Resumo: O objetivo deste artigo foi propor um conjunto de elementos que caracterize as universidades empreendedoras. Foi revisitada a literatura, desde os artigos seminais até 2017 e, partindo de 289 estudos pesquisados, foram selecionados e analisados 13 artigos de forma qualitativa para a proposição do modelo teórico, os quais possibilitaram a compreensão das características das universidades empreendedoras. Os elementos teóricos foram agrupados e relacionados em dimensões que, após serem refinados, embasaram a proposição do modelo teórico para análise empírica das universidades empreendedoras. Esta análise possibilitou a compreensão das características das universidades empreendedoras que se transformam para atender às demandas da sociedade. Espera-se que os resultados apresentados e discutidos possam auxiliar as universidades na ampliação de seu papel social, juntamente com seu ecossistema empreendedor, e na adoção de ações voltadas para o desenvolvimento local, regional, nacional e internacional, integrando ensino, pesquisa, extensão e inovação. Como contribuição acadêmica, este estudo relaciona as características das universidades empreendedoras e integra essas características em dimensões para compreensão das diferenças entre as universidades tradicionais e as empreendedoras, e pode servir de ponto de partida para outros estudos empíricos. Destaca-se a necessidade de pesquisas empíricas futuras para validar os elementos identificados e/ou agregar outros elementos que possam compor uma universidade empreendedora.
Palavras-chave: Universidade empreendedora, Dimensões de universidade empreendedora, Empreendedorismo no meio acadêmico.
Abstract: The objective of this article was to propose a set of elements that characterize entrepreneurial universities. We revisited the literature from the seminal articles until 2017 and, starting from 289 studies. After that, we selected and analyzed qualitatively 13 articles for the proposition of the theoretical model, which made possible the understanding of the characteristics of the entrepreneurial universities. We grouped the theoretical elements and related them into dimensions that, after being refined, supported the proposition of the theoretical model for empirical analysis of the entrepreneurial universities. This analysis made it possible to understand the characteristics of the entrepreneurial universities as a way to answer demands from society. The results presented and discussed can help universities to expand their social role, with their entrepreneurial ecosystem, and to adopt actions aimed at local, regional, national and international development, integrating teaching, research, extension and innovation. As an academic contribution, this study links the characteristics of entrepreneurial universities, integrates these characteristics into dimensions for understanding the differences between traditional and entrepreneurial universities, and can serve as a starting point for other empirical studies. We suggest future empirical researches to validate the identified elements and/or to add other elements that could compose an entrepreneurial university.
Keywords: Entrepreneurial university, Dimensions of entrepreneurial university, Entrepreneurship in academy.
Universidade Empreendedora: Proposição de Modelo Teórico1
ENTREPRENEURSHIP UNIVERSITY: PROPOSITION OF THEORETICAL MODEL
Recepción: 28 Agosto 2018
Aprobación: 19 Marzo 2019
As teorias sobre empreendedorismo expandiram e destacaram-se nas últimas décadas. Ao mesmo tempo, as universidades também promovem um esforço para remodelar seus papéis e serem empreendedoras, a fim de servirem à sociedade na qual estão inseridas e serem acessíveis a todos.
O empreendedorismo e a educação são duas oportunidades que precisam ser alavancadas e interligadas para desenvolver o capital humano necessário para construir as sociedades do futuro (VOLKMANN et al., 2009), uma vez que o empreendedorismo é o motor que alimenta a inovação, a geração de emprego e o crescimento econômico e social.
A expressão “universidade empreendedora” foi utilizada pela primeira vez por Clark (1998), em seu estudo Creating entrepreneurial universities: organisational path of transformation, que a define como aquela que realiza mudanças em sua estrutura e em sua cultura organizacional – reforçando seu núcleo de direção – que inova seus currículos, seus programas, suas fontes de financiamento – visando a engajar-se em um sistema social com um futuro promissor. Para esse autor, a universidade empreendedora é mais social e busca ser inovadora, tornando-se mais proativa, flexível e dinâmica na gestão de suas relações com a economia e com a sociedade, mesmo correndo riscos.
