Resumo: Alguns autores (Krischke, 2000; Carvalho, 2004) têm chamado a atenção para o fato de que a luta ambiental tem representado um campo importante para o estabelecimento de nova cultura política entre os jovens. Do mesmo modo, as diversas pesquisas encomendadas, principalmente, por empresas e pelo terceiro setor, no sentido de compreender o perfil da população jovem brasileira, têm identificado certo interesse desse grupo social pelo meio ambiente. Seguindo o mesmo movimento, ações governamentais têm, ainda que de forma incipiente, procurado contemplar esforços para a implementação de uma agenda ambiental em que os jovens sejam protagonistas. Nesse sentido, na presente proposta, objetiva-se a refletir sobre os problemas socioambientais identificados por estudantes de ensino médio em algumas das 12 regiões de desenvolvimento de Pernambuco e, ao mesmo tempo, a discutir como a percepção socioambiental das juventudes pode contribuir para o estabelecimento de políticas públicas para os jovens.
Palavras-chave:juventudejuventude,meio ambientemeio ambiente,políticas públicaspolíticas públicas.
Abstract: Some authors (Krischke, 2000; Carvalho, 2004) have drawn attention to the fact that the environmental struggle has been an important field for the establishment of a new political culture among young people. Similarly, the various studies that have been commissioned mainly by companies and the Third Sector in order to understand the profile of the young Brazilian population have identified an interest of this social group in the environment. Following this same movement, government actions have, although incipiently sought to include efforts to implement an environmental agenda in which young people are protagonists. In this sense, the present proposal aims to reflect on the social and environmental problems identified by high school students in some of the 12 Pernambuco development regions and, at the same time, to discuss how the environmental awareness of young people can contribute to the establishment of public policies for them.
Keywords: youth, environment, public policy.
Políticas públicas de juventude e meio ambiente: o que a percepção socioambiental dos jovens pode dizer?
Public policies on youth and the environment: What can youth’s socio-environmental perception contribute?

Recepção: 02 Agosto 2015
Aprovação: 24 Junho 2016
Para além das diversas motivações acadêmicas que orientam o desenvolvimento de investigações em torno da juventude como fenômeno social, há algum tempo diversas pesquisas são realizadas no sentido de se compreender o perfil dos jovens brasileiros em um esforço de aprofundar quem são eles − e com isso contribuir para a formulação de estratégias capazes de promover políticas que possam atuar diante das demandas apresentadas por esse grupo social − ou de entender e captar as dinâmicas e o potencial de consumo dessa parcela da população.
Um dos aspectos para os quais a generalização dos referidos estudos tem conseguido apontar é a tendência crescente da preocupação e do interesse de vários segmentos juvenis pela questão ambiental, como o desejo de participar de ações de proteção e cuidado com o meio ambiente, mobilizações e entidades atuantes nessa área, além de indicarem tal preocupação, desenvolvendo ações individualizadas de consumo consciente.
Entretanto, embora a sensibilização de camadas crescentes da juventude que tomam a preocupação com o meio ambiente como forma de ação política possa revelar nova cultura política entre os jovens o fato é que a ligação mais direta entre alguns segmentos juvenis e a causa ambiental não é um fenômeno social tão recente, se tomarmos como referência a experiência de contracultura do movimento hippie nos anos 1960.
A novidade, atualmente, parece inserir-se, na reanimação de valores que questionam a dinâmica da produção e o consumo no capitalismo, os quais foram, em parte, ressignificados pela indústria do consumo e pelos meios de comunicação de massa na forma de imagens e ideias estampadas em camisas e no apelo às práticas sustentáveis (greenwashing) que produzem associação da imagem de empresas e grupos ao ideário contemporâneo de urgência socioambiental.
Diante disso, pode-se afirmar que a assunção de consciência ambiental tem, gradativamente, se disseminado em vários setores da sociedade, entre os quais os jovens. Tal consciência é expressa pelo acesso cada vez maior a informações e pelo fato de que “algumas mensagens tendem a ser mais conhecidas por públicos específicos, tais como as ambientais que são mais percebidas pelos jovens” (IDEC, 2013, p. 13). Entretanto, segundo o IDEC (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), os consumidores manifestarem uma confiança parcial nos apelos contidos nos rótulos dos produtos e tendem a utilizar tal informação de maneira ponderada, no momento da compra.
