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O princípio esperança e o movimento de multidão de 2013 1
The hope principle and the 2013 multitude movement
O princípio esperança e o movimento de multidão de 2013 1
Ciências Sociais Unisinos, vol. 56, núm. 3, pp. 353-367, 2020
Universidade do Vale do Rio dos Sinos Centro de Ciências Humanas Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais
Recepção: 17 Setembro 2020
Aprovação: 25 Novembro 2020
Resumo: No presente artigo, investigamos a importância do afeto expectante esperança para o movimento de multidão deflagrado no ano de 2013 na cidade de Porto Alegre/RS. Nosso principal objetivo é investigar o modo pelo qual a esperança motivou as ações dos manifestantes e estruturou as manifestações. Tal objetivo busca responder a seguinte questão: de que modo a esperança motivou as manifestações de 2013 na cidade de Porto Alegre? Nossa metodologia é qualitativa, na qual nos valemos da análise de registros fotográficos jornalísticos das manifestações de 2013 coletados em websites de notícias. Verificamos, a partir disso, que a esperança se cristalizou na realidade fática, motivando os manifestantes a agirem através de práticas iconoclastas e softs, o que possibilitou o recrudescimento dos atos após as repressões policiais, conectou os manifestantes intersubjetivamente em torno de objetos utópicos e provocou a transferência temporária do front social do interior do Estado para as ruas.
Palavras-chave: Esperança, Movimento de multidão, Manifestações de 2013.
Abstract: In this article we investigated the importance of the expectant affection hope for the multitude movement that started in 2013 in the city of Porto Alegre/RS. Our main goal is to investigate the manner in which hope motivated the protesters’ actions and structured the manifestations. This goal seeks to answer the following question: how did hope motivated the 2013 manifestations in the city of Porto Alegre? Our methodology is qualitative, in which we used the analysis of journalistic photographic records of the 2013 manifestations – collected on news websites. We found, from that, that hope had crystallized in the factual reality, motivating the protesters to act through iconoclastic and softs practices, made it possible for the acts to intensify after the police repressions, connected the protesters intersubjectively around utopian objects and caused the temporary transfer of the social front from the interior of the state to the streets of the city.
Keywords: Hope, Multitude movement, 2013 manifestations.
Introdução
O presente artigo investiga a importância dos afetos expectantes, notadamente a esperança, para as manifestações político-coletivas deflagradas no ano de 2013 no Brasil e a sua relação com a institucionalidade; para isso, analisamos o fenômeno na cidade de Porto Alegre/RS. Nesse sentido, o problema que orienta nossa investigação é: de que modo a esperança motivou as manifestações de 2013 em Porto Alegre? Nosso principal objetivo é demonstrar como a esperança estruturou as manifestações e motivou as ações dos manifestantes. Para isso, buscamos subsídios teóricos em Ernst Bloch, referencial heterodoxo ao campo de estudos de movimentos sociais. Sua utilização justifica-se na medida em que, conceitual e teoricamente, permite lançar luzes a aspectos ainda obscurecidos de 2013 e, assim, produzir interpretações alternativas.
Os trabalhos sobre 2013, em geral, tematizam seus aspectos socioeconômicos ( Antunes; Braga, 2014; Singer, 2013), as especificidades dos atores (Gohn, 2016), as estruturas organizativas e motivações políticas (Scherer-Warren, 2014) e as especificidades desse ciclo de protestos, suas motivações políticas e performances ( Tatagiba, 2014). Ao participarmos da maior parte das manifestações de 2013 em Porto Alegre, em nossas observações desenvolvemos a percepção de que a dimensão afetiva era parte fundamental do fenômeno, embora a literatura sobre o tema, em geral, privilegie a análise de outras dimensões. Assim, essa lacuna acerca da investigação da importância dos afetos para o fenômeno 2013 motivou-nos para o desenvolvimento desse estudo. De modo específico, a pertinência de nosso trabalho reside na tentativa de elaborar uma interpretação sobre 2013 tomando o afeto expectante esperança como o ponto central. De modo amplo, sua pertinência está na produção de uma investigação que privilegie a análise da dimensão afetiva e suas repercussões para a ação social significativa.
Nossa metodologia é qualitativa, realizamos a análise de registros fotográficos jornalísticos das manifestações de 2013 coletados em sites de notícias. O critério utilizado para a escolha das fotografias é o seguinte: imagens que, em um só tempo, ilustrem e sustentem nossos argumentos, ou seja, a dimensão afetiva como ponto de partida. Uma das fotografias foi analisada de modo interpretativo enquanto suporte, através do qual o imaginário implicado no fenômeno e na sociedade em geral se expressa faticamente, tal como proposto por Martins (2009).
Praticamente todos os veículos de informação dos quais coletamos as fotografias são independentes e possuem linha editorial crítica e contestatória, sendo veículos pequenos cuja atuação é, sobretudo, em mídia digital. Apenas um dos veículos configura-se como uma empresa de grande porte e possui linha editorial conservadora; todos eles são domiciliados em Porto Alegre.
Compreender o caráter inédito das manifestações de 2013 no Brasil requer uma diferenciação entre movimento de massas e movimento de multidão. Desse modo, é possível colocar em relevo a novidade portada pelo fenômeno. O movimento de massas pressupõe uma coletividade disciplinada, uma organização verticalizada submetida a um poder centralizado, pautas situadas em um campo ideológico e repertório de ação pré-determinado e controlado – como, em geral, organizam-se os movimentos sociais tradicionais, partidos políticos e sindicatos. Por outro lado, a multidão não é governável ou dirigível de forma heterônoma: ela autogoverna-se e autodirige-se, não interessa se precariamente, imperam formas autônomas e horizontais de organização do poder. A multidão agrupa-se, fragmenta-se e dissolve-se muito rapidamente. É instável, imprevisível e explosiva, tendo diversos repertórios de ação que coexistem e não se deixam determinar a priori, são forjados no contato com as ruas. A multidão é formada por “singularidades não representáveis” ( Negri, 2004, p. 16).
Pelo exposto e em consonância com Scherer-Warren (2014) e Gohn (2016), entendemos que os aspectos estruturais, não os normativos, da categoria multidão possibilitam uma aproximação mais realista da dinâmica das manifestações de 2013, quando as ruas foram tomadas por uma multidão de corpos e subjetividades interconectadas que produziram uma profusão polifônica de objetos de esperança. Nesse caso, consideramos mais adequado nomear as manifestações de 2013 como movimento de multidão.
Scherer-Warren (2014) agrupa a polifonia de demandas produzidas pelas ruas em 2013 em torno de duas grandes categorias: antissistêmicas e direitos humanos, e estas duas classes de demandas situam-se no universo das utopias emancipatórias. No entanto, também emergiram demandas cujo conteúdo utópico situa-se em um universo conservador. Esta autora chama a atenção para a presença de jovens médicos opondo-se ao Programa Mais Médicos – cujo objetivo era atender as populações mais empobrecidas e socialmente vulneráveis – em favor de interesses corporativistas. Mais elucidativo é o relato segundo o qual “no movimento havia os mais radicais e libertários democráticos, os partidários, os apartidários democráticos, e os antipartidários, compreendendo um leque que vai dos fascistas aos anarquistas, com a diferença que não se assemelhavam em nada” (Scherer-Warren, 2014, p. 425). As utopias conservadoras eram plurais e unificavam-se na oposição ao governo de Dilma Rousseff e ao PT. No presente artigo, focalizamos nossa análise nas ações ligadas ao universo das utopias emancipatórias.
