Resumo: O Parque Estadual do Itacolomi (Peit), em Ouro Preto/MG, tem sido objeto de estudo de diferentes áreas, como turismo, lazer e geologia. Este trabalho buscou identificar usos do Peit pelos visitantes e o seu potencial para o desenvolvimento de atividades de lazer na natureza, especialmente as que abrangem os interesses físico-esportivos. A pesquisa de abordagem qualiquantitativa, do tipo exploratório e descritivo, teve como amostra o gerente do Peit e 39 visitantes, de ambos os sexos, e idade entre 17 a 58 anos. Foram empregados observação direta, entrevista semiestruturada e questionário. Os visitantes utilizam o Peit para contemplar a natureza, visitar o acervo histórico, realizar pesquisas e fazer atividades físicas e esportivas na natureza, sendo caminhada, corrida e mountain bike as principais, todas estas motivadas por lazer e/ou saúde. O Peit apresenta potencial para desenvolvimento de intervenções nesse âmbito devido sua estrutura e recursos naturais, assim como turistas de Ouro Preto demonstram interesse em realizar atividades na natureza, sendo essa uma condição relevante para planejar e efetivar novas ações no local, dinamizando e aumentando os seus usos bem como seu público.
Palavras-chave:ParquesParques, Interesse físico-esportivo Interesse físico-esportivo, Ouro Preto Ouro Preto, Minas Gerais Minas Gerais.
Abstract: The Itacolomi State Park (Peit), in Ouro Preto / MG, has been the object of study of different areas, such as tourism, leisure and geology. This work aimed to identify the uses of Peit by visitors and their potential for the development of leisure activities in nature, especially those that cover physical and sporting interests. The quantum qualitative research, exploratory and descriptive, had as a sample the manager of Peit and 39 visitors, of both sexes and age between 17 and 58 years. Direct observation, semi-structured interview and questionnaire were used. Visitors use the Peit to contemplate nature, visit the historical collection, conduct research and do physical and sporting activities in nature, being hiking, running and mountain biking the main ones, all of them motivated by leisure and / or health. The Peit presents potential for development of interventions in this scope due to its structure and natural resources as well as tourists from Ouro Preto demonstrate interest in carrying out activities in nature, being a relevant condition to plan and carry out new actions in the area, streamlining and increasing its uses as well as your audience.
Keywords: Parks, Physical-sports interest, Ouro Preto, Minas Gerais.
Resumen: El Parque Estatal del Itacolomi (Peit), en Ouro Preto / MG, ha sido objeto de estudio de diferentes áreas, como turismo, ocio y geología. Este trabajo buscó identificar usos del Peit por los visitantes y su potencial para el desarrollo de actividades de ocio en la naturaleza, especialmente las que abarcan los intereses físico-deportivos. La investigación de abordaje cualitativo, del tipo exploratorio y descriptivo, tuvo como muestra el gerente del Peit y 39 visitantes, de ambos sexos y edad entre 17 a 58 años. Se utilizaron observación directa, entrevista semiestructurada y cuestionario. Los visitantes utilizan el Peit para contemplar la naturaleza, visitar el acervo histórico, realizar investigaciones y hacer actividades físicas y deportivas en la naturaleza, siendo caminata, corrida y mountain bike las principales, todas estas motivadas por ocio y / o salud. El Peit presenta potencial para desarrollar intervenciones en ese ámbito debido a su estructura y recursos naturales así como turistas de Ouro Preto demuestran interés en realizar actividades en la naturaleza, siendo esa una condición relevante para planificar y hacer efectivas nuevas acciones en el local, dinamizando y aumentando sus usos así como su público.
Palabras clave: Parques, Interés físico-deportivo, Ouro Preto, Minas Gerais.
