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Turismo: fenômeno complexus da contemporaneidade?
Claudia Fragelli; Marta de Azevedo Irving; Elizabeth Oliveira
Claudia Fragelli; Marta de Azevedo Irving; Elizabeth Oliveira
Turismo: fenômeno complexus da contemporaneidade?
Tourism: a complexus phenomenon of contemporaneity?
Turismo: ¿fenómeno complexus de la contemporaneidad?
Caderno Virtual de Turismo, vol. 19, núm. 3, 2019
Universidade Federal do Rio de Janeiro
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Resumo: A crise civilizatória em curso traduz inúmeros desafios a serem superados pela investigação científica. Nesse panorama, o turismo se configura, na contemporaneidade, como um fenômeno multidimensional global produzido na articulação entre dinâmicas sociais, econômicas, culturais, ambientais e políticas. No entanto, a produção científica acerca dessa temática se caracteriza por perspectivas reducionistas nas quais subsistem ainda lacunas epistemológicas. Considerando essa premissa, assim como a necessidade de se subsidiar conceitual e metodologicamente a compreensão da multidimensionalidade desse fenômeno, o presente artigo objetiva refletir, criticamente, sobre os aportes do pensamento complexo de Edgar Morin como via interpretativa possível para os estudos do turismo. Para tal, a trajetória metodológica adotada envolveu pesquisa bibliográfica sobre o tema, articulada a um exercício de interpretação do turismo a partir de princípios alinhados ao paradigma da complexidade. Por meio dessa articulação foi possível reafirmar ser essa uma via potencial para a decodificação da multidimensionalidade do turismo, entendido como fenômeno complexus da contemporaneidade.

Palavras-chave:TurismoTurismo,Pensamento ComplexoPensamento Complexo,MultidimensionalidadeMultidimensionalidade,Epistemologia do TurismoEpistemologia do Turismo.

Abstract: The ongoing civilizational crisis translates into umnumbered challenges to be overcome by scientific research. In this prospect, tourism is configured as a global multidimensional phenomenon produced in the articulation between social, economic, cultural, environmental and political dynamics. However, the scientific production on this subject is still characterized by reductionist perspectives in which remains epistemological gaps. These points considered, in order to seek innovative conceptual and methodological perspectives capable of supporting the understanding of the multidimensionality of this phenomenon, this article aims to critically reflect on the contributions of “complex thinking” proposed by Edgar Morin as possible interpretative routes for tourism studies. In this sense, the methodological trajectory adopted involved a bibliographical research on the theme articulated to an exercise of tourism interpretation based on principles aligned with the paradigm of complexity. Through the articulation of the principles of complex thinking with the interpretation of tourism, it was possible to validate the arguments that this is a possible route for the decoding of its multidimensionality as a “complexus” phenomenon in contemporary times.

Keywords: Tourism, Complex Thinking, Multidimensionality, Epistemology of Tourism.

Resumen: La crisis civilizatoria en curso traduce numerosos retos a superar por la investigación científica. En este panorama, el turismo, en su expresión contemporánea, se configura como un fenómeno multidimensional global producido en la articulación entre dinámicas sociales, económicas, culturales, ambientales y políticas. Sin embargo, la producción científica acerca de esta temática todavía se caracteriza por perspectivas reduccionistas en las que subsisten lagunas epistemológicas.Teniendo en cuenta esta premisa, en el sentido de buscar perspectivas conceptuales y metodológicas capaces de subsidiar la comprensión de la multidimensionalidad de ese fenómeno, el presente artículo objetiva reflexionar, críticamente, sobre los aportes del “pensamiento complejo”, de Edgar Morin, como vía interpretativa para los estudios del turismo. Por lo tanto, la trayectoria metodológica adoptada involucró investigación bibliográfica sobre el tema, articulada a un ejercicio de interpretación del turismo a partir de principios alineados al “paradigma de la complejidad”. Por medio de esa articulación, fue posible reafirmar ser esa una vía potencial para la decodificación de la multidimensionalidad del turismo, entendido como fenómeno “complexus” de la contemporaneidad.

Palabras clave: Turismo, Pensamiento Complejo, Multidimensionalidad, epistemología del Turismo.

Carátula del artículo

Turismo: fenômeno complexus da contemporaneidade?

Tourism: a complexus phenomenon of contemporaneity?

Turismo: ¿fenómeno complexus de la contemporaneidad?

Claudia Fragelli
Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET-RJ), Brasil
Marta de Azevedo Irving
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Brasil
Elizabeth Oliveira
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Brasil
Caderno Virtual de Turismo, vol. 19, núm. 3, 2019
Universidade Federal do Rio de Janeiro

Recepção: 26 Setembro 2018

Aprovação: 20 Dezembro 2019

1 INTRODUÇÃO

O turismo na contemporaneidade se configura como um fenômeno de alcance global, produzido a partir da articulação de dinâmicas sociais, econômicas, culturais, ambientais, políticas e simbólicas. Estas, por sua vez, desencadeiam novas articulações que tendem a reconfigurar as realidades locais nas quais esse fenômeno se desenvolve.

As cifras expressivas e os recordes anuais de circulação de turistas no mundo ilustram a magnitude e a importância da dimensão econômica, a face mais visível desse fenômeno. Atualmente, a circulação de mais de um bilhão de turistas movimenta cerca de um trilhão e meio de dólares, com estimativas que sugerem a marca de dois bilhões de turistas até 2030, considerando-se apenas o fluxo internacional (UNWTO, 2018).

É necessário, no entanto, se considerar o turismo na contemporaneidade como um fenômeno de alcance global, mas que se materializa localmente em dinâmicas nas quais estão imbricadas as cenas locais e o macroambiente internacional (MORRISSET, 2012). Essas articulações, por sua vez, se retroalimentam e, nesse sentido, precisam ser analisadas dialogicamente, para que seja possível a compreensão das múltiplas dimensões envolvidas nesse processo.

Mas apesar deste se constituir como um fenômeno multifacetado em suas diversas nuances, o turismo enquanto objeto e campo de estudos parece não escapar a uma tendência paradigmática monológica cientificista e marcada por um positivisme ambient[1] (MORRISSET, 2012, p. 7) que, utilizada indiscriminadamente como viés interpretativo, se constitui em um padrão epistemológico limitante.