Em 2013, ocorreram diversos conflitos decorrentes dessa pluralidade de concepções ideológicas que dividiam simultaneamente a rua. A dinâmica dos protestos era marcada pela fluidez, pela horizontalidade e pela heterogeneidade política e subjetiva, não existia uma voz pública uníssona canalizando e comunicando as reivindicações nem um núcleo central de comando, pois era negada qualquer figura de liderança personalizada.
Isso não significa que as manifestações não eram previamente planejadas. Construíam-se instâncias organizativas que, por exemplo, promoviam assembleias abertas para a deliberação sobre data e local dos atos, sobre trajeto, mobilização de recursos infraestruturais para a “agitação” das manifestações (charanga, carros de som, faixas etc.), deliberação para a criação de comissões (de autodefesa, de comunicação, assistência jurídica etc.), construção de pautas reivindicatórias e criação de eventos nas redes sociais virtuais convidando a comunidade para os atos. Em Porto Alegre, a principal instância organizativa e mobilizadora foi o Bloco de Luta pelo Transporte Público, composto por várias organizações (partidos políticos de esquerda, sindicatos, movimentos sociais, grupos políticos marxistas e anarquistas), bem como por sujeitos não ligados a algum grupo.
Conceitos mobilizados: esperança, afetos expectantes, sonhos diurnos e utopia concreta
A esperança, tal como postulado por Bloch (2005), é, ao mesmo tempo, afeto e cognição. Enquanto afeto, é princípio, energia existencial que coloca o indivíduo em ação, motivado para e pelo futuro. Faz negar as situações de privação e escassez de qualquer ordem, motivando-o a movimentar-se na transformação do contexto imediatamente vivido e, assim, criar condições para uma vida melhor. Esperança, enquanto cognição, é a principal estrutura da consciência antecipatória, é o que torna o indivíduo capaz de imaginar, projetar, sistematizar e racionalizar uma situação melhor de vida. Possibilita ao indivíduo transcender a si mesmo e à facticidade do presente. A esperança conecta o indivíduo ao futuro, faz com que ele aja no presente para transformar o porvir. Esperança é futuro no presente. Esperança é ação e não contemplação, sentido esse comumente atribuído à palavra. Por fim, ela é responsável por também motivar as ações sociais significativas.
Afetos expectantes, sonho diurno e utopia concreta formam o circuito da esperança. Esses três conceitos elaborados por Bloch (2005) são fundamentais para representar o modo pelo qual a esperança informa e motiva as ações dos indivíduos e estrutura o mundo social. O autor classifica medo, angústia, fé e esperança como afetos expectantes, sendo esta a classe de afetos respons ável por possibilitar ao indivíduo desejar o que ainda-não-existe, ser o que ainda-não-é e projetar um “futuro autêntico” (Bloch, 2005, p. 77). O autor diferencia os afetos expectantes entre positivo e negativo: os negativos, medo e angústia, são “passivos, oprimidos, presos” (Bloch, 2005, p. 77). A esperança, por sua vez, é o afeto expectante positivo fundamental, “é a mais humana de todas as emoções e acessível apenas a seres humanos. Ela tem como referência, ao mesmo tempo, o horizonte mais amplo e mais claro” (Bloch, 2005, p. 77). O afeto expectante da esperança é ativado sempre que o sujeito experiencia situações de privação, carência, falta e escassez. Enquanto afeto, a esperança possui uma linguagem negativa, sabe indicar o que não quer, mas ainda carece de elaboração positiva sobre o que deseja colocar no lugar da realidade negada.
Os sonhos diurnos representam a progressão da esperança, do domínio afetivo para o cognitivo. O desejo de viver uma situação melhor de vida ativa a consciência antecipatória do indivíduo, que passa a projetar figuras imaginárias a respeito de como seria essa vida melhor. Irrompem elaborações imagético-discursivas positivas acerca dos desejos, sendo estes os sonhos diurnos, os que o sujeito tem de olhos abertos.
A utopia concreta, por sua vez, é a progressão dos sonhos diurnos. Para que o sonho diurno possa postular sua realização, ele precisa ser mediado em face do mundo, precisa demonstrar ser um “realmente possível”, isto é, “tudo aquilo cujas condições ainda não estão integralmente reunidas na esfera do próprio objeto, seja porque elas ainda estão amadurecendo, seja sobretudo porque novas condições – ainda que mediadas pelo existente – concorrem para a ocorrência de um novo real” (Bloch, 2005, p. 195). Quando, após esse processo de mediação, o sonho diurno demonstra-se factível de realização, passa a ser um sonho sonhado por uma coletividade e pode então transmutar-se em utopia concreta.
A utopia concreta é um núcleo de esperança compartilhada em torno do qual uma coletividade de indivíduos agrupa-se, agrega-se e organiza-se para instituir no mundo a novidade desejada, cuja realização demonstrou-se factível. Isso está diretamente relacionado ao surgimento de diferentes formatos de movimentos sociais, aqui compreendidos como uma ferramenta coletiva cujo objetivo principal é agir para instituir no mundo algo expectado, sonhado e elaborado em forma de utopia concreta 3 .
A seguir, demonstramos como a esperança constitui-se no principal fio de conexão intersubjetiva do movimento de multidão de 2013 em Porto Alegre, atuando como elemento vinculante e conectante dos manifestantes. Quem à rua saiu, estava motivado pela esperança de que algo que não existia passasse a existir, de colocar alguma figura nova no mundo sócio-histórico, e isso aparece na profusão de demandas manifestas nas ruas, em alguns casos até ideologicamente antagônicas. Como forma de demonstrar a presença estruturante da esperança nas manifestações de 2013 em Porto Alegre, reconstruímos o fenômeno em três momentos. No primeiro momento das manifestações, verificamos a presença predominante de afetos expectantes: os manifestantes comunicavam o que não queriam e, ao mesmo tempo, desejavam algo que ainda não sabiam exatamente o que era. A consciência da negação e os objetos de esperança, sem conteúdo definido, foram sendo progressivamente alimentados e solidificados com material concreto. O resultado é o surgimento de alguns sonhos diurnos, o que marca o segundo momento das manifestações, que se caracteriza pelo surgimento de demandas com conteúdo positivo expresso em uma gramática propositiva; o terceiro momento, sustentado pelo anterior, caracteriza-se pela elaboração, por parte dos manifestantes, de pequenas utopias concretas. Antes da análise desses três momentos ou ciclos é relevante fazermos dois apontamentos mais gerais sobre a expressão da esperança nas manifestações.
