Artigo
A ESTRATÉGIA DE BUY AND HOLD NA COMPOSIÇÃO DA CARTEIRA DE JOVENS INVESTIDORES DA BAIXADA FLUMINENSE
THE BUY AND HOLD STRATEGY IN THE COMPOSITION OF THE PORTFOLIO OF YOUNG INVESTORS OF BAIXADA FLUMINENSE
A ESTRATÉGIA DE BUY AND HOLD NA COMPOSIÇÃO DA CARTEIRA DE JOVENS INVESTIDORES DA BAIXADA FLUMINENSE
Caderno de Administração, vol. 29, núm. 2, pp. 6-31, 2021
Unuversidade Estadual de Maringá
Recepção: 05 Janeiro 2021
Aprovação: 17 Junho 2021
RESUMO: O ambiente de reformas estruturais político-econômicas trouxe consigo preocupações a despeito do bem-estar futuro e do desenvolvimento das famílias. Em paralelo a essas mudanças, a B3 (bolsa de valores do Brasil) registrou em 2020 um crescimento histórico acima de dois milhões de investidores registrados na bolsa. Fatores como o déficit previdenciário e o corte expressivo na taxa de juro doméstica, a redução no prêmio de títulos de renda fixa e o pressuposto da incapacidade do Governo em honrar com os pagamentos dos títulos emitidos levaram investidores a tomarem risco através de investimentos na bolsa de valores, a fim de auferirem ganhos condizentes com o risco acordado. Dentre os mais de dois milhões de indivíduos que fazem investimentos em ações, o presente artigo tem por objetivo analisar como a estratégia de buy and hold influencia a tomada de decisão e composição de carteira de investidores residentes na região da Baixada Fluminense que buscam retornos visando o longo prazo. Este artigo contribui na ampliação da discussão teórica sobre a temática de estratégias de investimentos adotadas por jovens investidores de longo prazo em renda variável, de modo a enriquecer o arcabouço do campo de estudos no que tange ao mercado de capitais. Assim, foi realizada uma pesquisa qualitativa através de um estudo de campo com esses investidores. Após análise das respostas coletadas no questionário, foi possível concluir que a estratégia em questão promove resultados comprovados para indivíduos que fazem investimentos visando aposentadoria, renda passiva ou independência financeira plena.
Palavras-Chave: Bolsa de valores, Estratégias de investimento, Buy and hold.
ABSTRACT: The environment of structural political-economic reforms has raised concerns despite the future well-being and the development of families. In parallel to these changes, B3 (the Brazilian stock exchange) registered in 2020 a historical growth above two million investors registered on the stock exchange. Factors such as the social security deficit and the sharp cut in the domestic interest rate, the reduction in the premium on fixed income securities and the assumption of the Government's inability to honor the payments of the securities issued led investors to take risk through investments in the stock exchange, in order to obtain gains in line with the agreed risk. Among the more than two million individuals who invest in shares, the present paper aimed to analyze how the buy and hold strategy influences the decision-making and portfolio composition of investors residing in the Baixada Fluminense region who seek long-term returns. This article contributes to the expansion of the theoretical discussion on the theme of investment strategies adopted by young long-term investors in variable income, in order to enrich the field of studies on the capital market. Thus, qualitative research was carried out through a field study with these investors. After analyzing the responses collected in the questionnaire, it was possible to conclude that the strategy in question promotes proven results for individuals who make investments aiming at retirement, passive income or full financial independence.
Keywords: Stock exchange, Investment strategies, Buy and hold.
1 INTRODUÇÃO
No Brasil, cresce o número de investidores em renda variável, segundo dados da B3 (Brasil, Bolsa, Balcão), atual bolsa de valores no Brasil. Apesar da crise pandêmica global, em abril de 2020, a B34 divulgou dados em seu site oficial, afirmando que o país atingiu a marca de quase dois milhões e meio de investidores. Na busca por maior rentabilidade, os investidores no Brasil estão assumindo a possibilidade de investimentos mais arriscados, a fim de auferirem ganhos maiores através de suas aplicações financeiras. Para Tafner (2020), isto deve-se à baixa atividade econômica, somada à queda de juros de longo prazo e à instabilidade econômica no país. Neste ambiente, investir em ações se mostra uma opção viável para quem se interessa pelo mercado de capitais, o que também influencia a queda de preço das ações, formando oportunidades de compra.
Para Teixeira, Tiryaki e Drummond (2020), a instabilidade financeira e econômica são as maiores preocupações de investidores que se concentram em operações de curto prazo. Para os autores, o longo prazo apresenta índices de crescimento econômico e redução significativa nos níveis de pobreza, pois investir com horizonte de tempo elevado possibilita o desenvolvimento das carteiras de investimentos. Felipe et al. (2017) reforçam que a justificativa para o significativo crescimento global dos investidores é a crença na eficiência dos mercados em se recuperarem frente a crises. Para os autores, investidores de longo prazo preparam-se para possíveis fricções do mercado, mantendo em suas carteiras de investimento aplicações com liquidez, chamadas reserva financeira emergencial, a fim de não comprometerem seus planos de longo prazo.
Nessa conjuntura, os investidores de longo prazo, principalmente os que possuem posição de investimento na bolsa de valores, precisam buscar estratégias que os auxiliarão na alocação de seus recursos. Dentre as estratégias de investimento em renda variável, a buy and hold (B&H), que significa “comprar” um ativo e “segurar”, destaca-se por ser uma forma de se beneficiar com os rendimentos, resultados e valorização que as empresas porventura apresentarão no futuro, como aponta Damodaran (2002). Além disso, o autor acrescenta que esta estratégia é superior quanto à gestão de riscos, uma vez que reduz a demanda por negociações, criando uma carteira estável, que é negociada apenas se houver necessidade de caixa.
