RESUMO: O mercado financeiro é complexo e geralmente há pouco conhecimento dos potenciais investidores em utilizar seus produtos e serviços. Pesquisas anteriores indicam inconclusão quanto ao perfil de risco do potencial investidor, apesar de geralmente assumir que o investimento preferido seja a poupança, além de apontar a necessidade de esforços voltados para uma educação financeira eficaz e mais próxima da população. O objetivo geral do trabalho foi analisar o perfil do potencial investidor, motivações para investir e intenção de educação financeira de moradores de uma cidade na região sudeste de Minas Gerais. A metodologia adotou uma estratégia quantitativa com coleta de dados primária, através do método survey. Os resultados da pesquisa mostram que o potencial investidor tem perfil predominantemente conservador para investimento com recursos próprios e agressivo com recursos de terceiros, também indica a preferência pela poupança, percepção de baixo conhecimento sobre mercado financeiro e ampla intenção de adquirir mais conhecimentos primariamente através de conteúdo produzido por especialistas e instituições do setor. O estudo expandiu a investigação e aprofundou o conhecimento sobre o perfil de potenciais investidores no mercado e aponta caminhos para ampliar os resultados encontrados.
Palavras-chave: Investidores individuais, Perfil de investimento, Motivação para investimento, Preferências de investimento, Educação financeira.
ABSTRACT: Financial market is complex. Besides, there is usually low knowledge by potential investors on how to use its products and services. Previous studies are inconclusive about which is the risk profile of potential investors, besides a usual assumption that the preferred type of investment is saving account, and indicates the need for continuous efforts to promote financial education and shorten the distance between financial knowledge and the general population. The primary aim of this study, therefore, is to analyze the profile of potential investors, as well as their motivations to invest and propensity to seek financial education from a population of south-west city in Minas Gerais. The adopted methodology was a quantitative strategy with primary data collection through survey method. Results indicate that the potential investor have a predominantly conservative profile to invest with his own resources, although an aggressive profile when investing with third party resources. Also, results show preference for saving accounts and perception of low level of knowledge about financial market, although a predominant intention to seek knowledge mainly through content produced by specialists and institutions from investment field. This study expand the investigation and deepens the knowledge about profile of potential investors and points how to broaden the knowledge through future research
Keywords: Individual investments, Investment profile, Investment motivations, Investment preferences, Financial education.
Artigo
POTENCIAIS INVESTIDORES NO MERCADO FINANCEIRO: PERFIL, MOTIVAÇÕES E PREFERÊNCIAS
POTENTIAL INVESTORS IN FINANCIAL MARKET: PROFILE, MOTIVATIONS AND PREFERENCES
Recepção: 05 Janeiro 2022
Aprovação: 20 Outubro 2022
O mercado financeiro, além de ser um complexo sistema que busca agrupar tomadores e poupadores de recursos (ASSAF NETO, 2014), tem sido muito discutido tanto no meio acadêmico quanto no âmbito da prática cotidiana. A recente exposição midiática de formas de investimento, tanto referente aos de renda fixa quanto aos de renda variável, fez crescer o interesse sobre o funcionamento do mercado financeiro.
Esse interesse apresenta um novo perfil dos interessados e tem demandado não apenas um aumento da presença de profissionais para auxiliar no processo de tomada de decisões, como também de novas estratégias para ajudar a aumentar a presença de pessoas físicas no sistema, e entre diversas estratégias é enfatizada a necessidade da educação financeira desde a educação básica (CUNHA, 2020).
Porém, é importante notar que, mesmo o sistema financeiro tendo funcionado por muitos anos, há desafios constantes inerentes à dinâmica do próprio desenvolvimento do complexo sistema, como é o caso mais recente das criptomoedas, que se apresentam como novo meio de investimento mas ainda há dúvidas quanto aos seus benefícios e desafios (OLIVEIRA, 2018).
Apesar de muito se discutir sobre os produtos e serviços oferecidos no mercado financeiro, pouco se sabe sobre o perfil dos potenciais investidores, uma lacuna que a presente pesquisa pretende contribuir. Conhecer o perfil desses investidores é relevante para melhor compreender a eficácia dos produtos e serviços, e assim aumentar a participação da sociedade e na decisão de se tornar investidores.
