ARTIGOS
Recepção: 15 Julho 2022
Revised document received: 17 Novembro 2022
Aprovação: 22 Janeiro 2023
DOI: https://doi.org/10.5433/2176-6665.2023v28n1e46498
Resumo: Este artigo tem como objetivo compreender a pesquisa e a promoção da saúde sob a perspectiva marginal do Slam da Quentura. Trata-se de uma escrita narrativa, onde coloco em voga minha trajetória como participante de movimentos sociais e culturais, como o Slam da Quentura, e pesquisador da área da Saúde. Descrevo e analiso as potências de vida alicerçadas num coletivo periférico do interior do Ceará, trazendo reflexões sobre os desafios de realizar pesquisa etnográfica em um curso de pós-graduação em Saúde da Família, que perpetua um olhar sobre saúde ainda bastante enrijecido.
Palavras-chave: Slam da Quentura, promoção de saúde marginal, potências de vida.
Abstract: This article aims to understand research and health promotion from the marginal perspective of Slam da Quentura. This is a narrative writing, where I put in vogue my trajectory as a participant of social and cultural movements, such as Slam da Quentura, and a researcher in Health. I describe and analyze the potencies of life rooted in a peripheral collective, bringing reflections about the challenges of conducting ethnographic research in a post-graduation course in Family Health, which perpetuates a still very rigid view of health.
Keywords: Slam da Quentura, marginal health promotion, life potencies.
O Ser Afetado: Uma Introdução Marginal
Conheci o Slam da Quentura a convite de um de seus membros, numa praça do centro da cidade de Sobral. Era uma noite de sábado enluarada e, em uma visão panorâmica de longe, logo simpatizei com a diversidade do público que ali estava reunido. Ao me aproximar, o cheiro intragável de cigarro e o aroma do vinho de baixa qualidade, da marca Vale Real, entranharam-se em meu olfato, causando a sensação de estranhamento. Essas substâncias marcaram minha entrada em campo junto aos slammers e, ao longo dos sábados seguintes, contrariando a primeira impressão tida, elas trouxeram a sensação de paz, de liberdade e de acolhimento.
Na disputa poética, as apresentações dos slammers presentes seguiam uma ordem, uma rima por vez e, a cada poesia recitada, gritos, aplausos e vaias eram proferidos aos jurados que atribuíam notas menores que 10, sendo corriqueiro nesta atividade a plateia gritar “Credo!”, quando não gostam da nota atribuída aos participantes. A priori, o que me chamou atenção não foi o fato de alguém ter ganhado a disputa, mas a performance de acolhimento dos jovens, pela euforia dispendida a cada recitação, com gritos, aplausos, elogios e abraços da plateia. Aquele momento foi o marco inicial da minha vivência com o Slam da Quentura e, desde então, passei a identificá-lo como minha casa e as relações constituídas com seus membros como relações familiares, muito além dos laços consanguíneos, mas envolta por afetos, partilhas e acolhimento.
Nas interações entre os participantes do grupo, ao longo das edições, identifiquei uma práxis de promoção em saúde, com relações afetivas, de amor, respeito e alteridade (SILVA NETO, 2020), em meio às atividades que partiam do próprio desejo dos participantes do grupo. Os assuntos dos encontros giravam no entorno do enaltecimento das origens, do amor, dos afetos e de questões complexas como o racismo, o discurso de ódio e a LGBTfobia. Em meio a temáticas, a constituição de uma ética amorosa entre os slammers, que ultrapassava o sentimento e se desdobrava em coletivas, me instigou a mergulhar nas dinâmicas do grupo. Tais ações coletivas, entendidas aqui como proposta educativa, inserem-se no contexto da representatividade musical e poética, ligada diretamente ao discurso antirracista, antifascista e de potencialização da consciência crítica e da cidadania ativa (DEMO, 1996; FREIRE, 2019; HOOKS, 2021).
A palavra slam é de origem inglesa, diz de um “bater com força”, produzindo ruído (Cambridge Dictionary Online). Sua história está ligada à poesia das ruas, tendo surgido nos Estados Unidos, onde se passou a denominá-lo como slam ou spoken words (SILVA NETO, 2020). Houve um começo em Chicago no ano de 1985, tendo como organizador Marc Smith, em que o slam tinha como característica as competições de poesia no Bar Green Mill (SILVA NETO, 2020; VAZ, 2008). Essas atividades poéticas, ao longo de suas edições, foram ganhando proporção e se espalhando para outras cidades dos Estados Unidos e também mundo afora. Roberta Estrela D’Alva (2014), atriz-MC, diretora musical, pesquisadora, slammer (poetisa) brasileira foi quem trouxe poetry slam para o Brasil, no final de 2008, quando fundou o ZAP! - Zona Au-tônoma da Palavra, slam em São Paulo (SILVA NETO, 2020).
A pesquisa que originou este artigo, desenvolvida junto ao Programa de Pós-graduação em Saúde da Família da Universidade Federal do Ceará – UFC/Campus de Sobral, foi realizada junto aos participantes do Slam da Quentura, com trabalho de campo desenvolvido ao longo de 2019. O Slam da Quentura foi criado em março de 2017, pioneiro no Estado do Ceará no formato de slam, reunindo jovens das periferias de Sobral2 na praça Quirino Rodrigues, conhecida popularmente como “praça do FB”, localizada no centro. Os/as poetas, poetisas, poetes que adentram ao movimento são, em sua maioria, jovens das periferias sobralenses, negros/as e LGBTQIA+ (SABINO, 2017).
Como descreve Aline Sabino (2017), a disputa poética segue dessa forma: cada participante recita uma poesia autoral, tendo, no máximo, três minutos de duração e, logo em seguida, é julgado/a por um júri popular. Os poetas, poetisas e poetes são denominados de slammers e as pessoas que compõem o júri são da plateia, escolhidas aleatoriamente pelo slammaster (apresentador/a; mestre/a de cerimônia). Esse é o formato geral de slams espalhados pelo Brasil e pelo mundo.
Durante ou mesmo após as atividades no slam, há uma troca de informações, diálogos, que são permeados de reflexões, sendo este um dos aspectos que me instigaram a aprofundar o conhecimento sobre o Slam da Quentura, por meio de uma pesquisa etnográfica. O meu envolvimento com práticas culturais “marginais” na cidade de Sobral, tais como as rodas de saraus, batalhas de rima e poesias, e minha participação no Movimento Fome foram cruciais para a escolha do grupo como temática de pesquisa. O termo “marginal” é vastamente utilizado como característico dos produtos artísticos do grupo, sendo a “poesia marginal” a sua forma mais proeminente. Como relatou uma das minhas interlocutoras – “A nossa poesia é marginal porque nós somos marginais. Nossa poesia é crua e nua”. Essa fala foi bastante esclarecedora, demarcando o termo não como algo pejorativo, negativo, ruim, mas como algo identificatório, uma reconfiguração simbólica materializada na linguagem. Os/as marginais tomaram de assalto uma importante praça no centro da cidade, mas tal fato se configurou para mim como um assalto à mão letrada, um ataque poético, causando sérias poesias mentais.