Sob essa hegemonia paradigmática, os arcabouços científicos modernos têm se apoiado, historicamente, em perspectivas utilitaristas, monológicas e disciplinares para a interpretação da realidade. Essas, no entanto, têm se mostrado limitantes e, sob diversos aspectos, inadequadas para responder a tal desafio. As vias epistemológicas alinhadas ao paradigma hegemônico parecem, assim, não mais atender — se é que um dia o fizeram — às demandas e inquietações contemporâneas (MINAYO, 2002). E, mesmo considerando as importantes contribuições dele decorrentes, muitas vezes, as escolhas paradigmáticas da modernidade têm se constituído em obstáculos à abordagem de inúmeras questões contemporâneas (MORIN, 2001; 2015) e, em especial, àquelas associadas aos fenômenos antropossociais.

Esses questionamentos, que têm colocado em xeque o fazer científico, ao mesmo tempo demandam uma reflexão crítica incontornável, urgente e desafiadora, sobretudo no campo da pesquisa social, também ainda bastante marcada pelo cientificismo e pelo positivismo dominante no âmbito da produção de conhecimento (GIL, 2008). Esta reflexão é, portanto, central na interpretação dos fenômenos em curso na dinâmica contemporânea. Caso contrário, se incorreria no risco de se privilegiar uma elaboração científica totalmente dissociada da realidade, comprometendo, assim, o próprio sentido da investigação, notadamente quando se considera que “o maior problema da ciência não é o método, mas a realidade” (DEMO 2012, p. 16). Desta forma, fomentar exercícios teórico-metodológicos dialógicos e delinear novas vias interpretativas capazes de apreender as complexidades relacionadas ao fazer científico na contemporaneidade, se constituem em necessidades prementes, especialmente no campo da pesquisa social.

No caso dos estudos do turismo [2], especificamente, além do positivismo dominante nos processos de produção de conhecimento, se percebe a existência de lacunas estruturantes relativas à fundamentação teórica e à construção de arcabouços metodológicos, ambas consideradas como basilares para a compreensão e a interpretação de qualquer fenômeno. Desta forma, tais lacunas têm se constituído em reais obstáculos para o aprofundamento do debate acadêmico nesse campo, como vem sendo discutido por diversos pesquisadores (MOESCH, 2000; CASTILLO NECHAR, 2007; HALL 2000; REJOWSKI, 2010; BENI; MOESCH, 2016; PANOSSO NETTO, 2011; MORISSET, 2012; PANOSSO NETTO; CASTILLO NECHAR, 2014).

Nesse contexto, se tem buscado a construção de alternativas teóricas e caminhos metodológicos capazes de aprofundar o debate e ultrapassar a superfície mais visível, tangível e quantificável do fenômeno do turismo. E, para que se possa avançar com esse propósito, é fundamental que se compreenda o turismo sob perspectivas mais amplas do que aquelas mais convencionais, considerando, nesse processo, a sua multidimensionalidade (IRVING, CALABRE, BARTHOLO, LIMA, MORAES, EGREJAS & LIMA, 2016).

Vale ressaltar, no entanto, que não há fronteiras delimitadas e/ou bem definidas entre as múltiplas dimensões envolvidas, uma vez que a realidade social se expressa em configurações diversas, nas quais as dimensões econômica, cultural, ambiental, política, ética e simbólica estão também imbricadas, sendo apartadas apenas artificialmente, sob o prisma do paradigma cientificista disjuntor.

Por todas essas razões, a investigação sobre o turismo enquanto fenômeno antropossocial da contemporaneidade não se constitui em tarefa simples. Isso porque esse movimento implica em seu reconhecimento como um fenômeno cuja constituição se traduz de maneira “[...] complexa e mutável, multifacetada e multidimensional que não deve ser reduzida exclusivamente a negócio, atividade industrial, marketing ou gestão de produtos” (PEREIRO, 2009, p. 5). Em outras palavras, não se pode prescindir da necessidade de se ultrapassar visões compartimentadas e unívocas sobre o fenômeno, que apenas reproduzem e/ou reforçam os padrões de investigação vigentes.

Essa tendência em reafirmar os cânones monológicos de cunho cientificista e positivista, ainda preponderante nos estudos do Turismo, perpassa todo o processo de pesquisa, desde as formulações do problema até as escolhas metodológicas, podendo, dessa forma, gerar distorções de toda ordem na interpretação desse fenômeno (PANOSSO NETTO; CASTILLO NECHAR 2014). Mas quais seriam as consequências dessas distorções para a compreensão do turismo enquanto fenômeno da contemporaneidade? Em que medida o framework da produção de conhecimento sobre o turismo tem propiciado um real acesso à sua multidimensionalidade? Que opções teórico-metodológicas poderiam embasar a produção científica e a construção de conhecimento sobre o turismo, esse entendido enquanto fenômeno e objeto da pesquisa social? Tais questões, entre outras, sugerem a necessidade de se fomentar trajetórias inovadoras na produção de conhecimento, considerando o turismo segundo uma ótica mais ampliada e crítica de análise.

Com base nessas considerações, e a partir da interpretação do turismo como um fenômeno contemporâneo multidimensional, se busca argumentar nesse ensaio a favor do paradigma do pensamento complexo como uma via possível para a construção de conhecimento nesse campo. Para tal, o percurso metodológico adotado envolveu, em um primeiro momento, uma pesquisa bibliográfica dirigida ao tema em questão, tendo como foco as bases hegemônicas que orientam o paradigma cientificista, este considerado como redutor e limitante. Em um segundo momento foram pesquisadas algumas alternativas paradigmáticas contemporâneas que se propõem a enfrentar tal tendência. Em seguida, se buscou uma imersão nas premissas do pensamento complexo de Edgar Morin (2001; 2011; 2015), esse entendido como uma chave interpretativa capaz de promover acessos mais amplos e aprofundados às questões da contemporaneidade e, particularmente, representando assim uma via possível e inovadora para a interpretação do fenômeno do turismo. A partir desse movimento, e no intuito de se avançar no debate, foi realizado um exercício teórico fundamentado na articulação dos princípios do pensamento complexo aos estudos do Turismo, buscando-se delinear uma via interpretativa inovadora com esse enfoque.

Com base nesses antecedentes, este ensaio se estrutura em três seções, a partir desta nota introdutória. A primeira busca contextualizar o paradigma cientificista em meio à crise paradigmática em curso para, em seguida, sintetizar algumas vias críticas que vêm sendo utilizadas na pesquisa social para a construção de conhecimento na contemporaneidade — a Teoria Crítica, a Teoria Geral dos Sistemas e o Anarquismo Epistemológico — como potenciais abordagens alternativas ao cientificismo. Na segunda seção, a proposta do pensamento complexo de Edgar Morin é discutida em maior profundidade como uma alternativa possível para a interpretação de fenômenos antropossociais e multidimensionais da contemporaneidade, como é o caso do turismo, tema inspirador de análise empreendida neste ensaio. A terceira e última seção se constitui em um exercício de reflexão sobre alguns princípios alinhados à construção do paradigma da complexidade, em sua articulação aos estudos do Turismo, este entendido enquanto fenômeno complexus contemporâneo.