A pesquisa se justifica, em um aspecto teórico, para estender trabalhos como Pandelo Júnior (2010), Gonzalez Júnior, Souza e Santos (2015), Bittencourt, Sardinha, Barbosa, Alves e Oliveira (2018), Bedim Júnior (2020) e Paiva, Silva, Souza, Novôa e Pereira (2020), contribuindo para melhor compreender perfis de investidores de diferentes localidades. Também se justifica de maneira aplicada para melhor desenvolver estratégias para atingir um público de investidores individuais pouco considerados, aqueles que investem com poucos valores.
A questão de pesquisa que se pretende responder é: Como o potencial investidor percebe suas motivações e preferências de investimento?
O objetivo geral deste trabalho foi analisar o perfil do potencial investidor, motivações para investir e intenção de educação financeira de moradores de uma cidade na região sudeste de Minas Gerais. Os objetivos específicos foram: i) analisar o perfil demográfico do potencial investidor ii) investigar o perfil de risco; iii) investigar as principais motivações para economizar renda e investir; iv) investigar preferências de investimento com recursos próprios e de terceiros; v) investigar a percepção sobre o conhecimento sobre mercado financeiro e a propensão à busca de educação financeira; vi) confrontar os dados atuais da pesquisa com a literatura.
O trabalho está estruturado em quatro seções, sendo a primeira a introdução, a segunda apresentando o marco teórico, a terceira descrevendo a metodologia adotada no estudo, a quarta os principais resultados, discussão e implicações, e por fim as referências bibliográficas.
O mercado financeiro é composto por uma longa rede de produtos e serviços, os quais têm por finalidade o financiamento de empresas, organizações e instituições diversas. O conjunto de poupadores e tomadores de recursos formam um sistema complexo, onde uma esfera afeta a outra (ASSAF NETO, 2014).
Este sistema é usado por empresas para fazer investimentos em busca de retorno, porém também é utilizado por indivíduos. Como nos diz Pires (2006), as finanças pessoais diferem significativamente das finanças corporativas. Não é apenas a busca pelo máximo lucro, mas aspectos subjetivos, pouco relevantes nas finanças corporativas, aparecem como relevantes e em certos casos primordiais, ao se considerar as finanças pessoais (REIS, FORNARI, MARTINS, 2019).
Aspectos como personalidade afetam as escolhas dos indivíduos para lidar com suas finanças (PINIJSAKIKOL, 2017). Também a exposição do investidor à educação financeira durante sua trajetória afeta os serviços e produtos que irão interessá-lo e, portanto, as decisões que irá tomar (GANS, GANS, OLIVEIRA, MOREIRA, FILHO, 2016).
Além da personalidade e da educação, também o planejamento do indivíduo e sua visão de futuro influenciam na tomada de decisões por determinados produtos e serviços disponibilizados no mercado financeiro (LEAL; NASCIMENTO, 2011). Lizote, Lana, Verdinelli e Simas (2016) afirmam que, para os indivíduos, a importância de atender às suas necessidades imediatas diminui sensivelmente a capacidade de investimento, e apenas parte de sua renda fica disponível para aplicação. Os mesmos autores defendem que a tolerância ao risco é um fator preponderante na tomada de decisões financeiras.
Investimentos tendem a ser analisados em dois pontos principais: o primeiro é o retorno que será alcançado pelo investidor, e o segundo é o risco enfrentado pelo investidor (ASSAF NETO, 2014).
O retorno é definido como a diferença entre o valor inicial do investimento e o seu resultado após determinado período (ASSAF NETO, 2014). A análise de retorno pode tanto partir de ferramentas técnicas de avaliação de ativos quanto análises subjetivas dos investidores. Ferramentas comuns na análise de opções de investimento vão desde o uso dos mais aplicados VPL e TIR (REIS, 2018) quanto o emprego de ferramentas mais sofisticadas usando modelos matemáticos, como é o caso do CAPM (ASSAF NETO, 2014).
Em relação às análises subjetivas, o campo de pesquisas das finanças comportamentais tem ilustrado como aspectos individuais afetam a análise e escolha por opções de investimento, sendo uma linha de pesquisa que tem avançado nos últimos anos com uma crítica sobre a falha dos modelos clássicos em explicar o comportamento de investidores individuais (SILVA; CORSO; SILVA; OLIVEIRA, 2014). Outras linhas também têm contribuído ao investigar a racionalidade limitada, como aquelas que incluem conceitos e pesquisas da área de psicologia. Um exemplo é o achado da pesquisa de Pinjisakikol (2017), na qual foi demonstrado que aspectos da personalidade influenciam na escolha de investimentos e formas de investimento dos indivíduos (PINJISAKIKOL, 2017).