Sinais de esperança: o flautista e as crianças nas manifestações de 2013
A Fotografia 1, de 20 de junho, serve como metáfora para as manifestações de 2013. No primeiro plano, visualizamos um homem molhado pela chuva, de capacete, a tocar flauta. Ao lado dele, em segundo plano, um rapaz com o semblante apreensivo, olhando fixamente para algo ocorrendo à sua frente. No terceiro plano da fotografia, um grupo de pessoas com os rostos distorcidos pelas sombras e luzes que cintilam ao fundo, em especial uma luz desfocada que banha a foto em tons de vermelho.

As duas dimensões da fotografia – o primeiro plano, cujo conteúdo é de fácil identificação, e o segundo plano, em que a imagem está desfocada – metaforizam a coexistência que ocorreu em 2013: por um lado, formas distorcidas, afecções que perturbam, sem se saber ao certo o motivo do incômodo e, por outro lado, a construção de reivindicações em um formato discursivo positivo, tendo mais ou menos chances de serem realizadas no mundo fático. Tanto a fotografia quanto as manifestações foram marcadas por elementos distorcidos, indistinguíveis, sem forma e que causavam incômodo, e por outros mais bem-acabados, distinguíveis e com formas definidas.
O mais significativo e emblemático na fotografia é o homem tocando flauta em meio a uma situação tensa e de apreensão. Na noite em que foi realizado esse registro, a manifestação foi duramente reprimida pela Brigada Militar; havia uma atmosfera de tensão pairando no ato. A observação da fotografia permite sentir essa dramaticidade e tensão instalada na rua naquela noite. Aliás, o flautista está de capacete justamente para proteger-se da repressão.
Ainda que inserido em um contexto conflagrado, o musicista segue tocando sua flauta, acontecimento simbolicamente significativo, tendo em vista que a música, entre todas as artes, é o locus privilegiado de produção e de proteção da esperança. A música, para Bloch (2005, p. 146), possui em si o excedente “composto pelo material da esperança, mesmo no sofrimento sonante infligido pela época, a sociedade e o mundo”.
Mesmo os manifestantes estando inseridos em um contexto propício para paralisarem, no qual vários perigos os afetavam com o medo (disparos de armas com munição de borracha realizados pela Brigada Militar contra os manifestantes, bombas de gás lacrimogênio, cavalaria, perigo iminente de ser detido), seguiam sua marcha, pois estavam animados, mais fortemente, pelo afeto esperança. Bloch (2005, p. 171-172) é ainda mais explícito sobre a relação entre música, esperança e mundo social ao dizer que “a relação com esse mundo é que torna a música sismográfica em termos sociais; ela reflete as rupturas sob a superfície social, expressa desejos de mudança e significa ter esperança”. Isso permite-nos interpretar a figura do flautista executando seu número musical em um contexto de repressão como uma alegoria que cristaliza visualmente a esperança e salienta a sua incidência e importância na estruturação das manifestações de 2013. Também permite constatar a coexistência da esperança entre os manifestantes e do medo produzido pela repressão estatal como estratégia para tentar findar os atos.
Além disso, o jovem flautista representa o perfil etário dos manifestantes. Singer (2013, p. 28), analisando os dados coletados pelo Instituto Datafolha, pelo Ibope e pelo Plus Marketing, chega à conclusão de que foi “um movimento formado majoritariamente de jovens, complementada por significativo contingente de jovens adultos (aproximadamente de 26 a 39 anos)”. A juventude, por sua vez, é um período da vida marcado profundamente pelo impulso do Ser para o futuro, momento em que o indivíduo está mais fortemente predisposto a instituir inovações no mundo. Benjamin (2013, p. 53) diz que a “juventude é toda cercada de esperança, amor e admiração”. Nesse sentido, a presença predominante de jovens nas manifestações de 2013 é outro indicador de que a esperança foi um elemento marcante e constante nas ruas. Há a esperança expressa através das performances dos manifestantes motivados e informados ora por afetos expectantes, ora por sonhos diurnos e ora por utopias concretas.
Assim como o flautista e sua música, a criança é símbolo e, ao mesmo tempo, vetor de esperança. Por isso, julgamos pertinente ressaltar a presença delas nas manifestações de 2013, como pode ser visualizado nas Fotografias 2, de 04 de abril, e 3, de 4 de julho.
A criança está intimamente relacionada à esperança de duas maneiras. Primeira, os adultos depositam nelas a esperança de que produzam um futuro diferente do presente vivido e que desagrada. Segunda, a criança é afetada muito especialmente pela esperança, já no nascimento os afetos expectantes irrompem com intensidade: “Movimento-me. Desde cedo na busca. Completamente ávido, gritando. Não se tem o que se quer [...] espera-se pelo próprio desejo” (Bloch, 2005, p. 29). Todavia, também é nesse período da vida humana que aprendemos a canalizar a esperança, sobretudo, por meio do aprendizado da espera, “pois o que uma criança deseja raramente chega imediatamente” (Bloch, 2005, p. 29).
A partir disso, deduzimos duas implicações na participação das crianças nas manifestações de 2013. Por um lado, operam como um agente potencializador da esperança de todos e de cada um, fortalecem os fios invisíveis de interconexão subjetiva entre os manifestantes e, assim, reforçam a esperança na possibilidade de consecução dos objetos desejados e reivindicados através da ação coletiva. Para o adulto, significa sonhar, de olhos abertos, com um mundo e uma vida melhores para as crianças. Esse é o irrompimento de um sonho diurno, um objeto desejado com contornos relativamente definidos.
Por outro lado, há um impacto na própria criança que não participa passivamente da manifestação: ao mesmo tempo em que sua presença impacta fortalecendo a intersubjetividade, ela também se conecta intersubjetivamente. Dependendo da idade, isso tende a acrescentar uma nova constelação de possibilidades ao seu imaginário. Porque, ao conhecer a dimensão da luta social, a criança passa a ter um novo suporte para a canalização e a realização de suas esperanças. Ela conhece novos objetos a serem expectados e outra forma para a realização desses objetos. Aí, então, descobre massivamente o Outro no mundo e a existência de determinados sonhos diurnos que, para serem realizados, precisam ser sonhados, desejados coletivamente, cuja realização depende da ação coletiva.


Afetos expectantes tomam as ruas
Nas manifestações de 2013 é possível verificar a influência dos afetos expectantes na motivação dos manifestantes através das pautas materializadas sob as formas de negação de alguma coisa e/ou de defesa da legitimidade das mobilizações. Nesse caso, não eram elaboradas e expressas categoricamente demandas em uma linguagem positiva, visto que as reivindicações eram marcadas pela comunicação da oposição a algo. Os manifestantes eram afetados negativamente pelo arranjo de circunstâncias do mundo sócio-histórico e expressavam nas ruas um “não à precariedade”. A negação apresentada é exatamente a expressão da pulsão constitutiva do ser humano para o que ainda-não-é, para o que ainda não foi realizado, e isso se traduziu nas ruas de dois modos: estratégias iconoclastas e estratégias softs. Esse período de estruturação das manifestações a partir, sobretudo, de afetos expectantes, pode ser situado de janeiro até começo do mês de abril de 2013, embora também reverbere com intensidade nos momentos posteriores. Inclusive, a maior parte dos registros fotográficos coletados para a nossa análise desse período datam de junho de 2013, isso ocorre porque nesse momento aconteceu o maior ascenso das manifestações e os eventos mais significativos do fenômeno, e, consequentemente, a produção de conteúdo jornalístico foi mais abundante nesse período.