2 CONTEXTUALIZANDO O MODELO CIENTIFICISTA EM MEIO À CRISE PARADIGMÁTICA

Em sua origem, o modelo cartesiano se constituiu em uma ruptura paradigmática de inspiração antropocêntrica e humanista, resultante de uma nova cosmologia e visão de mundo, desenvolvida a partir de compreensões do universo e da natureza dissociadas dos cânones religiosos então em vigor. Sob essa inspiração, a proposta cartesiana para o fazer científico se pautou na combinação entre observação, experimentação e desenvolvimento de formulações teóricas com vistas a tornar possível sua aplicação a todos os campos do conhecimento (DESCARTES, 2007).

Motivado pela busca de “uma verdade primordial [...] havendo apenas uma verdade em cada coisa” (DESCARTES, 2007, p. 1-2), e tendo como objetivo a unificação de todo conhecimento científico da época, Descartes publicou, em 1637, o tratado filosófico O Discurso sobre o Método para Bem Conduzir a Razão a Buscar a Verdade através da Ciência. Nessa obra, o autor proclamava a necessidade de elaboração e sistematização de um método matemático, racionalista, mecanicista e universal para a aquisição do conhecimento.

Em O Método, como ficaria conhecida essa obra basilar no mundo ocidental, Descartes propôs, como modelo de sistematização científica, a aplicação de pressupostos teórico-metodológicos provenientes da geometria: clareza/certeza; universalidade; fracionamento; ordem; classificação; progressão; autoridade do fracionamento; e razão. E, como estrutura de sistematização, a dicotomia cartesiana que separa, por distinção e oposição, corpo e alma, sujeito e objeto, razão e emoção, se instaurou, assim, como base lapidar do raciocínio científico, marcando indelevelmente a própria concepção ocidental de mundo.

Com base nesses pressupostos, as formulações de Descartes passaram a ser aplicadas, indistintamente, a objetos e fenômenos e, simultaneamente, foram se constituindo, ao longo do tempo, nos alicerces do pensamento científico ocidental [3]. Desta forma, cabe ressaltar que o paradigma cientificista, pautado na aplicação ampla e indiscriminada do cartesianismo, se constituiu em uma elaboração coletiva, desenvolvida em meio a controvérsias e processos não lineares, como exemplarmente se pode observar na construção disciplinar dos campos do conhecimento, a partir do século XIX.

Como desdobramento do paradigma cientificista, os processos de autonomização das disciplinas foram influenciados, também, pelo positivismo universal de Augusto Comte [4]. Aspirando à uniformização do pensamento científico, Comte propunha a utilização dos pressupostos do cientificismo e a aplicação de uma unicidade metodológica para o estudo dos fenômenos humanos e sociais, por ele compreendidos como expressões de caráter semelhante aos chamados fenômenos naturais (GIDDENS, 2001; STENGERS, 2002). Assim, apesar das inúmeras dificuldades de adaptação desses saberes ao modelo hegemônico (MORIN, 2001), notadamente no campo antropossocial, os processos de disciplinarização seguiram utilizando como alicerces os princípios reducionistas, disjuntivos e fragmentados, constitutivos do paradigma cientificista, como forma de validação/legitimação de seus discursos científicos.

Mas em meio aos processos de disciplinarização do conhecimento e da aplicação (introjeção artificial) do cientificismo, emergiram inúmeros ruídos, exceções e “resíduos” epistemológicos que não foram passíveis de encaixe no modelo científico hegemônico. Esses resíduos foram, então, classificados como não científicos e, desta forma, descartados pelo paradigma cientificista. Esse movimento de decantação, que parece ter ocorrido em todos os campos do conhecimento, se manifesta mais intensamente nas denominadas Ciências Humanas e Sociais. Isto porque no processo de construção disciplinar positivista as temáticas relativas às subjetividades, ao intangível e, em suma, ao que não se pode medir, tenderam a ser classificadas como não-ciência e/ou metafísica (PRIGOGINE, 1984; PRIGOGINE; STENGERS, 1991). Assim, temáticas, objetos ou campos de conhecimento que não puderam ser enquadrarados no paradigma cientificista moderno passaram a ser desqualificados e deslegitimados enquanto ciência.

Considerando que os fenômenos antropossociais não se expressam em estados autônomos e disjuntivos e, sim, são dotados de múltiplas dimensionalidades, as prescrições paradigmáticas cientificistas e positivistas foram se constituindo em complicações epistemológicas e limitações estruturantes relacionadas ao fazer científico e à interpretação da realidade social na contemporaneidade.

No entanto, paradoxalmente, como argumentado por Kuhn, nos momentos em que o conhecimento científico se encontra confortavelmente instalado em um paradigma vigente [5] não se verifica um real desenvolvimento da ciência. Isso significa dizer que a ciência se desenvolve apenas em meio a e por meio de crises paradigmáticas, revoluções e rupturas. Além disso, pela via de interpretação proposta por Kuhn (2006), não seria possível sequer determinar a existência de um conhecimento científico cumulativo, contínuo e progressivo (como postulado pelo positivismo), e sim de conhecimentos e paradigmas que se interpõem, sem necessariamente haver um sentido (de continuidade e/ou de causalidade) pré-estabelecido.

Por outro lado, é importante enfatizar que o conceito de paradigma pode ser compreendido, também, como “[...] um tipo de relação lógica (indução, conjunção, disjunção, exclusão) entre certo número de noções ou categorias mestras”, no qual algumas são privilegiadas e por meio delas se controla (e legitima) a lógica dos discursos, em detrimento de outras lógicas (MORIN, 2015, p. 112). Da mesma maneira, e complementarmente a este argumento, Minayo ressalta que o fazer científico se processa sempre em duas direções: uma na qual se elabora “... suas teorias, seus métodos, seus princípios e estabelece seus resultados; noutra, inventa, ratifica seu caminho, abandona certas vias e encaminha-se para certas direções privilegiadas” (MINAYO, 2001, p. 13).

Por essas razões, como ressaltado por Morin (2015), o modelo hegemônico de produção do conhecimento tem sido incapaz de apreender a multidimensionalidade do real, uma vez que o pensamento cientificista e positivista “[...] foi durante muito tempo e [...] continua sendo concebido com a missão de dissipar a aparente [no sentido de visível] complexidade dos fenômenos, a fim de revelar a [suposta] ordem simples a que eles obedecem” (MORIN, 2015, p. 5).