Ao analisarem a relação entre juventude e meio ambiente, Krischke (2000) e Carvalho (2004) consideram que a defesa do meio ambiente se tem apresentado a partir de um processo de ressignificação da cultura política entre os jovens (menos partidária e mais social). No entanto, acredita-se, não têm constatado estudos que discutam a especificidade dessa relação, principalmente no tocante aos jovens não ambientalistas. A esse respeito, no presente texto se tem por objetivo discutir como os problemas socioambientais produzidos pelo desenvolvimento econômico de oito regiões de desenvolvimento de Pernambuco são percebidos pelos jovens. Com base em tal aspecto, procurou-se, ainda, destacar a existência de uma confluência incompleta da relação entre juventude e meio ambiente, assim como, debater de que forma a atenção a essa percepção pode contribuir para a formulação de políticas públicas que se estabeleçam no aprofundamento dessa temática em estudo.
Dentre as múltiplas mudanças que se têm processado no Brasil contemporâneo, a alteração de seu perfil demográfico poderia provocar a seguinte indagação: haveria sentido em discutir a juventude, considerando que “o novo padrão demográfico, dado pela combinação de taxas de mortalidade e de fecundidade em declínio, tem alterado a distribuição etária da população no sentido de seu envelhecimento” (DIEESE, 2013, p. 3)? A resposta a essa questão essa, indiscutivelmente, explicitada no fato de que, embora esta tendência seja um marco importante para se pensar a direção e os investimentos de determinadas políticas públicas, o aumento da população idosa não reprime as demandas de grupos sociais específicos, como é o caso dos jovens, sejam eles maioria ou minoria na pirâmide etária de um país.
Desde Bourdieu (1983, p. 113), um aspecto crucial para o esforço de compreensão da juventude vem sendo pontuado: aquele em que se denuncia a falsa unidade entre indivíduos desse grupo, ao considerá-los dotados de interesses comuns e identificados em idade biológica definida. Como consequência disso, a ressignificação da interpretação sobre a vivência juvenil impôs grande desafio à sociologia da juventude: compatibilizar o critério etário com outras variáveis, de modo a dar conta das diversas experiências de ser jovem.
Esse desafio se impõe como imperativo teórico e metodológico para os estudos que abarquem a complexidade das vivências juvenis, porque buscam definir um conceito de juventude, no sentido de explicá-lo, utilizando-se de referências múltiplas, como gênero, contexto social e histórico, grupo etário, nacionalidade, grupo étnico etc. Aqui, a ênfase se encontra não apenas na relatividade mas também no que a particularidade dessas experiências tem a revelar sobre os jovens. Isso posto, o artigo se consagra à tarefa de tomar a juventude como uma construção social, argumento que nos conduz à compreensão de que talvez não seja possível falar de juventude, mas só de juventudes.
Esse parâmetro orientador tem servido para se pensar o jovem tanto do ponto de vista de estudos e pesquisas quanto da aplicação de políticas públicas. Propõe-se considerar a diversidade na qual eles se inserem permite que se entenda a juventude de maneira distinta da que usualmente tem sido utilizada quando referenciada como uma fase da vida. Isso porque, conforme defende Pais (1990), é preciso ultrapassar a ideia de juventude que a enquadra numa unidade para tomá-la como diversidade.
Para a finalidade deste trabalho, um dos aspectos da referida diversidade que se ressalta é o contexto geográfico (região de desenvolvimento e município) no qual os jovens analisados estão inseridos.
Assim, do ponto de vista do planejamento do estado, o processo de regionalização de Pernambuco por órgãos das administrações estadual e federal e por estudos acadêmicos compreendeu o período de 1946 a 2003. Essa regionalização buscou qualificar e dotar de investimentos as regiões, com base nas características naturais, culturais, políticas e econômicas, embora as desigualdades produzidas ao longo de suas respectivas histórias sejam, continuamente, reveladas em dados apresentados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Desse modo, em cada região de Pernambuco, é possível localizar polos de desenvolvimento que se caracterizam pelo investimento governamental em setores estratégicos de regionalização do estado comprometidos com a vocação econômica das regiões. Ao mesmo tempo, a população jovem distribuída ao longo dessas regiões de desenvolvimento é a mais diversa possível e, considerada a realidade em que se encontra inserida, essa diversidade é fruto da especificidade dos problemas e das vicissitudes do lugar onde vive.
Nesse sentido, ela não está alheia aos processos que implicam desenvolvimento ou estagnação de sua região, porque é afetada por eles, seja pela possibilidade de ampliar seu bem-estar e suas capacidades de inserção no mundo, seja por constranger e criar um ambiente de vulnerabilidade social onde quaisquer perspectivas de futuro tendem a apontar para prognósticos negativos, a menos que ações efetivas sejam implementadas, garantindo a construção de novos cenários por meio de políticas públicas pensadas com, de e para os jovens (Silva, 2014).
