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Pornochanchando: em nome da moral, do deboche e do prazer
André Luís LOURENÇO
André Luís LOURENÇO
Pornochanchando: em nome da moral, do deboche e do prazer
Chasqui. Revista Latinoamericana de Comunicación, núm. 135, pp. 427-429, 2017
Centro Internacional de Estudios Superiores de Comunicación para América Latina
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Pornochanchando: em nome da moral, do deboche e do prazer

André Luís LOURENÇO
Universidade Estadual Paulista, Brasil
Chasqui. Revista Latinoamericana de Comunicación, núm. 135, pp. 427-429, 2017
Centro Internacional de Estudios Superiores de Comunicación para América Latina
BERTOLLI FILHO Cláudio, Emidio PESSOA Muriel. Pornochanchando: em nome da moral, do deboche e do prazer. 2016. Editora Cultura Acadêmica. 312pp.. 978-85-7983-796-8

O sexo e a sexualidade são práticas e representações presentes nas mais diferentes sociedades e culturas, nos mais diversos períodos históricos. De acordo com Bertolli Filho & Amaral (2016), isso poderia ser comprovado na existência de símbolos fálicos e outras representações em artefatos de arte.

Porém, a ideia de desejo e sexualidade se alterou ao longo da história da humanidade, e os códigos morais e éticos vigentes em cada época. Da mesma forma, os usos práticos do conceito de sexo e sexualidade se transformaram de acordo com os interesses sociais surgidos por eventuais classes e grupos domi- nantes. Exemplo disso é a utilização da sexualidade como elemento negativo e pecaminoso, na condição de ferramenta de manutenção de uma estrutura familiar e matrimonial imposta pela moral cristã, sobretudo no período do mundo medieval (Bertolli Filho & Amaral, 2016).

À despeito dos mecanismos de coerção morais e éticos, tal sua intrinsecidade à humanidade, a ocorrência de atos considerados libidinosos e da representação do sexo e da sexualidade nunca deixaram de ocorrer. Isso porque, des- tacam Bertolli Filho & Amaral (2016), apoiados nas perspectivas da psicanálise freudiana, o desejo seria a força que moveria o sujeito em busca de prazeres e do preenchimento daquilo que o seu inconsciente considera como ausente dentro do universo do visível.

É neste contexto que a pornochanchada se consolida e se articula como movimento cinematográfico, cultural e social, brasileiro. De acordo com Bertolli Filho (2016), a pornochanchada se caracteriza por ter sido um movimento cinematográfico que durou cerca de 20 anos, entre o final da década de 1960 e início da década de 1980. Nota-se, portanto, que se trata de um movimento cinemato gráfico cujo auge se dá em pleno período da ditadura militar brasileira, mais precisamente em seu interstício considerado mais repressivo –“Anos de Chumbo”.

Bertolli Filho (2016, p. 24) aponta que o gênero fílmico se constrói a partir da apropriação da tradição da “chanchada nacional”2 e do cinema erótico europeu, sobretudo o italiano. Polêmica, a pornochanchada foi além da moral estabelecida como padrão para a época, explorando “uma possibilidade de prazeres por imagens em movimento, evidenciando a sexualidade, o corpo e o sexo de homens, mulheres e travestis” (Bertolli Filho & Amaral, p. 08)

Assim, explicam Bertolli Filho & Amaral, a intenção da pornochanchada foi a de descortinar características e práticas existentes na sociedade brasileira que, muitas vezes, ocorriam escondidos ou na clandestinidade, inclusive nas imagens do próprio cinema, como “traições, pornografia, diversidade sexual, homossexualidades, travestismo e desejo feminino” (2016, p. 8).