Partindo desta leitura, é possível compreender a crise epistemológica como uma crise paradigmática que emergiu, por um lado, do reconhecimento por parte da comunidade científica da existência de limitações relacionadas ao fazer científico, na contemporaneidade, a partir dos moldes epistêmicos clássicos. Por outro lado, essa crise também se constitui como produto do reconhecimento de inadequações do modelo cientificista no tratamento de questões concretas em âmbitos social, político, econômico e ambiental que, por sua vez, demandam novas abordagens científicas para a interpretação da realidade.

Como consequência dessa dinâmica, diversas perspectivas epistemológicas vêm sendo desenvolvidas como reação às limitações e/ou inadequações inerentes ao cientificismo em acessar questões emergentes na contemporaneidade, tais como a Teoria Crítica, a Teoria Geral dos Sistemas e a Anarquia Epistemológica apresentadas, sinteticamente, a seguir, por serem também importantes para a compreensão da construção do pensamento complexo.

A corrente epistemológica da Teoria Crítica se originou das investigações científicas realizadas por um grupo de filósofos vinculados, em sua maioria, ao Instituto de Pesquisa Social da Universidade de Frankfurt (MOGENDORFF, 2012). No período entre guerras (1919–1939), Horkheimer, Adorno e outros teóricos alinhados à chamada Escola de Frankfurt passaram a questionar a utilização indiscriminada do método cientificista e do positivismo, criticando a prevalência da racionalidade e da instrumentalização das ciências (HORKHEIMER, 1990). Na avaliação desses pensadores, as orientações paradigmáticas hegemônicas do cientificismo se constituiriam, essencialmente, em estratégias de dominação a serviço da manutenção do status quo.

Inicialmente, além de ter sido inspirada por uma lente marcadamente marxista na origem de sua formulação, a Teoria Crítica tinha uma acentuada centralidade na pesquisa social associada à prática como foco primordial (VOIROL, 2012). Progressivamente, diversas temáticas provenientes de outros campos de conhecimento como da Psicologia, da Estética e da Filosofia passaram a ser incorporadas a essa corrente de pensamento. O pensamento da Escola de Frankfurt seguiu influenciando diversos campos de conhecimento e inúmeros pensadores e, desde então, se constituiu em uma referência nos campos das Ciências Sociais e Humanas, tanto para aqueles que a adotaram como via de análise quanto para os que, a partir de críticas a essa corrente, desenvolveram outras vias epistemológicas, como no caso de Edgar Morin.

Assim como a Teoria Crítica, outras vias de construção de conhecimento passaram a ser formuladas a partir de críticas ao modelo cientificista, dentre estas, a Teoria Geral dos Sistemas (TGS), cujas bases foram desenvolvidas ao longo das décadas de 1930 a 1960, principalmente, pelo biólogo e pensador Ludwig Von Bertalanffy, seu mais notável expoente. Essa leitura considera o paradigma cientificista como epistemologicamente inadequado e limitante, notadamente, para a interpretação de fenômenos que se desenvolvem em meio a contextos fortemente impactados por diversas dinâmicas associadas à sociedade industrializada (VON BERTALANFFY, 1977).

Desta forma, a perspectiva sistêmica se dirige ao sentido de buscar uma síntese como alternativa às categorias disjuntivas do cientificismo, ao mesmo tempo em que busca promover uma comunicação mais fluida entre os diversos campos de estudo. Sob essa ótica emergiram as noções de sistemas abertos e equilíbrio dinâmico, além de serem delineados alguns princípios mais sutis como religação, auto-organização e autorregulação, sob os quais os objetos e fenômenos, compreendidos como sistemas, são considerados como conjuntos de unidades em inter-relações mútuas (VON BERTALANFFY, 1977). Para a perspectiva sistêmica os fenômenos físicos, biológicos e até mesmo os sociais se constituiriam a partir de estruturas comuns e passíveis de serem identificadas separadamente e em suas relações, o que muito contribuiu para o desenvolvimento de um movimento inter e transdisciplinar na construção do pensamento científico (HAMMOND, 2010) na contemporaneidade.

Com este escopo central, a perspectiva estrutural e sistêmica da TGS passou a ser progressivamente incorporada a estudos vinculados às ciências naturais, além de ter sido adaptada, também, a investigações no campo social. No entanto, e a despeito das aspirações críticas e humanistas explicitadas por Bertalanffy e outros autores vinculados às origens da TGS, a abordagem sistêmica vem sendo descaracterizada, em diversas áreas, para adequação a modelos estanques que tendem a reenquadrá-la no status quo do paradigma dominante. Como consequência, a perspectiva sistêmica tem sido considerada, atualmente, como uma variante do pensamento cientificista e não propriamente uma alternativa a esse modelo (HAMMOND, 2010).

Como outra via contra-hegemônica na contemporaneidade, por sua vez, o Anarquismo Epistemológico proposto por Feyerabend (1977), na década de 1970, se refere em uma visão de mundo que se originou do campo da Filosofia da Ciência e está associada à chamada pós-modernidade. Essa linha de pensamento, também conhecida como vale-tudo (anything goes), se alinha a uma configuração bastante distinta das duas anteriormente apresentadas, notadamente no tocante aos processos de (des)construção de conhecimento. Nesse sentido, considerando o argumento de Kuhn (2006), mencionado anteriormente, Feyerabend recoloca em xeque o sentido de universalidade, de continuidade da ciência e do próprio sistema científico. Por essa perspectiva, a ciência não se desenvolveria segundo um progresso contínuo e linear — como postulado pelo cientificismo e pelo positivismo — mas em rupturas epistemológicas que levariam a mudanças completas de paradigmas.

A premissa de que todos os métodos científicos portam limitações intrínsecas se constitui em um argumento fundante para o anarquismo epistemológico, que questiona a postulação de que um método científico universal possa se perpetuar a-historicamente. Partindo desse pressuposto, Feyerabend (1977) propõe uma insubmissão a todas as regras e padrões pré-estabelecidos associados ao pensamento cientificista e positivista. O autor advoga, em contrapartida, um pluralismo metodológico radical, admitindo as limitações intrínsecas a qualquer teoria face à realidade e aos fatos.