Além do retorno, outro ponto importante na investigação de investimento é o risco. Definir risco é problemático, como explica Malkiel (2015, p. 187): “O risco é um conceito muito delicado e evasivo. É difícil para os investidores, deixando em paz os economistas, concordarem com uma definição precisa.”. Malkiel (2015) nos explica que o risco é a chance de decepção do investidor em alcançar retorno que era seguramente esperado, é a possibilidade de que o resultado real possa divergir das expectativas iniciais. Outra forma de explicar o risco é através de Assaf Neto (2014), para quem o risco é a probabilidade de divergência entre o que era esperado e o ocorrido.
Em relação aos perfis de risco, há várias formas de classificar os comportamentos de investidores frente aos riscos. Seguindo Bedim Júnior (2020), são três os perfis propensos ao risco, com maior tolerância, indiferentes ao risco, com média tolerância, e avessos ao risco, com menor tolerância ao risco. Estes tipos de risco são uma maneira de compreender o comportamento em geral, não como formas rígidas, mas como modelos gerais de compreensão de diversos comportamentos frente ao mercado.
Em relação aos tipos de investimento geralmente considerados para análise do perfil de investimento, as pesquisas de Dietrich e Braido (2016) e Felipe, Ermel, Cassius e Mendes-da-Silva (2017) permitem agrupar os principais tipos de investimento para indivíduos, como sendo: poupança, tesouro direto, ações e debêntures, derivativos, moeda estrangeira, títulos de capitalização. Mais recentemente, também surgem opções de criptomoedas e opções binárias (OLIVEIRA, 2018).
A maioria dos estudos tem focalizado o levantamento de perfil de investimento com estudantes, sejam de graduação ou pós-graduação. Uma exceção a estas pesquisas mais comuns é a de Pandelo Júnior (2010), que buscou investigar o perfil de investimento a partir de atuais investidores.
Os estudos que investigaram o perfil geralmente trabalham com amostras entre 90-200 participantes, e seus resultados apontam um perfil predominantemente conservador, com investidores com até 2 salários-mínimos e que têm preferência pela poupança ou investimentos de renda fixa.
São apresentados alguns estudos que ilustram a literatura em seguida. A pesquisa de Pandelo Júnior (2010) com o objetivo de investigar o perfil de investidores de clientes bancários investigou uma amostra de 180 participantes através de questionários fechados, sendo que a pesquisa revelou a predominância da preocupação com a viabilização da aposentadoria e aquisição de bens, além de uma preferência pela renda fixa, seguida da renda variável e a menos escolhida sendo a poupança. Essa pesquisa mostrou a predominância do perfil de risco moderado, sendo seguido pelo perfil conservador. Apenas uma pequena parte se considera agressivo quanto ao risco.
Já o estudo de Haubert, Lima e Herling (2012), com o objetivo de traçar o perfil investidor de estudantes de pós-graduação stricto sensu na área de negócios, foi realizado com 94 estudantes através de questionários fechados e encontrou que há uma aversão ao risco em opções de ganho, como é o caso de investimentos. Também foi encontrado que predomina o perfil de risco conservador, sendo seguido do perfil indiferente e apenas uma pequena percentagem se consideram agressivos.
A pesquisa de Gonzalez Júnior, Souza e Santos (2015), cujo objetivo foi traçar o perfil investidor de estudantes universitários, investigou uma amostra de 80 universitários através de questionários fechados e encontrou um perfil do investidor como sendo até 2 salários-mínimos e com preferência pela poupança.
Estudo desenvolvido por Bittencourt, Sardinha, Barbosa, Alves e Oliveira (2018) com o objetivo de investigar o perfil de investimento através de questionários, encontrou como resultado que o perfil de investimento predominante é o investidor com pouco conhecimento do mercado financeiro, com preferência pela poupança e títulos públicos e com um perfil predominantemente conservador.
A pesquisa de Paiva, Silva, Souza, Novôa e Pereira (2020) objetivou levantar o perfil investidor, considerou uma amostra de 60 participantes através de questionários fechados. Os resultados identificaram um perfil conservador, sem conhecimento sobre mercado financeiro, com disponibilização de 10% da renda para investimento primariamente na poupança e com preferência por investir através de agências bancárias.