Diante disso, acredita-se, o contexto de desenvolvimento econômico de uma região ou estado nos fornece variado leque de possibilidade para se apreender a percepção ambiental dos seus habitantes no que concerne aos impactos das atividades econômicas desenvolvidas em seu território.
Atualmente, pode-se afirmar, os efeitos da crise socioambiental estão cada vez mais presentes no cotidiano dos jovens, seja em relação à proximidade destes àqueles, seja pela, problematização dos efeitos com base em processo de ampla ambientalização da pauta de notícias dos meios de comunicação de massa e da inclusão, na escola, de um currículo que recorta, em parte, tais preocupações.
No contexto de desenvolvimento do estado de Pernambuco, o período compreendido entre 2007 e 2014 caracterizou-se por um momento de forte crescimento econômico, oportunidades de trabalho e fortes impactos socioambientais presentes nas regiões de desenvolvimento (RD) do estado. Várias estratégias de investimento estatal localizadas em ações específicas, como incentivo fiscal, disponibilização de estrutura para os negócios e capacitação da mão de obra local para atender às demandas de emprego geradas nesse circuito, foi possível constatar um crescimento exponencial da economia pernambucana.
Assim, novas oportunidades de formação profissional para a juventude foram apresentadas com a oferta de cursos técnicos profissionalizantes integrados à educação básica. Fora de tal oferta, houve aparelhamento de escolas e ampliação do tempo escolar diário, além da construção de escolas de referência de tempo integral e semi-integral. Tudo isso instigou a indagação: como, em contextos de crescimento econômico, os jovens percebem os impactos socioambientais do desenvolvimento sobre a sua região? Diante desse problema, iniciou-se uma investigação com uma amostra de 1.800 jovens distribuídos em 12 regiões de desenvolvimento do estado, conforme ilustra a Figura 1.

Figure 1. Pernambuco development regions.
www.condepefidem.pe.gov.brDe cada região foi selecionado o município mais populoso,[2] e nele escolhidas duas escolas estaduais de ensino médio que se inserissem em uma ou mais das seguintes características: escola técnica, escola de referência do ensino médio com educação integral ou semi-integral, ou ensino regular. A coleta de dados tem sido feita com a aplicação de um questionário misto com os estudantes com idade entre 15 e 29 anos. Já os sujeitos da pesquisa são escolhidos de turmas disponibilizadas à participação, com a autorização da direção de cada escola.
No que diz respeito aos questionários, estes foram autoaplicados por meio da ferramenta Google Docs, nos laboratórios de informática das escolas participantes, a um um grupo de 150 alunos de modo a compor uma amostra total de 1.800 questionários.
Neste artigo, discutir-se-ão os resultados obtidos nas regiões de desenvolvimento Mata Sul (Vitória de Santo Antão), Mata Norte (Carpina), Metropolitana (Cabo de Santo Agostinho), Sertão do Pajeú (Serra Talhada), Sertão do São Francisco (Petrolina), Agreste Meridional (Garanhuns), Agreste Central (Caruaru) e na região de desenvolvimento Agreste Setentrional (Santa Cruz do Capibaribe). No total participaram 1.050 jovens.
O meio ambiente é um objeto multidimensional e assim aparece, como categoria social apropriada por diferentes agentes que fazem uso dos seus recursos conforme interesses, história e visão de mundo, externando, com isso, distintas formas de representação e apropriação da natureza. No Brasil, na primeira década do século XXI, impulsionados por interesses de setores do governo, de ONG e do mercado, muitas pesquisas, com objetivos, amostras e estratégias diferentes, procuraram identificar quem eram os jovens brasileiros e sul-americanos, de modo a subsidiar importante processo de construção de políticas públicas para a juventude.
Em muitas das pesquisas realizadas, sobretudo naquelas organizadas por empresas e organizações do terceiro setor, a ideia subjacente era construir um perfil da juventude que ajudasse a caracterizá-la e a identificar determinadas tendências que orientassem o comportamento e as escolhas desses jovens. O que tais estudos revelaram, do ponto de vista dos interesses de nosso trabalho, foi uma tendência candente que tem apontado para preocupação com o meio ambiente na constituição desse perfil juvenil.