Partindo de perspectivas como as de Neves (2017) e Freitas (2020) sobre manifestos poéticos de slammers em São Paulo e dos afetos vivenciais etnográficos vividos por Nascimento (2018) nas prisões cearenses, apresento-me aqui, metodologicamente, através do processo etnográfico (ECKERT; ROCHA, 2008). Importante que manifeste aqui a dinâmica etnográfica como um exercício do olhar, do escutar e do escrever (OLIVEIRA, 2000), tendo como prerrogativa um deslocamento da minha própria cultura para então me situar no interior do fenômeno observado, que, neste caso, foi o Slam da Quentura.
Essa participação foi efetiva e afetiva em modos de sociabilidade, onde a realidade investigada veio à tona de diferentes formas, seja em potência coletiva, seja em um vislumbrar de promoção de saúde, esta desenvolvida não pelo Sistema Único de Saúde – SUS, não por profissionais de saúde, mas sim por uma manifestação marginal. Como mesmo dizia Bicha Poética, slammer e uma das organizadoras do Slam da Quentura, em muitas de suas falas antes mesmo das apresentações: “slam é cura”.
Passei a entender esse conceito empregado por ela e a importância de uma promoção em saúde deslocada do convencional, uma saúde diferente que parte do desejo coletivo e não de uma imposição, sendo essa uma promoção de saúde marginal, que acolhe jovens de periferia em suas crenças, em suas formas de ser no mundo. A minha imersão no grupo se traduz pela perspectiva Freiriana da prática educativa, pelo modo vivencial do ensino-aprendizagem em que, ao mesmo tempo, o que se ensina também se aprende (FREIRE, 2019). Deste modo, em meio ao conjunto de relações tecidas com os integrantes do Slam da Quentura, entre goles e tragadas de cigarro barato, “troquei ideias” sobre necropolítica, movimento hip-hop, sexualidade, abordagem policial, futebol, ensino superior e sonhos do próprio negócio. Me senti afetado pelo acolhimento de slammers, pela gentileza dos tragos de cigarros, pela embriaguez não apenas do vinho, mas também pelo amor à arte marginal.
Percebi que eu tinha me tornado um pesquisador marginal, pois não acreditava na forma de entender saúde a partir da grande maioria dos professores do mestrado do qual fiz parte, não aceitava uma saúde ligada unicamente ao corpo, uma fisiologia, uma mecânica numérica centrada numa anatomia epidemiológica que afirmava dar conta do sujeito. Saúde se manifesta nas relações subjetivas, no respeito às diferenças, nas formas de alteridade e empoderamento. A saúde não está unicamente nos estudos de revisão integrativa ou sistemática, nas análises de mapeamento de doenças, nos referenciais teóricos compreendidos no meio acadêmico como de saúde. Ela está na Sociologia, na Filosofia, na Psicologia, na Antropologia, nas Artes, na rua, nas periferias e nos lugares onde os/as sujeitos/as podem se reinventar, pois saúde não está ligada a um jaleco branco ou apenas a uma epidemiologia numérica, mas também a diversos tipos de olhares aprofundados que visualizam o ser humano holisticamente e não apenas os sintomas de uma doença.
Embasado neste entendimento de produção de conhecimento e de promoção de saúde é que, neste texto, objetivo compreender a pesquisa e a promoção da saúde sob a perspectiva marginal do Slam da Quentura. Trata-se de uma escrita narrativa, onde coloco em voga minha trajetória como participante de movimentos sociais e culturais, como o Slam da Quentura, e pesquisador da área da Saúde. Descrevo e analiso as potências do viver (GÓIS, 2012) alicerçadas num coletivo periférico, trazendo reflexões sobre os desafios de realizar pesquisa etnográfica em um curso de pós-graduação em Saúde da Família, que perpetua um olhar sobre saúde ainda bastante enrijecido. Além disso, proponho discorrer sobre um lugar afetado pelo Slam da Quentura.
Este artigo tem algumas propostas de debate. Busco nele fomentar discussões acerca do conceito de promoção de saúde marginal desenvolvido em minha pesquisa de dissertação de mestrado, que teve o objetivo de compreender como o Slam da Quentura produzia saúde. Além disso, desejo colocar em pauta nesta escrita o lugar do ser afetado (FAVRET-SAADA, 1990) com a pesquisa, como uma proposta de observação participante modulada pelo compromisso ético-político de conhecer e escutar pessoas (ECKERT; ROCHA, 2008) na interação vivencial em campo. Logo, é uma questão relacional, bidirecional, onde ajo sobre os mundos, o fenômeno e estes agem sobre mim. Aqui esboço uma antropologia simbólico-interpretativa, embasada numa construção intelectual advinda de um fenômeno diverso, plural e conflituoso (GEERTZ, 1989).
À vista disso, as descrições, problematizações e análises, aqui salientadas, devem ser entendidas, também, a partir da configuração proposta e do campo de pesquisa multissituado (MARCUS, 1995), afeitas a um modo relacional de pesquisar e de fazer parte de um coletivo (NASCIMENTO, 2018; OLIVEIRA, 2018) que me propus etnografar. Narrado em primeira pessoa, esse texto busca traduzir minhas vivências no Slam da Quentura, pelo desejo de colocar em evidência caminhos singulares e subjetivos em meio a um movimento social em Sobral, no interior do Estado do Ceará.
O texto está dividido em duas seções. Na primeira, destacarei a formação do Slam da Quentura e suas funções sociais, políticas, afetivas para as pessoas que fazem parte deste coletivo. Na segunda parte, apresentarei o conceito de promoção de saúde marginal a partir das ações desenvolvidas, dialogadas e vivenciadas pelas pessoas dentro do Slam da Quentura.
“Slam é Muita Viagem. Define Assim no Teu Trabalho”: O Slam como Uma Viagem
Em 2018, tive meu primeiro contato com o slam por intermédio de Fran. Ela é slammer e uma das membras da organização do Slam da Quentura, além de atriz, social media e produtora cultural. Nas trocas que tivemos, ela definia o Slam da Quentura como uma “viagem”, como um espaço comunitário, plural, de aprendizado. Esse território, que o slam iria desenvolvendo e se constituindo enquanto comunidade, diz de uma ação contracorrente, pois coloca em pauta um protagonismo, atores, atrizes sociais (MAGNANI, 2002). O ambiente do centro urbano de uma cidade interiorana, como Sobral, produz efeitos sobre a população, esta, em sua grande maioria, pobre não deve ser destaque social. Quem manda é quem detém o destaque, as pessoas que ditam as normas são os detentores do poder (MAGNANI, 2002). Por isso, saliento que essas juventudes do Slam da Quentura são slammers protagonistas e ocupam espaços que, estrutural e simbolicamente, não foram desenvolvidos para esse tipo de público.