Há ainda uma forte relação entre o nível de educação financeira dos indivíduos, com o perfil de investidores na bolsa de valores. Quanto mais alto o nível educacional, maior a possibilidade de entrada ao mercado de ações (CAMPBELL, 2006). De acordo com Godoy, Medina e Junior (2006), existem três razões que dificultam a entrada de novos investidores na bolsa de valores: ausência de incentivo educacional sobre finanças na escola, visão pessimista do senso comum sobre a bolsa de valores e escassez de literatura a respeito do assunto ou a complexidade acadêmica nos materiais já existentes.
Bonaldi (2018) constata que os novos entrantes do mercado de ações são frutos de iniciativas educacionais que acontecem nas universidades ou fora delas e atingem em sua maioria os jovens. Para o autor, os jovens se adaptam com mais facilidade ao mercado de ações também em decorrência da estrutura em que o mercado opera: por vias digitais e plataformas online. A inserção de novos investidores das diversas faixas etárias e condições sociais foi essencial para a democratização do conhecimento que tem sido amplamente difundido nas redes sociais, em livros e em artigos.
A British Broadcasting Corporation (BBC) divulgou, em 2020, dados da B3 que registram o crescimento anual de 28,6% em participação de jovens investidores na bolsa de valores. Para o jornal, as justificativas apresentadas para o crescimento e participação de jovens investidores no mercado de ações são diversas, entre elas estão: a disponibilidade de informações, a facilidade das plataformas para a realização das aplicações financeiras, a expressiva queda de juros recorrente no cenário econômico brasileiro dos últimos anos e, por fim, a ansiedade e as incertezas quanto ao futuro (BBC, 2020).
Os mesmos dados constatam que, entre dezembro de 2018 e fevereiro de 2020, a bolsa brasileira ganhou 1,1 milhão de novos investidores pessoa física e mais que dobrou de tamanho, somando hoje mais de 2,2 milhões de pessoas. Os relatórios confirmam que o grupo que mais cresceu dentro da bolsa foi o de jovens. O total de investidores com idade entre 16 e 25 anos aumentou quase cinco vezes nesse período, de 37,7 mil para 179,9 mil. Na faixa etária entre 26 e 35 anos, o salto foi de 226,9%, de 286 mil para 609,9 mil pessoas. De acordo com a B3 (2020), a conjuntura da economia brasileira nos últimos anos estimulou esse movimento.
Fernandes e Chimendes (2010) destacam que há um interesse por parte dos grandes investidores de que seja difundido e ganhe escala o número de investidores na bolsa de valores. Isso ocorre devido à necessidade de liquidez no mercado para que esses investidores realizem suas operações de compra e venda. Para o autor, a difusão de informação dada por grandes investidores acontece com o objetivo não apenas de trazer investidores para o mercado, mas para mantê-los também. Dado o panorama apresentado, uma preocupação é compreender como os jovens investidores brasileiros se comportam em meio às fricções do mercado e descobrir igualmente como a estratégia de buy and hold se faz útil para esses investidores.
Considerou-se pertinente entender essa dinâmica dentro de um contexto local, mais especificamente, na Baixada Fluminense do estado do Rio de Janeiro. A Baixada Fluminense é a região ao redor do município do Rio de Janeiro que engloba os municípios Duque de Caxias, Nova Iguaçu, São João de Meriti, Nilópolis, Belford Roxo, Queimados, Mesquita, Magé, Guapimirim, Japeri, Paracambi, Seropédica e Itaguaí do estado do Rio de Janeiro.
Como aponta Marques (2006), os jornais de grande circulação do Rio de Janeiro, alguns inclusive com amplitude nacional, construíram e divulgaram, por muito tempo, uma imagem negativa da região, baseada na pobreza e na violência. Entretanto, Amaro (2012) ressalta que a Baixada tem atualmente um crescimento econômico acentuado, com a instalação de indústrias e arrecadação de impostos, sendo a segunda mais importante região do Estado e uma das mais importantes microrregiões do país. A autora acrescenta que, com uma população de mais de três milhões e meio de habitantes, a Baixada Fluminense possui vasto patrimônio histórico e cultural, além de ser uma região privilegiada pelos seus recursos naturais.
Assim, o objetivo do presente artigo é analisar como a estratégia de buy and hold afeta a composição da carteira de jovens investidores da Baixada Fluminense. Este artigo contribui na ampliação da discussão teórica sobre a temática de estratégias de investimentos adotadas por jovens investidores de longo prazo em renda variável, de modo a enriquecer o campo de estudos sobre mercado de capitais. A partir deste artigo, propõe-se ampliar a compreensão da estratégia de buy and hold, que baseia-se na projeção de cenários econômicos futuros, tendo por base a contabilidade, as finanças e o horizonte de longo prazo.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 TIPOS DE INVESTIDORES NA BOLSA DE VALORES
A bolsa de valores é o ambiente legal por onde o mercado de capitais se desenvolve e onde as ordens de compra e venda se estabelecem. Sendo entendido como um sistema de distribuição de valores mobiliários, o mercado de capitais tem o propósito de proporcionar liquidez aos títulos de emissão de empresas e viabilizar seu processo de capitalização (FERNANDES; CHIMENDES, 2010), cumprindo assim seu papel de obter novos sócios e canalizar seus recursos para a execução de projetos de investimentos (PINESE, 2005). Nessa conjuntura, o mercado de capitais ou de ações torna-se um ambiente que relaciona graus de risco e de rentabilidade elevados (MELLAGI FILHO; ISHIKAWA, 2000). Esse mercado é formado por investidores que confiam seu capital a empresas visando à obtenção de rentabilidade superior à taxa de juros doméstica. De acordo com os autores, a relação entre esses investidores parte da tolerância a riscos e da confiança de que o mercado pagará um preço mais justo que o governo pagaria por esses empréstimos.