Dossiê Temático
Parque Estadual do Itacolomi e Atividades Físicas e Esportivas na Natureza: Estudo de um Equipamento de Lazer
Itacolomi State Park and Physical and Sports Activities in Nature: Study of an Leisure Equipment
Parque Estatal del Itacolomi y Actividades Físicas y Deportivas en la Naturaleza: Estudio de un equipo de ócio
Recepção: 18 Janeiro 2018
Aprovação: 13 Março 2019
Ouro Preto, cidade Patrimônio Cultural da Humanidade, é conhecida internacionalmente por sua arquitetura colonial. No âmbito do lazer, apresenta grande capacidade para o turismo histórico cultural (ROSA, 2013), consequência da valorização de atrativos, como igrejas, museus, galerias de artes e minas de ouro. Todavia, a cidade oferece outras possibilidades de lazer que podem ser potencializadas, ampliando as opções para turistas e comunidade local, como o lazer na natureza, que ainda é pouco desenvolvido na região.
Como mostram Silva e Rosa, também fazem parte do seu sítio tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o Parque Estadual do Itacolomi, o Parque Municipal da Cachoeira das Andorinhas e a Estação Ecológica do Tripuí, “entre outras áreas naturais que guardam grande valor ambiental [...], conferindo ao entorno da cidade uma bela paisagem e potencialidade de usos e apropriações de vivenciar o lazer na natureza” (2013, p. 210).
A natureza é uma construção histórica; em diferentes épocas há a sua redescoberta ou sua reinvenção, há diferentes representações e usos (SOARES, 2016). No Brasil, especialmente no final do século XIX e início do século XX, com o crescimento urbano, ocorre a valorização de atividades ao ar livre e dos cuidados com o corpo, transformando formas tradicionais de diversão e entretenimento. Nesse contexto, vários espaços “naturais”, livres, foram criados, como os parques, bem como argumentos para os seus usos, como saúde, cura e regeneração do corpo (LOVISOLO, 2016).
A partir da década de 1980, os significados do lazer e da recreação ao ar livre, baseados no desempenho corporal, na recuperação da fadiga mental e na relação com a qualidade de vida (WHATELY et al., 2008), possibilitaram novas formas de usos dos parques no Brasil. Desde então, eles vêm sendo associados a estratégias de conservação e preservação de recursos e áreas naturais, bem como espaços propícios para atividades de lazer na natureza (FERREIRA, 2005; MACEDO; SAKATA, 2003).
O lazer na natureza é caracterizado pela aproximação do homem com o ambiente natural, principalmente no que se refere ao estabelecimento de práticas que buscam recursos naturais ou a própria área natural como suporte. É desenvolvido mediante alguns aspectos fundamentais para a sua vivência, como tempo livre, atitude adotada e espaço disponível (BAHIA; SAMPAIO, 2007).
Segundo Tahara e Schwartz (2003) e Bruhns (2007), os deslocamentos para a natureza e a busca pelo lazer na natureza estão associados à fuga da rotina estressante e do caos urbano e à necessidade de repor energias gastas no trabalho. Para Bruhns, “as pessoas sincronizadas com a natureza geram movimentos interessantes, relacionando-se com ela, inclusive em parques, incentivando políticas públicas, projetos e programas” (2007, p. 89).
Em Ouro Preto, cidade caracterizada por um relevo acidentado, os dois parques existentes destacam-se como locais favoráveis à vivência do lazer na natureza e como recurso de promoção da saúde por serem os únicos equipamentos de lazer abertos ao público com áreas naturais e estruturados para realização de atividades ao ar livre, embora ambos ainda sejam subutilizados por frequentadores e também pouco mobilizados nas políticas públicas (SANTANA et al., 2016).
O Parque Estadual do Itacolomi (Peit), objeto deste estudo, destaca-se entre os demais parques por sua infraestrutura e recursos naturais. O local possui 7.543 hectares repletos de belos atrativos naturais, como serras, cachoeiras e trilhas, e é cercado de vales e montanhas pertencentes à Mata Atlântica e Cerrado (INSTITUTO ESTADUAL DE FLORESTAS, s. d.), atraindo públicos diversificados, inclusive turistas. Entre os seus atrativos turísticos estão o Pico do Itacolomi, o Museu Casa do Chá, a Casa do Bandeirista, a biblioteca, o Centro do Visitante, as trilhas interpretativas, a área de camping, o alojamento e a casa de hóspedes (BEDIM; CAMPOS; VIDAL, 2010), bem como as trilhas geoturísticas (FONSECA FILHO; MOREIRA, 2017). No local, os visitantes podem vivenciar atividades de lazer que abrangem os interesses físico-esportivos, social, artístico, turístico, virtual e intelectual (ROSA; SANTANA; SILVA, 2013).