Os resultados dos estudos são importantes não apenas para compreender aspectos do perfil de investimento, mas também subsidiaram a construção do questionário para a pesquisa atual, como forma de avançar o conhecimento sobre o tema.
Após apresentar a revisão da literatura e os estudos anteriores, a próxima seção detalha os procedimentos metodológicos.
Considerando que a pesquisa investiga um fenômeno ainda pouco conhecido e sobre o qual não há massa crítica de estudos, quer seja o perfil do potencial investidor, o presente estudo se caracteriza como sendo predominantemente exploratório em sua natureza e adota uma estratégia predominantemente quantitativa, com coleta de dados primários diretamente com a população estudada (SEVERINO, 2007).
Foi aplicado como método de coleta de dados uma survey, ou seja, questionário fechado, que é um método com larga tradição em pesquisas na área de negócios, tendo sido usada há aproximadamente um século (VERGARA, 2010). Optou-se por uma estratégia não probabilística, em consonância com outras pesquisas na área (SILVA; SILVA; CORSO; OLIVEIRA, 2014).
Após a fase piloto, os questionários foram enviados através de meios de disseminação eletrônicos (whatsapp e facebook) no método um envia para o outro, sendo um formulário eletrônico para a coleta dos dados. Esse método é considerado apropriado, dada a característica exploratória da pesquisa em uma estratégia não probabilística (SILVA; SILVA; CORSO; OLIVEIRA, 2014). Restringimos o envio dos questionários para pessoas de uma cidade com cerca de 80 mil habitantes do sudoeste mineiro, através de grupos de notícias, páginas de moradores e grupos de compras e vendas. A primeira questão do questionário era identificar a cidade do respondente, e quando não era da cidade, o questionário foi descartado.
Ao todo, houve o descarte de vinte e três questionários por dados incompletos ou erros de preenchimento. Os dados foram coletados durante o primeiro e segundo semestres de 2020. Ao todo, a pesquisa contou com a participação de 113 respondentes válidos, o que, apesar de não ser um n tão alto como a pesquisa de Pandelo Júnior (2010), é superior aos das pesquisas de Gonzales Junior, Santos e Souza (2015), Bittencourt, Sardinha, Barbosa, Alves e Oliveira (2018) e Santos, Santos e Marques (2021), com n 80, 105 e 91, respectivamente.
O questionário foi elaborado a partir do referencial teórico, utilizando perguntas que refletem as características geralmente apresentadas em estudos que investigam o perfil do consumidor. Primeiramente foram utilizadas perguntas para montar um perfil demográfico (idade, gênero, renda, educação formal), depois questões relacionadas aos tipos de investimentos preferenciais, perfil de risco e propensão a maior aprofundamento nos conhecimentos financeiros. O questionário foi enviado para dois professores de ensino superior especializados na área de finanças e investimentos, que fizeram comentários e modificações antes da coleta de dados para fins de validação.
A amostragem usada para a pesquisa foi por conveniência. Apesar dessa estratégia de amostragem não ter robustez formal, ela é apropriada para estudos com característica predominantemente exploratória (GIL, 2009). Dado que a população do estudo se assemelha a uma população do tipo infinita, a amostragem adotada é não-probabilística (GIL, 2009).
O estudo também contou com uma etapa piloto junto a vinte e dois participantes, sendo esses resultados descartados e as questões ajustadas.
Para análise e apresentação dos dados usou-se a estatística descritiva, através do cálculo das frequências e evidenciação das modas (GIL, 2009). Este método de apresentação também tem longa tradição em pesquisas científicas no campo de administração. A ferramenta utilizada para fazer o tratamento dos dados foi a planilha eletrônica, através de software específico, o que ajudou a analisar os dados e efetuar os cálculos estatísticos.
Por fim, considerando que um dos objetivos secundários é a comparação com estudos anteriores, os dados foram analisados em contraste com aqueles obtidos por Pandelo Júnior (2010), Haubert, Lima e Herling (2012), Gonzales Junior, Silva, Silva, Corso, Oliveira (2014), Santos e Souza (2015), Bittencourt, Sardinha, Barbosa, Alves e Oliveira (2018) e Paiva, Silva, Souza, Novôa e Pereira (2020)
A partir dos dados foram feitas inferências sobre o comportamento e perfil do investidor, que é descrito na seção anterior.