Fuini (2014) levanta a pauta de que a territorialização (ou reterritorialização) seria o movimento de desenvolver referenciais simbólicos e identitários (materiais e imateriais) atrelados a um recorte espacial definido, formando, assim, uma unidade. Também é denominado enraizamento territorial e é justamente isso que o Slam da Quentura faz, territorializa, implanta um enraizamento nesse território, na “praça do FB”3.
Num movimento fixo de uma vez por mês (todo último sábado do mês, especificamente), o Slam da Quentura produz atividades que manifestam uma simbologia de identificações que une diversos(as) jovens em torno de objetivos comuns. Em minhas vivências ao longo das edições do Slam da Quentura, constatei uma composição do coletivo que variava: pessoas ligadas aos movimentos hip-hop sobralense, como rappers, b-boys, b-girls, além de sujeitos/as engajados/as nas lutas LGTBQIA+, feministas e curiosos(as).
Essa “viagem” que Fran salientava, quando falava do Slam da Quentura nas nossas inúmeras conversas nas edições e em entrevistas, é caracterizada como espaços experienciais, percepções do vivido, significações, isto é, está atrelada à dimensão cultural-simbólica (SOUZA, 2013). É uma lógica desejosa. Um sábado à noite, em uma praça, jovens de diferentes bairros periféricos de Sobral, se reúnem para recitar poesias? Como diz Fran – “Você consegue se teletransportar, sim, de certa forma, com cada rima, com cada poesia, por esses locais de fala e por cada pessoa, assim.”
A poesia se torna um grito, um ato político, uma exaltação dos lugares de origem, sobretudo quando manifesta a quebrada, a favela, a “perifa”, como uma forma de criar uma nova visão não atrelada apenas à violência e ao tráfico de drogas, mas às potências de vida (GÓIS, 2012; SILVA NETO, 2020). É importante que eu saliente aqui que o slam não se resume a poesias, ele inclui também o poder de informação, além do lazer que se concretiza nos abraços, sorrisos, no beijo na boca, numa troca de olhares, ou mesmo em goles e mais goles de vinho barato. Essa forma de ocupar também é resistência, também é política.
A prática do Slam da Quentura em sua proposta educativa ficou explícita com o relato de Josh, que é slammer e ator. Disse-me que, logo após uma poesia recitada por ele, Bicha Poética, também participante do coletivo, foi ao seu encontro para falar sobre o uso do termo “traveco”. Naquele momento, Josh aprendeu que a expressão era de cunho pejorativo e que o termo certo seria travesti, no feminino: a travesti. Ao me falar sobre isso, percebi o semblante de Josh um pouco envergonhado. Comecei a prestar mais atenção em suas poesias e sua performance durante as edições dos slam´s e ele demonstrava um cuidado maior com as palavras, principalmente as de cunho preconceituoso. Tive a impressão que não apenas os efeitos da conversa com Bicha Poética estava presente em seus discursos, mas também estudos próprios, pesquisados em outras fontes, aperfeiçoados.
Em meio a diversos deslocamentos de meu apartamento para o centro, onde fica a praça onde ocorriam as edições do Slam da Quentura, quase sempre me vinham as indagações dos porquês da escolha de uma praça, no centro da cidade, um local rodeado de aburguesamento e moralismo. Nele, se concentram ainda hoje duas das escolas mais caras da Região Norte, além do prédio da Diocese de Sobral. Em uma das edições, quase sempre após o término do slam, diversas pessoas ainda ficavam concentradas na praça, conversando, fumando e bebendo, “trocando ideias”. Eu quase sempre ficava nestes espaços de vivências e numa delas cheguei a perguntar para Fran o porquê da praça.
Após respondida a pergunta, fiquei a refletir sobre cada palavra emitida por Fran. Das que me chamaram mais atenção foram as de que a praça é um local estratégico. Se o slam ocorresse em algum bairro específico haveria restrições de fluxos de pessoas de outros bairros. Sobral é território marcado pela rivalidade entre facções criminais e, muitas vezes, o tráfego de pessoas entre bairros tomados por este conflito se torna bastante restrito. Além desse fator, ela colocou em pauta esse processo anteriormente mencionado: reterritorialização (FUINI, 2014). A “praça do FB” antes do Slam da Quentura também era composta por jovens de periferia e estudantes das escolas particulares, que ficavam nos seus arredores, porém, a polícia fazia abordagens totalmente diferentes: jovens das periferias eram abordados de uma maneira bastante violenta, bem diferente dos jovens estudantes das escolas particulares. A ideia, então, era trazer arte periférica para aquele local público e reconquistá-lo, dando novos significados. Essas territorialidades são ações coletivas e simbólicas de confronto às estruturas dominantes, aquelas que se manifestam nas entrelinhas, que segregam, matam e oprimem (SOUSA, 2019).
Há nesse espaço uma diversidade de grupos que se identificam com os diversos assuntos tratados por cada slammer nas poesias, mas também com os diálogos durante a noite no slam, transformando a “praça do FB” em um território poético e periférico, mesmo que as atividades do movimento ocorram no centro da cidade (SOUSA, 2019). Acredito que, assim como Vicente Sousa (2019), um dos organizadores do Slam da Quentura, essa territorialização se dá como práxis de resistência desses(as) sujeitos(as).
Djonga, rapper brasileiro, na música Hat-trick (2019), fala: “E dizem que união de preto é quadrilha”. Para uma sociedade alicerçada numa normativa colonialista, eurocêntrica, cis-hétero, embranquecida, o Slam da Quentura representa potencial perigo. Lembro-me da 18º edição do slam, quando neste sábado cheguei à praça, como de costume, antes do início do evento. Ao chegar, me direcionei a um grupo de pessoas, com que eu tinha familiaridade, “troquei algumas ideias”, recebi um livro que tinha emprestado para uma amiga slammer e veio a primeira abordagem policial. De forma discreta, percebi alguns cigarros de maconha sendo colocados dentro de sutiãs. Compreendi que só tinham policiais homens e eles, por lei, não poderiam revistar mulheres. Passados em torno de 30, 40 minutos, veio a segunda abordagem policial. Esta veio com policiais mulheres e com mais força. Falo isso tentando descrever a diferença entre a primeira e a segunda abordagem policial da noite. Nesta segunda, fui abordado também, mas de forma rápida e menos incisiva que os demais.
