Resumo: Nascidas durante o século XX, a Barquinha, o Santo Daime e a União do Vegetal, conhecidas como as religiões ayahuasqueiras brasileiras, se mantiveram circunscritas à região norte do Brasil pelo menos até o início dos anos de 1970. Desde então, o Santo Daime e a União do Vegetal têm se expandido significativamente, cada qual à sua maneira, alcançando todas as regiões do país, cruzando as fronteiras brasileiras e o Oceano Atlântico. O processo de internacionalização desses grupos envolve complexas redes e alianças transnacionais, suscitando questões intrigantes sobre tradução cultural e diáspora religiosa. Entretanto, esse tema continua pouco explorado, e a produção a respeito é fragmentada e esparsa. Este artigo propõe uma revisão crítica da literatura sobre a internacionalização desses grupos, incluindo artigos, dissertações de mestrado e teses de doutorado em várias línguas, publicadas ou não, bem como textos sobre os aspectos legais. Através de uma abordagem comparativa, procuramos identificar as principais características, tendências e perspectivas do campo de estudos sobre a ayahuasca. Nesse sentido, esperamos chamar atenção para as possibilidades e lacunas dessa discussão e, ao mesmo tempo, estimular o desenvolvimento de futuras pesquisas. Este artigo almeja tornar-se uma espécie de guia para pesquisadores da área, assim como para outras pessoas interessadas no assunto, sendo especialmente importante em tempos em que a internacionalização das religiões ayahuasqueiras brasileiras alcança dezenas de países do mundo. Este tema, argumentamos, oferece um interessante lócus de estudo sobre a interação entre psicodélicos, religião e cultura.
Palavras-chave: ayahuascaayahuasca,internacionalizaçãointernacionalização,Santo DaimeSanto Daime,União do VegetalUnião do Vegetal,diásporadiáspora,religiões ayahuasqueirasreligiões ayahuasqueiras.
Abstract: Created during the twentieth century, Barquinha, Santo Daime, and the União do Vegetal, known as the Brazilian ayahuasca religions, were circumscribed to the northern region of Brazil at least until the beginning of the 1970s. Since then, Santo Daime and the União do Vegetal have expanded significantly, each one in its own way, reaching all the regions of the country, crossing the Brazilian borders and the Atlantic Ocean. The process of internationalization of these groups involves complex nets and transnational alliances, generating intriguing issues on cultural translation and religious diaspora. Nevertheless, the theme is rarely explored and the information is widely scattered. This article proposes a critical review of the academic literature on the internationalization of these groups, including articles, master’s theses and doctoral dissertations in various languages, published or not, as well as texts on the legal aspects. Through a comparative approach, we seek to identify the main characteristics, tendencies, and perspectives of the ayahuasca field of studies. In this way, we hope to call attention to the possibilities and gaps of this discussion and, at the same time, stimulate the development of more research. This article aims to become a sort of guide to the researchers in this area as well as to be of use to others interested in the subject. The internationalization of the ayahuasca religions has already reached dozens of countries in the world, and offers an interesting locus of study of the interaction among psychedelics, culture, language, and cognition.
Keywords: ayahuasca, internationalization, Santo Daime, União do Vegetal, diaspora, Ayahuasca religions.
Artigo
Um panorama da literatura sobre a internacionalização das religiões ayahuasqueiras brasileiras
An overview of the literature on the internationalization of the Brazilian ayahuasca religions
Recepção: 18 Julho 2016
Aprovação: 12 Abril 2017
No complexo e efervescente cenário religioso do Brasil contemporâneo, diversas expressões de fé nascidas em nosso país ultrapassaram as fronteiras tupiniquins e atravessaram os oceanos em direção a todos os continentes habitados. Esse é o caso, por exemplo, da Igreja Universal do Reino de Deus e da Umbanda. Menos conhecido, mas não menos fascinante, é o caso também das religiões ayahuasqueiras brasileiras.
Nascidas na cultura seringalista da Amazônia brasileira no século XX, a Barquinha, o Santo Daime e a União do Vegetal (UDV) ficaram circunscritas ao Norte do país até a década de 1980. A partir de então se tornaram conhecidas de um público mais amplo. Com isso, o Santo Daime e a UDV iniciaram um processo de expansão significativo, alcançando todas as regiões do Brasil e estimulando uma considerável literatura sobre o uso ritual e religioso da ayahuasca, registrada, por exemplo, no livro Religiões Ayahuasqueiras: um Balanço Bibliográfico ( Labate et al., 2008 ) 3.