Conforme Scherer-Warren (2014), pautas antissistêmicas também compuseram o mosaico plural de reivindicações apresentadas na rua pelos manifestantes em 2013. A linguagem empregada para exteriorizar e expressar demandas antissistêmicas foi, principalmente, a da depredação e violação de determinados estabelecimentos públicos e privados que, no entendimento dos manifestantes, são símbolos do status quo. Isso torna-se bastante palpável quando prestamos atenção na recorrente demanda/denúncia: “transporte público não é mercadoria”. É negada, com isso, a lógica do mercado e, mais amplamente, a própria economia capitalista. Há a consciência, nesse caso, do que não se quer, mas pouco ou nada é articulado acerca do conteúdo de um projeto substitutivo.
O registro fotográfico número 4, de 20 de junho, em que visualizamos um ônibus sendo atacado por manifestantes, é exatamente a cristalização na efetividade social da negação da lógica de mercado gerindo o transporte coletivo. Ao atacarem o ônibus, os manifestantes estão no fundo, através de ações performáticas e simbólicas, expressando sua negação ao sistema de mediações do capital. O capitalismo não existe fisicamente em lugar nenhum, ele é uma “instituição imaginária da sociedade” ( Castoriadis, 2010), efetiva-se simbolicamente o tempo todo e em quase todos os lugares, mediando as relações de intercâmbio entre os seres humanos.
Contribui para a compreensão a proposta de Benjamin, de pensar o capitalismo como religião. Para o autor, “o capitalismo é uma religião puramente cultual, talvez até a mais extremada que já existiu [...] Nele, todas as coisas só adquirem significado na relação imediata com o culto” ( Benjamin, 2013, p. 21). O capitalismo não tem materialidade, ele se manifesta sempre através de símbolos. Atacá-lo ou cultuá-lo somente é possível através da relação com o conjunto de símbolos nos quais seu espírito encarna. Para profanar o capitalismo, em 2013, os manifestantes utilizaram-se de práticas iconoclastas 4 . No caso aqui analisado, o ônibus é compreendido como um objeto litúrgico pertencente ao culto capitalista, profanado pelos manifestantes ao ser quebrado fisicamente.
A prática iconoclasta, em Porto Alegre, foi empregada especialmente pelos adeptos da tática black bloc, que elegeu as instituições financeiras como os seus alvos preferenciais, também sendo alvos o mobiliário urbano, vidraças, muros e veículos empregados no transporte coletivo de passageiros, como pode ser visualizado nas Fotografias 4 e 5, de 20 de junho, 6, de 24 de junho, e 7, de 13 de junho. Em síntese, uma parcela dos manifestantes utilizou-se de práticas iconoclastas para profanar símbolos-objetos envolvidos nos rituais capitalistas e, assim, demonstraram sua oposição ao sistema socioeconômico em geral.
Utilizar o termo práticas iconoclastas em substituição a, por exemplo, “práticas violentas” ( Tatagiba, 2014), “violência física” (Scherer-Warren, 2014), “cenas de violência” (Gohn, 2016), é um ganho analítico. Violência não descreve rigorosamente as ações às quais nos referimos aqui, pois diz respeito a práticas perpetradas contra seres vivos (seres humanos, animais, plantas etc.) com vistas a causar ferimentos ou morte. A ação contra objetos inanimados jamais causará ferimentos ou morte. Logo, consideramos práticas iconoclastas um termo analiticamente mais rigoroso para descrever tanto a ação quanto o sentido das ações dos manifestantes que quebravam e/ou violavam objetos. Por outro lado, a repressão policial às manifestações só pode ser descrita como violência multidimensional.




Retomando a questão da pauta antissistêmica, é importante salientar que ela é, em seus próprios termos, uma negação. O subgrupo de manifestantes que empunhava essa bandeira de luta a apresentava publicamente através de práticas iconoclastas que informavam, sobretudo, desacordo, desconforto e incômodo com o estado de coisas. Comunicavam o que não queriam, e isso denota que estavam mobilizados, nesse caso, por afetos expectantes. Expectavam por algo, antecipavam algo ainda sem objeto definido. O objeto expectado estava sendo gestado no fermento imaginário. Num primeiro momento, a substância que nutre o objeto disforme, sem estrutura e em desenvolvimento é o sentimento, a afetação disparada pelo incômodo, pelo desacordo com algo que, no caso em questão, era o sistema socioeconômico.
Também é possível encontrar a expressão dos afetos expectantes na estruturação das mobilizações de rua em Porto Alegre através de performances softs, elas comunicavam denúncia, negação ou contrariedade a alguma coisa através de cartazes e palavras de ordem, cujos alvos eram elementos mais próximos e/ou imediatamente ligados aos protestos, como pode ser visto nas fotografias 8, de 13 de junho, 9, de 18 de fevereiro, 10, de 24 de junho, e 11, de 27 de maio. Essa forma de ação também estava restrita a uma linguagem negativa, pois se tinha consciência do que não se queria.
A Fotografia 9 registra uma manifestação realizada pelo movimento ambientalista contra o corte de árvores realizado pela prefeitura de Porto Alegre no mês de maio de 2013, com a justificativa de ampliação de uma avenida. Nesse episódio, o movimento ambientalista utilizou-se de estratégias softs. Tal ação ocorreu no caldo das manifestações contra o aumento da tarifa do transporte coletivo já deflagrado na cidade. É importante destacar a mobilização do movimento ambientalista para demonstrar que 2013 transcende a questão estrita da tarifa de ônibus: trata-se de um instante histórico em que a partilha intersubjetiva da esperança foi potencializada e expandida, vinculando mais pessoas.




Os afetos expectantes são sensações que afetam o sujeito, causam incômodo, desconforto e sentimento de inconformidade com as circunstâncias vividas. O imediatamente consciente para o afectado é que a superação do incômodo não está em nada existente no tempo presente, e iniciam-se projeções que provocam o afectado a expectar algo do futuro. É formulado, nos domínios da consciência, o que não se quer. Ainda não há uma figura nítida para substituir o que está sendo negado. Entretanto, o sujeito estar afetado por expectativas, cujo objeto é ainda nebuloso, é condição sine qua non para a criação de sonhos diurnos.