Considerando que Ouro Preto é uma cidade reconhecida nacional e internacionalmente pelo seu potencial turístico; que os parques urbanos são importantes lócus para se refletir sobre a cidade e a cidadania e o lazer sempre constou como uma de suas finalidades (PACHECO; RAIMUNDO, 2014), este trabalho busca identificar os usos do Peit pelos visitantes e o potencial para desenvolver atividades de lazer ao ar livre, junto à natureza, especialmente as que atendem aos interesses físico-esportivos, que compreendem “práticas esportivas, os passeios, a ginástica e todas as atividades onde prevalecem o movimento, ou o exercício físico, incluindo diversas modalidades esportivas” (MARCELLINO, 2007, p. 14), como os esportes de aventura na natureza.
As atividades físicas e esportivas são práticas socioculturais em permanente construção. Suas manifestações se expressam como linguagens e são possibilidades éticas e estéticas de humanização. Vinculadas ao lazer, essas atividades são utilizadas como uma alternativa para os problemas enfrentados pelos sujeitos em seu viver, estando atreladas ao descanso, ao divertimento e às vivências alegres, espontâneas e prazerosas (ISAYAMA, 2007).
Segundo Melo e Alves Júnior (2003, p. 41), essas práticas estão ligadas ao estilo de vida. Na natureza, algumas atividades colocam os praticantes em situação de risco controlado, como a escalada e o rafting, e outras provocam sensação de espiritualização e relaxamento, como as caminhadas.
Pretende-se com os resultados qualificar as vivências de lazer da comunidade local e de turistas na cidade, bem como valorizar o Peit, um equipamento que faz parte da cultura local, e que pode potencializar o turismo e o lazer em meio à natureza.
Vale ressaltar que mesmo não sendo os parques o motivo principal que mobiliza a maioria das pessoas a viajar para a cidade de Ouro Preto, pesquisas revelam o interesse de turistas de Minas Gerais em realizar o ecoturismo, e de turistas de Ouro Preto em realizar esportes de aventura (PESQUISA DE DEMANDA TURÍSTICA DE MINAS GERAIS, 2017), sendo esses argumentos importantes para o desenvolvimento deste trabalho.
Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualiquantitativa, do tipo exploratório e descritivo (GRESSLER, 1979), realizada no ano de 2014. A amostra foi composta pelo gerente do Peit e visitantes do local, de ambos os sexos, com idade entre 17 e 58 anos, totalizando 39 visitantes. Esse número deu-se a partir do processo de saturação.
Considera-se saturada a coleta de dados quando nenhum novo elemento é encontrado e o acréscimo de novas informações deixa de ser necessário, pois não altera a compreensão do fenômeno estudado. Trata-se de um critério que permite estabelecer a validade de um conjunto de dados (RHIRY-CHERQUES, 2009). Para alcançar os objetivos estabelecidos, foram desenvolvidas pesquisas bibliográfica e de campo. Na pesquisa bibliográfica, realizada em bibliotecas físicas e virtuais e em sites da web, foram usadas as palavras-chave: parque, lazer, interesse físico-esportivo, políticas públicas e atividade física e esportiva na natureza, para buscar livros, artigos, teses e dissertações sobre o tema em tela.
A pesquisa de campo foi realizada de fevereiro a julho de 2014. Para a coleta de dados, foram empregadas as seguintes técnicas: observação, entrevista semiestruturada e questionário.
A observação do equipamento contou com um roteiro e foi efetuada no período matutino ou vespertino, de terça-feira a domingo, considerando que na segunda-feira o local encontrava-se fechado. Foram realizadas anotações em um diário de campo e registrados aspectos referentes à dimensão física, segurança, acessibilidade, localização, manutenção e estado de conservação, forma de administração e uso, atendimento a demandas, público, formas de apropriação, ênfase nos conteúdos culturais do lazer e as inter-relações com manifestações físico-esportivas.