Sob essa mesma perspectiva teórica, Lyotard (2009) identificou na produção do conhecimento científico, por ele associada à chamada pós-modernidade cultural, uma visão utilitarista relacionada a um sentido de mercantilização do conhecimento e das produções de saber. Sob esse prisma de análise, a produção de conhecimento na contemporaneidade tem se instituído como mercadoria informacional — sob a forma de inputs e outputs — na qual o desempenho se torna o principal critério de valor (LYOTARD, 2009), o que, paradoxalmente, significaria uma ruptura aos pressupostos do paradigma cientificista que expressam como critérios de valor a busca de verdade ou de verdades.

Em meio a esse cenário de crise e transição paradigmática contemporânea, Edgar Morin também buscou construir alternativas ao paradigma hegemônico cientificista para a compreensão da realidade social. As bases do pensamento complexo, proposto por Morin, buscam delinear novas perspectivas para a interpretação dos fenômenos em substituição às concepções “[...] despedaçadas pelos cortes entre disciplinas, entre categorias cognitivas e entre tipos de conhecimento” (MORIN, 2001, p. 176-177) considerando como premissas, nesse processo, algumas das postulações das correntes epistemológicas mencionadas anteriormente. No entanto, o autor considera que nenhuma delas permitia abordar as interconexões ou a compreensão da complexidade e das multidimensionalidades do real.

Por essa leitura, o chamado holismo, associado a desdobramentos da TGS, estaria aplicando os mesmos princípios reducionistas e unívocos na interpretação dos fenômenos, apenas deslocando o foco da repartição e da especialização (cientificismo) para o extremo oposto da aglutinação e da hegemonia do todo. Já com relação ao anarquismo epistemológico, Morin considera que a relativização extrema a ele associada também inviabilizaria a apreensão das multidimensionalidades dos fenômenos. Em sua concepção, as correntes de pensamento sinteticamente introduzidas nessa seção contribuíram em grande medida no desenvolvimento de críticas ao paradigma hegemônico, mas suas limitações epistemológicas tenderiam a ofuscar e a impossibilitar a percepção de toda e qualquer interconectividade e complexidade que os fenômenos e os processos possam apresentar (MORIN, 2001).

Partindo dessas premissas, a proposta do pensamento complexo coloca em xeque o próprio fazer científico, assim como a ciência e o papel do cientista. Sob essa ótica, a proposta epistemológica de Edgar Morin busca construir alternativas cognitivas e metodológicas “[...] capazes de detectar, e não de ocultar, as ligações, as articulações, as solidariedades, as implicações, as imbricações, as interdependências e as complexidades” que constituem os objetos e fenômenos [6] (MORIN, 1977, p. 17), conforme discutido a seguir.

3 O PENSAMENTO COMPLEXO: UMA OUTRA VIA PARA A CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTO

Continuamente desenvolvido por Edgar Morin desde meados do século XX, o pensamento complexo reconhece as limitações do paradigma cientificista e positivista, principalmente quanto ao viés reducionista e disjuntivo que caracteriza a ciência na modernidade. Ainda assim, enquanto proposta epistemológica, o pensamento complexo não tem como objetivo invalidar as contribuições e conquistas produzidas pelo pensamento científico cartesiano e moderno até os dias atuais.

Contudo, compreender ou explicar o pensamento complexo não é tarefa simples, nem óbvia. Ao contrário, “[...] o problema da complexidade é, antes de tudo, o esforço para conceber um [desafio] incontornável que o real lança sobre a nossa mente” (MORIN, 2001, p. 176). Nesse sentido, essa proposta prima pelo reconhecimento de que mesmo o real perceptível aos sentidos e à escala humana se expressa de modo multidimensional, múltiplo, diverso, controverso e paradoxal.

Seguindo essa linha argumentativa, o autor constrói uma proposta epistemológica a partir do reconhecimento e da rearticulação dos saberes, dos objetos e dos fenômenos em interconexões nas quais “[...] tudo se entrelaça para formar a unidade da complexidade; porém a unidade do complexus não destrói a variedade e a diversidade das complexidades que o teceram” (MORIN, 2001, p. 188). A partir dessa leitura, as diversas complexidades que compõem o real configuram uma tessitura de interconexões percebida como “[...] o que foi tecido junto” (MORIN, 2000, p. 38).

Com base nessa visão, ao longo de sua obra, Morin (2000; 2001; 2015) propõe que se busque a compreensão da complexidade, ou ainda, das complexidades dos fenômenos. A construção desse conhecimento, por sua vez, se desenvolveria por meio de uma imersão teórico-metodológica, elíptica e espiral sobre os fenômenos, de modo a ser possível o estabelecimento de uma dialogicidade entre as partes e o todo, e do todo com as partes, em um dinâmico processo no qual o pesquisador deve buscar se desvencilhar de explicações científicas lineares, reducionistas e fragmentadas.

A opção por uma epistemologia vinculada ao pensamento complexo pressupõe, também, o reconhecimento de “resíduos” historicamente negligenciados pela ciência clássica, descartados como não-científicos, conforme discutido anteriormente. Desta forma, buscando ultrapassar as limitações do paradigma cientificista, sob essa via interpretativa, a incerteza, a desordem, a contradição, a pluralidade e a complicação — tanto quanto a ordem, a coerência e a singularidade — devem ser consideradas, em termos de relações ao mesmo tempo antagônicas e complementares entre si, como igualmente constitutivas dos processos inerentes ao conhecimento científico (MORIN, 1977; 2001).

Devido às razões expostas, e como alternativa possível ao pensamento cientificista, em diversas áreas do conhecimento, notadamente nas Ciências Humanas e Sociais, o pensamento complexo vem sendo reconhecido, por muitos pesquisadores, como um caminho inovador para a interpretação de inúmeras questões da contemporaneidade. Isto porque, este percurso cognitivo traduz “[...] uma tensão permanente entre a aspiração a um saber não fragmentado, não compartimentado, não redutor, e o reconhecimento do inacabado e da incompletude de qualquer conhecimento” (MORIN, 2006, p. 7).

Nesse contexto, cabe reafirmar que a lente do pensamento complexo não pretende substituir o modelo ou paradigma cientificista por outro, como ocorre com a proposta de controle e dominação do real embutida em pensamentos simplificadores/redutores, e sim “[...] exercer um pensamento capaz de lidar com o real, de com ele dialogar e negociar” (MORIN, 2015, p. 6). Além disso, por essa via de análise, não existiria um paradigma complexo consolidado e disponível para ser utilizado como um modelo científico, e sim um convite a se pensar e interpretar a realidade em suas complexidades.

Morin desenvolveu um conjunto de princípios de inteligibilidade que se referem ao pensamento complexo e que, interconectados, sinalizariam as condições para a percepção das complexidades constitutivas do universo físico, biológico e antropossocial. Esses princípios [7], apresentados pedagogicamente no Quadro 1, a seguir, são considerados como fundamentais para a construção de uma abordagem dialógica sobre os fenômenos complexos e, ainda, para apoiar os percursos investigativos rumo ao desenvolvimento de um paradigma da complexidade.