Foi exatamente esse sentimento de incômodo e de inconformidade apresentado pelos manifestantes sob a forma de negação de algo – seja negando o sistema socioeconômico de forma ampla, seja opondo-se ao aumento da tarifa do transporte coletivo, seja dizendo que o transporte deve ser público e não uma mercadoria como qualquer outra, seja denunciando que o valor da tarifa do transporte é roubo, seja exigindo respeito, seja dizendo não ao corte de árvores – que buscamos demonstrar até aqui.
Irrompem sonhos diurnos
Os afetos expectantes transmutam-se em lampejos imagéticos. Nesse momento, brotam do solo fermentoso do imaginário os sonhos diurnos, figuras de uma vida melhor. O sujeito começa, então, a criar figuras imaginárias a respeito do que exatamente deseja. O incômodo produzido pelos afetos expectantes, primariamente canalizado sob a forma de negação das circunstâncias vividas, passa a receber conteúdo positivo e inicia-se aí as fabulações de sonhos diurnos; eles são projeções de figuras imaginárias de como seria uma vida melhor. Porém, nesse momento, não se sabe nada ainda a respeito de como realizar os sonhos formulados. Para ganharem concretude e, assim, sua realização no mundo fático se tornar possível, precisarão passar por inúmeras mediações no mundo social-histórico.
Bloch (2005) indica que uma das características dos sonhos diurnos é a tendência a tornarem-se públicos, vinculantes, pois passam a ser desejados coletivamente, passam a ser, dependendo da natureza de seu conteúdo, compartilhados intersubjetivamente, e, apenas coletivamente, há chances de serem realizados. Mesmo quando são sonhos pertencentes a projetos de vida individuais, para se realizarem dependerão inexoravelmente da relação com outros indivíduos e, também, decisivamente, com a estrutura social.
Sonhos de uma vida melhor irromperam nas manifestações de 2013 em Porto Alegre. Para que haja compartilhamento subjetivo de um objeto desejado, é necessário algum tipo de convivência mais duradoura ao longo do tempo entre os partícipes da conexão intersubjetiva. É relevante a forma como isso ocorreu nas ruas da capital: no primeiro período das manifestações, compreendido entre janeiro e abril de 2013, as pautas eram apresentadas, mormente, de forma negativa, como já exposto. A principal bandeira de luta desde o início foi o desacordo com o reajuste da tarifa do transporte coletivo. Quando o reajuste, à revelia das manifestações, concretizou-se, a bandeira foi alterada para a exigência de sua revogação.
Lenta e gradativamente, sonhos diurnos lampejaram em meio às manifestações. É evidente que afetos expectantes e sonhos diurnos coexistiam nos protestos. Porém, em um primeiro momento, os afetos expectantes predominaram; posteriormente, a predominância passou a ser dos sonhos diurnos. A estruturação intersubjetiva das manifestações a partir de sonhos diurnos compreende o período que vai de abril até julho do referido ano. São dois os sonhos diurnos que caracterizam esse momento: “transporte 100% público” e “passe livre já”.
Em Porto Alegre, a cronologia dos acontecimentos envolvendo as manifestações de 2013 contra o aumento do valor da tarifa foi a seguinte: de janeiro a março, o foco das manifestações estava na contrariedade ao aumento; em março, o reajuste foi aprovado pelas instâncias reguladoras e implementado pelo poder executivo municipal e; no início do mês de abril, os manifestantes conquistaram a revogação do reajuste. Foi a conquista da revogação o ponto crítico a partir do qual os sonhos diurnos passaram a fermentar e lampejar com mais intensidade nas manifestações.
A Fotografia 12 retrata a manifestação do dia 04 de abril de 2013, dia em que o reajuste em Porto Alegre foi suspenso pela justiça. A manifestação dessa noite transformou-se em uma espécie de ritual de comemoração da vitória conquistada. Nas manifestações seguintes, demandas com conteúdo positivo, ou sonhos diurnos, passaram a figurar em maior quantidade e intensidade.
As expectações no decorrer das manifestações e o acúmulo gradativo de esperança passaram a ser paulatinamente alimentados com material concreto, tornando possível a articulação positiva e propositiva de objetos desejados. A partir disso, as figuras distorcidas e desprovidas de objeto, produzidas pelas expectações, situadas ainda nos domínios do inconsciente, ascendem para o consciente e nele são mediadas. Recebem conteúdo, contorno, acabamento e, principalmente, forma através da linguagem intersubjetivamente partilhada. Esse é o processo através do qual os sonhos diurnos irromperam nas manifestações.

A conquista da revogação do aumento da tarifa foi, sobremaneira, importante para fortalecer as manifestações, pois parece ter sido decisiva para reforçar intersubjetivamente a esperança de que as coisas, de fato, são transformáveis no mundo socialhistórico através da ação coletiva. Isso produziu condições privilegiadas para a expansão da esperança e a consequente emergência de novos objetos de desejo – as Fotografias 13 e 14, de 11 de abril, ilustram demandas positivas ligadas ao transporte coletivo.


A essa altura dos acontecimentos já era junho de 2013, período em que ocorreu o mais potente recrudescimento das manifestações em todo o Brasil, e foi quando ocorreram, em Porto Alegre, as mais encarniçadas repressões policiais às manifestações. Daí em diante, os protestos focaram principalmente na proposição de um modelo de transporte coletivo realmente público para Porto Alegre e, nessa esteira, surgiu com força a demanda por passe livre; ambas se tornaram as principais bandeiras de luta das manifestações.
Irromperam dois sonhos diurnos: sistema público de transporte coletivo (gerido pelo Estado) e passe livre para alguns grupos sociais, e realizá-los na efetividade social traria melhorias na qualidade de vida da população em geral. Isso corrobora o diagnóstico blochianos: sonhos diurnos são sempre de uma vida melhor e sua realização requer que se tornem públicos e que sejam sonhados coletivamente.
Nesse momento, o Bloco de Luta pelo Transporte Público adquire uma nova importância. Desde janeiro de 2013, foi a principal instância organizadora dos atos de rua. No Bloco discutia-se a organização das manifestações de forma ampla, foi também espaço para avaliação da eficácia das ações, bem como para escolha dos rumos políticos; pelo menos até junho foi, sobretudo, um instrumento de organização. Após a revogação da tarifa, o recrudescimento das manifestações e a necessidade de se apresentar reivindicações propositivas, o Bloco tornou-se uma instância também de reflexão intersubjetiva dos manifestantes: iniciou-se uma discussão coletiva no seu interior sobre o projeto de transporte coletivo público que se desejava e sobre como viabilizar esse projeto. Nesse momento, começa a nascer o primeiro embrião de utopia concreta gerado no interior das manifestações de 2013 em Porto Alegre.
A cristalização de utopias concretas
No último momento das mobilizações, a última grande ação de 2013 foi a ocupação da Câmara Municipal de Vereadores de Porto Alegre. Tendo sido organizada pelo Bloco de Luta pelo Transporte Público, seu início foi em 10 de julho e durou até o dia 18 do mesmo mês, período em que as manifestações de rua entraram em processo de arrefecimento. O período de ocupação da Câmara marca o terceiro momento de nossa reconstrução das manifestações. Aqui, a conexão intersubjetiva dos manifestantes foi alicerçada a partir da criação e da elaboração de uma utopia concreta.
