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Identidade latino-americana e ideologia neoliberal

Latin american identity and neoliberal ideology

Identidad latinoamericana e ideología neoliberal

Wilian Carlos Cipriani Barom
Universidade Estadual de Ponta Grossa, Brazil
Luis Fernando Cerri
Universidade Estadual de Ponta Grossa, Brazil

Identidade latino-americana e ideologia neoliberal

Práxis Educativa, vol. 13, núm. 3, pp. 713-733, 2018

Universidade Estadual de Ponta Grossa

Recepção: 13 Fevereiro 2018

Revised document received: 14 Maio 2018

Aprovação: 16 Maio 2018

Resumo: O presente trabalho sintetiza os resultados de uma investigação sobre a possibilidade de 2240 jovens brasileiros apresentarem sentimento de pertencimento relacionado à América Latina, a partir de seis questões escolhidas do projeto Jovens e a História. Estes dados foram coletados em vinte e duas cidades brasileiras entre os anos de 2012 e 2013, sistematizados, cruzados e analisados a partir do Software GNU PSPP, e publicados em 2017, com o título Integração latino-americana e consciência histórica, como conclusão de um doutoramento em Educação pela Universidade Estadual de Ponta Grossa/PR. Dentre as conclusões do trabalho, aqui apresentamos a relação encontrada entre o sentimento de pertencimento latino-americano e a ideologia neoliberal.

Palavras-chave: Consciência histórica, Identidade, América Latina.

Abstract: This work summarizes the results of an investigation about the possibility of 2240 young Brazilians presenting a sense of belonging related to the Latin America, based on six questions chosen from the project Youth and History. These data were collected in twenty-two Brazilian cities between the years of 2012 and 2013, systematized, crossed and analyzed using the Software GNU PSPP, and published in 2017 with the title Latin-American Integration and historical conscience, as a conclusion for Doctor Degree in Education at the State University of Ponta Grossa/PR. Among the conclusions of the work, we presented the relationship found between the feeling of Latin-American belonging and the neoliberal ideology.

Keywords: Historical conscience, Identity, Latin America.

Resumen: Este trabajo sintetiza los resultados de una investigación sobre la posibilidad de 2240 jóvenes brasileños presentaren sentimiento de pertenencia relacionado con América Latina, desde seis cuestiones elegidas del proyecto Jóvenes y la Historia. Estos datos fueron coleccionados en veintidós ciudades brasileñas entre los años de 2012 y 2013, sistematizados, cruzados y analizados a partir del Software GNU PSPP, y publicados en 2017 con el título Integración latinoamericana y consciencia histórica, como conclusión para obtener el título de doctor en Educación por la Universidad Estadual de Ponta Grossa/PR. Entre las conclusiones del trabajo, presentamos la relación encontrada entre el sentimiento de pertenencia latinoamericano y la ideología neoliberal.

Palabras clave: Consciencia histórica, Identidad, América Latina.

Introdução

Os jovens brasileiros se sentem latino-americanos? É possível identificar este sentimento a partir de um questionário que versa sobre o ensino escolar da História, os posicionamentos políticos que ocorrem na vida prática e a relação cotidiana que estabelecem com o passado?

O presente trabalho sintetiza os resultados de uma investigação sobre a possibilidade de 2240 jovens brasileiros apresentarem/possuírem sentimento de pertencimento relacionado à América Latina, a partir de seis questões escolhidas do projeto Jovens e a História. Estes dados foram coletados em vinte e duas cidades brasileiras, dentre os anos de 2012 e 2013 e publicados em 2017, com o título de Integração latino-americana e consciência histórica, como conclusão de um doutoramento em Educação pela Universidade Estadual de Ponta Grossa/PR (BAROM, 2017).

Esta foi, talvez, uma pesquisa atropelada pela história. No ano de 2013, período em que ainda coletávamos nossos dados, a conjuntura internacional latino-americana era completamente outra: um visível alinhamento político dos países, o qual aparentemente permitia uma reflexão sobre a integração, a unidade e a identidade regional. Ao menos, era assim como percebíamos o cenário naquele ano.

Quanto mais avançamos em nossos estudos, no trabalho de conhecer a possibilidade desta integração, mais nos tornamos otimistas por perceber que, no âmbito legal, nas normativas que regulamentavam e propunham a integração, a questão da identidade, inclusive a configuração de uma cidadania regional, nos moldes da União Europeia, estava posta. Para além dos documentos oficiais (especialmente os do MERCOSUL, MERCOSUL Educacional e UNASUL)1, também percebemos que grupos de estudos e seminários regionais foram organizados, o que inspirou o surgimento de significativas publicações no meio acadêmico e a formação de grupos de pesquisas nas últimas duas décadas. Aqui destacamos os esforços de pesquisadores nacionais, como Maria Helena Rolim Capelato, José Flávio Saraiva, Heloisa Jochims Reichel, Circe Maria Fernandes Bittencourt, Ernesta Zamboni, Maria Silvia Cristofoli, Maria de Fátima Sabino Dias, Maria Ligia Coelho Prado, Léia Adriana da Silva Santiago, Luís Fernando Cerri, Juliana Pirola da Conceição, Thamar Kalil Alves, entre outros, que realizaram intervenções pontuais significativas, por meio da presença e do trabalho nos seminários regionais, ou que vêm sistematicamente refletindo sobre a questão da identidade latina e sobre os processos/possibilidades de integração, em íntima relação com o ensino da História. Dentre os grupos de pesquisas e projetos desenvolvidos neste período, vale destacar o Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa em Ensino de História (NIPEH/UFSC); o projeto A escola e os jovens no mundo contemporâneo, de Maria de Fátima Sabino Dias; o projeto Peabiru: ensino de história e cultura contemporânea, de Ernesta Zamboni; a experiência da disciplina Estudos Latino-Americanos (ELA) da escola de Aplicação da Universidade Federal de Santa Catarina; o laboratório de História do Centro Universitário Franciscano (LAHIS/UNIFRA); o Instituto Latino-Americano de Estudos Avançados (IELA/UFRGS); o Grupo de Estudos em Didática da História de Ponta Grossa/PR (GEDHI); e ainda, as publicações da Associação Nacional de Pesquisadores e Professores de História das Américas (ANPEHLAC).

Contudo, as rápidas transformações recentes na América Latina e sua nova configuração política, além das transformações internas no Brasil, tornaram manifestos um fascismo xenofóbico no país, uma cultura individualista e um ódio de classes explícito, difundidos pela grande mídia e na internet (polos dialéticos que, ao mesmo tempo, formam novas opiniões e vêm insistentemente influenciando o cenário cultural desde 2013). Isso tudo fez com que, ao terminarmos o nosso trabalho, em 2017, acabamos ficando com a estranha sensação de que fomos ultrapassados pela história, tendo os interesses e o tempo da pesquisa acadêmica sido superados pelas transformações do mundo político e econômico da realidade atual.

Assim, questionamos: ainda vale refletir sobre a identidade latino-americana dos jovens brasileiros e a integração da região diante destes novos tempos? O atual cenário político e econômico do país teria sepultado os históricos esforços do MERCOSUL Educacional e a sua idealização de uma integração regional via aproximação dos currículos escolares? E os novos projetos políticos da região sul-americana, estariam interessados em manter a discussão acerca da identidade latino-americana?