Quadro 1.
Princípios de inteligibilidade para a construção de um paradigma da complexidade

FRAGELLI, C. Quadro elaborado pela autora (2018), com base em Morin (1982; 2001, p. 331-334; 2015).

Considerando a ótica do pensamento complexo, não há hierarquias entre esses princípios que, como constituintes dos fenômenos, se articulam de forma dialógica uns em relação aos outros. Além disso, essa articulação se desenvolve por meio de macroconceitos que, por sua vez, possibilitam a emergência e o reconhecimento de novas noções que podem se expressar ora como complementares, ora antagônicas, ou mesmo ambivalentes, rompendo, assim, com as categorizações estanques e as dicotomias inerentes ao cientificismo. Desta forma, a articulação entre dois ou mais dos princípios apresentados pode fazer emergir aspectos relativos ao objeto ou fenômeno estudado que não poderiam ser percebidos caso estes fossem considerados isoladamente. Por esta razão e, como imagem metafórica, se considera que o pensamento complexo busca apreender os fenômenos “em circuito” ou “em constelação”, percebidos sob uma acentuada sinergia dinâmica.

Mas essa almejada via parece se constituir em um desafio ainda a ser transposto pela academia, cuja formação têm se consolidado, em grande medida, a partir de pressupostos vinculados ao paradigma cientificista. Ainda assim, algumas incursões vêm sendo delineadas sob inspiração do pensamento complexo e poderão inspirar importantes transformações na produção científica, em diversos campos de conhecimento, nos próximos anos. Sob essa inspiração, os princípios alinhados ao pensamento complexo serão apresentados e discutidos, na próxima seção, como vias potenciais para a apreensão da multidimensionalidade do turismo, este entendido como um fenômeno antropossocial da contemporaneidade, conforme se busca argumentar no presente ensaio.

4 O PENSAMENTO COMPLEXO: UMA VIA POSSÍVEL PARA A INTERPRETAÇÃO DO TURISMO COMO FENÔMENO CONTEMPORÂNEO?

Resgatando aqui uma questão central que orienta a discussão proposta nesse ensaio, as definições de turismo comumente expresssas na literatura especializada revelam uma clara preponderância de abordagens vinculadas à sua dimensão econômica e, notadamente, às leituras utilitaristas sobre o fenômeno. Essa tendência se evidencia, também, nas concepções consagradas sobre o turismo expressas nos documentos norteadores da Organização Mundial do Turismo que orientam políticas públicas dirigidas a essa agenda junto aos países signatários, desde 1963 (UNWTO, 1998; 2018).

No entanto, pelo menos duas definições conceituais sobre o fenômeno do turismo merecem destaque como potenciais alternativas às concepções monológicas e simplificadoras que têm orientado os debates sobre o tema. Primeiramente, a de Hunziker e Krapf (1942), considerada por Panosso Netto (2011) como pioneira na busca por uma apreensão para além da dimensão econômica, ao contemplar a dimensão social do turismo, concebido como um conjunto de fenômenos e de relações que surgem das viagens (HUNZIKER; KRAPF, 1942; UNWTO, 1998). E, posteriormente, a de Fuster (1971) que, retomando a abordagem sobre as relações produzidas por turistas em consequência de suas viagens, engloba ainda a consideração dos efeitos negativos ou positivos que afetam a vida das populações locais envolvidas nesse processo. Essa última, em especial, se distingue das demais definições clássicas ao inscrever o turismo como um fenômeno historicamente localizado — nesse caso, no contexto da cultura de massas —, o que permite a introdução de uma perspectiva crítica ao debate. Além disso, apesar dessas propostas conceituais não avançarem explicitamente em direção à multidimensionalidade do fenômeno, retomá-las possibilita elaborar releituras sobre o tema que poderiam transcender a centralidade econômica e o viés utilitarista recorrentes em outras abordagens dirigidas a essa temática, em particular.

Vale ressaltar, no entanto, que até mesmo a própria Organização Mundial do Turismo, uma instância fortemente influenciada pelos interesses do mercado, descreveu o turismo como “[...] um fenômeno econômico e social” [8] (UNWTO, 2018), o que parece sinalizar para uma ampliação de enfoque, ao menos em tese, com relação ao reconhecimento das múltiplas dimensões que o constituem como fenômeno global contemporâneo. Entretanto, essa perspectiva mais ampliada para a apreensão do turismo ainda não tem tido os rebatimentos necessários nas institucionalidades e nas abordagens norteadoras de políticas públicas, uma vez que, no plano oficial, persiste a adoção da concepção utilitarista que define o turismo como o movimento de pessoas para países ou lugares fora do seu ambiente habitual, para fins pessoais ou empresariais, e as atividades que estas realizam nesse momento (UNWTO, 2014). A prevalência de uma leitura simplifcadora por parte da principal instância internacional do turismo evidencia e/ou reforça, assim, uma percepção limitada e reducionista sobre o fenômeno, ainda bastante associada ao paradigma cientificista, e que tem dominado a produção de conhecimento nesse campo, o que também tende a ofuscar as múltiplas dimensionalidades a ele associadas.

Da mesma forma, as pesquisas relacionadas ao turismo têm sido pautadas, predominantemente, por visões disciplinares originárias dos campos da Economia, da Geografia, da História, da Antropologia, da Psicologia e da Sociologia. Há de se reconhecer que essas visões têm sido fundamentais para a construção do campo acadêmico do turismo e para a ampliação do interesse da pesquisa social sobre o tema (TRIBE; LIBURD, 2016), contribuindo com aportes teórico-conceituais basilares com esse direcionamento. Mas, por outro lado, não se pode desconsiderar que esses campos muitas vezes conservam matizes cientificistas e perspectivas disciplinares de origem, o que tende a perpetuar abordagens epistemológicas limitantes nos processos de produção de conhecimento sobre o fenômeno do turismo.