Destacamos, no episódio da ocupação, a criação de condições propícias para a gestação de uma pequena utopia concreta, ou seja, foi o momento em que os manifestantes iniciaram o processo de mediação de seus sonhos diurnos, intersubjetivamente partilhados, em face do mundo; a própria ocupação de um prédio que acomoda a esfera legislativa municipal por si só já é uma mediação. Com isso, os manifestantes estavam, de certa forma, reconhecendo a institucionalidade e ao mesmo tempo subvertendo-a. Reconheciam a legitimidade do espaço enquanto produtor de legislações, mas informavam, através da ocupação, que estavam dispensando a representação dos vereadores eleitos através do voto. Estabeleceram, na prática, um sistema de autorrepresentação, uma democracia direta.
A Câmara permaneceu ocupada por oito dias. Nesse período, a vida na ocupação foi gerida através de um sistema autogestionário, que cuidava da segurança, da alimentação, da limpeza, da comunicação, da cultura etc. A questão do transporte coletivo era debatida em assembleias, com microfone aberto para intervenções, sugestões, compartilhamento de reflexões e propostas. Foi uma experiência, sobretudo, de convivência, em que se buscou, tanto quanto possível, mediar as relações interpessoais de forma democrática. Foi um momento no qual os laços intersubjetivos foram fortalecidos.
Durante a ocupação da Câmara foram elaborados dois projetos de lei: um previa passe livre para estudantes, desempregados, indígenas e quilombolas, e outro a abertura irrestrita das contas das empresas privadas prestadoras do serviço de transporte coletivo em Porto Alegre, bem como a proibição de concessão de qualquer tipo de subvenção e/ou isenção fiscal para essas empresas. No período da ocupação também foram realizadas longas discussões a respeito de como tornar economicamente sustentável o sistema de transporte público projetado pelos ocupantes.
Interessa-nos, no escopo deste trabalho, o processo através do qual foi atribuída concretude aos sonhos diurnos que foram coletivamente sonhados. Isso fez com que ascendessem ao status de utopia concreta. Certamente não foi criada uma grande utopia ou uma utopia social, mas, sem dúvida, uma pequena utopia.
Ao final da ocupação, os dois projetos formulados foram protocolados na Câmara de Vereadores com a intenção de que fossem apreciados e votados, o que não ocorreu. Mesmo tendo consciência de que o desfecho seria esse, os ocupantes protocolaram os projetos. O gesto demonstra a mediação desses sonhos em face do mundo fático, com as instituições que organizam a vida social; estavam tencionando o mundo instituído, buscando criar fissuras para viabilizar o advento do novum. Empiricamente, é esse processo que confere concretude aos sonhos diurnos, promovendo-os a utopias concretas, portanto, a figuras novas e nítidas que ainda não existem em parte nenhuma e que aspiram tornarem-se reais.
Salientamos outro aspecto interessante suscitado pela ocupação, a relação entre esperança e autonomia. Referimo-nos aqui ao conceito de autonomia formulado por Honneth e sintetizado por Sobottka (2015, p. 37): “a possibilidade de o indivíduo poder criar e levar a cabo o seu próprio plano de vida”. Para que o indivíduo possa dar a si próprio, da maneira mais lucidamente possível, o seu próprio projeto de vida, significa que ele primeiro precisa expectar e depois sonhar, produzir figuras de desejo bem definidas para a própria vida. Para que isso seja possível, é necessário que a sociedade disponibilize um arranjo de coisas que permita ao indivíduo, primeiro, desenvolver lucidez psíquica e intelectual sobre si mesmo e sobre o mundo no qual está inserido para poder fazer escolhas, tanto quanto possível, realmente suas; segundo, a sociedade precisa prover-lhe acesso a recursos materiais e simbólicos para viabilizar seus projetos. A realização da autonomia é dificultada quando essas condições não estão amplamente disponíveis. A autonomia possui duas dimensões que não se sobrepõem: uma individual e outra social ou coletiva. A realização de uma dimensão requer a realização da outra.
Voltando à ocupação, uma vez que a sociedade brasileira, de forma injustificada, não disponibiliza, de forma eficiente, as condições sociais necessárias à realização da autonomia para amplos setores da população, através da formulação de utopias concretas, os manifestantes procuraram suprir esta lacuna produzindo circunstâncias favoráveis para o desenvolvimento de autonomia. Na ocupação, a busca pela realização da autonomia expressou-se através da criação de um espaço de participação direta em que todos e cada um tinha igualdade e liberdade de participação na construção da utopia, nesse caso em forma de lei, que estavam produzindo. Nessa experiência estavam contempladas as duas dimensões da autonomia.
A dimensão individual estava na participação da produção da utopia, da lei, e logo os participantes reconheciam-se nela. Além do mais, muito provavelmente, instituir um sistema político que preveja a participação direta de todos nas tomadas de decisão seja parte do projeto de vida dos manifestantes que ocuparam a Câmara. A dimensão coletiva estava no conteúdo da utopia, da lei, pois o que se estava propondo com os projetos de lei era a ampliação do acesso ao transporte coletivo, ou seja, criavam-se condições materiais para que mais pessoas pudessem fazer uso de um recurso importante para a realização de projetos de vida em uma metrópole.
Portanto, os afetos expectantes, os sonhos diurnos e as utopias concretas são elementos constitutivos e indispensáveis para a realização da autonomia, tanto em nível individual quanto coletivo, pois são dimensões intrincadas. Em outras palavras, autonomia e esperança são elementos dependentes um do outro, pois quanto mais autonomia, mais esperança se pode ter, e quanto mais esperança se tem mais autonomia se almeja ter. As Fotografias 15 e 16, de 13 de julho, são registros da ocupação da Câmara Municipal de Porto Alegre.


Front, novum e a relação da esperança com a institucionalidade
O front, conforme Bloch (2005), é a linha de frente da sociedade, é o lugar metafórico onde ocorre a fabricação da realidade social, é onde as mediações que concorrem para a conservação e aquelas que desejam instituir o novum estabelecem suas disputas. Desse processo conflituoso ininterrupto resta sempre fabricada a realidade social. Portanto, todas as sociedades humanas possuem um front. Cada sociedade também irá operacionalizar o front de formas diferentes. Ele nunca se deixa controlar e situar completamente, pode alterar seu lugar na geografia social intempestivamente, conforme as disputas entre forças sociais concorrentes. É no front que nasce o novum. Logo, o espaço que cada sociedade reservará ao front será sempre transitório no tempo e no espaço.
Em particular, as sociedades ocidentais modernas criaram mecanismos democráticos, através de uma arquitetura institucional, propícios a acolher, de forma mais ou menos eficiente, demandas e conteúdos utópicos da sociedade. O fato é que essas sociedades, ao assumirem a democracia enquanto regime social, estão também assumindo seu caráter dinâmico e sua tendência genética a instituir transformações.
