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Educação superior, commoditycidade e mercado
Gabriel Bandeira Coelho; Alice Hubner Franz
Gabriel Bandeira Coelho; Alice Hubner Franz
Educação superior, commoditycidade e mercado
Higher education, commoditycidade and market
Ciências Sociais Unisinos, vol. 54, núm. 2, pp. 279-281, 2018
Universidade do Vale do Rio dos Sinos Centro de Ciências Humanas Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais
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Resenha

Educação superior, commoditycidade e mercado

Higher education, commoditycidade and market

Gabriel Bandeira Coelho
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil
Alice Hubner Franz
Universidade Federal de Pelotas, Brasil
Ciências Sociais Unisinos, vol. 54, núm. 2, pp. 279-281, 2018
Universidade do Vale do Rio dos Sinos Centro de Ciências Humanas Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais
BIANCHETTI L., SGUISSARDI V.. Da universidade à commoditycidade: ou de como e quando a educação/formação é sacrificada no altar do mercado, o futuro da universidade se situaria em algum lugar do passado. 2017. Campinas. Mercado de Letras. 124 ppp.

Recepção: 21 Janeiro 2018

Aprovação: 25 Junho 2018

É sabido que desde meados da década de 1970, as configurações do tecido social têm tomado rumos, até então, inéditos na história contemporânea, especialmente se atentarmos para a crise do Estado de Bem-Estar Social, a crise do Petróleo, para o movimento de Maio de 1968, dentre outros eventos não menos relevantes. Mudanças que têm refletido significativos impactos sociais a partir da emergência dos ideais neoliberais que começaram a ganhar terreno com as eleições de Margaret Tatcher, ao final da década de 1970, na Inglaterra e Ronald Reagan nos EUA, no início da década de 1980.

Mediante a isto, pode-se observar uma alteração na atuação do Estado que tem impactado inclusive o campo educacional, mais especificamente, a educação superior. A radicalização do individualismo, a defesa de um Estado mínimo, a partir de reformas fiscais, redução de gastos sociais e aumento de privatizações caracterizam esse turbulento cenário socioeconômico (Anderson, 1995).

Esse é o grande contexto no qual Lucídio Bianchetti e Valdermar Sguissardi se baseiam para elaboração da obra Da universidade à commoditycidade: ou de como e quando a educação/formação é sacrificada no altar do mercado, o futuro da universidade se situaria em algum lugar do passado, publicada pela editora Mercado de Letras, em 2017. Indubitavelmente um livro que vem muito a contribuir para as pesquisas sobre a relação entre mercado e educação superior, principalmente por lançar um olhar crítico, debruçados na ideia de mercantilização, ou como os autores utilizam “commoditycidade” do ensino superior/universidade.

Logo na introdução os autores abordam questionamentos que permitem vislumbrar o caráter crítico do presente livro. Nas palavras de Bianchetti e Sguissardi (2017, p. 16, grifos dos autores):

[...] A permanecer este quadro de escalada commodityzante, o que restará de superior na educação superior brasileira? O que restará de educação na educação? Qual será o poder de barganha, com seus patrões, dos trabalhadores, munidos de uma formação, no mínimo, duvidosa, em mercado de trabalho mutante e cada vez mais exigente?

Tal perspectiva ascende outro alerta para esse processo de mercantilização e, consequentemente, para perda do caráter crítico da educação superior brasileira: os recentes desmontes das Universidades Públicas, como a UERJ, no Rio de Janeiro, atreladas à “modernização” da CLT e demais reformas fiscais impostas pelo atual executivo federal. Ora, uma universidade que forma apenas para o mercado de trabalho, tomando a educação como produto, com uma visão clientelista, sem preocupação com a formação cidadã, seria peça fundamental para a consolidação dos ideais neoliberais no campo da educação, priorizando, assim, as dinâmicas do mercado e não mais o saber crítico em si.

Nesse sentido, o livro está dividido em três capítulos, além da introdução e da conclusão. Capítulos que se caracterizam por fácil leitura e compreensão, face aos argumentos apresentados pelos autores. No primeiro capítulo, intitulado “Universidade, tutelas e políticas educacionais: da instituição medieval à moderna. Alguns antecedentes da situação atual”, eles procuram situar o leitor no espaço-tempo a fim de relacionar o tema do livro ao seu contexto histórico, destacando o surgimento das universidades medievais e suas nuances até a formação moderna da universidade. Segundos os autores, “dir-se-ia que esse lócus espacio-temporal chamado universidade caracteriza-se como um espaço-tempo colonizado” (Bianchetti e Sguissardi, 2017, p. 13). Ressalta-se, portanto, que dentro dos limites da obra, a apresentação do macro panorama do surgimento e consolidação das universidades, do período medievo à modernidade, é de suma importância para que se possa compreender esse processo de colonização e “commoditycidade” do conhecimento no ensino superior.

Já no segundo capítulo, “Brasil: de instituições de ensino superior tuteladas -passando por experiências fundantes - à regulação”, os autores discutem a historicidade do processo de surgimento das universidades brasileiras. O capítulo se destaca, assim, por trazer toda a riqueza de um debate acerca do processo histórico das universidades para dentro do contexto brasileiro. Ademais, Bianchetti e Sguissardi (2017) enfatizam o que denominam de “três experiências fundantes (e fugazes!) de universidade ou ‘desvios’ de trajetória”, quais sejam: a Universidade de São Paulo (1934); a Universidade do Distrito Federal (1935); e a Universidade de Brasília (1962). São modelos exemplares, segundo eles, de educação superior/universidade, posto que eram o que o Brasil tinha de melhor em termos de instituições universitárias, justamente por possuírem um caráter mais crítico.