A questão é histórica e ainda é muito recente para afirmarmos categoricamente o fim do projeto no âmbito institucional. As atitudes políticas nacionais e internacionais dos novos atores e grupos sociais, em contexto também global de mudanças, indicarão os caminhos e o tipo da (nova) integração. Contudo, no aspecto psicológico, nos espaços de nossas interpretações subjetivas, o cenário é bastante desolador. Parafraseando Eugen Bertolt Friedrich Brecht, estes são tempos sombrios. Isto nos faz lembrar a avaliação de Maria de Fátima Sabino Dias, a qual, ao problematizar o ensino da história da América no Brasil no início do século XX, concluiu que “a necessidade de construção de uma nacionalidade latino-americana, apesar dos esforços de intelectuais como Manuel Bomfim e Rocha Pombo, foi incompatível com o apogeu do nacionalismo no Brasil” daquele período (DIAS, 1999, p. 45). Neste sentido, estaríamos refletindo sobre a integração e noções de pertencimento em um momento em que a história faz uma curva em direção à retomada dos modelos nacionalistas como forma de governo? E, se assim for, estaríamos apontando a pertinência do estudo da identificação regional em um momento em que o regionalismo político na América do Sul e na Europa se encontraria em declínio? São questões que nos escapam.

Por ora, destacamos que a presente pesquisa manifesta as expectativas que estavam postas no ano de 2012 e início de 2013, e que o desenrolar do texto, ao longo destes quatro anos, demonstra, em alguma medida, este dilema exterior à pesquisa em que nos encontramos. Ainda, afirmamos que, em momento de mudanças, de tensões sociais, e se o cenário se encontra conturbado diante dos desafios políticos, é exatamente o momento em que temos que defender a Ciência, o rigor metodológico e um conhecimento que traga a paz e a convivência respeitosa entre os povos. Refletir atualmente sobre a latinidade, sobre o pertencimento, sobre os povos vizinhos e as migrações regionais é caminhar nesta esteira da interculturalidade, colocando criticamente a Ciência à disposição da produção de uma sociedade que não se enclausure em muros perigosos de um nacionalismo exacerbado, sentimento típico que provém do medo em tempos difíceis.

Considerações metodológicas

O Projeto Jovens e a História, liderado no Brasil pelo professor Dr. Luis Fernando Cerri, iniciou em 2007 com a aplicação de um projeto piloto e ensaios em cidades brasileiras e argentinas, na intenção de buscar comparações e especificidades do ensino escolar da História e a relação cotidiana que os jovens estabelecem com a temporalidade. Nos anos seguintes, o projeto ganhou maiores proporções, também envolvendo cidades de outros países sul-americanos, como Uruguai, Chile e Paraguai.

Conforme a literatura do projeto, disposta no blog oficial do Grupo de Estudos em Didática da História (GEDHI)2, sua origem se encontra no contexto europeu, em uma experiência intitulada Youth and History, realizada no ano de 1994, e que buscou analisar quantitativamente as ideias históricas de alunos e professores (CERRI; AMEZOLA, 2007, p. 34). Como exemplo de apreensão da consciência histórica via análise quantitativa e possibilidade metodológica para as pesquisas comparativas interculturais, Youth and History permitiu aos pesquisadores brasileiros refletirem sobre a qualidade, as características e os resultados do ensino de História como orientação para a vida prática. Os cenários, um tanto semelhantes, propiciaram esta importação do projeto: em sua versão original, na década de 1990, o continente europeu se encontrava em meio ao processo de integração política e cultural de suas nacionalidades em torno da União Europeia (UE); assim como na década de 2010, na América Latina, o mesmo ocorria com as iniciais práticas da União das Nações Sul-Americanas (UNASUL), fundada dentro dos históricos ideais da integração da região, e que conjugou as duas maiores uniões aduaneiras (Mercado Comum do Sul e a Comunidade Andina de Nações).

O questionário europeu, desenvolvido por Magne Angvik e Bodo von Borries, sob forte influência da Teoria da História do filósofo e historiador alemão Jörn Rüsen, foi sensivelmente alterado para o caso latino, com o acréscimo de questões relacionadas às ditaduras militares, o papel das mulheres na sociedade e as representações culturais dos heróis nacionais (canônicos e subversivos)3.

Da totalidade dos questionários coletados pelo projeto nos cinco países sul-americanos, a amostra de nossa pesquisa referiu-se unicamente às respostas dos jovens estudantes brasileiros: uma quantia de 2420 questionários distribuídos em 22 cidades4 para jovens de 15 anos de idade. Esta coleta de dados ocorreu entre setembro de 2012 e março de 2013.

Em virtude das dificuldades inerentes ao processo de aplicação e das próprias características do desenho da amostra, estamos cientes de que analisamos fragmentos da realidade, o que não permitiu realizar generalizações.

Das 43 questões do instrumento, que foram aplicadas na forma impressa e depois armazenadas virtualmente para análise via software gratuito GNU PSPP5, escolhemos seis que se relacionavam direta ou indiretamente ao nosso objeto de pesquisa (17, 18, 25, 36, 40, 41). As temáticas destas questões diziam respeito ao interesse dos jovens por culturas de países distantes, pela história de países da América Latina; a importância que atribuíam à origem étnica, solidariedade, e a temas relacionados à integração da América do Sul; suas ideias sobre nação e soberania nacional; e seus posicionamentos quanto à integração econômica e à unificação da América do Sul6.

Estas temáticas foram analisadas a partir das variáveis abaixo.

Variável Localização geográfica

Para a variável localização geográfica, as cidades do projeto foram divididas em três grandes regiões: fronteira, central e litoral. Aglutinamos estas cidades conforme suas proximidades com a fronteira brasileira, em relação aos países da América do Sul (duas cidades), e com o litoral atlântico (quatro cidades). Entendemos que estas duas regiões construíram relações variadas com o estrangeiro ao longo da história. Definimos como centro as cidades localizadas na região mediana do Brasil, mais ou menos equidistante da fronteira e do litoral. De nossa amostra, selecionamos sete cidades aleatoriamente.

Esta variável encontrou significância nas contribuições de historiadores que estudaram as relações culturais nas fronteiras e apontaram estas espacialidades como locais de culturas fluidas e próprias, de processos de transculturação e hibridismos (CANCLINI, 1998), de relações estreitas com a história local, com as memórias subterrâneas e com as narrativas e relatos dos povos migrantes. Seriam culturas, signos, valores e tradições que, na maioria das vezes, transcenderiam os limites das fronteiras oficiais e se relacionariam de maneira complexa com as memórias e histórias dos Estados. Sobre o conceito de fronteira,

existen definiciones estrechas (la línea) y amplias (la región de interacción transfronteriza entre los estados nación, las culturas, etc.) así mismo en la mayoría de las ocasiones se emplea este concepto para establecer límites políticos entre estados, como a las secuencias o discontinuidades existentes entre etnias grupos humanos, género, la cultura u otros rubros que son relevantes para distinguirlos entre sí, pero que al mismo tiempo determina una categoría en su conjunto. Así es como podemos explicar lo polémico del concepto, dado que en el mismo se encuentra la definición y a diferenciación del otro, lo real lo imaginario, lo in / out, lo legal e ilegal, lo perteneciente y lo ajeno, lo propio y lo extraño, estas observaciones las podemos encontrar principalmente cuando hablamos de fronteras políticas, estatales, étnicas y culturales (...) Hoy la controversia no resulta al afirmar que las fronteras estatales son las establecidas entre uno y otro Estado, el debate se inicia cuando se pretende analizar cómo es que se han impuesto esos límites o bordes, el conflicto se acentúan cuando se entremezclan las fronteras étnicas, si entre los estados se establecen fronteras como límites territoriales celosamente defendidos, entre las etnias se tratan de fronteras interactivas (BARÓN, 2007, p. 5, grifos do autor).