Em relação aos dados, primeiramente se apresentam algumas características demográficas da população investigada:

O perfil dos participantes da pesquisa é predominantemente feminino, com ensino médio concluído, ganhando até 2 salários-mínimos. Este perfil corresponde a cerca de 60% dos participantes, e estas características demográficas podem ter influência sobre os resultados alcançados.
Em relação a outros estudos, o resultado do perfil de renda é consistente com os estudos de Gonzales Junior, Santos e Souza (2015) e Silva, Silva, Corso, Oliveira (2014), que concentraram também nesta faixa a maioria dos participantes do estudo.
A tabela abaixo apresenta os dados que se referem ao perfil do potencial investidor em relação a sua renda disponível para investimento e percepção sobre o risco.

Os resultados da pesquisa divergem parcialmente do estudo de Pandelo Júnior (2010), no qual foi encontrada uma maioria de perfil moderado, sendo seguido pelo perfil conservador e por fim agressivo. Os resultados atuais apresentam um perfil predominantemente conservador, chegando a 41,4% dos participantes, seguido pelo perfil propenso e por fim o perfil indiferente, o que corrobora parcialmente o estudo de Haubert, Lima e Herling (2012) quanto à predominância do perfil conservador. Porém, vale ressaltar que foi dada a opção neste estudo do participante afirmar não saber qual seu perfil, o que parcialmente explica os resultados conflitantes.
Uma outra característica interessante encontrada na pesquisa é que 66,37% afirmam ter disponíveis após o pagamento de despesas, ou seja, potencial recurso para investir até 29% da renda. Especificamente, o segmento com maior frequência é disponibilidade de renda entre 10-29%, o que contradiz o estudo de Paiva, Silva, Souza, Novôa e Pereira (2020), que encontrou a renda média de 10% para investimentos.
Chama atenção também o alto número de pessoas que afirmam não ter sobras 19,74%. Este é um ponto significativo, já que a sobra de recursos é condição essencial para a realização do investimento (ASSAF NETO, 2014)
A tabela abaixo busca apresentar resultados referentes às motivações percebidas pelos participantes em relação a sua motivação para participar do mercado financeiro

Pelos resultados da pesquisa, pode-se notar que há um busca por aumentar o patrimônio (49,56%), sendo seguido por aqueles que buscam viabilizar a aquisição de um bem (16,81%) como principal motivação para realizar investimentos. Este resultado é interessante ao se analisar que no estudo de Pandelo Júnior (2010) sobre atuais investimentos predomina a busca pela aquisição de bens. Isto sugere que a busca pelo aumento do patrimônio em consonância com a aquisição de bens é fundamental para o investidor individual.
O resultado da pesquisa contradiz parcialmente a pesquisa de Paiva, Silva, Souza, Novôa e Pereira (2020), que encontrou a principal finalidade dos investimentos para estabelecer uma reserva para segurança financeira.
A tabela abaixo apresenta resultados sobre as preferências de investimento na percepção dos participantes, em relação à fonte do recurso para investimento (próprio ou de terceiros), tipo de investimento, busca de auxílio para investir, quais investimentos apresentam menor risco e maior retorno possível.

A grande parte dos participantes do estudo afirmou ter preferência por investir sozinhos (45,13%), e chama atenção a preferência por bancos, corretoras e outras instituições similares para investir (31,86%). Este resultado contesta a pesquisa de Paiva, Silva, Souza, Novôa e Pereira (2020), que encontrou preferência por investimento através de agências bancárias. A ajuda profissional, através de profissionais e especialistas não vinculados a instituições, foi a opção menos preferida pelos participantes (7,96%).
Em relação ao investimento de maior preferência, foi selecionada a poupança (39,82%) consistente com o estudo de Gonzales Júnior, Santos e Souza (2015), sendo seguido em segundo lugar pelas ações e debêntures (22,12%) e em terceiro pela opção pelos títulos de capitalização (15,04%). Interessante que o estudo de Pandelo Júnior (2010) com atuais investidores revelou que a opção menos preferida era a poupança, e a de maior preferência a renda fixa. Já o estudo de Santos, Santos e Marques (2021) mostrou que havia uma preferência de jovens investidores por investimentos em renda variável, e não renda fixa, como os resultados do atual estudo sugerem.