O processo de diáspora do Santo Daime e da UDV nos dias atuais é muito amplo e envolve redes e alianças transnacionais, suscitando questões intrigantes sobre tradução cultural, linguagem e diáspora religiosa. O Santo Daime 4 alcançou pelo menos 43 países de todos os continentes habitados ( Assis e Labate, 2014), enquanto a UDV está presente nos Estados Unidos, Reino Unido, Espanha, Suíça, Itália, Holanda, Peru e Austrália. Tal movimento de internacionalização, por sua vez, tem produzido sua própria bibliografia, oriunda de locais tão distantes quanto Irlanda, Austrália e EUA. Embora essa produção intelectual seja crescente e se renove a cada ano, ela é bastante fragmentada e esparsa, dificultando o acesso de pesquisadores e leigos a esse campo de estudos e aprofundamento analítico desse fenômeno.
Procuramos reunir aqui e apreciar criticamente a literatura sobre a internacionalização das religiões ayahuasqueiras e a produção bibliográfica de estrangeiros sobre esses grupos, abordando artigos, dissertações de mestrado e teses de doutorado em português, espanhol e inglês, publicadas ou não, além de publicações nativas que se relacionem com a temática da internacionalização.
Devido às limitações de espaço e à extensão cada vez maior de obras sobre o tema, não será possível abordar a totalidade dessa produção intelectual, de modo que diversos textos acabaram ficando de fora de nossa discussão, sem que isso implique em afirmar que são obras menores. Esse artigo não pretende ser uma compilação de todos os textos publicados sobre a o assunto, mas um guia geral que abra caminhos para leigos e pesquisadores interessados nesse universo, estimulando o desenvolvimento de futuras pesquisas. Para tanto, dividimos o texto nas seguintes seções: ciências humanas; internacionalização e expansão urbana da ayahuasca; aspectos legais e jurídicos; saúde 5 e publicações internas/nativas.
Ainda que se tenha notícia da realização de rituais das religiões ayahuasqueiras no exterior desde a década de 1980, os estudos sobre a internacionalização desses grupos só passaram a ocorrer anos mais tarde. Embora haja um aumento de pesquisas nas áreas de biomedicina, saúde, direito e políticas públicas, a área mais profícua até o momento ainda tem sido a das ciências humanas, especialmente a antropologia. Avaliaremos aqui primeiro a extensa bibliografia sobre o Santo Daime, começando por seus textos inaugurais e seguindo as publicações de acordo com a região onde a pesquisa foi realizada até os trabalhos escritos por estrangeiros no Brasil; em seguida, trataremos dos trabalhos sobre a UDV e, por fim, dos estudos em etnomusicologia.
Dentre os textos inaugurais, está a tese de doutorado de Alberto Groisman pela Universidade de Londres (2000), primeira etnografia sobre as religiões ayahuasqueiras realizada no exterior. Nesse trabalho, baseado em uma pesquisa de campo breve, o autor estuda os grupos do Santo Daime na Holanda, seguindo um caminho mais exploratório e descritivo. Nos anos subsequentes, Groisman continuou sua produção sobre a internacionalização do Santo Daime, abordando a expansão para a Europa em um artigo (2009) e os aspectos jurídicos da expansão nos EUA em seu pós-doutorado em um capítulo na coletânea Ayahuasca y Salud ( Groisman, 2014), além de ter tratado da “apropriação criativa” de elementos da doutrina daimista no contexto holandês ( Groisman, 2013). Outro trabalho inaugural foi o de Carsten Balzer (2004, 2005). Além de seu pioneirismo, sua relevância está em acompanhar o início informal e pouco institucional do processo de internacionalização do Santo Daime, em que cerimônias ocorriam principalmente no modelo de workshops, até que rituais mais estruturados paulatinamente começaram a ganhar espaço.
O inglês Andrew Dawson tem o mérito de ser um dos primeiros estudiosos a ter um livro completo sobre a internacionalização do Santo Daime (2012) publicado na Europa. O autor realiza um esforço de compreensão teórica da internacionalização daimista e das transformações da religião, construindo um quadro conceitual próprio. Procura inserir o Santo Daime nos circuitos da religiosidade New Age e em um mercado de consumismo religioso, algo que já havia feito em uma publicação mais abrangente sobre a Nova Era que toca no tema das religiões ayahuasqueiras ( Dawson, 2007). Também é um dos primeiros a dedicar um artigo inteiramente ao ritual do feitio na religiosidade daimista ( Dawson, 2013). Sua análise teórica, que tem originalidade conceitual, é limitada, contudo, por carecer de dados etnográficos sólidos e de pesquisa de campo aprofundada, o que faz com que o autor tome aspectos regionais e contextuais da religião, como o transe de possessão, como características gerais do Santo Daime ( Dawson, 2011). Já a tese de doutorado de Marc Blainey (2013), versa sobre o Santo Daime na Bélgica. Traz detalhes sobre o contexto religioso em geral, a colonização belga na África e também alguns dados quantitativos sobre o Santo Daime na Europa. A tese principal é semelhante à de Dawson, isto é, a de que o Daime não se opõe, mas está integrado à sociedade contemporânea “secular”, constituindo uma tecnologia, uma ferramenta, uma chave mística para soluções de problemas do self moderno.