Divisão das cidades: por regiões: fronteira, centro e
								litoral
Figura 1
Divisão das cidades: por regiões: fronteira, centro e litoral
Fonte: o Autor (2017).

Variável Aspectos socioeconômicos

Quanto à variável aspectos socioeconômicos, escolhemos relacionar a condição econômica das famílias dos jovens ao tipo de escola que frequentam. No período de coleta dos questionários coube aos aplicadores, na maioria das vezes, professores universitários, identificar escolas com características próximas aos seguintes perfis: pública de excelência, pública central, pública rural, pública de periferia, privada laica empresarial, privada laica comunitária/alternativa, privada confessional. Para a presente variável, isolamos as cidades que conseguiram coletar, ao mesmo tempo, os dados de escolas pública de periferia e privada laica empresarial, na intenção de realizarmos comparações. Assim, nesta categoria, a amostra reduziu-se a doze cidades: Curitiba, PR; Florianópolis, SC; Dourados, MS; Itararé, SP; Passo Fundo, RS; Porto Alegre, RS; Belo Horizonte, MG; Cáceres, MT; Cuiabá, MT; Rondonópolis, MT; Ituiutaba, MG; Uberlândia, MG.

Esta variável encontrou respaldo nas contribuições de pesquisadores que refletiram sobre a importância dos produtos da indústria cultural no reforço e na recriação da cultura histórica, o que nos permitiu inferir, como premissa, que as condições econômicas dos sujeitos podiam estabelecer acessos variados aos produtos da cultura e, consequentemente, às ideias históricas. Para o historiador Ronaldo Cardoso Alves, o Estado e os interesses do mercado impõem modelos, padrões e reforçam dados da cultura através de seus interesses comerciais (ALVES, 2014). Já para Hobsbawm (1995), a partir da segunda metade do século XX, no ocidente, a juventude deve ser entendida como um grupo social com poder de compra e inserido em uma sociedade de consumo: o “adolescente como ator consciente de si mesmo, cada vez mais reconhecido, entusiasticamente, pelos fabricantes de bens de consumo” (HOBSBAWM, 1995, p. 318).

Variável Tipos de Cidades

Quanto à variável tipos de cidades, os dados foram divididos em cinco grupos, tomando como critério a relação que estabelecem as cidades com as localidades, as regionalidades e a nacionalidade. Organizamos as 22 cidades de nossa amostra conforme a divisão estabelecida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que mapeia o número de relações de bens e serviços que a cidade estabelece, segundo sua extensão territorial e número de habitantes. Esta divisão hierarquiza a rede urbana brasileira, demonstrando relações de interdependência entre as cidades, que se manifestam através de fluxos migratórios, de produtos, de ideias e de culturas, no âmbito local, regional, nacional e internacional. Assim, para a presente variável, as 22 cidades foram arranjadas nas seguintes categorias: metrópoles, capitais regionais, capitais sub-regionais, centros de zonas e centros locais.

Tabela 1
Variável Tipos de Cidades: relação hierárquica dos níveis e subníveis da Rede Urbana Brasileira - IBGE (2007)
Variável Tipos de Cidades: relação hierárquica dos
							níveis e subníveis da Rede Urbana Brasileira - IBGE (2007)

Em certa medida, esta organização das cidades a partir de suas relações colaborou na consideração da globalização como um fenômeno não totalizante, mas que, provavelmente, incide de forma variada em um mesmo país, região ou cidade. Neste sentido, a partir desta malha urbana sugerida pelo IBGE, pudemos inferir quais as cidades com maior potencialidade de relações com o estrangeiro, com os produtos e as ideias, em uma graduação que varia do provincianismo ao cosmopolitismo.

Quanto à forma de análise, tomamos os dados do software de duas maneiras: enquanto médias gerais (nacionais7 e locais) e enquanto dados de frequência (em alguns momentos convertidos em porcentagem).

Com relação à primeira opção, o software gerou uma média para cada alternativa, questão inteira ou cruzamento de questões. Esta média resultou da somatória e divisão das assinalações dos jovens, que avaliaram cada alternativa segundo a graduação/valorização da Escala Likert: nenhum interesse (-2), pouco interesse (-1), médio interesse (0), grande interesse (1), interesse total (2)8.

Graduação/valorização da Escala Likert
Figura 2
Graduação/valorização da Escala Likert
Fonte: O Autor (2017).

A partir de nossa revisão da literatura, julgamos ser perigoso o apoio unicamente nestas médias, em virtude do possível excesso de subjetivismo contido no ato do pesquisador interpretar e lançar hipóteses. Assim, ainda nos apoiando no software, como segunda forma de análise, recorremos ao número de assinalações (frequência) por questões e alternativas, conforme a variável desejada, inclusive realizando cruzamentos entre alternativas, o que permitiu trabalhar com os próprios números ou com conversões em porcentagens.

Tabela 2
Software GNU PSPP - exemplo de frequência9
Software GNU PSPP - exemplo de frequência9

Assim, com os dados obtidos e sistematizados pelo software, pudemos acessar as manifestações da consciência histórica dos jovens. Ao decidir entre as alternativas das questões, os jovens mobilizaram dados da memória e informações selecionadas da cultura para interpretar e escolher. Estas informações históricas sobre a América Latina se encontram atualmente dispostas de modo bastante variado no interior da sociedade (produções cinematográficas, novelas, dramas históricos, poemas, músicas, noticiário jornalístico televisivo e impresso, entretenimento de internet, manuais didáticos, representações herdadas e compartilhadas, objetos, artefatos, eventos culturais, legislação, discursos políticos, etc.), e cotidianamente buscam se apresentar aos jovens racionalmente, sob bons argumentos, reivindicando a pretensão da verdade, sensibilizando e buscando convencer pela estética e oratória, podendo, inclusive, estar envoltas em meio a relações de poder, legitimando causas políticas ou sociais. As opiniões dos jovens de nossa amostra refletiram, em certa medida, este emaranhado de possibilidades de discursos. Coube a nós cruzar estes dados com a literatura na intenção de lançar hipóteses e atribuir sentido. Retiramos este caminho metodológico do texto Politização e consciência histórica em jovens brasileiros, argentinos e uruguaios, de Geni Rosa Duarte e Luis Fernando Cerri (2012, p. 238), onde foi descrito como “método quantitativo descritivo”.

A identidade latino-americana de jovens brasileiros nos dados do Projeto Jovens e a História

Inicialmente, realizamos uma análise a partir do todo, das seis questões escolhidas, na intenção de criar um perfil instrumental acerca da questão do pertencimento latino-americano do jovem brasileiro. Isto permitiu criar um arquétipo a ser refletido como modelo e, posteriormente, questionado em pesquisas futuras.