A poupança também foi apontada como opção de menor risco (69,91%), o que, ao analisar em conjunto com a preferência, é congruente com o perfil declarado majoritariamente como conservador. O segundo menos arriscado, segundo os participantes, é o tesouro direto (13,27%), enquanto todas as demais opções foram marcadas abaixo dos 10%.
A percepção quanto à opção de investimento de maior retorno potencial foram os títulos de capitalização (21,24%) e em seguida as ações e debêntures (19,47%), sendo seguidos pelo tesouro direto (13,27%). É interessante notar que todos estes marcaram abaixo de 10% nos mais seguros, o que remetem a uma percepção de quanto maior o risco percebido, maior o retorno esperado.
A sequência dos investimentos de maior preferência como indicação ao local de trabalho, ou seja, com recursos de terceiros, é na seguinte ordem títulos de capitalização (26,55%), ações e debêntures (23,89%) e tesouro direto (19,47%). Esta mesma sequência aparece no ranqueamento daqueles que são percebidos com maior potencial de retorno.
É interessante notar que quando se trata de investimentos com recursos próprios, há preferência pelos investimentos percebidos como mais seguros, o que indica o perfil conservador, mas quando os recursos sendo considerados para investimento são de terceiros, há preferência pelas opções de maior retorno. Isto parece indicar que o perfil de risco do investidor é conservador usando recursos próprios, mas é agressivo ao se tratar de recursos de terceiros.
Por fim, a tabelaabaixo apresenta resultados que refletem aspectos voltados à intenção de buscar maior educação financeira e qualificação em relação aos conhecimentos sobre mercado financeiro.
Os resultados em relação à preferência por investimentos diversificados, ou seja, em mais de uma ou duas opções foi majoritariamente a escolhida, e combinada foi responsável por 90,27% das opções selecionadas. Este resultado está em consonância com o resultado da pesquisa de Bittencourt, Sardinha, Barbosa, Alves e Oliveira (2018) sobre a preferência da diversificação de investimentos, o que é apontado por Assaf Neto (2014) como importante medida para diminuir o risco sistemático ao qual o investidor está exposto.

Em relação ao conhecimento percebido sobre o mercado financeiro, grande parte (44,24%) afirma que é baixo de alguma forma. Em oposição, apenas 13,27% afirmam que o conhecimento é de alguma forma alto. Esse resultado dos respondentes, ainda que restritos à amostra e não passíveis de generalização para a população em geral, estão em consonância com a intenção de adquirir mais conhecimentos sobre finanças (90,27%), e sustentam alguns argumentos pela necessidade de maior educação financeira, como Barros (2010), Potrich, Vieira e Kirch (2015), Gans, Gans, Oliveira, Moreira e Filho (2016), e Cunha (2020).
Quanto à forma de adquirir estes conhecimentos, a maioria pretende buscar conteúdo produzido por especialistas e instituições de investimento (44,4%), cursos online (22,2%), videoaulas, debate e palestras (18,5%). Chama atenção que o papel das instituições de ensino presencial tem pouca participação (11,1%), e ainda menor a busca de conhecimentos apenas em material escrito (3,7%).
O presente estudo teve como objetivo geral analisar o perfil do potencial investidor, motivações para investir e intenção de educação financeira de moradores de uma cidade na região sudeste do Estado de Minas Gerais. Através dos dados coletados, foi possível montar um perfil no qual predomina o potencial investidor com renda de até 2 salários-mínimos, com educação média concluída, com disponibilidade de investimento entre 10-29% da renda e predominantemente avesso ao risco. Este também é motivado a economizar e investir predominantemente pela aquisição de bens e aumento do patrimônio, além de considerar a taxa de retorno como principal fator para investir em uma opção.
Os objetivos específicos propostos pela pesquisa foram alcançados e explicitados nas tabelas, especificamente os objetivos específicos i, ii, iii, iv, e v foram demonstrados nas tabelas 1, 2, 3, 4, e 5, respectivamente.
Quanto à preferência por opções de investimento, há preferência pela poupança, que também é percebida como investimento mais seguro. O investimento com maior potencial de ganho percebido são os títulos de capitalização, que também seriam os investimentos preferenciais para investir com recursos de terceiros. Este resultado sugere também que há um duplo comportamento percebido pelo investido, quando ele investe com recursos próprios há maior conservadorismo, e quando ele investe com recursos de terceiros ou indica investimentos, seu perfil é mais agressivo e há prioridade ao máximo retorno.