Gibb, Haskins e Robertson (2013, p. 25), citando Todorovic et al. (2005) e Wenger (1998), afirmam que as universidades enfrentam um grande desafio e também novas oportunidades na criação de uma cultura empreendedora, uma vez que a massificação da educação, o financiamento público limitado (e decrescente), a competitividade global e as demandas em constante mudança da economia do conhecimento, fazem com que as instituições de Ensino Superior sejam mais sensíveis ao desenvolvimento socioeconômico ambiental e, consequentemente, às atividades empreendedoras (SAM; VAN DER SIJDE, 2014).
Embora tenha sido concebida inicialmente como uma instituição transmissora do conhecimento, a universidade, mais tarde, adotou a função de geração de conhecimento (pesquisa), adquirindo uma “segunda missão” (ETZKOWITZ, 2003). Nas últimas décadas, as universidades passaram a adquirir a “‘terceira missão”, contribuindo para a sociedade e o desenvolvimento socioeconômico de maneira mais direta, transformando-se em uma universidade empreendedora (ETZKOWITZ, 2003, 2004).
Ampliar o foco das universidades tradicionais – baseados no ensino e pesquisa, “agregando à sua missão a atuação direta no processo de desenvolvimento econômico, cultural e social da sociedade” (AUDY; FERREIRA, 2006, p. 418) –, é o grande desafio de muitas universidades atualmente, uma vez que a universidade empreendedora pode ser agente público global, ou seja, proporcionar o desenvolvimento das comunidades local, regional, nacional e internacional, por meio da criação de valor público (WEERTS, 2007; GIBB; HASKINS; ROBERTSON, 2013).
No Brasil, a educação superior tem o papel social de promover a formação cidadã (BRASIL, 1996), principalmente no cenário atual – nominado de sociedade do conhecimento, mundo da informação e era da globalização – que apresenta desafios que impactam no modo de ser das universidades, na estrutura administrativa, nos currículos, na gestão financeira e na qualidade das pesquisas, rompendo fronteiras para a disseminação do conhecimento.
Identificar quais elementos são necessários para transformar uma universidade tradicional em uma universidade empreendedora é o objetivo deste artigo. Esta proposta de estudo contribuirá para responder como se configuram as universidades empreendedoras e apresentar um modelo teórico, a partir da literatura, sobre os elementos teóricos que compõem e caracterizam as universidades empreendedoras. Para tanto, optou-se pelo estudo de caráter teórico que contemplou a análise lexical e de conteúdo, a fim de avaliar a literatura mais abrangente sobre o tema, de modo a orientar futuras pesquisas sobre o modelo de universidade empreendedora.
Assim, o presente estudo está estruturado inicialmente com esta introdução, seguida da fundamentação teórica sobre universidade empreendedora. Após, é apresentada a metodologia empregada neste estudo e os resultados analisados empiricamente e discutidos ao final, além das referências bibliográficas empregadas na pesquisa.
Esta seção fornece uma visão geral da literatura existente e dos debates associados às conceituações contemporâneas sobre as universidades empreendedoras. Embora o campo da literatura seja extenso, esta visão geral revela uma lacuna crescente entre os debates sobre a expansão do termo empreendedorismo e a ampliação dos papéis exercidos pelas universidades.
Na literatura, é possível encontrar várias definições sobre universidade empreendedora e suas características. Encontrar uma definição única para universidade empreendedora, no entanto, é difícil e controversa, pois existe uma inestimável pluralidade de abordagens que distingue o estilo empreendedor em um processo multifacetado de melhoria contínua, portanto é complicado definir diretrizes rígidas para a sua execução (OCDE, 2012), dado que a diversidade das abordagens empreendedoras tomadas pelas universidades é uma das características mais importantes do conceito (FAYOLLE; REDFORD, 2015).
Na Tabela 1 são apresentados alguns conceitos sobre universidade empreendedora identificados na revisão da literatura, desde os artigos seminais até 2017.