A entrevista semiestruturada, realizada com o gerente do Peit que ocupa o cargo há 19 anos, buscou informações sobre sua experiência como gestor do Peit, utilização do Parque e características dos visitantes, importância do desenvolvimento do lazer no local e de atividades físicas e esportivas, realização de projetos e programas de lazer no Parque. Foi usado um gravador de voz da marca Olympus, modelo WS- 321M, a fim de armazenar os dados. Posteriormente a entrevista foi transcrita na íntegra e arquivada.
O questionário com questões fechadas e abertas foi aplicado aos visitantes do Peit. Foram coletadas informações referentes às características dos visitantes, seus conhecimentos sobre o lazer e atividades desenvolvidas no Parque, principalmente as relacionadas ao interesse físico-esportivo. Para verificar a eficácia desse instrumento no que se refere à compreensão das perguntas pelo público-alvo, foi realizado um estudo-piloto do qual participaram três visitantes do Parque, selecionados de forma aleatória. Os resultados dessa etapa não foram considerados neste trabalho. Neste artigo foram mobilizados alguns aspectos dos dados coletados.
O Termo de Esclarecimento e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido da Pesquisa foram aplicados como critérios de inclusão e exclusão da pesquisa, sendo devidamente assinados pelos participantes. Os dados coletados foram analisados de forma descritiva, conforme os três procedimentos: ordenação, classificação e análise propriamente dita dos dados (MINAYO et al., 2007).
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) (CAAE: 22826413.0.0000.5150) e conduzida segundo as recomendações da Resolução nº 196/96.
O Peit, criado em 14 de junho de 1967, é uma Unidade de Conservação (UC) e Proteção Integral pertencente aos municípios de Ouro Preto e Mariana. A sua portaria está localizada no bairro Novo Horizonte, região sul da cidade de Ouro Preto. A partir do ano de 2004 o Peit passou a ser aberto para visitação pública, tornando-se, desde então, um importante equipamento de lazer da cidade e região, o qual pode ser classificado, conforme Camargo (1992) e Stucchi (1997), como equipamento polivalente grande, com grandes dimensões e capacidades para receber um público de massa e com amplas possibilidades de vivenciar diferentes interesses culturais do lazer, valorizando as atividades ao ar livre.
O local funciona de terça-feira a domingo, das 8h às 17h, com cobrança de uma taxa de entrada da qual são isentos moradores de Mariana e Ouro Preto e estudantes da região, e é frequentado por turistas, estudantes e moradores que o utilizam para práticas diversas, como lazer, pesquisa, estudo, além de local de passagem, corroborando as indicações da Lei nº. 9.985 que estabelece critérios e normas para a criação, implantação e gestão das UCs. Conforme consta, os parques estaduais visam à preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação ambiental e atividades de lazer (BRASIL, 2000).
O gerente do Peit, ao falar sobre os visitantes e os usos do Parque, afirma que:
O público é bastante diversificado. Você tem o público que vem para cá fazer caminhada e conhecer como é o habitat natural. Você tem um público que é direcionado para pesquisa, que são as pessoas que geralmente estão já desenvolvendo um trabalho em escola e implementam este trabalho com visita monitorada, com uma aula de campo, uma coisa assim nesse sentido. Nós temos também um público que utiliza as vias de acesso da Unidade de Conservação para acessibilidade, para chegar até os distritos que se localizam no entorno [...] a Unidade de Conservação fortalece a questão de ser parceira com o movimento do turismo nos distritos da região (BASÍLIO, 2014).
Esses resultados corroboram o estudo de Nishime (2008), o qual mostrou que o público do Peit é constituído por visitantes de naturalidades e idades diferentes e é composto pela comunidade local, turistas e estudantes. A autora destaca a utilização do Parque especialmente para desenvolver atividades com fins educacionais ou de lazer voltadas principalmente para o ecoturismo.