No Perfil da juventude brasileira divulgado pelos institutos Cidadania, Hospitalidade e o Sebrae em 2003, verificou-se, entre outros aspectos, que dentre os assuntos que mais interessavam aos jovens, não se incluíam preocupações socioambientais, mas tão somente questões sociais, como em 1º lugar educação, em 2º emprego e em 3º cultura. A temática em estudo só apareceu quando questionados sobre quais problemas mais os preocupavam. Neste caso, entre os 15 itens mais citados, o meio ambiente apareceu na 13ª colocação, enquanto segurança/violência, emprego e drogas ocuparam a 1ª, 2ª e a 3ª colocação respectivamente. A pesquisa revelou que o meio ambiente também apareceu como assunto que eles gostariam de discutir com os amigos e os pais e que deveria ser um dos assuntos mais importantes a serem discutidos pela sociedade.
Em 2008, o estudo Pesquisa sobre juventude no Brasil (Abramo et al.), publicado pelo Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas e o Instituto Pólis[3]) apontou para maior disposição dos jovens em participar de grupos de defesa do meio ambiente do que os adultos. Apesar de os jovens participarem menos que os adultos desses grupos, aqueles informaram que gostariam de participar mais. Nesse sentido, na pesquisa se indagou se existiam obstáculos, em tais organizações, que dificultavam a incorporação do segmento sob análise em seus quadros. Outros destaques da pesquisa mostram que, nas versões anteriores do estudo, os problemas socioambientais não apareceram com tanta relevância quanto em 2008, mesmo a destruição do meio ambiente sendo apresentada pelos jovens (na 7ª colocação) como um dos problemas que ameaçavam a democracia e os cuidados com o meio ambiente sendo indicados como uma das demandas mais prioritárias.
Esta perspectiva foi ratificada, também, em 2008, na investigação Juventudes sul-americanas: diálogos para a construção de uma democracia regional (Abramo, 2008), realizada pelas organizações anteriormente citadas, em que os cuidados com o meio ambiente aparecem na 5ª posição dentre nove prioridades.
Em pesquisa de 2008, a emissora de TV MTV divulgou também um estudo específico sobre juventude e meio ambiente intitulado Dossiê Universo jovem MTV – Preservação do planeta. A pesquisa faz parte de um estudo longitudinal iniciado em 1999 que investiga temas relacionados a comportamentos, atitudes e valores dos jovens brasileiros. Embora essa pesquisa tenha evidenciado que a maior preocupação dos jovens residia na violência, vários itens se associavam às preocupações socioambientais do referido grupo, como aquecimento global e mudanças climáticas (5ª colocação): poluição, falta de água, escassez de alimentos, consumismo (9ª, 16ª, 24ª e 27ª colocações, respectivamente). Para eles, os principais problemas socioambientais do Brasil eram a poluição do ar (13%) e o lixo urbano e doméstico (6%). No que diz respeito ao conhecimento sobre a temática ambiental, os integrantes do estrato de 12 a 14 anos eram os mais informados, porém os mais escolarizados e com idade entre 19 e 30 anos é que mais apresentaram envolvimento em ações práticas.
Em 2009, comparando-se com estudos realizados em 2001, o Instituto Akatu divulgou a pesquisa Estilos sustentáveis de vida – Resultados de uma pesquisa com jovens brasileiros. Esse é um dos poucos estudos específicos sobre a temática “juventude e meio ambiente” no Brasil. Objetivou-se avaliar os estilos de vida, os critérios de escolha e os fatores decisórios dos jovens adultos, relacionando-os às questões de sustentabilidade. Seus dados indicam avanços em dois temas centrais relacionados à sustentabilidade (com o aumento da percepção sobre a importância do tema): mudanças climáticas e impactos do lixo entre os jovens. Todavia, na pesquisa se argumenta que os jovens estariam dispostos a participar de ações socioambientais, mas apresentavam dificuldades para implementá-las em seu cotidiano. Nesse estudo, a questão socioambiental foi secundarizada pelos jovens em relação às questões sociais, como combater e prevenir crimes, erradicar e reduzir diferenças sociais e melhorar a oferta de empregos.
A evidência de que há crescente preocupação com o meio ambiente entre os jovens pode ser constatada, ainda, na pesquisa do Ibope Mídia, divulgada em 2013, Geração Y e Z: Juventude digital. Segundo o estudo, em 2010, a quantidade de jovens que diziam não ter preocupação com o meio ambiente se reduziu de 58% entre os jovens da geração Y (20 a 29 anos) para 19%, já para geração Z (12-19 anos) a quantidade caiu de 53% em 2001 para 19% em 2010.
Por fim, em 2013, a SNJ (Secretaria Nacional de Juventude), por meio do Participatório – Observatório Participativo da Juventude, divulgou a pesquisa Agenda Brasil – Pesquisa nacional sobre perfil e opinião dos jovens brasileiros (Brasil, 2013a). Nela se apresenta que o meio ambiente/infraestrutura se situava na 10ª colocação dentre 16 problemas que mais preocupavam os jovens no momento e na 11ª e 12ª colocação dentre os assuntos que gostariam de discutir com os pais e amigos, respectivamente.