Gilliam Watt defendeu uma dissertação de mestrado pioneira sobre o Santo Daime na Irlanda (2013), que traz alguns dados novos sobre o Daime nesse contexto, como a informação de que há hinos que evocam deidades pré-celtas. Sobre a Holanda, Judith Sudholter (2012) acompanha, em sua dissertação de mestrado, o modo como os daimistas holandeses vivem suas experiências rituais com o Santo Daime e as transformam em narrativas. Já o alemão Jan Weinhold (2007) se propôs a refletir sobre os “equívocos e fracassos” rituais no contexto europeu, problematizando a questão da eficácia ritual da ayahuasca e do Santo Daime em um contexto sociocultural exógeno ao brasileiro, abordagem que, segundo tivemos a oportunidade de testemunhar, causou protestos entre a comunidade daimista alemã.
Saindo da Europa em direção à América do Norte, o pesquisador Kenneth Tupper escreveu a única tese de doutorado que existe até o momento sobre a expansão da ayahuasca para o Canadá (2011). A partir do estudo de caso de uma igreja daimista canadense, o Céu do Montreal, o autor faz uma discussão sobre política de drogas, enfatizando o papel dos estereótipos, da escolha da linguagem e das narrativas sobre tradição na opinião pública e no estabelecimento de políticas sobre o uso de psicoativos. Esse texto, bem como outros de Tupper (2008, 2009, 2017), marca bem uma inflexão dos estudos sobre a ayahuasca em direção a uma abordagem sobre políticas públicas e de drogas, que tem crescido nos últimos anos. Sobre os EUA, Alfonso Matas (2014) descreveu, em seu mestrado, a igreja daimista Céu da Lua Cheia, de Miami, e suas dificuldades de adaptação ao contexto norte-americano, discutindo de modo mais superficial pontos teóricos já abordados por Dawson e Blainey, como a entrada do Santo Daime em um mercado de religiões. Ainda no continente norte-americano, Guzmán (2013, 2015) traça um resumo histórico e um panorama da presença daimista em território mexicano, bem como apontamentos preliminares sobre a questão jurídica, a presença de elementos da religiosidade mexicana nos rituais daimistas e a inserção do Santo Daime nas redes de terapias alternativas.
Uma temática que permanece pouco abordada é a presença do Santo Daime nos países do MERCOSUL. Juan Scuro tenta preencher esta lacuna em sua dissertação de mestrado sobre a chegada do Santo Daime no Uruguai (2012a) a partir da década de 1990, bem como alguns artigos sobre a mesma questão ( 2012b, 2012c), onde acaba por identificar um campo ayahuasqueiro uruguaio. Lavazza (2007, 2014), por sua vez, abordou a trajetória do Santo Daime na Argentina, a partir da etnografia de um grupo de Buenos Aires e as negociações entre sua realidade social local e sua relação com o imaginário da Amazônia brasileira. A antropóloga Valentina Zelada finalizou em 2015 uma monografia a respeito do Santo Daime no Chile, pais que conta com vários grupos ayahuasqueiros, mas até o momento tem sido pouco estudado. Sua investigação, que contém descrição genérica dos rituais que já foi feita antes, possui o mérito de abordar uma igreja do Santo Daime em Santiago, acompanhando seu processo de construção, crises internas e filiação institucional à ICEFLU.
Vale lembrar que o Santo Daime também está presente na Ásia, África e Oriente Médio. A produção bibliográfica em inglês nesses contextos, contudo, é quase inexistente. Uma exceção é o artigo de Sobiecki (2013), que faz um relato de sua experiência pessoal em um ritual daimista em Joanesburgo a partir da discussão sobre cura e “medicina espiritual”.
No Brasil, pesquisas sobre a expansão e internacionalização do Santo Daime são realizadas por Assis (2013, 2017a, 2017b), que observa a presença do Santo Daime em contextos tão distintos como Minas Gerais, Holanda e Alemanha, procurando inserir o Daime nos estudos mais amplos de sociologia da religião e no panorama religioso contemporâneo global. Já o artigo de Assis e Labate (2014) contextualiza a expansão do Santo Daime dentro do processo de diáspora das religiões brasileiras, analisando-a a partir de determinadas características estruturais dessa religião, chamada pelos autores de miscibilidade e psicoatividade.
Nos últimos anos, também há uma produção considerável de trabalhos de estrangeiros em grupos daimistas no Brasil e no exterior. Sulla III (2005) escreveu uma dissertação de mestrado em psicologia acerca das interpretações dos moradores do Céu do Mapiá sobre a questão da cura na religião e o sistema de cura utilizado na comunidade. Outra dissertação de mestrado sobre o Céu do Mapiá é a de Lowell (2013), que aborda as transformações da comunidade durante o processo de expansão do Santo Daime e a sua internacionalização, foco também de outro artigo seu em coautoria ( Lowell e Adams, 2016). Há ainda o texto de Barnard (2014), que traça reflexões amplas e genéricas sobre o uso de um enteógeno no contexto religioso a partir do caso do Santo Daime, e o de Schmidt (2007), que avalia o Santo Daime como um movimento eco-religioso.