As negociações de compras dessas ações podem ser feitas de duas maneiras (BRAGA, 2009). A primeira delas é chamada de mercado primário, que se caracteriza pelo encaixe de recursos na empresa, ou seja, o capital do investidor sendo direcionado diretamente para a companhia. A outra forma é chamada de mercado secundário, onde as negociações funcionam como transações entre compradores e vendedores de ações. Segundo o autor, as negociações feitas no mercado secundário são de extrema importância para a liquidez do mercado, bem como para a redistribuição das ações negociadas em bolsa. Há pelo menos duas escolas de interpretação que regem o mercado acionário: a grafista e a fundamentalista. Para Sena et al. (2013), a principal diferença entre os grafistas e os fundamentalistas está diretamente ligada a suas interpretações, reações e movimentos aos acontecimentos do mercado.
A escola grafista observa padrões de preços para os ativos e analisa esses padrões, estudando através da observação de gráficos das cotações de cada ação (BRAGA, 2009). Este estudo é amplamente difundido e utilizado pelos chamados analistas técnicos, especialmente por não exigir um conhecimento profundo das demonstrações financeiras de uma empresa. Para os grafistas/técnicos, a liquidez do mercado e a volatilidade dos preços são fatores mais importantes para a determinação de suas operações financeiras (SENA et al., 2013).
Tratando-se da análise fundamentalista, a principal diferença está no seu trabalho com índices que capacitam os analistas a projetarem os resultados, verificando a capacidade da empresa de apresentar um crescimento sólido e consistente (BRAGA, 2009). Por meio da análise fundamentalista, é possível mensurar a capacidade de uma empresa oferecer boa remuneração para o capital do investidor, considerando seu crescimento sólido e consistente, oriundo de seus resultados financeiros apresentados ao longo dos anos (DAMODARAN, 2002). Os fundamentalistas vislumbram, no longo prazo, a rentabilidade de suas carteiras via lucratividade, repartição de dividendos, valorização da companhia e o aumento dos preços (SENA et al., 2013).
Através das escolas grafista e fundamentalista, é possível definir o perfil de comportamento dos investidores, que adotam o pensamento dessas escolas como padrão de leitura do mercado. Enquanto os investidores da escola técnica dão ordens de compra e venda de suas ações para se beneficiarem no curto prazo das oscilações de mercado, os investidores que seguem a visão fundamentalista são os que mantêm seus investimentos consolidados, independentemente das oscilações de mercado, contanto que as empresas onde investem mantenham os fundamentos de uma boa administração (BRAGA, 2009).
2.2 TIPOS DE ESTRATÉGIAS DE INVESTIMENTO EM BOLSA DE VALORES
Na bolsa de valores, o sistema de operações é diferenciado estrategicamente por prazos. Esses prazos são normalmente apresentados nas nomenclaturas de day trade, swing trade, position trade e buy and hold, que significam, respectivamente, ações de curto, médio e longo prazo. Apesar de se tratar de um número limitado, as operações podem ser fundamentadas por diferentes investidores pautadas em diversas estratégias. Isso acontece porque “o mercado reúne investidores e tomadores de recursos de maneira eficiente”, o que possibilita a complexidade de variáveis na tomada de decisões (CAVALCANTE, MISUMI; RUDGE, 2005, p. 19). Assim, a mesma operação pode ser motivada por heurísticas distintas.
A estratégia de day trade corresponde às compras e vendas dos mesmos ativos realizadas em um mesmo dia dentro da mesma Bolsa de Valores, na qual a quantidade transacionada tenha sido liquidada parcial ou totalmente (BONA, 2017). Nessa estratégia, os investidores compram ativos que estão em movimento de queda de preço e vendem pelo preço acima do que adquiriram. Por compreender operações que não se estendem por mais de um dia, os investidores correm mais riscos diante da possibilidade desses ativos não chegarem ao preço mínimo acima do valor de compra.
Por sua vez, a swing trade é uma estratégia de curto a médio prazo (de 2 a 5 dias) (SENA et al., 2013). Na swing trade, os investidores mantêm os papéis em suas carteiras por dias e operam com base em técnicas de suporte (análise gráfica) e resistências e tendências com a finalidade de reconhecer e aproveitar o movimento do mercado.
Enquanto a swing trade e a day trade são negociados no curto prazo, a position trade se caracteriza como uma estratégia de investimento de médio prazo (idem, ibidem). A position trade funciona como uma modalidade operacional que se adequa para investidores que dispõem de tempo reduzido para se dedicarem ao mercado (BAZIN, 2007). A position trade possibilita lucros maiores do que as estratégias anteriores, contudo, necessita também de um controle de risco mais disciplinado.