Na imagem abaixo, listamos as principais alternativas das questões 17, 18, 25, 36 e 40 do projeto Jovens e a História10. Foram organizadas a partir de suas respectivas médias gerais, resultantes da totalidade da amostra brasileira (2240 jovens).

A partir destas médias, primeiramente constatamos que o sentimento de pertencimento se manifestou de maneira mais complexa do que a rápida verificação de presença ou ausência. Os dados não apontaram para uma essência latina, desejo que ainda permanece em muitos dos estudos recentes que versam sobre o assunto, demonstrando se tratar mais de uma comunidade imaginária, de modo aproximado a Benedict Anderson (2008), implicando relações políticas e de poder do que, por exemplo, a rigidez cultural de Samuel Huntington (1997) em sua divisão sólida das civilizações. Assim, os dados indicaram como não conveniente refletir sobre o pertencimento dos jovens de nossa amostra como vinculado a uma área cultural (localização geográfica que articula de maneira muito sólida cultura e identidade, com limites e fronteiras rígidas11), mas como resultado de um conjunto de ideias, configurando uma coletividade imaginada (que organiza memórias, mas não está livre de contradições).

Interpretamos os dados da figura 3 como a presença de certo patriotismo que precedeu em alguns pontos e coexistiu, em outros, com o entendimento e a aceitação dos jovens com relação aos processos de integração na região. Aparentemente, significativa importância foi atribuída ao próprio país e, ao mesmo tempo, houve pequena recusa e neutralidade considerável a modelos de integração que signifiquem a diminuição da soberania nacional (ONU e MERCOSUL). O índice de jovens que discordaram da ideia de perder parte da soberania (discordo totalmente + discordo) foi de 24,4% (556 jovens), contra o índice de 34,5% (787 jovens) que indicaram concordar com a proposta (concordo + concordo totalmente). Os jovens que assinalaram posicionamento de neutralidade, concordando em partes, somaram 41,1% (939 jovens).

Segundo perfil dos jovens da amostra: as médias gerais das questões
							17, 18, 25, 36 e 40
Figura 3
Segundo perfil dos jovens da amostra: as médias gerais das questões 17, 18, 25, 36 e 40

Obs: Questões elaboradas com base na escala Likert. As médias provêm do software GNU PSPP.

Fonte: Imagem extraída do site <https://www.colourbox.com/preview/8887548-phases-of-step-movements-man-in-walking-sequence-for-game-animation-on-white.jpg>. Acesso em: 08 fev. 2016.

Inferindo a partir da aproximação dos dados, houve uma manifestação possível de desejo de que o país fosse protegido nacionalmente, de tal forma que as garantias sociais e individuais (paz, liberdade e bem-estar) não fossem ameaçadas por organismos internacionais. Talvez os jovens tenham relacionando a imagem do estrangeiro a alguma ideia de perigo e ameaça política à autonomia do Estado e à pureza nação brasileira (afirmaram ser a nação algo natural do território - 0,51).

Contudo, este sentimento nacionalista apresentado foi por nós logo relativizado, pois não se traduziu substancialmente no interesse dos jovens pela história do país (0,10), do desenvolvimento das nações (0,22), da democracia (0,05)12, no conhecimento da própria região (0,19), da localidade onde vive (0,08) e da história das pessoas comuns (-0,28). Inclusive, os jovens indicaram não ser de grande importância a defesa a todo custo dos interesses do país, o que os afastou sensivelmente de um nacionalismo exacerbado. Indicamos, possivelmente, ser este um patriotismo com baixo adensamento de conteúdos e experiências sobre as histórias locais e regionais.

De modo geral, os jovens apresentaram baixo interesse no conhecimento da história dos países da América Latina (0,04) e da sua própria origem étnica (0,08), elementos fundamentais que compõem o sentimento de pertencimento latino-americano, segundo os discursos oficiais integracionistas do MERCOSUL Educacional e UNASUL. Atribuíram maior importância ao estudo da história do Brasil (0,53), depois, da história do mundo (0,39), da história da própria região (0,19) (esta alternativa não deixou claro aos jovens o conceito de região, deixando a cargo de suas interpretações pessoais), da localidade onde vivem (0,08) e, por último, da história de países da América Latina (0,04).

Contudo, este desinteresse generalizado pela América Latina não foi uniforme em torno da neutralidade, pois os dados de frequência da questão indicaram a existência do interesse, da ordem aproximada de 30% em nossa amostra: de 2352 jovens que responderam à questão, 30,5% (720 jovens) assinalaram nenhum ou pouco interesse; na zona intermediária, que se configurou como médio interesse, tivemos um total de 35,4% (835 jovens); e no que disse respeito à somatória de grande e total interesse, tivemos o índice de 34,2% (807 jovens). Assim, tivemos índices substanciais e semelhantes de desinteresse, neutralidade e interesse, o que resultou em uma média geral aparentemente baixa13. Quando somamos os jovens que efetivamente assinalaram desinteresse, mais os que demonstraram neutralidade, tivemos um índice aproximado de 66% dos jovens.

Quanto às variáveis, curiosamente a região de fronteira não destoou significativamente das demais regiões, como poderíamos supor, a partir das discussões presentes na literatura. As três regiões apresentaram médias neutras e muito próximas entre si: fronteira (0,04), centro (0,01) e litoral (0,06). Nos dados de frequência, de igual modo, os resultados também foram muito próximos. Quanto ao tipo de escola, esta questão despertou pouco interesse a mais nos jovens das escolas privadas laicas empresariais (média 0,12), do que das escolas públicas de periferia (média -0,01). Contudo, dentro da escala Likert, foram médias que significaram neutralidade.

Este baixo interesse, que em alguma medida teve a ver com o pouco conhecimento dos jovens sobre a região, em alguma medida foi reflexo das opções nacionalistas dos currículos escolares,

resulta de especial interés señalar aquí la supuesta falta de comprensión de los estudiantes sobre la historia de otros países de América latina. Nuevamente, tal valoración parece dar cuenta de los límites curriculares y de los puntos ciegos de la formación y prácticas docentes que de un problema de comprensión de los alumnos (GONZÁLES, 2010, p. 09).

Especificamente sobre o caso brasileiro, aproximamos nossos dados à pesquisa recente do professor Gerson Luiz Buczenko (2014), apresentada no texto Ensino de História da América e identidade histórica que, ao refletir sobre a presença da história dos países latino-americanos em manuais didáticos, concluiu pela carência de exposições críticas sobre os contextos sociopolíticos, econômicos e culturais, o que geraria déficits identitários nos estudantes. Em sua análise, identificou que a história da América costumava se apresentar nos manuais didáticos “sem uma contextualização sobre possíveis laços identitários entre os países que compõem o continente americano” (BUCZENKO, 2014, p. 1). Esta foi uma análise que indicou, particularmente, a possibilidade de os manuais didáticos distorcerem os esforços e aspirações do MERCOSUL Educacional e UNASUL (ou não estarem alinhados às normativas regionais). Ainda a este respeito, a professora Circe Bittencourt (2005), em seu texto Ensino de história da América: reflexões sobre problemas de identidades, também analisando a presença da História da América em manuais, apontou para a história integrada como um esforço recente de superação destes déficits. Sem as tradicionais divisões História Geral, História do Brasil e História da América, estes manuais buscaram constituir um tempo sincrônico que aproximasse as relações históricas de sociedades situadas em espaços diversos. Contudo, segundo a autora, essa perspectiva também colocou novos problemas para o ensino da História, notadamente no que se referiu à definição de conteúdos que favoreçam a construção de um sentimento de pertencimento do Brasil à América Latina (BITTENCOURT, 2005). Uma última pesquisa que aqui merece menção é a tese Identidade(s) latino-americana no ensino de história: um estudo em escolas de Ensino Médio de Belo Horizonte, MG, Brasil, de Thamar Kalil de Campos Alves, defendida em 2011. Segundo a autora, que realizou uma vasta análise em manuais didáticos, currículos oficiais, práticas de ensino e narrativas de alunos e professores, os alunos demostraram, em ambiente escolar, alguns conhecimentos e muito interesse em aprender mais sobre a história da América Latina, repousando o problema não nos manuais didáticos, como indicado anteriormente, mas na distância que possivelmente existe entre os planos de ensino, as práticas docentes e as bases e diretrizes legais.