Em pouco tempo, uma terceira abordagem policial. Desta vez, o slam já tinha iniciado as atividades. Além disso, percebi que nesta insistência policial houve uma severa mudança de postura. Existia mais violência, mais impaciência, mais vontade de encontrar algo errado naquela praça, com aquelas pessoas. Lembro que fui abordado junto a um quantitativo elevado de presentes na praça e recordo também das perguntas repetidas diversas vezes pelos policiais: “Já usou droga?”, “Já foi preso?”. Eu permanecia com o livro em mãos e ele foi revistado e grosseiramente jogado ao chão por um dos policiais. Era patente a frustração dos policiais por não encontrarem nada ilícito na terceira abordagem da noite.
A expressão máxima de uma soberania colonialista é a transmissão e imposição, em grande escala, do poder e da capacidade de ditar quem pode viver e quem deve morrer (MBEMBE, 2017). Eis um exemplo soberano que maximiza as práticas de morte e não me refiro apenas à morte física, mas à simbólica também. Essas abordagens policiais são imposições de uma política de morte que se manifesta na estrutura social brasileira e comunga com um “fazer morrer e deixar morrer” (MBEMBE, 2017, 2018; SILVA NETO, 2020). Mortes simbólicas são estruturas sociais alicerçadas por dispositivos de poder, como o policial, que buscam impedir o lazer, o amor, o afeto de jovens de periferia na praça no centro da cidade.
Ainda na música citada anteriormente, Djonga também fala que pretos reunidos é santuário, este como um espaço sagrado, de celebração e contemplação. Acredito no que Djonga relata na música e compreendo que o Slam da Quentura incomoda bastante. Pensando a partir deste incômodo social, a (re)apropriação da praça como espaço público não apenas reafirma a existência desse público, também potencializa suas formas de ser, agir e pensar no mundo. Práxis contestatórias dentro de formas simbólicas contra uma política de morte (MBEMBE, 2018). São potências de vida ancoradas nas artes marginais, na coletividade, no respeito, no amor e no lazer.
Neste sentido, o lazer é um importante elemento dessa discussão, uma vez que este é parte do viver, concretizando-se como a perspectiva mais agradável e descontraída do cotidiano. Deste modo, as festas, o circo, as partidas de futebol amador, as excursões, as festas de aniversário e de casamento são entretenimentos autênticos que podem potencializar uma via de acesso ao conhecimento de valores, de formas de pensar e modos de vida (MAGNANI, 2003). Esse lazer é político, pois é um processo de organização social, comunitário, que reverbera na sociabilidade de sujeitos/as, nas formas de se fazer saúde e educação, negá-lo a uma grande parte da população brasileira é parte das artimanhas da política de morte (MBEMBE, 2018).
A negação do lazer, como parte da minha própria trajetória de vida enquanto negro recheada de desigualdades, pobreza e exclusão, tornou-se ânsia nos jovens slammers pela busca de espaços de expressão cultural dos excluídos em que eu também passei a me identificar. Desde a minha infância, época em que morei em Fortaleza - CE com minha mãe trabalhando como empregada doméstica, sem carteira assinada, em meados da década de 1990, configurando-se uma trabalhadora precarizada e invisibilizada perante o status quo, percebi que o espaço disponibilizado para meu lazer era um quarto de empregada. Com o passar do tempo, os ambientes públicos que estavam dispostos para mim enquanto criança era a rua. Esta sem quadra de futebol, esburacada, sem grupos que fomentassem a arte, sem nada. Quando adolescente, meu processo de identificação e de revolta, por me negarem meu lazer, foi a música, especificamente o rock e o rap. Comecei a escrever e me identificar com Racionais Mc´s, Sabotage, The Clash, Ratos de Porão, Linkin Park, Eminem, Tupac Shakur. O lazer negado foi, aos poucos, sendo suprido pela arte. As dores da vida, minimamente sublimadas, com a arte de escrever e escutar. Foi com esse tipo de arte que comecei a dialogar com outras pessoas sobre assuntos não comentados em casa nem na escola, como política, racismo, corrupção, amizade e amor. Foi seguindo os meus desejos artísticos pessoais e coletivos que cheguei nos movimentos sociais, de hip-hop, de música, de poesias, como o Slam da Quentura.
Certa vez, li uma poesia de Sérgio Vaz, que é um dos representantes máximos da poesia marginal brasileira. Ele mostrava a ideia do amor, do gostar, como forma de resistência e da importância desse amor ser compreendido como união: “A Periferia nos une pelo amor, pela dor e pela cor” (VAZ, 2008, p. 246-250). O que entendo é que as formas diversas de amor configuradas nesses encontros mensais são formas de viver, são pulsões de vida, que acoplam a cada poesia recitada um potencial de vida que clama e produz afeto, desenvolve saúde a cada abraço dado, a cada troca de olhares, aperto de mãos e aquela frase tão recitada no pós-eleição de 2018 se faz presente: “Ninguém solta a mão de ninguém”. E isto, de fato, é seguido por diversas pessoas que compõe o Slam da Quentura.
O amor que foi vivenciado por mim, junto ao movimento Slam da Quentura, compreendo que é ação, união e transformação. Consegui melhor entendê-lo lendo Bell Hooks (2021), neste caso, o amor como linguagem dentro de um movimento de poesia marginal. Segundo Hooks (2021), o amor é ética dentro das relações sociais, isto é, não pode existir uma fixação por poder e domínio, uma vez que, para que a transformação social ocorra de maneira efetiva, mudanças radicais nas estruturas das relações deveriam ocorrer.
É importante que isso seja salientado, pois faz parte do processo de construção do conceito de promoção de saúde marginal na qual me propus desenvolver na dissertação. Agora, parto de um aperfeiçoamento deste conceito e compreendo que cada abraço, beijo, troca de olhares, riso e/ou poesia declamada no Slam da Quentura existia/existe uma esperança para as juventudes periféricas: potências de vida que buscam reescrever suas histórias em meio a uma opressão diária.
Outro ponto importante a ser colocado aqui é que quando falo de juventudes me refiro às inúmeras formas de ser, agir e pensar sobre esse público. Logo, compreendendo não como algo uniforme, e sim no âmbito das diversidades culturais e das histórias de vida singulares. Por isso, proponho a ideia de juventudes, no plural, partindo da ideia traçada por Bourdieu (1983), que discute o termo como algo não dado, e sim construído socialmente, logo, passível de manipulação. Em outras palavras, quando se define juventude no singular, traçando apenas um aparato biológico como forma de compreensão do fenômeno, há uma banalização. Como já mencionei anteriormente sobre as diferenças de abordagens entre jovens de periferia e jovens de escolas particulares que frequentam a “praça do FB”. Não existe uma juventude, mas sim juventudes perpassadas por questões sociais, econômicas, culturais, políticas, históricas.