Finalmente, a buy and hold consiste em uma estratégia caracterizada pelo horizonte de longo prazo, em que o investidor monta uma carteira e a mantém intacta por anos. A capacidade de pagar dividendos, o preço pelo qual estão sendo negociadas, o valor que elas possuem para o mercado, a gestão financeira são alguns critérios para a permanência nessas ações. São os fundamentos da empresa e a eficiência do mercado que fazem os holders manterem suas posições de investimentos frente às oscilações que atingem o mercado (SENA et al., 2013). A Tabela 1 demonstra um resumo das estratégias de investimento e o intervalo de tempo e prazo que configura cada uma delas.

Nesse sentido, a adesão a qualquer estratégia de investimento considera uma complexa série de fatores, dentre os quais: perfil de risco, capacidade analítica e domínio da estratégia por parte do investidor, bem como os fatores macroeconômicos, uma vez que os resultados dos mercados podem direcionar na escolha de uma estratégia (BAZIN, 2017). O perfil de risco é uma variável que pode influenciar para além do perfil econômico. Isso porque, pequenos investidores podem ser tanto avessos a risco, dada sua baixa capacidade de poupança, quanto dispostos a estratégias arrojadas, a fim de acumularem capital. O objetivo do investidor é o que determina a melhor estratégia a ser utilizada.
2.3 A ESTRATÉGIA DE BUY AND HOLD E SUAS VANTAGENS
A estratégia buy and hold (B&H) foi criada por Benjamin Graham, economista nascido em Londres (Inglaterra) no ano de 1984, que definiu essa estratégia como o ato de comprar ações de empresas fortes no mercado, que apresentem bom nível de crescimento, mantendo essas empresas no portfólio por um período de tempo maior para aumentar os lucros (SENA et al., 2013). Os autores afirmam que um investidor que segue as diretrizes de Graham é chamado pelo mercado de capitais de “holder” de ações, isto é, quem monta uma carteira de ações sem fazer alterações, mesmo em períodos de colapsos financeiros ou queda do preço das ações. Os holders são investidores com características facilmente identificáveis. Algumas destacam-se, como: visão de longo prazo e visão estrutural da gestão de recursos financeiros (idem, ibidem). A gestão ajuda esse grupo de investidores a protegerem-se para eventos inesperados, o que possibilita os holders a manterem uma terceira característica que marca seu grupo: as aplicações por longos períodos, mesmo em períodos de fortes oscilações.
Em seu estudo, Braga (2009) observa que o investidor brasileiro conseguiu reagir aos solavancos e colapsos da economia brasileira investindo em empresas que possuíam, como característica principal, uma gestão administrativa excelente e resultados perenes. Ainda segundo o autor, as estratégias de investimento de curto prazo que utilizam de análise técnica e instrumentos derivativos necessitam de conhecimento e acompanhamento em tempo real do que acontece nos mercados. Assim, a análise fundamentalista usada na B&H torna-se uma vantagem comparada às demais, devido à vasta propriedade de materiais financeiros e contábeis que as empresas disponibilizam de seus resultados financeiros.
De acordo com Siegel (1994), a B&H se destaca dentre as estratégias de investimentos em longo prazo na bolsa de valores por apresentar menor risco com maior rentabilidade, se comparadas a quaisquer investimentos. Para o autor, a aposta em investimentos de longo prazo possui até mesmo vantagens tributárias, tendo em vista que são cobradas taxas de negociação de compra e venda de ações e de corretagem. Para jovens investidores, essa estratégia melhor se adequa, tendo em vista que os investidores que possuem horizonte de longo prazo permanecem por mais tempo investindo na bolsa de valores por não serem afetados pelas oscilações que acontecem no curto prazo (idem, ibidem).
Por esse motivo, a visão extensa de prazo possibilita investidores a não caírem em gatilhos mentais como o medo de perder dinheiro caindo em especulações. Conforme Versignassi (2015), pensar em prazos extensos permite que investidores vejam volatilidade e queda dos mercados como oportunidade para aumentarem seus investimentos em renda variável. Sendo essa uma vantagem dos que pensam no longo prazo, uma vez que quedas representam oportunidades de compra, enquanto que, para os especuladores, representa prejuízo. Dois indicadores tornam-se fundamentais para a adoção desta estratégia de longo prazo.
2.3.1 Dividendos
Uma característica importante da estratégia é a política de dividendos que essa estratégia possui (SENA et al., 2013). Dividendos são os lucros pagos pelas empresas aos seus acionistas após a apuração de resultados. Como apontam os autores, para os holders, a capacidade de uma empresa pagar dividendos é um fator determinante no processo de aquisição de ações. A faculdade de uma companhia distribuir dividendos mede sua eficiência de gestão e sustentabilidade de seus processos. Para Braga (2019), os dividendos recebidos são reinvestidos pelos holders na compra de novas ações, visando a diversificação de suas carteiras de investimentos. Sempre que reinvestidos, esses dividendos pagos pelas companhias visam a proteção dos investidores das oscilações de baixa nos preços. Desse modo, o uso dos dividendos tem por finalidade aumentar o volume de ações desses investidores em determinada companhia, gerando no longo prazo lucros maiores.
Nessa conjuntura, para investidores de longo prazo que recebem dividendos em sua carteira, a buy and hold se alinha como uma excelente estratégia (idem, ibidem). Para os autores, essa estratégia é a mais assertiva para os investidores, principalmente para os que se comprometem em investir pensando no longo prazo, visto que um horizonte de tempo maior é favorável para o recebimento de lucros das empresas e essencial para o crescimento das empresas e para a solidificação da economia. Nesse sentido, por não carecer de conhecimento técnico, por minimizar os riscos de operações e não carecer de acompanhamento minucioso, a estratégia de buy and hold é ideal para investidores de longo prazo, principalmente para os pequenos investidores e novos entrantes no mercado.
