Artigos originais
Recepción: 18 Marzo 2016
Aprobación: 15 Noviembre 2017
DOI: https://doi.org/10.18472/cvt.18n1.2018.1255
Resumo: O Turismo em Espaço Rural (TER) é determinante para o desenvolvimento das economias locais. Contudo, e apesar de um interesse crescente pelo papel do ecossistema empreendedor na atividade empreendedora, a aplicação desses estudos e a compreensão do impacto desses ecossistemas no TER têm sido ainda pouco desenvolvidas. Através da metodologia de estudo de caso, este artigo tem como objetivos principais compreender a importância da atividade empreendedora TER no desenvolvimento das economias locais, assim como identificar e compreender a importância do ecossistema empreendedor para o desenvolvimento da atividade empreendedora TER. Os resultados sugerem a existência de um conjunto de elementos que contribuem para o desenvolvimento da atividade empreendedora no turismo rural, nomeadamente uma importante rede informal e formal, boas infraestruturas relacionadas com o transporte e telecomunicações, quer em Portugal, quer na Espanha, muito embora mais deficitárias no Brasil, e, na maioria das regiões estudadas, a existência de uma forte cultura empreendedora.
Palavras-chave: Empreendedorismo, Ecossistema Empreendedor, Turismo Rural.
Abstract: Rural tourism is determinant for the development of local economies. However, despite the growing interest in the role of the entrepreneurial ecosystem and its relation concerning the generation and development of entrepreneurial activity, its impact and application in Rural Tourism has been very weakly studied. Through a case study research strategy, this paper aims to understand the importance of Rural Tourism for the development of local economies, as well as the comprehension of the importance of the entrepreneurial ecosystem for the generation and growing of the entrepreneurial activity in Rural Tourism. The results suggest the existence of important informal and formal networks, good transport and telecommunication infrastructures in Portugal and Spain, however a need of improvements is important in Brazil, and, finally most of the studied regions revealed an important entrepreneurial culture for entrepreneurship.
Keywords: Entrepreneurship, Entrepreneurial Ecosystem, Rural Tourism.
Resumen: El Turismo Rural (TER) es crucial para el desarrollo de las economías locales. Sin embargo, a pesar del creciente interés del papel del ecosistema emprendedor en la actividad empresarial, la aplicación de estos estudios y la comprensión del impacto de estos ecosistemas en la TER, está poco desarrollada. A través de la metodología de estudio de casos, este artículo tiene como objetivo principal comprender la importancia de la TER para la actividad empresarial en el desarrollo de las economías locales, así como identificar y comprender la importancia del ecosistema empresarial para el desarrollo de la actividad empresarial TER. Los resultados sugieren la existencia de un conjunto de elementos que contribuyen al desarrollo de la actividad empresarial en el turismo rural, incluyendo una gran red informal y formal, unas buenas infraestructuras relacionada con el transporte y las telecomunicaciones, tanto en Portugal como en España, aunque más deficitarias en Brasil, y la existencia de una fuerte cultura empresarial y la mayoría de las regiones estudiadas.
Palabras clave: Emprendimiento, Ecosistema Emprendedor, Turismo rural.
INTRODUÇÃO
O processo de criação, renovação e desenvolvimento de novos negócios em Turismo em Espaço Rural (TER) não é um processo simples. Talvez, por esse motivo, a pesquisa em turismo sobre formação dos novos negócios ainda não tenha sido encarada com a devida seriedade, de forma a ser adequada para entender a complexidade do processo envolvido. Aliás, de um modo geral, os esforços de estudo são, na sua maioria, dedicados à compreensão das características e práticas de negócios de empresas estabelecidas, dando pouca importância à compreensão dos elementos que permitem desenvolver a atividade empreendedora no TER.
Apesar de vários autores evidenciarem a importância do TER para a economia em geral e, em particular, para as economias locais (Murphy, 1997; Cooper et al. 2001; MEyer-Cech, 2005; Mendonça, 2006; Cristóvão; Medeiros; Melides, 2010; Baoren, 2011; Rived et al., 2013; Yasuo; Shinichi, 2013; Martin et al., 2014), e de existirem estudos realizados por organismos oficiais (Comissão Europeia, 2003, 2006) que reforçam essa relação, parece haver alguns constrangimentos ao desenvolvimento da atividade empreendedora no TER.
