EDITORIAL
EDITORIAL
EDITORIAL
Comunicação & Educação, vol. 26, núm. 1, pp. 5-6, 2021
São Paulo SP: Universidade de São Paulo Escola de Comunicações e Artes Departamento de Comunicações e Artes
Editorial
Na história do Brasil, estamos vivendo, sem dúvida, os meses mais dramáticos. Temos mais de 500 mil mortes de infectados pela Covid-19. Mais mortes que Hiroshima e Nagasaki juntas. A nossa bomba mata devagar. Asfixia. Deixa sequelas.
Como um barco assombrado rumando para o olho do furacão, o Brasil não tem comando no timão. Negacionismo, desinformação, declarações erráticas perfazem o arsenal mobilizado como política pública.
A sociedade está paralisada, sem forças além daquelas fundamentais para acolher os que mais sofrem, em forma de solidariedade, expressa na união de alguns setores, sobretudo populares, para prover famílias com cestas básicas, acolher emergências e oferecer afetos.
Incrédulos com o que está acontecendo, vivemos um filme de terror que não acaba. Cemitérios lotados, hospitais sem leitos e sem recursos para acolher doentes, profissionais de saúde exaustos e prostrados. Essas cenas prolongam-se em sequências que tiram o fôlego,um eterno frio no estômago que suplanta o imaginário ficcional de uma obra de Hitchcock.
Como explicar tudo isso?!
Que situação é essa que leva milhões à morte e à doença, enquanto menos de uma centena de empresários duplica sua fortuna em 12 meses? É lógico, razoável, humano, decente, ético esse estado de coisas? Mais de 14 milhões de desempregados no Brasil e alguns acham isso natural, parte das mudanças tecnológicas!
Será a educação a solução para todas essas mazelas?!
A educação como diálogo, processo comunicacional, que emerge de sujeitos reconhecidos como tal, pode se apresentar como caminho para estancar a sangria de uma sociedade em vias da barbárie?
Nosso quinhão é pequeno, delicado e de longo prazo. É formador. Trabalha como formiga, aos poucos.
Precisamos de mais, precisamos de mobilização urgentemente. Uma grande frente de forças que defenda a democracia, o desenvolvimento nacional, a distribuição de renda, o emprego, a moradia e a educação. A defesa da educação, da escola pública, da universidade, da ciência e da tecnologia a serviço do bem comum.
Tal como o Barão de Münchhausen, o Brasil precisa puxar-se pelos cabelos para sair do pântano em que se encontra.
Uma de nossas contribuições para esse compromisso com a democracia e com a educação pública e de qualidade vem por meio das páginas da Comunicação & Educação. Um acervo que há 27 anos oferece leitura de excelência para se pensar sobre esse lado do Brasil: o lado da formação cidadã, da comunicação como direito humano acima de interesses econômicos e políticos. As contribuições dos autores são pérolas doadas para que a ciência nacional avance, para que a divulgação científica chegue aos mais jovens e, assim, forme novas gerações de pesquisadores, educadores, pensadores.
Este número reitera nosso propósito. Os artigos atravessam temáticas que vão das inter-relações da educomunicação com a comunicação comunitária ao jornalismo, aos movimentos artísticos, à dublagem, à moda, às mediações em tempos de pandemia e à trajetória de um de nossos mais queridos professores Ismar de Oliveira Soares.
Essa nossa contribuição é pequena, sabemos, frente à tarefa hercúlea para puxarmos o Brasil do pântano, mas estamos aqui, resistimos.
Boa leitura,
Adilson Citelli, Claudia Nonato e Roseli Figaro.
Autor notes