Certa vez, conversando com minha orientadora de mestrado, ela me relatou que ouviu de um amigo policial que eles são formados para delimitarem quem representa perigo, manifestando um “olhar clínico” nas ruas e abordando suspeitos. Obviamente, os suspeitos não são jovens de escolas particulares. Quando se percebe as juventudes pobres, negras, como um problema social, potenciais perigosos, constrói-se a representação desses e dessas jovens de forma negativa e que devem ser contidos/as, acalmados/as, vigiados/as (PAIS, 1990).
O que desejo mencionar aqui é que quando eu analiso juventudes levo em consideração diferenças entre elas: orientação sexual, cor, raça, gênero, questões econômicas; sem homogeneizá-las. Quando me permiti compreender mais sobre o Slam da Quentura, dialoguei, buscando compreender as singularidades e diferenças e não as vendo unicamente como membros e membras do Slam da Quentura.
Retornando a questão de reconquista de espaços públicos, como declararam Guattari e Rolnik (1996), o território pode se desterritorializar, e o Slam da Quentura faz isso quando passa a se abrir e engajar-se em linhas de fuga de uma realidade desigual, excludente e pautada em uma política de morte. Com a expressão “linhas de fuga”, jamais me refiro a qualquer forma de fuga de problemas ou a nenhuma espécie de assujeitamento dessas juventudes. Desejo colocar em evidência as atividades de enfrentamento (disputa poética, palco aberto, disputa de mc´s, o próprio lazer inserido nesses espaços), que remetem a uma “viagem”, a uma fuga de uma normativa imposta de forma silenciosa, em que se coloca nas entrelinhas que pessoas de periferia não devem ocupar o centro, devem ficar às margens.
Enfim, a ideia do Slam da Quentura como uma viagem, uma subversão. Se amar transforma a ação, acredito que esta reunião periférica representa uma metamorfose: de uma atmosfera quase que inóspita para a periferia a uma celebração marginal. Eles e elas ousaram amar em tempos de cólera e esta linha de fuga nada mais é que uma viagem, que pulsa vida.
“Um dos Nossos Papéis na Produção do Slam é Salvar a Vida dessa Galera”: A Promoção de Saúde Marginal
Para ilustrar o conceito de promoção de saúde marginal, apresento neste momento Saymon Lopes que, na época do trabalho, tinha 20 anos. Conheci o jovem “trocando umas ideias”, ainda em 2016, no Movimento Fome. Na época, nos falamos pouco, mas percebi que ele já era bastante engajado na luta de movimentos estudantis em sua escola. No slam, percebi que Saymon fazia parte da organização. Quando entrei em contato para marcarmos uma entrevista, prontamente respondeu com muito zelo e de forma atenciosa para com a solicitação.
Marcamos uma conversa mais longa. Dessa vez, em uma praça de alimentação de um supermercado, espaço facilitado pela sua centralidade, em uma cidade que tem seu fluxo de pessoas e comércios concentrados nos arredores do Boulevard do Arco. Era uma tarde quente. Por isso, aproveitamos a climatização artificial do supermercado, como local estratégico para uma longa e instigante conversa versando sobre assuntos como sexualidade, movimento social, pobreza e arte. Nascido em Fortaleza, ele veio para Sobral com sua família por conta de problemas financeiros. Em meio a conflitos familiares e problemas de sustento diário, Saymon foi vivenciando o seu cotidiano recheado de desigualdades.
Conversamos por uma tarde quase toda no supermercado, mesmo após o término da entrevista. Saymon mostrou-se um verdadeiro tagarela e isso foi muito importante para nos conhecermos e nos identificarmos com situações de vida. A violência familiar perpassada por alcoolismo e como isso produziu impactos em nossas histórias de vida. Como a necessidade de comida fez com que passássemos uma boa parte do dia na escola, local que usávamos não só para estudar, mas também para comer. A briga que era na fila do recreio na escola quando sabíamos que o lanche era macarronada, a comida mais disputada pela maioria dos estudantes. Demos belas risadas ao recordarmos de situações como essas, embora de cidades e escolas diferentes, existiam algumas semelhanças.
E é aqui que inicio as ideias propostas acerca do conceito de promoção de saúde marginal. Saymon e outras pessoas, assim como eu, sentíamos a necessidade da criação de espaços para as juventudes empobrecidas, nos quais elas atuassem não como potenciais de criminalidade, e sim como protagonistas de suas histórias e de suas artes. Locais de lazer, aquele lazer que me foi negado durante bom tempo da minha vida. Não só para mim, um jovem filho de um agricultor familiar e de uma empregada doméstica, mas também para uma grande parcela de juventudes pobres, negras, periféricas, de zonas rurais.
Existia não apenas uma fome fisiológica, mas uma fome de voz, uma fome de existência (KILOMBA, 2019; SILVA NETO, 2020). O desejo de ser reconhecido(a), de mudar as realidades individuais e coletivas de pessoas que se encontravam de forma semelhante em condições de vida, sedentas por visibilidade, famintas por existência, exaustas por tantas negações de direitos.
A luta por lugares de fala e de escuta fez com que Saymon se inserisse na organização do Slam da Quentura. Tendo isso em vista, manifesto, agora, a ideia de promoção de saúde marginal, que consiste em uma práxis de transformação social, isto é, em ações atreladas à promoção de saúde por meio dos desejos daqueles(as) que, ao buscarem transformar a realidade dos(as) outros(as), transformam-se a si mesmos(as). Em outras palavras, promover saúde marginal é ir onde o SUS não consegue chegar, é sofrer na pele as mais diversas formas de exclusão, desigualdade e empobrecimento e, mesmo assim, desenvolver propostas em prol de uma coletividade (SILVA NETO, 2020).
Com esta perspectiva, jovens buscam reescrever suas histórias, produzindo arte, mas não é qualquer arte, esta é a marginal. Pensando sobre minhas vivências com o Slam da Quentura, fui afetado por várias ações e também por este termo, esta expressão, pois nada mais justo que usar de um conceito pejorativo e ressignificá-lo: “nos chamam de marginal e nós somos mesmo marginais e fazemos poesia marginal, arte marginal”, disse-me Fran certa vez, dialogando comigo pós-evento. Então, me afetei ao ponto de me entender como um pesquisador, mas não aquele que vive na norma, seguindo os ditames violentos e eurocêntricos de uma pós-graduação em saúde, de uma suposta isenção de um “eu pesquisador”, de não fazer um campo coletivo e sim individual, afastado do fenômeno, de uma negação subjetiva. Com o Slam da Quentura, tornei-me um pesquisador marginal, que de perto e de dentro buscou fazer uma etnografia, uma vivência urbana (MAGNANI, 2002).