Dawson (2010) constrói um relato de campo de sua viagem ao Céu do Mapiá, além de escrever ( Dawson, 2007) sobre o ritual de preparação da bebida, o feitio, extremamente importante na vida religiosa do Santo Daime, mas muito pouco estudado. Blocksom (2015), por sua vez, observa, de forma mais descritiva, a comunidade daimista da Fortaleza, nos arredores de Rio Branco, AC. Já Meyer (2014) produz uma das obras mais analíticas e interessantes sobre o Alto Santo, baseada em uma densa etnografia. Este grupo é mais hermético do que a ICEFLU e o autor foi um dos poucos estudiosos que obtiveram autorização para a realização de sua pesquisa. Henman (1986, 2009) merece menção por ter escrito sobre a União do Vegetal e o início de sua expansão em território brasileiro.
Como podemos observar, o caráter pouco institucionalizado e burocrático da ICEFLU/Santo Daime, bem como seu intenso intercâmbio com diversas formas de religiosidade, facilita a pesquisa dessa vertente ao redor do mundo. Assim, a mais farta, fragmentada e dispersa literatura sobre a internacionalização dos grupos ayahuasqueiros brasileiros é direcionada ao estudo do Santo Daime. É notória a ausência de pesquisas sobre a UDV no contexto internacional em comparação com o Santo Daime, o que reflete a dificuldade que os estudiosos das diversas áreas do conhecimento têm de pesquisá-la. Se por um lado a institucionalização e burocratização dessa religião permitem certa robustez de publicações nativas, por outro seu caráter sectário é refratário à autonomia de pesquisas daqueles que não são membros do grupo.
A única monografia escrita em inglês totalmente dedicada à UDV foi feita por Anderson (2007), e discute os valores ambientais presentes na vida religiosa do grupo. Patrícia Lima escreveu um artigo (2014) e uma tese de doutorado em português ( 2016) sobre a presença da UDV na Europa, sobretudo em Portugal. Argumenta que nos rituais da UDV o aspecto sonoro tem grande relevância na subjetividade dos participantes, que podem ter experiências muito distintas com o vegetal a partir de um mesmo ambiente sonoro. Temos notícias também de outras pesquisas sendo realizadas sobre a UDV mas não publicadas, devido, em parte, à situação jurídica da UDV e da ayahuasca em diversos países.
Com relação à esfera musical das religiões ayahuasqueiras, uma área de estudos emergente é a etnomusicologia, que já conta com um número razoável de publicações. Uma das mais abrangentes é a tese de doutorado de Lucas Kastrup Rehen (2011). Realizada a partir de uma breve experiência de campo do autor em uma igreja daimista da Holanda, aborda a questão da música no ritual e sua relação com as emoções e sentimentos, além da autenticidade dos hinos como inspirações divinas e não como composições musicais. Labate et al. (2017a) escreveram um capítulo sobre a expansão do Santo Daime a partir de sua dimensão musical, procurando analisar a maneira como os hinos daimistas são interpretados, cantados, ressignificados e traduzidos no exterior. É um dos poucos estudos que abordam a questão da linguagem e estabelecimento de redes transnacionais no Santo Daime.
No exterior, há uma mescla das religiões ayahuasqueiras e outras linhas espirituais em múltiplas vertentes terapêuticas e neoxamânicas, entre outras, o que torna difícil analisar a internacionalização das religiões ayahuasqueiras strictu sensu, isto é, sem contemplar o horizonte mais amplo da religiosidade alternativa. Ocorre atualmente uma expansão global do uso ritual e terapêutico da ayahuasca - bastante ligada às redes de espiritualidade Nova Era - promovida através de indígenas, vegetalistas, terapeutas e facilitadores diversos, especialmente para a América do Norte e a Europa.
Losonczy e Mesturini (2011) procuram compreender as razões do sucesso da ayahuasca como planta de poder no cenário amazônico e também como substância sagrada no circuito Nova Era internacional, assim como os trânsitos de pessoas, práticas e substâncias entre a América Latina e Europa ( Losonczy e Mesturini, 2010). Observando a história da circulação da bebida, as autoras pontuam dois papéis-chave da ayahuasca: como patrimônio cultural, imaterial - e como tradutora do universo xamânico latino-americano para o público ocidental e vice-versa.
Sánchez e Bouso (2015) recentemente avaliaram o processo de globalização da ayahuasca e suas implicações jurídicas, enquanto Dawson (2017) analisou a difusão internacional da ayahuasca a partir da ideia de tradições inventadas, sustentando que é próprio da modernidade se alimentar continuamente do tradicional. O australiano Alex Gearin (2015), por sua vez, realizou um importante e pioneiro estudo comparativo entre o uso da ayahuasca e sua relação com a cura na Amazônia e na Austrália. Já Lopez-Pavillard (2015) escreveu uma tese de doutorado sobre o xamanismo ayahuasqueiro na Espanha, observando seus resultados terapêuticos a partir da epistemologia e racionalidade próprias dos xamãs.