Por outro lado, parece ser consensual que a capacidade para empreender depende muito das redes empreendedoras no processo empreendedor (Birley, 1985; Aldrich; Dubin, 1991; Ostgaard; Birley, 1996; Johannisson, 1998; Greve; Salaff, 2003; Li et al., 2013). Contudo, apesar dessa relevância, no TER essas redes parecem não conseguir sempre gerar parcerias colaborativas, o que limita a transferência de conhecimento e experiência, condicionando a capacidade empreendedora e inovadora dessas empresas e o seu êxito (Wilson et al., 2001).
Este estudo tem como objetivos principais (i) compreender a importância da atividade empreendedora TER no desenvolvimento das economias locais e (ii) identificar e compreender o ecossistema empreendedor promotor da geração e desenvolvimento dessa atividade. Especificamente, o estudo pretende identificar as redes formais e informais utilizadas pelos empreendedores, assim como identificar aspectos relacionados com a existência de uma cultura empreendedora e de infraestruturas adequadas. Os elementos considerados para a identificação e avaliação do ecossistema empreendedor nas regiões em estudo (em Portugal, Brasil e Espanha) seguiram o modelo de Neck et al. (2004).
Organizado em duas partes, o estudo recorre, primeiramente, a uma revisão de literatura para o enquadramento teórico do tema no que concerne ao empreendedorismo, TER, redes empreendedoras e ecossistema empreendedor. Em uma segunda parte é desenvolvida uma pesquisa exploratória e analítica, por meio de um estudo de campo suportado em uma análise qualitativa. Nessa etapa foram entrevistadas entidades ligadas ao TER no Brasil, em Portugal e na Espanha, assim como um conjunto de empreendedores de diferentes empreendimentos em cada país.
REVISÃO DE LITERATURA
EMPREENDEDORISMO E TURISMO RURAL
A literatura sobre empreendedorismo é vasta, existindo diferentes perspectivas em torno da sua conceitualização. Schumpeter (1934) e Drucker (1985) associam o empreendedorismo à inovação e utilizam a figura do empreendedor para explicarem o conceito de empreendedorismo. A identificação e exploração de novas oportunidades constituem outra perspectiva para a explicação do empreendedorismo (Kirzner, 1978; Shane; Venkataramann, 2000). Para Gartner (1989), o empreendedorismo consiste na criação de novas organizações e, segundo esse autor, a compreensão do conceito exige um foco no processo através do qual uma organização é criada. Por outro lado, os comportamentalistas explicam o empreendedorismo por meio das características individuais da personalidade do empreendedor e de um sistema de valores a ele associado (McClelland, 1972; Filion, 1999).
A literatura existente sobre a criação de empresas pode ainda ser organizada em duas correntes segundo Liao e Welsch (2005). A primeira é focada na pessoa, abordando a propensão de um indivíduo e a sua capacidade para empreender. A segunda corrente destaca a influência do ambiente no estímulo e promoção de iniciativas empreendedoras, ou seja, na influência do mercado, da política ou das flutuações econômicas e dos seus impactos à iniciativa empreendedora.
A pesquisa sobre a propensão para empreender está principalmente orientada para as características psicológicas e comportamentais dos empreendedores. Estudos sobre a capacidade para empreender enfatizam a importância das redes sociais empreendedoras no processo empreendedor e no estabelecimento e gestão de um novo negócio, sendo possível encontrar na literatura várias evidências que comprovam essa importância (Birley, 1985; Aldrich; Dubin, 1991; Ostgaard; Birley, 1996; Johannisson, 1998; Greve; Salaff, 2003; Li et al., 2013). Nessa linha, e vinculado com a direção estratégica, tem sido usado o termo empreendedorismo estratégico (Hitt et al., 2011; Luke et al., 2011) para referir à forma como as empresas identificam e aproveitam as oportunidades do ecossistema empreendedor e mantêm vantagens competitivas para criar riqueza. É esse, portanto, o enfoque mais atual e o utilizado nesta pesquisa.