A etnografia me permitiu vivenciar o Outro, a partir de uma perspectiva de alteridade, conhecendo-o, se familiarizado, aprofundando os laços afetivos (ECKERT; ROCHA, 2008). Observei e escutei o Outro, isto é, vivenciei uma interação face a face, quando estava imerso não apenas nas edições do Slam da Quentura, mas nas entrevistas, nos diálogos pós-slam, nos rolês sobralenses regados a vinhos, cigarros e afetos (ECKERT; ROCHA, 2008). Essa trajetória me possibilitou um Semantical Gap (OLIVEIRA, 2000), pois me permitiu uma relação sobre as experiências, essas descobertas com o Outro.
Assim como aponta Narahara (2020), ao falar de sua experiência enquanto mulher negra e do candomblecista em território Mapuche, manifesto minha experiência enquanto negro de pele clara, de movimentos sociais, escritor e slam master do slam Resistência JV. E reafirmo o que ela trouxe em sua experiência sobre a importância de se fazer uma pesquisa antropológica afastada de um modelo branco (NARAHARA, 2020).
Eu, enquanto pesquisador, retornei a mim mesmo nesta descoberta vivencial com o Slam da Quentura, pois o processo de desejo de pesquisa veio a partir da minha história de vida e de luta contra as opressões, contra a política de morte. Reconheci-me ao me relacionar com o campo, nas diferenças, nas relações de valores diferentes, do estranhar o Outro, ao mesmo tempo de me reconhecer neste processo de relativismo cultural (OLIVEIRA, 2000).
Ao expor esse conceito, promoção de saúde marginal, não tenho a intenção de romantizar vulnerabilidades ou destacar uma ideologia do desempenho individualista, essa baseada na “tríade meritocrática” – qualificação, posição e salário, que busca estimular e premiar a capacidade de desempenho objetiva e individual bem como legitimar o acesso diferencial de oportunidades na vida (KRECKEL, 2004). Em outras palavras, essa base meritocrática trabalha com a categoria individual de ações sem levar em consideração a biografia da pessoa nem as suas condições de constituição social, econômica, cultural e política.
O que desejo salientar nesta seção com o conceito é especificar que, dentro destes comportamentos e ações, a poesia não é apenas um luxo literário, mas sim uma necessidade de fala/escuta, de colocar para fora as opressões que maltratam e as angústias que perseguem o cotidiano das inúmeras juventudes periféricas numa espécie de catarse (SILVA NETO, 2020). É escutar a poesia de um e/ou uma slammer e “trocar uma ideia” sobre como ela foi impactante e trouxe informações que geram reflexão e que, muitas vezes, não são discutidas em nenhuma escola, família (SILVA NETO, 2020). Como afirma Saymon, é um salvar vidas de um grupo: “é uma galera que não tinha perspectiva de vida. E lá, no slam, com as poesias, com o que a gente vai falando, trocando ideia, trocando papo, a galera vai vendo a vida de um jeito diferente. Um dos nossos papéis na produção do slam é salvar a vida dessa galera.”
Acredito na importância de um movimento cultural, da poesia falada, ou, como as próprias pessoas do slam relatam, nos embalos de sábados à noite, da “poesia marginal”. Em relação ao “salvar vidas”, destaco que não é um salvar eurocêntrico, embranquecido e católico, que prega a salvação da alma através da culpa pelo pecado (SILVA NETO, 2020). Nas vivências enquanto pesquisador e participante no movimento Slam da Quentura, percebi que essa ação diz respeito às mudanças na vida das pessoas que usufruem da poesia marginal, do tráfico poético. A palavra “tráfico” tem uma história de ilegalidade e crueldade. É resultado de relações racistas, mas aqui a uso na contramão da história, afetado pelo Slam da Quentura. Assim como o termo “marginal”, são expressões com uma nova roupagem, que manifesta formas de resistência e reconfiguração linguística simbólica. Dessa forma, “tráfico poético” é usado como maneira de manifestar a práxis marginal de conhecimento através de poesias e levar informações, um tráfico de informações e reflexões para aqueles e aquelas que fazem o Slam da Quentura (SILVA NETO, 2020).
O Slam da Quentura não é apenas um momento a cada mês em que pessoas se reúnem para recitar poesia. É bem mais que isso. São espaços de re(ocupação), de lugar de fala e escuta, de protagonismo social e exercício de cidadania ativa (DEMO, 1996). São também momentos de celebração, de amor, de paquera e de desenvolvimento de novos laços. Isso se configura como uma promoção de saúde marginal, pois a saúde não se dá unicamente na vida silenciosa dos órgãos, mas também nas relações sociais, como diz Canguilhem (1995, p. 26): “é também a vida na discrição das relações sociais.” Essas relações são pautadas na alteridade, na práxis, em que o conhecimento informal adquirido ao longo das reflexões sobre poesias, dos diálogos regados por vinho barato e cigarros, geram novos modos de pensar, agir e ser na vida, resistindo a um modelo hierárquico que dita o que é cultura.
É um movimento subversivo porque não é compreendido como padrão, haja vista que as poesias declamadas são cruas e nuas, não há “meio termos” e os/as declamantes falam do jeito que desejam, sem medo de serem repreendidos(as). É evidente que existem diferenças e conflitos nestes processos de falarem sobre o que pensam e desejam. O grupo não aceita ações que ferem a ética, que oprimem o outro. Como disse Fran em um dos inúmeros diálogos: “a gente não aceita pederastia4, a gente não aceita e busca dialogar quando presencia uma misoginia, um racismo velado.”
Dessa forma, rasga-se o véu de uma boa vontade cultural. Esse conceito se pauta numa escolha frequente e incondicionada de testemunhos/as passivos/as culturalmente, como escolha de amigos/as que “possuem educação”, gosto por cerimônias educativas formais, frequentemente acompanhados de um sentimento de indignidade, como “a pintura é bonita, mas é difícil”, elencando-se um refinamento cultural (BOURDIEU, 1983).
A boa vontade cultural tem relação com uma incorporação de práticas culturais consideradas legítimas. Na contramão disso, o que o Slam da Quentura objetiva é justamente uma resistência a essa sistemática de violência simbólica, definida como uma imposição cultural (arbitrário cultural) de um grupo (com poder) como a verdadeira e única forma de cultura existente (BOURDIEU, 1989). Essa violência hierarquiza determinadas manifestações culturais, como a música erudita ser compreendida como um gosto cultural requintado, rebuscado, verdadeira arte, a melhor.
No campo específico da música erudita, por exemplo, só um longo processo de familiarização com esse tipo de linguagem permite que seja capaz de desenvolver uma percepção puramente estética. As pessoas submetidas a esse processo comumente acabam adquirindo uma intimidade tão grande com a linguagem erudita que têm a ilusão de que efetivamente existe algo intrínseco à própria música que lhe confere um atestado de qualidade (e não de que essa qualidade seja mera convenção social) (SCHROEDER, 2014).
