Editorial
Sem Ciência não há futuro
Without Science there is no future.
Recepção: 01 Dezembro 2020
Aprovação: 01 Dezembro 2020
Publicado: 16 Dezembro 2020
Desde a tristeza, o medo e a dor, compartilhamos o sofrimento das pessoas vítimas das consequências diretas e indiretas de uma pandemia que não deixa ninguém de fora, mas que tem nos mais pobres, nos discriminados, nos esquecidos pelas políticas públicas, na população com mais dificuldades sociais e econômicas seu foco de perversidade.
Neste momento reforçamos o nosso compromisso, firme e forte, em favor da ciência e de todos nós que formamos parte da comunidade científica.
Os inúmeros ataques à ciência brasileira se manifestam na forma de ameaças e cortes de recursos financeiros que, sob o eufemismo de “contingência”, afetam o desenvolvimento das instituições de ensino superior. Esses cortes também têm forte impacto na disponibilização de bolsas de produção científica das agências de fomento à pesquisa como CAPES e CNPq. Nos últimos meses, temos acompanhado as pressões sobre programas de pós graduação com notas mais baixas na avaliação da CAPES e ataques diretos à autonomia e credibilidade das Universidades Públicas. Instituições estas que formam milhares de profissionais ano após ano, desenvolvem importantíssimos projetos com e para a comunidade, contribuem para a inclusão social, mantém hospitais universitários, museus e escolas, são responsáveis pela inovação e por quase 99% da produção científica do país segundo (MOURA, 2019; CLARIVATE ANALYTICS, 2018). A limitação das bolsas PIBIC (de iniciação científica) a linhas de interesses que excluem propositalmente áreas imprescindíveis como Humanas e Sociais, constituem exemplos das inúmeras ameaças e frentes abertas que hoje cernem a ciência brasileira.
Dentre os resultados mais imediatos destas políticas, espera-se uma considerável diminuição na produção e desenvolvimento de estudos científicos e uma queda na qualidade das pesquisas frente à diminuição de recursos humanos e económicos. Diante deste cenário, o Brasil passa a depender da importação da tecnologia, matéria prima fina e dos resultados científicos de outros países, o que implica um custo financeiro e social ainda maior pois relega a segundo plano a realidade do seu próprio povo, as necessidades de seus cidadãos e seus anseios de um futuro melhor, em troca de uma presumida ‘poupança’ de recursos.
Segundo o relatório World Investment Report da United Nations Conference on Trade and Development (UNCTAD) de 2019, o Brasil investe mais recursos na importação de tecnologia do que realmente exporta, apresentando um investimento muito menor do que a média dos países da OCDE. Isto significa que o Brasil, país número 11 em produção científica no mundo, desenvolve e entrega para a sociedade uma ampla gama de resultados científicos, produtos e pesquisas de alta complexidade, apesar do baixo investimento em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) dos últimos anos. Isto é, no Brasil, com poucos recursos, se faz mais do que em outros países com mais recursos. Mas a questão é: é essa a ciência que queremos?
A ciência é um investimento, não um gasto, porque aporta um retorno significativo para a sociedade. Como cientistas, precisamos dos recursos e da independência necessária para melhorar a ciência que a todos pertence e a nossa realidade.
Se desejamos um bom presente e um melhor futuro, devemos investir mais em ciência e reconhecer a importância das diferentes áreas do conhecimento que contribuem com uma sociedade melhor.
Os cortes de recursos em ciência e o desprezo pelas ciências sociais e humanas não irão trazer um Brasil mais forte, apenas um país mais ignorante e dócil com os interesses dos poderosos, convidando a uma evasão de cérebros e aumentando ainda mais a desigualdade social existente.
É com a esperança de que a atual situação brasileira melhore significativamente que acabamos o presente editorial:
Com ciência há futuro.
Enrique Muriel-Torrado
Edgar Bisset Alvarez
Camila Monteiro de Barros
Editores