Por meio dos estudos aqui apresentados, é possível inferir que as preocupações socioambientais dos jovens vêm revelando crescente interesse deles pelo tema, ainda que secundarizado em relação aos problemas sociais, que se mostram mais urgentes e imediatos quanto à necessidade de resolução. Porém, mesmo que as citadas investigações tenham apontado demandas que estariam na ordem do dia das preocupações desses jovens, a maioria de tais pesquisas não expressa interesse específico em torno da relação juventude e meio ambiente. Isso aponta para a necessidade de melhor qualificação da importância dada pela parcela jovem da população à questão socioambiental.
A amostra de 1.050 estudantes pesquisados até o momento nos permitiu traçar o seguinte perfil dos jovens residentes nas oito RD aqui analisadas. Quanto à idade, 99,0% dos participantes da pesquisa têm entre 15 e 19 anos. Quanto à cor, 52,0% consideravam-se pardos; 27,0%, brancos; 12,0%, pretos; 6,0%, amarelos e 3,0%, indígenas. Entre os que seguiam alguma religião, 57,0% eram católicos; 34,0% se declaravam evangélicos; 7,0% ligados a religiões afro-brasileiras e 2,0% eram espíritas. Mas um dado a ser destacado, e que confirma tendência apontada em muitos estudos de demografia (Censo 2010 – www.ibge.gov.br), é o fato de 19% dos pesquisados afirmarem não seguir nenhuma religião.
Quanto ao local de residência, 73,0% residiam na zona urbana dos municípios 27,0%, na zona rural. Em relação ao sexo, a maioria dos respondentes eram mulheres, o que corresponde a 56,0% dos pesquisados. Estavam cursando o 2º ano do ensino médio, 34,0%; 32,45%, o 1º ano; 33,0%, o 3º ano e 1,55% em outros cursos.
Incialmente, na pesquisa, procurou-se identificar os principais problemas de Pernambuco foram apontados pelos pesquisados. Como resultado, os jovens indicaram, em 1º lugar, saúde; em 2º lugar, violência/criminalidade e, em 3º lugar educação. Em todas as regiões analisadas, os três principais problemas convergiram para os aqui apresentados, embora com pequenas variações de ordem que diferem em termos de escala em cada município pesquisado.
Quando a questão foi direcionada para que indicassem qual o principal problema produzido pelo atual desenvolvimento de Pernambuco, drogas e violência apareceram como o principal aspecto destacado pelos jovens, seguido, em ordem decrescente, pela poluição, aumento do custo de vida e congestionamento. A novidade, entretanto, é que problemas de natureza socioambiental, embora não tenham aparecidos em primeiro lugar nessa escala, foram apontados com destaque, a exemplo da poluição e do congestionamento. Por sua vez, problemas de ordem social, como as drogas e a violência, apareceram de maneira a ratificar uma realidade bem presente em todas as regiões de desenvolvimento do estado.
Do ponto de vista dos problemas socioambientais que o desenvolvimento de Pernambuco tem produzido, os destaques entre as respostas são: em 1º lugar, o lixo; em 2º lugar, a poluição de rios e mares; em 3º lugar a poluição do ar. Agrupando as principais respostas dadas pelos entrevistados em três mesorregiões (Metropolitana, Mata, Agreste e Sertão), obter-se-á a seguinte configuração: os jovens da Região Metropolitana consideram o desmatamento o principal problema socioambiental, os da Região da Mata, Agreste e Sertão apontaram o lixo.
Apesar da identificação de determinados problemas socioambientais pelos jovens das oito regiões de desenvolvimento, a pesquisa vem demonstrando desconhecimento dessa população no tocante às entidades que atuam na mitigação e enfrentamento aos referidos problemas, a ponto de 77,0% afirmarem não saber responder à questão, 11,0% se posicionarem-se dizendo não haver entidades em seus municípios e apenas 12,0% serem conhecedores da existência dessas entidades.
Esse dado é um indicador de duas situações que podem ser posteriormente constatadas: (a) as limitações no quadro de pessoal dessas entidades dificultam sua atuação e o processo de divulgação de suas ações, ou (b) os estudantes não têm interesse no trabalho realizado por elas. Entre as entidades conhecidas, as mais citadas foram: em 1º lugar, Secretaria de Saúde, em 2º, Secretaria de Meio Ambiente, em 3º, IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). Destacou-se, ainda, nas respostas, a indicação do trabalho de garis como entidades de defesa do meio ambiente, reforçando o desconhecimento que esses jovens apresentaram a respeito da questão em relevo.