O escárnio, a zombaria, as sátiras, a nudez escancarada de homens, mulheres e travestis e outras tantas práticas de irreverência faziam parte dos discur- sos e das representações nos filmes. O pudor foi esquecido em algum lugar do passado e a volúpia das cenas de sexo e sexualidade tomaram conta das telas sem muito acanhamento. E, claro, que isso incomodou alguns setores da socie- dade. Não foi apenas um incômodo para os órgãos responsáveis pela censura, mas também para a sociedade conservadora e tradicional que insistia na permanência dos valores basilares patriarcais e no resgate triunfante da moral e dos bons costumes. (Bertolli Filho & Amaral, 2016, p. 09)

A pornochanchada é controversa não apenas no âmbito social. Esse movimento divide opiniões entre pesquisadores acadêmicos. De um lado, explica Bertolli Filho (2016), análises supostamente baseadas na Teoria Crítica apontariam que o gêne- ro seria responsável pelo descrédito na produção cinematográfica brasileira na década de 1990 e que estaria alinhada à perspectiva de entretenimento evasivo e apelativo aos mais intrínsecos instintos humanos. De outro, e mais recentemente, perspectivas analíticas que consideram a pornochanchada uma produção cultural que apresenta representações da tessitura social do período.

É nesse cenário polêmico, de debates e controvérsias, que se constrói a obra “Pornochanchando: em nome da moral, do deboche e do prazer”, organizada pelos pesquisadores Claudio Bertolli Filho e Muriel Emídio Pessoa do Amaral. Conforme os autores (2016, p. 9), trata-se de um esforço que visa, além de debater a gênese do gênero fílmico “pornochanchada”, desafiar o paradigma dos objetos de pesquisa no mundo acadêmico, propondo e comprovando que a pornografia e as representações eróticas e de desejo em produções midiáticas seriam objeti-vos legítimos e relevantes para as Ciências da Comunicação.

Para dar conta do desafio proposto, a coletânea se divide em três par- tes. A primeira, “Reconhecendo território”, é composta por quatro textos que apresentam e debatem referências históricas e culturais que permeiam o período de produção do gênero cinematográfico “pornochanchada”, além de discutir questões relativas à censura e o regime militar, bem como à marginalização social do gênero. A segunda parte, intitulada “Começando a despir” e composta por nove trabalhos, está focada na análise de conteúdo dos filmes, em questões relacionadas às representações de gênero, diversidade sexual, sexualidade, estereótipos e representações. Por fim, na última parte da coletânea, “Depois de tudo”, a discussão se volta às produções midiáticas na TV a Cabo e na Internet que retratam a pornografia e a sexualidade, que, de certa maneira, seriam herdeiras das experiências da pornochanchada.

A contribuição da coletânea “Pornochanchando: em nome da moral, do deboche e do prazer” ao debate do audiovisual brasileiro se dá em diversas maneiras. Além de trazer ao centro da discussão um objeto de pesquisa que passou mais de duas décadas na marginalidade, e que de alguma maneira ainda permanece, a obra ainda descortina críticas sociais e influências estéticas que determinaram a própria constituição da cinematografia brasileira.

Material suplementar
Referências bibliográficas
Bertolli Filho, C. & Amaral, M.E.P. (2016). Apresentação: Pornochanchada como discurso do desejo. In Bertolli Filho, C. & Amaral, M.E.P.(Orgs.). Pornochanchando: em nome da moral, do deboche e do prazer. São Paulo: Cultura Acadêmica.
Bertolli Filho, C. (2016). Um confronto esquecido: pornochanchada x moral e civismo. In Bertolli Filho, C. & Amaral, M.E.P.(Orgs.). Pornochanchando: em nome da moral, do deboche e do prazer. São Paulo: Cultura Acadêmica.
Notas
Notas
1 A Ditadura Militar brasileira durou entre os anos de 1964 e 1984. Nesse período, os anos de 1968 e 1974 são considerados os “Anos de Chumbo”. Essa expressão denota o período mais repressivo do regime militar, caracterização pela intensificação da censura e da perseguição aos considerados ‘subversivos’.
2 Gênero cinematográfico predominante no Brasil entre as décadas de 1930 e 1950. Caracterizava-se pelas comédias musicais, permeadas de elementos de tramas policiais e de ficção científica.
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