TURISMO RURAL E REDES
De acordo com a Associação Portuguesa de Turismo Rural (Privetur), o turismo rural consiste em uma indústria do turismo localizada em áreas rurais e com uma envolvente natural, desenvolvida por empresas familiares. De acordo com essa associação, a taxa de inovação na indústria do turismo rural é muito baixa quando comparada com outras indústrias de serviços. Trata-se de um segmento caracterizado por empresas de pequeno porte com baixa capacidade inovadora e, por falta de confiança e cooperação entre elas, evidenciam pouca proatividade em termos de parcerias colaborativas relacionadas à transferência de conhecimento e experiência.
As redes colaborativas são entendidas consensualmente como uma estratégia fundamental para o desenvolvimento das regiões, e prova desse entendimento reside no número elevado de entidades (104 entidades) que em Portugal assinou o Protocolo de Cooperação “Turismo 2020 – Plano de Ação para o Desenvolvimento do Turismo em Portugal”. No entanto, a promoção do desenvolvimento de parcerias entre os vários agentes envolvidos na indústria do turismo rural necessita acontecer não somente em âmbito nacional, mas também regional e particularmente local.
Também para a Associação Espanhola de Turismo Rural (Asetur) e para a Associação Brasileira de Turismo Rural (ABTR) o desenvolvimento de redes colaborativas é fundamental. Para a Asetur, que é composta por um conjunto de entidades associadas de turismo regional ou local rural, é de extrema importância e urgência promover e desenvolver o turismo rural, por meio do apoio tanto à criação de oferta de alojamento quanto ao desenvolvimento de atividades complementares a ele. A ABTR procura, entre outros, promover parcerias e o intercâmbio com entidades internacionais congêneres e operadoras estrangeiras.
No entanto, existe um entendimento consensual no que se refere à relevância das redes colaborativas, quer sejam formais, quer sejam informais para a geração de informação e experiências, constituindo-se como um facilitador da cooperação entre as empresas (Martínez Fernández, 2005). Essas redes podem contribuir para a criação e desenvolvimento de produtos turísticos integrados, aproveitando sinergias entre empresas e territórios, gerando oportunidades para a criação de negócios em formato colaborativo. Essa relação virtuosa tem sido estudada em diferentes países, nomeadamente no Canadá (MacDonald; Jolliffe, 2003) ou no Reino Unido (Novelli et al., 2006). Na Espanha, por exemplo, e mais concretamente na região da Extremadura, os resultados do estudo de Romeiro e Costa (2010) demonstram que estruturas de rede contribuem para a criação de um destino coesivo, em que a partilha de recursos permite dar respostas locais inovadoras para os desafios do mercado turístico.
O ECOSSISTEMA EMPREENDEDOR: DEFINIÇÃO E PRESCRIÇÕES
A atividade empreendedora necessita de um conjunto de elementos que se inter-relacionam e que evoluem ao longo do tempo, formando um sistema dinâmico que estimula a criação de novas empresas (NECK et al., 2004). Esse sistema é designado por “ecossistema empreendedor”. Segundo Cohen (COHEN, 2006, p. 2), um ecossistema empreendedor consiste em um
conjunto diversificado de atores interdependentes que, dentro de uma região geográfica, influenciam na formação e eventual trajetória de todo o grupo de atores e potencialmente na economia como um todo. Os ecossistemas empreendedores evoluem a partir de um conjunto de componentes interdependentes que interagem para gerar a criação de novos negócios ao longo do tempo.
Assim, um ecossistema de empreendedorismo resulta da interação entre os seus atores que evoluem juntos e se reforçam mutuamente (ISENBERG, 2011).
É possível encontrar na literatura várias definições referentes a ecossistema empreendedor, sendo que umas apresentam elementos mais específicos (Neck et al., 2004; West; Bamford, 2005; Cohen, 2006), e, outras, elementos mais holísticos (Isenberg, 2011; Autio et al., 2014). Os modelos apresentados por Neck et al. (2004) e Cohen (2006) incluem especificamente a referência das redes formais e informais como elementos fundamentais do ecossistema empreendedor. Dadas as características apresentadas nos pontos anteriores no que concerne ao turismo rural e à atividade empreendedora nesse contexto, na qual existe uma prevalência de empresas familiares de pequena escala e onde o funcionamento em rede é fundamental, a existência de infraestruturas apropriadas e de uma cultura empreendedora é fundamental. Por esse motivo optou-se, neste estudo, pela adoção do modelo de ecossistema empreendedor de Neck et al. (2004) que considera na avaliação de um ecossistema empreendedor os seguintes elementos: 1) organizações incubadoras; 2) redes informais; 3) redes formais (universidade, governo, profissionais e serviços de suporte, recursos de capital, pool de talentos e grandes corporações); 4) infraestrutura física e 5) cultura.