Segundo Maria Nogueira e Cláudio Nogueira (2016), existe uma estratégia de negação da cultura dominante, dita erudita, na qual há a valorização de uma tradição “dominada”. Partindo desta prerrogativa, desejo remodelar a nomenclatura “dominada”. Não é dominada porque há resistência à dominação, então não existe dominância por completo, haja vista os focos dentro dessas manifestações que são destacadamente resistentes à cultura normativa. Rejeito as perspectivas de compreensão das juventudes periféricas como possíveis objetos, que são baseadas numa tradição histórica racista e passiva, de assujeitamento, portanto, defino aqui como culturas resistentes e não tradições dominadas. Como bem falou Saymon quando conversei com ele naquela tarde quente de Sobral sobre um outro objetivo do slam, além do salvar vidas:
Eu acho que o outro objetivo do slam é mostrar que na periferia também tem talento, né?! Porque eu acho que a gente tem. Tem aquela ideia de que tudo que é bom é o que vem do centro pra dentro dos bairros. A galera sempre quer prevalecer tudo que vem do centro pra dentro da periferia, a gente quer enaltecer. E a galera que é de lá, que faz seu trampo, faz seu corre lá dentro... a gente passa despercebido, né?!
O Slam da Quentura é composto por inúmeras pessoas de vários bairros periféricos de Sobral, que, em dado momento, sentiram a necessidade de se organizar como movimento de juventudes em prol de reconhecimento, lugar de fala, escuta e espaços de lazer. A negação de inúmeros direitos, como saneamento básico, moradia, alimentação, saúde e educação de qualidade são ações propositais baseadas em políticas de abandono, de morte, do “deixar morrer e fazer morrer” (MBEMBE, 2018; SILVA NETO, 2020). Em meio a isso, as juventudes pautam seus desejos e conseguem legitimar e (re)ocupar espaços retirados de forma violenta, coercitiva. Logo, são culturas resistentes e não tradições dominadas (SILVA NETO, 2020). Não apenas um negar de uma cultura dominante, mas também existem formas de amor, celebração em família, esta para além daquela nuclear entendida como pai e mãe, é uma constituição coletiva percebida como um ambiente essencial para compreender o valor de poder viver em comunidade (HOOKS, 2021). O amor, neste caso, ultrapassa a visão romântica que nos é ensinada, o amor que percebi no Slam da Quentura compreende a ideia de transformação.
Foi possível perceber que, desde sua gestação, o SUS foi perseguido por uma doutrina neoliberal, que, aliada às limitações do Welfare State nos países europeus e à crise econômica de 2008, representa sério obstáculo para o manifesto de sistemas universais de saúde (PAIM, 2018). Além disso, as propostas de patrocínios de organizações internacionais em relação à cobertura universal em saúde ratificam a doutrina neoliberal, fragilizando as diretrizes e princípios do SUS. A mídia direciona críticas ao sistema de forma constante e os vastos interesses econômicos contrários dos planos de saúde e indústrias farmacêuticas fazem com que o SUS sofra resistência e entraves em suas atividades, princípios e diretrizes (ANDRADE; BARRETO; BEZERRA, 2006; CZERESNIA, 2003; PAIM, 2018).
Dessa forma, o SUS não consegue produzir políticas de construção coletiva que se baseiem nas necessidades das pessoas pobres, como as demandas de juventudes periféricas, negras, pobres, interioranas. Daí o surgimento de uma promoção de saúde compreendida como marginal. Isso por ser produzida através das periferias, dos desejos das juventudes empobrecidas, que de forma precoce e, muitas vezes, desesperada, precisaram desenvolver estratégias para sobreviver a um sistema político pautado na morte a determinados grupos sociais (SILVA NETO, 2020). Porém, para além de uma sobrevivência, essas juventudes do Slam da Quentura vivem, sonham, se afetam, amam. Isso não pode se resumir a estratégias de sobrevivência. É sobre viver também, construir de forma coletiva, subjetiva.
Em uma das edições do Slam da Quentura fui escolhido por Saymon para ser um dos jurados da Disputa Poética. Recordo-me que ficava bastante nervoso para mencionar as notas após cada apresentação e o grito “Credo!” ecoado pela plateia por cada nota abaixo de 10 me deixava aflito. Até que Saymon veio falar comigo e me disse ao ouvido: “não liga pro credo, você tem que colocar nota quebrada mesmo. Senão vamos passar a noite toda aqui”.
Ao final desta edição da disputa, Bicha Poética e Fran vieram falar comigo, agradecendo e relatando que, embora eu parecesse nervoso, tinha me saído bem. Trocando algumas ideias, regadas por vinho Vale Real e cigarros Lucky Strike, percebi nos olhares, semblantes e afetos ali manifestados também pós-slam, que não era apenas uma questão de sobreviver. Era também experiências, formações de vínculos, construções afetivas e de conhecimentos, logo, era sobre viver e não apenas sobreviver.
Às vezes, tenho a impressão que a academia coloca a periferia apenas como um lugar de tragédia, mazelas ou resistência, mas esta luta apenas num campo minado de sobreviver às forças violentas do tráfico, da pobreza. É como se as favelas mesmas desenvolvessem violências. Mas acredito que estes locais respondem à violência estatal, a um projeto político burguês arquitetado desde o processo colonial e que foi, com o tempo, se sofisticando ao ponto de muitas pessoas acreditarem que o principal vilão da história é a própria favela, lugar de violência, representante máximo do perigo.
A promoção de saúde marginal é um conceito que mantém relação com uma proposta desejosa coletivamente. Com espaços de fala, escuta, logo, de transformação ética, política, social, educacional. É saúde porque traz à tona as manifestações de dores, mas também de amor. As juventudes periféricas são protagonistas, elas vivem, pulsam vida, são potências do viver e não apenas do sobreviver (GÓIS, 2012).
Levando em consideração tudo que já debati até aqui, apresentarei Neto Duarte. Meu primeiro contato com ele foi no próprio slam. Percebi que a poesia que ele fazia tinha um teor alegórico, metafórico e o impacto disso no público era diferente. Existiam poesias já conhecidas por uma grande parte do público presente. Fiquei curioso. Tive a impressão que ele já era um velho conhecido da galera.
Quando entrei em contato com Neto, via Facebook, ele demorou bastante para responder. Passei quatro dias sem resposta. No quinto dia, ele respondeu já se desculpando pela demora. Relatou que estava trabalhando bastante e não gostava muito de redes sociais. A conta do Facebook era mais usada por sua esposa. Conversando com ele, consegui marcar uma entrevista na Margem Esquerda do Rio Acaraú, local bastante conhecido, onde pessoas praticavam esportes, faziam piqueniques, bebiam, fumavam, namoravam, espaço de lazer.
