministério para o Brasil, quando passou a participar de treinamentos em Washington com pessoas de todo o mundo. Num desses eventos, disse Freitas, a secretária de Educação Betsy DeVos, o secretário de Energia Rick Perry e o da Agricultura Sonny Perdue palestraram (Dip & Viana, 2019).

Na linha do levantamento do The New York Times sobre a atuação do Capitol Ministries nas sombras da diplomacia do governo Trump, o pastor Giovaldo Freitas afirmou, na mesma entrevista à Agência Pública, que os laços religiosos criados pelo projeto entre os dois países têm gestado relações políticas: “[o] secretário de Energia tem mantido conversa com nosso ministro de Minas e Energia exatamente por causa da chegada da Capitol Ministries” (Dip & Viana, 2019). Freitas acrescentou que várias negociações já aconteceram no Congresso brasileiro, além de reuniões com embaixadores do Itamaraty.

A revisão bibliográfica empreendida para este estudo exploratório-descritivo não identificou conteúdo sobre o Capitol Ministries para além das mídias noticiosas aqui citadas. Tentativas de contato da autora com os pastores Giovaldo Freitas e José Raul Ferreira Jr. não tiveram resultado positivo. Os elementos levantados, aqui expostos, no entanto, contribuem para delinear o perfil do fundamentalismo reconstrucionista estimulado durante o governo Trump.

A título de conclusão

Este artigo buscou apresentar um estudo exploratório-descritivo, aplicado à noção de fundamentalismos adotada como base da pesquisa (Cunha, 2020), com vistas à introdução do quadro da inserção de novos movimentos fundamentalistas estadunidenses na arena política do Brasil durante o governo Trump (2017-2020).

Como abordado na primeira parte, é possível pensar “fundamentalismo” no plural, como uma categoria social cujos sentidos são múltiplos e dinâmicos, frutos de um processo sócio-histórico que é deflagrado nos anos 1910, perpassa diferentes contextos do século XX e chega ao século XXI. A noção de “fundamentalismos”, portanto, está em contínua reconstrução diante das transformações sócio-históricas; o olhar direcionado ao cenário político brasileiro na relação com o governo de Donald Trump busca compreender a dinâmica de uma destas expressões.

Observa-se que novas agências, projetos e organizações emergem nos EUA como suporte e potencialização das políticas do governo Trump, aprovadas e defendidas por significativa parcela dos evangélicos daquele país, com ressonância na América Latina e as experiências de governos reacionários, especialmente a partir da década de 2010.

A inserção de dois projetos específicos com estreita relação com a política institucional no Brasil (governo federal e Congresso Nacional), as organizações Ethnos 360° e Capitol Ministries, descritas na segunda parte do artigo, corrobora as aproximações com as bases fundamentalistas político-religiosas, em suas configurações delineadas a partir dos anos 1970 nos EUA, em especial a Teologia do Domínio e as pautas da moralidade religiosa conservadora.

Naquele período, com a força dos movimentos por direitos civis, por igualdade racial e de gênero (que gerou a aprovação do direito ao aborto), surgiu, em reação, a Maioria Moral, a nova direita cristã que, associada ao Partido Republicano, se organizou para impulsionar o “combate ao comunismo” (relacionando-o ao movimento negro) e a defesa das pautas chamadas “pró-vida” e “pró-família” (contra os movimentos feministas e LGBTI+). Essa aliança foi reforçada durante outros governos republicanos nos anos 1980 e 1990 e no governo de extrema-direita de Donald Trump, quando foram articuladas novas formas do avanço fundamentalista cristão na América Latina, se tornando figura de referência para governos conservadores, como o de Jair Bolsonaro, no Brasil, ainda na campanha eleitoral de 2018.

O estudo exploratório demostra que as ações da Ethnos 360° com populações indígenas não alcançadas e recém-alcançadas, com espaço de poder no governo de Jair Bolsonaro, mesmo com as restrições judiciais impostas à sua identidade de origem, a Missão Novas Tribos, e com a violação de tratados brasileiros, se somam às investidas do Capitol Ministries na capacitação teológica de parlamentares brasileiros com bases no reconstrucionismo da Teologia do Domínio. São duas organizações que, respectivamente, se reconfiguram e se inserem no Brasil impulsionadas pela pauta da “liberdade religiosa” construída na aliança de Donald Trump com o evangelicalismo conservador e ultraconservador de matriz fundamentalista, para, nitidamente, realizarem intervenções em temas de interesse público.

A derrota de Donald Trump, em 2020, e a ascensão do presidente Joe Biden para o mandato iniciado em 2021, representa uma transformação deste quadro, como uma espécie de freio para esta potência conservadora. No entanto, a direita religiosa tem sua base forte. Sem o espaço que teve na Casa Branca, com Trump, para dar suporte às pautas reacionárias, ela pode perder a força que a máquina do governo estadunidense possibilitava para a promoção de seus objetivos. No entanto, estes grupos são muito fortes economicamente e devem se adaptar com a realização de novas articulações, como já fez em derrotas eleitorais anteriores. A transformação da identidade de organizações como a Ethnos 360° para “igreja”, como demonstrado no artigo, é uma delas.

Pode-se inferir que os projetos, como os dois descritos que estão presentes no Brasil, prossigam em atuação para manter a força conservadora da direita religiosa na América Latina, influenciando de forma mais incisiva lideranças políticas com relação a pautas anti-direitos de minorias sociais e de fortalecimento de políticas neoliberais. No Brasil, a Bancada Evangélica no Congresso Nacional é uma força suficiente para reverberar essas pautas, que têm relação com o enfraquecimento de políticas de Estado, como a redução de direitos sexuais e reprodutivos e o homeschooling, por exemplo. No governo federal, personagens de poder, como a Ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos Damares Alves, e o Ministro da Educação Milton Ribeiro, já atuam em sintonia na ampliação destas bandeiras.

Fica o desafio de se observar, em um segundo momento, como vai se dar a articulação política entre EUA e países da América Latina com a presidência de Joe Biden, sobretudo com os novos governos da Argentina, da Bolívia, os movimentos de renovação política no Chile, e, também, o Brasil, a partir das eleições em 2022.

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Notes

1 A pesquisa foi projeto do Fórum Ecumênico ACT Aliança Sulamericano (FESUR), originado da atenção de organizações baseadas na fé (OBFs), articuladas por meio da organização mundial ACT Aliança, às mutações observadas no continente, avaliadas como reflexos de diferentes expressões de fundamentalismo. O resultado foi publicado em formato e-book (Cunha, 2020).
2 Os links indisponíveis são: <https://ethnos360.org/brazil> e <https://youtu.be/FjRjSkY13To>. O link do canal no Youtube tal como se apresenta é <https://www.youtube.com/user/NewTribesMission>.
3 De fato, Jair Bolsonaro desenvolveu uma aproximação com o governo de Israel, já em sua campanha para a Presidência, e empenhou-se no primeiro ano de governo em seguir o movimento de Donald Trump e transferir a embaixada brasileira em Israel de TelAviv para Jerusalém. Era uma promessa de campanha aos evangélicos que o apoiavam. O governo Bolsonaro enfrentou muitas barreiras políticas e comerciais que impediram que a promessa fosse cumprida (Xavier, 2020).
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