Uma coletânea interessante que aborda a expansão da ayahuasca é Ayahuasca Shamanism in the Amazon and Beyond ( Labate e Cavnar, 2014b). Embora trate do xamanismo amazônico de um modo geral, a coletânea tem como foco principalmente a expansão e o desenvolvimento dos rituais que envolvem o consumo de ayahuasca ao redor do mundo, discutindo temas candentes como o relacionamento entre ecoturismo e turismo étnico, a combinação do xamanismo com uma rede terapêutica e religiosa global e a hibridização cultural. Já o livro The Internationalization of Ayahuasca, organizado por Labate e Jungaberle (2011), é inteiro voltado à internacionalização da ayahuasca, abordando a questão sob uma perspectiva multidisciplinar. A obra é organizada em três seções temáticas que discutem a pluralidade de manifestações e usos da ayahuasca como fenômeno cultural e religioso, seus aspectos farmacológicos, químicos, médicos e terapêuticos e ainda os processos de legalização, institucionalização e reconhecimento das religiões ayahuasqueiras em diferentes países. Labate et al. (2017b) são responsáveis, ainda, por uma coletânea internacional dedicada ao que denominam “a diáspora mundial da ayahuasca”, incluindo capítulos sobre a expansão das religiões ayahuasqueiras e do xamanismo amazônico. A obra parte de etnografias inéditas para abordar as reinvenções e controvérsias presentes no processo de expansão global da ayahuasca.
Pesquisas que contemplam o contato e alianças entre etnias indígenas e grupos ayahuasqueiros urbanos foram realizadas por Rose em seu doutorado (2010), a qual aborda o Fogo Sagrado a partir dos encontros e interseções entre os Guarani, a ayahuasca e o Caminho Vermelho. Langdon e Rose (2012) aprofundaram esse tema levando em conta o papel da expansão internacional da ayahuasca no processo de incorporação dessa bebida pelos Guarani.
Coutinho (2011) realizou um trabalho pioneiro onde observa a transposição do consumo da ayahuasca das aldeias kaxinawa para os centros urbanos a partir do estudo de caso do nixi pae no Rio de Janeiro. Nessa mesma toada, Aline Ferreira Oliveira (2011, 2012) discute a reinvenção de tradições e o fluxo cultural e social do universo ayahuasqueiro na contemporaneidade, onde cerimônias urbanas convivem com diversas práticas indígenas, e a ayahuasca divide espaço com muitas outras substâncias, como é o caso do rapé, da sananga e do kambô. Nesse ambiente, viagens de brasileiros e estrangeiros a festivais indígenas no Norte do Brasil são cada vez mais constantes, e o fluxo de índios e xamãs peruanos e colombianos cresce nas cidades.
Labate e Coutinho (2014) observam, também, o recente impacto da expansão das religiões ayahuasqueiras entre diversas etnias indígenas (Kaxinawa, Guarani, Apurinã, Kuntanawa e Yawanawa), mostrando que a narrativa dos ayahuasqueiros urbanos que vincula sua história ao universo tradicional indígena têm sido, agora, apropriada, de alguma maneira, pelos próprios índios, impulsionando a inserção destes no circuito urbano da ayahuasca. No contexto latino-americano, Apud (2013, 2015), Apud et al. (2013) , e ainda Scuro e Apud (2015), debruçaram-se sobre a inserção da ayahuasca e grupos neoayahuasqueiros e neoxamânicos no Uruguai. Ainda nesse contexto, Scuro (2016) escreveu uma instigante tese de doutorado sobre o neoxamanismo, a partir da entrada de três diferentes tradições da América Latina (vegetalismo, Santo Daime e Caminho Vermelho) em território uruguaio. O autor trata o neoxamanismo como um “dispositivo” dentro do qual as ideias de “amazonismo” e neo-orientalidade assumem relevo para explicar a presença dessa religiosidade dentro do paradigma modernidade/colonialidade.
Avaliando a cartografia do universo neoayahuasqueiro brasileiro, percebemos que há uma enorme tendência a esse campo de estudos crescer. Os textos aqui comentados são um bom ponto de partida nessa área promissora.
Cada país trata a questão das drogas e da ayahuasca de maneiras distinta, o que produz variadas configurações desses grupos em cada local. Enquanto na Holanda, que possui uma legislação de drogas relativamente tolerante, os grupos do Santo Daime são bastante estruturados e contam com dezenas de pessoas, na Alemanha, os rituais daimistas são proibidos e seus grupos, pequenos, esparsos e pouco organizados. Se por um lado nos EUA a UDV - e em alguns estados também o Santo Daime - têm a garantia legal de utilizar a ayahuasca, por outro, na França, as plantas usadas na preparação da ayahuasca são vedadas no território nacional, e assim por diante. Essa miríade de legislações e suas questões de fundo - liberdade religiosa, política de drogas, direitos humanos - faz dos aspectos legais e jurídicos do processo de internacionalização das religiões ayahuasqueiras um dos campos de estudo mais frutíferos.