Ademais, estudo de Fonseca Filho e Moreira (2017) mostra a motivação geológica (atrativos da geodiversidade relacionados à paisagem, como lagoa e cachoeiras, montanhas e serras, pico, formações rochosas, elementos da biodiversidade e da flora) como elemento central para visitação do Peit, chamando atenção para o potencial do local para o desenvolvimento do geoturismo, um novo segmento do turismo em áreas naturais, que está atrelado ao ecoturismo. Segundo Ostanello, Danderfer e Castro (2013), a implantação de um programa de geoturismo no Peit pode ampliar o público, aumentar a oferta turística na UC e de visitantes que buscam contato com a natureza.
Ao longo dos anos, a visitação ao Peit tem crescido significativamente (Figura 1), o que pode estar relacionado, entre outros fatores, ao aumento da procura da natureza como forma de fuga das atividades cotidianas dos centros urbanos (BRUHNS, 2007), com o surgimento de novos segmentos de turismo em áreas com atrativos naturais e com a ampliação do interesse em praticar esportes de aventura na natureza. Interesse este que, mesmo ainda sendo baixo na cidade de Ouro Preto (Figura 2), é um importante indicativo para novos investimentos na área de turismo, especialmente no turismo de aventura, que envolve práticas de esportes de aventura e risco no meio natural e é realizado por pessoas que buscam práticas corporais na natureza (PAIXÃO, 2012).
Sobre a frequência dos indivíduos, destaca-se o uso do Peit nos finais de semana e anualmente. Associando essa frequência ao perfil da amostra deste estudo, os indivíduos que visitaram o Parque anualmente foram geralmente turistas e os que frequentaram diariamente, no final de semana ou mensalmente, foram moradores ou estudantes da região.
Comparando final de semana e visita anual, os resultados demonstraram menor frequência de visitação nos finais de semana (13%) e maior frequência (30%) anualmente, o que pode ser um indicativo de que o local ainda é pouco utilizado pela população local. A esse respeito, estudos de Fonseca Filho e Moreira (2017) e de Rosa et al. (2013) observaram o pouco uso do Peit, especialmente pela população da região, embora o Parque tenha boa infraestrutura física e pessoal qualificado.
Apesar do aumento das visitações ao longo dos anos, o Parque é ainda pouco frequentado, o que pode ser também consequência da escassez de políticas públicas de lazer nas cidades em que está localizado, como apontado por Rosa (2013), e de desenvolvimento de projetos e programas no Parque que visem aumentar a visitação ao local bem como dinamizar os seus usos. Escassez também presente em outros equipamentos de lazer dessas duas cidades (ROSA, 2013, 2017).
Quanto às atividades desenvolvidas no Peit pelos visitantes, todos (100%) contemplaram a natureza, a maioria (71%) praticou atividade física e esportiva e os demais (29%) visitaram o acervo histórico. Esses dados são corroborados por Silva e Rosa (2013, p. 210), que afirmam que o “Peit é utilizado por seus frequentadores como equipamento de lazer, atendendo prioritariamente o interesse físico-esportivo”. Resultado similar foi encontrado no estudo de Baía e Souza (2008) no Parque Ecológico do Sóter, em Campo Grande/MS.
Entre os visitantes do Peit, as pessoas da comunidade local são as que privilegiam a prática de atividades físicas e esportivas na natureza, destacando-se a caminhada, a corrida e o mountain bike (Figura 3).
Observa-se que 4% da amostra praticou rapel e escalada, mesmo sendo proibidos no Peit, e 9% praticou o triatlo, modalidade que combina natação, ciclismo e corrida. Resultados similares foram encontrados por Tahara e Schwartz (2003) em estudo realizado no Parque das Cachoeiras e da Cachoeira do Paraíso, em Ipatinga/MG, que investigou as principais atividades de aventura na natureza usufruídas no âmbito do lazer; e por Garcia, Kowalski e Alves (2009), que procuraram compreender a visão do público que visita o espaço natural público da Mata do Paraíso, em Viçosa-MG. Assim como no Peit, nesses espaços o conteúdo cultural mais praticado foi o de interesse físico-esportivo, sendo desenvolvidas atividades de caminhada em trilhas, rapel e escalada.