Da mesma forma, ou por isso mesmo, embora se reconheça que o campo do Turismo tem clara articulação com diversas áreas do conhecimento, mesmo no âmbito da pesquisa social esse tem sido considerado ainda de forma fragmentada e/ou disjuntiva. Essa questão tende a se tornar problemática em ao menos dois aspectos cruciais. A opção indiscriminada por abordagens cientificistas e/ou positivistas revela uma inadequação epistemológica estrutural ao se privilegiar visões disjuntivas e disciplinares no tratamento do turismo como um fenômeno de caráter multidimensional. E, a adoção acrítica do paradigma hegemônico, nesse caso, evidencia o descolamento entre a produção científica e as complexidades desse fenômeno globalizado e em curso na contemporaneidade. Considerando esses dois argumentos, assim como as lacunas epistemológicas discutidas anteriormente, já seria indicado se buscar caminhos acadêmico-científicos inovadores para a formulação de propostas inter e/ou transdisciplinares capazes de articular as diversas bases conceituais e abordagens metodológicas na pesquisa sobre o turismo, visando à sua inteligibilidade e ressignificação como fenômeno multidimensional.

Mas, apesar do discurso acadêmico recorrente na literatura especializada, que reconhece tais limitações quanto à produção de conhecimento relacionada a esse campo, se observa que essa, em grande parte, ainda consiste em “... informações estratégicas (dados) e descrição de dados (técnicas de prospecção) [9]” (MORRISSET, 2012, p. 22). Assim, nos processos de elaboração científica sobre o turismo têm sido priorizadas perspectivas utilitaristas e aspectos objetivos e quantificáveis, com ênfase em sua dimensão econômica, essa muitas vezes restrita ao caráter gerencial do processo, o que tende a dificultar, ainda mais, a sua compreensão enquanto fenômeno multidimensional.

Da mesma maneira, e apesar de certo consenso a respeito de as pesquisas sobre o fenômeno do turismo se encontrarem, em geral, vinculadas às chamadas Ciências Humanas e Sociais, estudos nesse campo são relativamente recentes (TRIBE, 2010; SAMPAIO, 2013). Assim, parte das inúmeras lacunas epistemológicas identificadas no contexto acadêmico se referem ao próprio desenvolvimento teórico do campo do Turismo e, também, à reflexão crítica ainda incipiente sobre as temáticas que o compõe, uma vez que muitas pesquisas se atêm apenas aos enfoques descritivos sobre esse fenômeno.

Especificamente quanto às produções acadêmicas brasileiras sobre o tema, vale ressaltar que essas reafirmam as lacunas anteriormente discutidas e também estão associadas ainda a um “[...] acentuado senso descritivo, sem [...] apresentar técnicas sofisticadas de coleta e análise das informações que possibilitem um estudo crítico e fundamentado sobre o fenômeno” (LOHMANN; PANOSSO NETTO in VEAL, 2011, p. 21-22). As análises conduzidas pelos pesquisadores de referência neste campo reforçam, ainda, algumas das carências estruturais detectadas nas publicações da área e enfatizam a falta de aprofundamento no desenvolvimento das pesquisas nessa linha de investigação. Além disso, os resultados dessas pesquisas permitem entrever uma tendência ao emprego de vieses monológicos de raciocínio e a predominância de perspectivas economicistas, utilitaristas e disciplinares que vêm pautando os estudos do Turismo, como anteriormente contextualizado.

Nesse caso, vale ressaltar que os vieses disciplinares e utilitaristas não se constituiriamem um equívoco epistemológico, a priori. O que se crítica é a opção reiterada por sua utilização, indiscriminada, na produção de conhecimento sobre o tema, principalmente, no âmbito da pesquisa social e quando se reconhece ser o turismo um fenômeno antropossocial de múltiplas nuances.

Considerando se tratar o turismo de um campo de conhecimento em construção, e sendo este compreendido como “[...] um acontecimento instituinte, pois tem como motor as práticas sociais em seu tempo sócio-histórico” (BENI; MOESCH, 2016, p. 27), as reiteradas tentativas de enquadramento dos estudos do Turismo ao modelo cientificista têm abdicado da oportunidade de se apreender e se discutir as complexidades e as multidimensionalidades que o caracterizam. E, por outro lado, não se percebe ainda o desenvolvimento de construções teórico-epistemológicas a partir de bases e abordagens próprias do Turismo como campo do conhecimento (MOESCH, 2002; DENCKER, 2007; PANOSSO NETTO, 2014).

Com base nas reflexões e argumentos apresentados, e com o intuito de problematizar o turismo segundo a perspectiva do pensamento complexo, se buscou empreender um exercício de reflexão a partir de uma proposta que busca alinhar os princípios do paradigma de complexidade aos estudos no campo do Turismo, este entendido enquanto fenômeno complexus contemporâneo, conforme sistematizado a seguir, no Quadro 2:

Quadro 2.
Princípios de inteligibilidade alinhados ao paradigma da complexidade: possíveis articulações ao campo de estudos do Turismo

FRAGELLI, C., 2018. Quadro elaborado pela autora com base nos princípios apresentados por Morin (2001)

Considerando os princípios do pensamento complexo, sintetizados no Quadro 1 e também algumas articulações possíveis desses princípios como via de concepção e interpretação do turismo propostas no Quadro 2, assim como os possíveis rebatimentos dessa via epistemológica na produção científica sobre o turismo, cabe uma reflexão sobre qual seria o papel do pesquisador enquanto sujeito implicado na investigação, pela perspectiva proposta por Morin. No campo da pesquisa social, notadamente, essa reflexão remete claramente à necessidade de uma postura de autoquestionamento perante o objeto/fenômeno pesquisado. Essa postura implica, ainda, no reconhecimento da necessidade de apreensão das subjetividades envolvidas nesse processo e, por pressuposto, em um movimento de desconstrução e reconstrução do próprio pensar e do fazer científico.

No âmbito das políticas públicas de turismo, por sua vez, a possibilidade de utilização dos pressupostos do paradigma da complexidade para a interpretação desse fenômeno poderia contribuir para a apreensão das interconexões sociais, políticas, culturais, ambientais e éticas que se expressam global e localmente, nele imprimindo inúmeras nuances.

Assim, considerando que o pensamento complexo não se constitui em uma proposta epistemológica hermética ou consolidada de interpretação dos fenômenos, é fundamental que se entenda que, para que esse movimento seja possível, se pressupõe “aprender a aprender” por meio de uma leitura crítica da própria realidade.

Vale ressaltar, ainda, que, com base nas premissas apresentadas anteriormente, o pensamento complexo não se constitui em uma proposta acabada de interpretação dos fenômenos, mas representa, essencialmente, um convite à reflexão e ao exercício epistemológico acerca das complexidades que os constituem. E, sob essa leitura, o pesquisador se coloca como sujeito reflexivo, em um debate qualificado sobre o tema, no intuito de se avançar em propostas teórico-conceituais e metodológicas inovadoras para a compreensão e a interpretação do turismo enquanto fenômeno antropossocial da contemporaneidade, em uma perspectiva na qual podem aflorar, de fato, as multidimensionalidades que o constituem como um fenômeno complexus da contemporaneidade.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A dinâmica de produção do conhecimento científico atravessa uma crise paradigmática sem precedentes na contemporaneidade e esta, por sua vez, se insere em um contexto mais abrangente de crise civilizatória, o que faz com que a própria ciência busque um autoquestionamento. No caso dos estudos do Turismo, especificamente, essa reflexão tende a ser fundamental para que se avance na compreensão desse fenômeno enquanto objeto e campo de pesquisa e, também, para que se possa enfrentar os ilimitados desafios para a produção de conhecimento nesse campo.