Os dados também mostram preferência pelo investimento por conta própria, e a ampla maioria percebe a importância de diversificar os investimentos. A diversificação é importante para diminuir os efeitos do risco sistemático.
Quanto aos conhecimentos, há percepção de baixo conhecimento, e que a ampla maioria tenciona buscar e adquirir mais conhecimentos sobre mercado financeiro, sendo a opção de busca deste conhecimento primariamente através de conteúdo produzido por especialistas e instituições de investimento. Ao analisar a baixa percepção de conhecimentos sobre mercado financeiro com a ênfase em investir por conta própria, pode-se notar o potencial de problemas possíveis, dado que na falta de conhecimento sobre mercado financeiro instituições e especialistas seriam mais indicados para orientar a tomada de decisão quanto à destinação dos fundos.
Apesar dos novos investimentos como as cripto moedas e as opções binárias (OLIVEIRA, 2018), há ainda um desconhecimento por estas modalidades por parte dos participantes da pesquisa.
Os resultados do trabalho aprofundam e expandem as pesquisas que investigam o perfil de investidores. Houve resultados convergentes em diversos pontos com a literatura prévia, como a predominância do perfil conservador e com preferência pela poupança, além de convergir com estudos que apontam o percentual médio disponível para investimento, com predominância na faixa de 10-29%. Porém, foram encontradas divergências em relação à finalidade do investimento, que geralmente é vista como destinada à segurança financeira, e os dados da pesquisa atual apresentam uma predominância pelo aumento do patrimônio seguido da aquisição de bens.
Uma contribuição maior que o estudo apresenta foi demonstrar que há preferências distintas de investimento pelo respondente quando se trata de recursos próprios ou de terceiros. Apesar da predominância do perfil conservador, quando questionados qual investimento seria indicado para a empresa onde se trabalha, ou seja, investir com recursos de terceiros, houve preferência por investimentos percebidos como mais rentáveis e que foram percebidos como menos seguros. Este achado é importante ao sugerir que o comportamento de risco pode ser dinâmico.
A pesquisa teve algumas limitações. A principal delas é que os resultados das amostras não podem ser generalizados para toda a população, dado não atender aos critérios de generalização. Desta forma, novas pesquisas sobre o tema são necessárias antes de ser possível generalizar os resultados para maiores populações. Porém, apesar disto, as pesquisas sobre perfil de investimento tendem a não apresentar número de participantes muito elevado, sendo que este número de participantes é consistente com pesquisas que buscam analisar perfil e comportamento de investidores.
Outra limitação do trabalho foi a coleta dos dados em uma única região geográfica, porém, pesquisas que investigam o fenômeno tendem a ter coleta em espaços ainda mais reduzidos, como uma única faculdade ou sala de aula, o que aumenta a confiança nos dados apresentados.
Uma última limitação da pesquisa é que ela não investiga atuais opções de investimento, mas intenções, preferências e motivações. Porém, essa limitação pode ser vista como uma contribuição aos estudos que analisam opções reais, porque captam como os indivíduos percebem e interpretam o funcionamento do mercado financeiro, o que tem implicações para a prática, como em consultorias financeiras, para a pesquisa e educação, como o uso destes resultados para aprofundar o comportamento de investidores individuais e em cursos de finanças.
Sugere-se mais estudos na área que, além de capturar as intenções, preferências e motivações de potenciais investidores, também investiguem se estes já possuem experiência na atuação no mercado financeiro. Outra forma de estender os resultados desta pesquisa é através da busca por relações entre variáveis demográficas e preferências por opções de investimento. Por fim, uma outra maneira de estender a pesquisa é usar um framework de finanças comportamentais, que investiga aspectos não racionais, para compreender melhor como os potenciais investidores são influenciados e motivados.
Outra contribuição importante de estudos futuros seria investigar a divergência entre o perfil de risco do potencial investidor quando se trata de recursos próprios e de terceiros, que foi identificado, mas que precisa de maior aprofundamento. A investigação deste fenômeno apresenta potenciais contribuições importantes para a prática e teoria, considerando que vários investidores no mercado operam com recursos de terceiros.
Os resultados da pesquisa são importantes para aprofundar o conhecimento atual sobre o comportamento de investidores, suas expectativas, motivações e preferências. A área de estudos em finanças é promissora nesse sentido, expandido além dos modelos mais funcionalistas e adotando pesquisas mais explicativas.