Ainda em tempo, no segundo capítulo, os autores discutem a aposta brasileira na pós-graduação stricto sensu para a renovação e para reconstrução da universidade brasileira e para melhoria da/na formação de professores. Para tanto, eles lançam olhares para o parecer 977/65 do Conselho Federal de Educação, o qual regulou a pós-graduação stricto sensu no Brasil.

No terceiro e último capítulo do livro, chamado de “...À commoditycidade”, Bianchetti e Sguissardi (2017, p. 76) definem e exploram a ideia do principal conceito da referida obra: “commoditycidade”. Com efeito,

a ‘commoditycidade’ resumiria essa nova característica das Instituições de Educação Superior que grassam País a afora, especialmente nos centros urbanos mais populosos, onde a presença de clientela, seja pelo número, seja pela pressão para ‘diplomar-se’, está assegurada.

Frente a isto, pode-se inferir que “commoditycidade” está intimamente relacionada à ideia de mercantilização da educação superior no Brasil, onde houve uma rápida e expressiva expansão, sobretudo, das universidades de cunho privado, público-quase-privado ou ainda o privado-mercantil nas últimas décadas. Para ilustrar tal perspectiva, os autores utilizam o exemplo do Estado de Santa Catarina, pelo fato de sua representatividade peculiar em relação à expansão do ensino superior brasileiro. Vale ressaltar que a partir do modelo catarinense, eles conseguem, em grande medida, dar conta daquilo que seria a realidade brasileira da “commoditycidade” da educação em nível superior.

Em tempo, destaca-se o importante adendo que os autores elaboram sobre a atuação do Estado nesse processo de mercantilização da educação superior. Nesse sentindo, há, segundo eles, uma mudança de um Estado educador, que passa gradativamente a ceder espaço para um Estado avaliador, caracterizado por terceirizar “a responsabilidade por aspectos essenciais da educação, sem contar a metamorfose pelo qual passa o processo de avaliação, perdendo esta a característica de ser formativa, para transformar-se em reguladora, controladora, rankeadora, etc.” (Bianchetti e Sguissardi, 2017, p. 87).

Ainda sobre o terceiro capítulo, Bianchetti e Sguissardi (2017) problematizam “a ida de ‘empresas de educação’ à Bolsa de Valores, oligopolização na educação superior e criação do INSAES”. É nesse contexto que vem à tona, de forma mais clara, a materialização da educação como mercadoria a partir da ampliação do ensino privado mercantil. Tal pressuposto é resultado, conforme os autores de dois grandes fatos, a saber: a abertura de capital das empresas educacionais na BM&F Bovespa, o qual é complementado pelo segundo: a produção de monopólios e oligopólios a partir da aquisição, fusão e, até mesmo, incorporação entre algumas das maiores corporações do setor educacional. Para Bianchetti e Sguissardi (2017, p. 89-90), “essa decisão, comum nas estratégias das empresas comerciais, ao ser aplicada à compra e venda de um produto chamado ‘educação/ensino’, transforma esse ‘produto’ em mercadoria/commodity, levando ao paroxismo a expressão ‘mercantilização da educação’”.

A guisa de conclusão, salienta-se o argumento dos próprios autores no que tange às consequências que a mercantilização da educação pode causar à formação crítica e cidadã:

Quando a educação se torna uma mercadoria, a baixa qualidade formativa não somente é prioridade, como passa a ser uma necessidade. Afinal, quanto maior o exército de analfabetos, ou analfabetos funcionais, maiores serão as chances de oferecer serviços em forma de cursos fast food. E desta maneira, serviços ‘educacionais’ compensatórios e voltados aos interesses imediatos de empresa passam a ser o cânone, descaracterizando a quase milenar proposta/missão da hoje (ex) universitas (Bianchetti e Sguissardi, 2017, p. 105).

Diante do exposto até aqui sobre o livro de Bianchetti e Sguissardi, ressalta-se, novamente, sua fácil leitura e compreensão, sobretudo para aqueles leitores que já estão familiarizados com a temática proposta pelos autores. É uma obra que, em pouco mais de cem páginas, consegue oferecer subsídios a fim de se pensar a educação superior para além da lógica mercantil, a qual opera no mundo contemporâneo, especialmente, no ensino superior brasileiro, conforme é ilustrado pelos autores. Além de colocarem em evidência a perspectiva pela qual a educação brasileira vem sendo acometida, eles conseguem, dessa forma, desnaturalizar e problematizar a concepção de educação como uma mercadoria, mostrando o quanto esse cenário mercantil, que tem se desenhado, é extremamente preocupante para uma nação que deseja formar cidadãos críticos e pensantes de suas realidades. É por isso que se concorda com a afirmação dos autores de que o futuro da universidade estaria em algum lugar do passado, justamente por ter praticamente perdido seu caráter inicial de formar criticamente e não somente para o mercado.

Material suplementar
Referências
ANDERSON, P. 1995. Balanço do neoliberalismo. In: E. SADER; P. GENTILI (org.), Pós-neoliberalismo: as políticas sociais e o Estado democrático. Rio de Janeiro, Paz e Terra, p. 9-23.
Notas
Autor notes

gabrielbandeiracoelho@yahoo.com.br

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