2.3.2 Valuation
De acordo com Braga (2009), existem alguns métodos de avaliação de companhias que os holders utilizam para definir quais empresas irão compor sua carteira de ações. Qualquer que seja o método utilizado, é importante que o investidor avalie cuidadosamente a empresa para que sua tomada de decisão seja racional e assertiva. Isso porque, mesmo se tratando de análise fundamentalista com avaliação contábil, numérico-financeira, há subjetividade nas avaliações de acordo com o viés do investidor, que pode ser otimista ou pessimista quanto à companhia e o seu setor de atuação. O valuation é um indicador essencial para analisar uma empresa. Valuation funciona como um indicador que mede o futuro de um negócio. Esse indicador é construído de forma quantitativa - analisando balanços e resultados, e qualitativa, entendendo o significado dos números e tendências de resultados (DAMODARAN, 2002). Para o autor, o valuation funciona como a ponte entre a visão geral a despeito da companhia e de suas ações.
2.4 PERFIL DE JOVENS INVESTIDORES
Tendo em vista que o objeto de estudo deste trabalho são os jovens investidores, este tópico irá abordar seu perfil e especificidades. Cabe salientar que a expansão do número de investidores na bolsa de valores do Brasil se dá devido a uma nova sociologia econômica, um novo jeito de abordar a economia com base na educação financeira que se tornou acessível nos últimos anos com o advento da internet (BONALDI, 2018). Como aponta o autor, a disponibilidade deste conteúdo via web trouxe aos jovens, os maiores consumidores desse mercado, a aproximação do espectro econômico ainda que mais informal, resultando na ascensão desses jovens investidores no mercado de ações.
Jovens investidores, pessoas na faixa etária entre 16 a 35 anos, são classificados com investimentos em ativos custodiados pela B3 (BBC, 2020). Dentre as explicações do fenômeno de crescimento desses investidores na bolsa de valores está o bull market, conhecido como período onde a bolsa de valores apresenta maior probabilidade de retornos sobre o capital investido (BBC, 2020). A democratização da educação financeira e a sistematização das negociações do mercado cooperaram para que o mercado de capitais ganhasse escala (AMORIM et al., 2018). Para D’avilla (2019), a substituição do antigo sistema de pregão (presencial) pelo sistema de negociação home broker (online) permitiu que os jovens investidores assimilassem com mais facilidade o funcionamento do mercado e pudessem participar do mesmo sem precisar enfrentar problemas logísticos.
Mas há ainda outros fatores que contribuem para a chegada de jovens investidores nesse mercado (PINESE, MORIGUCHI; PIMENTA, 2015). Para os autores, o crescimento expressivo deste segmento frente aos produtos de investimento deve-se à economia favorável e também ao perfil desse público, que é marcado pelo ato de pensar no futuro. Segundo os autores, o segmento de jovens universitários apresentou um crescimento médio de 64,8% em número de clientes que investiram entre 2005 e 2011. Tais dados demonstram o crescimento desse grupo na bolsa de valores, bem como as possíveis motivações desse fenômeno.
A maioria dos jovens investidores é propensa a tomar riscos no mercado, ou seja, se dispõe a investimentos mais arriscados na tentativa de alavancar a rentabilidade dos ativos investidos (KAHNEMAN; TVERSKY, 2013). Logo, o que difere os jovens investidores dos investidores seniores é a medida de aversão ao risco. “Em média, investidores sentem muito mais a dor da perda do que o prazer obtido com um ganho equivalente” (KAHNEMAN; TVERSKY, 2013, p. 4). A disposição ao risco pode acontecer por motivações comportamentais, o excesso de confiança, a ganância, a falta de comprometimento financeiro familiar, a abundância de tempo para a geração de riqueza, a idade, o estado civil e o nível de renda (BONALDI, 2018). Para o autor, quando se trata de jovens investidores as variáveis econômicas, culturais e comportamentais são decisivas para medir os tipos de estratégias de investimento realizadas na bolsa. Mesmo para quem deseja aumentar exponencialmente o patrimônio no curto prazo, as movimentações feitas em bolsa são medidas pelo patrimônio que os investidores possuem para garantir a execução de determinadas operações no curto prazo (SENA et al., 2013).
2.5 ESTUDOS SIMILARES
Cabe salientar que a grande contribuição deste trabalho reside em abordar a estratégia de investimento Buy and Hold, ainda pouco discutida na área de administração no que refere-se ao comportamento de investidores. Assim, foi construído um quadro síntese que apresenta o estado da arte sobre essa temática a fim de identificar as aproximações e os afastamentos destes com o presente estudo. O Quadro 1, em apêndice, apresenta os artigos revisados por pares e publicados em revistas acadêmicas, resultantes de uma pesquisa realizada no portal de periódicos da Capes no mês de maio de 2020, que utilizou a ferramenta de busca avançada e as seguintes palavras-chave: “Buy and Hold” e “Investidores”. Como pôde ser observado no Quadro 1, nem todos têm como foco o estudo da estratégia de buy and hold. Muitos deles apenas apresentam a B&H como uma estratégia de investimento possível e outros ainda a utilizam como método de análise de dados.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
3.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA
Esta pesquisa se caracteriza como um estudo qualitativo, uma vez que, de acordo com Neves (1996), a pesquisa qualitativa existe para obter dados descritivos que expressam os sentidos dos fenômenos. Segundo Vieira e Zouain (2007), a pesquisa qualitativa garante riqueza de dados e permite que se veja o fenômeno proposto em sua amplitude. Godoy (1995) reforça que a pesquisa qualitativa visa a compreensão ampla do fenômeno que está sendo estudado, e por isso considera que todos os dados da realidade são importantes e devem ser examinados. Ainda de acordo com a autora, quando o estudo é de caráter descritivo e o que se busca é o entendimento do fenômeno como um todo, a análise qualitativa torna-se mais indicada.