Baseando-se nos conceitos apresentados na Tabela 1, pode-se inferir que uma universidade empreendedora é um conjunto de características institucionais adaptadas e orientadas para um comportamento empreendedor (CLARK, 1998).
Diferentemente da universidade tradicional, que se preocupa apenas com ensino e pesquisa para si mesma (ETZKOWITZ, 2003), a universidade empreendedora é uma instituição com capacidade de mudar, inovar, reconhecer e criar oportunidades (KIRBY, 2002; GUERRERO; KIRBY; URBANO, 2006). Faz parte de um ecossistema empreendedor (ISENBERG, 2011) e seus gestores e demais membros são proativos, dispostos a assumir riscos e responder aos desafios (SUBOTZKY, 1999, BRATIANU; STANCIU, 2010), visando a seu desenvolvimento interno (organizacional) e externo (seu entorno) (CHRISMAN; HYNES; FRASER, 1995; RÖPKE, 1998; ETZKOWITZ et al., 2000, JACOB; LUNDQVIST; HELLSMARK, 2003; GUENTHER; WAGNER, 2008), criando valor público (WEERTS, 2007; GIBB; HASKINS; ROBERTSON, 2013).
As mudanças supradescritas oferecem oportunidades bem como ameaças que levam à busca de parcerias nacionais e internacionais na construção de redes mais amplas de relacionamentos para aprovisionamento e aplicação de conhecimentos e para a busca de recursos financeiros (MOROZ; HINDLE, 2012). A pressão para a prestação de contas em termos de valor público também cresceu consideravelmente, continuam esses autores, uma vez que as universidades contribuem para o desenvolvimento econômico e social nacional, regional e local, na qualidade de ensino e na mobilidade social (MOROZ; HINDLE, 2012).
Yokoyama (2006) observou que as universidades envolvidas em atividades empreendedoras buscaram autonomia e passaram por mudanças organizacionais para responder às demandas internas e externas, que também exigiram parcerias com o setor privado. A realização de atividades empreendedoras, no entanto, não transforma automaticamente uma universidade em empreendedora, poios somente quando essas atividades criam valor agregado a sua missão e vice-versa é que se configura uma universidade empreendedora.
Com o propósito de identificar um modelo teórico sobre as universidades empreendedoras, foi revisitada a literatura sobre a temática, principalmente seus modelos e características. Para tanto, foi necessário adotar alguns critérios relativos à busca bibliográfica, seleção de artigos, definição de dimensões analíticas e enquadramento dos trabalhos de acordo com tais dimensões. Conforme Mayer (2009), as revisões sistemáticas são textos científicos autônomos que têm o objetivo de realizar uma análise crítica e construtiva da literatura em um campo específico por meio da classificação, análise e comparação de um determinado tema.
O exame da literatura baseou-se nas diretrizes apontadas por Mayer (2009) e Cochrane (2012). Em princípio, foi consultada a base Scopus, pela seleção do termo “entrepreneur* universit*” (entre aspas), que se concentrou desde os estudos seminais até julho/2017, totalizando 254 artigos. Além disso, foram inclusos dois livros: Handbook on the entrepreneurial university (FAYOLLE; REDFORD, 2014) e Inovação e empreendedorismo na universidade (AUDY; MOROSINI, 2006), totalizando 289 trabalhos.
Nessa etapa específica para extrair os elementos que caracterizam as universidades empreendedoras, os títulos, autores, periódicos e anos desses 289 estudos, foram digitados em planilha Excel e inseridos no software Sphinx® Survey versão 5.1.0.4.
A partir da análise lexical nos títulos, palavras-chave e abstract, foram selecionados 42 artigos que continham as palavras “modelo”, “framework”, “construção”, “desenho”, “arquitetura”, “anatomia”, “delineamento” e outras correlatas, a fim de identificar os elementos que caracterizam as universidades empreendedoras. Nem todos os artigos dessa primeira seleção, no entanto, continham os elementos para atender ao objetivo deste estudo. A busca foi ampliada a outras bases de dados e, ao final desta, foram selecionados 13 artigos que atendiam ao propósito deste estudo (Tabela 2).