O lazer (55%) e a saúde (43%) foram as principais motivações que levaram visitantes à prática de atividades físicas e esportivas no Peit. Resultado este similar aos estudos de Tahara e Schwartz (2003) e Garcia, Kowalski e Alves (2009). Esses dados são interessantes uma vez que a relação lazer, saúde e natureza, tendo os parques como um lócus de destaque, é um argumento que, como foi visto, remete ao final do século XIX e início do século XX, sendo uma permanência ao longo dos anos.
Já os estudantes priorizaram atividades que envolviam educação ambiental e história, o que pode ter sido influenciado, entre outros motivos, por ações de projetos de pesquisa, ensino e extensão desenvolvidos no Peit por docentes/técnicos administrativos da Ufop – que possui entre outros cursos de graduação os de Ciências Biológicas, Turismo, Educação Física e Engenharia Geológica –, bem como de outras instituições de ensino da região.
Os turistas priorizaram visitar o acervo histórico do Peit e contemplar a natureza, indicando necessidade de despertar o interesse deles para outras possibilidades do local, especialmente para as atividades físicas e esportivas na natureza.
A utilização do Peit para visitar o acervo histórico demonstrou a importância desse equipamento também para se conhecer a história da região, uma vez que seu acervo está diretamente ligado à história de Vila Rica, atual Ouro Preto. Entre os vários atrativos existentes, destaca-se a Casa do Bandeirista, antiga sede da Fazenda São José do Manso, construída no século XVIII.
A Pesquisa de Demanda Turística de Minas Gerais (2017), ao analisar o perfil do visitante no estado, mostra que 40% dos turistas são motivados por lazer/passeio, sendo que, destes, 46% buscam o turismo cultural, 36% ecoturismo e 7% eventos/diversão noturna. Quanto aos turistas de Ouro Preto, especificamente, a pesquisa revela que a maioria é motivada por lazer/passeio (82,14%) e que, embora o principal atrativo para visitar a cidade seja os locais de riquezas históricas, metade desse público, quando questionado sobre outra atividade que realizaria ou pretendia realizar na cidade, indicou atividade na natureza (Figura 4).
Esse dado é interessante porque mesmo não sendo o contato com a natureza um dos atrativos que os mobilizam a ir para a cidade (Figura 2), o desejo de realizar atividades nesse ambiente aparece com uma opção secundária na intenção dos pesquisados na Demanda Turística (2017), revelando um interessante dado que pode justificar maiores investimentos no turismo de aventura, que abrange práticas de esportes de aventura e risco no meio natural (PAIXÃO, 2012).
Mesmo esses turistas não apontando interesse em visitar parques naturais, os parques da cidade de Ouro Preto, especialmente o Peit, são muito propícios para atender a vontade deles de realizar atividade na natureza, sendo necessário aos gestores, dos parques e da administração municipal, investir no desenvolvimento de ações e na divulgação desses equipamentos e de suas potencialidades.
Esses dados são importantes, pois, como mostra Nishime (2008), o Peit está localizado em uma área de interesse turístico pelas características geográfico-naturais e histórico-culturais, tendo a cidade de Ouro Preto, onde se localiza a sua portaria e onde comumente hospedam-se turistas que visitam cidades históricas da região, atrativos importantes que atendem a todos esses âmbitos, sendo o Parque um local com potencial para atrair esse público, tanto pelo acervo histórico quanto pelos recursos naturais.
O Peit, objeto de estudos de diferentes áreas, como turismo, lazer, geografia e geologia (BEDIM; CAMPOS; VIDAL, 2010; BURKOWSKI; DRUMMOND; VARAJÃO, 2010; FONSECA FILHO; MOREIRA, 2017; LADISLAU, 2001; NISHIME, 2008; OSTANELLO; DANDERFER; CASTRO, 2013), apresenta potencial para desenvolvimento de diferentes atividades em ambientes naturais, as quais este artigo destaca as que abrangem o interesse físico-esportivo.
Sua estrutura é composta por estradas, trilhas, paredes rochosas e lagoas propícias para a prática de atividades físicas e esportivas, como caminhadas, corridas, treking, mountain bike, rapel, escalada, canoagem, natação e tirolesa.