O arranjo institucional do ocidente moderno é desenhado para filtrar os desejos e as demandas por mudanças que brotam na sociedade civil, quase sempre em forma de conflito, e dentro da institucionalidade busca-se mediar esses conflitos e dar vasão ou não às inovações requeridas, ao novum. Esse desenho institucional, ao ser eficiente no acolhimento das demandas, torna os conflitos sociais mais discretos e controlados. Quando a institucionalidade é democrática, a linguagem empregada para mediar os conflitos é prioritariamente discursiva-racional, normalmente a linguagem do Direito.
Por outro lado, na efetividade social, essa arquitetura democrática realiza-se de forma mais ou menos satisfatória. À vista disso, existem sociedades nas quais a institucionalidade possui sérias dificuldades em absorver e filtrar as demandas sociais por mudanças, habitualmente são sociedades com pouco ou nenhum canal de participação social, além do sufrágio. Nesses casos, o conflito tende a manifestar-se de forma explícita e o locus do front passa a ser principalmente a rua. A linguagem empregada perde a obrigatoriedade de ser discursiva-racional, e muitas vezes é a linguagem própria das guerras.
As manifestações de 2013 ocorridas no Brasil estão intimamente ligadas ao fato de que a institucionalidade se demonstra profundamente incapaz e indisposta a acolher e dar vazão às expectações, aos sonhos diurnos e às utopias, principalmente para aquelas de coloração ideológica progressista que brotaram nas ruas. Assim, enquadramos as manifestações de 2013 enquanto confronto entre mediações antagônicas que concorriam, por um lado, para conservar o estado de coisas e, por outro, para trazer o novum ao mundo e instituir inovações (não importa aqui a dimensão delas).
As Fotografias 17 e 18, de 20 de junho, apresentam parte dos agentes que compuseram o front em Porto Alegre. Enquanto força mediadora de conservação, havia, destacadamente, o capital, ao qual não interessava alterar a estrutura do sistema de transporte coletivo; o Estado, que através do poder executivo comandou a repressão às manifestações, mobilizando o seu aparato policial, jurídico e político; e as grandes empresas de comunicação, que construíam, em geral, narrativas negativas e deslegitimadoras das manifestações, em especial das ações iconoclastas.
Por outro lado, a multidão na rua era a principal força mediadora interessada em instituir o novum, e contava com o apoio e a participação de movimentos sociais, partidos políticos, confederações anarquistas, sindicatos e pequenos veículos alternativos de comunicação. Esses agentes eram apoio e parte constitutiva da multidão heterogênea e expectante que ocupou as ruas. É no front que os sonhos diurnos, as utopias e as esperanças se amalgamam com as ideologias existentes na sociedade. Isso evidenciou-se na rua em 2013 através da coexistência de subgrupos que projetavam suas esperanças de mudança em objetos de desejo plasmados em conteúdos ideologicamente antagônicos.
A incapacidade do Estado em dar vazão aos anseios de uma vida melhor que brotaram, principalmente, nas classes subalternizadas, na classe daqueles que-vivem-do-seu-trabalho, que têm sofrido o aprofundamento da precarização de suas condições de vida, não é exclusividade do Brasil. Mesmo sociedades que historicamente construíram um arranjo institucional razoavelmente eficiente em absorver as demandas por mudanças (países do Norte), em acomodar e conter dentro das instituições os conflitos, estão vendo lentamente o front ser transferido para o espaço da rua, o que significa que essa institucionalidade não está dando conta e que não é possível represar os sonhos diurnos e as utopias por um longo tempo. Em algum momento o dique se romperá.
Outro dado importante das manifestações ocorridas em foi a opção do Estado em estabelecer relação por intermédio basicamente da repressão policial. Isso é a expressão da fragilidade e da baixa intensidade da democracia no país. Logo, isso reflete na incapacidade das instituições em conseguir acolher as demandas utópicas e estabelecer linhas de diálogo discursivoracionais com os manifestantes.
Por sua vez, como foi demonstrado no episódio da ocupação da Câmara Municipal de Porto Alegre, há nos manifestantes o desejo, consciente ou não, de participação nas tomadas de decisão que impactam seus projetos de vida. Podemos, portanto, depreender disso que há interesse e vontade de instituir um sistema democrático mais amplo e com mecanismos de participação efetivos.
Na interação de mútua negação que se estabeleceu entre Estado e manifestantes reside a chave para o entendimento da originalidade das manifestações que irromperam no Brasil em . Segundo Gorz (1987, p. 20), esse tipo de movimento caracteriza-se pela “negação da ordem, do poder, do sistema social, em nome do direito imprescritível de cada um sobre sua própria vida”. Outra característica é o fato de os movimentos serem dispersos e compósitos, “refratários à organização, à programação, à delegação de funções, à integração numa força política constituída” ( Gorz, 1987, p. 20), e nisso reside a força desses movimentos, pois permite que tenham, ao mesmo tempo, alguma capacidade de desafiar o poder heterônomo, centralizador e verticalizado condensado no Estado e, por outro lado, sejam em si um meio antropologicamente adequado para a realização de seu desejo mais profundo, a expansão da autonomia.
Conforme Gorz (1987, p. 21), a fraqueza está na “desconfiança destes [movimentos] com relação a instituições e partidos constituídos [o que] reflete essencialmente sua recusa [...] de considerar esses como os únicos decisivos debates sobre a melhor gestão do Estado pelos partidos e da sociedade pelo Estado”. A fraqueza apontada nos ajuda a compreender o porquê de os manifestantes em 2013 negaram-se a dialogar com o Estado – no entanto, mesmo que desejassem estabelecer um diálogo efetivo, essa possibilidade estava bloqueada, pois o Estado, ao optar por relacionar-se unicamente através da repressão, suspendeu qualquer possibilidade de comunicação. Esse não diálogo com os poderes instituídos faz com que as conquistas por parte desses movimentos sejam pequenas ou nulas.


Repressão e desrespeito nas ruas de Porto Alegre
As liberdades de reunião e de manifestação são direitos fundamentais do conjunto dos cidadãos em uma sociedade democrática, ao menos em um nível formal, como é o caso do Estado brasileiro. Na Constituição Federal, essas liberdades estão previstas no Art. 5° inciso XVI: “todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente”.

No entanto, o Estado brasileiro, ao optar, basicamente, por reprimir as manifestações e assim frustrar injustificadamente as expectativas dos manifestantes em terem seus objetos utópicos reconhecidos, além de estar desrespeitando a Constituição, está também impingindo “desrespeito moral” ( Honneth, 2003) aos cidadãos que se manifestam. A Fotografia 19, de 20 de junho, ilustra esse desrespeito.
As manifestações de 2013 em Porto Alegre foram marcadas pela privação dos direitos dos manifestantes, pois a recorrente repressão policial comunicava que o Estado não reconhecia o direito de reunião, de manifestação e, também, não reconhecia as demandas utópicas apresentadas. Isso, além de provocar a perda de autorrespeito no indivíduo, provoca-lhe um efeito danoso na dimensão dos afetos.