Foi realizada a análise de conteúdo para identificação de elementos, fatores e características para proposição do modelo teórico. Esses elementos teóricos foram agrupados e relacionados em dimensões que, após serem refinados, embasaram a proposição do modelo teórico para análise empírica das universidades empreendedoras.
Nesta seção, inicialmente serão apresentados os elementos identificados na revisão sistemática da literatura que caracterizam as universidades empreendedoras, evidenciados na análise dos estudos publicados até dezembro de 2017. Na sequência, é apresentado o modelo teórico de universidades empreendedoras proposto.
Clark foi o pioneiro na identificação dos elementos centrais de uma universidade empreendedora (1998). Ele analisou como cinco universidades em cinco países europeus diferentes mudaram seu perfil e tornaram-se empreendedoras. Na verdade, ele identificou cinco elementos comuns para o caminho dessa transformação (Tabela 3).

Sporn (2001) apresentou estudo transnacional de estruturas universitárias adaptativas em relação a um ambiente socioeconômico em mudança. Com base nisso, são introduzidas novas formas organizacionais para universidades se tornarem empreendedoras (Tabela 4).

Em estudo de caso na Universidade de Surrey, Kirby (2006) mostrou diferentes fatores estratégicos para promover atividades de empreendedorismo na universidade (Tabela 5).

Em um de seus estudos preliminares, Etzkowitz (2004) apresentou um modelo de universidade empreendedora no qual a universidade deveria assumir sua terceira missão – além do ensino e pesquisa, ela deveria ser promotora do desenvolvimento social e econômico, por meio da interação entre universidade-governo-empresa (Hélice tríplice). Esse modelo (Tabela 6) foi atualizado em estudo posterior (ETZKOWITZ, 2013).

Salamzadeh, Salamzadeh e Daraei (2011) propõem um framework para universidades empreendedoras (Figura 7), baseado em um sistema dinâmico, com insumos especiais, processos, resultados e visa a mobilizar recursos, habilidades e capacidades para cumprir a terceira missão.

Moroz (2012, p. 35) também enfatiza que os fatores externos e internos são responsáveis por as universidades assumirem uma “mudança empreendedora”. Em um nível funcional, esse autor apresenta os elementos necessários para essa mudança (Tabela 8).

O modelo apresentado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD, 2012) foi desenvolvido para guiar as universidades europeias e enfatiza que elas devem ter o empreendedorismo como estratégia e um ecossistema empreendedor que coordene as atividades dentro da instituição e com as partes interessadas. Além disso, a instituição deve maximizar a autonomia e a apropriação individual das iniciativas empreendedoras, oferecendo educação empreendedora para a comunidade interna e externa à universidade (Figura 1).
O guia apresentado pelo OECD (2012) oferece uma possibilidade de identificar algumas informações sobre o progresso da mudança em uma universidade e propõe que as universidades devem se ver como organizações empreendedoras direcionadas por missão e valores e não como sistemas de controle detalhados. Reforça que, por meio do estabelecimento de estratégias, que devem ser alinhadas com toda a comunidade acadêmica, elas alcançaram os resultados traçados (OECD, 2012).
Gibb, Haskins e Robertson (2013) afirmam que no mundo das corporações globais e da tecnologia da informação, a universidade já não pode pretender ser a única ou, possivelmente, a principal fonte de propriedade intelectual. Para manter seu status, também são necessárias parcerias com outras partes interessadas da sociedade (Tabela 9). Baseando-se na experiência americana, asiática e europeia, esses autores apresentam as características da universidade empreendedora.