Assim, entendendo a formação escolar como parte constituinte e como reflexo da cultura, compreendemos que os dados do projeto indicaram, ao mesmo tempo, um substrato de informações e memórias locais que se mesclaram com as lembranças e saberes oriundos dos processos de formação escolar institucional. Ou, de modo ainda mais complexo, segundo o antropólogo Joël Candau (2012), os posicionamentos puderam resultar das memórias que foram compartilhadas em uma mesma sociedade (incluindo, também, o currículo escolar, no mesmo sentido do conceito enquadramento da memória, de Michael Pollak),

Em um mesmo grupo, essa transmissão [da memória] repetida várias vezes em direção a um grande número de indivíduos estará no princípio da reprodução de uma dada sociedade. No entanto, essa transmissão jamais será pura ou uma “autêntica” transfusão memorial, ela “não é assimilada como um legado de significados nem como a conservação de uma herança”, pois, para ser útil às estratégias identitárias, ela deve atuar no complexo jogo da reprodução e da invenção, da restituição e da reconstrução, da fidelidade e da traição, da lembrança e do esquecimento (CANDAU, 2012, p. 106, grifos do autor).

Sobre a valorização da origem étnica, elemento fundamental na composição da identidade latina, tal como postularam os documentos oficiais, a média geral de nossos dados foi significativamente baixa (0,08). Demonstra, aparentemente, não ser uma preocupação dos jovens de nossa amostra atribuir importância à etnia, reconhecer-se como pertencentes a uma coletividade específica de costumes, tradições e histórias. Isto se evidenciou quando a comparamos às demais alternativas da questão, que apresentaram médias muito mais altas e expressivas. É possível que os jovens tenham se identificado pouco ou não tenham se identificado com as etnias propostas no texto da alternativa (africana, europeia e indígena). Ao analisarmos os dados de frequência desta média geral, pudemos perceber que as respostas não foram homogêneas em torno da neutralidade, mas que ela (média próxima de zero), assim como indicado anteriormente, também resultou do equilíbrio entre significativa parcela de jovens que assinalou alta importância e outra significativa parcela que assinalou baixa importância, além daqueles que efetivamente assinalaram neutralidade. Do total de 2313 jovens, 733 (31,7%) assinalaram baixa importância (muito pouca + pouca) à origem étnica, 708 (30,6%) assinalaram média importância e 872 (37,7%) assinalaram alta importância (grande + muito grande).

Ainda, pudemos perceber que a média de interesse pela origem étnica diminuiu gradativamente da fronteira (0,19) em direção à região central (0,14) e litoral (-0,12) do Brasil. Desta última região, Florianópolis e Porto Alegre manifestaram os menores índices da amostra geral, respectivamente, -0,29 e -0,31. Dentre 22 cidades analisadas, a maior média para esta alternativa foi a da cidade de Brasília/DF (0,44). Esta questão também apresentou maior atribuição de importância nas escolas públicas de periferia (0,13) do que nas privadas laicas empresariais (-0,14). Este foi um dado um tanto curioso, uma vez que, aparentemente, é mais comum a classe média manter seus vínculos com a tradição imigratória europeia e ter o conhecimento de suas genealogias. Por fim, o tipo de cidade também pareceu ser um critério a ser considerado com relação à valorização da origem étnica, variou inversamente conforme o tamanho da cidade: metrópoles (-0,01), capitais regionais (-0,01), centros sub-regionais (0,20), centros de zona (0,20) e centros locais (0,38). Deste modo, de acordo com os dados de nossa amostra, pudemos aludir que a importância que os jovens atribuíram às etnias propostas diminuiu conforme aumentou o tamanho das cidades, o que sugeriu a hipótese de que as tradições (elementos histórico/culturais, costumes, ritos, simbologias) estariam mais diluídas e sincréticas nestes locais.

Outra questão de destaque que identificamos referiu-se ao posicionamento dos jovens quanto à importância que atribuíram à solidariedade com a pobreza de dentro e fora do país. Em ambos os casos, as médias se enquadraram na graduação grande importância, pobreza do país (1,04) e de outros países (0,73). Quando observamos mais detidamente estas altas médias, percebemos que, apesar da problemática ser a mesma, solidariedade com a pobreza, os dados divergiram sensivelmente quando se tratou da pobreza do outro. A polaridade do pensamento, nós/eles, dentro/fora, nacional/estrangeiro que, de certa forma se relaciona e influencia na forma como os jovens se identificam, parece ter se manifestado em nossos dados. Pudemos observar, a partir dos índices de frequência que, quando se foi da preocupação com o nacional para a preocupação com o internacional, o número de assinalações de importância (grande + muito grande) diminuiu (uma diminuição de 259 jovens), enquanto o número de assinalações denotando baixa importância (pouca + muito pouca) aumentou (170 jovens). Assim, houve uma diminuição no número de jovens que assinalou ser importante a questão da pobreza no estrangeiro, ao mesmo tempo em que houve um aumento no número de jovens que assinalou ser baixa a importância com a questão internacional.

Utilizando a técnica de tabela cruzada, pudemos visualizar quantos foram os jovens que assinalaram, ao mesmo tempo, solidariedade com os pobres de outros países (alternativa 25l), com a alternativa que se referiu ao interesse pela história de países da América Latina (alternativa 18d).

Tabela 3
Cruzamento de dados: 18d. Interesse na história de outros países da América Latina X 25k. Solidariedade com os pobres de outros países
Cruzamento de dados: 18d. Interesse na história de outros países da
						América Latina X 25k. Solidariedade com os pobres de outros países

Deste modo, identificamos que estas duas ideias estão, em grande medida, relacionadas no interior da sociedade: na medida em que aumentou a importância atribuída à solidariedade, também aumentou o interesse pela América Latina e, paralelamente, quando aumentou o interesse pela América Latina, também cresceu a importância atribuída à solidariedade com os pobres de outros países. Esta informação nos é bastante significativa, por demonstrar a existência de uma parcela considerável de nossa amostra (aproximadamente 25%) que, possivelmente, identificou uma causa comum na região, um elemento aglutinador.

Atentando ainda à solidariedade com o estrangeiro, no que se referiu à consideração das variáveis, quanto à localização geográfica, as regiões de fronteira (0,79) e litoral (0,78) apresentaram médias sensivelmente superiores à região central (0,61). Comparando com o ponto anterior, interesse pela história dos países latinos, e também comparando com outras questões do Projeto, convém indicar que, quando foi perguntado diretamente sobre a América Latina, o critério geográfico manifestou-se (as médias aumentaram com a proximidade em relação à fronteira), mas quando o assunto possibilitou uma abstração para além dos países latino-americanos (os pobres de outros países), o critério não se manifestou.