Quando reprimia as manifestações em 2013, muitas vezes transcendendo qualquer protocolo seguro e aceitável para esse tipo de procedimento, o Estado também comprometia a autoconfiança do indivíduo quanto à sua capacidade de sonhar e de realizar seus sonhos de uma vida melhor (mas, jamais tendo por efeito o aniquilamento dessa capacidade). Assim, o Estado bloqueia também o desenvolvimento da autonomia do indivíduo.
A repressão trabalha com a estratégia de despertar medo e horror no indivíduo manifestante. Lembremos que Bloch (2005) categoriza o medo como um afeto expectante negativo que paralisa. Portanto, o Estado, ao adotar a estratégia da repressão, almejava, em última análise, exatamente despertar o medo nos manifestantes para assim produzir desmobilização e o consequente arrefecimento dos protestos. Desencadeou, no nível individual, a privação do direito à esperança. Provocou, desse modo, o que podemos chamar de perda de autoconfiança afetiva, uma vez que a esperança, conforme o autor, é um afeto fundamental para a existência humana. Temos aqui outra forma e nível de desrespeito.
A estratégia do medo e o triunfo da esperança
Algumas publicações sobre estas manifestações, analisando o caso de São Paulo, indicam a existência de uma correlação entre a repressão policial e a ampliação vertiginosa do número de manifestantes na rua ( Antunes; Braga, 2014; Scherer-Warren, 2014; Singer, 2013; Tatagiba, 2014). Em Porto Alegre, não foi diferente. A repressão, em vez de gerar, exatamente nessa ordem, frustração, angústia, medo e paralisia nos manifestantes e, consequentemente, o arrefecimento das manifestações, gerou recrudescimento.
Porém, oferecemos uma interpretação alternativa às abordagens que creditam a massificação das manifestações ao sentimento de “indignação” ( Antunes; Braga, 2014) ou ao sentimento de “repúdio” (Scherer-Warren, 2014) ou ainda ao sentimento de “simpatia” para com os manifestantes ( Singer, 2013), gerado após as duras repressões. Ora, a repressão aos movimentos sociais e a protestos ocorre recorrentemente sem, com isso, gerar o mesmo efeito verificado em 2013. Junto a esses recorrentes episódios de repressão, estão sempre presentes, em uma parcela da população, os sentimentos de indignação e de repúdio à repressão, e por isso as respostas oferecidas para explicar o elo entre repressão e ascenso das manifestações nos parecem insuficientes. Trabalhamos com a hipótese de que a ampliação de manifestantes nas ruas está ligada à presença condensada e potencializada do afeto esperança, interconectando subjetivamente os participantes.
A repressão estatal, evidentemente, gerou a frustração das expectativas legítimas dos manifestantes em terem seus direitos de manifestação e o direito à esperança reconhecidos. No entanto, o sentimento de injustiça/indignação sentido por eles não se converteu em paralisia alimentada pela frustração, pela angústia e pelo medo, como comumente ocorre; antes, converteu-se em ação alimentada pela esperança 5 . A coexistência do sentimento de injustiça sentido pelos manifestantes e a esperança (esse afeto vinculante) de instituir novidades para melhorar a sociedade geraram reações e a adesão de quem estava até aquele momento apenas acompanhando os eventos. Quando o sentimento de injustiça se vincula à esperança, essa sim, o único afeto capaz de conduzir o indivíduo para a ação criadora, coloca esse sujeito em movimento no sentido de modificar a circunstância geradora da injustiça e desobstruir o caminho para a realização do objeto expectado, sonhado.
Desde a redemocratização, o processo de produção sócio-histórica da realidade nacional limitava-se à reprodução de objetivamente possíveis (Bloch, 2005), isto é, à confirmação factual de tudo aquilo que era socialmente esperado e materialmente possível, reprodução social da tendência e do instituído. Não havia grandes questionamentos sobre a legitimidade do arranjo institucional e nem sobressaltos dentro da institucionalidade que, durante certo tempo, de modo mais ou menos precário, demonstrou alguma capacidade em canalizar os sonhos diurnos da população (o que não significa realizar e sim demonstrar alguma atenção e intenção), sendo capaz de administrar os conflitos decorrentes da frustração prolongada desses desejos. Entretanto, os objetos de esperança de uma população não podem ficar por tempo demais reprimidos, pois cedo ou tarde o acúmulo de frustrações compartilhadas gera pressão sobre as estruturas geradoras das frustrações.
O movimento de multidão deflagrado no Brasil em 2013 representa uma ruptura com essa relativa estabilidade institucional. As manifestações parecem ter produzido, se não uma explosão, pelo menos uma fissura no continuum da história nacional recente, para usar uma figura benjaminiana. As ruas foram tomadas por uma multidão polifônica, apresentando uma profusão de sonhos diurnos represados, expondo a incapacidade da institucionalidade em acolher e canalizar essas demandas por dentro dos canais estatais oficiais. Essa dificuldade fez com que o Estado, o locus legítimo para a mediação dos conflitos sociais, tivesse essa função temporariamente suspensa. Com isso, o front da sociedade brasileira transferiu-se para as ruas.
Considerações finais
Buscamos demonstrar no escopo desse estudo as formas pelas quais a esperança contribuiu para motivar ações sociais significativas dos manifestantes e, consequentemente, para a estruturação do movimento de multidão de 2013. Os afetos expectantes, os sonhos de uma vida melhor e as pequenas utopias produzidas e cultivadas pelos manifestantes foram um dos principais motivadores dessa jornada de lutas em Porto Alegre. A multidão em profusão na rua apresentou diferentes repertórios de ação informados pela esperança, além de uma série de sonhos diurnos cujos conteúdos muitas vezes eram ideologicamente antagônicos entre si. Nesse caso, as manifestações de 2013 podem também ser entendidas como um levante heterogêneo e polifônico da esperança.
Através do referencial da esperança, buscamos ter como ponto de partida da análise um indivíduo vivo, afetivo, imaginativo, racional, dotado de uma psique pulsante e conectado às estruturas sociais. A tríade afetos expectantes, sonhos diurnos e utopias concretas possibilitou-nos a iluminação de questões relativas à estruturação e à motivação intersubjetiva das manifestações. Já o par de conceitos front e novum permitiu iluminar questões de caráter estruturais implicadas nas manifestações, principalmente no que diz respeito à relação entre manifestantes e institucionalidade.
Interpretar a realidade social pelas lentes da esperança significa ter como pressuposto o movimento, a transformação. Nesse caso, a sociedade é o-que-ela-ainda-não-é. É necessário atentar para as tendências e avaliar o potencial de cada novo embrião portador de novidades. A abertura histórica produzida por 2013 continua repercutindo no país. Os indivíduos e os grupos que, naquele ano, eram motivados por utopias emancipatórias, que foi o foco desse estudo, seguem suas lutas e ações em outros fronts, disputando a fabricação da realidade social com as mediações de caráter conservador. A direção para a qual a sociedade caminha é sempre fruto de disputas, e as disputas não cessam.
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Notas
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