Os elementos que constituem o ecossistema empreendedor isolados, apesar de importantes, são insuficientes para gerarem e manterem a atividade empreendedora. No entanto, quando combinados, esses elementos podem impulsionar a criação de empresas e o seu crescimento. Para tal, eles precisam estar integrados em um sistema holístico. Isenberg (2011) propõe, ainda, um conjunto de princípios que podem contribuir para a tangibilidade e medição do empreendedorismo em uma região. Assim, o autor recomenda foco no empreendedorismo e não no próprio emprego; foco geográfico; um trabalho paralelo com os vários elementos do ecossistema; uma quantificação e cronograma da atividade empreendedora; a criação de uma equipe independente e não governamental para realizar o trabalho; o estabelecimento de prioridades e o desenvolvimento de ações, aprendizagem e criação de escala para o negócio.
METODOLOGIA
A estratégia metodológica desta pesquisa é a de estudos de caso, com o intuito de se compreender o fenômeno como um todo, com um grau de profundidade elevado. De acordo com Yin (2001, p. 32), o estudo de caso “é uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro do seu contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos”. Nessa linha, o trabalho de Yacuzzi (2005) é um convite ao aplicar os estudos de caso na criação de teorias de Gestão de Negócios. Yin (2001) refere ainda que um estudo de caso pode focar tanto um caso único quanto casos múltiplos. Neste trabalho é realizado o estudo de casos múltiplos em empreendimentos de TER.
Para escolha dos casos estudados, os seguintes critérios foram considerados: mesmo setor de atuação (TER); acesso direto ao(s) empreendedor(es) proprietário(s); e características variadas das organizações, como tamanho e segmento dentro do setor geral de TER. Segundo Saunders, Lewis e Thornhill (2012), neste tipo de pesquisa com amostragem não probabilística heterogênea, o investigador utiliza o seu julgamento para selecionar os casos que melhor se adaptem a responder às questões da pesquisa, e que melhor respondem aos objetivos propostos pela investigação, sendo frequentemente utilizado em amostras muito pequenas, como nos estudos de caso. Sendo uma amostra heterogênea, foram selecionados participantes com características suficientemente diversas, de forma a permitir a maior variação possível nos dados recolhidos. A amostra inclui casos heterogêneos de TER dos três países objetos de estudo (ver Quadro 1).
Considerando os objetivos gerais de (i) compreender a importância da atividade empreendedora TER no desenvolvimento das economias locais e ii) identificar e compreender o ecossistema empreendedor promotor da geração e desenvolvimento dessa atividade, foram seguidos diferentes procedimentos metodológicos no que concerne à obtenção de dados. Relativamente à recolha de dados referentes ao primeiro objetivo, foram realizadas entrevistas a um conjunto de stakeholders (associações empresariais, órgãos públicos relacionados ao empreendedorismo ou ao turismo e entidades promotoras de ecossistemas empreendedores) ligados ao TER no Brasil, em Portugal e na Espanha, que permitiram confirmar a importância dessa atividade para as economias locais (primeiro ponto da discussão de resultados). Nessas entrevistas foi efetuada a seguinte questão aberta “Qual a importância da atividade empreendedora TER no desenvolvimento das economias locais?”
No que se refere ao levantamento de dados para responder ao segundo objetivo, foram realizadas entrevistas semiestruturadas diretas (utilizando o roteiro de entrevista em Anexo 1), dirigidas aos empreendedores de 14 empreendimentos (ver Quadro 2) de forma a tornar possível a identificação das redes formais e informais utilizadas pelos empreendedores, assim como a identificação e compreensão de aspectos relacionados com a existência de uma cultura empreendedora e de infraestruturas adequadas, conforme se apresenta no segundo ponto da discussão de resultados. A escolha dessa técnica de levantamento de dados deve-se ao fato do reconhecimento da sua grande flexibilidade e adequabilidade a um estudo de caso (Yin, 2001).