De modo aproximado, a média das escolas públicas de periferia também foi um pouco superior (0,66) à das escolas privadas laicas empresariais (0,58), estando ambas abaixo da média nacional (0,73). De acordo com a escala Likert, todas estas médias foram compreendidas na graduação grande interesse. Contudo, é relevante indicarmos, dados os limites da própria questão, que desconhecemos, em nossa pesquisa, o significado do conceito solidariedade para os jovens, que pôde variar entre caridade, assistencialismo, empatia, compromisso mútuo e ações de interferência.

Já quanto aos tipos de cidades, as médias apresentaram maior distância entre si: metrópoles (0,63), capitais regionais (0,70), centros sub-regionais (0,85), centros de zona (0,62) e centro local (1,04). Para esta questão, não identificamos uma relação direta entre o tamanho da cidade e a solidariedade com a pobreza.

Com exceção dos 25% dos jovens identificados anteriormente, que demonstraram solidariedade à pobreza (possivelmente) dos países latinos, diagnosticamos um baixo interesse na história da própria região, no conhecimento da história dos países que compõem a América Latina e, ainda, também uma baixa atribuição de importância à origem étnica. Dificilmente se fundamentaria um discurso integracionista nos dias atuais, a partir destes dados de nossa amostra, o que nos faz refletir sobre a base em que ele estaria se assentando no imaginário popular.

Nossa hipótese é a de que, na ausência de conhecimentos históricos ou memórias que poderiam ser compartilhadas, as decisões e identificações dos jovens estariam sofrendo interferência dos critérios locais/nacionais de moralidade que são perpassados, em grande medida, por uma ideologia neoliberal.

Exemplos empíricos desta relação entre ações, conhecimento histórico e moralidade puderam ser encontrados na tese O peso do passado: Currículos e narrativas no ensino de história das Ditaduras de Segurança Nacional em São Paulo e Buenos Aires (2015a), e no texto Entre muitos 'outros': ensino de história e integração latino-americana (2015b), da pesquisadora Dra. Juliana Pirola da Conceição, ambos os trabalhos publicados em 2015. No mesmo ano de nossa coleta de dados, a pesquisadora buscou investigar a convivência de alunos brasileiros com bolivianos em duas escolas públicas da região central de São Paulo. Uma das questões levantadas pela pesquisadora disse respeito à solidariedade com imigrantes latinos em território nacional, em situação de irregularidade (fugitivos). Como conclusão, a autora percebeu que os jovens que utilizaram a história como referência em seus argumentos apresentaram maior grau de solidariedade. Onde a história não esteve presente, imperaram os critérios nacionais/locais de moralidade (segundo a autora, em alguns casos, em uma moral individualista, com indícios de nacionalismos extremados, aversões aos estrangeiros, completa indiferença, mobilizando tendências à denúncia e desejo de prisão dos fugitivos).

Em nosso caso, como percebemos significativa prevalência de atribuições de importância às alternativas que se relacionavam à liberdade individual e ao sucesso econômico dos jovens, julgamos que as decisões tenham sido orientadas, em um efeito reflexo do momento já consolidado do neoliberalismo na região, por um conjunto de ideias mercantis que circulam atualmente na sociedade, o neoliberalismo como um modus operandi da consciência. Privacidade, individualismo, liberdade e sucesso econômico formariam um filtro conjunto de visão e de interpretação da realidade, com o qual os jovens possivelmente avaliaram as alternativas do questionário.

A este respeito, em uma entrevista ao canal Jornalistas Livres (2017)14, a filósofa e professora Marilena Chauí realizou uma discussão sobre como estas políticas neoliberais refletiriam nos indivíduos, como ideologia neoliberal. Para a autora, esta ideologia se apresentaria como uma estratégia de convencimento que emanaria das próprias práticas neoliberais, em especial, a transformação dos direitos sociais em serviços/mercadorias. Deste modo, criar-se-ia, na sociedade, a ideia de que a privatização dos serviços e direitos sociais seria algo bom. Esta construção, que atualmente se encontra em um momento avançado em nossa sociedade, remodelaria a ideia que o indivíduo tem de si próprio, de tal forma que ele não se veria mais como pertencente a uma classe social (como trabalhador), mas através de uma imagem idealizada de empresário de si próprio, que presta serviços e negocia em condições de igualdade com o empregador. Faria parte desta ideologia a ideia de que o indivíduo arque com o ônus de saúde, previdência, educação e formação individual para que se torne mais atraente ao mercado, ideia que se alinharia a um individualismo extremado, o qual desobrigaria o Estado de suas responsabilidades a partir da ilusão da meritocracia: o indivíduo se auto construiria, investiria em si mesmo, perderia a referência de classe ao se projetar em uma ilusão de consumo, e se relacionaria socialmente a partir de uma lógica individualista competitiva.

Esta ligação entre ideologia liberal e os posicionamentos dos jovens mostrou-se visível nas avaliações de alternativas como família (1,63), liberdade de opinião (1,22), estudar e trabalhar fora do país (0,86), interesses pessoais, acordos comerciais (0,67), infraestrutura para o comércio (0,62) e desejo de acesso aos produtos da região (0,70). Os jovens de nossa amostra (incluindo os de escolas públicas de periferia) avaliaram as questões relativas ao comércio internacional com a mesma atribuição de importância (ou de modo similar) que a de assuntos relativos aos seus espaços privados/individuais. Assim, atrelaram a ideia de abertura dos mercados e comércio internacional ao desejo de que o sucesso econômico do país gere, como consequência necessária, a melhoria social de todos, através da distribuição dos produtos e das ofertas formativas (formação pessoal e para o mercado de trabalho), crença que, no senso comum, costuma caminhar junto com a defesa da privacidade e da liberdade individual.

A articulação de dois outros conceitos, imaginário e modo de vinculação, também nos auxiliaram no entendimento deste fenômeno.

Juremir Machado da Silva (2006b, p. 11) entende que

O imaginário é um reservatório/motor. Reservatório, agrega imagens, sentimentos, lembranças, experiências, visões do real que realizam o imaginado, leituras da vida e, através de um mecanismo individual/grupal, sedimenta um modo de ver, de ser, de agir, de sentir e aspirar ao estar no mundo. …Motor, o imaginário é um sonho que realiza a realidade, uma força que impulsiona indivíduos e grupos. Funciona como catalisador, estimulador e estruturador dos limites da prática.

O imaginário seria um lócus de produção de sentido, um reservatório de uma dada cultura (ou poderíamos falar em reservatórios interligados de culturas), por meio do qual cada grupo teria interpretado os valores imaginados a partir de sua experiência coletiva, de suas normas e de seus mitos e, ao fazê-lo, colaboraria para a transformação dos sentidos que são comuns a todos os outros grupos (CAZELOTO, 2013).