3.2 COLETA DE DADOS
O método de coleta de dados utilizado foi a aplicação de questionário. Segundo Vergara (2009, p. 39) “o questionário é um método de coletar dados no campo, de interagir com o campo composto por uma série ordenada de questões a respeito de variáveis e situações que o pesquisador deseja investigar.” Para a autora, o questionário é realizado utilizando-se de perguntas para extrair informações por meio de metodologia qualitativa capaz de quantificar e detalhar determinado universo. O questionário, em apêndice, foi construído com base na literatura e de acordo com a investigação que este estudo se propôs a responder. Ou seja, para atender ao objetivo de analisar como a estratégia de buy and hold afeta a composição da carteira de jovens investidores da Baixada Fluminense, o questionário buscou identificar: (1) o perfil do jovem investidor da Baixada Fluminense, (2) suas estratégias de investimento e (3) a motivação de escolha de tal estratégia e como afeta sua carteira. Desse modo, não foi utilizada neste estudo a replicação de questionários já existentes em outros estudos, mas devido à especificidade da pesquisa, a mesma foi construída pelos autores com base no levantamento bibliográfico apresentado na seção anterior.
Os respondentes da pesquisa foram jovens de 16 a 35 anos de idade, que investem na Bolsa de Valores e que são moradores dos municípios da Baixada Fluminense no Rio de Janeiro. O primeiro contato com investidores que utilizam a estratégia de buy and hold aconteceu por meio de grupos do Telegram e WhatsApp. A partir dessas plataformas, foi possível encontrar uma comunidade virtual onde um número ainda maior de investidores trocavam informações, o grupo do Facebook. Cabe salientar que os investidores utilizam aplicativos como WhatsApp e Telegram para troca de informações instantâneas sobre o mercado de capitais e, por meio do Facebook, concentram informações mais relevantes e troca de experiências.
Assim, o questionário foi distribuído no grupo do Facebook denominado: “Investidores - Buy and Hold”, que concentra o número de treze mil seguidores. A pesquisa foi distribuída via Google formulário e repassada no grupo do Facebook. O questionário ficou disponível por 15 dias, no mês de abril de 2020, para ser respondido.
3.3 ANÁLISE DE DADOS
O tratamento de dados foi realizado por meio de análise descritiva. De acordo com Marconi e Lakatos (2002), esse tipo de análise preocupa-se em descrever, registrar, analisar e interpretar fenômenos atuais, objetivando o seu funcionamento no presente. No total, foram obtidas noventa e uma respostas, sendo de aproveitamento para esta pesquisa o contingente de quarenta, visto que apenas essa quantidade de respondentes era residente na Baixada Fluminense e fazia, de fato, parte do objeto de pesquisa. Foi utilizada a ferramenta Excel para tratamento dos dados, a partir do qual foram filtradas as respostas e gerados os gráficos apresentados no capítulo de resultados e discussões. Como parte da análise, os autores buscaram identificar as aproximações e os afastamentos dos achados desta pesquisa com pesquisas anteriores, já mencionadas no capítulo do referencial teórico.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1 PANORAMA DO PERFIL DOS INVESTIDORES QUE UTILIZAM A ESTRATÉGIA DE BUY AND HOLD
A partir da pesquisa realizada foi possível perceber um padrão de características comuns entre os investidores respondentes A começar, a maioria dos investidores são pessoas que se identificaram como gênero masculino, representando 90% do público respondente, 7% se identificaram como gênero feminino e 3% como não-binário, como mostra a Figura 1. Por meio destes dados é possível refletir a preponderância masculina e a pouca participação de mulheres como investidoras da bolsa de valores. Uma possível explicação pode estar no fato das mulheres terem maior aversão ao risco do que os homens.

Quanto à idade, obteve-se uma resposta equilibrada em termos quantitativos dos respondentes, como pode ser observado na Figura 2. Contudo, mesmo com a diversidade na idade dos investidores, a maioria dos respondentes disse ter iniciado recentemente com os investimentos.

Segundo Bonaldi (2018), o crescente interesse por fazer investimentos na contemporaneidade está diretamente associado à democratização do conhecimento e ao surgimento de educadores financeiros que utilizam redes sociais, sites e vídeos para a disseminação de informação. Analisando as Figuras 2 e 3 que refletem a idade e o tempo de investimentos, respectivamente, pode-se observar que, apesar da maioria dos respondentes ter entre 26 a 30 anos, há uma recente experiência com investimentos, composição de carteira e estratégias de alocação.

4.2 PERFIL SOCIOECONÔMICO DOS RESPONDENTES
Quanto ao âmbito educacional, é possível observar o contato que os respondentes da pesquisa possuem com o ensino superior. Os resultados mostram que 53% dos respondentes estão em processo de graduação, 25% concluíram o ensino superior e 15% estão em fase de pós-graduação, mestrado ou doutorado, como pode ser observado na Figura 4. Os números envolvendo alguma relação dos respondentes com o ensino superior somam 93%. Tais dados são congruentes ao pensamento de Pinese, Moriguchi e Pimenta (2015), que justificam a prática de investimentos de jovens universitários com o comportamento de pensar no futuro trazido pelo ambiente acadêmico.