As entrevistas com os stakeholders foram realizadas pessoalmente nas suas instituições de origem ou por meio de comunicação a distância (telefone, Skype ou videoconferência). As entrevistas com os proprietários foram realizadas nos empreendimentos estudados, sendo que todas as instalações foram visitadas e observadas, portanto tiveram duração variada (de 2 horas a 6 horas), dependendo da receptividade dada aos pesquisadores. A coleta de dados foi feita no Brasil durante o mês de setembro de 2014, em Portugal entre os meses de outubro de 2014 e janeiro de 2015, e na Espanha no mês de julho de 2015.
Os dados recolhidos por meio das entrevistas diretas foram corroborados com um conjunto de outras evidências, nomeadamente a análise de documentos (textos e folders elaborados pelos empreendedores, informação institucional disponibilizada pelos empreendedores e outras disponíveis na Internet, matérias publicadas na comunicação social, nomeadamente reportagens, artigos de divulgação em jornais, revistas da especialidade e Internet), e a observação de artefatos físicos (instalações físicas dos empreendimentos e funcionamento in loco). Assim, foram também adotadas a observação direta e a participante como fonte de evidências neste estudo multicasos.
Para o tratamento da informação recolhida durante as entrevistas recorreu-se à análise de conteúdo, com a finalidade principal de “efetuar deduções lógicas e justificadas, referentes à origem das mensagens tomadas em consideração” (Bardin, 2011, p. 45). Para isso, algumas etapas de trabalho foram seguidas: (i) preparação das informações por meio da anotação dos dados coletados nas entrevistas e organização do material secundário com tomada de decisão sobre quais deles efetivamente correspondem aos objetivos da pesquisa; (ii) categorização dos dados coletados para identificar os elementos do ecossistema empreendedor de acordo com o referencial teórico utilizado neste estudo, isso permitiu a organização dos dados em dimensões de análise compreendendo, entre outras: redes formais e informais, instituições de ensino e formação de recursos humanos, governo, instituições financeiras e incubadoras; (iii) análise comparativa e interpretação dos dados.
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS EMPÍRICOS
A IMPORTÂNCIA DA ATIVIDADE EMPREENDEDORA EM TER NO DESENVOLVIMENTO DAS ECONOMIAS LOCAIS
As entrevistas realizadas com um conjunto de organismos ligados ao TER no Brasil, em Portugal e na Espanha permitiram confirmar a importância dessa atividade para as economias locais, que depende muito da capacidade dos empreendedores e dos recursos que estes detêm e conseguem mobilizar (Quadro 3).
As entrevistas efetuadas a várias entidades confirmaram que, quer no Brasil, em Portugal ou na Espanha, o TER constitui uma atividade de relevância para as economias locais das regiões em estudo, agregando valor não somente econômico, mas também social, cultural, histórico e patrimonial, reforçando a identidade das regiões e das comunidades. Essa evidência parece ser reconhecida por um conjunto de stakeholders, nomeadamente associações ligadas ao turismo rural, associações de desenvolvimento regional, entidades do turismo, sendo corroborada na revisão de literatura, com referência a um conjunto de estudos (Murphy, 1997; Cooper et al., 2001; MEyer-Cech, 2005; Mendonça, 2006; Cristóvão; Medeiros; Melides, 2010; Baoren, 2011; Rived; González Álvarez; Ballarn, 2013; Yasuo; Shinichi, 2013; Martin; Jiménez; Molina, 2014).
A ANÁLISE DO ECOSSISTEMA EMPREENDEDOR PARA O DESENVOLVIMENTO DO TER: ANÁLISE DOS CASOS
De forma a se identificar e compreender o ecossistema empreendedor promotor da geração e desenvolvimento da atividade TER, foi realizada uma análise de conteúdo das entrevistas realizadas nos empreendimentos de Turismo em Espaço Rural no Brasil, em Portugal e na Espanha e cuja síntese é apresentada nos quadros 4, 5 e 6 respectivamente (vide anexo 2). A análise de conteúdo possibilitou compreender e avaliar as redes, infraestruturas relevantes para a geração e desenvolvimento da atividade empreendedora TER, assim como identificar a existência de uma cultura empreendedora por parte dos stakeholders envolvidos na atividade.