Tomando-se o desconhecimento de entidades que atuam na mitigação de problemas, os jovens estudados consideram-se ainda pouco informados (50,0%) a respeito de problemas socioambientais. Embora o número daqueles que se disseram informados seja representativo (33,0%), os menos informados eram os jovens das RDs Agreste Setentrional, Agreste Central, Agreste Meridional, Mata Norte, Sertão do São Francisco.
O mesmo grau de desinformação pôde ser identificado quando indagados a respeito de instituições que apoiavam projetos socioambientais. Evidencia-se o fato de que instituições com forte inserção nos temas socioambientais no estado não foram citadas pelos jovens, a exemplo da CPRH (Agência Estadual de Meio Ambiente). Mesmo os que afirmaram conhecer entidades, não citaram a agência, mas o IBAMA (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente) e o Greenpeace. Todavia, o que mais merece atenção nas respostas é o desconhecimento por parte de 88,6% dos pesquisados sobre as entidades de apoio a projetos socioambientais em Pernambuco.
Se existe baixo conhecimento no tocante à existência de entidades que trabalham com a proteção do meio ambiente entre os pesquisados, a compreensão de como se forma a consciência socioambiental dos estudantes demonstra que, entre as fontes utilizadas no processo de informação, destaca-se a posição privilegiada dos meios de comunicação, seguidos da escola, dos amigos, da família e, finalmente, da Igreja, como importantes fontes popularizadoras desses problemas. Entretanto, um aspecto fundamental que os dados da pesquisa permitem perceber: é o lugar assumido pela família nesse processo, uma vez que ela aparece como menos importante no circuito de formação dos jovens, se comparada, por exemplo, à importância que eles têm atribuído aos amigos. Acredita-se, entretanto, que o lugar menos influente da família resulte do estágio em que os jovens estejam sob a influência da socialização secundária, que, como conceituaram Berger e Luckmann (2008, p. 175), “é qualquer processo subsequente que introduz um indivíduo já socializado em novos setores do mundo objetivo de sua sociedade”. Isso explicaria a importância assumida pelo círculo de amigos como fonte de informação, em tempos em que o mundo digital tende a mantê-los cada vez mais conectados (Silva, 2014). Para indivíduos com idade até 12 anos, talvez fosse importante analisar se a influência da família sobre o conteúdo das informações socioambientais representa uma parcela significativa da formação de sua consciência socioambiental.
Entre os meios de comunicação que mais influenciavam as opiniões dos jovens pesquisados, a TV (35,0%), a Internet (30,0%), o rádio (11,0%), o jornal impresso (10,0%) e as revistas em geral (8,0%) foram apresentados como os mais importantes. A presença tanto da TV quanto da Internet nos resultados da pesquisa se associavam-se às características da geração “Z”: jovens que conhecem o controle remoto e a internet desde a infância e possuem a capacidade de interagir com vários equipamentos e informações ao mesmo tempo.
A influência que esses meios de comunicação exerciam na formação da consciência socioambiental das juventudes aqui estudadas pode ser avaliada, tomando-se como referência a confiança que os jovens depositam nas informações veiculadas sobre os problemas socioambientais. Para 43,0% dos pesquisados, essas informações são coerentes, embora também seja possível identificar certa desconfiança, ao sinalizarem em suas respostas, aspectos, como a superficialidade das informações (18,0%) e veiculação de informações consideradas fatalistas (18,0%), exageradas (7,0%) e incompletas (6,0%).
No que tange aos aspectos mais atitudinais dos jovens quanto aos problemas socioambientais, questionou-se se o conforto que o progresso traz é mais importante do que preservar o meio ambiente. O resultado aponta para um dado preocupante, pois a soma dos que concordam em parte (21,0%), concordam totalmente (9,0%) e discordam em parte (28%) indica quanto a ação desenvolvimentista encontra amparo na percepção desses jovens para se justificar. Observa-se, ainda, que a maioria daqueles que concordam em parte pertencem à RD Mata Sul, região que tem sofrido bastante com a sua estagnação econômica.
Ainda em relação às atitudes dos pesquisados, foi possível identificar quais ações aqueles jovens realizavam em seu cotidiano, para reduzir os problemas socioambientais, e no que eles estariam dispostos a contribuir para proteger o meio ambiente. As respostas à primeira questão foram abertas, para a segunda, foram apresentadas 12 opções, entre as quais havia respostas que enfatizavam alternativas de ação individualizadas e coletivas.