Esta ideia de armazenamento cultural, comunicável de modo imediato (relações comunicacionais interpessoais) e mediado (indiretamente via aparatos comunicacionais), somamos à noção de modo de vinculação, de Edilson Cazeloto (2013), que refletiu sobre a existência de um imaginário capitalista. Para o autor, o conceito de vinculação busca alcançar a variedade de formas históricas e formas socialmente determinadas com que os vínculos entre seres humanos são construídos em sua dimensão material, de forma a produzir e reproduzir imaginários. Assim, este apontamento de Cazeloto (2013) enriqueceu a discussão, ao indicar a existência de um processo de vinculação entre o modo de produção capitalista e a universalização de valores mercantis no âmbito da cultura cotidiana.

É essa perspectiva que sustenta a hipótese de que um processo de longo prazo como a abstração dos vínculos deve corresponder a um conjunto de “necessidades sociais supervenientes”. No sistema capitalista, dada a propriedade privada dos meios de comunicação e a íntima relação entre a comunicação e o mercado, essas necessidades confundem-se com a própria reprodução ampliada das relações capitalistas. É nessas relações que deve ser construída a compreensão sobre a questão dos vínculos e do Imaginário (CAZELOTO, 2013, p. 49, grifos do autor).

Esta possível relação entre imaginário e valores mercantis, foi o que identificamos nas atribuições de valores dos jovens de nossa amostra. Houve uma supervalorização de temas relacionados ao discurso midiático de apelo e defesa dos interesses, tanto do mercado (interesses comerciais) quanto individuais, o que nos permitiu propor isto como maneira/sentido de operação da consciência: o discurso ideológico liberal como um filtro e quadro interpretativo da realidade que estaria participando das tomadas de decisões.

Assim, possivelmente, como forma de autopromoção, por mais que os jovens tenham se sentido ameaçados no contato com os organismos internacionais (ONU e MERCOSUL), atribuíram importância significativa aos assuntos que se relacionaram ao estreitamento dos laços culturais/comerciais do Brasil com os países da América Latina; ao aumento do comércio (0,67); aos programas de estudo e trabalho (0,86); à construção de estradas e ferrovias (0,62); à integração solidária entre os povos da região (0,66); e ao maior acesso a livros, filmes, músicas e produtos em geral (0,70). Agora, em que medida estes interesses manifestados refletiriam na possibilidade da derrubada ou flexibilização das fronteiras nacionais, tal como propôs a UNASUL, ou estes interesses se alinhariam no sentido da proposição de uma unificação política para a América Latina?

A questão 41 do questionário e sua alternativa ações para que, no futuro, a América Latina seja um único país nos auxiliou nesta resposta. Os dados sugeriram apenas 16,4% de aceitação (371 jovens), um índice de 36,4% de indecisão e o maior índice de recusa dentre as questões analisadas, 44% (1065 jovens). Além da maior recusa, esta alternativa também apresentou o menor índice de aceitação para a questão. Assim, dentre todos os temas da questão (controle sobre o trânsito de veículos; intervenção do governo na economia; igualdade entre homens e mulheres; distribuição de terras para os mais pobres; integração econômica e de moeda na América do Sul; e preservação do meio ambiente em detrimento da economia), quando questionados sobre a unificação política/fronteiriça da América do Sul, os jovens enfatizaram um posicionamento em sentido contrário. Aproximadamente metade dos jovens de nossa amostra foram totalmente contrários à unificação, os quais, quando somados ao índice de indecisos para a mesma alternativa, totalizaram 80,4% dos jovens.

Esta expressiva recusa possivelmente tem relação com os resultados encontrados pelas pesquisadoras Juliana Pirola da Conceição e Maria de Fátima Sabino Dias que, ao investigarem as narrativas de 67 jovens, para o mesmo período, perceberam que eles articularam as ideias de subdesenvolvimento, baixa tecnologia, desigualdade, desmatamento, poluição e violência, de modo bastante vitimista, imobilizador de ações no presente, para representar os países da América Latina (CONCEIÇÃO; DIAS, 2011). Ainda em outro texto, agora em parceria com a pesquisadora Raquel Alvarenga Sena Venera, Juliana Pirola sugeriu que

[...] diante da ausência de repertório sobre o passado, os jovens apreendem com a mídia as representações sobre a América Latina, recortadas apenas em problemas e se identificam com aquilo que imaginam ser os EUA. Os problemas contemporâneos da América Latina aparecem bastante nas narrativas dos jovens das duas escolas, entre eles, os que mais se destacaram foram tensões relacionadas ao Gasoduto, As FARC e o narcotráfico e Hugo Chaves na Venezuela como ameaça (VENERA; CONCEIÇÃO, 2012, p. 148).

Convém, ainda, citarmos aqui outro trecho:

[...] apenas uma narrativa questionou o sentido de inferioridade que se constrói sobre o “ser latino-americano”: “Hoje em dia, você diz que é americano e as pessoas não reconhecem. Americano é o estadunidense, o brasileiro não é americano, é latino.” (Narrativa DJ A05) O jovem diz não existir a possibilidade de ser reconhecido como americano porque essa nomenclatura é legitimada para o estadunidense, no entanto, resta ao brasileiro ser latino. Apesar de ser uma crítica, ela vem afirmando a inferioridade dessa identidade, como se fosse uma sina. O lugar que se deseja como identificação não possui reconhecimentos pelos outros no jogo de identidade e alteridade. Se ele disser que é “americano” não será reconhecido no lugar que gostaria, mas será interpretado como um erro de linguagem (VENERA; CONCEIÇÃO, 2012, p. 148, grifos das autoras).

Neste sentido, a considerável recusa encontrada à perspectiva da integração teria indicado, em alguma medida, também a recusa ao pertencimento/enquadramento nesta representação negativa - conjunto de memórias compartilhadas -, que evocam exemplos de problemas (sociais, econômicos, políticos), em contraste com a idealização da representação norte-americana. O único jovem que, na pesquisa das autoras, assumiu o pertencimento latino não o fez como motivo de orgulho, mas como um fardo que precisa ser abandonado ou carregado, sendo, por isso, motivo de vergonha, de ocultamento. Somamos a isto o aumento no número de imigrantes bolivianos, paraguaios e uruguaios (e de outras nacionalidades) no país, os quais, no período de nossa coleta de dados, como nos indicou o Sistema Contínuo de Relatórios sobre Migração Internacional nas Américas (SICREMI)15,, estavam migrando para o Brasil, além dos stocks aqui já estabelecidos. Via de regra, estes grupos são historicamente colocados à margem da sociedade, buscando se estabelecer economicamente em trabalhos que variam da formalidade à informalidade, sendo constantemente relacionados a uma imagem negativa de insucesso econômico, pobreza e violência. Como afirmou Erving Goffman (2012), a sociedade estabelece meios de categorizar as pessoas, imputando-lhes atributos que não precisam corresponder à realidade, mas que são construções sociais virtuais, expectativas normativas que constroem identidades sociais no imaginário coletivo e que são impostas sobre as pessoas. No caso específico dos imigrantes, o autor definiu este fenômeno como um estigma tribal, decorrente do critério da nacionalidade. Neste sentido, a recusa dos jovens em pertencer a esta representação negativa, em alguma medida, foi reflexo da consciência que, desvinculada da experiência (e do conhecimento histórico/científico), possivelmente projetou futuros que podiam ser desastrosos: no entendimento dos jovens, a unificação poderia significar que suas vidas, no futuro, assemelhar-se-iam a este conjunto de estereótipos.