De um modo geral, em todos os casos e regiões estudados, a existência de redes informais revelou-se muito importante na criação e desenvolvimento da atividade empreendedora TER, tendo, de um modo geral, todos os empreendedores se referido a esse tipo de redes como crucial na mobilização de recursos não econômicos, nomeadamente em termos de obtenção de motivação, de apoio, na partilha de recursos (infraestruturas, equipamentos, entre outros), na participação ativa dos projetos e no aumento de novos contatos, que se mostraram cruciais para o desenvolvimento dos projetos. A rede informal é também particularmente importante, nos casos brasileiros, na mobilização de recursos econômicos.
As redes formais são também relevantes, tendo sido identificado um conjunto de elementos importantes na atividade empreendedora. Contudo, as instituições financeiras no Brasil constituem um elemento muito deficitário no apoio à criação e desenvolvimentos dos projetos TER. Assim, foi possível verificar que a capacidade para empreender depende muito das redes empreendedoras no processo empreendedor conforme evidenciado na literatura (Birley, 1985; Aldrich; Dubin, 1991; Ostgaard; Birley, 1996; Johannisson, 1998; Greve; Salaff, 2003; Li et al., 2013) e que, quer a rede formal, quer a rede informal usada pelos empreendedores são importantes na mobilização de recursos financeiros e não financeiros, corroborando vários estudos apresentados na revisão de literatura (Birley, 1985; Aldrich; Dubin, 1991; Greve; Salaff, 2003; Li et al., 2013).
Foi também identificado um conjunto de infraestruturas, no que concerne à rede de transportes e telecomunicações, que se revela mais deficitária nas regiões do Brasil em estudo. Apesar do desenvolvimento econômico do Brasil, em especial do estado de São Paulo (onde foi realizada esta pesquisa), e do incremento de algumas infraestruturas, os transportes são ainda deficitários, agonizando-se essa situação nos meios rurais. Quer em Portugal, quer na Espanha, apesar de se poderem justificar algumas melhorias adicionais, as infraestruturas de transporte e de telecomunicações são boas. É importante salientar uma presença considerável de diferentes clusters associados à indústria de transformação de produtos agrícolas ou de criação de gado, conforme as particularidades das regiões.
Os resultados revelam ainda uma forte cultura empreendedora dos envolvidos na atividade TER nos casos em estudo. Já no que concerne à cultura empreendedora no contexto das regiões estudadas, existem algumas diferenças entre elas. Assim, nas regiões de Mococa, Socorro e Ribeirão Preto (municípios do estado de São Paulo), no Brasil, foi identificada uma fraca cultura empreendedora da região com uma capacidade associativa e colaborativa ocasional promovida predominantemente por iniciativa dos próprios empreendedores. Apenas na região de Socorro foi reconhecida alguma cultura empreendedora da região. Na região da Península de Setúbal, em Portugal, e da Extremadura, na Espanha, foram encontradas evidências de uma cultura empreendedora da região.
De um modo geral, o estudo evidenciou a existência de um conjunto de elementos relevantes no ecossistema empreendedor TER das regiões estudadas, em particular em Portugal e na Espanha, e os empreendedores, apesar dos constrangimentos referidos, conseguem identificar e aproveitar oportunidades geradas por esses ecossistemas, gerando riqueza. Também essas evidências são corroboradas na literatura (Kyrgidou; Hughes, 2010; Hitt et al., 2011; Luke; Kerins; Verreyne, 2011).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A revisão de literatura permitiu um enquadramento teórico sobre empreendedorismo, turismo rural, redes empreendedoras e ecossistema empreendedor. Com uma preocupação de contextualização dessas temáticas no turismo, foi possível encontrar no estudo empírico resultados que corroboram os vários estudos e perspectivas apresentadas.
Existe um forte reconhecimento por parte das entidades e organismos locais sobre a importância da atividade TER e o seu contributo para as economias locais das regiões em estudo, agregando valor não somente econômico, mas também social, cultural, histórico e patrimonial, reforçando a identidade das regiões e das comunidades. Quer no Brasil, em Portugal, ou na Espanha, esses stakeholders constituem parte interessada no desenvolvimento dessa atividade e têm um papel ativo na sua dinamização, assim como na criação e manutenção de redes entre partes, contribuindo para a obtenção de algumas sinergias revelantes nos ecossistemas empreendedores em estudo.