Nesse aspecto, observa-se uma diferenciação de perspectiva entre aquilo que de fato, eles faziam aquilo que estariam dispostos a fazer. Em relação à primeira, verifica-se uma atenção mais individualizada para a resolução dos problemas pelos jovens (jogar o lixo no local adequado, economizar água e reciclagem). Já no que tange à segunda, no conjunto de opções citadas a soma daquelas que preconizam ações mais coletivas se destaca: realizar um projeto ambiental (19,0%), participar de atos de mobilização e conscientização ambiental (13,0%), participar de atos e organizações ambientalistas (9,0%).
A ênfase na dimensão individualizada continua tendo ressonância quando se analisa, também, a participação dos pesquisados em mobilizações em prol do meio ambiente. O resultado revela que apenas 18,0% estiveram presentes em mobilizações com essa finalidade. Essa tendência de pouca mobilização pode está associada à baixa participação dos jovens em algum grupo organizado (religioso, artístico, político, estudantil), tanto que 60,0% dos pesquisados afirmaram não ter qualquer vínculo com algum desses grupos. Assim, a dimensão da ação individualizada assumida pelos jovens tende a destacar o entendimento de que, “se cada um fizer sua parte, o problema será resolvido”.
Por fim, a última questão apresentada aos jovens foi: qual problema socioambiental deve ser priorizado pelos governos e pela sociedade para ser enfrentado neste século? O Quadro 1 sintetiza a resposta por região.

Chart 1. Development regions and problems that should be prioritized.
A análise dos dados (Quadro 1) nos permite considerar que os municípios localizados na região Sertão (Petrolina e Serra Talhada) elegeram os problemas relacionados à água como prioritários, pois no Sertão do Pajeú, a seca produz dificuldades, como a escassez desse recurso e no Sertão do São Francisco os impactos sobre o rio São Francisco (assoreamento, desperdício de água, problemas da transposição e do projeto de fruticultura irrigada) estariam na ordem do dia das preocupações não apenas dos jovens, mas também da população ali localizada. Já no Agreste Setentrional, o destaque para a poluição do rio se deve à própria dinâmica de desenvolvimento dessa região, centrada no Polo de Confecções do Agreste, em que o processo de lavagem do jeans está baseado no alto consumo de água e na geração de efluentes altamente contaminados com produtos químicos. Nas demais regiões, a poluição aparece como um aspecto geral dos impactos próprios das atividades produtivas nessas regiões de desenvolvimento.
A investigação em torno da relação entre juventude e meio ambiente tem se apresentado como campo de estudo ainda bastante incipiente tanto do ponto de vista da Sociologia Ambiental quanto da Sociologia da Juventude. Conforme demonstramos, salvo exceção, em seu conjunto, a atenção dada pelos jovens às questões socioambientais aparece como subproduto de estudos que procuram traçar um perfil da juventude brasileira e, portanto, secundarizada em termos de fenômeno e interesse sociológico[4]. Esse vazio de investigações tende a corroborar a necessidade de um investimento mais amplo em pesquisas, dentro da especificidade da temática, para que seja possível identificar um processo mais amplo, ou não, de ambientalização dos discursos e de práticas juvenis.
Parte desse esforço já ilumina o horizonte das políticas públicas à medida que o Programa Juventude e Meio Ambiente, dos Ministérios da Educação e do Meio Ambiente (Brasil, 2007), tem sugerido um investimento em pesquisas que apresentem este interesse. Essa estratégia vem ancorada nas orientações que documentos, como a PL 4530/2004 (Brasil, 2004), em tramitação no congresso que instituirá a Política Nacional de Juventude, as Conferências Nacionais de Juventude e o Estatuto da Juventude (Brasil, 2013b), têm indicado, a partir das demandas que os jovens brasileiros tem tornado público nos últimos anos. Um exemplo: desde 2014, o tema está em editais públicos, como o PROEXT, que contemplam ações de extensão universitária que se desenvolvam, tendo por base a linha de ação Juventude e meio ambiente - apoio às iniciativas que promovam o envolvimento de jovens, dentro e fora da universidade no cuidado com meio ambiente e na gestão ambiental.
Do ponto de vista governamental, constata-se a concentração de ações específicas sobre juventude e meio ambiente, no período de 2003 a 2010, com a realização de diversas conferências, publicações, além da criação (e apoio) dos Coletivos de Juventude e Meio Ambiente (COJUMA), da Rede de Juventude e Meio Ambiente (REJUMA)[5]. Estes últimos estão bastante desarticulados, conforme se verifica na realidade do estado de Pernambuco (Nascimento, 2015).