Labate e Feeney (2012) e Feeney e Labate (2013, 2014) acompanham os processos jurídicos sobre a regulamentação do uso da ayahuasca e a liberdade religiosa dos grupos que a utilizam como sacramento, observando as narrativas usadas tanto pelas religiões ayahuasqueiras quanto pelos agentes do Estado, bem como as especificidades e contrastes entre diferentes contextos de uso. Jeffrey Bronfman (2007), um dos maiores artífices da UDV fora do Brasil, escreveu sobre a batalha jurídica do grupo contra o governo dos EUA pelo direito religioso de utilizar a ayahuasca como seu sacramento. Esta questão é abordada também em outro trabalho ( Bronfman, 2013) onde procura discutir um pouco mais a relação entre os aspectos legais da bebida e a liberdade religiosa. A batalha jurídica da UDV na Suprema Corte norte-americana foi um marco tão importante que inspirou diversos outros textos e reflexões, como os de Godoy (201)1, Bullis (2008) e Groisman e Rios (2007), ou ainda o texto de Labate (2012) que trata do acordo assinado entre a UDV e o DEA em território norte-americano.
Anderson et al. (2012) escreveram o Statement on ayahuasca, documento que defende a não criminalização das religiões ayahuasqueiras a partir da uma perspectiva de direitos humanos, baseado em uma revisão da literatura antropológica e biomédica. Clara Novaes (2012), por sua vez, trata do tema no cenário da França. Embora seja uma pesquisa de psicologia, traz informações sobre a legislação francesa, discutindo como as práticas ayahuasqueiras são tratadas aí como seitas. Uma abordagem original é feita por MacRae (1998, 2008), que contrasta o caráter legal do consumo religioso da ayahuasca frente ao caráter ilegal do uso da Cannabis no âmbito do Santo Daime, conhecida como Santa Maria. Seus textos permanecem como uma referência central sobre o tema.
Outra área prolífera de estudos sobre a ayahuasca no cenário internacional é a da saúde. Antropólogos, psicólogos, psiquiatras e biomédicos vêm produzindo uma crescente literatura sobre o tema. Uma recente coletânea que aborda o aspecto terapêutico e da saúde de um ponto de vista multidisciplinar é o livro Ayahuasca y salud, organizado por Labate e Bouso (2014). Constituída por 22 artigos, engloba desde bioquímica e farmacologia até a antropologia, passando por estudos clínicos, sendo a primeira obra voltada para a discussão sobre saúde no universo ayahuasqueiro.
Sobre os possíveis benefícios da ayahuasca no bem-estar humano, Halpern et al. (2008) empreenderam um estudo quantitativo junto a membros norte-americanos do Santo Daime a fim de discutir benefícios psicológicos, ajuda no combate à depressão e dependência. Falta a esse estudo, porém, um grupo controle, o que limita sua validade. Do mesmo ano é a tese de doutorado de Barbosa (2008), que avalia a saúde mental e realiza um follow-up de 23 pessoas que experimentaram a ayahuasca pela primeira vez, tanto no Santo Daime quanto na União do Vegetal. A avaliação de neófitos da UDV e Santo Daime em saúde também é o foco de outros trabalhos do autor ( Barbosa et al., 2005 ; Barbosa et al., 2009 ), que também mensurou a condição de saúde de usuários da ayahuasca em artigo mais recente, a partir de uma revisão bibliográfica feita na base de dados do PubMed ( Barbosa et al., 2012 ).
Harris e Gurel (2012) aplicaram, no contexto da América do Norte, questionários qualitativos sobre a relação do uso da ayahuasca e questões pessoais como dieta alimentar, consumo de álcool e sentimentos como compaixão e autoaceitação. Já Bouso et al. (2013) realizaram uma comparação entre grupos de consumidores regulares e ocasionais da ayahuasca, investigando os efeitos da bebida nas atividades neuropsicológicas, relacionadas, por exemplo, à memória.
Nessa mesma área, Bouso et al. (2012) realizaram um exame neuropsicológico do daime em grupos-controle do Santo Daime (Céu do Mapiá) e da Barquinha (Rio Branco) com caráter longitudinal, enquanto Santos et al. (2007) avaliaram o efeito da ayahuasca na esfera emocional das pessoas a partir do acompanhamento de adeptos do Santo Daime. Dobkin de Rios et al. (2005) , Silveira et al. (2005) e Doering-Silveira et al. (2005a , 2005b) procuraram tecer uma avaliação neuropsicológica de adolescentes que utilizam a ayahuasca na UDV, enquanto Camargo (2003) escreveu uma dissertação de mestrado sobre a relação entre a ayahuasca e a psicose na UDV e no Santo Daime, que embora trate de um tema interessante e pouco estudado, peca pela ausência de pesquisa bibliográfica especializada e falta de distanciamento analítico do objeto.