Viera (2004, apud PAIXÃO, 2012), ao escrever sobre esportes praticados na natureza, define: treking é uma caminhada longa em contato com a natureza; mountain bike é uma modalidade de ciclismo na qual o objetivo é transpor percursos com diversas irregularidades e obstáculos, desenvolvidos geralmente nas montanhas; rapel consiste em realizar descidas verticais com auxílio de uma corda; escalada consiste na ascensão em superfícies sólidas, utilizando a força e equipamentos específicos; canoagem é um esporte praticado em canoas e caiaques em meio aquático; tirolesa é a travessia entre dois pontos usando uma corda, podendo ser realizada em campo aberto, preferencialmente em lagos.
Quanto à estrutura do Parque para a prática de atividades físicas e esportivas, 97% dos visitantes a consideraram favorável. Geralmente as caminhadas são desenvolvidas nas trilhas e o mountain bike nas estradas. O quadro 1 mostra e caracteriza alguns locais no Peit em que podem ser desenvolvidas atividades ao ar livre, predominantemente relacionadas ao interesse físico-esportivo, e os relaciona com atividades já realizadas no Peit, como demonstra a Figura 3, e outras possíveis de ocorrer.
Essa variedade no Peit é interessante, uma vez que a diversificação de espaços no interior dos parques é de grande valia para propiciar vivências em meio à natureza, pois quanto mais diversas forem as possibilidades, maiores serão as oportunidades de escolha (SILVA; NUNES, 2009). Todavia, o Peit possui restrições quanto à utilização de alguns locais e ao tipo de atividades físicas e esportivas que podem ser desenvolvidas. Apesar do potencial, esportes como rapel, escalada e canoagem são proibidos por questões de segurança. E para não causar danos a determinadas áreas preservadas, as atividades de caminhada, corrida e mountain bike possuem locais específicos para sua prática, conforme relata o gerente do local:
Existem restrições, cautelas a serem adotadas e existem pontos onde você pode definir que não traga dano, um dano significativo para uma área preservada. Então quer dizer, você pode estar também usufruindo, fazendo ciclismo ou caminhada sem problema algum desde que seja mapeada trilha ou caminho específico para essa ação, esteja de acordo com os regimentos internos da característica da Unidade de Conservação (BASÍLIO, 2014).
É importante destacar que atividades desenvolvidas na natureza tem como um de seus elementos o risco (PAIXÃO, 2012). No caso específico do Peit, a área é considerada remota e a comunicação e o transporte são difíceis. Devido a isso, a busca por pessoas com problemas, realização de evacuação de locais e a prestação de cuidados médicos, se necessários, podem ter atrasos significativos. Perante esses fatos, há orientação aos usuários para que respeitem as restrições e fiquem atentos às normas que buscam preservar a segurança dos visitantes bem como a preservação do meio ambiente.
Verifica-se, todavia, que apesar do potencial do Peit para realização de atividades de aventura na natureza essa ainda não é uma prioridade para a atual gestão do Parque. No local, há carência de profissional da área do lazer atuando, bem como de programas e ações que privilegiam o desenvolvimento de atividades físicas e esportivas na natureza. Conforme relata o gerente do Parque:
Não há intervenção nas atividades, porque nós estamos iniciando. Então quer dizer, primeiro existe uma demanda, então nós iremos montar um projeto e dar continuidade de acordo com o fluxo [...] Acredito que no próximo projeto para o público da Unidade de Conservação seria interessante ter uma pessoa habilitada nessa área [...] Até então isso é novo, é por isso que a gente direciona os monitores mais para as questões de projetos ambientais voltados para fauna, flora, até mesmo a questão de ecossistemas né [...] Na questão do esporte, ela vai demandar um profissional nessa área (BASÍLIO, 2014).
Ao analisar dados fornecidos pelo gestor e concordando com resultados de pesquisa realizada pelo Ministério do Meio Ambiente (2005), que fez um diagnóstico da visitação em parques nacionais e estaduais, percebe-se que as demandas extrapolam questões físico-financeiras, fazendo emergir aspectos como a capacidade de gestão e a capacidade técnica e criativa que se mostram tão urgentes quanto o aporte de recursos financeiros para as UCs.