Partindo desse reconhecimento, este ensaio buscou contribuir, preliminarmente, para a reflexão sobre caminhos possíveis para a construção de conhecimento no campo do Turismo, tendo como base o paradigma da complexidade como possível pista para o delineamento de bases teóricas e metodológicas inovadoras que possam gerar um aprofundamento dos estudos sobre o turismo, esse entendido como um fenômeno multidimensional da contemporaneidade.

Visando contribuir para esse debate no âmbito da pesquisa social, a linha argumentativa aqui defendida buscou reafirmar a relevância dos pressupostos constitutivos do pensamento complexo, esse entendido como uma alternativa ao cientificismo ainda preponderante no campo dos estudos sobre o turismo.

Por essa via interpretativa, considerar o turismo enquanto fenômeno complexus significa proceder a um “reajuste de foco”, em relação às leituras positivistas que operam por redução e disjunção, fragmentando o campo interdisciplinar do turismo em segmentos disciplinares frequentemente desconectados.

No tocante à apreensão das múltiplas dimensões constituintes do fenômeno do turismo, o exercício de interpretá-lo pela via do pensamento complexo tende a contribuir, também, para a sua leitura segundo uma perspectiva analítica que transcende a dimensão econômica e mercadológica ainda dominante nesse campo de estudos. Assim, as dimensões sociais, cultural, simbólica, ética, política, relacional e dialogal, entre outras que o compõem, poderiam ser melhor explicitadas e abordadas no âmbito da pesquisa interdisciplinar necessária nesse campo, pelas razões discutidas.

Pelos argumentos defendidos ao longo deste ensaio, as bases do pensamento complexo constituem em seu conjunto um viés inovador para os estudos sobre o turismo, pois, a partir delas é possível entrever uma miríade de caminhos cognitivos possíveis para a interpretação desse fenômeno.

Vale ressaltar, no entanto, que, em se tratando de uma incursão inicial na observação de um fenômeno “em constelação”, o objetivo desta reflexão foi apenas incitar o debate sobre as possibilidades para a internalização deste paradigma na pesquisa sobre o turismo. Esse exercício indica ainda a necessidade de um aprofundamento teórico-metodológico, a partir do desenvolvimento de novas pesquisas com essa orientação e sua aplicação em estudos de caso para que se possa apreender os rebatimentos dessa discussão nas dinâmicas em campo.

Cabe ressaltar ainda que não se pretendeu, nesse ensaio, esgotar as articulações possíveis que poderiam emergir de uma reflexão sobre o fenômeno do turismo pela via do pensamento complexo, e sim lançar algumas pistas para se pensar alternativas de construção de conhecimento nesse campo, considerando essa inspiração teórico-metodológica.

Pelas razões expostas, o paradigma da complexidade constitui uma via essencial para a construção de novos caminhos interpretativos para a produção de conhecimento em turismo. E a decodificação do turismo por essa leitura gera, ainda, uma miríade de desdobramentos no sentido de estudos futuros sobre o turismo considerado enquanto fenômeno complexus.

Material suplementar
REFERÊNCIAS
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Notas
Notas
[1] Livre tradução das autoras: positivismo reinante/dominante.
[2] No presente artigo se optou por empregar a terminologia “estudos do turismo”, amplamente utilizada na literatura especializada por diversos autores de referência na área, como no caso dos autores aqui referenciados. Essa terminologia tem sido empregada tanto em língua portuguesa quanto em espanhol (estúdios del turismo), francês (études de tourisme) e inglês (tourism studies). Cabe ressaltar, ainda, que se optou pelo uso do termo “turismo” com letra minúscula pois não se pretende, nesse momento, adentrar no debate - tão bem abordado em diversas publicações de autores consagrados - de ser ou não o campo de estudos do turismo uma ciência, seja ela autônoma ou interdependente.
[3] Assim como Descartes outros autores do século XVII contribuíram para a elaboração e a estruturação do paradigma científico da modernidade, dentre eles, Francis Bacon, Isaac Newton e Thomas Hobbes
[4] Positivismo: doutrina científica postulada por Augusto Comte (1798-1857) que prescreve a utilização dos pressupostos do cientificismo sobre as temáticas sociais (GIDDENS, 2001: 217-228).
[5] São considerados paradigmas certas conformidades de concepção do fazer científico que geram modelos/padrões que, em determinados períodos no tempo, e aplicados de modo explícito ou não, orientam o desenvolvimento das pesquisas, visando à solução de problemas suscitados na comunidade científica (Kuhn, 2006).
[6] Na obra “Complex Thinking for a Complex World – About Reductionism, Disjunction and Systemism Edgar Morin propõe a substituição do termo objeto pela noção de sistema, uma vez que todos os objetos são por ele considerados como sistemas (MORIN, 2014). Apesar disso, se optou, nesse ensaio, pela utilização do termo objeto, conforme utilizado na obra “Ciência com Consciência” (2001), entre outras desse autor nas quais o termo aparece, como recurso didático para clarificar a discussão teórica aqui proposta.
[7] Por uma questão pedagógica, optou-se neste ensaio por manter os treze princípios que constituiriam as bases do pensamento complexo como originalmente, publicado em 1982, na obra “Ciência com Consciência”, embora esses principios surjam condensados em três (MORIN, 2015) e em sete princípios (MORIN, 2003) em outras publicações posteriores do autor.
[8] Grifo das autoras. Disponível em <http://www2.unwto.org/content/why-tourism> Acessado em 20/04/2018.
[9] Livre tradução das autoras.
Quadro 1.
Princípios de inteligibilidade para a construção de um paradigma da complexidade

FRAGELLI, C. Quadro elaborado pela autora (2018), com base em Morin (1982; 2001, p. 331-334; 2015).
Quadro 2.
Princípios de inteligibilidade alinhados ao paradigma da complexidade: possíveis articulações ao campo de estudos do Turismo

FRAGELLI, C., 2018. Quadro elaborado pela autora com base nos princípios apresentados por Morin (2001)
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