Ainda vale considerar que esta recusa, em alguma medida, também tenha a ver com os sentidos de interpretação que são herdados do passado e que estariam dispostos na memória cultural e social destes jovens, a exemplo do modo como os latino-americanos foram representados pela historiografia nacional. Segundo Eujanian (1998), que refletiu sobre o surgimento das repúblicas latino-americanas, os Estados Nacionais fundaram sua legitimidade, soberania, e também a ideia de cidadania, sobre discursos que enfatizaram diferenças culturais, políticas, sociais e, inclusive, étnicas.

De modo aproximado e complementando este argumento, para a historiadora Heloísa Jochims Reichel (1998, p. 48),

Normalmente, as guerras geradas por questões de limites internacionais tornam-se acontecimentos que marcam a memória coletiva das sociedades que as vivenciam. Ao longo da história, as lutas contra inimigos externos têm contribuído para construir ou para fortalecer o sentimento de identidade na população, seja pela comemoração da vitória, seja pela frustração da derrota.

Assim, além das representações dos latinos enquanto imigrantes pobres, que permanecem como estigmas, ainda acrescentaríamos que, possivelmente, este imaginário também comporta a ideia do outro como um inimigo externo.

Considerações finais

A partir dos nossos dados, talvez tenha sido um exagero falar em sentimento de pertencimento dos jovens brasileiros à América Latina. O que se evidenciou mais significativamente foi algo que se aproximou de um sentimento de aproveitamento dos possíveis benefícios que a integração poderia vir a trazer, no campo ideológico, do que uma escolha intencional de identificação com a cultura, história, condição social e memórias compartilhadas. Assim, se os dados que indicaram ausência de interesse no conhecimento da história e cultura da região, de fato coincidirem com o desconhecimento dos jovens sobre a região (informação que nos escapou, dados os limites do questionário), o pequeno conhecimento/interesse encontrado por nossa pesquisa, da ordem de 30%, não foi suficiente para reverter os estigmas sociais, as realidades virtuais que, atualmente, existem na sociedade sobre a América Latina a ponto de possibilitar um consentimento mais significativo da integração (e da própria aceitação dos migrantes latinos em território nacional).

Ainda, convém avaliarmos este posicionamento de aversão dos jovens, não apenas como reflexo do medo ao estrangeiro, típico das zonas de fronteira, também do medo à mudança. Existe uma relação entre o entendimento processual da história e as identidades que promovem e aceitam as mudanças como algo positivo. Diante de poucos marcos referenciais que poderiam gerar reconhecimento e sentimento de pertencimento nos jovens, um modelo possivelmente estático da história, a se ver na avaliação de nação como algo natural, a sugestão de mudança proposta pelo enunciado poderia ter sido interpretada pelos jovens como um problema, ao desestabilizar os marcos de identificação considerados tradicionais (a exemplo de nação/país).

Por mais que os documentos do MERCOSUL Educacional tenham avançado na consideração da história e cultura latino-americana em ambiente escolar, o que evidenciamos em nossos dados foi um interesse dos jovens enviesado pela ideia da autopromoção: interesso-me pela América Latina na medida em que ela possa oferecer algo em troca. Então, no interior de um regionalismo econômico, que se faz sob crescentes políticas neoliberais e que refletem na maneira como os jovens estão interpretando a realidade, reforçamos aqui, urgentemente, o papel da História em ambiente escolar como o espaço do conhecimento do outro, da história e da cultura latino-americana, a se idealizar uma integração que se paute em princípios como humanidade, solidariedade e interculturalidade.

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Notas

1 Os documentos analisados foram: Tratado de Assunção (1991); Protocolo de Intenções (1991); Planos trienais (1992 – 2015); Tratado Constitutivo da União das Nações Sul-Americanas (2008); Estatuto do Conselho Sul-Americano de Educação (2012); e Plano Estratégico Quinquenal para a educação (2013-2017).
2 Disponível em: <http://gedhiblog.blogspot.com.br> Acesso em: 03 mar. 2018.
3 Alguns exemplos das demais temáticas do questionário: o significado e o objetivo da História; formas da História no cotidiano; confiabilidade nos dados da cultura histórica; metodologia do ensino da História; interesse e participação na política; interesse por temáticas da História e relação com a vida prática (história do cotidiano, cultura indígena, colonização, imigração, formação das nações, independência, ditaduras militares, meio ambiente, Idade Média, Revolução Industrial, Nazismo); projeção de futuro para a coletividade e para a individualidade; desigualdade social; a construção da história; conceituação de democracia; temas polêmicos da atualidade; funções e utilização da internet em casa e em ambiente escolar; dados socioculturais do aluno, etc.
4 A amostra brasileira refere-se a 2420 questionários. Em alguns momentos de nossa análise referimo-nos a outros valores aproximados, sugerindo ser a totalidade da amostra. Isto se deve aos erros de preenchimento, por parte dos jovens, e a alguns problemas de leitura por parte do software. Assim, indicamos, aqui, que a amostra pode variar sensivelmente de uma questão para outra ou de uma alternativa para outra. Distribuição dos questionários por cidade: Araguaína (53), Parintins (87), Aracaju (116), Teixeira de Freitas (42), Cáceres (151), Cuiabá (135), Rondonópolis (163), Dourados (106), Três Lagoas (69), Iporá (61), Brasília (98), Itararé (128), São José dos Campos (142), Belo Horizonte (93), Ituiutaba (136), Uberlândia (150), Curitiba (139), Ponta Grossa (133), Curiúva (26), Florianópolis (142), Passo Fundo (95), Porto Alegre (155).
5 Disponível em: <https://www.gnu.org/software/pspp/> Acesso em: 03 mar. 2018.
6 Em nossa tese, analisamos isoladamente cada um destes pontos.
7 As vinte e duas cidades analisadas, 2420 questionários.
8 Tomamos como referência as discussões presentes na obra Descobrindo a estatística usando o SPSS, de Andy Field (2009), que ajudou a expandir as possibilidades de análise e interpretações dos dados provenientes do software.
9 No presente texto, escolhemos suprimir as tabelas, dada a limitação de páginas.
10 Questões disponíveis na íntegra (BAROM, 2017, p. 244) em: <http://tede2.uepg.br/jspui/handle/prefix/1237>. Acesso em 02 mar. 2017.
11 Referimo-nos à divisão das civilizações de Huntington (1997, p. 26): civilização sínica, nipônica, hindu, budista, islâmica, ocidental, latino-americana, ortodoxa e subsaariana.
12 É digno de nota que estes dados foram coletados no Brasil em um período muito próximo ao início das manifestações de 2013 (poucos meses antes) que, dentre as diversas bandeiras e reivindicações apresentadas, trouxeram elementos de um patriotismo ufanista e a reivindicação pelo retorno dos militares ao poder. Em certa medida, a baixa média apresentada pela alternativa referente ao desenvolvimento da democracia pôde ser considerada como parte deste fenômeno maior, ou como indícios dele. Vale a pena considerar, também, que as manifestações tiveram, contraditoriamente, componentes à esquerda do governo federal, o que ainda indicou, pelo outro lado do espectro, uma situação de insatisfação com o atual modelo de democracia.
13 Assim, a maioria das alternativas que analisamos refletiu esta tensão entre ser uma média neutra homogênea ou uma média com aparência homogênea de neutralidade.
14 Disponível em: <http://migre.me/w07p9>. Acesso em: 05 fev. 2017.
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