A melhoria da gestão do uso público pode ser alcançada mediante algumas alternativas, como o desenvolvimento de parcerias público-privadas verdes e de parcerias com a comunidade local, mas não são necessariamente as melhores alternativas e, muito menos, excluem outras formas possíveis. Assim, é necessário o constante estudo e monitoramento dos planos de gestão desenvolvidos, buscando sempre a maximização dos benefícios à comunidade do entorno, a democratização do usufruto do Parque e o aprimoramento da experiência dos visitantes, aliados à preservação ambiental da UC (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2005).
Nesse contexto, destaca-se ainda a potencialidade de desenvolvimento de projetos de extensão universitária no Peit, como também já apontaram Bedim, Campos e Vidal (2010), devido à capacidade dos projetos abarcarem atividades produtoras de conhecimento e de melhoria da capacidade técnica e teórica dos atores envolvidos; e à capacidade da Ufop de formar, por meio de cursos de graduação, como Educação Física e Turismo, profissionais multidisciplinares para atuar em parque, explorando as suas potencialidades e atendendo demandas de lazer na natureza, não só no Peit, mas em outros locais da cidade.
O Parque Estadual do Itacolomi (Peit), em Ouro Preto/MG, é um equipamento propício para desfrutar a natureza, bem como para realizar pesquisas científicas e desenvolver atividades de educação ambiental.
Os resultados da presente pesquisa enfatizaram o potencial do Peit para desenvolvimento do lazer na natureza, especialmente práticas que atendam aos interesses físico-esportivos, podendo o Parque ser mais utilizado pela comunidade local e também por turistas, uma vez que ele possui o principal atrativo que os mobilizam para visitar a cidade (a riqueza histórica, dada por seu acervo histórico, e uma exuberante natureza que, para além de atender à intenção secundária desses turistas em realizar atividade na natureza, é um importante potencial para o turismo de aventura na cidade).
Essa natureza possibilita a realização de atividades físicas e esportivas que devem sempre estar atreladas a propostas de conservação e preservação do meio ambiente.
Embora o número de visitações do Peit esteja aumentando, há necessidade de planejar e implementar políticas públicas que incentivem o seu uso, bem como elaborar e efetivar projetos e programas de lazer na natureza, considerando que ainda não são prioridade ou um investimento.
Aos gestores e elaboradores de políticas públicas, que devem ser criativos e inovadores, desenvolvendo potencialidades já existentes e agregando novos produtos e serviços à visitação, fica o desafio de executarem um plano de incentivo ao uso sustentável do Peit, de forma que o acesso a esse equipamento de lazer possa ser ampliado e seja fomentado o senso de pertencimento ao lugar, o que pode proporcionar usos mais coletivos e diversificados e que consideram o lazer, o turismo e a cultura como elementos centrais nesse contexto.
Como pontos fortes do presente trabalho, ressalta-se que esta pesquisa é uma, entre poucas, que estuda de forma detalhada e sistemática os usos e apropriações do Peit pelos visitantes como um equipamento de lazer. Outros pontos de destaque é o período estendido de coleta de dados, uma vez que estes não foram coletados em um único momento, bem como foram coletados em dois diferentes períodos do dia, e envolveu um público com níveis etários diversificados.
Como limitação, a coleta de dados não abrangeu todo o período de férias escolares, meses em que as cidades históricas de Minas Gerais recebem mais visitantes, tendo o Peit maior potencial de visitação.
Pretende-se com os resultados qualificar o lazer da comunidade local e de turistas na cidade; fornecer elementos para subsidiar o estabelecimento de diretrizes e políticas de visitação no Peit que sejam convergentes com a demanda da comunidade e com o aprimoramento das estratégias de manejo de visitação, que vêm sendo adotadas em diversas UCs em diferentes países; e valorizar o Parque, parte da cultura local, como um equipamento que pode potencializar o turismo e o lazer em meio à natureza.