Seguindo a crescente onda de publicações sobre a ayahuasca em uma perspectiva da saúde, o livro The therapeutic use of ayahuasca ( Labate e Cavnar, 2014a), reúne treze capítulos que tratam do uso terapêutico da ayahuasca e sua relação com a saúde e o bem-estar das pessoas que a consomem. Pesquisadores de diferentes áreas discutem o potencial da ayahuasca no combate à depressão e à dependência de drogas, entre outros males. Blainey (2015), por sua vez, procura discutir, a partir do estudo de caso do Santo Daime na Bélgica, os contrastes e conflitos entre, de um lado, as políticas proibicionistas, e de outro, a emergência de uma subcultura terapêutica baseada no consumo de enteógenos.
Outra área em que é possível observar a emergência de uma produção acadêmica sobre as religiões ayahuasqueiras é a psicologia. Esse é o caso do trabalho de Panneck (2014), que analisa o potencial terapêutico do uso da ayahuasca nos rituais do Santo Daime nos Estados Unidos e sua eficácia em situações de estresse, ou de Villaescusa (2002, 2003) sobre os aspectos psicoterapêuticos das cerimônias do Santo Daime no Reino Unido. Também é o mote de Méndez (2014), que especula sobre o significado da “Rainha da Floresta” a partir da psicologia e arquétipos junguianos, e de Oliveira (2015), que faz uma avaliação psicológica das crianças daimistas moradoras da comunidade Céu do Mapiá/AM, da ICEFLU. Já a psicóloga norte-americana Clancy Cavnar é pioneira nos estudos sobre sexualidade e identidade de gênero no âmbito das religiões ayahuasqueiras, tendo escrito seu doutorado (2011) e outros trabalhos (2014a, 2014b) sobre a temática a partir de sua experiência com o Santo Daime na Califórnia e no Brasil. Sua obra aponta para um amplo e fértil campo de estudos quase não abordado na literatura antropológica, e que pode se configurar como uma área cada vez mais importante no futuro.
Além da literatura acadêmica sobre o tema, as religiões ayahuasqueiras possuem sua própria produção de textos e livros a partir da perspectiva nativa. Essas publicações são importantes guias para os membros da religião, e também fornecem informações de sua organização interna, seus valores, símbolos, crenças etc. No âmbito do Santo Daime, nos últimos anos foi lançado um pequeno livro, escrito na forma de literatura de cordel, de autoria de sua principal liderança, Alfredo Gregório de Melo, o Padrinho Alfredo. Viagens ao Juruá ( Gregório, 2007) narra as duas primeiras viagens que Alfredo realizou à região do rio Juruá para reencontrar seus familiares. Contém ilustrações feitas pelo autor e um glossário com explicações sobre a flora e a fauna amazônicas. O livro é bilíngue, evidenciando o impacto da internacionalização daimista no interior da religião.
Outra publicação da ICEFLU é o Jornal do Céu (2015) , que é lançado de modo intermitente e conta com notícias sobre o Céu do Mapiá, os projetos da igreja e os acontecimentos mais importantes que envolvem a comunidade e as lideranças. É mantido pela associação de moradores da Vila Céu do Mapiá e por vezes traz informações sobre estrangeiros que visitam o local. No interior da ICEFLU, também há obras publicadas no exterior; algumas que já remontam a décadas, especialmente os textos de Alverga (1994, 1999, 2000) que, publicados em mais de um idioma, traduzem em uma linguagem poética e literária as experiências visionárias do autor com o daime e os ensinamentos do Padrinho Sebastião Mota de Melo, principal líder desta vertente expansionista do Santo Daime.
A União do Vegetal possui o jornal Alto Falante (2011) , que traz informações variadas, cronologias, funcionamento institucional, além de notícias sobre os diversos núcleos da UDV ao redor do globo, demonstrando sua estrutura organizacional forte. Uma publicação interessante que toca no tema da internacionalização da UDV é o livro Hoasca: The Sacrament of the União do Vegetal - Science, Society and Environment , organizado por v Joaze Bernardino-Costa (2013). O livro é derivado do II Congresso Internacional da Ayahuasca, organizado pela UDV em 2008, em Brasília. A obra reúne 44 autores (as) em três seções: Hoasca e Ciência, Hoasca e Sociedade e Hoasca e Meio Ambiente. Traz discussões sobre a história, as plantas utilizadas no preparo do vegetal e contribuições importantes sobre a expansão e a internacionalização, como por exemplo o número de adeptos e locais onde a UDV está presente no mundo.