Quanto à profissão, por meio da pesquisa foram encontrados os seguintes resultados: estagiário, autônomo, profissional liberal, servidor público, engenheiro, professor, entre outros. Fica evidente a desassociação da profissão desses investidores com a prática de investimentos. Para Sena et al. (2013) isso é justificável, pois a estratégia B&H não carece de um conhecimento complexo do assunto. Além disso, essa estratégia facilita a adesão de muitos investidores pela acessibilidade e gama de informações disponíveis. Neste sentido, este trabalho evidencia que, independentemente da profissão de origem, há um crescimento do interesse de jovens por investimentos.
Em relação à situação de moradia, há uma diversidade de informações, contudo, 35% dos respondentes disseram morar com os pais, 25% com o cônjuge e 20% com os pais e irmãos. Além desses, 12% disseram morar com o cônjuge e filhos, 5% declararam morar sozinhos e apenas 3% disseram ter residência com outros. A Figura 5 apresenta visualmente estes resultados. A prevalência de jovens investidores que moram com seus pais e pais e irmãos, somando 55%, adequa-se à justificativa de Siegel (1994) de que a estratégia de buy and hold é eficaz para investidores que estão em fase de construção de patrimônio. Ainda, faz sentido que jovens que ainda moram com os pais terem maior segurança para realizar investimentos, utilizando parte de seu salário para tal, diferentemente de jovens casados e que já têm filhos.

Quanto à renda familiar, 33% recebem acima de sete mil reais, 33% recebem entre três mil e quinhentos a sete mil reais por grupo familiar, 22% somam a renda familiar entre mil e três mil e quinhentos reais e 12% dos investidores recebem até um salário mínimo por família, como mostra a Figura 6. Assim, é possível uma relação direta entre renda e investimentos, uma vez que poucos são os jovens investidores que recebem até um salário mínimo. Entretanto, conforme aponta Bonaldi (2018), a B&H mostrou-se como uma estratégia econômica por possuir algumas isenções de taxas e emolumentos, que atraem um público de menor renda.

Entretanto, como pode ser observado na Figura 6, dentre os respondentes desta pesquisa percebe-se que um terço apresenta renda familiar acima de 7 mil reais. Isso pode gerar um impacto na escolha das estratégias de investimentos, como será observado nas próximas análises.
4.3 PERFIL DE ALOCAÇÃO DOS INVESTIMENTOS
Quanto à alocação dos investimentos, buscou-se descobrir em quais classes de ativos e percentuais os investidores costumam dividir seus investimentos. Nos investimentos de renda fixa, obteve-se o seguinte resultado: 72% dos respondentes declararam que investem até 25% de seu capital em renda fixa, 23% disseram investir entre 25% e 50%, enquanto 5% disseram possuir acima de 50%. A Figura 7 demonstra esses resultados.

Para Felipe et al. (2017), as aplicações em renda fixa sofreram mudanças de estratégia, deixando de ser um alvo de rentabilidade para ser um instrumento de diversificação e proteção dos investimentos. Para os autores, isso se dá devido ao fato da descrença em relação à economia e à política local. Na parte de renda variável, os resultados mostraram que 65% dos respondentes disseram investir acima de 50% de seu capital em renda variável, ações, ETF’s (fundos de índices comercializados como ações), fundos imobiliários e fundos de ações; 20% disseram investir entre 25% a 50%; 15% disseram investir até 25%, como mostra a Figura 8. Essa preponderância de ativos de renda variável na carteira de investimento dos respondentes é congruente com o pensamento de Sena et al. (2013), que afirmam que um holder tem como característica investir em ativos de renda variável, visando uma rentabilidade superior à taxa de juros doméstica sob um horizonte de longo prazo.

Entre os respondentes da pesquisa, 75% disseram utilizar a estratégia de buy and hold, contrastando com os 25% que disseram não usar essa estratégia na composição de suas carteiras de investimentos, como mostra a Figura 9.

A justificativa deste resultado pode se encontrar no fato de que o mercado de capitais reúne investidores e tomadores que buscam estrategicamente alavancar seus resultados financeiros utilizando estratégias distintas, como apontam Cavalcante, Misumi e Rudge (2005). E é isso que torna complexo o ambiente de operações na bolsa de valores.
4.4 JUSTIFICATIVAS DOS INVESTIDORES QUE UTILIZAM A ESTRATÉGIA B&H
Os entrevistados que disseram não usar a estratégia B&H informaram que possuem maior apetite de risco e que buscam retornos rápidos. Esse achado vai em consonância com Bona (2017), que mostra que investidores que buscam retornos no curto prazo e que possuem apetite a risco preferem estratégias rápidas com opções de ganhos alavancados, como a day trade e a swing trade.
Os respondentes que apontaram utilizar a estratégia B&H argumentaram que buscam segurança e que têm visão de longo prazo ou aderência à estratégia por ela se mostrar conservadora em sua análise das empresas listadas na bolsa de valores. Para Teixeira, Tiryaki e Drummond (2020), isso ocorre porque muitos fatores contribuem na relação entre segurança e o fator de longo prazo, como desenvolvimento da economia e dos sistemas financeiros, desempenho das empresas com tempo de atuação e redução dos níveis de pobreza.