Durante a entrevista, sentados na grama, por volta das nove da manhã, percebi Neto se soltando aos poucos, até ficar bastante confortável. Ele me indagou se poderia acender cigarros se não fosse um incômodo para mim. Assenti positivamente e começamos dialogando sobre a sua vida, o slam e os projetos futuros. Quando Neto destacou a questão de “dar voz e vez”, fiquei reflexivo. Ainda escrevendo sobre essa proposta, comecei a entender que não seria exatamente “dar voz”, mas proporcionar espaços coletivos para que essas vozes ecoassem, daí a ideia de “dar voz e vez”. Retornando a questão de (re)conquista da “praça do FB”: não é apenas geográfica, mas também simbólica. É no centro também que tais vozes devem ser escutadas e ecoadas, potencializadas (SILVA NETO, 2020).
Esses encontros nos slam trazem questões de amparo e de lugar de escuta/fala, relatos que podem ser ouvidos através da poesia, crua, nua, sem preciosismos. Por vezes, acompanhei as edições e visualizei que, após a declamação de poesias, há choros de desabafo e alívio por conseguir ir ao centro do anfiteatro e relatar suas emoções, seus engasgos. A fome de voz (KILOMBA, 2019) sendo, minimamente, suprida, porém com um pesar, haja vista que falar sobre si não é uma tarefa fácil, ainda mais falar sobre si para um público. Isso também se insere na questão da promoção de saúde marginal, pois falar e ser escutado(a) é promover saúde, é terapêutico, principalmente no que diz respeito às pessoas que não possuem espaços adequados para serem escutadas, que foram negadas de seu lazer.
Sobre os vários sentidos que o Slam da Quentura me proporcionou e proporciona, acredito existir uma referência a essas sensações, esses impactos que me foram relatados não por slammers, mas também ouvindo e observando pessoas na praça, simpatizantes, curiosos, que passaram a frequentar com afinco as edições. É uma territorialização de sentidos, em que formas simbólicas por meio da arte são manifestadas, (re)ocupando espaços públicos e potencializando vidas (SILVA NETO, 2020). Para Silva Neto (2020), o Slam da Quentura é sua vida e uma maneira de ser mais reconhecido pelas suas artes: “Vida que eu sempre quis gritar. Nunca fui um cara muito de conversar sobre o que eu tava passando, então o slam também me deu voz, me deu vez, me fez eu ser conhecido em Sobral. Era conhecido por espetáculos, mas em um grupo seleto de pessoas”.
O grito representa saúde, a qual, infelizmente, as políticas públicas não conseguem abarcar. Vozes que passam a exercer uma cidadania ativa, rompendo, paulatinamente, a pobreza política (DEMO, 1996). Com essa discussão, fica evidente que a poesia marginal e as relações sociais desenvolvidas na praça do FB pelas atividades do Slam da Quentura são potencializadoras de novos sentidos, na medida em que promovem saúde e novas percepções de vida e trazem uma educação reflexiva informal.
Desejo encerrar esta sessão apresentando, brevemente, uma outra questão, esta vinculada a minha vivência na pós-graduação. O mestrado que fiz parte ainda entendia saúde com uma perspectiva restrita, vinculada a uma epidemiologia, dados numéricos, colocando em cheque uma maneira objetiva e medicalizante. Durante as aulas, fui percebendo que a pesquisa que eu estava buscando trazer não era bem vista pela grande maioria de professores/as, estes/estas eram médicos, enfermeiras. Senti-me confuso, por vezes, do porquê de tais pessoas não compreenderem que saúde também é subjetiva, se manifesta nas relações sociais. Com o tempo, fui percebendo o enrijecimento, as chacotas disfarçadas de brincadeira proferidas por alguns colegas de mestrado para com minha pessoa e o que eu representava: pobre, bolsista e pesquisando sobre um movimento de poesia marginal. Eu era a contracorrente, o incômodo instalado numa rotina de pós-graduação eurocêntrica, embranquecida e normativa, logo, violenta.
Portanto, o que tento trazer neste artigo é que promoção de saúde marginal é a contracorrente do fazer saúde, porque demonstra uma proposta comunitária, coletiva e plural. É uma saúde a partir das relações, entendendo-a como um fenômeno social, político, econômico, ético, geográfico, simbólico, artístico, cultural. Para além disso, é uma ação poética, uma atividade cultural, uma práxis educativa, amorosa, dialógica (FREIRE, 2019). O SUS não deve se apropriar do Slam da Quentura, como afirmou um membro da banca de minha defesa de dissertação. O SUS deve aprender com o slam como ampliar as formas de fazer saúde, como se pode transformar políticas de morte em emancipação humana.
Considerações Finais
Ao longo das discussões, objetivou-se trazer à tona a minha experiência de campo, colocando em evidência como o Slam da Quentura produz saúde marginal. Meu desejo foi ancorar discussões mais aprofundadas das vivências de pesquisa e participante do slam, colocando em evidência não mazelas, desigualdades, pobreza. Tive o cuidado de destacar as juventudes sobralenses de periferias, a existência de amor, coletividade e resistência a uma política de morte que escolhe quem vive e quem deve morrer.
Com este artigo, pretendi discutir sobre saúde a partir do desenvolvimento de espaços de escuta e manifestação das mais diversas artes, destacando em específico a arte marginal, periférica. Além disso, problematizei o curso de pós-graduação do qual fiz parte, colocando em pauta o fazer pesquisa em um mestrado que possui uma visão ainda bastante enrijecida e eurocêntrica sobre saúde.
Trouxe diálogos primordiais para que haja uma compreensão acerca das ações, demostrando que elas devem partir das pessoas que as desejam e não impostas. Daí a importância de entendimento sobre o desenvolvimento de políticas públicas com a população e jamais traçadas por uma hierarquia necropolítica, que mina cada passo das juventudes pobres, negras, periféricas, buscando destruir a liberdade de escolha, matando os direitos de cada sujeito(a).
Com esta escrita, também pretendi alertar sobre a necessidade de mais pesquisas sobre as periferias, as juventudes negras e empobrecidas, compreendendo-as como potências e não oriundas de mazelas, apontando unicamente desigualdades, pobreza e exclusão. Poetas, poetisas e poetes, slammers são protagonistas, reescrevendo suas histórias, assim, como reescrevi a minha. Essas histórias reinscritas a partir da arte marginal.
Enfim, esse escrito atravessa minha história e alcança os afetos a partir do Slam da Quentura. É um trabalho que representa a antítese da necropolítica, a contracorrente da visão biomédica. Em uma sociedade capitalista ancorada em uma necropolítica, lutar por uma comunidade justa e libertadora é um movimento cotidiano de resistência e existência, buscando matar constantemente a fome de voz que nos assola.
Referências
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Notas
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