Os resultados empíricos permitiram concluir que tanto as redes formais como as redes informais são determinantes para a atividade TER. As redes informais revelaram-se muito importantes na criação e desenvolvimento da atividade empreendedora TER, principalmente no que concerne à viabilização de recursos não econômicos, embora nos casos brasileiros essa rede ganhe importância também relativamente à mobilização de tais recursos. Esse fato justifica-se não apenas pelo funcionamento deficitário das instituições financeiras no Brasil, mas também pela característica informal muito enraizada na economia brasileira. Esse funcionamento, que, por um lado, se revela restritivo devido às limitações de investimentos para desenvolvimento dos projetos, que são cruciais para a sofisticação, qualidade e consequente alavancagem do negócio, por outro lado, muito frequentemente, constitui o único meio de obtenção de capital para criar projetos. Essa situação revela também a grande capacidade empreendedora dos empreendedores TER brasileiros que conseguem ciar os seus negócios em um ambiente econômico e financeiro mais adverso.
Apesar dessa capacidade empreendedora dos proprietários, estes referem uma fraca cultura empreendedora da região associada a uma capacidade associativa e colaborativa ocasional promovida predominantemente por iniciativa dos próprios empreendedores nas regiões de Mococa, Socorro e Ribeirão Preto, sendo a região de Socorro uma exceção. Já em Portugal e na Espanha foram encontradas evidências de uma cultura empreendedora da região mais fortalecida.
As redes formais revelaram-se também importantes, em particular nos casos portugueses e espanhóis, sendo a sua utilidade muito associada à mobilização de recursos financeiros e de capacitação.
Finalmente, quer na região de Setúbal, quer na região da Extremadura, foi possível encontrar um grau de desenvolvimento aceitável, e a presença de um conjunto de elementos necessários para impulsionar a atividade empreendedora no TER. Poder-se-á afirmar que os recursos para o empreendedorismo no TER estão integrados em um sistema holístico que, embora não sendo ainda perfeito, parecem gerar sinergias e resultados visíveis. Nessas regiões europeias, os líderes políticos têm estado particularmente atentos às condições-chave para o sucesso das iniciativas das regiões, com a criação de estruturas mínimas em termos de tecnologia, subsídios, criação de talento em rede e uma massa crítica de negócios em torno do TER, que vão configurando uma cultura promotora do desenvolvimento local. O ecossistema empreendedor do TER desses dois países europeus está bem adaptado aos ambientes específicos e, desde o início, envolve a iniciativa privada com o setor público. Nesse ecossistema empreendedor no TER, tem-se conseguido atrair novos negócios, sendo atualmente um dos focos prioritários nessas regiões.
Para concluir, e apesar das limitações do estudo derivadas da sua natureza qualitativa, são várias as implicações teóricas e práticas do estudo. Teoricamente, podemos confirmar a vista dos resultados obtidos, que as redes empreendedoras e a colaboração empresarial têm um papel fulcral no sucesso das iniciativas empreendedoras no TER, em linha com a literatura acadêmica mais recente (Greve; Salaff, 2003; NECK et al., 2004; Martínez Fernández, 2005; Hitt et al., 2011; Luke, Kearins; Verreyne, 2011; Li et al., 2013). Embora temos constatado também que as condições são distintas nos três países estudados, confirmando a importância de outros fatores dos quais teoricamente depende o sucesso dos ecossistemas empreendedores, como são os serviços de suporte e as infraestruturas (NECK et al., 2004).
Desde a perspectiva de implicação prática, os empreendedores no TER nos países analisados, tanto os que iniciam a sua ideia de negócio, quanto os que estão na fase de crescimento ou de consolidação, têm, neste estudo, evidências de como os elementos que constituem o ecossistema empreendedor não podem ser tratados de forma isolada. No TER, deve-se procurar uma combinação holística, inteligente e planejada dos diferentes elementos do ecossistema, de maneira que seja possível, não só a criação dos novos negócios, mas também o seu crescimento sustentável.
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Anexo 1
Guia de entrevista
Anexo 2
Quadros-síntese da recolha de dados referentes ao ecossistema empreendedor das regiões em estudo
Notas