Quando perguntados sobre como a estratégia B&H ajuda diante de cenários de grande volatilidade do mercado, os respondentes disseram não se mostrar preocupados devido à visão de longo prazo do método, o que dá a perspectiva de oportunidade nos momentos de estresse e volatilidade do mercado, convergindo em custo de oportunidade para novos investimentos. Isso corrobora a ideia de Versignassi (2015), que afirma que estratégias de investimento sob o horizonte de longo prazo possibilitam os investidores a olharem os cenários de estresse dos mercados como momento de novos aportes financeiros, aproveitando-se das baixas instantâneas dos preços das ações.
Além disso, os respondentes destacaram as seguintes vantagens da estratégia B&H comparada a outras estratégias de investimentos: segurança, amostras estatísticas de eficiência da estratégia, tranquilidade e tempo hábil para outras atividades. A estratégia se torna promissora, pois se investe em empresas com ótima capacidade de geração de lucro e utiliza-se o lucro gerado para novos investimentos, permitindo que os juros compostos no longo prazo trabalhem a favor do investidor, como reforça Damodaran (2002).
Por fim, quando perguntados sobre a relevância da B&H em suas carteiras de investimentos (em uma escala de 0 a 5), 45,1% dos respondentes atribuíram nota cinco à relevância da estratégia e 31,9% atribuíram nota quatro para a B&H (Figura 10). Em relação ao nível de satisfação, não foi encontrada base teórica que aponte a satisfação dos investidores com a estratégia, o que reforça a contribuição dessa pesquisa.

Traçando o perfil dos respondentes, a partir das respostas da pesquisa, verificou-se um contingente maior de investidores identificados como sexo masculino, com idade entre 25 e 30 anos, que residem com os pais. Na relação educacional, as respostas indicaram uma forte relação desses investidores com o ensino superior, destacando-se a fase de formação. No âmbito profissional, os respondentes não possuem sequer vínculo empregatício relacionado à área de investimentos, dando sentido à utilização da estratégia com foco no longo prazo, geração de renda passiva e independência financeira plena. Quanto à composição dos investimentos, a carteira dos respondentes faz jus à discussão levantada neste artigo, visto que observa-se a grande proporção de investimentos em renda variável e o uso da renda fixa como instrumento de proteção da carteira de investimentos.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio desse trabalho é possível entender como a estratégia de buy and hold se adequa na composição da carteira de jovens investidores da Baixada Fluminense. Constatou-se que a B&H se coloca como uma estratégia adequada para jovens investidores por tratar-se de uma estratégia acessível, de baixo risco e que se prova eficaz no longo prazo. A estratégia de B&H é procurada por investidores que estão iniciando no mercado de capitais ou desejam alcançar independência financeira.
Com a reformulação eletrônica do pregão, bem como de todo o sistema de negociação da bolsa de valores e balcão, a prática de fazer investimentos vem ganhando escala. Além disso, fatores micro e macroeconômicos também contribuíram para o crescimento exponencial de investidores na bolsa de valores do Brasil, como: a redução da taxa de juros doméstica, a descrença na política econômica no país, a desconfiança na capacidade do Estado de honrar com o pagamento da dívida pública e a instabilidade trabalhista sobre as questões de aposentadoria.
Analisando os dados coletados, percebe-se uma abertura no processo de democratização das informações a respeito do mercado de capitais. Dentre os respondentes da pesquisa, pôde-se observar uma predominância do sexo masculino e que esses possuem alguma relação educacional com o ensino superior. Ademais, a maioria dos respondentes possui renda per capita familiar acima dos três mil e quinhentos reais, indicando que a prática de investimentos é mais comum em investidores com maior renda ou capacidade de poupança.
Tratando-se do veículo de coleta e analisando o comportamento desses investidores, a internet se demonstrou como uma ferramenta relevante não apenas para a aproximação com o mercado financeiro, mas também para o recebimento ou troca de informações instantâneas relevantes que impactam a tomada de decisão desses investidores. Portanto, para os jovens investidores da Baixada Fluminense, a estratégia de B&H é a que melhor se adequa na composição de suas carteiras devido às características de funcionamento sob o viés de longo prazo e reversão de volatilidade dos mercados em oportunidade para a compra de ativos em preços com desconto. Assim, esta estratégia torna-se funcional para os investidores que buscam redução de riscos nas operações de bolsa, ganhos acima da taxa de juro e construção de patrimônio para o alcance de uma independência financeira plena.
A limitação desta pesquisa está na utilização da ferramenta de coleta ter sido o questionário, uma vez que este pode ter sido respondido de forma negligente e também por não permitir extrapolar os resultados para outras amostras. Além disso, não se pretendeu com essa pesquisa fazer generalizações, mas entender como a estratégia de buy and hold influencia a tomada de decisão e composição de carteira de investidores residentes na região da Baixada Fluminense, que buscam retornos visando o longo prazo.
Como sugestões de pesquisas futuras quanto a essa temática, salienta-se buscar: a) entender a predominância do sexo masculino em assuntos relacionados a investimentos e o mercado de capitais; b) entender a relevância socioeconômica para com o envolvimento de pessoas com a bolsa de valores, identificando os limites de influência da renda per capita e o desenvolvimento educacional de base; c) analisar a eficiência de outras estratégias de investimentos na composição de carteira de investidores que visam a independência financeira plena, comparando resultados a fim de encontrar maior eficiência estratégia para o longo prazo.
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APÊNDICE
QUESTIONÁRIO PARA O JOVEM INVESTIDOR







Notas