Na transformação das universidades tradicionais em empreendedoras, a liderança é considerada essencial (GIBB; HASKINS; ROBERTSON, 2013), pois cabe aos gestores focar no desenvolvimento institucional e pessoal, ampliando/estabelecendo parcerias institucionais (governo, empresas, outras instituições de ensino, etc.). Em particular, os acadêmicos devem ser capacitados para assumir riscos, bem como criar programas de recompensas em torno de novas formas de fazer as coisas. Um componente-chave é o gerenciamento de redes e de relacionamento, como apontam Gibb, Haskins e Robertson (2013), conforme demonstrado na Figura 2.

Guerrero, Kirby e Urbano (2006) adotaram a Economia Institucional e a Visão Baseada em Recursos para apresentar o framework das universidades empreendedoras, focando em fatores internos (recursos e capacidades) e fatores ambientais (formais e informais), os quais facilitam ou dificultam a transformação de universidades em empreendedoras. Esses estudos foram apresentados em um framework recente (GUERRERO; URBANO; SALAMZADEH., 2015), conforme Figura 3.
Complementando este estudo com investigações anteriores, Guerrero, Urbano e Salamzadeh (2015) ampliam as discussões sobre os fatores ambientais, reforçando que a universidade empreendedora deve desenvolver uma estrutura flexível de gestão inovadora para reduzir os níveis de burocracia e apoiar as parcerias no ecossistema empreendedor que permita a interação e a definição de políticas e práticas para alcançar suas missões.
Além disso, devem optar por medidas integradas por diferentes instrumentos e mecanismos para apoiar a criação de novas empresas internas e externas, instalações para pesquisa, grupos de pesquisa, escritórios de transferência de tecnologia e incubadoras. Apoiados nos estudos de Kirby (2004), indicam ainda programas educacionais para desenvolver o pensamento criativo e crítico e que empresários bem-sucedidos sejam modelos a serem seguidos.

Após a revisão sistemática realizada neste estudo, são apresentados os elementos identificados e sintetizados que caracterizam universidades empreendedoras (Tabela 10). Concordando com Markuerkiaga et al. (2016), não há atualmente um consenso sobre como medir as universidades empreendedoras. Na verdade, a partir da revisão da literatura são detectados alguns esforços para caracterizá-las.
Quando se trata de descrever a organização das universidades empreendedoras, vários autores detalharam como essas universidades estão organizadas fisicamente com seus escritórios de transferência de tecnologia e propriedade intelectual, ou com centros de atendimento às demandas das indústrias, ou com seus parques tecnológicos. Não são relatados, porém, como foram reorganizados os currículos ou se existem programas interdisciplinares que englobem o ensino-pesquisa-extensão ou que integrem e promovam a interação entre diferentes cursos e seus diferentes níveis (Graduação, Pós-Graduação).

Após a análise das características empreendedoras das universidades e seus elementos (Tabela 10), a Tabela 11 apresenta, de forma sintetizada e por dimensões, a proposição do modelo de universidade empreendedora:

O modelo teórico apresentado (Tabela 11) revela uma somatória de elementos agrupados em dimensões que caracterizam o perfil da universidade empreendedora, desde mudanças na forma de gestão das lideranças até alterações na infraestrutura, tais como a criação de escritórios para facilitar o acesso dos membros externos à universidade, no qual as demandas advindas da sociedade possam ser atendidas, bem como seus membros internos (docentes e alunos) possam aplicar suas pesquisas externamente. Também torna necessário que os laboratórios sejam modernizados e os pesquisadores tenham condições estruturais para realizar seus estudos.
As parcerias e redes de colaboração recebem destaque por outros estudiosos do empreendedorismo acadêmico (SAM; VAN DER SIJDE,2014; ISENBERG, 2011 dentre outros), uma vez que as universidades devem pertencer ao ecossistema empreendedor, no qual elas trabalham em conjunto com os governos, o setor privado e outras partes interessadas para repensar como desenvolver sociedades com indivíduos empreendedores, incorporando o empreendedorismo e a inovação em abordagens interdisciplinares e métodos de ensino interativos (VOLKMANN et al., 2009). Para tanto, devem reformular seus currículos e programas interdisciplinares para expandir a educação empreendedora a todos os cursos e disciplinas (CLARK, 2004; MOROZ, 2012; GIBB; HASKINS; ROBERTSON, 2013; GUERRERO; URBANO; SALAMZADEH, 2015).
Finalizando a análise da Tabela 11, não foi identificado um modelo com todos os elementos apresentados na literatura. A maior parte desses estudos centram-se na transferência de tecnologia e nas relações das universidades com as indústrias e suas estruturas físicas. Também não foi identificado um modelo que apresentasse práticas empreendedoras integradas entre ensino, pesquisa, extensão e inovação, cujas ações contemplassem os diferentes valores que o empreendedorismo acadêmico pode agregar à comunidade.
Pretende-se, com esta pesquisa qualitativa, que apresenta o modelo teórico para o estudo de universidade empreendedora, evidenciar as dimensões que as caracterizam e induzir outros estudos de caso que iluminem ainda mais o caráter das universidades empreendedoras, que emergem e evoluem suas missões em ambientes complexos e diversificados.
A partir desta análise cumulativa das dimensões de universidades empreendedoras, é possível inferir que ela é uma instituição que possui capacidade de mudança, por meio de sua inserção num sistema ecoempreendedor formado por governo, grupos empresariais/organizacionais e um corpo profissional institucional multidisciplinar, capaz de desenvolver conhecimento para a sociedade. Além disso, possui uma gestão estratégica participativa, na qual a comunidade acadêmica desenvolve conhecimentos, por meio do ensino, pesquisa e extensão, buscando modernizar sua infraestrutura e captar diferentes fontes de recursos financeiros.
Ela deixa de ser uma instituição centrada em controles detalhados e busca uma autonomia projetada em estratégias direcionadas por missão e valores, alinhadas com toda a comunidade acadêmica por meio de um plano de desenvolvimento institucional.
A universidade empreendedora não se fecha em seus muros como as universidades tradicionais. Pelo contrário, ela adquire um conjunto de características institucionais adaptadas e orientadas para um comportamento empreendedor. Ela não estabelece parcerias apenas com as indústrias e o governo, mas passa a pertencer a um ecossistema empreendedor, no qual os atores têm o objetivo de mudar, inovar, reconhecer e criar oportunidades e estão dispostos a assumir riscos e responder aos desafios, criando valor público para a sociedade.
Assim, espera-se que, ao analisar as dimensões aqui propostas, as universidades possam ampliar seu papel social, juntamente com seu ecossistema empreendedor, e adotem ações voltadas para o desenvolvimento local, regional, nacional e internacional, integrando ensino, pesquisa, extensão e inovação.
Como contribuição acadêmica, este estudo relaciona as características das universidades empreendedoras e integra essas características em dimensões para compreensão das diferenças entre as universidades tradicionais e as empreendedoras, e pode servir de ponto de partida para estudos empíricos.
Como sugestões de estudos futuros, destaca-se a necessidade de pesquisas empíricas para validar os elementos identificados e/ou agregar outros elementos que possam compor uma universidade pública empreendedora.
Vale destacar que o presente estudo está focado nas universidades públicas brasileiras, caracterizadas pelo modelo neo-humboldtiano (ensino-pesquisa-extensão). A rede de educação superior brasileira, no entanto, é constituída por uma diversidade de instituições, tais como as faculdades e institutos federais, em que predomina o modelo napoleônico (escolas superiores de formação profissional). Estudos futuros também poderiam abranger e explorar essa dualidade no que se refere às características empreendedoras.
Por último, vale ressaltar que o modelo teórico apresentado neste estudo não representa a finalização da caracterização das universidades empreendedoras, uma vez que, nas últimas décadas, as universidades tendem a se adaptar ao ambiente externo dinâmico e adotam estruturas (físicas, administrativas, pedagógicas, etc.) para atender às novas demandas requeridas pela sociedade. O modelo teórico constitui, contudo, um consolidado da literatura que pode ser útil como embasamento teórico para desenvolvimento de novos estudos sobre o tema.