Após a apreciação de 113 trabalhos, podemos chegar a um balanço panorâmico dessa literatura. Notamos uma mudança no caráter das publicações sobre o tema desde a publicação de Religiões Ayahuasqueiras: um balanço bibliográfico ( Labate et al., 2008a ), a maior avaliação disponível sobre a literatura especializada. De um lado, observamos uma crescente produção acadêmica sobre saúde, com um envolvimento cada vez maior de profissionais ligados à biomedicina e à farmacologia. De outro lado, também cresce o número de obras que discutem os aspectos jurídicos e legais do uso religioso da ayahuasca. Esse terreno permanece extremamente fértil, dada a multiplicidade de contextos em que a UDV e o Santo Daime se inserem, a diversidade de legislações e interpretações jurídicas de cada conjuntura nacional e o diálogo cada vez maior entre os estudos sobre plantas sagradas e políticas de drogas e de saúde, com o aumento progressivo, inclusive, de financiamento e eventos internacionais voltados para essa área.
No âmbito dos estudos antropológicos e sociológicos strictu sensu, houve durante anos uma certa endogamia acadêmica, ou seja, o campo de estudos sobre as religiões ayahuasqueiras era relativamente fechado e autocentrado. Além disso, boa parte dos textos tinha um caráter entusiasta, até pela situação jurídica delicada que esses grupos viviam no Brasil. Isto tem mudado em tempos recentes, e as pesquisas sobre esses grupos têm iniciado um diálogo com temas candentes da antropologia contemporânea, com a sociologia da religião e com a diáspora de outros fenômenos religiosos e manifestações culturais. Outro ponto é que, com a internacionalização, mais estudiosos estrangeiros têm se interessado por esse campo de estudos, realizando pesquisas de mestrado e doutorado em grupos brasileiros ou com grupos brasileiros no exterior.
Além disso, as pesquisas têm adotado uma postura mais distanciada e crítica em relação ao objeto, algo que ilustra bem essa nova fase de estudos sobre o uso religioso da ayahuasca, mais multidisciplinar e menos “nativa”. Contudo, vale notar que a literatura sobre a UDV continua sendo, ao menos do ponto de vista das ciências sociais, endógena e institucional; existe, também, todo um espectro de literatura e conferências que são híbridas, ou seja, parcialmente acadêmicas e parcialmente new age e nativas.
Observamos que, assim como no Brasil, no exterior o Santo Daime é mais estudado academicamente do que a UDV. Se por um lado isto é fruto da escolha do objeto por parte dos pesquisadores, por outro espelha também o tipo organizacional e o alcance internacional de cada grupo. Enquanto a vertente expansionista do Santo Daime em geral é de fácil acesso e conta com razoável liberdade de pesquisa, a UDV controla fortemente a produção acadêmica a seu respeito. Observa-se, contudo, uma tendência recente de mudança nesta direção: segundo nossa observação empírica, a UDV parece estar se tornando paulatinamente mais aberta à pesquisa.
Vale notar que, embora se tenha notícia de rituais do Santo Daime tendo sido realizados em vários continentes, as pesquisas sobre essa religião no exterior estão bastante concentradas nos EUA e na Europa. Permanecem por ser mais explorados outros contextos onde há presença de grupos daimistas, como por exemplo diversos países da América do Sul, Israel, Escandinávia, Europa Central, África do Sul e Japão. Esses contextos certamente são uma boa oportunidade para se analisar a diáspora daimista, e podem contribuir para a construção de análises comparativas, escassas na produção acadêmica atual.
No que diz respeito à perspectiva nativa, as publicações mais recentes também evidenciam determinadas características estruturais dos grupos em questão. As publicações do Santo Daime são intermitentes e bastante ligadas a seus artífices carismáticos. Não por acaso, as últimas publicações mais notáveis são de autoria de seu maior líder, o Padrinho Alfredo, e de dirigentes importantes, como Alex Polari. Por sua vez, a UDV mantém uma constância maior de publicações oficiais, bem como de livros que versam sobre a identidade e o caráter institucional do grupo.
Pelo seu caráter amplo e fragmentado, essa literatura é esparsa, e muitas vezes não dialoga entre si. Até pela sua natureza de “novidade etnográfica”, a pesquisa sobre as religiões ayahuasqueiras em diferentes países e locais acaba sendo em grande parte descritiva, repetindo apontamentos e reflexões feitas por antropólogos há vários anos. Autores estrangeiros, por sua vez, muitas vezes não leem em língua portuguesa, e portanto não citam as referências básicas no campo. No mesmo sentido, ainda falta à literatura internacional um “núcleo duro” de pesquisa, mas já é possível identificar uma produção conceitual original e caminhos bastante interessantes de estudo. Um dos objetivos desse artigo é justamente revelar essas possibilidades de pesquisa e promover a interlocução entre os textos já publicados. Esperamos, assim, estimular futuros trabalhos sobre esse fenômeno tão atual e instigante de diáspora das religiões ayahuasqueiras, capaz de revelar fascinantes relações entre linguagem, música, religião, direito, saúde, subjetividade e o uso ritual de psicodélicos no século XXI.
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