Nesse caminho, a qualificação dos discursos, das práticas e da percepção socioambiental juvenil pode sugerir alternativas à sensibilização dessa parcela da população brasileira, herdeira de grandes problemas socioambientais e inserida em um mundo de rápidas transformações. Da mesma forma, pesquisas de maior alcance podem subsidiar projetos e programas que levem em consideração o fato de que parte da população jovem se acha pouco informada a respeito de problemas socioambientais.
Isto pode ser verificado na pesquisa aqui apresentada a qual aponta um conjunto de problemáticas relativas aos jovens estudantes pernambucanos. De um lado, percebe-se quanto os sujeitos pesquisados nas oito RDs se consideraram pouco informados em relação aos problemas socioambientais das regiões onde viviam fato reforçado pela ignorância quanto às instituições que apoiam projetos socioambientais e que trabalham para a mitigação e resolução de tais problemas no estado de Pernambuco.
Embora se faça necessário o aprofundamento de vários aspectos apresentados na pesquisa, é preciso enfatizar que a associação mais imediata entre a juventude e o meio ambiente aponta para uma convergência incompleta, em que se percebe que os discursos de parte destes jovens estão bem distantes da prática efetiva de defesa, proteção e cuidados socioambientais. No entanto, isso não contradiz o fato de que a revalorização da natureza se tem se mostrado particularmente atrativa para o engajamento juvenil nas questões ambientais (Carvalho, 2004).
A ideia de convergência incompleta revela que a compreensão do fenômeno deve ser explicada, tomando como base não as possibilidades que se podem estabelecer no processo efetivo de educação e gestão ambiental, em que os jovens sejam tomados como sujeitos, mas a realidade concreta em que, sobretudo, os jovens não ambientalistas se inserem e se apresentam diante da problemática que a crise socioambiental proclama. Em que pese tal afirmação, essa não é uma característica própria das juventudes pernambucanas, uma vez que a crescente consciência socioambiental do brasileiro tem sido identificada nos últimos anos, sem que isso tenha ocorrido da mesma forma, com relação às ações efetivas da população no enfrentamento da questão socioambiental (Crespo, 2006).
Outro aspecto acentuado neste trabalho foi a posição menos privilegiada assumida pela família na formação da consciência socioambiental dos jovens. Diferentemente de se pensar em ações efetivas de educação ambiental para transformar os pais em bons formadores de consciência socioambiental dos jovens, talvez seja necessário refletir sobre ações que permitam colocar em evidência o papel que a juventude possa exercer na influência sobre as gerações anteriores, desde que isso seja capaz de desconstruir qualquer possibilidade de o conforto da vida moderna se impor à preservação e aos cuidados com a natureza. Essa mesma educação ambiental deverá fomentar uma nova prática social na relação entre a juventude e o meio ambiente, uma vez que um dos desafios às políticas públicas para juventude está na clara necessidade de transpor antigas formas de sociabilidade que caracterizam os jovens como meros consumidores. Portanto, o grande desafio da educação ambiental como política pública para a juventude se situa na possibilidade de engendrar consciência socioambiental que compreenda a resolução da crise ecológica em que vivemos para além das ações individuais, ou seja, como um projeto de sociedade.
Com o intuito de subsidiar políticas públicas para a juventude, a pesquisa de aprofundamento da relação juventude e meio ambiente pode contribuir para um melhor entendimento da percepção ambiental juvenil desses problemas, além de produzir referências que orientem o trabalho de movimentos sociais, de ONG e de escolas no trato de tal relação.
O fato é que, capturando a percepção socioambiental dos jovens, é possível construir estratégias capazes de aproximar agentes de promoção do bem-estar e mobilização juvenil. Essa tarefa é possível desde que dialogue com as formas com as quais esta percepção representa a natureza, o acesso aos recursos ambientais e a compreensão que esses sujeitos têm dos problemas socioambientais. Da mesma forma, é preciso capturar os esforços e iniciativas que os jovens têm realizado na superação desses problemas.
Por outro lado, a ausência de investigações que procurem promover a produção desse conhecimento pode ser reveladora daquilo que chamamos hipermetropia sociológica, ou seja, embora o debate e proposições quanto à problemática socioambiental tenham encontrado, nos séculos passado e presente, um terreno fértil para o seu enraizamento, sensibilização social e atenção científica, a sociologia e suas várias especializações ainda têm negligenciado partes desses fenômenos e de seus rebatimentos sobre seus subcampos. Assim, o fenômeno está em franco desenvolvimento, mas o interesse sociológico não o tem capturado.

Figure 1. Pernambuco development regions.
www.condepefidem.pe.gov.br
Chart 1. Development regions and problems that should be prioritized.